O Castelo de Conde Dracula

O Castelo de Conde Dracula



Hermione chegou em Budapeste por volta da meia-noite. Estava com fome, mas não quis ir ao vagão-restaurante, não podia se dar ao luxo de gastar e se conseguisse falar com Drácula, talvez ele lhe fizesse a gentileza de servir-lhe o jantar. Era o que esperava.
Ficou contente ao ver uma fileira de táxis do lado de fora da estação de trem. Seria mais barato ir de ônibus, mas não queria arriscar a se perder. Harry poderia estar à espreita, por isso, não havia um minuto a perder.
Quando saiu, estremeceu. Estava muito frio e suas roupas não eram tão pesadas. Correu para o primeiro táxi e entrou, esfregando as mãos.
- Eu gostaria de ir até a cidade da Transilvânia – disse, tentando controlar o frio.
Mas o carro não se moveu.
- Por favor, o senhor me entendeu? – repetiu ela, em inglês, imaginando que o motorista só falasse romeno.
Bem devagar, o homem se virou para ela. Era moreno e alto e tinha um brilho de medo no olhar.
- Você não se parece com um deles – disse o homem, com um sotaque carregado – por isso, vou lhe dar um conselho: aquela cidade é amaldiçoada. Ninguém que vai até lá volta com vida... volta... mas diferente... transformado naquela coisa. Nenhum taxista daqui ou da redondeza vai te levar até lá, desista. Se quiser conhecer cidades-fantasma, vá para outro lugar.
- Não sou uma turista, tenho negócios a resolver! – disse Hermione, firme e resoluta.
- Então saia do meu táxi, nunca mais piso naquele lugar do demônio.
Uma coisa Hermione descobriria mais tarde. O taxista mal-humorado estava com a razão. Nenhum táxi que encontrou concordou em levá-la até a Transilvânia, a 200 quilômetros de Budapeste.
- Vá caminhando, moça – disse um outro motorista, depois de arrastá-la para fora do carro – Não vai demorar mesmo para um deles te achar no meio do caminho... depois poderá ir voando até lá.
Depois das três horas da madrugada, morrendo de fome e com um cansaço que parecia chegar até os ossos, Hermione desistiu. Procurou um hotel que fosse barato. Contudo, quando ia entrar na pior pocilga que havia na cidade, um homem muito velho, baixo e com os dos olhos esbranquiçados segurou seu pulso.
- Posso ajudá-lo? – perguntou ela, polida, mas mantendo uma mão firme na varinha por dento do casaco.
- Chegou até mim a notícia de que existe uma jovem e atraente mulher tentando ir para a cidade de meu Mestre! – falou o homem, com sotaque.
- Mestre? – Hermione perguntou, desconfiando que fosse Drácula.
- Eu sou o único que transporta pessoas para Transilvânia... se ainda desejar ir...
- Sim, desejo! Quanto o senhor cobra? – perguntou ela, observando o longo e imundo casaco que o homem vestia. Os cabelos iam até os ombros, eram grisalhos e opacos... lembrava muito a Filch, mas conseguia ser mais feio e antipático, apesar da fala polida.
- Nada... para a senhorita!
O homem tomou uma viela ao lado do hotel e entrou por uma rua deserta e escura. Hermione estava alerta, mas convencida a fazer o que se propusera: seguiu-o. Ao longe, viu uma grande charrete negra, com corcéis igualmente negros, de aparência nobre, puxando-a. Quando chegaram perto, o homem abiu a porta da charrete para que entrasse, mas ela hesitou. Já havia uma passageira. Usava um longo vestido azul de época, do século XIV, os cabelos cacheados num bonito penteado, com uma aparência nobre. Nem precisou ver as duas marcas arroxeadas no pescoço e os olhos vermelhos para saber que era uma vampira.
- Non vai me obrrigar a viajar com uma bruxa, vai, Igorr – falou a mulher com um forte sotaque francês, evidenciando os caninos protuberantes.
- Ou viaja com ela, Mademoiselle Sophie, ou terá de dispor de outra embarcação.
- Ah... ultrrajante! – gritou a mulher, mas afastou-se para que Hermione pudesse entrar.
Depois que ela entrou e fechou a porta, logo a charrete começou a andar.
A vampira ao seu lado dava muxoxos e parecia grudada na janela, como se estivesse com medo de Hermione ou nojo, o que seria mais provável. Gostaria de saber como a vampira havia identificado tão rápido que ela era uma bruxa, se ela vestia trajes trouxas e mantinha a varinha dentro do bolso, mas julgou que, apesar de serem uma raça aparentemente fraca, deviam possuir algum poder mágico oculto.
A viagem delongou-se mais do que previra. Percorrer 200 quilômetros de charrete era muito demorado, ainda mais quando as estradas eram tão rudimentares.
Já havia amanhecido e a fome e o cansaço pareciam dominar o corpo de Hermione, para não falar do frio. Ela não queria adormecer; apesar de não oferecer perigo imediato, tinha a consciência de que a criatura ao seu lado costumava se alimentar de sangue humano.
Mas estava tão cansada! As pálpebras começaram a pesar... mais e mais... a visão lá fora começou a escurecer...



- Ela recebeu a ajuda de alguém, aposto! – disse Gina, colocando um ungüento na testa machucada de Harry. – Eu avisei, Harry.
- Eu também te avisei, Harry! – disse o sr. Weasley, que andava de um lado para outro no porão da mansão Potter. – Hermione sempre foi instável, aquela garota é louca! Onde ela está com a cabeça? Está indo direto para os braços do nosso maior inimigo. Meu Deus, Harry... se a imprensa souber que Hermione abandonou você no seu primeiro dia de casados para procurar Drácula... será o nosso fim!
- Eu vou atrás dela! Vou interceptá-la antes que algo ruim lhe aconteça.
- Você está fraco! Ela te acertou direitinho, aquela garota tola. Não podemos arriscar mais ainda. Isso sim seria o fim do mundo! – disse o Ministro.
- Eu não me importo! Mas preciso alcançá-la antes que...
- Harry... você não pode ir! – gritou o sr. Weasley. – Eu sempre fiz tudo o que você mandou. Sempre, Harry! Mas isso já é demais! Isso seria o fim de nossas carreiras políticas! Ou começamos a difamar Hermione antes que Drácula anuncie uma aliança... ou perderemos a eleição.
- No momento, eu não me importo mais! – disse Harry, levantando-se. Mas o senhor Weasley se aproximou e o empurrou de volta para o sofá.
- Está se arriscando muito ao fazer isso! – disse Harry, fervendo de raiva e frustração – Não se atreva a querer me impedir.
- Harry... tente apelar para o bom senso. Hermione está destruindo sua carreira, está destruindo a nossa campanha... a campanha pela qual trabalhamos todos esses anos.
Harry ficou parado, tentando raciocinar. Na sua cabeça, um turbilhão de coisas se esbarravam entre racionalidade e emoção, mas quem ganharia dessa batalha: a razão ou a alma?
- Faça o que tiver de fazer para salvar a campanha, Arthur. Eu vou para Transilvânia.




Hermione acordou com um solavanco. Levou um susto por ter adormecido sem querer e levou a mão diretamente ao pescoço.
- Uhnf! Eu não tomaria o sangue sujo de um bruxo. Arhg! – disse a vampira, que parecia nem ter se movido do lugar enquanto ela dormira.
Sem jeito por ter dormido tão inocentemente daquela maneira, Hermione se virou para a janela, abrindo a cortina negra que a cobria.
Levou um outro susto. Estavam passando por um penhasco, mas a estrada era tão íngreme que dava a impressão de que cairiam no precipício a qualquer segundo. Lá fora, a neve caía insistentemente, mas não tirava a beleza do lugar. Era tudo lindo. Apaixonante se não fosse tão sombrio. Ao longe, as torres de um castelo negro cortavam o céu, já acizentado, fazendo as vezes do centro de um tufão de pássaros estranhos que voavam em círculos. Não eram pássaros... não.... eram morcegos.
Sabia da antiga lenda que dizia que os vampiros eram capazes de se transformarem em morcegos. Estremeceu. Há milhares de morcegos no céu. Seriam todos vampiros?

Passaram por um portal antigo, coberto de neve, e por uma tinta seca que mais parecia sangue. Em letras gravadas na madeira antiga estava escrito: Transilvânia. Uma estrada levava a um vilarejo muito antigo. As casas eram velhas e escuras, as portas e janelas estavam todas trancadas. Havia uma mulher velha tirando água de um poço no centro da cidade, naquilo que outrora devia ter sido uma praça. A mulher lançou um olhar maligno para Hermione, que desviou o olhar para o castelo cada vez mais próximo.
Ficou surpresa ao ver que sua parceira de viagem, a vampira Sophie, iria para o mesmo lugar que ela. A charrete continuou devagar, subindo uma colina de onde se poderia ver toda a vila. Quando, enfim, os cavalos pararam, estavam na frente do castelo de Drácula.
Hermione desceu da charrete sem esperar Igor abri-la. Sophie, pelo contrário, esperou que Igor lhe estendesse o braço, saindo graciosa, como uma nobre.
Hermione não prestava atenção nela. Estava impressionada com o castelo. Era bem menor do que Hogwarts, mas as torres eram muito altas, erguiam-se no ar como uma baioneta perfurando as nuvens. Os morcegos continuavam a sua dança frenética dando voltas e mais voltas ao redor das três torres, sendo a do meio a maior.
- Meu Deus! – disse ela, o coração disparado com o espetáculo macabro.
- Deus nada tem a ver com isso, minha carra! – disse Sophia, rindo-se da perplexidade da bruxa.
- Aí é que se engana, minha adorada Mademoiselle Sophie! Deus tem tudo a ver com isso!
Hermione olhou para o homem que dizia aquela frase. Era um homem velho, marcado por rugas profundas num rosto pálido e sem expressão. Vestia um enorme casaco vermelho e tinha uma negrura no olhar indescritível.
Hermione sentiu uma coisa estranha. Uma vibração que vinha dele, como sentiu em apenas duas pessoas na vida... bem... na verdade, três: Voldemort, um pouco antes da batalha final, Dumbledore, quando estava vivo, e Harry, quando conseguiu parar aquele trem há várias horas.
- Entrem, minhas esperadas!

Sophie tomou a frente, Hermione a seguiu de perto. Passaram pela gigantesca porta para dentro do magnífico castelo negro A negrura cobria a tudo: as paredes, as tapeçarias antigas, os móveis, as escadarias. Tudo era tão negro que Hermione foi obrigada a agitar a varinha, produzindo alguma luz.
- Sinto muito por isso, os olhos de um vampiro são adaptados para a noite... – disse o homem, novamente, batendo uma palma. Imediatamente, todos os archotes fincados nas paredes do castelo se acenderam, como num passe de mágica.
Hermione apagou a varinha e a abaixou, mas segurava firmemente para o caso de ser atacada.
- Deve estar com fome, já é quase meio dia! – disse o homem, guiando-a por um corredor. – Mas antes, deixe que eu me apresente...
- Você é Drácula! – disse Hermione, certa da identidade daquele homem enigmático e tremendamente poderoso.
- Sim... eu sou... Conde Vlad Tepes Draculae... príncipe de Transilvânia, que há muitos séculos foi um grande reinado, sob o julgo do Clã de minha família.
- Eu li sobre isso! – falou Hermione, prestando atenção aonde iam. No fim do corredor, ela já podia ver a mesa enorme, preparada para a refeição. Quando se aproximou, viu que havia uma galinha assada, saladas e outros pratos.
- E você é Hermione Potter! – disse o vampiro, com um olhar quase hipnotizante - Sente-se e sirva-se!
Hermione se sentou, faminta como estava. Esperou que Drácula se sentasse à ponta e Sophie à frente dela para iniciar o almoço. Achou que a comida estava maravilhosa, mas ficou preocupada quando viu que nem Drácula nem Sophie se alimentavam.
- Não se preocupe conosco! – disse o homem, com um sorriso. – Os vampiros só fazem sua refeição à noite!
Hermione estremeceu. Não queria pensar que, talvez à noite, ela fosse o jantar.
- Você disse que eu era esperada? – disse Hermione, parando de repente de comer – Como sabia que eu estava vindo para Transilvânia?
- Tudo a seu tempo, menina, tudo a seu tempo! – disse o velho homem, observando-a como se fosse uma águia. Mas, apesar de sua imponência marcante, ele parecia menos ameaçador do que Harry Potter.
- Acredito que Mademoiselle Sophie Rousseau lhe fez companhia durante sua jornada até aqui... – disse Drácula, apontando para a vampira. Se fazer companhia significava cuspir o nome de bruxo o tempo todo, então sim, pensou Hermione. – Ela é a minha mais importante diplomata vampira. Suas habilidades políticas já trouxeram muitos benefícios para a nossa raça. Infelizmente, por conta da bem sucedida campanha de Harry Potter, seu marido, contra nós, Sophie acabou perdendo a moção na Conferência Internacional de Magia para assuntos eleitoreiros, que aconteceu na França. Mesmo sem a presença de Harry, o casamento de vocês dois nem nos deu a chance de expor nosso ponto de vista. O senhor Potter tem minado nossos esforços sem nem mesmo sair de sua mansão. Os vampiros não conseguiram o direito de votar nas eleições diretas para rei do mundo místico. Você acha isso justo, Senhora... Potter?
Hermione pensou por uns instantes. Drácula jogava verde para colher maduro. Era perspicaz e inteligente. Precisaria ser cautelosa com o que dizia ou fazia.
- Não posso lhe dar meu parecer quanto a esse assunto sem me inteirar dos fatos, propostas e motivos de ambos os lados, ou correrei o risco de ser unilateral.
Drácula gargalhou alto. Sophie estreitou os olhos.
- Não parece ser tão cautelosa quanto à causa dos elfos. Estou errado, sra. Potter, ou a senhora é a única que luta pela liberdade de um raça que não quer ser libertada?
- É diferente! – disse Hermione, afetada. – Além de ser uma raça inofensiva, os elfos são presos por contratos mágicos. Eles mesmos não conseguem se livrar de suas amarras. E são massacrados e torturados por alguns senhores bruxos que abusam de seu poder.
- Isso acontece com muitos vampiros transformados em escravos por bruxos. Somente na Romênia, em razão de minha presença, que os vampiros são tratados com respeito.
- Temor, eu diria – disse Hermione, pensando na reação dos taxistas em Budapeste.
- Temor, sim! – disse Drácula, calmamente – Mas fora da Romênia, os vampiros é que são aterrorizados pelos bruxos... principalmente pelo seu marido. Os bruxos são a raça mais preconceituosa, sra. Potter. São vocês que oprimem todas as outras raças: elfos, duendes, centauros, vampiros, gigantes, sereianos, acromântulas e muitos outros. Você sempre foi considerada uma mulher justa. Sei que não concorda com as atitudes de seu marido, ou não estaria aqui. E se está aqui é porque busca uma aliança. Se você se aliar À nossa causa, Sra. Potter, talvez possamos colocar um fim nos preconceitos de raça e credo e possamos conspirar para um mundo melhor... um mundo que não faz parte dos planos de seu marido.
Hermione ficou calada, terminando sua refeição enquanto refletia sobre o discurso de Drácula. Era tudo o que ela queria, aquele mundo sem preconceitos entre as raças, mas não podia ser tão inocente. Os políticos costumavam ser eloqüentes em seus discursos. Provou isso na alma com Harry.
- Eu soube que você não compartilha dos ideais de Harry Potter. Não entendo o que a motivou a se casar com ele, mas como é sabido de todos que vocês são apaixonados desde a adolescência, creio que foi incentivada apenas por razões românticas, ou políticas talvez. Também soube que houve um confronto entre vocês na estação de Londres. Harry podia muito bem continuar a campanha dele sem te envolver, mas ele sabia que sua aliança seria decisiva para ele, embora arriscada. Estou consciente de que você não é estável, e age de acordo com suas emoções. Mas acho que concorda comigo que seu marido passou dos limites. Alie-se a mim, Sra. Potter, para que possamos juntos ganhar essa campanha.
Hermione continuou calada, observando Drácula. Ele parecia muito perspicaz, mas estava com pressa para fazer aquilo a que se propusera. Um mês para as eleições era somente do que dispunha. Os olhos de Drácula estavam fixos nela. Não eram vermelhos como os de Sophie, mas negros, e tinham um brilho estranho, como os de um animal espreitando sua presa. Seria ela a presa que ele esperava? Desconfiaria ele que os motivos de Hermione haviam mudado?
- E então, sra Potter...? Não creio que tenha viajado todo esse trajeto pela minha comida... – disse sorrindo, demonstrando a pressa. Antes ele havia dito: tudo a seu tempo,... mas não parecia tão calmo agora. Ele tinha pressa, uma pressa que era vantajosa para Harry.
- Não... não vim pela sua comida, mas também não vim me aliar a você!
Drácula franziu o cenho, sem entender. Hermione viu que o perigo parecia passar pela expressão do conde.
- Eu vim para ter a sua aliança. Sou eu, agora, quem vai se candidatar para o cargo de rainha do mundo!


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