A condição do Padre Carter

A condição do Padre Carter



Capítulo 18 – A condição do Padre Carter


Estava escuro, tão escuro que cada passo tornava-se difícil. Apesar disso, Harry resolveu não iluminar nada enquanto adentravam nas profundezas da caverna, pois isso os delataria. O padre Carter, ao seu lado, parecendo compreender a gravidade da situação permanecia quieto, movendo-se com a maior rapidez que podia. Nenhum som era ouvido, nenhuma luz se irradiava e a caverna parecia totalmente sem fim.
Harry escutou um grito vindo de fora, mas ficou tranqüilo, pois sabia que Hermione estava a salvo. Ela estava enfraquecida, doente, debilitada, mas Harry sabia que não seria problema para ela enfrentar os vampiros. Só queria que o Padre Carter tivesse ficado com ela. Aquele padre parecia mesmo se importar com Hermione, o que, em outro momento, irritaria Harry profundamente. Hermione, contudo, pareceu-lhe um pouco distante do padre. Achou que não era somente pelo fato do padre saber da verdade sobre os bruxos. Achava que era ainda outra coisa, embora não soubesse dizer o que.
- E agora? Para onde vamos? – perguntou o padre, quando chegaram a uma bifurcação.
- Para a direita! – respondeu Harry, o orbe está à direita.
- Mas você não disse que viu Drácula saindo do lugar com o orbe na mão, talvez ele terra entrado pela esquerda, afim de realizar o tal feitiço de Sesmonas em paz.
- É melhor não nos dispersarmos. Vamos pela direita e se não o encontrarmos, voltaremos e iremos pela esquerda. – Harry sugeriu ao padre que aceitou a sugestão meio aborrecido.
Harry não ligou. Não estava pensando nele. Estava pensando no padre. Sabia que Carter seria forte o suficiente para enfrentar Drácula, apesar de ninguém saber ao certo como derrotar aquela criatura maligna. Contudo, o que preocupava Harry era outra coisa. E se Voldemort tivesse ressurgido? Não imaginava que Voldemort seria reservado nem mesmo em matar um padre.

Harry continuou tomando a bifurcação da direita, caminhando com cuidado. Depois de alguns metros, pensou que só estava escutando os seus passos descuidados e sussurrou chamando pelo padre, sem nenhuma resposta.
“Filho d...”, pensou Harry, imaginando que trair e abandonar os companheiros era uma coisa comum do Padre Carter.

Mas não tentou voltar. Ele que enfrentasse as conseqüências se Voldemort tiver ressurgido. Depois de muitos minutos caminhando, Harry começou a escutar o som de uma voz. Tentou mover-se no mais absoluto silencio, prestando atenção ao que se dizia:
- Por que diabos não funciona? SÉSMONAS! SÉSMONAS! SÉSMONAS!
Olhando com cuidado, Harry viu que Drácula havia acendido um lampião que tinha uma luz fraca, o suficiente, contudo para que ele conseguisse ver Dracula com a orbe brilhante na mão. Pelo que Harry entendia, Dracula havia tentado quebrar o orbe com o feitiço, mas não havia produzido nenhum efeito.
Harry sorriu. Drácula não sabia o que mais era necessário.
Harry deu um passo para frente. Queria se aproximar o bastante para dar o golpe final. Um golpe que Dracula não tivesse oportunidade de revidar. Deu mais um passo. Quase...
Drácula não podia ouvi-lo, assim Harry foi se aproximando quando...
- DRACULA... CUIDADO! – Tanto Harry quando Drácula se viraram para o Padre Carter que estava alguns passos atrás de Harry.

Antes que Harry pudesse fazer alguma coisa, Drácula o atacou. Homem-a-homem os dois lutaram como duas feras: Drácula com sua presas a mostras e Harry, extraindo forças do seu cansaço.
O padre, tão rápido quando Harry pudesse supor, conseguir passar pelos dois e pegou nas mãos a orbe que segundos atrás, Drácula tinha.
- Padre? – Harry tentou desvencilhar-se de Drácula, mas o vampiro lhe deu uma investida e mordeu um dos seus ombros.
- Afaste-se, criatura do inferno! – disse o padre, aspergindo água benta sobre Drácula que imediatamente se retraiu.
- Que Deus se apiede de sua alma, pois eu não me apiedarei! – gritou o padre, arrancando de um dos bolsos uma grande cruz de madeira com a ponta afiada.
Drácula revidou com um som horroroso, como o de um gato tentando ameaçar um cachorro.
- Deus não tem nada a ver com isso, Bruxo! – gritou o vampiro – O teu passado condena a tua fé!
O padre pareceu cambalear. Harry estava intrigado. Do que Drácula estava falando? Ele havia chamado o padre de Bruxo, ou estaria ele imaginando coisas?
- De meus pecados... eu prestarei conta! Não tenho medo do julgamento, pois eu mereço o castigo eterno, mas não deixarei que tu perpetues tua existência amaldiçoada pelo pecado do sangue.
- Então tente me matar, padre ou bruxo... ou assassino... pois eu sinto o cheiro de sangue na sua alma!
Harry não sabia o que fazer, pois os dois inimigos - um homem de deus e um monstro saído do inferno -falavam-se como iguais... como se soubessem do que havia na alma um do outro.
Seria o padre forte o suficiente para deter Drácula?
A resposta Harry logo saberia, pois o padre não hesitou em cravar a cruz no peito do vampiro que caiu no chão.
- Seja acolhido pelo bem, meu filho... tente se salvar! – gritou o padre, que parecia estar chorando, enquanto jogava água benta sobre o rosto de Drácula que parecia dissolver-se como se a água fosse acido.
Drácula gritava de dor com um assovio aterrorizante. Querendo por um fim ao sofrimento da monstruosa criatura e ao mesmo tempo ao horror causado por ela, Harry proferiu o feitiço de nosferatu. O raio negro atingiu em cheio o peito de Drácula e tirou-lhe a sobrevida que o animava. A face retorcida de Drácula se reconstitui-se no rosto de um homem belo e nobre que em algum momento do passado ele havia sido.
- Acabou! – disse Harry, respirando pesado – Acabou, padre. Agora, dê-me o orbe!
Harry estendeu a mão para receber o orbe que o padre havia guardado. Depois que tivesse o objeto a salvo em suas mãos, tiraria toda aquela historia a limpo. Ele não havia gostado nada do fato do padre ter alertado Dracula.
- Vamos... dê-me o orbe! – falou Harry, firmemente. Estava pronto a arrancar o orbe do padre se fosse preciso, mas o padre enfiou a mão nos bolsos e tirou o objeto levando-o em direção à mão de Harry.
Harry sorriu, vendo o brilho do orbe próximo da sua mão quando de repente, o padre, intencionalmente, deixou o objeto escorregar de seus dedos. Sem conseguir agir em tempo, Harry viu, estarrecido o objeto tocando o chão e se quebrando no momento exato em que o padre proferiu: “Sésmonas”.
- NÃO! – Harry gritou, mas era tarde demais. Uma nevoa negra começou a se formar do chão e Harry sabia o que aconteceria em seguida.
- Padre... o que fez? Não sabe o que fez? Voldemort... Voldemort... vai ressurgir.
Harry estava estarrecido, pois não sabia como o Padre poderia saber como quebrar o orbe. Não bastava apenas jogar o orbe no chão, nem mesmo só proferir o feitiço de sesmonas. Era preciso fazer os dois ao mesmo tempo para que funcionasse. Mas o padre sabia. O padre sabia! Só mesmo um bruxo poderia saber disso.
- Eu sei o que fiz, Harry. Faz muitos anos que venho medindo as conseqüências desse ato e discernindo. Agora não há mais volta! – disse o padre, colocando uma das mãos no ombro de Harry. – E você vai enfrentá-lo.
Novamente, o padre Carter enfiou uma das mãos nos bolsos e tirou de lá a varinha que Harry bem conhecia.
Eu achei ali fora. Mas guardei para o momento necessário. Você não precisava de todas as suas forças para enfrentar Drácula, pois eu estava preparado para derrotá-lo, mas precisa de tudo o que puder para enfrentar Voldemort.
- Você não sabe o que fala, Padre. Não conhece Voldemort! Se eu não pude derrotá-lo há dez anos atrás, o que o faz pensar que eu poderei enfrentá-lo agora?
O padre sorriu, para desespero de Harry. Será que o padre não tinha consciência do perigo. Será que não tinha consciência de que aquela nevoa negra se formaria numa das criaturas mais terríveis que o mundo já conhecera, talvez mais terrível do que o próprio Drácula?
- Há dez anos atrás você não tinha isso!
- isso o que? – perguntou Harry, de mal humor, tentando não desabar com o desespero e o medo que o abatiam.
- Isso: eu te perdôo, meu filho! Você está perdoado!
- Ah... padre... seu idiota! – falou Harry, não se contendo mais – Eu não preciso de absolvição de um padre para enfrentar Voldemort... eu...
- Eu sei... você não precisa da absolvição de um padre... mas precisa da minha absolvição.
Harry franziu o cenho sem compreender. Um barulho estranho às costas de Harry chamou sua atenção e ele se virou. A nevoa já constituia um rosto viperino que Harry queria muito evitar de ver novamente. Dez anos não foram suficientes para faze-lo esquecer de tudo o que Voldemort o fizera sofrer.
- Seja forte meu filho! – Harry escutou a voz do padre se perdendo num dos corredores de saída da caverna.
Isso padre... fuja enquanto é tempo... maldito covarde! – pensou Harry, com raiva, tentando se preparar como podia para o momento derradeiro de sua vida: o momento em que enfrentaria, enfim, Voldemort.


- Padre... padre...PADRE! – gritou Hermione quando viu o padre saindo da caverna! – Graças a Deus, o senhor está bem... onde está Harry? – perguntou Hermione, sentindo um frio no coração por não ver a presença do marido ao lado do padre.
O padre por sua vez sorriu com satisfação ao ver o trabalho que Hermione e os padres restantes fizeram. A nuvem de morcegos agora jazia no chão transformados em vampiros moribundos ou mortos.
- Você conseguiu! – falou o padre, afastando-se de Hermione para ajudar um dos padres que estava caído perto dele. – Venha, irmão... deixe que eu te ajude.
- PADRE? – gritou Hermione, sentindo um onda de enjôo. – ONDE ESTÁ HARRY? ELE ESTA BEM, NÃO ESTÁ?
- Ele ficou para trás para enfrentar Voldemort! - falou o padre, colocando uma das mãos no rosto de Hermione. – Mas Drácula esta morto!
- O... o... o que? – perguntou Hermione, baixinho... temia ouvir até mesmo a sua voz novamente. – O que disse, padre?
- Drácula está morto e Harry vai enfrentar Voldemort, Hermione!
Hermione cambaleou, mas fez um esforço sobrenatural para manter-se em pé. Sem dar uma palavra para o padre, ela se virou e fez menção em entrar na caverna. O padre, correu e a alcançou.
- Não... você prometeu! Lembra-se da condição: se Harry tivesse que enfrentar Voldemort, você deixaria ele fazer isso sozinho! Você prometeu para mim que o deixaria e seguiria com o que tivesse que ser feito. Nós precisamos de você aqui, e Harry precisa fazer o que precisa ser feito lá dentro.
- Mas... mas e se Voldemort atacar Harry... se Harry precisar de ajuda... eu não posso abandoná-lo.
- Você prometeu!
Os olhos de Hermione lacrimejaram.
- Eu sei que eu prometi... – falou Hermione, com a voz embargada. – Por favor... liberte-me dessa promessa sem jeito... eu não posso deixar que ele...
- Você prometeu e agora vai cumprir! – falou o padre, segurando o braço de Hermione firmemente. – Reúna seus aurores e todos os demais no castelo. Se Harry falhar... você terá que continuar e derrotar Voldemort.
Hermione respirou fundo. Sabia que o padre tinha razão. Que ela teria que continuar agora e garantir um exercito de segurança caso Harry falhasse, mas ainda assim, todo o seu ser tremia de emoção, com a vontade que a abatia de seguir para onde Harry estava e ficar ao lado dele.
- Eu não posso! Não posso deixar Harry morrer...
- Tenha fé, minha filha. Tenha fé em Deus... e tenha fé no seu marido que te ama e que tem todas as armas para derrotar o lorde das trevas... Vamos... eu sei que você é forte... sei que vai conseguir...


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