Aviso Prévio




Capitulo VII


Na segunda-feira, Gabby entrou no escritório disposta a ser eficiente como nunca. Caprichava até na aparência, o conjunto de lãzinha bege contrastando com a blusa verde-água de corte feminino. A maquiagem bem-feita ocultava com perfeição as olheiras das noites mal-dormidas pensando em Remo. Ele quisera humilhá-la com aquela exigência absurda, mas lhe mostraria o lugar exato que ele ocupava em sua vida.
O ombro doeu-lhe um pouco quando tirou a bolsa para guardá-la na gaveta da escrivaninha. Remo ainda não chegara, mas Amos logo saiu de sua sala para cumprimentá-la, aliviado.
-- Ainda bem que você voltou, Gabby! – exclamou com um suspiro – A secretaria temporária não agüentou nosso ritmo de trabalho e a agência não conseguiu uma substituta. Onde está Remo?
-- Não sei... Provavelmente em casa. Ele ainda não chegou?
-- Ainda não. Mas o que aconteceu? Pagaram o resgate? Como está Marina?
Gabby sorriu tranqüila, diante da ansiosa curiosidade do chefe. Tirou o casaco e colocou-o no encosto da cadeira, depois colocou os óculos de leitura.
-- Vamos por partes – respondeu muito calma, já consultando a agenda. – Marina está bem, mas não foi preciso pagar o resgate. Os detalhes, por favor, pergunte a R.J. está bem?
Amos ergueu os braços, exasperado.
-- Você some por dias e, quando volta, ainda me vem com mistérios? Ora, Gabby, isso não é papel de amiga!
-- Como vai o divorcio da Sra. McGonagall?
Ele suspirou, resignado. Era obvio que não arrancaria nenhuma informação de Gabby.
-- Muito bem, mas o juiz quer discutir o caso com R.J. antes da sentença final. – E, observando-a com atenção acrescentou: -- Você me parece muito bem. O que não fazem alguns dias de descanso!
Gabby riu, anotando o recado. Rastejar pela mata com uma arma em punho era um “descanso” que ela não desejava ao pior inimigo!
-- Digamos que fiz uns exercícios extras – ironizou, arquivando alguns documentos.
Frustrado, Amos desistiu de perguntar e foi para sua sala. Gabby trabalhou duro a manhã inteira colocando em ordem o serviço acumulado durante aqueles dias de ausência. R.J. chegou bem mais tarde, muito sério e elegantíssimo com um terno cinza. A expressão sisuda se desfez num espanto indisfarçável quando Gabby lhe sorriu com amabilidade, como sempre fazia.
-- Bom dia, R.J.
-- Bom dia. Algum recado?
-- Só o juiz do caso Mcgonagall. Ele quer falar com você antes da sentença.
-- Tudo bem. E qual é minha agenda para hoje à tarde?
-- O Sr. Thomas vai passar aqui depois do almoço, em seguida você tem uma sessão corrida: três clientes um atrás do outro. Por isso mesmo, acho melhor colocarmos a correspondência em dia agora mesmo.
E, pegando o bloco e a caneta, ergueu-se e ficou ao lado da escrivaninha, esperando que Remo entrasse em sua sala.
Ele pigarreou confuso, e ia dizer alguma coisa quando, Amos abriu a porta e aproximou-se.
-- Ainda bem que você chegou R.J. Estou maluco para saber como foi o resgate, mas Gabby não quer me dizer uma palavra sobre a viagem!
-- Eu também não quero. – R.J. informou-o com secura. – Mas tudo bem. Marina e Roberto voltaram a Palermo e os seqüestradores foram desbaratados... Aniquilados, para ser exato. Quer almoçar comigo hoje?
-- Não dá, já combinei com um cliente.
Remo foi para sala dele e sentou-se na confortável poltrona atrás da escrivaninha. Gabby seguiu-o e acomodou-se na cadeira diante dele enquanto Remo consultava o maço de cartas sobre a mesa. Depois, enquanto anotava as palavras dele, sentia-se alvo de uma observação insistente, mas fingia não percebê-la. E foi um alivio quando Remo dispensou-a. Já saia da sala quando ele a chamou.
Gabby voltou-se com ar casual e esperou por novas ordens. Remo brincou com a caneta sem erguer a cabeça, apoiada numa das mãos.
-- Como está seu ombro? – quis saber, por fim.
-- Um pouco dolorido, mas isso e natural.
-- Você quer a demissão por escrito?
-- Como for melhor para você. Preciso de um emprego quando terminar o aviso prévio e vou aproveitar meu horário de almoço para procurar alguma coisa. Portanto, se não se importa...
-- Você não precisa pedir demissão! – ele interrompeu, alterado.
-- Ora, como não?
-- As coisas vão voltar ao normal. Será muito pedir para fazermos outra tentativa? Nos entendíamos tão bem antes!
-- É verdade. Tudo ia às mil maravilhas antes de você me tratar como uma prostituta.
Remo baixou a cabeça e continuou brincando com a caneta por alguns instantes, num silencio taciturno.
-- Não vai ser fácil substituí-la...
-- Talvez, mas não será impossível. Deve haver outras malucas que gostem de praticar tiro ao alvo nos outros e seduzir todos os amigos do patrão...
R.J. empalideceu ligeiramente, embora não a olhasse.
-- Sua demissão será desvantajosa para nós dois. Não tenho vontade de ensinar tudo de novo a outra pessoa. E você vai morrer de tédio em qualquer outro serviço.
-- Desculpe a franqueza R.J., mas isso é problema meu. Esqueceu de que a vida é minha?
Remo ergueu-se e aproximou-se dela, exasperado. Segurou-a pelos ombros, mas ela desvencilhou-se com firmeza.
-- Eu não ia agarrá-la, Srta. White – ele ironizou, um tanto ofendido.
-- Como posso saber? Não seria a primeira vez.
-- Nunca tive a intenção de ir tão longe, Gabby. Se isso a tranqüiliza, nunca mais encosto um dedo em você.
-- O problema não é esse. Não quero mais trabalhar com você, não o respeito mais, nem como patrão nem como homem. E onde não existe respeito, não há confiança.
Ele observou-a com certa malícia enquanto acendia um cigarro.
-- Não confia em mim, Gabby? Acaso tem medo de que eu volte para a guerrilha? Preocupa-se tanto assim com minha segurança?
-- Voltar ou não para a guerrilha é um problema seu, não tenho nada com isso... desde que não precise de minha ajuda.
O último comentário deixou-o furioso. Os olhos dele faiscavam quando a observou com atenção.
-- Como tem coragem de dizer isso depois de tudo o que dividimos naquele quarto na casa do Zabini, Gabby?
-- Nossas lembranças daquele quarto são muito diferentes, pelo visto. As minhas não são nada agradáveis e duvido que seja a essas que se refere.
-- Você sabe que não.
-- Então não mais nada para lembrar.
-- Gabby, eu tinha meus motivos...
-- Guarde-os para você. Da para notar que deseja esquecer o que aconteceu na Guatemala. Eu também, mas não vou conseguir se continuar trabalhando aqui!
Foram interrompidos pelo telefone, que Gabby atendeu. Passou a ligação para ele e saiu, aproveitando para ir almoçar numa lanchonete próxima ao escritório. Pediu apenas um lanche leve, mas seu apetite não deu conta da metade do sanduíche. A conversa com Remo lhe amargava a alma, deixando-a com uma terrível sensação de fracasso. No fundo, esperava que ele se desculpasse pelo comportamento grosseiro e desrespeitoso. Como fora tola! Remo não se arrependia de nenhuma palavra, de nenhum gesto que fizera no quarto de Zabini. Só desejava tê-la por perto por causa da eficiência dela como profissional.
Se era competência que Remo queria dela, teria apenas isso... e por pouco tempo! Com essa resolução, Gabby voltou ao escritório uma hora mais tarde. R.J. não estáva lá, deixara um bilhete avisando que saíra com um cliente e não retornaria mais ao escritório.
A ausência de Remo permitiu que Gabby colocasse em dia todo o trabalho acumulado. Ao mesmo tempo, as tarefas do escritório não lhe deixaram espaço para pensar se Remo não lhe mentira no bilhete. Só quando chegou em casa esse pensamento atormentou-a. R.J. tinha uma vocação toda especial para se meter em encrencas e ela se odiava por ainda se preocupar com a segurança dele.
Na manhã seguinte, gastou mais tempo ainda com a maquilagem para disfarçar as olheiras pela noite de insônia. Chegou ao escritório com a firme resolução de arranjar outro emprego o quanto antes. Enquanto cumpria as tarefas de rotina, procurava uma colocação interessante nos anúncios classificados do jornal.
Amos aproveitou a ausência de Remo durante toda a manhã para organizar com ela a correspondência acumulada naqueles dias e assim o ritmo forçado de atividades impediu-a de pensar em Remo. E foi sem grande esforço que ela cumprimentou-o calmamente quando ele chegou, quase na hora do almoço.
-- Ficou preocupada comigo? – ele quis saber, quando ele lhe passou o último recado.
Ela observou-o por sobre os óculos de leitura.
-- Preocupada, por quê?
Remo suspirou e entrou no gabinete, batendo a porta com força. Gabby deu de ombros e pegou a bolsa da gaveta. Tomaria um lanche rápido e compareceria a algumas entrevistas para emprego.
-- Estou indo almoçar – avisou pelo intercomunicador.
Já se dirigia para a porta quando R.J. a chamou. Estava em pé na porta do gabinete, com ar inseguro e solitário.
-- Almoce comigo – ele pediu
Ela mostrou-lhe o jornal com um sorriso amigável.
-- Hoje não da. Vou fazer algumas entrevistas.
-- Não...
Gabby quase voltou atrás em todas as decisões ao ver a expressão suplicante e desamparada de Remo. Mas morreria aos poucos se continuasse ali, vendo-o todos os dias, desejando com desespero o amor que ele jamais lhe daria. Armou-se de toda a coragem para reagir ao impulso de abraçá-lo.
-- Preciso ir. É melhor assim.
-- Melhor para quem?
-- Para nos dois! Não agüento ficar com você no mesmo lugar oito horas por dia!
Remo empalideceu como se atingido por uma bofetada. Gabby virou-se e saiu sem uma palavra. Só mais tarde lhe ocorreu que, de certo, ele entendera o comentário de maneira distorcida. Compreendera como repudio o que, na verdade, era amor.
Melhor assim, pensou desolada. Não valia a pena pôr a perder o esforço para demonstrar naturalidade diante de Remo. Se ele descobrisse o quanto o amava, usaria de todos os artifícios para prendê-la. Afinal, ele reconhecia nela uma secretaria exemplar, capaz até de adivinhar-lhe os desejos. E ela teria de se contentar com sexo e gratidão, quando entregaria a ele de bom grado a própria vida. Era muito pouco para quem o amava com loucura. Remo nunca seria capaz de um afeto verdadeiro. Aprendera a viver sem vínculos com o futuro, sem planejar o amanhã. Qualquer relacionamento mais profundo lhe pareceria uma amarra para rouba-lhe a liberdade.
Marchal acertara: para R.J. solidão e liberdade eram sinônimos. Ele era um Lobo Solitário. O que esperar dele senão amargura e desilusão? Melhor romper os vínculos enquanto eram recentes... ou não teria mais coragem de fazê-lo.
Quando voltou do almoço, Remo já havia saído. Um bom treinamento para quando não o visse mais, pensou com amargura. Uma realidade dolorosa, mas, com o tempo, ele se habituaria à idéia. Na curta convivência com o Remo guerrilheiro, aprendera a superar o sofrimento em beneficio de um bem estár duradouro.

Durante o resto da semana, R.J. manteve um comportamento reservado. Só conversava com Gabby sobre assuntos do escritório e, mesmo assim, quando era estritamente necessário.
Na sexta-feira pela manhã, após ditar-lhe a correspondência do dia, ele fitou-a com certa preocupação.
-- Já recebeu alguma resposta das entrevistas para o novo emprego? – quis saber, após um momento de hesitação.
-- Estou esperando uma resposta de um emprego como digitadora na segunda feira. As outras entrevistas não deram em nada.
Remo mordeu o lábio, pensativo.
-- Não é tão fácil encontrar um bom emprego...
-- Agradeço a preocupação, mas não há motivo para isso. De um jeito ou de outro eu acabo me arranjando.
-- O que me preocupa e de que jeito...
-- Desculpe a franqueza, mas isso não e da sua conta.
-- Claro que é! Me incomoda ver uma pessoa de talento como você num emprego muito abaixo de suas capacidades. Fique comigo, vamos! Acho que... Se me der um tempo, as coisas voltam a ser como antes.
-- Não recomece, R.J. Assim, você só dificulta a minha decisão.
-- Pensei que fosse mais fácil para você sair por aquela porta e nunca mais me ver.
-- Acho que me expressei mal. Eu não decidi sair daqui, na verdade não tive escolha. Nosso relacionamento está muito difícil e a tendência e só complicar ainda mais.
Remo observou-a por alguns instantes, depois esboçou um sorriso irônico.
-- Só por que não desejo um compromisso? Pensei que estivéssemos de acordo pelo menos nesse ponto. Afinal, você sempre deixou bem claro que não queria um homem interferindo na sua vida...
-- E não quero mesmo, pelo menos por enquanto. Um relacionamento não significa uma prisão. É uma troca de experiências, uma comunhão de idéias, uma doação mutua. E assim que eu encaro uma relação enriquecedora entre um homem e uma mulher. E tudo que aconteceu entre nos dois só me provou que você não tem nada para me oferecer, a não ser sexo e amargura. Não Remo, obrigada! Tenho a vida inteira para me decepcionar, não quero começar tão cedo.
Ele se ergueu da cadeira com um suspiro e caminhou devagar até a janela.
-- De certa forma, você está certa, Gabby. Tive uma vida muito dura, sempre tendo de lutar muito para conseguir o que queria. Nunca tive um relacionamento afetivo, a não ser com minha mãe e com Marina. Mas elas dependiam de mim e eu me obriguei a ser forte, a nunca demonstrar meus sentimentos.
-- Mas afetividade não é sinal de fraqueza!
-- Agora eu sei disso, mas é muito difícil mudar de repente. Fiquei bastante tempo nas guerrilhas e me acostumei a encarar o mundo de um modo muito cru. E quando decidi abandonar aquela vida, achei que o mais importante era assegurar a estábilidade material. Não queria precisar de novo daquele tipo de trabalho para sobreviver, entende?
-- Mas também não consegue ficar longe de emoções fortes, não é? Prova disso é como leva as investigações de suas causas... para ser sincera, vou sentir falta disso. Esse emprego pode ter sido tudo, menos maçante!
-- Então fique com ele! Se aceitá-lo de volta, vou me sentir menos culpado pelas besteiras que lhe fiz na Guatemala.
Gabby deu de ombros com indiferença.
-- Sinto muito, mas não tenho nada a ver com suas culpas, R.J. Não sou santa para redimir pecados. O mundo está cheio de secretarias competentes, uma delas se adaptará ao seu jeito, talvez melhor ainda do que eu.
-- Isso é impossível Gabby.
Ela soltou uma gargalhada, lembrando-se das constantes queixas de Remo sobre seu temperamento forte e voluntarioso.
-- O que é isso, R.J.? Sou Gabby, lembra-se? A resmungona, reclamadeira, intrometida...
-- Inteligente, companheira, perspicaz, surpreendente, bem-humorada e corajosa – ele completou, sorrindo-lhe com ternura. – Sou tão idiota que ainda não lhe agradeci por ter salvo minha vida. Estava ocupado demais em compreender por que a vida de mercenário não me seduzia mais.
-- É que nunca Marina esteve envolvida nas suas aventuras. As coisas mudam de figura quando estamos do lado mais fraco da corda...
-- Não foi só isso. É claro que arriscar a vida de alguém a quem eu amasse era um dado novo naquela história. Mas todos esses anos como advogado me ensinaram muita coisa. Não pode haver justiça numa vida marginal, Gabby. Antes eu sabia isso teoricamente, mas, agora, senti na pele. O seqüestro de Marina foi uma vingança sórdida contra erros que cometi no passado. Snape me atingiu uma vez por que achou que minha fama no mercado estava superando a dele. E quando sai do hospital, quase o matei por isso. Depois, comecei uma vida respeitável e enterrei o passado tão fundo que quase convenci a mim mesmo que ele não existia.
-- Mas você teve bons motivos para se tornar mercenário.
-- A maioria dos criminosos tem bons motivos para viver fora da lei. Às vezes fico pensando o que seria do mundo se todos tivessem a sorte que eu tive de nunca serem presos... Só quando comecei a atuar como advogado que me dei conta de que eu não era nada melhor do que meus clientes. Eu também infringi a lei, por razões nobres ou não... – E, sacudindo a cabeça devagar, acrescentou amargo: -- Entrei na faculdade de direito querendo apenas uma profissão e status social. E encontrei lá a melhor forma de me libertar do meu passado de uma maneira digna e útil.
Gabby encarou-o, incrédula. Lembrava-se muito bem da expressão de Remo nas roupas camufladas. Todo ele irradiava orgulho muito semelhante ao do soldado em sua farda, consciente do cumprimento do dever.
-- Você não me deu essa impressão na Guatemala – comentou – Muito ao contrario: parecia muito impressionado com o poder que uma UZI e alguns C-4 lhe davam...
-- Eu estava compenetrado da missão de salvar minha irmã. E se quer saber, estou orgulhoso por haver conseguido.
-- Ou será que estava vaidoso por ter poder de vida ou morte sobre as pessoas? Talvez essa seja a liberdade que você tanto procura.
Gabby sorria, o queixo erguido num manso desafio. Quando Remo fez menção de responder, ela impediu-o com um ligeiro aceno de mão.
-- Não, não responda essa pergunta a mim, responda-a para você mesmo... Agora, vou datilografar estas cartas.
Gabby ergueu-se e caminhava para a porta quando R.J. a chamou.
-- Você tem me evitado por que está com medo de mim? – ele quis saber, muito serio. – Não a culparia, depois de tudo o que aconteceu...
-- Não tenho medo de nada. Apenas não quero que aquela cena lamentável se repita.
Abriu a porta e saiu do gabinete, sentando-se diante da maquina de escrever. Remo a seguiu devagar e sentou-se num canto da escrivaninha, observando-a com atenção.
-- Ainda não conversamos sobre esse assunto, Gabby. Acho que precisamos esclarecer certos pontos...
-- Não concordo, para mim a situação se explicou por si mesma. E, mesmo se fosse necessário algum esclarecimento, não gostaria de tê-lo aqui nem agora. Preciso trabalhar, R.J.
-- Belo pretexto você arranjou para disfarçar o medo!

--Pense o que quiser. A única opinião que me interessa no momento é a da minha substituta. Não quero que ela saia por ai dizendo que a ex-secretaria de R.J. Lupin era uma relapsa.
--Quer parar com isso?! Não pense que é fácil para eu conversar sobre aquele maldito incidente!
--Então espere pelo menos eu datilografar essas cartas. Se é que temos alguma coisa para dizer um ao outro. Por mim, esse assunto está encerrado.
-- As cartas que esperem! Não posso dar o assunto por encerrado porque ele ainda me incomoda! Pensa que não percebo o quanto você me despreza depois daquilo? Você não diz nada, mas está escrito nos seus olhos...
“Cego!” Gabby xingou-o mentalmente. Só mesmo alguém sem a mínima sensibilidade confundiria com desprezo o amor que lhe transbordava dos olhos quando ela o fitava. Voltou-se para ele, sem esconder a impaciência diante do pedido insistente de atenção.
-- Tudo bem, R.J., você já me desconcentrou mesmo... Então fale.
-- Juro que não queria assustá-la, Gabby. Estava apavorado, tenso, fora da realidade...
--Em primeiro lugar, você não me assustou, só me ofendeu. E depois, se estivesse mesmo fora da realidade, não teria me acusado de uma maneira tão racional. Absurda, é verdade, mas muito bem pensada.
--Eu entrei em pânico quando a vi no meio do fogo cruzado... Eu não estava em meu estado normal... Recorda-se de como foi naquela manhã antes do resgate?

Claro que ela se recordava! Como esquecer a sensação intensa dos beijos, das caricias de Remo provocando-lhe na pele nua? Gabby reagiu a custo contra aquelas lembranças, mantendo a expressão impassível.
-- É quando se está sob pressão que se conhece a verdadeira personalidade de alguém – afirmou, indiferente. – E você me tratou como uma pessoa de última categoria, uma leviana que arrisca a vida de um grupo de pessoas por simples vaidade!
--O que eu fiz, não tem perdão, eu sei – ele suspirou, resignado. – Você arriscou a vida para me salvar e...
-- Por favor R.J., vamos encerrar essa conversa por aqui. Faça de conta que esse episódio das nossas vidas não passou de um pesadelo, está bem? Preciso cumprir mais uma semana de aviso prévio e quero fazê-lo com o mínimo de ressentimento possível.
Remo encarou-a, uma sombra de tristeza nublando-lhe o rosto abatido.
-- Não quer reconsiderar e almoçar comigo hoje? – insistiu. – Não será nada pessoal, apenas uma espécie de despedida entre patrão e empregada. Afinal, sempre nos demos bem durante dois anos de convivência. Não tem sentido nos separarmos assim, estremecidos.
-- Prefiro manter esse relacionamento nada pessoal apenas aqui, no escritório... Aliás, nos entendíamos muito melhor quando tratávamos apenas de trabalho.
-- Pelo jeito, invadir o acampamento de Snape foi mais fácil do que derrubar suas defesas, Gabby...
--Já experimentei ficar sem defesas perto de você e não gostei da sensação. Não me peça para repetir a dose!
Remo ergueu-se da escrivaninha e caminhou devagar para o gabinete. Já alcançara a porta quando se voltou, fazendo menção de dizer alguma coisa. Em seguida, baixou a cabeça, desanimado e entrou, fechando depressa a porta atrás de si.
Gabby voltou-se para a maquina de escrever, contendo as lagrimas com grande sacrifício. Naquele momento, perdera Remo para sempre.

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