Bad Day



Capítulo XIX – Bad Day


 


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“Nem todas as verdades são para todos os ouvidos.”


 (Umberto Eco)


 


 


Jéssica Buttler


 


Abri os olhos na manhã de sábado e percebi o quão difícil seria sair da cama naquele dia. Era o dia mais frio até agora e estar aquecida sob as cobertas não me dava nenhuma vontade de levantar. Pensando bem, o que tinha pra fazer? Ninguém a encontrar, os deveres de casa podiam esperar até de tarde e eu nem estava com fome. Estava decidido, nada me tiraria da cama antes dàs onze da manhã!


 


- Levanta, Jéssica, temos que ir à Hogsmead! – disse Lily puxando minhas cobertas sem pena.


- Lily! – reclamei morrendo de frio.


- Quanto mais você prolongar, pior será.


- Mas eu não vou à Hogsmead hoje. – rebati


- Mas você não ia procurar um presente de aniversário pro seu irmão?


- Ah é... Droga. – resmunguei levantando.


 


Me vesti depressa e desci para o salão principal com Lily mas mal sentamos à mesa e James apareceu querendo levá-la embora.


 


- Mas eu anda nem comi nada! – protestou.


- Nani estará aqui em breve, Lily, temos que ir! – insistiu.


- Você, por acaso, vai pagar meu lanche depois? Porque eu não vou conseguir pensar em nada que preste com fome!


- Te pago o que você quiser mas, por favor, vamos!


- James, eu tava brincando...


- Bem, eu não. Vem logo!


 


E foi assim que Lily foi roubada de mim. Gostaria de saber até quando ela pretende manter essa palhaçada, mas como a vida não é minha... Continuei comendo sozinha, mas não por muito tempo, uma companhia agradável (coisa rara atualmente) logo se juntou a mim com um “bom dia” sorridente.


 


- Bom dia, Will. – respondi bem humorada.


- Por que está sozinha tão cedo?


- Aparentemente, sou a única que não tem um compromisso de hora marcada esta manhã.


- Acabou de achar um parceiro então, posso me juntar a você ou vou te atrapalhar de alguma forma?


- De maneira alguma, vai até me ajudar!


 


Assim que terminei o café da manhã, saí do salão acompanhada de Will. Ainda era cedo e haviam poucas pessoas transitando pelo castelo, não olhei o relógio, mas acho que eram menos de oito horas. Fui conversando e brincando com Will enquanto caminhávamos para o vilarejo.


 


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Lily Evans


 


O vilarejo não ficava longe de Hogwarts, mas tampouco era possível chegar lá andando em cinco minutos, como James parecia querer fazer.


 


- James, quer se acalmar!? Por Merlin, parece um louco! - reclamei pelo que parecia a enésima vez nos últimos dez minutos.


- Desculpe. - repetiu - Só não quero que ela descubra. - mas não reduziu o passo.


- Escuta, Sr. Capitão de Quadribol, a ruiva aqui atrás é uma adepta convicta do modo sedentário de vida! Então, a não ser que você me queira reclamando de dor nas pernas o mês inteiro é melhor andar mais devagar! - gritei para que ele, alguns metros a frente, me ouvisse.


 


James me olhou relutante, mas esperou que eu chegasse até ele e recomeçou a andar mais lentamente.


 


- Obrigada.


 


Silêncio constrangedor. Pensa em alguma coisa, rápido!


 


- Mas e aí, você tem alguma ideia do que dar a sua  namorada? - perguntei pedindo pra sofrer.


- Na verdade não… Esperava que você pudesse me dizer. - sorriu amarelo.


- James… - choraminguei - Meio que a namorada é sua, sabe? Acho que você conhece ela melhor que eu.


- Eu sei, é só que… Olha, eu queria que fosse realmente especial! Algo que marcasse.


- Entendo… Bem, você não precisa investir tudo no presente, pode pensar numa maneira legal de entregar ou um encontro diferente. - estava mais pensando alto que falando com ele - Toda garota gosta de romantismo e, as decentes, preferem um belo gesto a uma bolsa cara. Algumas de nós se contentam até mesmo com algumas flores roubadas de um jardim qualquer, umas frases sinceras num cartão e, quem sabe, um piquenique olhando as estrelas… O quê? - perguntei quando reparei que ele me olhava estranho.


- Ah, qual é, Lily? Isso é muito pouco!


- Você não ouviu uma palavra do que eu disse, não é? - perguntei com um ar cansado.


- Tem uma loja de jóias perto do Três Vassouras, acha que ela gostaria?


- Claro…- respondi entediada.


 


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Nicole Carrew


 


Tinha chegado a Hogsmead e não sabia exatamente o que fazer. Desde o terceiro ano, quando os passeios foram permitidos, nunca havia estado ali sozinha. Agora, parada na rua principal ainda um pouco vazia, a ideia inicial me parecia um tanto estúpida. Claro, eu havia considerado a possibilidade de permanecer no castelo, mas achei que seria ainda mais depressivo.


Vaguei pelas ruas sem ir para nenhum lugar em específico e, quando o tédio me venceu, sentei numa pequena praça afastada do centro onde a movimentação ainda era pequena. Perdi um pouco a noção do tempo apenas olhando as nuvens passarem e imaginando formatos em cada uma, então não sei dizer quando David chegou e sentou ao meu lado.


 


- Olá. - disse, me sobressaltei quando percebi quem era.


- Oi. - respondi com um sorriso amarelo.


 


O silêncio se instalou imediatamente, parecia que o mundo havia se calado. Um tempo indeterminado se passou deste jeito até que decidi dizer qualquer coisa.


 


- Não que eu esteja reclamando, mas...


- O que estou fazendo aqui? - completou com um sorriso doce, depois olhou para o outro lado e deu de ombros - Não sei bem o que estava pensando, confesso, só não consegui te ver e não vir.


 


Uma chama discreta acendeu lá no fundo, tentei ao máximo controlá-la.


 


- Sinto sua falta. - falei meio sem pensar.


- Também sinto. - a chama cresceu.


- Então por que...


- Agora não, Nick. - ele me lançou um olhar cansado - Olha, você é uma garota incrível. Mas incrível de uma maneira que sei que não vou encontrar em nenhum outro lugar do mundo… Eu só queria conseguir te perdoar.


 


Morri por dentro.


 


- Mas David, eu já disse que… - tentei me explicar pela enésima vez, mas ele colocou a mão sobre os meus lábios.


- Ainda não é a hora… Eu tenho que ir, Nick. Se cuida, tá? - então ele me deu um beijo no canto da boca e foi embora.


 


É possível morrer duas vezes num intervalo de quarenta segundos? Eu não agüentava mais ficar naquele lugar, levantei e voltei para o castelo, onde certamente estaria bem mais calmo. Chegando às portas do salão, entretanto, não quis entrar. Permaneci vagando pelos jardins até encontrar um lugar que eu considerasse bom o suficiente para me sentar e entrar em depressão. Achei esta pedra na beira do lago. Perfeito.


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Lily Evans


 


Andei com James por várias lojas, mas ele era pior que mulher de TPM: nada é bom o bastante. Por este motivo nos encontrávamos novamente na primeira loja, uma joalheria cheia de coisas “não-bonitas-o-suficiente”. Deixei-o estressando uma vendedora e comecei a olhar as vitrines com mais atenção, já que da primeira vez estava com James e ele não me deixava olhar direito pra nada. 


Depois de pouco tempo comecei a ficar realmente com aborrecida. Primeiro porque a loja tinha jóias muito bonitas, do tipo que fazem uma garota fingir não se importar em passar fome por um mês ou dois para ter; segundo por inveja de Ariane de ter o cara por quem sou apaixonado tão louco por ela que acha que nada disso é bom o bastante.


É, vou precisar de uma dose extra de chocolates este fim de semana.


James veio atrás de mim outra vez quando eu analisava lindos brincos de pérola do lado oposto da loja. Ele trazia uma bandeja de veludo cheia de todos os tipos de acessórios e pedia ajuda para escolher um “ou uns, àquela altura ele já estava disposto a levar a loja toda se necessário”, disse.


Suspirei e comecei a olhar os itens pré-escolhidos, havia pelo menos uns vinte. Descartei de cara, e sem sequer olhar os anéis, aí já seria demais. Broches... Nunca a vi usando, acho que não iria gostar, descartados. Agora me restavam alguns brincos extravagantes, apesar de bonitos, alguns conjuntos de brincos e colares e algumas pulseiras... Uma delas me chamou muito a atenção e retirei do mostruário para olhar mais de perto. Era composta de argolas douradas delicadas, intercaladas por pequenas pérolas e um pingente de coruja na argola antes da tranca. Simples, discreta e charmosa. Amei.


 


- É linda. – pensei alto.


- Não é? Achei que Nani fosse gostar. – disse James colado ao meu lado.


- Talvez... – disse insegura, precisava pensar em algo e rápido – Mas eu acho que pulseira não é presente de namorado.


- Quê? Por quê? – ele me olhou confuso.


- Porque... Ora, porque... Não é assim tão visível... Hum... Sabe o que namoradas adoram? Colares! Vai por mim, James, olha só esse conjunto com pedras azuis! Lindo! E vai combinar com os olhos dela, é perfeito. Você tem que levar este. – e então parei para respirar esperando que ele caísse.


 


James continuou me olhado confuso por alguns segundos, como se considerasse se meu sorriso de propaganda de creme dental era verdadeiro ou eu tinha enlouquecido de vez. Por fim disse um “vai mesmo combinar com os olhos dela” e se dirigiu à vendedora para informar a decisão.


Decidi esperar do lado de fora quando ele começou a se mostrar indeciso quanto ao tipo de embalagem que ia querer. Me surpreendi com as ruas já cheias de alunos quando cheguei à rua, eu tinha passado tanto tempo assim com James? Bem, não importava, assim que ele atravessasse aquela porta eu fingiria estar morrendo de cólicas, voltaria imediatamente para o castelo, me enfiaria na minha cama e só sairia de lá na hora do jantar. Meu almoço, óbvio, seria uma grande caixa de chocolates.


É claro que meus planos foram frustrados.


 


- Se não é a minha ruiva favorita!


- Bom dia, Sirius, você parece estranhamente bem humorado. – respondi.


- E você habitualmente aborrecida. Vamos, Ruiva, vou animar o teu dia. – disse passando o braço pelos meus ombros e me puxando.


- Pára, Sirius, eu vou voltar pra o castelo daqui a pouco.


- E afundar em depressão na cama? Olha, para todos os efeitos, eu sou seu namorado. Se você se matasse a culpa ia cair em mim.


- Fico comovida com suas intenções.


- Hey, pelo menos eu sou sincero!


 


Eu ainda ria de Sirius quando James apareceu ao nosso lado. Ele guardou o embrulho cuidadosamente no bolso interno do casaco e conversou por pouco tempo com Sirius antes de Ariane chegar. Ela, claro, se agarrou a James e propôs que saíssemos todos juntos para o Três Vassouras, mas Sirius negou e, com um sorriso maroto, disse que preferiria me levar a um lugar mais reservado.


 


- Sirius! – o repreendi dando uma cotovelada em suas costelas, mas sentindo meu rosto esquentar imediatamente.


 


Ariane riu junto com Sirius nos primeiros instantes, mas parou ao ver a expressão estranha no rosto de James. Não consegui definir o que era exatamente, mas era visível que não viu graça e não gostou da piada. Sua namorada prontamente mudou de assunto e o apressou a ir ao pub com ela enquanto eu e Sirius seguíamos na direção oposta.


 


- Você notou algo diferente em James ainda há pouco? - perguntei a Sirius quando já estávamos fora de alcance.


- E tinha como não notar? Porque você acha que a enjoadinha tratou de arrastar ele pra longe?


- Ah, Sirius, pega leve. Ela não é má, é só… Um garota comum.


- Ruiva…- Sirius começou com aquele tom de quem ia me dar uma lição de moral - Deixa pra lá, você é inocente demais.


- Não sou!


- Claro que é.


- Não sou!


- Ok, então não é. - respondeu dando de ombros - Mas continuo dizendo que fingir não vai te levar muito longe.


 


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Jéssica Buttler 


 


Will e eu resolvemos andar pelas trilas ao redor do vilarejo quando as ruas começaram a ficar apinhadas demais para o nosso gosto. A esta altura não estávamos mais conversando, mas aproveitávamos a companhia silenciosa um do outro. Coisa rara de acontecer comigo, normalmente tenho necessidade de falar o tempo todo.


Estávamos próximos a trilha que passava pela Casa dos Gritos, mas a evitamos por não querer encontrar as multidões que também devem estar por lá. Mas nossa paz foi interrompida de qualquer jeito por uma criatura que eu não lembrava mais existir.


 


- Aproveitado seu passeio, Buttler? - Rick Murray saiu Merlin sabe de onde e se meteu em nosso caminho com uma cara nada amigável.


- Sim, está bastante agradável. - respondi sem entender seu mau humor - Você não?


- Como você se atreve a me responder com cinismo, sua sangue-ruim? - ele praticamente cuspiu as palavras em mim.


- O quê!? - perguntei sem entender.


 


Quer dizer, não que Rick e eu sejamos amigos, mas ele nunca me tratou mal e não vejo motivos para isso acontecer agora…Será que é só o extinto de Slytherin aflorando?


 


- Retire o que disse agora! - Will ordenou ao meu lado.


- Fique fora disso, garoto. Isso é entre eu e este projeto de vadia aqui.


- Hey! - reclamei.


- Agora chega! Sai daqui antes que eu me irrite de verdade, Murray.


- Saque sua varinha, Frey, eu só saio daqui quando terminar de dizer tudo que eu bem entender a sua amiga de sangue-ruim. - Rick debochou com a varinha já em mãos.


 


Will não perdeu tempo procurando por varinhas. Socou Rick direto no nariz derrubando-o no chão.


 


- É assim que os sangues-ruins resolvem seus problemas, Murray. E ninguém xinga minha garota na minha presença. - ele disse lançando a Rick um olhar de desdém.


 


Logo em seguida agarrou minha mão e nos afastamos rapidamente do local. Apenas quando estávamos longe ele parou e perguntou:


 


- Qual o problema dele, afinal?


- Eu não tenho ideia, eu não…Oh Merlin… - lembrei do muito provável motivo da irritação de Rick e tive uma crise de risos ali, no meio do nada sendo observada por um Will que não entendia nada.


 


Depois de chorar e quase rolar no chão de tanto rir, me contive e expliquei a Will que tinha combinado de vir a Hogsmead com Rick ontem, coisa que instantaneamente modificou seu humor.


 


- Por que você saiu comigo então? - seu tom era de uma acusação magoada, eu não estava entendendo - Disse que estava livre.


- Eu te disse que esqueci, Will, qual o problema? Não significava nada para mim quando aceitei, por isso esqueci. - me justifiquei.


- Então agora você simplesmente está aceitando convites de qualquer um?


- Claro que não! Will, qual o problema com você afinal? Vai começar a me xingar também? - comecei a me irritar.


- Claro que não! Eu NUNCA faria isso! - ele estava realmente nervoso e eu estava ficando realmente confusa - Só quero saber por que você aceitou o convite dele e agora está aqui comigo!


- Eu já expliquei tudo, foi um acidente...


- Ter saído comigo foi um acidente. Ah, fica cada vez melhor!


- Pára de falar idiotices, Will, você sabe que não foi isso!


- Não é o que parece!


- Escuta aqui: não tem motivo pra você estar dando este pití, nem falando comigo deste jeito. Se você não vai me dizer o teu problema então passar bem, eu estou indo! – respondi irritada.


 


Eu já tinha me virado, não vi acontecer. Não sei como ele chegou a mim tão rápido e nem como me virei, a única coisa de que tinha consciência eram seus lábios pressionados contra os meus.


 


- Esse - disse pausadamente num sussurro - é o meu problema. - e então foi embora.


 


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Remus Lupin


 


Este era nossa penúltima visita a Hogsmead antes do natal, então eu precisava começar a procurar um presente de natal para Kathy de hoje, afinal, é melhor prevenir. Principalmente porque, não tendo muito dinheiro à disposição, fica bem mais difícil achar um presente que realmente agrade.


James me recomendou a loja em que comprou o presente de Ariane, mas não acredito que eu possa pagar qualquer coisa que venha de lá. Além do mais, eu gostaria de dar algo mais significativo... Pretendo finalmente dizer o que sinto por ela neste natal, não me importa se poderei ou não ficar com ela no futuro, decidi viver no presente.


Normalmente eu não me arriscaria deste jeito, mas eu sentia que Kathy era uma garota verdadeiramente especial. Seu jeito meigo e recatado, o sorriso doce e a educação refinada me encantavam mais a cada minuto que eu passava com ela. E, devido aos acontecimentos recentes, acho que ela sente alguma coisa por mim, o que me deu coragem para dizer a ela tudo o que sinto. Sei que toda essa coragem vai desaparecer na hora e vou acabar gaguejando feito um idiota na frente dela, mas nada disso  me importa muito, já tomei minha decisão.


Só por curiosidade, dei uma olhada na loja que James falou. Certo, não precisava ser algo grandioso. Talvez eles tivessem algumas jóias mais simples... Acabei gostando de um colar fino de prata com o pingente de lobo. Ela não ia entender o real significado, claro, mas como Nick disse, combina com meu nome... Não, ainda assim ele estava fora do meu orçamento. Quer dizer, eu podia comprar se fizesse um esforço e me apertasse um  pouco no próximo mês, mas isso seria irresponsabilidade. Saí da loja.


Depois de passar por algumas lojas, ainda não tinha ideia do que comprar. Dar presentes a garotas é muito mais difícil do que parece. Tudo que achava realmente legal estava fora do meu alcance... Eu devia ter trazido Lily comigo, ela saberia o que fazer. Já era quase meio dia, então resolvi procurar algo para comer antes de continuar a busca.


Enquanto comia no Cabeça de Javali, pensava em todas as lojas que já tinha passado. Eu estava meio perdido e meus pensamentos ficavam voltando para o colar de prata da primeira loja, mas não dava, eu não podia comprar aquilo... Ah, eu ia comprar sim! Uma vez na vida não ia me matar e Kathy merecia um presente legal. Saí do bar e voltei para a loja.


Depois de negociar e cuidar de toda a burocracia com o banco, saí da loja com o lindo embrulho. Agora com o presente comprado, o nervosismo caiu sobre mim. Será que ela ia gostar? Mas tinha certeza que uma garota delicada como Kathy gostaria de...


A cena que se passava bem em minha frente tirou todo o ar dos meus pulmões: Kathy sorria abraçada ao pescoço de ninguém menos que David Tremllet. Ele reclamou de alguma coisa, ela o soltou e rebateu o comentário. Ele sorriu malicioso e a beijou. Kathy olhou para os lados quando David a soltou e os dois saíram depressa da rua principal.


Não sei quanto tempo passei parado na rua pensando em todos os xingamentos possíveis e, talvez, tenha até inventado alguns novos. Voltei imediatamente para dentro da loja e discuti com todos os atendentes e o gerente até conseguir devolver o maldito colar e pegar o dinheiro de volta. A discussão na loja me ajudou a extravasar um pouco a  raiva, mas nem chegou perto de me acalmar.


Voltei para o castelo praguejando contra o vento e todas as pessoas que pareciam felizes no caminho. Fiquei dando voltas pelos jardins do castelo para tentar me acalmar mais, foi quando avistei a já tão conhecida cabeleira colorida esparramada numa pedra na beira do lago. Fui até Nicole e me deitei ao seu lado em silêncio, ela me lançou um breve olhar e continuou calada, olhando as nuvens passando.


 


- Você parece irritado. – comentou depois de bastante tempo, não respondi – Meu dia também não foi muito bom, se serve de consolo, embora eu não ache que sirva.


- Não, não serve. – resmunguei em resposta.



Ela se apoiou nos cotovelos e me observou durante alguns segundos, então se sentou de pernas cruzadas ao meu lado e puxou minha cabeça para o seu colo. Estava tão irritado que não dei qualquer tipo de resposta para não descontar na pessoa errada. Ela então começou a passar os dedos entre meus cabelos massageando de leve murmurando uma canção lenta e, aos poucos, comecei a me acalmar.


 


- Melhor? – perguntou quando acabou.


- Muito. – respondi sinceramente – Obrigada, Nick. – ela sorriu.


- Minha mãe costumava fazer isso comigo quando eu era menor. Fico feliz que tenha te ajudado.


- Alguém já te disse que sua voz é bonita?


- Você é o primeiro, obrigada. – respondeu olhando para o horizonte.


- Eu gostei da música. – comentei, ela abriu um sorriso, mas ainda não olhava para mim.


- Across The Universe, dos Beatles. Os caras do show que eu queria ir, lembra?


- Hum... Bom gosto musical.


 


O silêncio voltou, mas não era nada incômodo. Nicole continuou acariciando meus cabelos e murmurando canções dos Beatles olhando para o nada. Fechei os olhos e me deixei levar pela sua voz e devo ter adormecido, pois quando voltei a abrir os olhos o sol estava começando a se pôr.


 


- Nick... Há quanto tempo estamos aqui? – perguntei confuso.


- Algumas horas. – respondeu vagamente.


- Eu... Você devia ter me acordado. – reclamei meio envergonhado.


- Por quê? Você precisava relaxar. – respondeu me olhando com o rosto inexpressivo – Além do mais, gosto da sua companhia.


- Sou tão chato assim pra você gostar de mim enquanto durmo? – brinquei. Ela esboçou um sorriso.


- Está ficando frio, nós deveríamos voltar ao castelo. – sugeriu.


- Provavelmente.


 


Caminhamos lado a lado em silêncio. Eu estava estranhamente calmo e sabia que devia tudo isso a Nicole, por isso lhe dei um enorme abraço quando nos separamos dentro do castelo, o que a arrancou um sorriso fraco.


É estranho Nicole estar assim calada... Ela normalmente é tão alegre e falante. Se bem que ela mencionou mais cedo que seu dia também não tinha sido... Oh meu Merlin, eu sou um idiota! Quer dizer, ela também estava mal, passou a tarde inteira me fazendo sentir melhor e eu sequer perguntei o que tinha acontecido! 


Tinha que arrumar uma boa maneira de agradecê-la por isso e compensar meu erro... Pensando bem, eu já tinha uma ótima ideia.


 


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