Beatles, Confissões e Chocolat

Beatles, Confissões e Chocolat



Capítulo XVIII – Beatles, Confissões e Chocolate


 


OoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoO


  


E eu tive o meu coração abatido
Mas eu sempre volto para mais, yeah
Não há nada além de amor para te puxar para cima
Quando você está deitado no chão, yeah
Então fale comigo, fale comigo
Como fazem os amantes
É, ande junto a mim, ande junto a mim
Como fazem os amantes


Taking Chances – Celine Dion


 


 


Jéssica Buttler


 


 


O tempo passa rápido e as coisas mudam depressa. As vezes tão depressa que me sinto parada e perdida enquanto o mundo gira em alta velocidade ao meu redor.


 


Depois do dia das bruxas tudo mudou, já haviam se passado duas semanas e Frank anda tão irritadiço que conseguiu fazer Nicole perder a paciência e estuporá-lo numa manhã em que ele reclamava até do oxigênio. É claro que ela levou uma detenção por isto mas valeu a pena, pois Frank jamais voltou a se queixar do que quer que fosse quando ela estava por perto. Nick parecia perfeitamente feliz em sua amizade com Remus, mas ainda ficava quieta e distante sempre que David estava por perto. Nosso relacionamento com Alice vinha crescendo, as vezes ela fazia as refeições conosco, mas trazia Charlie, Ariane e James consigo, o que não agradava Lily e Frank. Apenas Lily resistia até o fim.


 


Lily, aliás, se tornou o maior exemplo de força que já conheci, pois James declarou que ela era sua nova melhor amiga e contava a ela tudo o que seus amigos homens não tinham saco para ouvir ou tato para aconselhar. Em resumo: tudo o que tinha a ver com Ariane e seu namoro. Até queria que as duas fossem melhores amigas também, coisa que Lily aceitava, pois gostava de Ariane e, ao que parece, de sofrer também. Acho que o que a está salvando de enlouquecer a esta altura é (imagine só!) seu falso namoro com Sirius, que a socorre das piores situações quando pode ou lhe dá vontade. Eles tem se tornado, arrisco dizer, amigos nos últimos tempos. Tenho os visto conversando muito enquanto andam juntos e parecem até se divertir as vezes. Claro que ele continua me irritando sempre que tem chance, mas com bem menos freqüência.


 


Já eu... Bem, nada mudou muito pra mim exceto o fato de que tenho passado menos tempo com Lily. Não que eu tenha qualquer tipo de ressentimento com ela, o problema é que agora ela possui um satélite moreno-alto-de-olhos-acinzentados cuja presença me incomoda, então fico com Remus e Nick enquanto Lily está com Sirius. Will também tem passado um pouco mais de tempo comigo. Normalmente almoço com ele. E Remus. E Nick. E Peter, a quem acabei me acostumando em nosso grupo modificado. Muitas vezes ele me fervia a paciência com suas perguntas idiotas, mas umas outras era bem engraçado.


 


Então, depois de tanto rebuliço os dias alcançaram uma nova rotina. Devo confessar que gostava mais da anterior embora esta não seja tão mal. Mas é claro, depois da calmaria sempre vem a tempestade e é exatamente isto que eu estou temendo.


 


 


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Nicole Carrew


 


 


Numa bela manhã de terça-feira eu estava tomando café da manhã com Remus, Jéssica, Frank e Peter quando abri uma carta da minha irmã e meu mundo foi por água abaixo.


 


- MERDA! – xinguei alto. Todos pararam de conversar e me olharam assustados – O quê? Nunca ouviram a palavra? – perguntei mal-humorada.


- O problema não é exatamente este... – disse Jéssica – Algum problema?


- Sim, este problema! – respondi colocando o recorte de jornal mandado por Georgia embaixo de seu nariz.


 


Ela tomou o papel de minha mão e leu enquanto eu bufava de impaciência. Jéssica me olhou surpresa.


 


- Achei que você, dentre todas as outras pessoas, gostaria de um show de tributo aos Beatles... – comentou confusa. Peguei o papel de volta.


- É, mas você olhou a data? – mostrei – Dezessete de dezembro! Estaremos no meio das provas, Dumbledore NUNCA me daria permissão para ir a um show nesta data!


- E ele daria em outra? – Peter perguntou confuso.


- Eu não sei, mas tentaria... Isso é tão injusto! Esperei o ano todo por esse show! – reclamei.


- Você podia tentar, ao menos. – sugeriu Frank apoiado por Remus.


- Faça-me um favor. – disse a Remus – Tire isto da minha frente. – entreguei o recorte a ele.


 


E exatamente neste momento a Professora Minerva se levantou de sua mesa e disse a todos os alunos do sétimo e quinto ano que aproveitassem bem o passeio à Hogsmead no fim de semana, pois seria a última vez que sairíamos do castelo antes do recesso natalino. Eu suspirei alto.


 


- Mas quem é Beatles, afinal? – Frank perguntou.


- Quem são. – corrigi – Só a banda trouxa mais famosa de todos os tempos. Infelizmente acabou em 70, mas temos esperanças de que eles voltem... – parei para respirar um pouco, a notícia ainda me deixava triste.


- A Sra. Carrew me disse que ela chorou uma semana. – Jéssica sussurrou para os outros.


- Em todo caso, - continuei – este é um evento para os fãs se reunirem, ouvirem boa música e mostrar a Paul, John, Ringo e George o quanto gostávamos deles juntos e pedir que voltem. E eu não poderei comparecer. – completei e, finalmente, li a carta de Georgia. Estava tudo bem, eu responderia assim que pudesse.


 


Tudo bem, eu podia superar aquilo. Só precisava arrumar algo para me distrair o suficiente no dia dezessete e não lembrar que eu estava perdendo o show do ano.


 


Só isso. Vai ser fácil...


 


Ok, eu quero morrer.


 


 


... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...


 


 


Lily Evans


 


 


Desde que descobri as intenções de Sirius por trás de me ajudar, comecei a levá-lo mais em consideração como ser humano e, apesar desta descoberta tê-lo tornado, também, mais egoísta, nosso relacionamento melhorou bastante. A coisa funciona mais ou menos assim: eu solto comentários ao acaso sobre Jéssica e ele finge que não se importa, mas acata cada conselho quase como se fossem ordens.


 


E como que em agradecimento às informações, ele era bem simpático comigo. Bem, não exatamente agradecimento, mas costume. Tendo que ficar ao lado dele em vários momentos, percebi que Sirius tem uma vida dupla. Quero dizer, ele é completamente diferente daquilo que mostra! Quando está ao lado de James, Remus ou Peter ele é sorridente, falante, piadista e até quase simpático. Só não totalmente por causa do seu jeitão grosseiro mesmo, mas nada parecido com o Sirius longe dos amigos.


 


Acho que ficou meio confuso... O que estou tentando dizer é que, talvez, ele tenha se acostumado à minha presença e baixado a guarda. Me deixou ver quem ele era e agora não tem mais volta. Ah, queria tanto dizer à Jeh sobre isso! Mas não posso manipular o relacionamento deles desta maneira, então fico tentando fazer com que ela mesma veja isso. Ou melhor ainda, que ele a mostre.


 


Mas falando sobre mim, finalmente, ter Sirius como aliado me saiu melhor do que qualquer coisa que eu pudesse ter planejado. Isso porque ele me ajudava a fugir de James, que resolveu me tirar para Cristo. Eu sei, eu sei, eu mesma estou fazendo isso comigo, poderia dizer “não” a ele quando quisesse, é só que... Olha, falar é muito fácil, ta? Tenta dizer “não quero conversa com você” pra um cara por quem você está apaixonada quando, de fato, conversar é a única maneira dele talvez se lembrar que, de fato, gosta de você.


 


Dor de cabeça só de pensar, né? É exatamente assim que eu me sinto. Então eu fico nesse dilema o tempo todo. É bem cansativo. As vezes eu ensaio discursos para dar-lhe uma boa bronca e dizer que não quero ouvir mais nada, mas quando ele chega perto sorridente eu só consigo sorrir de volta! O que só torna tudo mais indescritivelmente frustrante quando Nani vem “buscá-lo”.


 


Aliás, eu já falei do meu segundo maior problema? Ariane resolver ser super amiga da namorado do melhor amigo de seu namorado, o que significa que além de ouvir James falando sobre Ariane o tempo todo, tenho que ouvir Ariane falando de James o tempo todo. Legal, né? E vejam só, gostava dela antes, então não tenho como simplesmente cortar relações sem dar bandeira porque, por Merlin, ela não faz absolutamente NADA de errado!


 


Sim, claro que eu considero um erro ela namorar o cara por quem eu sou apaixonada, mas além disso? Nada. Ela é simpática, prestativa, bonita, inteligente, compreensiva, equilibrada, bem humorada... Qual é? Se EU fosse homem quereria namorá-la, quem pode culpar um cara com amnésia?


 


Então é isso, não posso culpar James por desejar Ariane, não posso culpar Ariane por gostar de James, mas posso culpar a mim mesma por não me afastar disso tudo. Está decidido, de agora em diante farei como Sirius: serei grossa, fechada e fria com eles dois e manterei distância. Não deve ser tão difícil.


 


- Hey Lily, tudo bem? – disse James sorrindo ao meu lado.


- Oi James, ta tudo ótimo, e você? – sorri de volta.


- Bem, mas tenho um pequeno problema que espero que você me ajude a resolver.


- Se estiver ao meu alcance.


- Sabe, o aniversário da Nani está chegando...


- Mas não é daqui a um mês? – perguntei.


- Sim, eu prefiro me prevenir. – respondeu – De qualquer jeito, eu não tenho ideia do que dar a ela e não queria apenas algo caro, preferia uma coisa mais marcante, se você me entende e eu acho que sim, algo mais romântico, sabe?


- Entendo.


- Então, será que você pode me ajudar? Podemos ir a Hogsmead este fim de semana e comprar o que for preciso. – meu coração quase saiu pela boca.


- Irmos à Hogsmead? – perguntei.


- É.


- Eu e você? Só? – perguntei só para confirmar.


- Claro que só, Lily. – respondeu rindo – Ela não pode saber, né? Encontrarei com ela mais tarde, sei como podemos evitar ser vistos, então vamos?


- Claro! – respondi sorrindo para ele, que retribuiu com um olhar realmente agradecido


- Obrigado, Lily. – disse me dando um beijo na bochecha – Combinamos a hora depois, ok? Preciso encontrar Nani. Tchau.


- Tchau. – respondi inaudivelmente.


 


Ok, eu me odeio.


 


- Deixa eu te perguntar uma coisa, Ruiva? – pediu Sirius, repentinamente, parado ao meu lado – Você tem algum problema mental ou é masoquista mesmo?


- Obrigada, Sirius. – respondi irritada e peguei o caminho para a torre da Grifinória.


- Não, to falando sério! – ele veio atrás de mim, mas não lhe dei atenção – Qual é, Lily, eu to do seu lado, lembra? – continuei ignorando, então ele puxou me braço para me fazer encará-lo.


- O quê? – perguntei grosseira.


- Me desculpa se a pergunta foi grosseira, ta? É o meu jeito, é difícil me adaptar a quem não está acostumado com isso... De qualquer jeito, preciso saber de uma coisa. – respirei.


- O que você quer saber? – perguntei voltando ao um estado de miserabilidade.


- Por que toda vez que você fala com Pontas ele sai sorrindo e você fica pra trás como se ele tivesse destruído tua vida? – perguntou em tom baixo.


 


O corredor não estava cheio, mas não era lugar para falar naquilo. Aliás, lugar nenhum era para falar naquilo, então apenas olhei para Sirius por alguns segundos antes de começar a frase “nos vemos no jantar, ok?”, mas é claro que ele não me deixou falar.


 


- Eu sei que ouvir ele falando daquela enjoada-sem-sal da namorada dele é um saco, mas você não parece entediada e sim... – ele fez uma pequena pausa – Sem chance! Sério? – disse olhando surpreso para mim. Não respondi – Vem comigo. – acrescentou e saiu me puxando pelo castelo.


 


Não estava com vontade de ir a lugar nenhum, com pessoa nenhuma para fazer nada, mas não ofereci resistência a Sirius. Onde quer que estivesse me levando e seja lá o que quisesse, seria menos desgastante sair de lá  do que evitar chegar. Eu aprendo rápido.


 


Chegamos em uma sala vazia num andar qualquer. Me encostei numa mesa próxima e, depois de trancar a porta, Sirius se colocou em minha frente.


 


- Como isso aconteceu? – perguntou.


- Defina “isso”. – pedi desanimada.


- Isso de você estar apaixonada pelo James!


 


Ok, essa me pegou de surpresa. Passei uns bons dois minutos encarando ele com os olhos arregalados antes de conseguir formar uma frase coerente.


 


- Como você...


- Acorda, Ruiva, tava escrito na sua testa hoje mais cedo. – respondeu rindo – Agora, sério, COMO isso aconteceu?


- Acontecendo, Sirius! Até parece que esse tipo de coisa se planeja! – respondi.


- Certo, então Pontas passou dois anos, repito: dois anos, te chamando pra sair e justo agora você resolve que gosta dele. Genial, Lily.


- Mais uma vez: obrigada, Sirius. – disse sarcástica.


- Desculpe de novo. – disse – Quando isso começou?


- Sabe, a maneira como você diz “isso” faz parecer que é algo nojento. – tentei enrolar, mas ele não caiu – Ok, ok. É tudo culpa da Jéssica. Eu tenho essa mania de ficar observando as pessoas e percebendo pequenas características de suas personalidades e, uma bela tarde, eu estava irritada com James e ela disse “ele não é tão ruim assim, Lily, por que você não olha pra ele direito?” e eu fiz a besteira de aceitar o conselho. – suspirei – Isso aconteceu no fim do ano letivo passado. Passei as férias inteiras pensando nele, sem saber se ele ainda me queria e descobri que sim e quando finalmente íamos ficar juntos... Puff. – concluí.


- “Puff”?


- É, Sirius, “puff”. Desapareceu, acabou. – expliquei.


- Eu sabia o que quer dizer, mas não deixa de ser estranho. – rebateu. Revirei os olhos – Hey, o que você quis dizer com “íamos fiar juntos”? Vocês estavam se encontrando e aquele safado não me disse nada?


- Na verdade foi um encontro só e foi meio que surpresa pra ele...


- Espera aí! O dia antes do acidente, era com você que ele estava! – ele disse alto.


- Isso, conta pra todo o castelo.


- Ninguém vai nos ouvir. Eu pensei que ele estivesse muito puto da vida com você.


- Ele estava. – confirmei – Mas eu pedi desculpas. De novo. E... Bem, tranquei ele no vestiário de quadribol até ele me ouvir. – disse a última parte num sussurro e sem olhar para Sirius.


- Você o quê? – perguntou rindo.


- É, foi isso mesmo que você ouviu.


 


Então Sirius começou a rir. Mas não era uma risada comum, era uma gargalhada escandalosa que parecia um latido, tão espontânea que comecei a rir também. Claro que não tão abertamente. Mas de repente ele parou de rir e me lançou olhar que não podia ser mais malicioso.


 


- Pontas só chegou na torre de manhã aquele dia... – insinuou. Eu ruborizei completamente.


- Nada aconteceu, Sirius, nós só perdemos a hora! – me apressei em responder.


- Hehe, sei...


- Pára! – pedi batendo com força no braço dele, que nem pareceu sentir, mas controlou o riso pouco tempo depois.


- Ok, se você diz... Vou te dar um crédito.


- Você já fez perguntas demais, Sirius, é a minha vez. – exigi.


- Não me lembro de termos estabelecido regras. – disse fazendo cara de pensativo.


- Qual é a desses apelidos estranhos?


- Ruiva, você achou de perguntar algo que eu jamais poderei te responder. Estes apelidos fazem parte de um segredo que não é meu.


- Então vai responder minhas perguntas?


- Talvez. – disse se apoiando em uma cadeira.


- Ok. Por que você me odiava?


- Uau, direta! – ele riu – Veja bem, Ruiva, não é que eu odiasse você. Previamente eu não gosto de ninguém, mas especificamente o seu caso havia razões para um sentimento mais forte, se é que você me entende. Primeiro: você vivia defendendo o Ranhoso, aliás, vou te questionar sobre isso depois. Segundo, e eu sei que é uma razão idiota: você lembra minha tia Lucretia e eu realmente detesto minha família. A maior parte, pelo menos. Terceiro: se tem alguém no mundo de quem eu realmente gosto, são meus amigos, e você vivia maltratando o maior deles com palavras e sem necessidade. Quatro: a sua existência é a causa de intermináveis falatórios de James sobre você e você não tem ideia do quão chato ele consegue ser. E quinto: você é boazinha demais. Satisfatório?


- Bem mais que o esperado. – respondi meio atordoada – Obrigada pela sinceridade.


- Disponha. Mais alguma coisa?


- Na verdade, muitas. – ponderei por um momento se deveria fazer a pergunta que tinha em mente e resolvi que valia tentar – Qual a verdade sobre sua família, afinal? Ouvi todo tipo de boatos sobre isso, mas nenhum me pareia real.


- Provavelmente porque você está acostumada com uma família feliz e saudável, Lily. – riu com amargura – Você não poderia juntar um grupo de bruxos mais nauseabundos que meus parentes. Não temos absolutamente nada em comum e sempre que alguém decente nasce é cortado da família... – ele parou por alguns segundos – Por isso eu fui embora. – disse com orgulho – Deixei todos eles naquela casa imunda e reconstruí minha vida em outro lugar.


- Mas isso é horrível, Sirius! Você tinha pra onde ir? – um sorriso afetivo brincou em seus lábios.


- Fui adotado pelas melhores pessoas que já conheci. Os considero meus verdadeiros pais, se você quer saber, apesar de só morarmos juntos há pouco mais de um ano.


- Que bom. – disse aliviada – Quem são?


- Os Potter, é claro.


 


Fiquei surpresa. Apesar das toneladas de boatos espalhados sobre Sirius, nunca tinha ouvido este. Mas não era isso que me interessava no momento.


 


- Mas se o problema era com a sua família e você é tão diferente deles... Por que você é tão fechado?


- Porque as pessoas são podres. – respondeu dando de ombros – A maioria delas, pelo menos. Entenda, quando sua família tem fama e dinheiro as pessoas são amigáveis para tirar algum proveito, com sua inocência você não acreditaria em metade das histórias que eu posso te contar como exemplo. – fez uma pequena pausa – Eu não fui sempre assim, só aprendi a ser.


- Ah... – disse sem jeito – Ok.


 


Passamos alguns minutos em silêncio.


 


- Lily?


- Sim.


- Se contar a alguém você morre. – disse sério, apesar do sorriso em seu rosto.


- Sei guardar segredo. – garanti.


 


Ignoramos o sinal que anunciava o começo das aulas da tarde e passamos horas conversando, nos conhecendo. Acho que Sirius, afinal, só precisava de alguém que desse o primeiro passo por ele. Que lhe desse o voto de confiança primeiro para que ele pudesse corresponder. Ele não é o primeiro e não será o último a esconder do mundo sua verdadeira personalidade. Na verdade, acho que todos fazem isso; uns exageram, em outros quase não se percebe, mas fazem.


 


Sentia que era o começo de uma valiosa amizade, esperava estar certa.


 


 


... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...


 


 


Sirius Black


 


 


 


Com o passar dos dias me acostumei à presença de Lily (me acostumei também a chamá-la assim) e comecei a pegar leve com ela, ser legal, sabe? Normalmente não faço esse tipo de coisa, mas Merlin, aquela garota precisava de muita ajuda!


 


Então hoje a encontrei conversando com Pontas no corredor e, como de costume, ela ficou com aquela cara de criança que derrubou o sorvete quando ele saiu quase saltitante de felicidade.  Uma coisa que muita gente não sabe sobre Sirius Black: ele é extremamente curioso.


 


- Deixa eu te perguntar uma coisa, Ruiva? – disse quando cheguei ao lado dela – Você tem algum problema mental ou é masoquista mesmo?


- Obrigada, Sirius. – respondeu irritada e saiu andando.


 


Eu precisava de uma resposta. Aliás, não apenas uma, então tinha quer usar um pouco da educação que Aluado me deu.


 


- Não, to falando sério! – fui atrás dela, mas não obtive resposta – Qual é, Lily, eu to do seu lado, lembra? – insisti e segurei-a pelo braço.


- O quê? – perguntou muito irritada.


- Me desculpa se a pergunta foi grosseira, ta? É o meu jeito, é difícil me adaptar a quem não está acostumado com isso... De qualquer jeito, preciso saber de uma coisa. – para minha própria surpresa, estava sendo sincero.


- O que você quer saber? – ela passou de raiva para total desânimo em uma fração de segundo.


- Por que toda vez que você fala com Pontas ele sai sorrindo e você fica pra trás como se ele tivesse destruído tua vida? – perguntei para que apenas ela ouvisse, mas ela apenas olhou pra mim, então recomecei – Eu sei que ouvir ele falando daquela enjoada-sem-sal da namorada dele é um saco, mas você não parece entediada e sim... – então uma luz acendeu em minha mente – Sem chance! Sério? Vem comigo.


 


Arrastei Lily até uma sala abandonada no segundo andar, fiz um enorme interrogatório, fui longamente interrogado também e, por fim, saí de lá com duas certezas: um, Lily é um poço de loucura; dois, gostei disso. Sério!


 


Eu costumava ter em mente a imagem de uma ruiva certinha, chata, chumbeta, nerd, perfeccionista, metódica, esnobe e metida. E no entanto encontro uma garota completamente afobada, incoerente e desnorteada. O impressionante é que ela se passa por normal com uma facilidade incrível! Aposto que engana muita gente, nunca ouvi um comentário sequer sobre sua sanidade. Realmente impressionante. Acabei contando um bocado de coisas sobre mim também, não vi mal em responder suas perguntas. Na verdade, era legal o modo como ela parecia se importar. E talvez se importe mesmo, quem sabe? Não sou assim fácil de surpreender, mas Lily obteve sucesso nisso.


 


Encurtando a história, ficamos conversado a tarde inteira e... Tá, admito, eu me diverti, Lily é legal. Até me peguei pensando que queria que ela conseguisse roubar James da mosca morta.


 


- Esse é o sinal do fim das aulas da tarde? – Lily se surpreendeu e levantou da mesa em que estava deitada.


- Acho que sim. – respondi.


- Sirius, as pessoas vão dar nossa falta! – disse alarmada.


- Estamos namorando, Ruiva, ninguém vai achar nada de mais. – a tranqüilizei.


- Ah é... Hey, estou morrendo de fome! Será que meu namorado não podia arrumar comida? – brincou. Esbocei um sorriso.


- Para sua sorte, tenho aqui uma barra de chocolate da Dedosdemel. – comentei – Para o seu azar... É a última barra do meu chocolate favorito e eu não dividiria nem comigo mesmo.


- Seu facínora!! – gritou se levantando outra vez – Passa esse chocolate pra cá! – exigiu.


- Nem vem! Ninguém toca nos meus chocolates. Rabicho tentou uma vez e se arrependeu pra sem... Ei, chega pra lá! – me afastei dela, que já tentava pôr as mãos no meu casaco.


- Siriuusss! – resmungou me lançando um olhar triste e fazendo bico.


- Maroto errado, Ruiva. Pontas se derreteria por isso, eu sou Sirius Coração-de-Pedra Black, lembra?


- Saco. – reclamou – Então vamos logo jantar.


- Me chamando pra sair? – brinquei – Sem nem uma cantada antes?


- Cala essa boa e anda logo. – disse revirando os olhos.


 


Saímos da sala para o corredor ainda meio vazio, passei o braço pelos ombros de Lily e fomos andando para o salão principal rapidamente, eu estava começando a ficar com medo dos sons vindo do estômago dela.


 


- Sabe, Ruiva, você devia chamar sua amiga para ir conosco à Hogsmead este fim de semana. – comentei quando estávamos quase no salão.


- Devíamos, é? Por quê? – respondeu/perguntou distraída.


- Porque ela é sua amiga e vocês não saem há algum tempo... Ou andaram brigando por mim outra vez?


- Primeiro: nunca brigamos por você, Sirius. – ela me olhou e deu ênfase ao meu nome – Segundo: por que você não faz isso? Não vou desviar do caminho da comida por nada nem ninguém.


- Essa até me comoveu. – respondi e recebi um rolar de olhos como resposta.


- Além do mais, a ideia foi sua. – completou de repente.


- É, sei.


- E você nem está com fome.


- Uhum.


- E eu sei que você gosta de irritá-la.


- De onde você tirou isso?


- E você...


- Ok, ok, já to indo. A gente se vê daqui a pouco. – falei já me afastando dela, que agora carregava um sorriso malicioso no rosto.


 


Dei uma corrida rápida até o dormitório para pegar o Mapa, pra quê perder tempo procurando? É só dizer “juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom” e... Aqui está ela, na biblioteca. Guardei o mapa no bolso da capa e tomei o caminho mais rápido até Jéssica.


 


... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...


 


 


Jéssica Buttler


 


 


 


Então lá estava eu, na biblioteca, tentando inutilmente me concentrar no dever quando chega a segunda criatura no mundo que eu menos desejava ver.


 


- Transfiguração, é? Posso te ajudar mais que esses livros. – disse Sirius Black com um sorriso detestavelmente arrogante.


- Se você retirar seu ego da frente da luz já está de bom tamanho. – respondi sem olhá-lo.


- Sabe o que seria legal? – disse assim que eu respondi – Se você fosse comigo à Hogsmead no fim de semana. – eu o olhei espantada – Quer dizer, conosco! Lily e eu. – se apressou em completar – Ela me pediu pra te chamar, claro.


- Tão pouco tempo e já virou pau mandado da namorada, Black? – disse Rick.


 


Ele, aliás, era primeira criatura que eu menos queria ver, que só estava em primeiro porque chegou antes.


 


Sirius ficou surpreso, acho que não tinha notado ele ali, mas não deixou transparecer por muito tempo. Lançou a Rick um olhar de desprezo.


 


- O que faço ou não com minha vida, Murray, pode ser qualquer coisa, menos do seu interesse.


- É do meu interesse quando você abusa da sua má educação interrompendo minha conversa com esta bela dama. – Rick respondeu piscando olho para mim. Que situação ridícula.


- Então é por sua causa que ela está com esse humor? Imagino o quanto deve estar interessante.


- Eu acho que isso não é da sua conta.


- Por que os dois pimpolhos não me deixam estudar e resolvem isso lá fora?


 


 Os dois voltaram a prestar atenção em mim mas, logo em seguida, começaram a discutir outra vez.


 


Não prestei atenção ao que diziam, reuni minhas coisas e tentei sair de fininho. Achei que tinha conseguido por um momento, mas assim que saí da biblioteca lá estavam eles de novo.


 


- Dá pra esperar um pouco, Buttler? Ainda não combinamos a que horas vamos sair. – disse Sirius.


- O que o faz pensar que ela vai com você? Eu chamei primeiro. – Rick rebateu.


- E o que isso tem a ver com alguma coisa? Por acaso você ainda está no segundo ano? É claro que ela vai comigo.


 


A arrogância na voz de Black foi tanta que dei uma de Lily. Agi no impulso e fiz algo que jamais faria em condições normais: virei para os dois e...


 


- Rick, adoraria sair com você. Nos encontramos na entrada do salão principal às oito, ok? Até lá. – disse com o sorriso mais cínico que consegui e saí andando, desta vês sozinha, pelo corredor sem olhar para trás uma única vez.


 


 


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