Desespero



Gina sentia como se todos os ossos de seu corpo houvessem sido esmagados por algo bem mais pesado do que ela. Sua cabeça girava e ela não conseguia sequer abrir os olhos.
Ela estava tão fraca e tão desorientada que não conseguia lembrar-se e entender o que havia e estava acontecendo.
Aos poucos, ela foi recuperando a consciência. Sua cabeça doía como o diabo.
Vagarosamente, ela tentou abrir os olhos, em vão. Como se a pouca claridade do local a cegasse, ela continuou com os olhos fechados.
Tentou mover uma das mãos para esfregar os olhos, mas então notou que estava amarrada, e muito bem amarrada, diga-se de passagem. Os dedos de suas mãos estavam fracos, graças ao pouco sangue que circulava por entre suas mãos. Ela respirava com dificuldade.
Deus do céu, ela pensou assustada. Onde eu estou?
Quando ela finalmente conseguira abrir os olhos, percebeu que estava dentro de um quarto.
O lugar cheirava a mofo e bolor, com as paredes brancas mais sujas e rachadas que qualquer lugar que ela já estivera na vida. Havia um cheiro podre que impregnava nas narinas que fez Gina sentir náuseas, mas ela não conseguiu identificar de onde vinha o tal. Havia apenas uma cadeira, de madeira e pequena, na extrema direta no quarto, e a janela velha e gasta estava fechada.
Gina estava amarrada com grossas cordas, presas a um ferro no teto. A ruiva estava apenas com as pontas dos pés tocando o chão e havia sangue seco em seus punhos, e ela sentia uma dor horrível de cabeça e nas costas.
Foi então que tudo se fez compreensível. Seqüestro. Ela havia sido seqüestrada.
Havia sido seqüestrada pela melhor amiga.
Aquele sentimento invadiu desde o fundo da alma de Gina, e ela remexeu-se mesmo que inutilmente, numa tentativa de se soltar. E de fúria.
Quando abriu a boca para reclamar, foi que percebeu que estava amordaçada.
Gina estava horrorizada.
Cecília, a quem era sua melhor amiga. Cecília, que lhe ajudara em tantos casos... Quem ela tanto confiava... Quem ela chamava de melhor amiga...
Ela não podia simplesmente acreditar. E todo esse tempo, Gina confiando cegamente nela.
A porta do dormitório se abriu, revelando a silhueta feminina. A ruiva imaginou que fosse Cecília, então começou a se debater furiosamente, tentando gritar atrocidades contra ela, mesmo amordaçada; Mas quem aparecera, na verdade, fora Bárbara Cross.
Gina arregalou os olhos e por um breve momento, soltou um suspiro de alivio. Bárbara, sem expressão alguma no rosto foi até Gina e tirou a mordaça da boca dela.
Gina começou a tagarelar sem parar.
_Bárbara? Cecília é a culpada! Foi ela quem me trouxe até aqui, não foi? Vocês a pegaram? Onde está Harry? Onde eu estou? Vocês prenderam a Cecília?
Bárbara girou os olhos.
_Deus do céu, como você fala. – resmungou e coçou a nuca. – E, para ser uma das melhores aurores, você é bem lerdinha, huh?
Ela fez um aceno com a varinha e antes que Gina pudesse dizer alguma coisa, um novo lenço envolveu sua boca e a silenciou. Ela arregalou os olhos, antes de voltar a se debater.
Aquilo tudo era uma confusão. O que era tudo aquilo? Bárbara, Cecília... Será que as pessoas em que ela suspeitava eram as pessoas erradas?
Será que não existiam comensais e, na verdade quem queria derrubá-la era o próprio ministério? Não seja idiota, ela pensou consigo mesma.
Bárbara deixou a porta aberta e Gina a escutou falando com alguém. Um homem, ela constatou ao ouvir a voz masculina.
_Ela já acordou. –a mulher disse. Gina escutou passos em direção ao dormitório e a voz respondendo:
_Então está na hora de lhe dar as boas vindas.
Gina foi escutando passos... Aproximando-se cada vez mais...
Ela descobriria então quem estava por trás de tudo aquilo.
A porta se escancarou, e se ela pudesse gritar de desespero, ela teria o feito certamente.
Draco Malfoy estava parado na soleira da porta, com um sorriso demoníaco no rosto.




Cecília Renard andava em passos furiosos pelo corredor do sétimo andar, do Ministério da Magia. Atrás dela, Lucas Preston andava arrastando atrás de si Ivon Lowrdasky, completamente amarrado e sem chance de se mexer.
_Ele não vai falar. – disse Lucas enquanto arrastava o irmão de Cecília, que se debatia furioso. As cordas o enrolaram até a altura da boca, como uma múmia.
_Ah, ele vai sim! – exclamou. Ele nunca vira Cecília tão nervosa no curto período de vida que esteve ao lado dela. Naquele momento, no entanto, ela parecia que ia parir um filho. – Ele vai desembuchar tudo o que tiver para dizer.
Ela retirou a varinha do bolso e fez um gesto mudo para uma porta trancafiada, fazendo-a se abrir magicamente. Ela entrou, seguida de Lucas e Ivon.
A sala era cinza, com apenas uma mesa no centro e duas cadeiras. A sala de interrogatórios.
_Coloque-o numa cadeira, Lucas. – disse a morena, enérgica. Lucas a obedeceu e ela fez um novo aceno com a varinha. As cordas soltaram Ivon somente na parte em que prendia sua fala.
Ela apontou a varinha para o pescoço do homem e disse eufórica:
_O que diabos você pensa que estava fazendo quando tirou fios de cabelo meu para se passar por mim, seu canalha cretino?!
O irmão ergueu o queixo e a fitou, mas não disse nada. Cecília pressionou a varinha em seu pescoço.
_Responda!
Ele deu um risinho debochado.
_Você acha que vai me assustar assim, Lia? – o olhar dela o fuzilava. – Você é patética.
Ela murmurou alguma coisa e um facho de luz envolveu Ivon, e em menos de cinco segundos havia cortes em todo seu rosto. Ele fechou os olhos e mordeu os lábios, mas não disse nada.
_Você sabe que isso é contra o regulamento, não sabe? – ele perguntou. – Você vai ser deposta de seu cargo.
_Onde está a poção? – ela rosnou. – Vou confiscá-la e isso vai ser sua ruína, maninho.
Ele gargalhou.
_Não, não vai. A poção não está comigo. – ele deu de ombros. – Acho bom também que você já comece a fazer suas orações. – havia um brilho demoníaco em seus olhos. – Em poucas horas, sua amiga estará enterrada e vocês sequer vão conseguir achar o corpo dela.
Ela ficou um tempo em silêncio. Depois lhe deu um murro, o que foi inesperado.
_Quem mais está com você, huh? Responda!
O homem gargalhou.
_Isso dói, não dói? – ele fez um barulhinho com a boca. – Mas mesmo que você me mate, não vai resolver o fato de que ela vai virar comida para verme.
_Onde ela está? – gritou.
_Não adianta, Cecília. Ela vai ser morta, e o Ministério vai ter que abafar o caso que admitir que são tão estúpidos ao ponto de deixar uma auror ser seqüestrada em frente ao próprio Ministério da Magia! – gargalhou.
Cecília estava pronta para meter-lhe um novo murro, mas a porta da sala de interrogatórios abriu-se em um estrondo que surpreendeu a todos ali presentes.
E Cecília finalmente entendeu porque Harry Potter seria o único capaz de um dia enfrentar o Lorde das Trevas.
E também chegou a simples conclusão: Ele havia acabado de descobrir o que havia acontecido.
Havia um poder tão grande misturado que emanava no corpo dele, junto com todo o ódio e fúria que dava a impressão até de que ele estivesse mais alto, ela pensou. Os olhos verdes estavam tão escuros que ela pensou que estivessem tão negros quanto os de Lucas.
Com apenas um olhar para Cecília, ela afastou-se do irmão. Harry colocou-se na frente dele e segurando nas cordas, o ergueu.
_Eu vou ser educado apenas uma vez! – o tom de sua voz estava tão frio que ela ficou se perguntando se Voldemort tinha encarnado nele. – Onde está ela e quem mais está nisto tudo com você?!
O homem riu, debilmente.
Pela próxima cena, nenhum dos presentes esperava; Harry o jogou propositalmente e com força descomunal sobre a cadeira. Ivon bateu as costas nas costas da própria cadeira e virou contra o chão, enquanto a mesma caia sobre seu corpo. Sem esperar, o moreno o levantou novamente e bateu as costas do homem contra a parede. Sem solta-lo, ele sacou a varinha.
_Cadê ela?! – agora ele não falava baixo. Ele urrava. O homem não respondeu e Harry afundou as costas dele contra a parede mais uma vez e repetiu a pergunta.
_Harry... – Lucas começou. Ele o ignorou.
Ivon maneou a cabeça.
_Se você é tão bom, por que não descobre você mesmo?
Os olhos dele pareciam duas fendas ao ouvir aquilo. Ele jogou o homem no chão e sem ao menos falar, Ivon começou a se contorcer no chão. Ela nunca havia visto ninguém lançar um Cruciatus sem ao menos falar ou usar varinha. Era quase que impossível... No entanto, era exatamente o que aconteceu.
_Dói, não dói? – ele gritou. Cecília discretamente juntou-se ao lado de Lucas, horrorizada. – Se você não começar a abrir a porra da sua boca, você vai morrer bem lentamente, e se eu souber que ela está morta, eu vou até o inferno e te mostro que existem coisas muito piores do que ele!
Ivon parou de se contorcer e agora respirava com dificuldade. A porta se escancarou mais uma vez e nela entrou Nicholas e Duarte.
_Potter! – Duarte gritou. – O que você está fazendo?
Harry estava descontrolado.
_Ele é um comensal. O filho da puta é um comensal! – ele chutou o estomago de Ivon. – Abre essa sua maldita boca!
Nicholas estava estranhamente em silêncio. Cecília olhou de Lucas para Duarte.
Como Ivon não respondeu, Harry agitou a varinha mais uma vez e ele voltou a se contorcer. Desta vez ele gritava de dor.
_Potter, usar as maldições imperdoáveis é contra as regras! – Duarte urrou.
Apenas o olhar de Harry fez com que ele se calasse.
Quando o homem parou de se contorcer, Harry o levantou e o jogou contra a mesa. Com um aceno de varinha, as amarras que prendiam o homem o soltaram. Harry o segurou pelo colarinho da camisa.
_Você teme o seu tão amado Lorde das Trevas?! – ele gritou. O homem parecia tão fraco que não conseguia responder. Harry o sacudiu. Ele confirmou com a cabeça.
_Não fale assim... Tão displicente... Do meu Lorde...
A risada que o moreno soltou fora tão fria quanto uma geada.
_Eu vou lhe dizer uma coisa – ele estava enlouquecido. – Se você duvida que eu posso lhe fazer sofrer, é bom que tome consciência disto: O sangue que corre nas veias do seu adorado velhote correm nas minhas também. Parte de sua personalidade é igual a minha. Sinta-se falando com o seu mestre. – Ele riu. – Ou talvez eu deva lhe lembrar que eu compartilho pensamentos com ele, se eu quiser. Será que eu devo avisar que você vai morrer por ser um homem fraco?!
O homem tremia de dor e Cecília pela primeira vez viu deslumbrada: medo. Ivon estava tremendo na base com todo o poder de Harry.
Ele, por sua vez, o jogou novamente contra o chão. Estendeu a varinha e disse:
_Eu vou lhe lançar três Cruciatus. – ele avisou. – No intervalo dessas três maldições, você tem a oportunidade de me dizer onde ela está. Depois disso, a ultima coisa que você vai ver é a morte acenando para você.
O homem tentou levantar-se, em vão. Harry sentenciou:
_Você vai me dizer, Lowrdasky?
Ele ficou em silêncio. Harry murmurou “Crucio”.
Ivon começou a se contorcer mais uma vez, mas desta vez ele não gritava; estava demasiado cansado para gritar. Ficou assim durante dez segundos, quando Harry cessou o feitiço.
_Vou perguntar pela segunda vez. Onde está ela?
O homem ofegava, mas recusou-se a dizer. Harry fez o mesmo gesto e murmurou “Crucio”, pela segunda vez.
Ivon contorceu-se mais uma vez e quando Harry cessou o feitiço, o homem colocou-se de quatro e cuspiu sangue. Cecília arregalou os olhos e olhou para o moreno. Ele não havia desviado o olhar da cena; e não havia nem um pouco de piedade em seu olhar.
_Essa é a sua penúltima chance, Lowdarsky. – Harry disse suavemente. – Então, eu pergunto pela penúltima vez. Onde está a Gina?
Ele fraquejou e caiu no chão. Não conseguia ao menos falar.
_Pi... Piedade...
Ele não escutou. Acenou a varinha e, pela terceira vez, disse “Crucio”.
O homem se contorceu. Lágrimas escaparam de seus olhos.
_Potter?! Potter! – Duarte parecia enlouquecido, mas havia medo ao falar com Harry. – Chega... Chega rapaz... Se você matá-lo não vamos descobrir onde ela está...
_Eu acho. – ele afirmou sem tirar os olhos do homem. Com mais um gesto de varinha, o feitiço cessou pela terceira vez. Ivon tremia como um alcoólatra em abstinência. Murmurou alguma coisa e o homem bateu contra a parede e ficou ali, preso.
Cecília nunca tinha presenciado um ato tão frio vindo de um Auror. Ela nunca chegara a imaginar a frieza que Harry conseguia chegar.
E, pensando bem... Ela nunca tinha visto seu irmão beirando a morte.
_Ele não merece a morte. – Ela disse de repente. Harry a encarou de soslaio.
_Ele viveu prejudicando você, e agora você vem dizendo isso? – ele balançou a cabeça. – Ele sabe quem está com a Gina, Cecília.
_E matando ele você acha que vai conseguir acha-la? – ela balançou a cabeça. – Ele não vai mais conseguir responder nada. Duvido até que consiga respirar por si só por muito tempo.
Harry grudou a mão no pescoço de Ivon e aproximou seu rosto do dele.
_Eu posso assassinar você aqui mesmo na frente de todos eles sem sofrer nenhum dano. – ele sussurrou de modo que apenas o homem pudesse ouvir. – E você sabe tão bem quanto eu que eu sei os mesmos feitiços que você ensinou a Gina. Você sabe que eu posso lançar maldições piores que um simples Avada Kedavra. Se você quiser morrer chorando pelo nome de seu Lorde, que jamais viria te buscar, eu faço com o maior prazer. Agora, se você me disser onde Gina Weasley está em cativeiro, eu tento amenizar sua pena.
O homem pareceu considerar.
_Como... Vou... Saber que você – tossiu sangue. – Que você está mentindo?
_Eu não minto. – disse Harry seriamente olhando em seus olhos.
Ivon ponderou a situação por um momento.
_Ela... Está... – ele gemeu. – Próxima à costa de South Uist.
Harry permaneceu um tempo em silêncio, o segurando. Logo depois, o soltou.
O homem ficou estatelado no chão, respirando com dificuldade. Caminhou em passo de marcha até a porta e disse num tom autoritário a Duarte:
_Ou você monta os grupos de busca agora ou eu vou sozinho.
Ao dizer isso, fechou a porta num estrondo enorme.




Gina sentiu que o sangue em seu corpo parara de circular. O grito de desespero prendera em sua garganta.
Draco Malfoy estava exatamente como da ultima vez que ela o vira. Nunca sem classe. A longa capa negra não tinha nenhum branco de poeira e seus cabelos estavam impecavelmente penteados para trás, sem nenhum fio para fora do lugar. A pele branca e macilenta e os olhos cinzentos presos nela, com um ar de ferocidade.
Ele aproximou-se dela, exatamente no momento em que ela começara a se debater tentando se livrar das amarras.
_Ora, ora – Malfoy sorriu maníaco, a encarando de perto. – Como as circunstancias mudam, huh? A ultima vez que nos encontramos você estava assassinando meu pai.
Assassinando o pai?
Ela arregalou os olhos. Tudo... Tudo o que havia acontecido, então, não era por mando de Voldemort, mas... Por vingança?
Malfoy segurou o rosto dela com apenas uma mão, e o apertou com força. Ela fez uma careta muda de dor.
_Claro que eu torcia para que você morresse naquela maldita roda d’água, mas parece que o seu salvador sempre aparece, mesmo sendo o corno que é. E, minha nossa. – ele a estudou profundamente. – Como Bárbara pode ter-lhe colocado essa mordaça na boca? – ele retirou a varinha e fez um aceno. A mordaça desaparecera. – Melhor assim?
Ela queria gritar, queria cuspir nele... Ou simplesmente fugir dali, mas era impossível. O medo de encontrar o homem que rompera com sua vida, que a humilhara e a ultrajara fazia com que ela travasse. Não conseguia sequer falar.
Ela se sentiu acuada como uma presa.
Malfoy, por sua vez, parecia estar deliciado com aquela cena.
_Imagine só você – ele deu de ombros. – Que no inicio meu plano era apenas mata-la... Mas, ao saber que o seu corno estava novamente com você, as coisas tiveram de mudar. – ele sorriu. – Afinal, o grande Harry Potter é um excelente auror... E Voldemort o quer.
Gina agora estava dividida entre o medo de querer que Harry a salvasse e de que ele ficasse exatamente bem longe dali.
_Ele não vai vir. – ela disse entre os dentes. Malfoy riu.
_Você acha mesmo que não? O homem está louco por você. Nunca vi cena mais patética do que a de vocês dois juntos. Francamente. – ele riu. – Logo eu vou informá-lo onde sua amada mulher está, e ele virá como um louco, para onde for.
“E lá, ele encontrará seu corpo, mutilado. E sendo como presa fácil, o Lorde o executará.”
Aquelas imagens nodosas que vinham à mente dela... Malfoy a tocando tão intimamente... Ele destruindo toda a vida que ela tinha... Ele a marcando como quem marca algo a fogo e a ferro...
_Mas – ele sorriu. – Enquanto isso não acontece...
Ele tirou um revolver do bolso. A arma de Gina.
Ele colocou a arma no chão, dez centímetros de distancia dela.
_Vamos apenas deixar claro porque você está aqui. E o que eu vou fazer com você.
Ela viu a malicia em seu sorriso demoníaco. Ela sentiu os olhos marejarem de desespero.
_Não, por favor... – ela pediu desesperada. Malfoy riu.
_O que foi Gin? Por que tanto medo?
Ela lembrou-se das cenas nojentas de Malfoy a tocando... De Malfoy a humilhar frente a um grupo de comensais. Ela sentiu a cabeça mole, e se não demorasse muito, que em breve desmaiaria.
_Saia de perto de mim. – ela pediu, num surto de desespero. – Me solte, me deixe em paz...
O homem riu friamente. Encostou o dedo pálido no pescoço descoberto de Gina e o desceu, vagarosamente.
_Não precisa se assustar, querida, não vou lhe machucar. – ele teve um surto de riso. Ela estremeceu. – Não muito! Ou, talvez, não o tanto que você fez meu pai sofrer.
Ela tentou recuperar sua coragem e dignidade.
_Se eu conseguir sair daqui, será a mesma coisa que farei com você!
Malfoy parara de sorrir. Suas mãos grudaram no pescoço de Gina.
_Você disse o que? Você disse o que, exatamente? – ele gritava agora. Ela engasgou. Draco salpicava seu rosto de cuspe. – Não ponha o nome de meu pai em sua boca imunda, Weasley! – ele urrou. Logo após isso, levantou-se e se afastou dela um metro. – Vou deixar bem claro por que está aqui e o que vou fazer com você, antes de morrer. Depois, você será isca para o Potter.
Harry. A mente dela permaneceu vazia por um tempo, antes de ser tomada por uma crise de medo. Medo por ele. Ela queria muito que Harry aparecesse e a livrasse das mãos de Malfoy, mas, por outro lado, não queria vê-lo entregue a Voldemort por causa dela.
Não venha para cá, Harry, ela pensou, como numa suplica. Por favor, não venha.




Harry estava apoiado no parapeito da janela, com o cenho franzido. O olhar, perdido no sol que se punha. A mente... Em Gina.
_Fiz o que você disse. – Cecília disse ao entrar na sala. – Demos o Veritaserum para Ivon. Ele havia dito a verdade.
Harry virou-se para encarar a morena.
_Então ela está mesmo no tal lugar? – havia ansiedade em sua voz. E raiva comprimida.
_Sim, ela está. – assentiu.
_O único problema. – Harry começou a andar de um lado para o outro, com a cabeça baixa. – Vai ser saber exatamente em que casa. – bufou. – Ou você acha que vamos bater de casa em casa a procura dela? Se for assim, ela morre em dois minutos.
Cecília suspirou.
_O fato de que ali não se existem muitas casas.
Havia desdém no rosto do moreno.
_Ah, faça-me o favor, Cecília. Eu já fui para lá em uma missão uma vez. Tem o numero de casas o suficientes para que não a encontremos.
Cecília passou a mão pelos cabelos e fechou os olhos. Estava claramente cansada.
_Harry, por favor. Se você deixar claro ao Duarte que está quase arrancando os próprios cabelos, ele vai tirar você do caso.
_Nem fodendo que ele vai me tirar do caso! – rebateu. Seu tom de voz já estava elevado.
_Então pare de agir como se o mundo fosse acabar e atue como o puta auror que disseram naquele artigo! – Cecília apontou um dedo para ele.
_Você acha que é fácil agir? Você acha que é fácil pensar quando a pessoa seqüestrada é uma auror, e, por acaso é a mulher com quem estive todo esse tempo e pelo qual eu me apaixonei?
Cecília lembrou-se de dizer aquela informação para Gina, assim que a encontrasse.
Mas no momento explodiria com Harry, para que ele colaborasse.
_Não sei se você percebeu, Potter, mas a mulher por quem você se apaixonou é a única que se importa comigo como se fosse minha irmã. E, de fato, ela é como uma irmã para mim. E, num momento como esses, eu sei exatamente o que ela diria: Ter calma e analisar! Se você sair por aí soltando a franga como um bêbado moribundo, você vai mais atrapalhar do que ajudar! Então, homem, acalme-se!
Uma das coisas que Harry mais sentiu vontade naquele momento foi de azarar Cecília, mas ele não podia negar que ela estava certa.
Suspirou e passou a mão pelos cabelos.
_Tudo bem, você tem razão.
Cecília aproximou-se dele e, para a surpresa do moreno, ela o abraçou.
Foi um abraço apertado, forte e angustiado. Ele percebeu então o quanto ela estava desesperada também, afinal, Gina era como uma irmã para ela.
Mas, quando se afastaram, havia um sorriso na face da morena, mesmo que seus olhos brilhassem em lágrimas.
_Rastrearam atividade mágica por lá. O ministério está procurando exatamente o local, e vão achar. Ivon está desacordado – Eu não resisti, desculpe. – ela murmurou quando ele arqueou uma sobrancelha. – Ele começou a difamar muita gente ali, e eu tive que, ahnm... Chocar por acaso a cabeça dele na parede. Mas não vem ao caso – ela ergueu uma das mãos quando Harry fez menção de falar. – E Duarte quer falar conosco assim que o resultado do rastreamento sair: ele quer formar duplas e organizar a invasão para o salvamento. E disse que quer sua ajuda. E assim que tudo isso estiver pronto – o que não deve levar mais de vinte minutos. – Nós partiremos. E então, vamos acabar com a raça de quem quer que seja.
Harry assentiu.
Com toda a certeza, fosse quem fosse a pessoa estaria morta quando ele colocasse as mãos no filho da puta.
A porta se abriu, revelando a imagem de um Lucas com o ar de quem correra quase o Ministério todo a procura dos dois.
_Já acharam o sinal da casa! – ele estava enérgico. – E Duarte quer todos na sala dele, neste exato minuto!
Lucas não precisou dizer duas vezes; Harry já estava correndo até a sala do chefe.




Em toda a sua carreira, Harry jamais vira seu chefe tão enérgico e ativo. E agradecia por isso.
Ele gritava com todos os aurores que tentavam falar com ele. Distribuía ordens de um lado para o outro e seu rosto estava lívido quando Harry, Cecília e Lucas entraram na sala.
Ao lado dele estava Nicholas e, para a surpresa de Harry, Hermione.
_Harry! – ela atirou-se nos braços do amigo e começou a chorar. – Acabaram de me informar sobre a Gina, eu tinha vindo no Ministério para lhe avisar que vou operar o Rony daqui a duas horas, e que se você e ela tivessem paciência... Oh, meu Deus. – ela, como Harry conhecia bem esse traço, estava à beira das lagrimas.
Cecília arregalou os olhos para aquela cena e Lucas colocou as mãos no bolso da calça. Duarte pareceu cogitar a idéia de gritar com aquela curandeira maluca, mas ficou em silencio. Nicholas observava com certa curiosidade.
_Eu sei o quanto você deve estar desesperado, o quanto você deve estar assustado... Afinal, é o Rony, e agora a Gina, não consigo acreditar. Aqueles homens malignos, aqueles homens perversos...
_Hermione. – ela o ignorou e continuou a tagarelar. Seu rosto estava vidrado em lágrimas. – Hermione. – ele a chamou mais uma vez sem sucesso, e seu estresse e fúria o venceu: - HERMIONE!
Hermione calou-se no mesmo instante. As lagrimas ainda rolavam e seus olhos estavam arregalados para o amigo.
_Eu não tenho tempo para esperar Rony sair da cirurgia, mas eu tenho certeza que você vai fazer um ótimo trabalho e não vai deixar que ele morra. – ela engasgou-se. – Mas eu não estou com paciência nem tempo para dizer qualquer coisa e, por mais que doa o fato de saber que meu melhor amigo corre risco de vida... Eu tenho um trabalho para realizar. E eu também vou salvar uma vida.
Ela ficou em silêncio o encarando.
_Vocês estão juntos. – ela sussurrou. Ele não respondeu e ficou de costas para ela, encarando Duarte.
_Muito bem, diga logo os pares e o plano.
Hermione estava bastante surpresa. Harry agia como se ele fosse o chefe, não Duarte. E ela sabia o quanto ele era assustador quando nervoso, e percebeu que parecia que ele já havia demonstrado aquele nervo.
O homem gorducho foi até sua mesa e estendeu uma pasta a Harry.
_ Não posso sair do Ministério. Leia isso e diga-me o que acha.
A sala foi tomada por um silêncio sepulcral. Harry correu os olhos pelo papel e tornou a encarar Duarte.
_Tudo bem, eu acho que isso funcionaria. Você baseou isso a partir da revelação de Lowdarsky, presumo.
_Sim. – o homem assentiu. – Acha que funcionaria.
_Estaríamos seguindo o padrão de um Comensal da Morte, não de um Auror. Com certeza, eles não vão nem perceber. Vamos ter tempo o suficiente de entrar, salvar Gina, e, com sorte, pegar os filhos da puta.
Duarte pareceu aliviado que Harry havia concordado com o plano.
_Separem-se nas seguintes duplas: Você e Preston e Anderson e Renard.
Todos assentiram. Harry caminhou até Hermione, abraçou-a fortemente e lhe deu um beijo no rosto.
_Tenho certeza que você vai salva-lo, Mione. Quero que aparate imediatamente para o St. Mungus e tome todas as precauções que puder enquanto estiver você e Rony lá. Mantenha os olhos abertos. E não fale com ninguém que não seja da sua equipe de curandeiros, me entendeu?
Antes que ela pudesse dizer que sim, ele já saiu em disparada pela porta, com os outros três aurores o acompanhando.
Hermione viu um brilho enlouquecido nos olhos de Harry que a deixou assustada. Ela nunca havia visto isso nele, e preocupou-se. Mas não comentou com ninguém e saiu em silêncio.
Ela sabia que, assim que Harry encontrasse os responsáveis por aquilo, Harry os mataria.


Continua


Notas: Puxa vida, finalmente eu estou realmente no fim da fic. Minha primeira fic... ai ai ai, que orgulho! *-* E muito feliz por esse numero enorme de comentários que ela recebeu. Fiquei abobada e filiz demais, por demais.
Sim, saiu bem mais curtinho que os anteriores, mas agora as coisas estão no fim e vão se desenvolver bem mais rápidas.
Os agradecimentos finais eu deixo para o fim da fanfic. Mas obrigada pelos comentários e pelo carinho de vocês, isso foi uma das coisas que mais me motivou a escrever.

Ah! E obrigada mesmo a quem está acompanhando a "Na Sombra do Inimigo" e "Minha Doce Noiva". Os comentários sobre elas estão respectivamente em cada capitulo dessas fics. Mas obrigada mesmo pelos elogios dela aqui.

Agora eu me vou zo/

OBRIGADA POR TUDO *-*

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