Peneirando Informações








Assassinato em Hogsmeade











Parte Três: Peneirando Informações








Sirius não estava tendo muita sorte com a investigação "porta-a-porta". Praticamente todos que estavam dispostos a falar sobre o acontecido, estavam dispostos demais a falar do acontecido. Em outras palavras, Sirius estava sendo soterrado de tantos comentários inúteis quanto aqueles que o Prefeito o obrigara a escutar assim que colocara os pés em seu escritório! Tentava elevar sua paciência ao limite, na esperança de filtrar alguma detalhe importante de todo aquele avalanche de informações.



A maioria das histórias batiam. Angelina fora vista pela última vez na noite do dia 06, Sábado, quando se reunia com algumas moças da vizinhança. Elas costumavam parar e conversar na praça da cidade, aproveitando para escutar os rapazes que tocavam violão no coreto. Por volta das 21:00hs, ela deixou as colegas, avisando que iria se recolher pois precisaria chegar na missa bem cedo no dia seguinte, para ajudar o Padre com alguns preparativos - segundo os vizinhos, a Srta. Johnson era bastante religiosa - de modo que desceu a rua sozinha para sua casa, que estava bem iluminada por ser Lua Cheia. Ninguém confirmava se tinham-na visto chegando, mas diziam que havia luz dentro do sobrado amarelo entre as 21:15 e 22:00 daquela noite. Quando amanheceu, eles foram acordados por gritos da pequena Hermione Granger - a garotinha de 11 anos do qual o prefeito falara - que acabara de encontrar o corpo. A partir dali cada um tinha sua própria visão do acontecido, que acabava culminando num falso e nauseante lamentar pela jovem.



A última porta em que Sirius bateu foi atendida por uma senhora de cabelos grisalhos penteados num coque muito firme. Por trás dos óculos quadrados brilharam dois olhinhos negros muito astutos. Ela juntou as sobrancelhas quando viu Black e fez uma expressão grave, como se dissesse que ele não deveria estar ali.



"Posso ajudá-lo Senhor...?"



Sirius puxou seu distintivo, mostrando-o a mulher. "Sirius Black, investigador" - Disse ele, mas a mulher não se deu ao trabalho de examinar o distintivo por muito tempo, apenas registrou o cabeçalho onde se lia 'Polícia Federal' em negrito e voltou os olhos para o homem que segurava.



"Em que posso ajudá-lo Sr. Black?" A mulher repetiu a pergunta.



Sirius inspirou, ganhando tempo enquanto procurava as palavras.



"Imagino que a Senhora esteja a par do acontecido... há uma semana na casa de número 04, Senhora...?"



"McGonagall... Minerva McGonagall". Ela fez um pequeno aceno com a cabeça. "Sim, Sr. Black, estou a par de tudo que aconteceu... como não poderia estar morando numa cidade como esta, não é mesmo?"



Sirius deu um pequeno sorriso a Sra. McGonagall, concordando.



"Pois bem, fui enviado da Capital para descobrir exatamente o que aconteceu. A senhora se importaria de me relatar precisamente o quê sabe a respeito?"



Minerva McGonagall afastou-se da porta, abrindo-a de modo que Sirius pudesse entrar.



"Não prefere entrar, Sr. Black? Receio que não seja apropriado falarmos de um assunto destes no portão".



Sirius tirou seus óculos escuros e sorriu, entrando na modesta residência. Parecia que finalmente havia encontrado um morador com cabeça naquela cidade. Todos os outros haviam preferido relatar o que sabiam em voz alta para que todos os que passavam também pudessem ouvir, o que deixou Sirius irritadíssimo.



A sala de visitas de McGonagall era simples, mas Sirius precisava admitir que a velha senhora tinha bom gosto. As paredes brancas não estavam cobertas por quadros, imagens, oratórios, fotos e toda a sorte de quinquilharias que se costuma ver em residências do interior, sobretudo de pessoas mais idosas, mas sim de uma única pintura a óleo de um velho homem altivo, dono de um ar importante e nobre. Ele tinha cabelos e barbas brancas, vivos olhos azuis e assim como McGonagall também usava óculos, mas com formato era de uma meia lua. Não havia legenda para que Sirius pudesse descobrir quem era aquele senhor. Ainda havia um conjunto de sofás forrados com uma estampa clara e discreta e alguns móveis de estilo vitoriano, com a madeira escura destacando-se com delicadeza do restante. Tudo era muito limpo e organizado.



"Sente-se, Sr. Black". Disse McGonagall, indicando um dos sofás. "Gostaria de tomar algo?"



"Não, obrigado". Assegurou-lhe Sirius com um pequeno e sincero sorriso. "Na verdade essa é a última casa que eu pretendia visitar hoje... estou com um pouco de pressa, cheguei pela manhã na cidade e ainda preciso procurar um hotel".



McGonagall sorriu discretamente, enquanto se sentava numa poltrona a frente de Sirius, e cruzava as mãos sobre os joelhos dobrados. - "Creio que não terá problemas quanto a isso, há uma excelente pensão próxima da praça principal, tenho certeza de que será bem atendido por lá... mas acho que estamos nos desviando do assunto, não?"



Sirius também sorriu, a cada minuto que passava, gostava ainda mais da Senhora.



"Pois bem". Ele olhou nos olhos de McGonagall. "Que a senhora pode me contar?"



"Posso lhe contar várias coisas, Sr. Black, mas creio que o senhor já tenha escutado o bastante sobre os detalhes mais triviais do caso... que a Srta. Johnson chegou em casa por volta das 21:15, e que não foi ouvido gritos de socorro nem qualquer outro sinal de que estava correndo perigo, estou correta?" - e diante do aceno afirmativo de Sirius, McGonagall continuou com seu relato, no mesmo tom firme, sem qualquer pausa duvidosa. "Conheço Angelina desde que ela chegou com os pais na cidade, há uns 15 anos atrás, era apenas uma garotinha, muito educada eu acrescentaria, praticamente cresceu na Igreja com sua mãe, que era uma católica fervorosa. Depois que a Sra. Johnson veio a falecer, parece que Angelina se apegou as lembranças da falecida e passou a freqüentar a igreja com mais freqüência que o habitual... para uma moça da sua idade, mas é claro que ninguém interpretou isso maldosamente, afinal o nosso Padre é um homem muito digno..."



Sirius revirou os olhos e viu McGonagall lançar-lhe um olhar de repreensão. Outra vez alguém lhe elogiava aquele famigerado Padre!



"Algum problema, Sr. Black?" perguntou ela com a testa franzida.



"De maneira alguma, poderia continuar?"



Com um olhar grave e um discreto aceno, a velha senhora pigarreou e prosseguiu com seu relato.



"Angelina também não era vista com as más companhias desta cidade, sempre andou com as amigas de infância, e era muito prestativa também, como já deve saber, minha neta era muito amiga dela, o pobrezinha ficou em choque com o acontecido, também uma garota de 11 anos, encontrar alguém morto naquelas condições..."



"Perdão." Sirius interrompeu-a "A senhora disse... sua neta?"



McGonagall lançou um olhar surpreso.



"Estou abismada que ninguém tenha lhe informado, mas Hermione Granger é minha neta, minha filha e o marido trabalham na capital e preferem que Hermione cresça numa cidade pequena, embora imagino como eles irão ficar ao saber que um crime tão bárbaro aconteceu por aqui..."



Sirius engoliu em seco, meio sem saber o quê dizer, mas uma pergunta estava martelando na sua cabeça.



"Tem alguma idéia do porquê ninguém ter dito que a menina era sua neta... eu entrevistei quase todos nessa rua. Além do mais, o Prefeito havia me informado que a garota era filha de uma vizinha e não neta".



McGonagall piscou seu par de olhos negros e penetrantes, como se quisesse ler a mente de Sirius.



"Um engano completamente normal". Disse McGonagall fazendo um gesto impaciente com uma das mãos. "Hermione tem o costume de me chamar de mãe, já que vive sob minhas vistas desde que se conhece por gente... agora quanto as pessoas desta rua..." Sua voz assumiu um tom frio. "Elas não gostam da minha pessoa porque não dou-lhes qualquer intimidade, o senhor já deve ter percebido como eles gostam de falar e falar a respeito dos outros, e como, bem, acho isso um hábito péssimo e desonroso, me abstenho da convivência com elas, minha querida Hermione herdou esse aspecto, o que muito me orgulha, Angelina era sua única amiga, mesmo sendo bem mais velha".



O assunto despertou a curiosidade de Sirius que passou a prestar mais atenção.



"A senhora então incentivava essa amizade de sua neta?"



"Claro que sim" respondeu McGonagall rapidamente. "Como já deve ter se cansado de ouvir, Angelina era uma moça direita, um bom exemplo jovem para Hermione, todas as outras garotinhas da idade dela são terrivelmente infantis, Hermione não as suporta!"



Sirius respirou fundo, a vontade de conhecer a tal garotinha era maior do que nunca agora, então fez a pergunta que estava entalada em sua garganta: "Onde está sua neta?"



Ao contrário do que Sirius imaginou, McGonagall não pareceu se ofender com sua questão, muito pelo contrário, parecia que estivera esperando por ela. A velha senhora curvou os lábios num quase inexistente sorriso e consultou um grande relógio de parede. Faltavam vinte e cinco minutos para as seis da tarde.



"Hermione está na Igreja, mesmo tendo passado por tudo isso, ela não deixa de lado suas responsabilidades".



Sirius ergueu uma sobrancelha. Estavam mesmo falando de uma garotinha de 11 anos que vira o corpo da amiga morta há uma semana?



"Igreja?" Perguntou o investigador torcendo para ter escutado mal.



"Sim" respondeu McGonagall com um súbito brilho no olhos. "Sempre depois das aulas, ela ia junto da Srta. Johnson ajudar nosso querido Padre em algumas tarefas... Hermione é mais necessária do que nunca lá agora".



Sirius franziu a testa, intrigado e espantado com as palavras da velha senhora. Não era a toa que os outros moradores não nutrissem simpatia por ela que parecia ser tão durona e segura de si, dificilmente o tipo de pessoa que se faz popular em cidades pequenas onde a população costuma apenas fomentar idéias fracas e superficiais.



Ele sorriu. Definitivamente tinha gostado daquela senhora.







Continua...

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