O Religioso e o delegado







Assassinato em Hogsmeade














Parte Dois: O Religioso e o delegado









Um rangido alto fez Lupin se assustar e bater a cabeça na mesa em que estava de baixo, a procura de seu rosário que caíra ainda há pouco.



"Você está bem, Padre?" - Perguntou um menino de cabelos negros e óculos redondos, fitando o homem a sua frente um pouco preocupado.



Lupin, ainda massageando o cocuruto da cabeça, sorriu com docilidade para o garoto, enquanto se erguia do chão.



"Não foi nada, Harry, eu vou sobreviver..." Assegurou-lhe batendo um pouco de poeira da surrada batina escura. "Mas... que você está fazendo aqui? Jurava que tinha-o visto saindo com sua mãe um par de minutos atrás..."



Os enormes olhos verdes do garoto brilharam e ele fez um aceno com a mão, indicando a porta às suas costas com o polegar.



"Acaba de chegar um homem da capital, todo engravatado, de preto... com uma moto enorme! Todos estão dizendo que ele veio investigar o que aconteceu com Angelina..." - O menino parecia super excitado com aquilo. O padre, porém, ficou ligeiramente mais pálido do que era e franziu o cenho, mas o menino sequer notou, pois ainda a falava pelos cotovelos.



"Você não vai dar uma olhada, Padre? Tem um monte de gente na frente da Prefeitura! Ele deve sair de lá a qualquer minuto". Harry soltou um pequeno riso. "Tinha que ver a cara do delegado quando viu o homem, ah, me deu até medo!"



Lupin não duvidava que Severus Snape, o delegado, tivesse ficado desgostoso com a chegada desse tal investigador. O homem detestava que se metessem em sua jurisdição, mas num caso desses...



"Você não devia ficar tão afoito com isso, Harry, o que aconteceu foi um assunto sério, não uma divertida brincadeira de crianças... Trate de voltar para casa, sua mãe deve estar preocupada com você". - Ralhou parecendo zangado, mas diante do olhar extremamente ofendido que o menino lhe lançou, Lupin se condoeu e deu-lhe um sorriso antes de acrescentar: "Olhe, é provável que me chamem para depor outra vez, como você sabe fui um dos primeiros adultos a ver o corpo da pobre Angelina... Então, veja bem, não estou lhe garantindo, mas se souber de mais alguma coisa..."



O rosto do menino se iluminou diante daquela perspectiva, e sorrindo radiante, Harry saiu correndo da salinha batendo a porta devagar.



Lupin deixou-se cair numa cadeira cujo estofamento estava velho e rasgado. Colocou a mão sobre a face cansada e suspirou.



As coisas estavam fugindo de seu controle... definitivamente...






***








Severus Snape era um homem de poucas palavras, dono de um irritante ar de 'quem-sabe-das-coisas' e ainda era um tanto quanto presunçoso - Sirius não pode deixar de constatar depois de uma breve tentativa de conversa. Breve mesmo. O homem fora tão grosso em suas respostas que Black descobriu que teria grandes problemas em trabalhar ao lado dele.
Eles mal haviam se livrado da presença do Prefeito e já tomavam caminho para a Praça da cidade quando Sirius fez menção de pegar sua moto, caminhando na direção do estacionamento, mas na mesma hora a voz de Snape lhe interrompeu.



"Não vamos precisar dessa sua extravagância da cidade grande por aqui, Sr. Black... a casa da moça é bem próxima, chegamos lá a pé em alguns minutos".



Sirius fechou as mãos em punho, tendo ímpetos de voar no pescoço do delegado, que continuava a caminhar calmamente, pegando uma das ruas que cruzavam a praça e descendo. Seguiu-o a contragosto, pegando os óculos escuros do bolso de seu casaco e colocando-o na face, já que o forte sol do meio-dia batia em seu rosto e Sirius tinha uma certa dificuldade para enxergar.



Caminharam rua abaixo por pelo menos 10 minutos e quando Sirius já lutava contra o desejo de perguntar se faltava muito, Snape parou de repente em frente de um pequeno sobrado amarelo, que precisava urgentemente de uma nova mão de tinta. Havia uma faixa de isolamento na porta, que Snape ignorou solenemente, entrando na casa sem qualquer cerimônia.



"Onde o corpo foi encontrado?" - Sirius perguntou numa corajosa tentativa de começar uma conversa, mas foi surpreendido por uma nova grosseria de Snape, que ergueu uma sobrancelha e sorriu de um jeito maldoso e superior.



"Parece que não fez sua lição de casa por completo, Sr. Investigador. Eu mesmo redigi o relatório que lhe foi enviado e tenho absoluta certeza de que um detalhe desses não foi omitido".



Os olhos de Sirius fuzilaram Snape, mas ele permaneceu em silêncio, até porque não tinha o quê responder. Claro que lera o maldito relatório, por diversas vezes na verdade e agora se xingava mentalmente por ainda estar tentando ser simpático com aquele intragável.



Pisando firme e fazendo barulho, Sirius caminhou até a cozinha onde uma mancha de sangue seco se arrastava por todo o soalho, vinda da porta dos fundos. Viu que Snape lhe observava com atenção e fazendo força para não parecer zangado, perguntou:



"Como a tal menina entrou na casa e encontrou o corpo? A porta estava aberta?"



Snape ficou em silêncio por alguns instantes como se o avaliasse, o que só fez a irritação de Black aumentar, mas novamente ele conseguiu se conter.



"Aparentemente a garota tinha a chave da casa, pois era muito amiga da vítima".



Sirius franziu as sobrancelhas.



"Aparentemente? Por quê? Há algum motivo para que esse fato seja posto em dúvida?"



O rosto de Snape se deformou num feio sorriso.



"Nenhum, Sr. Black, foi só maneira de falar. Não há qualquer dúvida que as duas eram muitíssimo amigas, tal como irmãs, eu acrescentaria" - Disse Snape sem desviar os olhos de Black um segundo sequer, mas havia algo naquelas palavras que incomodou Sirius, embora ele não tenha conseguido descobrir exatamente o quê...



"Entendo..." murmurou, voltando os olhos para o chão ensangüentado. "Bem... imagino que isso já tenha sido feito, Sr. Delegado... mas gostaria de conversar com as testemunhas e também com o médico que deu o parecer sobre a morte, senão se importa..."



Snape cruzou os braços sobre o peito, parecendo ofendido com aquele pedido tão simples.



"Eu poderia lhe passar qualquer informação necessária, Sr. Black, talvez deva saber que desde o começo dirigi essa investigação e..."



"Mas eu insisto". - Sirius interrompeu-o, com os dentes rilhando numa tentativa de não demonstrar toda irritação que sentia. "Afinal se a sua investigação tivesse sido eficaz, meu caro, o caso já estaria solucionado e minha presença não seria necessária aqui".



Os olhos do homem fulminaram Sirius, que não deixou-se intimidar, devolvendo-lhe um sorriso vitorioso. Dois podem jogar esse jogo, Senhor Delegado...



Snape engoliu em seco várias vezes antes de responder.



"Isso pode ser providenciado até amanhã, Sr. Black... precisa de mais alguma coisa?" Sibilou ele perigosamente.



Sirius sorriu. "Fique sossegado, Sr Delegado, posso me arranjar".



Snape então torceu os lábios, como se fizesse força para não insultar Black e virando nos calcanhares saiu da casa. Passados dois segundos, Sirius escutou a porta batendo com força e desta vez não segurou uma risada alta. Porém, logo resolveu se ocupar de pensamentos mais práticos.



Estava numa cidade onde não conhecia absolutamente ninguém (salvo o ilustríssimo Prefeito e seu delegado mal-humorado) e sequer reservara um quarto em algum hotel ou semelhante. Sirius olhou para seu relógio de pulso. Era 1 hora da tarde. Perguntou-se deveria procurar uma cantina, mas não sentia fome alguma, e pensando melhor, quanto mais cedo começasse seu trabalho, mais cedo se livraria daquele fim de mundo. E realmente preferia fazê-lo sozinho, sem aquele delegado bafejando opiniões inúteis no seu ouvido.



Dando uma última olhada ao redor, Sirius concluiu que não deveria haver ali muito que pudesse ajudá-lo. Tudo já tinha sido revirado - trabalho de porcos, Sirius pensou - apagando
qualquer pista que pudesse ser relevante. Em todo caso, a residência estava interditada, poderia checá-la melhor uma outra hora.



Saiu da casa sentindo novamente o forte sol bater em seu rosto, e olhou de um lado pro outro a rua quase deserta. Àquela hora a maioria das pessoas deveriam estar terminando o almoço, prontas para voltar ao trabalho. Pôs-se a subir a rua íngreme, decidindo-se em fazer uma horinha até que fosse conveniente colher informações da vizinhança.



O calor que já era grande parado, aumentou consideravelmente depois que Sirius começou a caminhar. O suor lhe escorria pelas têmporas e ele tirou o casaco que usava, jogando-o nos ombros. Assim que alcançou o alto da rua, virou o corpo na intenção de analisar melhor a pequena cidade de Hogsmeade. Vista ali de cima, Sirius descobriu que poderia até sentir uma simpatia pelo lugar, várias casas enfileiradas desciam as montanhas, fazendo as ruas parecerem enormes veias coloridas. Todas essas ruas terminavam ou começavam na praça principal, e ali do alto, Sirius pela primeira vez se deu ao trabalho de reparar na igreja local. Não podia dizer muito devido a distância, mas dava para reparar nas duas torres gêmeas que se erguiam lado a lado da nave principal e no cemitério que se estendia as costas do prédio. Por um instante lembrou-se de que seria obrigado a conversar com o pároco do lugar e sentiu uma involuntária irritação. Sirius tinha uma opinião formada sobre Padres no geral, não passavam de pessoas frustradas que ficavam a vida toda julgando e achando-se no direito de perdoar os outros, como se fossem o símbolo da perfeição!



"Bah..." Resmungou, sentando-se num pequeno muro. "Duvido que ele me dê muito trabalho... deve ser um velho covarde, provavelmente vai tremer nas bases quando eu for interrogá-lo".







Continua...

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