O resgate



“Socorro!” Luna gritou com toda sua força e sacudiu os braços loucamente.
“Acho que não conseguem nos ouvir,” Gina disse com lágrimas se acumulando em seus olhos.
“Meu Deus, poderíamos ser mais idiotas?” Laura soltou e continuou a dar um sermão sobre os perigos de camas infláveis no mar.
“Oh, esqueça isso, Laura,” Luna atirou. “Já estamos aqui então vamos todas gritar juntas para que eles talvez nos ouçam.”

Elas limparam as gargantas e se ajoelharam nas camas do melhor jeito possível sem que as fizessem afundar.
“Muito bem, um, dois, três... SOCORRO!” todas gritaram e sacudiram os braços freneticamente.
Eventualmente, as meninas pararam de gritar e ficar olhando em silêncio para os pontos na praia para ver se conseguiam alguma coisa. Tudo continuava como estava.

“Por favor, me digam que aqui não tem tubarão,” Luna choramingou.
“Oh, faça-me o favor, Luna,” Laura disse impaciente, “essa é a última coisa da qual precisamos ser lembradas agora.”
Gina engoliu em seco e olhou para a água. Se ela antes era transparente, tinha escurecido muito. A ruiva saiu da cama inflável para ver a profundidade, e seu coração começou a bater forte enquanto suas pernas balançavam suspensas. A situação era péssima. Ela e Laura tentaram nadar arrastando suas camas enquanto Luna continuava seus gritos de quebrar vidros.

“Credo, Luna,” Laura arfou, “a única coisa que vai responder a isso é um golfinho.”
“Olha, por que vocês duas não param de nadar? Já estão aí há algum tempo e ainda estão bem do meu lado.”
Gina parou de nadar e olhou para cima. Luna olhou de volta.
“Ai.” Gina tentou segurar as lágrimas. “Laura, é melhor pararmos e pouparmos nossa energia.”

Laura parou de nadar e as três se juntaram em cima de suas bóias e choraram. Não havia mais nada que pudessem fazer, Gina pensou, começando a entrar mais ainda em pânico. Haviam tentado gritar por socorro, mas o vento estava levando suas vozes em outra direção; haviam tentado nadar, o que tinha sido completamente inútil, visto que a correnteza estava muito forte. Estava começando a ficar frio e o mar estava ficando escuro e feio. Que situação ridícula para se meterem. No meio de todo o seu medo e preocupação, Gina conseguiu se surpreender por se sentir completamente humilhada.

Não sabia se ria ou chorava, mas o som estranho dessa mistura começou a sair de sua boca, fazendo Laura e Luna pararem de chorar e olhar para ela como se ela tivesse dez cabeças.
“Pelo menos uma coisa boa veio disso tudo,” Gina meio chorou, meio riu.
“Tem uma coisa boa?” Laura disse, limpando os olhos.
“Bem, nós três sempre falamos sobre ir para a África,” ela deu risadinhas sinistras como uma louca, “e pelo jeito, eu diria que provavelmente já estamos no meio do caminho.”
As meninas olharam para o mar como se vissem seu próximo destino. “É um meio de transporte mais barato, também,” Laura se juntou a Gina.
Luna olhou para elas como se estivessem loucas e apenas uma olhada nela sentada numa bóia no meio do oceano, semi-nua naquele biquíni espalhafatoso e de lábios roxos foi o suficiente para as garotas desatarem a rir.

“O que foi?” Luna olhou para elas de olhos arregalados.
“Diria que estamos bem encrencadas aqui,” Laura riu.
“É,” Gina concordou, “a gente já era.”
Elas ficaram rindo e chorando por alguns minutos mais até que o som de um iate por perto fez Luna se ajoelhar e começar a acenar loucamente de novo. Gina e Laura riram ainda mais com a visão do de Luna pulando enquanto acenava para os salva-vidas.

“É como sair de noite com as garotas normalmente,” Laura ria como louca vendo Luna ser arrastada semi-nua para dentro do barquinho por um salva-vidas musculoso.
“Acho que estão em estado de choque,” um deles disse para o outro enquanto arrastavam as garotas histéricas restantes para o iate.
“Rápido, salvem as bóias!” Gina conseguiu dizer no meio da risada.
“Bóia a bombordo!” Laura gritou.

Os salva-vidas se entreolharam preocupados enquanto embrulhavam as meninas em toalhas secas e aceleravam de volta para a praia.
Ao se aproximarem da areia, uma multidão parecia estar esperando. As garotas se entreolharam e riram ainda mais loucamente. Houve uma grande salva de palmas ao serem levantadas e guiadas para fora do iate; Luna se virou e fez uma reverência de agradecimento para todos.
“Eles aplaudem agora, mas onde estavam quando precisávamos deles?” Laura resmungou.
“Traidores,” Gina riu.

“Aí estão elas!” As três amigas ouviram um guincho familiar e viram Cindy e sua Brigada abrindo caminho por entre a multidão. “Oh, meu Deus!” ela deu um gritinho agudo. “Eu vi tudo pelos meus binóculos e chamei os salva-vidas. Vocês estão bem?” Ela olhou histérica para cada uma.
“Ah, estamos OK,” Laura disse um tanto séria. “Tivemos sorte. As pobres bóias nem tiveram chance.” Com aquilo, ela e Gina tiveram um ataque de riso e foram levadas para serem examinadas por um médico.

Naquela noite as garotas perceberam a seriedade da situação e seus humores mudaram drasticamente. Ficaram sentadas em silêncio durante todo o jantar, todas pensando em como haviam tido sorte de ser resgatadas e se culpando por serem tão irresponsáveis. Luna se mexia desconfortavelmente em sua cadeira e Gina percebeu que ela mal tocara na comida.
“O que há com você?” Laura disse, sugando um fio de macarrão, o que fez o molho pingar em todo o seu rosto.
“Nada,” Luna disse, enchendo seu copo de água.
Ficaram em silêncio por mais um tempo.
“Com licença, vou ao banheiro.” Luna se levantou e andou desengonçadamente até o toalete.

Laura e Gina se entreolharam de sobrancelhas enrugadas.
“O que acha que há de errado com ela?” Gina perguntou.
Laura deu de ombros, “Bem, bebeu quase dez litros de água durante o jantar, então não estou exatamente impressionada de vê-la indo ao banheiro,” ela exagerou.
“Será que ela está chateada com a gente por termos ficado brincando hoje mais cedo?”
Laura deu de ombros novamente e elas continuaram a comer em silêncio. Gina reagira de maneira estranha lá no mar, e a incomodava quando pensava no motivo. Depois do pânico inicial de pensar que iria morrer, Gina ficara estranhamente alegre ao perceber que, se morresse mesmo, iria ficar junto de Draco. A incomodava pensar que não se importava se vivia ou morria. Aqueles eram pensamentos egoístas. Ela precisava mudar sua perspectiva da vida. Da vida sem Draco.

Luna fez uma careta ao se sentar.
“Luna, o que há de errado?” Gina perguntou.
“Não direi a nenhuma de vocês duas porque vão rir,” ela disse como uma criança.
“Ah, pelo amor de Deus, somos suas amigas, não vamos rir,” Gina disse, tentando não sorrir.
“Eu disse que não.” Ela encheu o copo com mais água.
“Ora, vamos, Luna, sabe que pode nos contar qualquer coisa. Prometemos não rir.” Laura disse aquilo tão seriamente que Gina se sentiu mal por estar sorrindo.
Luna estudou as expressões de ambas, tentando decidir se eram confiáveis.
“Ah, tudo bem,” ela suspirou alto e murmurou algo muito baixo.
“O quê?” Gina disse, chegando mais perto.
“Querida, não ouvimos, falou muito baixo,” Laura disse, puxando a cadeira para perto.

Luna olhou em volta para o resto das pessoas no restaurante para ter certeza de que ninguém estava ouvindo e se inclinou para perto da mesa. “Eu disse que o meu bumbum está assado de ficar deitada no sol tanto tempo.”
“Ah,” Laura disse, voltando a se sentar normalmente.
Gina olhou em várias direções tentando evitar encontrar o olhar de Laura e começou a contar os pães na cestinha em sua frente para parar de pensar no que Luna tinha dito.

Houve um longo silêncio.
“Viu, disse que vocês iam rir,” Luna desistiu.
“Ei, não estamos rindo,” Laura disse tremendo com a risada presa.
Houve outro silêncio.
Gina não conseguiu evitar. “Só se certifique que está passando hidratante em todos os lugares para não despelar.” As duas finalmente explodiram.
Luna apenas acenava com a cabeça e esperava que elas acabassem. Teve que esperar muito tempo. Na verdade, horas depois, quando ela estava deitada no sofá-cama tentando dormir, ela ainda esperava.
A última coisa que ouviu antes de dormir foi uma piadinha de Gina: “Vê se dorme de bruços, Luna.” Seguiram-se mais risadas.

“Ei, Gina,” Laura sussurrou depois de finalmente terem se acalmado. “Está animada para amanhã?”
“O que quer dizer?” Gina perguntou, bocejando.
“A carta!” Laura respondeu, surpresa por Gina não ter se lembrado imediatamente. “Não me diga que esqueceu.”
Gina esticou a mão debaixo do travesseiro e tateou para achar a carta. Em uma hora ela poderia abrir o sexto bilhete de Draco. É claro que ela não havia esquecido.

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