Uma visita mais que incomum



“Feliz aniversário, Gina! Ou será que eu deveria dizer feliz aniversário atrasado?” Percy riu nervosamente. O queixo da ruiva caiu quando ela viu, em choque, o irmão mais velho parado à sua porta. Aquilo era algo raro; na verdade, provavelmente era a primeira vez que acontecia. Ela abriu e fechou a boca como um peixe, completamente incerta do que dizer. “Lhe trouxe um vaso com uma orquídea Phalaenopsis,” ele disse entregando-lhe um jarro com uma flor. “Elas estão recém-plantadas, podadas e prontas para florescer.” Ele parecia um comercial de tv. Gina ficou ainda mais abismada ao tocar os pequenos botões. “Nossa, Percy, orquídeas são as minhas favoritas!”

“Bem, você tem um jardim enorme e lindo aqui, bonito e” – ele limpou a garganta – “verde. Um pouquinho fora de controle, no entanto...” Ele então começou a se balançar para frente e para trás com os pés daquele jeito irritante.

“Você gostaria de entrar ou só está de passagem?” Por favor, diga não! Por favor, diga não! Apesar do presente gentil, Gina não estava no clima de receber a visita de Percy.

“Bem, sim, entrarei por um tempinho.” Ele limpou os pés no carpete por uns bons dois minutos antes de entrar na casa. Ele lembrava Gina da sua velha professora de Matemática na escola, vestido num suéter marrom de tricô com calças da mesma cor. Não havia um fio de cabelo fora do lugar em sua cabeça e as unhas de Percy eram limpas e perfeitas. Gina imaginou por um momento o irmão medindo-as todas as noites com uma pequena fita para se certificar que elas estavam do tamanho ideal de acordo com o padrão europeu de tamanho de unhas, se tal coisa existisse.

Percy parecia nunca estar confortável consigo mesmo. Parecia estar sendo enforcado pela sua gravata (marrom) e sempre andava como se houvesse um mastro amarrado às suas costas. Nas raras ocasiões em que sorria, o sorriso parecia nunca alcançar seu olhar. Pensando nisso, Gina encaminhou-o até a sala de estar e colocou o jarro da planta em cima da televisão por enquanto.

“Não, não, Gina,” ele disse, sacudindo o indicador para ela como se ela fosse uma criança travessa. “Você não deve colocá-la aí, ela precisa estar num local fresco e mais úmido, longe da luz do sol e ventos mornos.”
“Ah, claro.” Gina pegou novamente o jarro e procurou em pânico com os olhos por um lugar apropriado. O que ele havia dito? Um lugar fresco e mais úmido? Como ele sempre conseguia fazê-la sentir-se uma garotinha incompetente?

“Que tal aquela mesinha ali no meio, acho que ela ficará bem ali.”
Gina fez como ele dissera e colocou a orquídea na mesa, meio que esperando ele dizer “boa garota.” Graças a Deus, ele não disse nada.
Percy assumiu sua posição preferida em frente à lareira e olhou o aposento. “Sua casa é muito limpa,” ele comentou.
“Obrigada, eu apenas, eh... limpei.”
Ele acenou a cabeça como se já soubesse.
“Quer um chá ou um café?” ela perguntou, esperando que ele dissesse que não.
“Sim, ótimo,” ele disse juntando as mãos com um estalo, “um chá seria esplêndido. Só com leite, sem açúcar.”

Gina voltou da cozinha com duas xícaras de chá e as pôs na mesinha de café. Ela esperou que o vapor quente que saía das xícaras não matasse a pobre planta.

“Você só precisa regá-la regularmente e alimentá-la durante a primavera.” Ele ainda estava falando sobre a planta. Gina concordou com um sinal de cabeça, sabendo muito bem que não faria nenhuma das duas coisas.

“Não sabia que entendia de plantas, Percy,” ela disse tentando aliviar o clima. “Você cuida do seu jardim?” Gina estava ansiosa para manter a conversa fluindo; como a casa estava vazia, qualquer silêncio era enorme.
“Ah, sim, adoro trabalhar no jardim.” Seus olhos se acenderam. “Sábados são meus dias de jardinagem,” ele disse sorrindo antes de tomar um gole de chá.

Gina sentia como se um completo estranho estivesse sentado com ela. Ela se deu conta de que sabia muito pouco sobre Percy e vice-versa. Mas fora assim que ele sempre quisera que fosse, ele sempre havia se distanciado da família mesmo quando eram pequenos. Ele nunca contava novidades interessantes para eles ou dito como seu dia havia sido. Ele era apenas cheio de fatos, fatos e mais fatos. A primeira vez em que a família ouvira falar em Penélope fora no dia em que os dois jantaram na casa dos Weasley para anunciar o noivado. Infelizmente, àquela altura era tarde demais para tentar convencê-lo a não se casar com o dragão. Não que ele fosse ouvir, de qualquer forma.

“Então,” ela falou, alto demais, para e sala ecoante, “alguma coisa estranha ou impressionante?” Tipo o por quê de você estar aqui, ela pensou.
“Não, não, nada de estranho, tudo está indo normalmente.” Ele bebeu um gole de chá e disse um tempo depois, “Nada impressionante, também, na verdade. Só dei uma passadinha para dizer oi enquanto estava por aqui.”
“Ah, certo. É estranho ver você por esse lados da cidade.” Gina riu. “O que o traz a esse mundo obscuro e perigoso do lado norte?”

“Ah, você sabe, trabalho,” ele murmurou para si mesmo. “Mas o meu carro está estacionado do lado sul do Rio Liffey, claro!”
Gina forçou um sorriso.
“Brincadeira, claro,” ele acrescentou. “Está logo aí fora... está seguro, não está?” ele perguntou sério.
“Acho que está, sim,” Gina começou sarcasticamente. “Não parece haver ninguém suspeito andando pelo beco em plena luz do dia hoje.” Ele não entendeu a brincadeira. “Como estão a Emília e o Timmy? Desculpe, digo, Timóteo?”

Os olhos de Percy se iluminaram mais uma vez. “Oh, eles estão bem, Gina, muito bem. Preocupantes, no entanto.” Ele desviou os olhos e inspecionou a sala novamente.
“O que você quer dizer?” Gina perguntou, pensando que talvez Percy se abrisse para ela.
“Ah, não é uma coisa em particular, Virgínia. As crianças em geral são uma preocupação.” Ele empurrou a armação dos óculos para a ponte do nariz e olhou Gina nos olhos. “Mas acho que você deve estar feliz por saber que nunca vai ter que se preocupar com essas besteiras de crianças,” ele disse, rindo.

Houve um silêncio.

Gina sentia como se tivesse levado um chute na barriga.

“Então, já achou um emprego?” ele continuou.

Gina ficou sentada congelada na cadeira, em choque; não conseguia acreditar que ele tivera a audácia de lhe dizer aquilo. Ela se sentia insultada e magoada e o queria fora da casa. Ela realmente não estava com humor suficiente para ser educada com ele por mais um segundo que fosse e certamente não queria se incomodar em explicar para a cabeça quadrada do irmão que ela nem sequer tinha começado a procurar por um emprego porque ainda estava lamentando a morte do marido. Uma “besteira” que Percy provavelmente não iria experienciar nos próximos cinqüenta anos.

“Não,” ela cuspiu com raiva.
“Então o que você faz para ter dinheiro? Está recebendo ajuda de algum amigo?”
“Não, Percy,” ela disse tentando não perder o controle, “não estou recebendo ajuda de amigos, eu ganho pensão de viúva.”
“Ah, isso é ótimo. Útil, não é?”
“Útil não seria a palavra que eu usaria; devastadoramente depressiva seria mais adequado.”

O clima estava pesado. De repente, ele deu um tapinha na própria perna, sinalizando o fim da conversa. “É melhor eu entrar no carro e voltar para o trabalho,” ele anunciou se levantando e se espreguiçou com exagero como se tivesse estado sentado há horas.
“Tudo bem.” Gina estava aliviada. “É melhor você ir enquanto seu carro ainda está aí.” Mais uma vez ele não riu da piada; ele estava checando a rua pela janela.
“Você está certa; ainda está lá, Graças a Deus. De qualquer maneira, foi bom vê-la e obrigado pelo chá,” ele disse com o olhar fixo em um ponto da parede acima da cabeça de Gina.

“De nada, e obrigada pela orquídea,” Gina disse quase rangendo os dentes. Ele marchou pelo jardim e parou no meio do caminho para olhar para as plantas. Ele sacudiu a cabeça de um jeito desaprovador e gritou para a irmã, “Você realmente precisa contratar alguém para arrumar esta bagunça,” e então saiu andando em seu carro familiar marrom.

Gina sentia suas orelhas fumegarem enquanto o observava sumir da rua e então bateu a porta com força. Aquele homem fez o sangue dela ferver tanto que ela sentia vontade de nocauteá-lo. Ele simplesmente não tinha noção... de nada.


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Gostaram? Espero que sim... ^^ Mais D/G chegando logo...
Obrigada pelos comentários, gente!

;* ;* Beijos enormes pra todo mundoo!

Sofi

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