Capítulo IX



Capítulo IX

A cabeça da ruiva trabalhava furiosamente, tentando assimilar todas as informações. Homicídio, tribunais, Kevin. Nada disto fazia sentido para ela. Sabia agora que ele se chamava Harry Potter, tinha sido casado com Hermione Potter, que fora assassinada por um tipo condenado à prisão perpétua, provavelmente posto atrás das grades por Harry, que, na altura, era advogado, mas acabou desistindo.
Sabia que as colegas já estariam a tentar localizá-lo, mas Ginny já não sabia se o queria encontrar. Não que a sua curiosidade tivesse desaparecido, nem que tivesse medo da pessoa que ele era. Mas agora que o momento do encontro estava próximo, as probabilidades de sanidade existentes no assunto eram cada vez mais escassas. Claro, Ginny, seria uma bela conversa: Olá, sei que não me conheces de lado nenhum, mas eu encontrei as cartas que eram dirigidas à tua falecida mulher e a minha curiosidade fez com que eu te seguisse até aqui. Será que podemos ir tomar um café para nos conhecermos melhor? A atitude mais provável que ele teria era pôr-me na prisão ao lado de um assassino em série.
Já desesperada, a ruiva levantou-se da cama e saiu do quarto. Ao ultrapassar a porta de entrada, a suave brisa de verão atingiu-a suavemente. Caminhou pela marina, onde vários barcos estavam atracados. O Sol reflectia-se na madeira polida, e o cheiro a água salgada enchia-lhe os pulmões. Desceu os degraus de pedra, gastos pelo vai-e-vem das ondas, mergulhando os seus pés no areal.
À medida que caminhava, os seus pés deixavam marcas na areia molhada, que lentamente eram apagadas pelas ondas. Quando chegou ao bar, sentou-se numa das mesas espalhadas pela esplanada. Aquele local agradava-a. Os funcionários eram simpáticos e descontraídos, tinha uma vista directa para o mar e, pelo que ouvira dizer, a comida era óptima.
Ainda imersa nos seus pensamentos, não reparou que um homem de olhos castanhos a observava...
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Kevin saíra do tribunal mais cedo, após ganhar mais um caso. Recebeu vários elogios pelo bom desempenho, mas ele, ao contrário do que era habitual, encontrava-se nervoso. Não por aquele caso, mas por este lhe lembrar um caso semelhante que ocorrera três anos antes, quando o cabecilha de um dos mais perigosos gangues do estado se tinha sentado no banco dos réus. Nessa ocasião, o seu melhor amigo conseguira provar os crimes, e pôr Edmund Stuart atrás das grades, e este lhe jurara vingança. Prometera-lhe que sempre que completasse um ano na prisão, que seria também o aniversário em que ele perderia a sua razão de viver.
No começo, nem ele nem Harry se tinham realmente importado. Era apenas mais uma das vinganças que arguidos juravam cumprir. Mas agora, ambos se sentiam idiotas por não terem percebido que aquilo não era apenas uma vingança, mas uma promessa. E, no dia 4 de Julho, em que Edmund completava o seu primeiro ano, a desgraça abatera-se.
Ele, Harry e Hermione tinham ido dar um passeio pela cidade, mas ela seguia um pouco mais à frente para chegar mais rapidamente à montra da sua loja preferida. E foi nesse instante que tudo mudou. A cena produzia-se na sua mente em câmara lenta, e ele pôde ver o olhar de Hermione mudar quando mirou para a montra. Depois ouviram-se dois disparos. O primeiro para partir a montra, o segundo para a atingir fatalmente.
Corriam em direcção ao corpo inerte dela, mas um homem de cabelos grisalhos colocou um bilhete em cima do corpo, para rapidamente fugir pelo meio da multidão. Debruçaram-se sobre ela, com Kevin a pedir para chamarem uma ambulância, e Harry a ler o bilhete. Nesse instante, o corpo dele ficara inerte, e lentamente, Kevin leu o bilhete que continha apenas duas palavras: Feliz Aniversário.
Quando finalmente se viu livre dos seus devaneios, já estava a subir os degraus de madeira em direcção ao bar, quando os seus olhos pousaram numa ruiva com o olhar perdido no vazio. Lentamente, encaminhou-se até ela.
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- Posso fazer-lhe companhia?
Ginny sobressaltou-se, e deu de caras com um homem de cabelos castanhos tal como os olhos, e com um sorriso simpático por trás dela.
- Claro, sente-se. – respondeu ela indicando-lhe a cadeira à sua frente.
O empregado, que já lhe atendera por duas vezes, dirigiu-se sorridentemente até ela, mas quando viu o seu acompanhante, pareceu ficar receoso por uma aproximação.
- Boa tarde, desejam alguma coisa?
- Para mim é o mesmo de ontem, por favor.
- Para mim o mesmo que ela. – respondeu prontamente Kevin, sem tirar os olhos da ruiva.
Quando o rapaz se afastou, Ginny olhou curiosamente para o moreno. – Vai comer sem saber o que eu pedi?
- Uma pessoa tão bonita não pode ter mau gosto culinário.
- E uma pessoa que começa a namoriscar sem saber sequer o nome da mulher não pode ser muito bem-educado. – retorquiu ela amavelmente.
- Peço desculpas. O meu nome é Kevin Coston, e você é...
- Ginny Weasley.
- Encantado – disse ele sorrindo-lhe.
Lancharam alegremente, com o moreno a prestar um especial interesse na vida pessoal da ruiva. Quando terminaram, e ela se dirigia para a saída, Kevin bloqueou-lhe a passagem.
- Gostaria de saber se está disponível para um jantar hoje à noite.
- Acabou de me conhecer e já me está a convidar para jantar?
- Um jantar de três. Tenho um amigo que tem um verdadeiro dom para a cozinha, e eu estava a pensar, se queria juntar-se a nós. Se quiser, pode trazer o seu namorado...
- Não tenho namorado – interrompeu ela.
- Óptimo –disse ele sorrindo abertamente – esperamo-la nesta morada às oito. – disse ele estendendo um papel, e com um aceno, saiu do bar.
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- Estás doido?!
- Qual é o drama?
- Nenhum. Só convidaste uma completa desconhecida para vir a MINHA casa, jantar CONNOSCO, só porque a queres conquistar!
- Harry, pela milionésima vez – começou Kevin cansado – ela é uma rapariga simpática, bonita, inteligente, e NÃO estou a pensar em nada disso, apesar de ela ser bem gira.
- Eu...
Mas antes que pudesse terminar, a campainha soou. Kevin agarrou no braço do amigo, e abriu a porta de entrada, sorrindo para a ruiva à sua frente. Harry olhava amigavelmente para a mulher, quando Kevin fez as apresentações.
- Ginny, este é o meu melhor amigo, Harry Potter.

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