Capítulo X



Capítulo X

As palavras de Kevin caíram como bombas para ela. Tivera horas a pensar em maneiras de se encontrar com Harry, e agora ele estava à sua frente. O seu cabelo negro despenteado dava-lhe um charme natural, mas o mais impressionante eram os seus olhos verde-esmeralda. Como acordada de um transe, sorriu-lhe amigavelmente, com ele a retribuir o sorriso.
-Entre –disse ele abrindo caminho para a passagem da ruiva.
A sala era pequena mas agradável, com a mobília simples a combinar harmoniosamente com os tons leves das paredes. O sofá azul suave foi-lhe indicado por Kevin, e ela sentou-se nervosamente, sendo acompanhada pelos dois homens.
-Bem –começou ela na tentativa de quebrar o silêncio –o Kevin disse-me que era um óptimo cozinheiro.
Ele riu divertido –A única coisa em que sou óptimo, é saber o nome dos melhores restaurantes para encomendar comida, porque na cozinha a única coisa que faço razoavelmente é um ovo estrelado.
O Kevin ria gostosamente, enquanto que a ruiva corava furiosamente. Harry apenas a olhava divertido. Ela olhava para ele envergonhada, mas o moreno limitou-se a sorrir suavemente. “Não se preocupe” podia ela jurar que ele dizia silenciosamente.
-Desculpe Ginny, mas não resisti.
Antes que ela pudesse responder-lhe, Harry puxou-o para a cozinha, enquanto lançava um olhar de desculpas à ruiva. Ela assentiu levemente, e viu-os sair para o corredor. Levantou-se e foi até à única janela da sala, que ocupava quase toda a parede da sala. As ondas batiam fortemente no pontão de pedra negra, fazendo com que parecesse uma orquestra de tambores.
O seu olhar percorreu novamente a divisão, até cair numa fotografia pousada em cima da lareira. À medida que avançava, a imagem ia tornando-se mais nítida. O seu coração pareceu parar por momentos, ao ver que era Harry com uma mulher.
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Quando chegou à cozinha, fechou a porta atrás deles lançando depois um olhar de acusação ao amigo. Kevin sentou-se no balcão de mármore a olhar inocentemente para ele.
-Não fiz nada de mal...
-Ela ficou mais do que envergonhada, e tu sabes disso.
-Tens que admitir que ela é bem gira.
-Eu... o que é que uma coisa tem a ver com a outra?
-Não mudes de assunto. Agora vais chamá-la, enquanto que eu preparo as coisas aqui –disse Kevin ao mesmo tempo que se levantava.
Harry saiu da cozinha pensando nas palavras do amigo. Ela era até era bonita. Os seus cabelos ruivos, o seu rosto pintalgado de leves sardas, os seus olhos cor de amêndoa e mel, mas principalmente o seu sorriso. Radioso e...
Ele abanou a cabeça para espantar os pensamentos, e respirou fundo antes de entrar na sala. Quando abriu silenciosamente a porta, Ginny estava em frente da lareira a olhar para uma fotografia. Não precisava de vê-la, pois sabia-a de cor.
Estava ele de T-shirt vermelha e calças de ganga, abraçado ao amor da sua vida. Ela vestia um vestido rosa suave de alças finas, que lha chegava até ao joelho com um leve decote. O cabelo castanho dela estava solto chegando-lhe até aos ombros, e os olhos cor de âmbar tinham o mesmo brilho que o apaixonara, e como imagem de fundo havia um belo barco à vela.
Aproximou-se por trás de Ginny –É a minha mulher –disse ele suavemente.
O susto fez com que ela se desequilibrasse e se senta-se no sofá de onde se levantara minutos antes.
-Desculpe... eu não queria...
-Não se preocupe não tem importância –sossegou-a ele retirando-lhe a moldura das mãos, e voltando a colocá-la cuidadosamente no mesmo lugar.
-Não sabia que era casado –comentou ela curiosamente por ele ser casado, apesar do que escrevia nas cartas.
-Fui casado, com a mulher mais maravilhosa que alguma vez conheci –respondeu ele de olhar perdido.
O silêncio caiu sobre eles, até o moreno o quebrar –Venha, o jantar já deve estar pronto.
Ginny seguiu-o pelo corredor estreito de paredes brancas. Entraram por uma porta de madeira, e Kevin já estava sentado à mesa.
-Estava a ver que ia comer sozinho.
Os dois sorriram e ocuparam os seus lugares. Com o desenrolar do jantar, Harry tinha que admitir que Kevin estava certo em relação a ela. Era inteligente, e era capaz de falar de vários assuntos bastante bem, apesar de não perceber nada de barcos e de jardinagem. A sua voz era quase musical e continha um brilho peculiar nos olhos. Já iam a meio do jantar, quando o telemóvel de Kevin começou a tocar. Atendeu-o com o seu sempre bem-disposto “Olá!”, mas a pouco e pouco, o seu sorriso foi-se perdendo, até os seus lábios não passarem de uma linha.
-Calma eu vou já para aí. Sim diz ao... Calma, já estou a ir... Chama a polícia e espera por mim. Vá até já.
Levantou-se da mesa, deixando os outros dois a olhar para ele. –Onde é que vais?
-Lamento imenso, mas houve uma emergência. Tenho mesmo de ir.
-Agora? –perguntou Harry visivelmente em pânico.
-Agora! Ginny lamento imenso, agradeço por ter aceite o convite.
E com um aceno de cabeça, Kevin desapareceu de vista. Harry e Ginny entreolharam-se sem saberem exactamente o que dizer, por isso limitaram-se a terminar a refeição em silêncio.
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Num jantar tinha ficado a saber que ele gostava de correr, passear ao luar, ler e ir ao cinema. Nada sabia sobre a mulher, excepto a imagem dela. Nenhum deles tocara no assunto, e naquele momento, sem a presença de Kevin, a ruiva teve que se controlar para não começar a fazer perguntas.
A cabeça dela fervilhava de curiosidade, mas uma parte dela dizia que aquele não era o momento. Por isso, permaneceu em silêncio até terminar a comida italiana do restaurante da esquina.
-Então… -disse ele na tentaiva de quebrar o silêncio instaurado –está aqui por férias?
-Sim –respondeu rapidamente
A conversa terminou por ali, e o único som que se ouvia era o tique-taque do relógio de parede.
-Também é advogado? –perguntou ela inocentemente.
O moreno sorriu ligeiramente antes de acrescentar –Já fui.
-Perdeu o interesse?
-Não.
-Desistiu? –a ruiva agarrava-se aquela ponta para chegar o mais fundo possível, esquecendo-se totalmente do prato de massa à sua frente.
-Sim.
-Posso saber porquê?
-Assuntos pessoais. –o seu tom de voz indicava perfeitamente que o assunto terminava ali, e a mulher voltou a concentrar-se no prato.
Pouco depois ambos já tinham terminado a refeição, e Ginny ia começar a levantar a mesa, quando foi impedida por Harry.
-Desde quando é que os convidados trabalham depois do jantar?
-Não há problema nenhum.
-Está fora de questão. Eu fico com a parte da loiça –retorquiu ele.
Sem outra alternativa, a ruiva sentou-se novamente no seu lugar e observou o homem. A típica conversa trivial surgiu, para alívio dos dois, e só se aperceberam do avanço das horas, quando o relógio assinalou as onze horas.
-Obrigado pelo jantar –disse ela quando chegaram à ombreira da porta.
-Disponha. Só não se admire de nunca sermos nós a cozinhar.
Ela sorriu e já tinha chegado ao alpendre da casa, quando a voz do moreno se fez ouvir.
-A praia é lindíssima antes do pôr-do-sol.
A ruiva olhou-o sem saber o que dizer, fazendo com que Harry se apressasse a continuar.
-Estava a pensar… que se quiser… podíamos dar um passeio um dia destes.
Quando terminou, ele parecia mais atarantado consigo próprio do que ela. Não estava à espera de um convite, mas com um sorriso retorquiu –Adoraria.
E com um sorriso, a ruiva desapareceu na escuridão da noite, deixando o moreno a olhar o vazio com o peso da culpa a abater-se violentamente sobre ele.
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