Prefácio



¬ Prefácio ¬



- Ajude-me, Gina, por favor! O que eu devo fazer? – perguntou Tom para o céu infinito, para o vento ou para as montanhas ao longe.

O frio que congelava seus pés descalços não estava sendo sentido no momento. Os longos cabelos negros que rodopiavam ao toque do vento açoitava os olhos escarlates e grudavam no rosto pálido e molhado que olhava para cima. A capa pesada que lhe protegia as costas parecia ser tentada pelo vento a ser levada, embora relutasse. O quase silencioso jardim de Basilisk Hall parecia provocar o Lord das Trevas e a confusão e a dor que gritavam dentro dele.

Ele enfiou a mão dentro da camisa e pegou o metal estranhamente morno do pentagrama. Fechou os olhos, concentrando-se.

- Deusa Mãe – chamou, a voz trêmula. – Me deixa vê-la – pediu. – Me deixa falar com ela mais uma vez!

O pentagrama brilhou, como refletia agora a sua alma, um roxo enegrecido e cintilante entre os vãos de seus dedos longos. A corrente dourada que segurava o pingente levitou. O vento se tornou mais forte. O calor do sofrimento dentro de seu peito parecia diminuir, consolado pelo frio da noite que o envolvia cada vez mais.

Então ele abriu os olhos vermelhos e translúcidos.

Uma nuvem saiu da frente da lua cheia, banhando o terraço da Torre Oeste. Nesse momento, brilhou uma sombra do que fora uma mulher muito bela, o rosto jovem e os cabelos lisos e muito compridos que permaneciam assentados, embora o vento demasiado forte, e os olhos cheios de carinho pelo qual ele se apaixonara um dia. Ela deu-lhe um fraco sorriso e adiantou-se antes que este pudesse fazer alguma coisa, e abraçou-o.

Ele não conseguia fingir que não sabia chorar. No momento em que sentiu o abraço confortante da garota, um soluço fez doer sua garganta. Ele não conseguia acreditar, não suportava respirar. Queria morrer, para ficar junto dela pelo resto da eternidade…

Seus joelhos cederam devagar. Quando sentia que já estava parcialmente no chão, embora o abraço forte de sua amada não o tivesse deixado, sem abrir os olhos, falou.

- Por que você me deixou, Gina? – perguntou, a voz embargada.

- Eu não o deixei, meu amor, como não deixei a nenhum de vocês - respondeu ela, como uma estrela que diz tudo o que quer em silêncio, com sua beleza pálida no infinito negro.

- Eu não suporto viver sem você, minha garota…

- Sim, você há de suportar, Tom. Você há de suportar por mim e por nossos filhos, porque, se você não suportar por aqueles que você ama, quem vai fazê-lo? – disse-lhe gentilmente a garota, limpando seus olhos.

- Eu não sei mais o que fazer, Gina – confessou. – Eu sinto que meus filhos já não mais me querem mais como queriam antigamente. Eu os atrapalho ao existir…

- Cale-se – mandou ela, com firmeza. – Seus filhos te amam mais do que tudo. Julliet quer somente a sua felicidade, mesmo que sacrifique a dela para isso.

- Eu não quero que minha garotinha seja infeliz, Gina – disse ele, decidido.

- Então olhe para o seu coração, Tom. Quando achar o que quer, olhe para sua filha – respondeu-lhe Gina, aquela voz espectral de fazer estremecer a alma.

Ele fechou os olhos por um momento, procurando entender. Então, quando abriu-os, perguntou:

- Mas Gina… Eu não posso permitir que Potter e nossa filha… Ele não é bom para ela.

Gina sorriu calmamente.

Uma nuvem cobriu parcialmente a lua e o brilho pálido azulado que formava a imagem da garota vacilou um pouco.

- Tom… - suspirou, cansada. – Harry ama Julliet. Ela não se importa com guerras bobas que travaram nossas famílias por décadas. Nossa garota só quer ser feliz, Tom, assim como nós fomos.

Ele sentia uma lágrima molhar-lhe o rosto novamente. Doía-lhe lembrar de quando ele e Gina eram felizes, porque ele queria ser feliz de novo e sabia que não poderia…

- Então… O que eu devo fazer, Gina? – perguntou, por fim.

A garota abraçou-lhe mais forte e deu-lhe um beijo na testa.

“Quer o perdão de Harry e o carinho e respeito de Julliet. Então não tire dele o amor que eu o neguei no passado.”

A mulher levantou-se e ofereceu ajuda para que ele se levantasse. Ele aceitou, conformado de que aquilo era o mais próximo de uma despedida.

Quando ele encarou o brilho azulado meio marcado de castanho que era os olhos belos da sua mulher, e estes encararam o cinzento vívido e escuro dos seus, ele conseguiu dar um sorriso, que disfarçava sua dor. De qualquer forma, sofreria quando ela partisse novamente…

- Lembre-se de mim, Tom – disse ela, entre aquele sorriso fraco e ao mesmo tempo inebriante que estava estampado em seu rosto jovem.

- Eu lembrarei – respondeu ele, a voz rouca. – Sempre.

Ela abraçou-o novamente, encostando a cabeça em seu ombro, como sempre costumava fazer antigamente. Ele sorriu tristemente com aquilo.

Quando ela levantou a cabeça, deu um leve beijo em seus lábios insensíveis e disse:

- Eu estou sempre contigo, meu amor…

- Eu te amo.

- Encontre seu destino dentro de você, Tom, e tente ser feliz sem mim.

- Não sei se sou capaz.

- Eu sei que é – disse ela, num sussurro.

- Como? – perguntou, mal conseguindo pensar direito, mas querendo saber.

- Encontre à mim nos nossos filhos.

Então ela levantou os olhos, tão próximos dos dele, e Tom pôde ver a lua refletida neles. Ela não baixou-os, quando disse “Até logo, meu querido Tom” e desapareceu lentamente, como se dissolvesse-se em pequeninas estrelas brilhantes que desapareciam cada vez mais no escuro.

Até que só restou o escuro.

Ele e o escuro.


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Bem, enfim, está é a última parte da trilogia "O Filho das Trevas". Como eu disse no fim de "O Dragão Negro", quem não quiser suportar sofrimento alheio e preferir final feliz, que tome a mesma como final, pois não me resposabilizo por quem não goste. A fic pode ser depressiva, impressinoista e até irritante em certos pontos. O romance foi reduzido a lembranças. Esse é um drama puro.

Se mesmo assim você optou por ler, desejo-lhe boa sorte e paciência para continuar a leitura apesar da demora para atualizações e por motivos da própria história. Não está terminada e eu só postarei, por enquanto, até o primeiro capítulo. Atualizações surgirão depois que eu terminar, o que está longe, e ao decorrer da evolução e da velocidade em que passo o html. Combinados?


Beijos,

Arkanusa ;)

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