Capítulo VI



Hermione olhou para ele, incrédula.

- O que está querendo dizer?

Draco andou lentamente pelo quarto atapetado.

- O que você acha que estou querendo dizer? Creio que fui bastante claro.

- Você... Pretende... Usar a cama?

Draco se virou para ela. Estava ao lado da cama e levantou o pijama de flanela do travesseiro, olhando para ele com zombaria. Levantou-o, fingindo surpresa.

- Agora, o que você acha que é isso aqui? – Perguntou rindo.

Hermione apertou os lábios.

- Oh, pare de fazer gracinha, Draco! – Disse, irritada. – O que vamos fazer?

Draco sentou-se do outro lado da cama e começou a desabotoar a camisa, diante do olhar horrorizado de Hermione.

- Eu não sei o que você vai fazer, Hermione, mas eu vou para a cama. Como sabe, não dormi nada a noite passada e não tenho a menor intenção de ter a mesma sorte esta noite.

- Mas, Draco... – Hermione estendeu uma mão indefesa, andando inquieta pelo quarto. – Não podemos dormir juntos aqui!

Draco deu de ombros, tirando a camisa e revelando um dorso forte e bronzeado. Hermione afastou os olhos, enrubescida. Ela nunca o tinha visto sem camisa. Sua voz estava tensa quando falou:

- Por favor, Draco! Ponha o pijama!

Draco jogou descuidadosamente o pijama para o pé da cama. Depois se deitou de costas, estendendo os braços por baixo da cabeça, completamente à vontade.

- Você pode usá-lo. Eu nunca durmo de roupa.

- Você... – Hermione estava completamente em pânico. – Você não quer dizer que...

- Não quero dizer? – Draco voltou o rosto para ela, os olhos azuis brilhando e se divertindo com sua expressão de confusão total. – Não quero dizer que durmo pelado? Não... Não vou chocar sua alma puritana a esse ponto!

Hermione foi até a penteadeira, deixando lá a bolsa e tirando a fita de veludo que prendia seus cabelos, que, então, caíram como uma cortina de fios castanhos sobre o rosto. Com as mãos, penteou-os para trás.
Draco sentou-se e bocejou.

- Quer usar o banheiro primeiro? – Perguntou com naturalidade, e ela repentinamente virou-se para ele.

- Você está adorando, não está? Não se importa nem um pouco com os meus sentimentos!

A expressão do rosto de Draco endureceu e ele levantou-se.

- Ora, Hermione, você nos colocou nesta situação. É sua obrigação enfrentar tudo da melhor maneira possível.

- Mas não podemos dormir na mesma cama!

- E por que não? Ao contrário do que você pensa, eu realmente acho que existem coisas mais importantes do que... Meus instintos masculinos. No momento, a única coisa que quero é dormir!

Hermione, relutante, aproximou-se da cama, levantando a camisola. Era de flanela e alguns números maior que o seu manequim. Largou a roupa outra vez sobre o travesseiro e os lábios de Draco se moveram, num ligeiro sorriso.

- Eu, se fosse você, apostaria no pijama! Ao menos ele tem um cinto... – Comentou com ironia.

Hermione apertou os lábios contrariada. Depois falou:

- E você? O que vai vestir?

- Não se preocupe. – Disse Draco, encolhendo os ombros. – Eu me viro.

- Não quero ir ao banheiro. Você vai... E eu vou direto para a cama.

Draco olhou longamente para ela e depois concordou.

Hermione esperou até que a porta estivesse fechada e pôs o pijama. A calça era muito grande para ela, mas, como o próprio Draco dissera, ao menos tinha um cordão e ela o amarrou firmemente em volta da cintura antes de enviar o paletó enorme.

Nem se interessou em ver como havia ficado; afastou as cobertas e entrou embaixo dos cobertores no leito enorme. Seus pés encontraram a bolsa de água quente e ela suspirou. Em outras circunstâncias, se sentiria completamente aquecida e confortável.

Draco voltou alguns minutos depois e entrou no quarto sem bater e apagou a luz. Logo depois Hermione sentiu que a cama cedia ao peso dele.

Afastou-se o mais que pode, ficando espremida num lado da cama, o corpo rígido e contraído. Depois de alguns minutos, ouvia a respiração de Draco tornar-se mais regular e constatou, com um ridículo senso de anticlímax, que Draco estava dormindo...

Hermione teve a impressão de que levou horas para adormecer. Dormir colada à beira do colchão não era realmente uma posição confortável para uma pessoa relaxar. Sua indignação aumentou quando Draco moveu-se lentamente em seu sono e se deitou de costas, espalhando-se no espaço que ela havia deixado, nem ao menos percebendo que se encostava em seu corpo imóvel.

Hermione ficou com os olhos bem fechados, desejando que ele se afastasse, mas Draco parecia completamente indiferente a ela. Provavelmente, pensou revoltada, não estranhava a presença de uma mulher na cama, mas ela sempre havia dormido sozinha.

Finalmente, por pura exaustão, ela acabou dormindo, até que o barulho da Sra. Morgan, carregando uma bandeja com o chá, a perturbou. Mesmo assim, relutava em se mexer. Quando abriu os olhos, descobriu por que tinha se sentido tão aquecida e confortável: devia ter sentido frio durante a noite e tinha se aconchegado a Draco. Agora mesmo estava apoiada em suas costas, o braço em cima dele.

Com uma exclamação de surpresa, apressadamente retirou o braço e se sentou na cama, tentando retribuir o sorriso amável da Sra. Morgan. Draco nem se mexeu e a mulher falou baixinho:

- Não está mais chovendo, Sra. Malfoy. Agora, me diga, dormiu bem?

Hermione enrubesceu, ajeitando o enorme pijama junto ao corpo.

- Muito bem, obrigada. – Respondeu delicadamente. – E obrigada pelo chá.

- Ora, não foi nada. – Falou a senhora, descansando a bandeja ao lado da jovem. – O que seu marido prefere para o café? Ovos com bacon? Algumas salsichas, talvez?

- Isso... Seria ótima, Sra. Morgan. – Respondeu, aflita para que a mulher saísse e ela pudesse saltar da cama antes que Draco acordasse.

Assim que a Sra. Morgan saiu, Hermione levantou-se rapidamente. Então, ouviu a voz de Draco:

- Espere! Por que essa pressa? Está muito frio lá fora! – Segurou-a pelo pulso, impedindo-a de sair da cama.

- Ia me levantar antes que você acordasse...

Draco deu um sorriso meio irônico e falou:

- Esta situação é novidade, não é? Estarmos juntos na cama, depois de três anos de casados.

Hermione olhou muito zangada para ele, tentando sem sucesso se libertar.

- Pois acho que não é novidade para você! – Exclamou.

- Não?

- Não. – Hermione ainda tentava soltar seu pulso daqueles dedos firmes.
- Quero saber por que você acha que não é novidade para mim. – Falou ele, a voz fria e determinada.

Hermione olhava para ele, impotente, desejando não ter feito aquele tipo de comentário. Vivia dizendo coisas erradas.

- Draco, por favor, você está me machucando! Nós não temos muito tempo. A Sra. Morgan disse que o café estará pronto em meia hora...

- Para o inferno a Sra. Morgan! – Draco levantou-se, apoiando no cotovelo, e forçou-a a se recostar no travesseiro, aumentando a pressão em seu pulso. – Bem... – Sua voz estava rouca. – Não vai me contar o que sua mente tão inocente pensou de mim agora?

Hermione movia a cabeça de um lado para o outro.

- Você... Você, seu bruto! – Seus seios arfavam. – Eu... Eu vou gritar!

- Você poderia. Mas não vai. Imagine o que a Sra. Morgan pensaria se você gritasse.

Hermione olhava para ele indefesa.

- Draco, por favor... Deixe-me sair! Isto é... Isto é... – Hermione se calou. Estava perigosamente consciente da proximidade dele e da intimidade da situação. E, embora dissesse a si mesma que queria escapar, uma parte de seu ser resistia a essa saída lógica e sensata.

- Isto é... O quê? – Os olhos de Draco estavam presos aos dela, não perdendo nada da emoção que transparecia em seu rosto. – O quê? – Perguntou friamente. - Inconseqüente? Talvez perigoso? – Deu uma risadinha. – Oh, Hermione! Quem você pensa que está tapeando? Honestamente, você pensa que não sei o que se passa dentro dessa linda cabecinha? Pensa que não percebi como você se sentiu quando eu a consolei ontem à noite, no estacionamento? – Seu tom de voz agora era de desprezo. – Pensa que não conheço bastante as mulheres para perceber quando elas ficam interessadas num homem? Toda essa absurda indignação... Essa raiva fingida! É tudo falso! E só tem uma finalidade... Uma finalidade apenas: fazer com que e ume interesse por você do mesmo modo que está interessada em mim!

- Como ousa dizer uma coisa dessas?! – Exclamou Hermione, horrorizada. Ela estava fora de si de tanta raiva. – Não julgue os outros pelos seus próprios padrões!

- E por que não? – O olhar ardente de Draco passeava pelo rosto dela, descendo pelo pescoço até onde a gola do imenso pijama se abria. – Não é verdade?

O corpo todo de Hermione ardia sob aquele olhar e, então, subitamente ele a soltou, saindo da cama e vestindo a calça de camurça sobre a cueca boxer com a qual havia dormido.

Hermione ficou no mesmo lugar onde ele a deixara, sem perceber que lágrimas de humilhação estavam prestar a saltar. Não importava o quanto protestasse, tinha de admitir que ele não estava muito longe da verdade. Ela estava apaixonada por Draco!


- Então, finalmente você chegou, homem! – Falou Ndana, sorrindo largamente, aproximando-se para cumprimentar Draco quando este saiu do carro. – Já estávamos começando a duvidar.

Draco apertou a mão de Ndana calorosamente e bateu em seu ombro com familiaridade, o que não deixou dúvida em Hermione: aqueles dois se conheciam melhor do que ela imaginava.

- Mas que viagem, Lucien. – Comentou Draco, ironicamente. – Deus! Será que você e Rose não podiam ter arranjado um refúgio em Notting Hill ou em St. John’s Wood?

Lucien Ndana ria, divertido.

- Mas, Draco, você sabe muito bem que nós gostamos de voltar para a selva sempre que podemos!

Draco deu uma gargalhada e Rose Ndana acompanhou-o. Por um momento, Hermione sentiu-se completamente isolada. Lucien olhou para trás de Draco, naquele momento, e sorriu para Hermione. E, como se só naquele momento se lembrasse de sua mulher, Draco pegou no braço de Hermione e, trazendo-a para o grupo, apresentou-a com muita delicadeza.

- Ela é linda, Draco! – Comentou Lucien, depois de olhar algum tempo para Hermione. – Mas não me surpreende... Tudo o que você escolhe tem que ser o melhor! – Com relutância, soltou a mão de Hermione. – Espero que você se divirta neste fim de semana, Hermione. Nós prometemos não falar de negócios o tempo todo!

- Tenho certeza de que vou gostar muito. – Disse Hermione com simpatia.

Rose Ndana falava pouco, mas sorria amigavelmente. E quando todos entraram em casa chegando ao vestíbulo cheio de flores e com paredes forradas de mogno, ela sugeriu mostrar a Hermione o quarto deles, enquanto Draco iria com Lucien tomar um drinque.

- Acho uma boa idéia. Draco pode pegar as malas depois. – Falou ela.

- Oh, Mujari vai pegá-las. – Rose disse, guiando Hermione escada acima. – Pronto... aqui está seu quarto. Gosta?

O coração de Hermione pulou no peito quando Rose abriu a porta, bem depois do topo da escada, e deixou que ela entrasse na frente. Era um quarto grande, claro e agradável, com mobília clara, colcha e cortinas estampadas. Havia duas camas.

- É... – Hermione deu um suspiro de alívio. - É mesmo lindo!

Rose sorriu encantada.

- Fico feliz que tenha gostado. Agora vamos; venha conhecer as crianças!

Hermione ficou surpresa. Rose não parecia ter idade para possuir uma família!

- Você já tem filhos?

- Sim. Draco não contou a você? Três... Por enquanto. – Falou, colocando a mão no ventre. – Vamos conhecer as crianças!

Rose seguiu à frente, pelo hall revestido por painéis de madeira, e entrou num quarto no fundo do corredor, onde uma moça esguia e de cabelos ruivos estava fazendo o possível para controlar três crianças muito excitadas.

- Entre, Hermione. – Disse Rose sorrindo. – Esta é Gina. Gina, esta é a Sra. Malfoy, esposa de Draco Malfoy.

Gina endireitou-se para encarar Hermione. Tinha a mesma altura de Hermione, mas era mais magra, com ombros e ancas estreitos. Duas das crianças ainda agarravam suas mãos, uma das quais não devia ter mais do que uns dez ou onze meses, as pernas ainda inseguras, enquanto o menino devia ter por volta de três anos. A terceira, uma menina de quatro ou cinco anos, tinha corrido para a mãe quando Rose entrou no quarto.

- Como vai? – Murmurou a moça educadamente, mas não havia calor em seus olhos. Pelo contrário, encarava Hermione de maneira hostil.

Rose pareceu não perceber a tensão no ambiente e perguntou, alegre:

- O que acha dos meus queridos? – Olhou para a pequena que se agarrava a sua saia. – Esta é Ruth, aquele é Joseph, o que está com Gina. O bebê chama-se James. – Sorriu e abaixou-se para pegar o caçula. – Alô, queridinho. Está sendo bonzinho com Gina?

Hermione tentou recuperar o controle, sob o olhar crítico da babá.

- São lindos! – E estava sendo sincera.

- Sim, são mesmo! – Exclamou Rose, satisfeita. – Eu e Lucien temos muito orgulho deles. E Gina é um tesouro, claro!

- Tenho certeza de que sim. – Hermione umedeceu os lábios com a língua. – Está há muito tempo com a Sra. Ndana, Gina?

- Dois anos. – Respondeu Gina, indiferente.

- Desde que chegamos à Inglaterra. – Explicou Rose. – E espero que Gina vá conosco para Tsaba, quando tivermos de voltar. Não é mesmo, Gina?

- Eu gostaria muito. – Falou Gina calorosamente.

Hermione notou que, quando olhava para a patroa, Gina tinha outra expressão, talvez mais amigável... Rose tocou delicadamente em seu ombro e depois virou-se para Hermione.

- Bem, vamos voltar. Os homens devem estar imaginando onde nos metemos.

Foi só quando estavam descendo as escadas que Hermione se lembrou de alguma coisa que Rose havia dito. Quando apresentou Hermione a Gina, ela a chamou de Sra. Malfoy! E, depois, explicou que Hermione era a esposa de Draco Malfoy. Como se Gina conhecesse Draco... Como Draco!

Hermione sentiu um aperto no coração. Será que Gina conhecia seu marido? Será que o conhecia bem? E, como era óbvio que Draco já tinha visitado os Ndana outras vezes, por que a trouxera com ele desta vez?

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