Capítulo V




Draco já havia deixado a via expressa e agora dirigia por uma estrada sinuosa da montanha. O aquecedor do carro estava desligado, mas Hermione sentia-se confortavelmente bem.

- Quanto tempo ainda falta para chegarmos?

- Achei que, a estas horas, já estaríamos lá. Começo a achar que pegamos a estrada errada...

- Quer que eu verifique no mapa?

Como Draco fez um aceno afirmativo com a cabeça, Hermione inclinou-se para frente e tirou o mapa do porta-luvas. Acendeu então a luz interior e rapidamente investigou o lugar onde deveriam estar.

- Esta é a estrada de Llandranog. – Assegurou com firmeza.

- Droga! Por que não sinalizam melhor as estradas? Devemos ter andado uns vinte quilômetros desde que eu vi a última placa.

- Podemos não ter visto as placas...

Hermione apagou a luz do carro e mergulhou mais uma vez no silêncio. Minutos depois ela viu luzes logo adiante e falou, animada:

- Será que é a vila?

- Não parece. Parece mais uma casa isolada.

- Bem, pode ser Llandranog! – Comentou Hermione, encolhendo os ombros. – De acordo com o mapa...

Foi aí que viram uma entrada lamacenta, com um grande portão e uma placa bem acima dele. Draco parou o carro e falou:

- Vou ver o que diz a placa! – Abriu a porta e pulou para fora. Imediatamente sua bota de camurça entrou até o tornozelo na lama e Hermione o ouviu praguejando antes de bater a porta e sair se equilibrando no chão escorregadio até o portão.

Hermione teve vontade de rir, mas se controlou. A idéia de Draco pisando descuidadamente na lama de repente parecia irresistivelmente cômica.

Quando Draco voltou, disse:

- Você tem alguma idéia do que está escrito na tabuleta em cima do portão? – Perguntou, a luz iluminando seus traços duros. – Diz, adivinhe só... Llandranog! Fazenda Llandranog! Não Llandranog!

Hermione pegou o mapa e Draco perguntou:

- Há quantos quilômetros saímos de nossa rota?

Hermione olhou o mapa atentamente e disse:

- Uns... Uns vinte quilômetros.

- Ok! Vamos voltar!

- Eu... Eu sinto muito. Não pensei que pudessem existir dois nomes tão parecidos!

- Nem eu. – Draco deu um sorriso. – E não é sua culpa. Nós dois olhamos o mapa...

Hermione sorriu, sentindo a tensão se dissipar.

Draco girou a chave para dar partida no motor. Mas, quando engatou a marcha e soltou a embreagem, as rodas traseiras giraram inutilmente. Com determinação, engatou a marcha ré, mas novamente as rodas giraram em falso na lama.

- Parece que temos problemas... – Ele sussurrou, de maneira meio cínica.
Hermione sentia a tensão dominar todo seu corpo. Não podia deixar de reconhecer sua culpa e gostaria de poder ajudar de algum modo. Draco abriu de novo a porta, saiu do carro e disse para Hermione:

- Sente-se no banco do motorista, Hermione, e solte o freio. Ponha na marcha e pise no acelerador quando eu mandar, ok?

- Ok.

- Pronto! – Gritou, e Hermione, soltando a embreagem, pisou firme no acelerador.

Mas as rodas giravam no mesmo lugar e ela ouviu a exclamação de raiva de Draco antes de ele gritar.

- Chega! Chega! Desligue.

Hermione inclinou-se na janela e viu Draco vindo em sua direção. Estava coberto de lama, da cabeça aos pés, e o risinho tolo que ela tinha engolido antes explodiu, incontrolável.

Draco parou ao lado da janela, olhando com cara de zangado para ela.

- Está achando muito engraçado, não é?

Hermione meneou a cabeça, mal ousando falar.

- Você... Você está todo coberto de lama, Draco. – Falou, muito sem jeito. – Sinto muito, mas você está realmente engraçado.

- Ah, é? – Draco passou as mãos molhadas no rosto. – Muito bem, beleza, tente você, então!

- Eu? – Hermione olhou para ele, incrédula. – Não pode estar falando sério!

- E por que não? Estamos juntos nessa embrulhada!

- Não vou me atolar na lama só para você poder rir também! – Disse ela, voltando para seu lugar.

Draco hesitou. Depois, olhou para o caminho que ia até Llandranog e que ainda estava com as luzes acesas.

- Talvez o dono da fazenda possa nos ajudar a sair daqui. Depois desta última tentativa estamos completamente atolados.

Hermione ficou tão aliviada por ver que ele não ia forçá-la a empurrar o carro, que apoiou a idéia entusiasticamente.

- Oh, sim, talvez! Quem sabe ele tem um trator, uma corda, ou coisa parecida. Ele pode nos puxar para fora. Oh, é uma ótima idéia!

- Bom. – Falou Draco, abrindo a porta do carro. – Achei que fosse gostar muito da idéia. Vá até lá e fale com ele!

- Eu?

- Sim! – Draco acendeu uma cigarrilha. – Ficarei aqui para o caso de aparecer alguém.

Hermione mordia o lábio.

- Mas não posso ir até a fazenda. – Insistiu. – É muito longe! Oh, você não pode estar falando sério! – Hermione olhou para ele, esperançosa. – Está dizendo isso só para me assustar!

- Falo sério, Hermione. Não posso ir lá todo sujo! Você vai.

- Pois me recuso! – Disse Hermione, e levantou a cabeça teimosamente.

- Se recusa? Realmente se recusa?

Draco inclinou-se sobre ela, abriu a porta e empurrou-a para fora. Então, bateu a porta e trancou-a por dentro para que ela não pudesse entrar.
Hermione estava horrorizada e começou a bater freneticamente nas janelas.

- Draco, deixe de ser miserável! Deixe-me entrar! Estou ficando completamente ensopada!

- Corra até a fazenda, então! – Gritou para ela. – Vá em frente! O exercício vai lhe fazer muito bem!

Hermione sentiu-se extremamente irritada e ao mesmo tempo humilhada com a atitude de Draco. Mas se ele pensava que iria castigá-la, estava muito enganado! Respirou fundo e começou a andar na direção da fazenda.

Ao se aproximar da sede da fazenda, ouviu o barulho dos animais num curral próximo e o latido de um cachorro anunciando sua chegada. Mas ouviu também um som ainda mais perturbador: atrás dela ouvia uma respiração pesada e passos na lama.

O pânico tomou conta de Hermione e ela começou a correr desesperadamente em direção às janelas protegidas por cortinas, atrás das quais a luz quente brilhava. Quando já estava alcançando a porta, uma mão firme agarrou seu braço e ela quase perdeu o fôlego ao ver Draco, passando na frente para bater na porta.

- Você... Você... – Sussurrou ela. – Esteve me seguinte o tempo todo?
Draco levantou as sobrancelhas, o rosto irônico iluminado pelas luzes da casa.

- Não pensou que eu fosse deixar você vir até aqui sozinha, pensou?

- Mas... Mas... – Hermione estava completamente desorientada. – Por que então me obrigou a vir? Por que não podia me deixar no carro?
- Você gostaria de ser deixada lá? – Perguntou, mexendo os ombros. – Sozinha, no escuro, naquela estrada solitária?

- Bem...

- Quis dar uma lição em você, foi só isso. – Draco deu um ligeiro sorriso. – E acho que consegui, não concorda?

- Oh, eu odeio você! – Gritou Hermione.

Nesse exato momento a porta se abriu e vários cachorros pularam em suas pernas.

O homem que abrira a porta ordenou com autoridade aos cachorros que entrassem, depois olhou com curiosidade para seus visitantes enlameados.

- Em que posso ajudá-los? – Falou, franzindo a testa.

Draco deu um passo à frente.

- Sinto muito incomodá-lo a esta hora, mas meu carro caiu numa valeta, bem em frente da entrada de sua fazenda. Imaginei que talvez o senhor pudesse arranjar uma corda. – Continuou apressadamente. – Eu... Eu bem... Como pode ver minha mulher e eu estamos ensopados.

- É melhor entrarem. Vamos tomar uma xícara de chá.

Entraram em uma sala ampla, cuja lareira transmitia calor por todo ambiente. O Sr. Morgan apresentou-os à esposa dele e pediu que ela preparasse chá para todos. Então, Draco contou a ele sobre o erro que cometeram a respeito do nome da estrada.

- Vocês não são os primeiros a cometerem esse erro. Sempre temos problemas por causa disso. – Franziu a testa, preocupado. – Bem, eu poderia pegar o trator e puxar seu carro para fora, mas vai levar tempo, e esses amigos com quem vão passar o fim de semana devem estar preocupados. Talvez o melhor seja telefonar e explicar tudo o que aconteceu. Se quiserem, podem passar a noite aqui. De manhã, quando a chuva tiver parado, vocês irão facilmente para Llandranog. No escuro... Bem, são capazes de errar o caminho novamente.

Draco olhou para Hermione rapidamente. Depois, respondeu:

- É muita bondade, senhor, mas não podemos lhe dar esse trabalho...

- Ora, garanto que a Sra. Morgan vai concordar comigo: não é trabalho algum! – O velho fazendeiro sorriu amigavelmente. – Não recebemos muitas visitas por aqui e nossos filhos já estão criados e têm suas próprias famílias. Lugar existe bastante. Tenho certeza de que a Sra. Malfoy não achará agradável descer aquele caminho outra vez hoje à noite, não é mesmo?

Hermione mordeu o lábio e olhou para Draco, sem saber o que responder. Não podia pensar em nada mais agradável do que ficar ao lado daquele fogo reconfortante durante o resto da noite e depois ir para uma cama confortável, sem ter de enfrentar novamente o mau tempo.
Draco parecia preocupado. Tinha tirado seu abrigo de pele de carneiro e estava sentado do outro lado do fogo, secando os cabelos que, despenteados, caíam atraentemente em sua testa.

- Eu... Eu não sei o que dizer... – Hermione tinha começado a falar.

- Realmente, acho melhor irmos em frente, Sr. Morgan. Vai lhe causar muito transtorno...

A Sra. Morgan entrou naquele momento trazendo uma bandeja com um bule de chá e quatro xícaras. Enquanto ela servia o chá, o marido contou o que haviam conversado. Então, ela disse:

- Bem, podem ter certeza, não é transtorno algum. Como Owen disse, será difícil vocês encontrarem o caminho à noite.

- Acho que vai ser bem mais fácil achar o chalé pela manhã. – Hermione disse, olhando para Draco.

- Disso eu sei. – Falou Draco secamente, o maxilar apertado. – Mas pensei que você quisesse chegar logo lá.

- Eu? Não especialmente. – Hermione não compreender o que ele estava querendo dizer. – Por quê?

Os olhos de Draco brilharam numa fração de segundo.

- Muito bem, se você prefere... – Concordou afinal.

Hermione tentou controlar sua impaciência. Draco estava deliberadamente deixando que a decisão partisse dela. Por quê?

- Ótimo. Fico muito feliz em poder ficar aqui. – Declarou então, decidida.

- Bem, então vou até o carro buscar as coisas.

- Não, espere, rapaz. – O Sr. Morgan também se levantou. – Está chovendo muito. Tenho certeza de que, por uma noite, vão conseguir se arranjar sem as suas coisas. Dilys pode conseguir alguma coisa para sua mulher vestir, tenho certeza, e eu tenho pijamas que vão servir em você.
Draco hesitou. Depois pareceu tomar uma decisão, pois sentou-se novamente e terminou o chá que a Sra. Morgan havia servido para ele.

- Muito bem. Tenho certeza de que apreciaremos sua gentileza, não é, Hermione?

Hermione concordou com um sorriso, mas sentiu que Draco estava se divertindo à sua custa por alguma razão.

A Sra. Morgan pegou os casacos e levou-os para secarem na cozinha, e o Sr. Morgan levou Draco até o telefone, para que fizesse a chamada. Hermione sentou-se ao lado da lareira. Quando a Sra. Morgan voltou, ficou conversando animadamente com Hermione.

- Está tudo resolvido. – Disse Draco, assim que voltou à sala. – Eles nos esperam de manhã, logo após o café.

- Quando quiserem, eu lhes mostrarei o quarto. – A Sra. Morgan falou. – Vou separar algumas roupas de dormir.

Dizendo isso, saiu da sala. Só então Hermione se deu conta do que estava de fato acontecendo: ela e Draco iriam dormir no mesmo quarto! Na mesma cama! Era esse o motivo de ela ter achado que ele estava zombando dela!


O quarto que a Sra. Morgan havia destinado a eles era enorme, de teto muito alto, e tinha uma cama imensa, que Hermione só conhecia de ver em antiquários. Em cima dos travesseiros havia uma camisola enorme e um pijama de flanela.

- Acho que vão ficar confortáveis aqui. – Disse a Sra. Morgan. – Coloquei bolsas de água quente embaixo das cobertas e há mais cobertores naquele banco, se sentirem frio.

- Tenho certeza de que está perfeito para nós, Sra. Morgan.

- Sim, acho que sim. Agora, o banheiro fica do outro lado do corredor. É aquela porta ali. – Apontou. – E há bastante água quente se quiserem tomar banho pela manhã.

- Muito obrigada! – Hermione esforçou-se em dizer.

Quando a Sra. Morgan saiu, Hermione virou-se para Draco, com uma expressão de completa frustração no rosto.

- Você sabia! – Murmurou furiosa. – Sabia que os Morgan nos dariam um quarto de casal...

Draco baixou os olhos para ela, divertido com sua expressão assustada.

- É lógico que sabia. E, se tivesse juízo, você deveria ter pensado nisso também. Mas estava tão envolvida pela sensação de calor e bem-estar que não parou para pensar. A verdade é que temos somente uma cama! E eu, já vou avisando, não pretendo dormir no chão!

Espero pelos coments!!! Sem coments, sem new cap!!!

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