Capítulo 11



CAPÍTULO 11:

Se segurava ao máximo para não cair na risada, há horas ela vinha falando sem parar. O discurso era em sua maioria composto por reclamações, lamúrias e pequenas ameaças.
O que o ciúme fazia com as pessoas.

O pior é que a situação deles era extremamente complicada, de um lado o melhor amigo e do outro a cunhada, a irmã no caso de Ron. Não pode deixar de admirar a atitude dele, durante todo o tempo em que Ginny estava na casa, diferentemente da esposa que visivelmente se divertia com a situação, ele tinha optado por uma postura neutra, ouvindo atentamente os reclames da irmã e completamente solidário a ela.

Voltou a prestar atenção ao que Ginny dizia.

-Agora ele passa o tempo inteiro falando do pai – disse emburrada – É como se eu nem existisse mais! – completou exagerada.

-Ginny isso é simplesmente ridículo – a cunhada lhe lançou um olhar mortal, mas ela não se intimidou – É claro que Matt não a esqueceu, ele só está encantado com o pai, o que é mais do que natural.

-Hermione tem razão Ginny, não se preocupe à-toa! – Rony tinha a mão posta sobre o ombro da irmã, como para confortá-la.

-O que me preocupa é que ele está animado demais, imagine como ele vai ficar se Harry for embora de novo? – perguntou pelo que parecia ser a milésima vez.

-Ginevra! Não seja teimosa. Já lhe disse que ele não vai fazer isso, Harry percebeu o quanto perdeu indo embora, ele aprendeu com o erro – estava irritada com a insistência da ruiva nesse ponto.

-Como você sabe, hein? – deu um bufo de impaciência.
-Eu o conheço! – afirmou em tom de desafio.
-Claro que conhece – a frase foi carregada de ironia - Você também dizia isso antes dele ir e quando ele foi, ficou tão surpresa quanto todos nós, então não venha me dizer que o conhece! – devolveu a ruiva em tom exaltado.
-Agora você vai julgá-lo para sempre de um jeito, por UM erro que ele cometeu?
-Vou! – Rony olhava de uma para outra, assustado, era muito difícil vê-las brigando.
-Você é perfeita não é Ginevra?! Nunca cometeu nenhum erro – a morena tinha se levantado, as duas mãos na cintura.
-Não sou perfeita – a outra também de pé, tinha assumido a mesma pose da cunhada – Mas com certeza nunca deixaria para trás as pessoas que eu amo e quem faz isso uma vez pode fazer a segunda.
-Tire isso da cabeça, Harry não vai abandonar Mathew, ele é o que ele sempre quis ter, Matt é a família dele.
-E nós? O que nós éramos? Não era ele mesmo que dizia que nós éramos a família dele? Ou você se esqueceu, convenientemente, disso só pra proteger o seu irmãozinho?
-Ginny – Ron pela primeira vez se intrometeu na discussão – Acredito no que a Mione disse, também acho que Harry aprendeu o suficiente, não vai cometer o mesmo erro.
-Você também vai defendê-lo agora?! – ela estava indignada – E aquele papo de que sempre ia ficar do meu lado, não importa o que acontecesse?
-Minha irmã, você sabe que ainda continua sendo assim, só acho que você está um pouquinho descontrolada – se retraiu ao receber o olhar fulminante da irmã, tratou de acrescentar – mas isso é perfeitamente compreensível, você está com ciúmes – olhou para a mulher como se perguntasse se estava certo, a resposta foi um aceno de cabeça – só isso.
Com o rosto em brasa a ruiva olhou de um para outro e depois disparou:
-O trio maravilha, sempre leais uns aos outros, não é mesmo? – a expressão de fúria se transformou em decepção – Não sei como ousei pensar que essa lealdade um dia pudesse ser direcionada a mim.
-Ginny... – Ron tentou se aproximar da irmã, mas ela recuou.
-Esquece Ronald, é bom que tudo tenha ficado claro, sei que de agora pra frente estou sozinha, sempre foi assim.
Hermione a olhava incrédula.
-Dê um beijo em Anne por mim – Hermione se pôs na sua frente impedindo-a de chegar a saída – Não quero mais discutir com você – tinha virado o rosto para não encarar a cunhada – deixe-me ir.
-Não! - se aproximou da cunhada, dificultando mais ainda a sua passagem – Olhe pra mim!
Depois deu um suspiro encarou Hermione, a cunhada tinha os olhos rasos de água, assim como ela.
-É isso que pensa de nós dois? Acha que por que Harry voltou nós vamos deixá-la de lado? – a voz estava embargada.
A ruiva abaixou os olhos, o movimento fez com que uma lágrima manchasse seu rosto.
-Responda Ginevra! Acha que eu e seu irmão seríamos capazes de uma coisa dessas?
-É...
Rony novamente olhava de uma para outra, espantado com a semelhança que a mulher tinha com a sua mãe.
-Escute aqui – enquanto uma das mãos permaneceu na cintura, a outra subiu para manter o dedo em riste – Nunca mais se atreva a dizer ou pensar uma coisa dessas. Você disse que Harry é meu irmãozinho, é verdade, como também é verdade que VOCÊ é minha irmãzinha, diga-se de passagem, a melhor que alguém poderia ter. Quem é que me consolou quando o legume aqui – apontou para o marido sem encará-lo – começou a namorar a insuportável da Lilá?
Ginny soltou um riso esquisito pelo nariz e com uma das mãos enxugou uma lágrima.
-Eu... – respondeu bem baixinho.
-Quem me ajudou a fisgá-lo?
-Eu...
-Quem é que me escuta e me ajuda a difamar o ruivo quando ele volta a se comportar como um legume insensível? – Rony resmungou contrariado por ter sido chamado pelo antigo apelido, ambas o ignoraram.
-Eu... – enxugou mais uma lágrima, enquanto ria do apelido do irmão.
-Quem foi desde sempre a minha melhor amiga? – Rony resmungou alguma coisa sobre elas só terem se aproximado no terceiro ano de Mione, o segundo de Ginny, mas foi novamente ignorado.
-Eu? – dessa vez a afirmação soou como uma dúvida.

-É claro que é você ruiva – Hermione abraçou a cunhada que retribuiu o gesto – Como eu disse, a melhor irmã que alguém poderia ter.

-É claro, vocês não têm irmãs para comparar – disse Rony enquanto encolhia os ombros.

As duas deram um bufo de impaciência ao mesmo tempo.

-Ronald, todos os comentários que você fez até agora foram absolutamente dispensáveis – Hermione ainda estava abraçando a cunhada.

-É... – concordou Ginny – Cala a boca, Roniquinho!

Hermione se afastou do abraço e segurando o rosto de Ginny com as duas mãos disse:

-Nunca duvide do nosso amor ou da nossa lealdade por você. Nós sempre estaremos do seu lado, mesmo quando você mesma não estiver, como é o caso agora – a ruiva lhe lançou um olhar de incompreensão – Você está se comportando como uma criança birrenta ou pior como uma pessoa despeitada, isso não é digno de você, tenho certeza que se parar pra pensar, você mesma vai achar sua atitude ridícula.

-Eu sei... desculpe... Admito que estou com ciúme. É que eu tenho medo Mione, e se Mathew não quiser mais saber de mim? Ele é tudo o que eu tenho, ele é a minha vida – concluiu e voltou a recostar a cabeça no ombro da amiga.

-Ginny – Hermione acariciava os cabelos rubros – Você é a mãe de Matt, Harry nunca vai poder exercer essa função, entende? – sentiu a amiga roçar a cabeça no seu ombro, movimento que considerou como sendo de afirmação – É simples assim, ele é o pai e você a mãe, nenhum pode ocupar o lugar do outro. E outra, sabe por que Matt está tão animado assim? – a ruiva levantou a cabeça para poder encarar a cunhada, secou os olhos com as pontas dos dedos e fez um sinal de negação – Por que agora ele tem vocês dois!

-Isso mesmo, minha irmã – Rony ignorou os olhares mortíferos que as duas lhe lançaram e continuou – É claro que Matt sempre esteve satisfeito com a família que tem, mas pense como ele deve se sentir bem tendo o pai por perto?! Por mais que ele nunca tenha reclamado, ele devia sentir falta do que todos os primos tinham, uma mãe e um pai... O que foi? – perguntou fazendo uma careta ao ver a mulher e a irmã boquiabertas.

Vendo uma oportunidade de zombar do irmão e desanuviar o clima, Ginny se soltou do abraço da cunhada e jogando as mãos para cima disse:

-Aleluia! Até que enfim alguma coisa realmente relevante saiu da sua boca, Roniquinho.

-Ora, meus comentários sempre são relevantes, não tenho culpa se vocês não são capazes de apreciá-los – a frase foi dita no conhecido tom isento de modéstia.

Balançando a cabeça e encarando Ginny, Hermione fazendo uma expressão muito triste soltou:

-Foi bom enquanto durou.

As duas mulheres caíram na gargalhada, enquanto o ruivo reclamava “injustiçado”.

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De um em um minuto ele ia olhar na janela, estava extremamente ansioso.

-Matt se acalme!

Após dar mais uma olhadinha pela janela, o menino se virou para a mãe.

-Mamãe, o meu pai tá demorando muito, será que ele não vem mais?

-É claro que ele vem – “É melhor que venha... para o bem dele”, pensou enquanto disfarçava a raiva, dando um sorriso para o filho.

Desde o dia da conversa na casa do irmão, vinha tentando conter suas crises de ciúme. Harry continuava a fazer visitas diárias a Toca depois do expediente. Com o sucesso do passeio ao jogo, os momentos entre pai e filho, eram bem diferentes dos anteriores.

Era palpável a avidez que um tinha em conhecer o outro, a conversa deles parecia um jogo de perguntas e respostas, quando um estava contando uma história o outro mantinha total silêncio enquanto, com os olhos brilhando e um sorriso de satisfação nos lábios, apreciava admirado cada palavra dito pelo narrador em questão.

Às vezes ela ficava hipnotizada pela paisagem que pai e filho, este invariavelmente sentado no colo do outro, formavam quando estavam juntos, tamanha era a beleza da visão. Não conseguia refrear um sorriso quando Harry, e isso já havia se tornado um hábito, repentinamente interrompia o menino para lhe dar um abraço apertado e beijar o alto da sua cabeça, Matt retribuía o gesto tentando abarcar todo o tronco do pai com seus braços curtos.

Ela se comovia com o carinho e atenção que Harry dispensava ao filho. Sabia que Mathew era uma criança adorável, capaz de encantar qualquer um, mas mesmo assim se impressionava como um amor tão intenso, como o que o moreno demonstrava pelo menino, pudesse ter surgido em tão poucos dias de convivência.

Mas obviamente, toda a sua comoção estava guardada bem lá no fundo no presente momento. Ao fim da visita na noite anterior, Harry havia prometido ao filho que na manhã seguinte viria buscar o menino para um passeio por Londres, o horário marcado já tinha passado há quase duas horas.

Viu Mathew sair da janela e vir se sentar na poltrona em frente a que ela estava, o garoto apoiou o cotovelo em um dos braços do assento e com a mão apoiou o queixo, tinha uma expressão triste no rosto, depois de alguns instantes de silêncio, se pronunciou.

-Mamãe, que horas são? – o menino repetia essa pergunta a cada cinco minutos.

-São onze horas, Matt.

Viu que o menino fazia um leve esforço mental, enquanto contava nos dedos.

-Então... – contou os dedos mais uma vez - ...meu pai esta duas horas atrasado, não é?

-É... – sentia uma dor no coração ao ver a tristeza do filho – Mas não se preocupe, se ele não fosse vir teria mandado Edwigges com um bilhete.

Mathew não se contentou com a resposta.

-E se ele me esqueceu, mamãe? – a voz saiu como um lamento.

-Vem cá, filho – Matt saiu da sua poltrona e veio se sentar no seu colo, imediatamente pegou uma mecha do cabelo da mãe para acariciar – Seu pai disse que viria, não disse?

-Uhum...

-Nos outros dias quando ele veio aqui e disse que voltaria no outro dia, ele sempre vinha não é?

-Uhum...

-Então, tenha paciência, daqui a pouco seu pai chega e vai lhe explicar por que se atrasou – o conselho parecia servir mais pra ela do que para o filho.

É claro que ela estava chispando com o atraso, mas não queria aumentar a angústia do filho, quando Harry chegasse, SE ele chegasse, ela teria uma conversa com ele sobre não prometer a Matt coisas que não pudesse cumprir.

Continuando a mexer nos cabelos rubros que tinha a mão, Matt recostou a cabeça no ombro da mãe, enquanto Ginny acariciava a cabeça do filho. Alguns minutos depois, o menino passou a balançar as pernas, e num arroubo se levantou para se dirigir novamente a janela.

Mal tinha terminado de se posicionar na ponta dos pés para avistar a área em frente à casa, Matt correu para abrir a porta e parado, segurando-a meia aberta gritou:

-PAAAAAAI!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ginny se levantou ao mesmo tempo em que Matt, terminando de abrir a porta, saiu em disparada ao encontro do pai. Chegando a varanda pode ver o filho pendurado no pescoço de Harry enquanto era rodado no ar. A brincadeira cessou e segurando a mão do garoto, o homem se aproximou de Ginny.

-Bom dia. – o ânimo com que cumprimentou Matt tinha desaparecido.

-Bom dia! – Harry estava sério, ela estranhou – Quer entrar um pouco?

-Não precisa, espero aqui fora mesmo – disse seco.

-Matt ainda tem que buscar a mochila dele no quarto antes de ir, é melhor que espere aqui dentro, se mamãe o vir plantado aqui na porta é capaz de ter um ataque.

-Tudo bem – estendeu a mão indicando que Ginny passasse primeiro, para em seguida entrar junto com o filho.

Definitivamente ele estava estranho. Nos últimos dias, desde sua conciliação com Mathew, os lábios pareciam estar constantemente curvados em um sorriso, sua expressão era de plena satisfação, muito diferente da de agora. Não que ela se importasse com ele, mas ela não podia deixar seu filho sair com uma pessoa visivelmente perturbada.

-Matt vá buscar suas coisas e só desça quando eu chamar.

-Mas mamãe, meu pai veio me buscar, nós vamos sair, eu não quero perder tempo – sabia que o filho estava ansioso para o passeio, mas tinha que conversar com Harry.

-Mathew, eu preciso conversar com o seu pai e isso não...

-...É assunto pra você – o menino completou a frase da mãe – conversa de adultos, já entendi – se encaminhou, resignado, para a escada.

Ginny se divertiu com a astúcia do filho, voltou sua atenção para Harry quando escutou o barulho da porta sendo fechada no andar superior. Antes que pudesse abrir a boca, Harry disparou:

-Me desculpe pelo atraso, houve um... imprevisto – a última palavra saiu num sibilo.

-Foi esse imprevisto que te deixou assim? – foi direto ao ponto, vendo que ele fez uma cara de “assim como?”, acrescentou – O que aconteceu pra te deixar tão irritado?

-Não estou irritado – sua voz saiu num sibilo

A ruiva levantou uma sobrancelha, numa expressão de ironia.

-É... Acho que você realmente não está irritado, foi só impressão minha.

Ficou o observando enquanto ele se largava numa poltrona e colocava a perna direita sobre o joelho esquerdo, cruzou os braços e passou a balançar o pé que havia ficado suspenso no ar, a pose tão característica de quando ele estava irritado. Ginny manteve um olhar zombeteiro sobre ele.

-Já disse que não estou irritado – no mesmo instante um dos quadrados de vidro que compunham a janela, foi estilhaçado.

Dessa vez ela não aguentou e riu do pequeno descontrole dele. Sem a cerimônia de sempre, com um único movimento de mão ela consertou o vidro. Geralmente evitava essas demonstrações de poder, mas com Harry não havia problema, já que ele também conseguia fazer isso.

-Fico imaginando o que seria da casa se você estivesse.

O moreno deu um bufo de impaciência.

-Você provavelmente não leu o Profeta hoje, não é? Com certeza não, se você estivesse no meu lugar não estaria com tanto bom humor.

-Harry, nada que saía naquele jornal abala meu humor, quer dizer, abala sim, algumas matérias me fazem dar boas risadas. Num dia ruim, não há nada melhor do que uma boa piada, não é?

-Ótimo que pense assim, infelizmente eu não consigo – diminuindo o volume da voz, como se um pensamento, sem querer, estivesse escapado de sua boca – ...eu não vou ficar quieto enquanto eles me difamam... Por que eles não me esquecem? – à indignação tinham se misturado o desespero e o cansaço.

-Harry, você já devia ter se acostumado a isso.

Ele pareceu não ouvi-la. Sem conseguir refrear o impulso, foi até ele, que mantinha a cabeça baixa enquanto soltava imprecações. Segurando o queixo dele com uma das mãos, fez com que ele a encarasse.

-Que tal fazer como eu e ignorá-los? Não deixe que eles estraguem seu dia com essas historinhas maldosas que contam – agora ele a escutava com atenção – Você falou em difamação... Você acha que as pessoas que realmente importam, aquelas que você ama, vão se fiar nas mentiras que eles contam para saber o que pensar de você?

Harry segurou a mão que ela tinha posto em seu queixo e de súbito se levantou, delicadamente aproximou o corpo da ruiva do seu.

-Responda você... – carinhosamente prendeu uma mecha do cabelo dela atrás da orelha e com o polegar da mão com que tinha feito o movimento, passou a acariciar o rosto da ruiva suavemente - ...Já que você e Matt são as pessoas que mais importam, as que eu mais amo.

-Harry... – não conseguiu falar mais do que isso, ele a olhava com intensidade.

Ela caíra na armadilha do hábito, o tipo de ato que se faz sem sentir, um movimento puramente automático, era assim que ela via a antiga mania de sempre querer consolá-lo, que sem que ela percebe-se, a levou a se aproximar de Harry momentos antes, e como conseqüência tinha a colocado ali, nos braços dele.

Durante todo o tempo da volta de Harry, exceto no primeiro encontro, ela não voltara a ter esse tipo de contato com o moreno. No trabalho o tratava com formalidade, nos almoços em que se juntava ao moreno para discutir a situação com Matt, ela sempre se colocava na posição de “sou apenas a mãe do seu filho”, podiam passar as duas horas, ou mesmo mais do que isso, quando não tinham nada pra fazer no escritório, falando de Mathew, mas nunca falavam deles, nem mesmo um aperto de mão tinha acontecido entre eles, um boa dia e um boa noite eram mais do que suficientes como cumprimento no início e no fim do expediente.

Ela sentia que sua determinação em sufocar qualquer sinal de afeto pelo homem a sua frente, vinha sendo abalada desde o início das visitas diárias que Harry tinha passado a fazer ao filho, mesmo sem querer, as lembranças do tempo em que os dois planejavam ter sua própria família vinham à tona quando ela via pai e filho juntos, e isso de alguma forma fazia com que ela abaixasse a guarda.

A carícia no rosto cessou, sua mão agora estava livre, em seguida, ela sentiu as mãos dele espalmadas sobre suas costas, então ele a apertou contra o seu corpo. Ginny tinha os braços dobrados e presos entre os dois corpos, suas mãos estavam erguidas, espremidas uma contra a outra em frente ao rosto de Harry, ela faria de tudo para não tocá-lo por isso suas mãos estavam tensas.

-Me responda Ginny... – ele delicadamente beijou suas mãos e com um movimento de cabeça as afastou para que pudesse ter acesso a pele do seu rosto, onde passou a depositar beijos suaves.

Ela tinha que dar um fim aquilo, não podia deixar Harry continuar, mas o calor que emanava ali era tão bom, como era confortável estar nos braços dele. No fundo sabia que era isso que a havia impedido de ter o mínimo contato físico com ele, desde o episódio do primeiro encontro, seu inconsciente se manteve alerta, pois sabia que o orgulho não seria capaz de suplantar o amor adormecido e a saudade que tinha dos beijos dele.

Ele a apertou mais um pouco, sentiu que os braços dele se movimentavam em suas costas, por fim um deles circundou sua cintura e a mão do outro foi posta atrás da orelha, a palma tocando parte do pescoço e da nuca, os dedos enfiados nos seus cabelos se movimentavam, proporcionando uma agradável carícia, tudo isso enquanto mantinha os beijos no seu rosto.

Sentiu seus lábios serem tocados pelos dele, seguiu-se uma seção de sucessivos afastar e encostar de lábios, como se estivesse pedindo permissão para um beijo mais aprofundado. Isso já tinha ido longe demais, ela não ia agüentar, tinha que sair dali, tinha que sair de perto de... Em mais um daqueles atos automáticos, sua boca passou a se movimentar junto com a dele, e com a permissão dela, o beijo já não era apenas um encostar de lábios.

Da primeira vez ela não tinha retribuído, mas agora além de beijá-lo com total entrega, o abraçava tão forte como ele a abraçava.

-Ginny!

A voz do patriarca dos Weasleys sobressaltou os dois, o homem que trazia nas mãos uma caixa de ferramentas, deixou o objeto cair, provavelmente devido à visão que teve.

-Me... desculpem – de maneira desajeitada Ginny se afastou de Harry – Eu... Uhm... Acho melhor eu ir lá para fora ajudar Molly na horta.

-NÃO! – a voz estava esganiçada, não queria que o pai saísse, se ele continuasse ali, ela conseguiria se manter longe de Harry – Fique para se despedir de Matt... – o pai olhou de um lado para o outro procurando pelo neto, então ela se lembrou que tinha o mandado subir – MAAAAATT!!!!

Imediatamente ouviu o barulho dos passos apressados de Matt, enquanto o menino saia do quarto e descia as escadas.

-Por Merlin! Achei que tinham me esquecido lá em cima – a indignação com que disse a frase logo foi substituída por ansiedade – Papai, estou pronto, já podemos ir.

Harry que estava estacado no lugar em que Ginny o deixara, essa já tinha tomado uma distância segura do moreno, só voltou a realidade quando o filho foi lhe puxando em direção a saída.

-Tchau vovô, tchau mamãe, até mais tarde – ele mesmo abriu a porta e saiu arrastando o pai, poucos instantes depois voltou a entrar e correu em direção a mãe e ao avô – Desculpem... – deu um abraço rápido nas pernas de cada um e já voltando á porta disse – ...eu tinha esquecido.

Depois do barulho da porta sendo fechada, um silêncio incomodo se abateu na sala. Sem graça, Ginny saiu das costas do pai, onde tinha se escondido de Harry, e o encarou, um discreto sorriso de satisfação estampava o seu rosto, entendendo o que aquilo significava ela tratou de esclarecer.

-Isso não significou nada, papai – precisa ser firme o suficiente para convencer o pai e ela mesma.

-Não... – o homem tinha uma das sobrancelhas erguidas, dando ao seu rosto uma expressão de ironia.

-Claro que não!

O homem retirou os óculos do rosto, os levantou contra a luz e depois os limpou com a ponta da camisa que usava, voltou a colocar os óculos no rosto.

-Sua mãe vive dizendo que eu devo limpar os meus óculos depois de mexer com aquelas máquinas trouxas lá no depósito... – a ruiva não entendeu a drástica mudança de assunto - ...diz que invariavelmente a sujeira confunde a minha visão, que passo a ver coisas... Acho que foi o que acabou de acontecer, acredita que eu jurava ter visto você e Harry aos beijos aqui na sala quando entrei?

-Ora, papai... aquilo... – estava desconcertada com a “indireta” dada pelo ruivo – bem... como eu disse não significou nada... foi uma... recaída – não achou palavra melhor para descrever o ocorrido.

-Recaída? – novamente a sobrancelha erguida, como aquele gesto era irritante.

-O que importa é que nunca mais vai voltar a acontecer... – sem dar espaço para que o pai lhe lança-se mais uma piadinha, começou a subir as escadas – Com licença, papai, tenho trabalho a fazer.

Subiu os degraus com passos pesados, como se assim pudesse esvair toda a irritação que estava sentindo.

“Maldito hábito”.

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Atordoado. Não definitivamente não era essa a palavra que melhor definia o que estava sentindo naquele momento... Procurou uma que descrevesse bem o seu atual estado de espírito... Maravilhado, é, essa se aproximava bastante. Sinceramente não imaginava que sua manhã, que havia começado tão mal, pudesse sofrer uma reviravolta daquelas.

Ginny nos seus braços mais uma vez, depois de tanto tempo. Quando ela tentou consolá-lo, era como se tivessem voltado à época da Guerra, período no qual só as palavras e carinhos da ruiva conseguiam forçá-lo a esquecer, ao menos por algum tempo, todos os cenas aterradoras que vivenciavam no campo de batalha.

O toque no seu queixo tinha sido demais para ele, não conseguiu conter o impulso de abraçá-la, a vontade de ter o calor do corpo dela misturado ao seu o impeliu a fazer o que fez. E o beijo? Tão breve, mas tão intenso e diferentemente do abraço do dia do reencontro, ela tinha retribuído.

Não pode conter um largo sorriso que lhe brotou nos lábios, era bem capaz de aparecer no Profeta e agradecer ao repórter que tinha redigido aquela bendita matéria. Tudo bem que era mais uma daquelas reportagens contando estórias tão distantes do real, mas era bendita sim, afinal foi ela, que indiretamente, tinha provocado o momento na Toca.

Um puxão na sua mão direita o trouxe para o presente momento.

-Paaaaiiii!

Para completar o seu dia glorioso, Matt estava ali agarrado a sua mão.

-O que foi, filho?

-Estou há um tempão falando como o Sr. e o Sr. nunca me responde.

-Matt, pare de me chamar de Sr.

-Minha mãe diz que é assim que devo tratar os mais velhos, é uma forma de mostrar respeito – o menino disse com muito seriedade.

-Bem... se sua mãe diz isso... – realmente não achava aquilo necessário.

-Minha mãe diz isso e muita outras coisas, além da minha madrinha e da minha vó. Tenho tudo gravado aqui... – disse apontando para a cabeça

-Então você nunca desobedece sua avó, sua mãe e sua madrinha? – perguntou Harry incrédulo com o fato de um filho seu, ser tão obediente.

– É claro que de vez em quando esqueço uma coisa e outra, mas... errar é humano não é? – completou encolhendo os ombros.

Harry gargalhou com a conclusão do filho.

-Com quem você aprende a dizer esse tipo de coisa, Matt?

-Com todo mundo. Meu padrinho, minha madrinha, meus tios e tias, minha mãe, vovô e vovó. Eles falam e eu gravo aqui... – apontou novamente para a cabeça.

-Definitivamente, você não herdou toda essa perspicácia de mim – se interrompeu se dando conta de algo – Sabe o que é perspicácia?

-Sei sim! – disse com firmeza enquanto sacudia a cabeça para em seguida responder com um aluno muito aplicado – Como minha madrinha vivia falando que eu era isso, perguntei o que significava e ela disse que é alguém observador.

-É isso mesmo.

Enquanto conversavam, caminhavam por Londres. Até aquele momento já tinham visitado o zoológico e um parque no qual, depois de Harry ter comprado um lanche num daqueles fast-food trouxas, tinham se sentado na grama para almoçar. Se dirigiam agora para o Beco Diagonal, onde tomariam sorvete na Florean Fortescue.

Passaram pelo Caldeirão Furado para poderem acessar o portal que os levaria ao Beco, o local estava apinhado de gente, quando Harry entrou, todos desviaram os olhares para ele, mas imediatamente depois, ao perceberem um menino segurando a mão do homem, concentraram suas atenções em Matt.

Ignorando os olhares curiosos, Harry atravessou o salão, deu um leve aceno de cabeça, como cumprimento a Tom, o estalajadeiro, e então seguiu para a porta que os levaria ao Beco. Diferente do que acontecia na época da Guerra, o lugar estava muito movimentado, a paz permitia que o lugar voltasse a ser freqüentado pelas famílias bruxas nos finais de semana.

-Papai, podemos passar na loja do meu tio Fred e do meu tio Jorge?

-Primeiro vamos tomar sorvete, Matt, quem sabe depois?!

Matt provavelmente não tinha consciência do mal estar existente entre Harry e os garotos Weasley. Se aparecesse na “Gemealidades” era bem provável que a cena do St. Mungus se repetisse.

-Mas papai, meus tios não vão gostar de saber que estive aqui e não fiz uma visita, vão achar uma falta de consideração!

-Você não está com vontade de tomar sorvete?

-Claro que estou pai! - respondeu Matt impaciente – Mas também quero visitar os tios, lá na loja sempre tem coisas legais. Por favor...

-Tudo bem, Mathew - deu um suspiro cansado, com medo de que seu dia tivesse um final não muito agradável.

-Obrigado, pai! Mas ainda vamos tomar o sorvete não é?

-Claro que sim!

Matt passou a frente do pai e passou a conduzi-lo pela multidão de gente.

Muitas crianças e adolescentes admiravam a vitrine da “Gemealidades Weasley”, foi quase impossível alcançar a entrada da loja, quando conseguiram logo avistaram dois ruivos a frente de uma mesa enquanto faziam a demonstração do que parecia ser um novo produto.

-Ei... – Harry escutou a voz do filho – Tio Fred, tio Jorge, aqui – o menino balançava o braço sinalizando aos tios sua localização.

No mesmo instante os dois ruivos olharam na direção do grito e assim como tinha acontecido no hospital, suas feições se anuviaram, assim que avistaram Harry ao lado do menino, o que fez o moreno se arrepender por ter cedido às vontades do filho, tinha certeza que aquilo não acabaria bem.

Fred e Jorge, com um sinal de mão, pediram que Matt esperasse. Gastaram mais dez minutos na apresentação e só então se aproximaram dos dois.

-Como vai Matt? – Fred estendia a mão para o menino, que cruzou os braços dando sinal de que não retribuiria o cumprimento.

-Tsc, tsc, tsc... – Matt balançava a cabeça – O Sr. acha mesmo que eu vou cair nessa, tio?

-Nessa? O que quer dizer com isso? – o ruivo fazia uma cara de inocente – Olhe, meu caro Jorge, essas crianças não respeitam os mais velhos hoje em dia, que cena mais triste...

-Sinceramente nunca pensei que viveria o suficiente para ver esse dia... crianças se voltando contra a própria família, é um absurdo... – concordou Jorge com uma cara tão inocente quanto a do irmão.

-Nossa querida irmã, Gininha, não está educando devidamente esse menino...

-Mas também, meu caro Fred, com o pai que ele tem... – Jorge olhou de soslaio para Harry - ...essa falta de apreço pelas regras, não surpreende.

-Não adianta, tio Fred, sei que se apertar a sua mão vou ficar com o cabelo verde, foi isso que fizeram com meu padrinho no último almoço.

-Ora Matt, aquilo foi um terrível acidente...

-Jamais faríamos nada assim com nosso amado irmãzinho...

-Olhe para provar a você que nada vai acontecer, vou apertar a mão do seu pai... – imediatamente Fred direcionou a mão estendida para Harry.

-Você não acha que faríamos essa brincadeira de mau gosto com o cara que deu cabo a Voldemort, não é? – assim que terminou a frase Jorge lançou um olhar forjadamente inocente para o moreno.

-Veja... – disse Fred que sem esperar reação de Harry, puxou a mão do moreno e apertou com a sua...

O moreno já estava esperando as risadas que viriam assim que seu cabelo mudasse repentinamente de cor, mas por mais incrível que parecesse, o som não veio.

-Viu, Matt! Não aconteceu nada com o cabelo do seu pai...

-É, ele continua preto e uma bagunça como sempre...

Com um ar de desconfiança o menino disse:

-Certo... Dessa vez o Sr. não fez nada, mas eu vou continuar de olho é o que a vovó me manda fazer sempre que venho aqui.

-Sua desconfiança nos fere profundamente Mathew James Weasley... – Fred tinha imprimido a voz um tom extremamente magoado.

-E o pior... Nossa própria mãe, caro irmão, àquela adorável senhora a quem dispensamos o mais profundo respeito, incentivando o nosso amado sobrinho a desconfiar de nós!

Os dois, ao mesmo tempo, deram um suspiro de resignação e abandonando o tom dramático que tinham adotado, voltaram a se pronunciar.

-Apesar de você não merecer... – Fred falava com Matt – Venha comigo, vou lhe mostrar uma novidade que está lá nos fundos.

-Uau! – Matt já ia arrastando o pai na direção do depósito da loja, mas foi interrompido por Jorge.

-Matt, vá com Fred, seu pai vai ficar aqui me fazendo companhia.

-Mas meu pai também quer conhecer a novidade.

Jorge e Fred encararam Harry, que entendendo o recado, se agachou para falar com o filho.

-Não se preocupe, vá com o seu tio, eu estarei lhe esperando aqui.

-Tudo bem, eu já volto para podermos ir tomar sorvete, papai.

-OK – Matt se afastou junto com Fred.

Harry se levantou para encarar Jorge, achava incrível que pudesse ver aquele ruivo tão sério como agora, mesmo na Guerra ele e o irmão, sempre estavam de bom humor, eram sempre eles que levantavam o moral da tropa.

-Por favor, só não vamos repetir a cena do hospital aqui, não quero que Matt nos veja brigando.

-Você acha que sou tão inconseqüente a ponto de fazer da minha própria loja, cheia de gente como está, um ringue de luta e me atracar com você na frente do meu sobrinho, Potter?

-Sinceramente não sei, eu e Carlinhos nos atracamos num hospital e você pareceu não se opor.

-Lá foi diferente, estávamos numa sala, só nos cinco.

-Certo... – supondo que o fato de terem tirado Matt dali, indicasse que Jorge queria conversar com ele, perguntou – Já que não vamos brigar, o que quer de mim?

-Só quero te avisar uma coisa, Potter. Seja bom para Matt, não cometa a besteira de sair da Inglaterra de novo e magoar o meu sobrinho, isso nem eu e nem meus irmãos vamos permitir.

-Não pretendo deixar, Matt.

-Que bom que seja assim. Eu e os outros estamos dispostos a aceitar sua presença, pelo bem de Matt, ele parece bem feliz por tê-lo por perto, não estrague isso ou nós vamos estragar você – finalizou ameaçador.

-Não se preocupe.

Jorge não falou mais nada, mas continuou encarando Harry, e este sustentou o olhar, até que Fred e Matt voltaram do depósito.

-Papai, podemos ir – o menino já segurava a mão do pai.

-Tudo certo, Jorge? – perguntou Fred ao irmão.

-Tudo mais do que certo, gastei meu último estoque de ameaças, mas obtive bons resultados.

-Nós já vamos – disse Harry interrompendo o diálogo dos gêmeos – Foi um prazer revê-los, até mais.

Estava atravessando a porta quando ouviu a voz de Fred, ou Jorge.

-Não se preocupe, assim que começar, em quatro horas vai terminar – ainda pode ouvir a gargalhada dos dois, quando já tinha chagado a calçada.

Quanta inocência pensar que sairia dali ileso.


N/A: Ai está a surpresa! A atualização mais rápida de todos os tempos. Acho que foi meio previsível, mas tudo bem.
Agora fala aí, foram dois capítulos bem emocionantes né, não?
Primeiro Matt e Harry, e depois, o momento mais aguardado (pelo menos por mim):
Um beijo entre Harry e Ginny!
Já tava na hora né galerinha? !
Enfim...
Nesse capítulo também não vou fazer os comentários individuais, mas quero que todos, tanto os que comentam, quanto os que não o fazem, saibam que eu agradeço a todos pelo tempo que dispensam para ler a minha estória.

Muito Obrigada

Comentem.

Bjos.

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