Capítulo 10



CAPÍTULO 10:

Estava demorando, era uma surpresa que só agora tivesse acontecido. Quando iam deixá-lo em paz? Obviamente ele nunca conseguiria o anonimato, mas esse circo era demais. Durante os últimos três meses, as pessoas o viam, todos comentavam a volta dele, mas a questão era que quando o “assunto” ia parar nos jornais, tudo ficava muito maior.

As especulações, teorias, piadas, tudo isso tomava uma proporção gigantesca. Ele disse que não se importava, mas ela sabia que era mentira. Toda a situação com Matt e Ginny, tudo já era tão complicado, e a possibilidade de ter a vida deles exposta no jornal não ajudaria em nada. Ela percebia medo nele.

-Harry, diga o que realmente está sentindo em relação a tudo isso?

-Mione, já disse que não me importo – ela não sabia por que ele insistia em tentar enganá-la.

-Harry sou eu, Hermione, lembra? – fez a pergunta de maneira pausada, era como se falasse com alguém com muita dificuldade de entender.

-Claro que lembro, Sra. Weasley – tinha dado para chamá-la assim – A pessoa mais inteligente que conheço, a mais mandona, a minha melhor amiga, a mulher do meu melhor amigo, a madrinha do meu filho, a mãe da minha afilhada...

-Tá, ta, ta... – disse enquanto sacudia a mão num gesto impaciente – Se sabe tudo isso é capaz de lembrar que você não consegue me enganar, então por que está perdendo tempo tentando?

Harry sorriu para ela e depois de um suspiro de resignação falou:

-Eu realmente não me importo – a amiga deu um bufo de impaciência – mas... – pausa dramática – Não quero que isso atinja Matt. Eu já estou acostumado, mas eu não quero esse sensacionalismo em cima do meu filho.

-Isso foi o que mais pesou quando Ginny tomou a decisão de mentir sobre o pai de Mathew, ela sabia que a vida dele ia virar um horror se soubessem que você era o pai dele – percebeu pela mudança na expressão do amigo que esse era o ponto – É daí que vem seu medo, você acha que ela pode impedi-lo de ver Matt, para evitar que tudo isso o atinja?

-É... – ele estava desanimado – É justamente esse meu medo.

-Não se preocupe Ginny não vai fazer isso – afirmou com convicção.

-Será? – imediatamente ela disparou um “claro que não” e ele continuou – É verdade, estou sendo injusto. Mas, se ela fizer, eu não a culpo. Quem vai querer que a vida do filho vire assunto das colunas de fofoca do Profeta?

Hermione tremeu de raiva.

-Eu avisei aquela maldita Rita Skeeter que eu diria quando ela poderia noticiar a sua volta, mas ela não foi capaz de cumprir o combinado, ela me paga – Hermione ainda se valia da ameaça de denunciar ao Ministério o fato da jornalista ser uma animaga ilegal – amanhã mesmo vou ao Ministério.

-Hermione, não precisa. Mais cedo ou mais tarde isso ia acabar acontecendo.

-Mas se ela esperasse a minha autorização, teria acontecido na hora certa, num momento em que as coisas estivessem mais acertadas.

-Então, Mione, você não ia autorizá-la nunca, por que as coisas nunca vão estar mais acertadas. O fato é que Matt não quer saber de mim e muito menos Ginny – o moreno estava desolado – Não te contei, mas, por idéia de Ginny, há três dias vou à Toca depois do expediente para visitar Matt, na primeira noite ainda o encontrei, mas na segunda e na terceira, acho que ele sabia que eu voltaria e fingiu estar dormindo para não falar comigo.

-Harry isso não quer dizer que vai ser assim para sempre. Ele está de manha e também está assustado pela briga entre você e Ginny.

-Meu Merlin, você não sabe como me arrependo daquilo, mas eu não ia machucá-la, eu nunca seria capaz de fazer isso – Harry tinha as mãos enfiadas no cabelo e a cabeça baixa.

-Eu sei que não, Harry – ela passou a mão nos cabelos rebeldes dele tentando confortá-lo com a carícia.
-E ainda essa estória de jornal, mais uma preocupação – ela sabia que agora ele ia soltar tudo que estava pensando – Imagine as estórias que eles vão contar quando descobrirem que tenho um filho? Um filho com Ginevra Weasley, filho que ela disse ter um pai trouxa, filho abandonado pelo pai... São tantas as possibilidades, as pessoas podem ser maldosas conosco de tantas maneiras.

-Harry, se acalme, se essas estórias surgirem – ele a interrompeu para corrigi-la.

-Quando essas estórias surgirem...

-Que seja! Quando elas surgirem, nós vamos ignorá-las, como sempre fizemos – viu que ele abriu a boca, mas prosseguiu, pois sabia o que o preocupava – Temos total condição de mantermos Matt no desconhecimento dessas estórias maldosas, não para sempre é claro, mas até que ele seja capaz de lidar com elas. Sempre fizemos isso.

-Como assim sempre fizeram isso? – perguntou confuso.

-Ora Harry, a sociedade bruxa é tão cheia de preconceitos quanto a trouxa, você acha que eles deixaram de lado o fato de Ginny ser mãe solteira? Acha que eles não inventaram estórias a respeito de quem seria o pai de Matt? Que não tentaram denegrir a moral de Ginny?

-Como eles ousaram? – disse com raiva.

-Quantos depoimentos de “colegas” – fez as aspas no ar – de escola dizendo como Ginny era uma garota fácil, que sempre quis lhe dar o golpe do baú.

-Como alguém pode dizer uma coisa dessas de Ginny? – a raiva já tinha se elevado para a ira – E o que vocês faziam? Meu Merlin, por isso os garotos me queriam longe dela, quanto minha partida a prejudicou, como ela deve ter me odiado por isso.

-Ela te odiou por você ter partido, não por isso. Desses comentários ela ria, simplesmente ria como se estivessem lhe contando uma piada muito engraçada. Você sabe muito bem que ela nunca se importou com a opinião dos outros.

-Eu sei, mas é claro que isso a incomodou Mione, ninguém gosta de ter a moral atingida, ainda mais quando se trata de um Weasley. E além do mais se eu tivesse ficado aqui, tudo poderia ter sido evitado.

-Harry não seja idiota – ela se irritava com a mania que ele tinha de achar que tudo era culpa dele – se você tivesse ficado aqui as estórias só seriam diferentes, mas continuariam maldosas.

-Não sei não – disse ele emburrado enquanto cruzava os braços.

-Mas eu sei, e isso é o que importa – o amigo levantou a sobrancelhas enquanto curvava os lábios em um sorrisinho irritante.

-Puxa! Como você e Rony se tornaram pessoas tão modestas? – disse com ironia.

-Não me compare a Ron, não sou como ele, só disse a verdade – concluiu e encolheu os ombros.

-Claro, só a verdade – viu que ela ia retrucar, mas logo continuou – Falando nisso, onde é que ele está? – desde que havia chegado a casa não tinha visto o amigo.

-Anne está o colocando para dormir.

-Você quer dizer que ele está colocando Anne para dormir.

-Não, não, foi exatamente o que eu disse.

-Como assim Mione? – ele estava confuso.

-De dia, sempre é Anne que o faz dormir e não o contrário. Como ele passa a noite acordado velando o sono dela, ela faz o mesmo por ele de dia. Toda vez que peço para ele colocá-la para dormir, quando vou ao quarto ela está completamente desperta no berço e ele roncando na poltrona ao lado, acho que é uma espécie de acordo entre eles – disse ela dando de ombros.

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Após mais de dois meses de visitas frustradas, ele, com a ajuda de Hermione, optou por um plano de impacto. Todos diziam que Matt era aficcionado por Quadribol, e assim como o padrinho fora na infância e na adolescência, o garoto era fã do Chuddley, time em que Rony jogava atualmente.

Soube por Hermione que o menino adorava os jogos e ia com freqüência assistir as partidas. Com a anuência de Ginny, hoje ele levaria o filho a um confronto entre o Chuddley e os Tornados, disputa que era considerada um clássico no mundo do Quadribol, muito apreciada pelos fãs do esporte.

Tinha aparatado nos arredores da Toca, e já percorria o caminho que levava a varanda da casa. Antes de bater na porta, respirou profundamente e mentalizou “Tudo vai dar certo”, ergueu a mão lentamente e por fim tocou a madeira três vezes. Quem o atendeu foi Ginny.

-Boa tarde! Como vai Ginny? – a pergunta era imbecil, ele a via quase todos os dias, mas nenhuma outra frase veio a sua cabeça para iniciar a conversa.

-Bem, obrigada – ele percebeu que ela ficou confusa com a pergunta.

-Matt está pronto?

-É... Está – ela estava meio estranha.

-Pode chamá-lo?

-Bem... antes eu queria conversar com você, pode ser?

-Claro – ela apontou a poltrona o convidando para sentar, já acomodado ele perguntou – Algo errado? Matt não quer ir comigo?

-Na verdade ele não sabe que é você quem vai levá-lo.

Harry a olhou confuso e assustado com a revelação.

-Ontem quando lhe pedi para levá-lo ao jogo você disse que ia conversar com ele, me mandou uma coruja hoje cedo dizendo que eu podia vir buscá-lo – ele não estava entendendo a atitude da ruiva – Eu não quero que ele vá forçado.

-Harry, eu sei como lidar com Mathew – o tom era decidido – Disse pra ele que Papai, que é com quem ele sempre vai aos jogos, não poderia ir, mas como eu sabia que ele queria muito ir ao jogo ia ver alguém para levá-lo.

-E se ele se sentir enganado?

-Ele não vai se sentir. Quer tanto ir a esse jogo que não vai criar problemas em ir com você. Não há oportunidade melhor que essa para vocês passarem um tempo juntos.

Harry estava extremamente agradecido com a disposição da ruiva em ajudá-lo.

-Muito obrigado, por estar me ajudando.

-Estou fazendo isso por Matt, quero que ele tenha a oportunidade de ter o pai por perto – ela sempre se recusava a dizer que estava fazendo algo por ele.

-Mesmo assim, obrigado.

-Mas o que eu quero conversar com você não é isso – ela tinha abandonado o tom prático e agora apertava as mãos no colo demonstrando nervosismo – Harry, ouça bem, você tem que ter muito cuidado com Matt no estádio, é um lugar muito cheio, fique de olho nele o tempo inteiro, segure a mão dele, não o largue em hipótese alguma...

-Ginny pode ficar tranquila, eu vou cuidar de Matt – mas ela não o ouviu, estava visivelmente aflita e falava baixo como discutindo com ela mesma.

-Ai meu Merlin, acho melhor eu ir com eles... não, não, fora de cogitação... acho melhor que Matt não vá... e se ele se perder? – ela parecia ter esquecido da presença de Harry.

-Ginny, eu já disse pra ficar tranquila, você acha que eu não tenho capacidade de cuidar do meu filho? – ela despertou da sua “discussão” e lançou a ele um sorriso amarelo, a expressão dela dizia claramente que era justamente isso que ela estava pensando.

-Bem, é que você nunca saiu com ele, não está acostumado a cuidar de uma criança entende?!

Era bom demais para ser verdade, ele tinha ficado impressionado quando ontem ele fez a proposta e ela concordou tão rápido.

-Tudo bem Ginny se acha que é melhor, vamos cancelar o passeio – não queria discutir com ela, tinha medo de contrariá-la e piorar a situação – Acho melhor eu ir andando, prometi a Rony que assistiria ao jogo.

Se levantou da poltrona em total desânimo, ela também ficou de pé. Olhou na direção das escadas na esperança de ver o filho pelo menos por alguns instantes, mas o menino não passou por ali. Voltou a olhar para a ruiva e lhe cumprimentou com um leve aceno de cabeça, enquanto passava por ela em direção a porta.

-Harry, espere – se virou para ela novamente e ela continuou – Me desculpe, é que eu sou meio paranóica quando se trata de Mathew, entende?!

-Claro – sorriu em concordância.

-Vou chamá-lo agora, ele está lá em cima esperando.

-Quer dizer que eu posso levá-lo? – a pergunta era cheia de ansiedade.

-Claro que sim. Como eu disse, sou meio paranóica, mas tenho certeza que você vai cuidar bem do nosso filho.

-Pode ter certeza disso – adorava quando ela dizia “nosso filho”.

Ela sorriu para ele e se dirigiu até a escada, se postando no primeiro degrau chamou:

-Mathew! Mathew!

Harry ouviu uma porta se abrir e em seguida a voz do filho.

-Sim, mamãe!

-Desça, a sua carona para o jogo já chegou.

Em cinco segundos, Harry viu o filho apontar na escada vestindo uma camisa, uma miniatura do uniforme da equipe e uma calça jeans, o garoto com o rosto afogueado pela corrida parecia não ter notado sua presença na sala, tinha parado no primeiro degrau da escada e olhava diretamente para a mãe.

-Como demorou, mamãe, até achei que não tinha ninguém que pudesse me levar. Quem vai me levar? – Harry viu Ginny apontar em sua direção com a ponta do queixo

-Seu pai – podia parecer exagero, mas toda vez que ele era chamado por esse nome, pai, ele se sentia extremamente feliz.

Mathew que antes estava visivelmente animado com o passeio, ao ouvir quem seria seu acompanhante deixou os ombros caírem e Harry conseguiu ler nos lábios do garoto um “Ah não”, enquanto ele fazia uma careta de desgosto.

-Não quero ir com ele, mamãe – o garoto disse bem baixinho, mas Harry foi capaz de escutar, sentiu uma pontada no coração.

A ruiva se ajoelhou para que seus olhos ficassem no mesmo nível dos do filho.

-Matt, você não quer ir ao jogo?

-Quero, mas não com ele, mamãe. Por que a senhora não me leva? – disse o garoto enquanto acariciava uma mecha do cabelo da mãe.

-Já disse que não posso, meu amor, trouxe trabalho para casa e tenho que terminar hoje. Eu disse para o seu pai que você queria muito ir ao jogo e ele fez questão de levá-lo.

O garoto olhou de soslaio para Harry, depois voltou a olhar para a mãe.

-Se eu não for com ele, não vai ter mais ninguém para me levar?

-Não.

Matt deu um suspiro, largou a mecha de cabelo da mãe e disse enquanto encolhia os ombros:

-Se não tem outro jeito...

Ginny olhou para Harry, sorriu e piscou para ele. Segurando a mão de Matt se aproximou do moreno.

-Preparado para o jogo Matt? – perguntou no intuito de iniciar uma conversa com o filho.

-Uhum...

-Vamos então? – estendeu a mão para que o menino a segurasse. Matt olhou para a mão e depois nos olhos de Harry.

-Vamos – Matt ignorou o gesto do pai e fazendo questão de se espremer para não tocar em Harry, foi em direção a saída.

Abaixou a mão após alguns segundos e olhou para Ginny que parecia sentir piedade dele pela atitude do filho.

-Tchau, voltamos no fim da tarde, a não ser que ele queira voltar antes... o que é o mais provável – fez o último comentário numa voz baixa e desanimada. Já tinha dado dois passos quando ela lhe chamou.

-Harry... – antes que ela terminasse, ele a interrompeu.

-Ter cuidado, ficar de olho, não largar a mão dele nunca, já entendi tudo Ginny, não se preocupe.

-Não era isso o que ia dizer, apesar de que é bom saber que você tenha isso tudo em mente – disse ela com um sorriso maroto.

-E o que era que você ia dizer então? – perguntou ele sem graça por sua antecipação.

-Boa sorte.

-Ah... obrigado, vou mesmo precisar.

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Perderam tempo em frente à Toca, Harry levou algum tempo para convencer o filho a segurar seu braço para que pudessem aparatar no estádio. Ele tinha planejado chegar um pouco mais cedo para evitar a multidão que tendia a se acumular com a proximidade da hora da partida, mas devido a esse contratempo não tinha sido possível.

O estádio era imenso, se situava em um local isolado, devidamente ocultado dos olhos dos Trouxas. Vendedores ambulantes estavam espalhados na multidão de espectadores, que era composta por pessoas de todas as idades.

Harry estava maravilhado com o movimento e alegria das pessoas, o único jogo de Quadribol profissional que tinha ido na vida, foi em seu quarto ano, junto com os Weasleys, a Copa Mundial de Quadribol. Na época em que saiu da Inglaterra, o sucesso do esporte definitivamente não tinha tomado as dimensões que parecia ter agora.

Viu que era impossível vencer a multidão acumulada em frente ao estádio para chegar a entrada que daria acesso a arquibancada marcada no ingresso segurando a mão de Matt, era bem capaz do filho ser levado pela “correnteza” de gente.

-Matt vou ter que lhe carregar no colo para que possamos chegar a entrada.

-Eu não sou bebê, sei caminhar sozinho – disse parecendo ofendido.

-Mas não vai dar pra atravessar esse monte de gente comigo segurando a sua mão, é bem capaz de eu lhe perder.

-Quando venho com meu avô e com meus tios e primos, nós ficamos na tribuna de honra, é lá que os familiares dos jogadores ficam, é bem mais fácil de chegar.

Harry estava quase arrependido de ter seguido o conselho de Rony, segundo o amigo seria mais emocionante assistir ao jogo nas arquibancadas comuns, a tribuna só era divertida quando todos os Weasleys estavam por lá.

Um senhor passou ao lado deles, vinha trazendo uma criança sentada nos seus ombros.

-Olha Matt – apontou para os dois que já se distanciavam – Posso lhe carregar assim, o que acha?

O garoto seguiu a dupla com os olhos até que eles desaparecessem no meio da multidão.

-Tá bom – respondeu contrariado.

Harry soltou a mão do filho e se agachou de costas para ele, o menino, com alguma dificuldade, passou uma das pernas pelo ombro do pai e em seguida a outra. Segurando firme as pernas de Matt, Harry se levantou.

-Tudo bem aí em cima filho? – percebeu que o garoto só estava seguro pelas pernas – Segure a minha cabeça para ficar mais firme.

-Não precisa, estou bem – devolveu seco.

Harry começou a se enfiar no aglomerado de gente a sua frente, o leve movimento que as pernas faziam no seu ombro, indicava que Matt estava aproveitando a vista panorâmica, olhando de um lado para o outro. Enfim alcançaram a entrada que dava acesso a arquibancada “D”, Harry entregou os dois ingressos para o bilheteiro e atravessou a roleta.

Chegaram aos seus assentos e logo Matt pediu para descer dos ombros do pai, os lugares estavam na primeira fileira de cadeiras o que os deixava muito perto do campo. Harry cumprimentou as pessoas que estavam ao seu redor e elas lhe responderam cordialmente.

Faltando cinco minutos para o início da partida, a maior parte das cadeiras das arquibancadas ocupadas, o hino da Inglaterra começou a soar magicamente no estádio, no mesmo instante todos os presentes se levantaram e solenemente começaram a entoar a canção.

Harry se surpreendeu ao olhar para o lado e encontrar o filho com a mão espalmada sobre o lado esquerdo do peito, cantando o hino com tanta seriedade que tinha até as sobrancelhas franzidas.

Ao fim do hino, todos os espectadores bateram palmas fervorosas e em seguida o locutor, com a voz aumentada por um feitiço Sonorus passou a anunciar os jogadores dos times, que a medida que tinham seus nomes chamados, entravam em campo, cada um fazendo uma entrada diferente.

O primeiro a entrar foi o time dos Tornados, que recebeu da sua torcida, boas-vindas calorosas. Porém, quando os jogadores do Chuddley entraram em campo, Harry ficou com medo de que a arquibancada em que estavam, viesse, literalmente, a baixo, tamanho foi o entusiasmo com que os torcedores, inclusive Matt, receberam o time.

Rony foi o último jogador do time laranja a ser chamado, deu a volta em todo o campo dando tchauzinho e distribuindo beijos no ar para as mulheres, tanto jovens, quanto senhoras, que o chamavam de maneiras que com certeza Hermione não aprovaria. Assim que viu que o padrinho passava próximo ao lugar em que estavam, Matt correu para se postar encostado ao parapeito da arquibancada, Rony o avistou e fez questão de se aproximar mais para poder bater na palma da mão do afilhado numa forma de cumprimento.

O garoto voltou muito satisfeito ao seu lugar, sendo olhado com admiração pelas outras crianças que estavam sentadas ao redor deles. Um dos garotos se aproximou de Matt e perguntou:

-Você conhece o goleiro dos Chuddley Cannons?

-Conheço sim – disse enquanto sacudia a cabeça veementemente – Ele é meu padrinho.

-Uau! – respondeu o outro mais admirado ainda.

-Se você quiser conhecê-lo, posso dar um jeito – disse sem nenhum tipo de exibicionismo, completamente solícito.

-Claro que quero, vai ser demais. Eu posso não é vovô?

O senhor que acompanhava o garotinho que devia ser um pouco mais velho que Matt, tinha os olhos fixos em Harry, mais especificamente em sua testa, apertava os olhos para focar melhor, provavelmente a cicatriz em forma de raio. Harry já estava se sentindo desconfortável com a situação, estava aí outro motivo pelo qual teria sido melhor que assistissem o jogo na tribuna.

Depois que sua volta tinha sido anunciada no Profeta, com direito a uma foto na primeira página do jornal, a vida dele tinha se tornado mais movimentada. Parecia que as pessoas se sentiam mais a vontade para abordá-lo na rua, tanto para agradecê-lo e elogiar a sua postura durante a Guerra, como para num sussurro lhes dizer que achavam melhor que o Lorde tivesse sobrevivido, por que assim o mundo bruxo estaria livre dos sangues-ruins.

Mas felizmente, o senhor saiu do transe para responder a pergunta do neto.
-Claro, John! Se não for nenhum incomodo, Sr... – deu espaço para que Harry falasse o sobrenome, mas o moreno foi salvo pelo gongo, ou melhor, pelo apito, o juiz acabava de dar início a partida.

Passados 30 minutos de jogo, Harry pode entender por que o embate era considerado um clássico. Os torcedores foram contemplados com jogadas espetaculares no decorrer da partida. Rony estava na sua melhor forma.

Desde o colégio Harry sabia que a única coisa que faltava ao amigo para se tornar um bom goleiro, era segurança e como agora ele tinha segurança de sobra, sua performance se justificava, o ruivo fazia defesas impossíveis, e a cada uma delas a torcida ia ao delírio.

Mathew tinha os olhos vidrados no jogo, enquanto Harry estava vidrado nele, acompanhando todas as reações do filho. Quando Rony fazia uma defesa ele batia palmas extremamente empolgado e acompanhava os outros torcedores que clamavam “Weasley, Weasley, Weasley”, fazia o mesmo quando um dos três artilheiros do time fazia a Goles atravessar um dos três aros adversário com um pouco menos de empolgação, quando os batedores miravam e acertavam o Balaço em um jogador do time adversário, as palmas eram acompanhadas por uma careta, como se sentisse a dor da “vítima”.

Decorridas duas horas da partida, o pomo ainda não tinha sido apanhado, os torcedores dos dois times estavam tensos, o placar na maior parte do tempo indicava empate, quando havia diferença era no máximo de 20 pontos e logo o time em desvantagem os recuperava.

De repente, os dois apanhadores, em uma corrida alucinada ombro a ombro, se dirigiram ao campo dos Tornados, Harry avistou o pomo-de-ouro próximo ao aro central. As torcidas dos dois times se levantaram e bradavam palavras de estímulo para os seus respectivos apanhadores.

Em uma finta o apanhador do Chuddley conseguiu uma vantagem sobre o do Tornado, abaixando o tronco sobre o cabo da vassoura, conseguiu maior velocidade e tomou uma distância considerável do outro. Menos de dois segundos depois, Harry o viu colocar uma das mãos a frente, pronta para agarrar a bolinha dourada. Num ato de desespero, um dos batedores acertou um Balaço, no intuito de impedir que o pomo fosse apanhado, Harry sabia que seria impossível.

Como o moreno previu, o Balaço com certeza atirado sem mira nenhuma, não atingiu o apanhador do Chuddley, que agora com a mão erguida, exibia o pomo seguro em sua mão. Harry, como todos os outros torcedores, aplaudia o time, quando percebeu que o Balaço vinha em direção a arquibancada, mais especificamente na direção de Matt, que pulava comemorando a vitória do seu time.

Provavelmente movido pela raiva e desespero pela iminente vitória do time adversário, o batedor dos Tornados, bateu com tanta força no Balaço que ele foi capaz de atravessar a barreira de proteção mágica em frente às arquibancadas. Num ato-reflexo, Harry postou o braço esquerdo na frente do filho para que ele não fosse atingido.

Durante a Guerra havia desenvolvido o poder de fazer magia sem varinha, com ambas as mãos, então, segundos antes de o Balaço atingi-lo ele conjurou uma mágica para amortecer o impacto, que foi suficiente para fazer o objeto cair assim que encontrou seu braço. A dor que o atingiu foi lancinante, provavelmente seu osso havia sido destroçado, pelo menos Matt estava a salvo.

Caído no chão, viu Matt se abaixar e olhar para o seu braço, as pessoas que estavam nas cadeiras próximas a eles, os cercaram, os olhos arregalados do menino transitavam entre o braço atingido e o rosto do pai.

-Pai! O senhor está bem?

Instantaneamente toda a dor sumiu. Como tinha sonhado em ouvir aquilo, foi inundado por uma alegria imensurável. Pai, o filho o havia chamado pela primeira vez de pai. Ele já se sentia pai de Matt desde o instante em que descobriu que ele era seu filho, mas ouvi-lo o chamar dessa forma era como uma confirmação, a prova de que agora tinha iniciado uma família, sua própria família, como a sensação era boa.

-Melhor do que nunca! – respondeu excessivamente animado, completamente esquecido da dor.

-É melhor você ir até a enfermaria, rapaz – disse o senhor ao seu lado.

Sem nenhuma dificuldade, Harry se pôs de pé, com a mão direita puxou a varinha do bolso interno da jaqueta que usava, não queria chamar a atenção para o fato de que conseguia fazer magia sem ela, e conjurou uma espécie de tipóia para o braço quebrado.

-Vamos, Matt! – segurou a mão do filho que dessa vez não mostrou resistência e saiu seguindo as placas que indicavam onde ficava a enfermaria do estádio.

Desceram alguns lances de escada e avistaram Rony correndo em direção a eles.

-O que aconteceu?

-Meu pai foi atingido por um balaço – de novo aquela palavra maravilhosa foi proferida por Mathew.

Harry, numa atitude que provavelmente pareceu a Rony bastante idiota, confirmou o que o filho dizia sacudindo a cabeça freneticamente com um sorriso trinta-e-dois dentes estampando o rosto. Rony, com uma cara de quem não estava entendendo nada, os conduziu até a enfermaria.

Assim que chegaram à sala, uma senhora trajada de branco se encaminhou até eles.

-Como vai Sr. Weasley? – cumprimentou cordialmente.

-Muito bem, Berta, já disse que pode me chamar de Ronald ou Rony, como preferir.

-Tudo bem – a mulher lembrava muito Madame Pomfrey – O que temos aqui? – disse enquanto se dirigia a Harry.

-Meu pai foi acertado por um Balaço, senhora – Matt, que não largara a mão de Harry, comunicou a enfermeira – A senhora pode dar um jeito nisso?

-Claro que sim rapazinho – respondeu com um sorriso para o menino – Deixe me dar uma olhada nisso Sr...

-Pode me chamar de Harry – sua voz saia excessivamente animada.

-Sente-se naquela maca, por favor, Harry.

Sentou no local indicado, como ainda segurava a mão de Matt, o menino se postou de pé ao lado da maca. A enfermeira com um floreio de sua varinha, fez desaparecer a tipóia que Harry tinha posto no braço, imediatamente metade do osso do antebraço quedou num ângulo estranho.

-Meu Merlin! – a enfermeira parecia assustada – Ronald, é melhor tirar o menino daqui, isso não é coisa pra criança ver.

Imediatamente, Rony se aproximou do afilhado e pegou a mão que estava livre, porém o menino, respeitosamente, soltou sua mão da do padrinho.

-Não vou sair padrinho, vou ficar para cuidar do meu pai – disse com firmeza – Além do mais, já vi o braço do meu pai quando ele caiu lá na arquibancada, me assustei na hora, mas já me acostumei – se dirigindo a enfermeira falou – Não se preocupe senhora, não vou ficar traumatizado.

Rony olhou para a mulher que soltou um contrariado tudo bem, depois se virando para Harry balbuciou “Hermione”, provavelmente explicando a presença da palavra “traumatizado” no vocabulário do menino.

A mulher se dirigiu a um pequeno armário na parede oposta a que a maca estava encostada e voltou de lá segurando um recipiente de vidro grande e escuro e outro pequeno e transparente, colocou na mesinha que ficava ao lado, conjurou um copo e o preencheu com o líquido azul.

-Tome tudo, Harry – o moreno bebeu num gole só, enquanto a mulher conjurava outro copo e o preenchia com uma poção lilás – A primeira poção que tomou vai reconstituir seus ossos em duas horas, e essa vai fazê-lo dormir enquanto o processo de restauração se completa, vai permitir que esteja inconsciente e não sinta a dor causada pelo processo.

-Não posso dormir por duas horas tenho que cuidar do meu filho – disse empurrando delicadamente a mão da mulher que lhe oferecia o copo.

-Você não aguentará a dor se não estiver dormindo, não sei como está aguentando agora, beba logo – a mulher pos novamente o copo a sua frente.

-Beba, Harry, eu fico cuidando de Matt enquanto você dorme.

-Nada disso. Prometi a Ginny que ficaria de olho nele o tempo todo – retrucou, teimoso, até agora não tinha largado a mão do filho.

-Não seja idiota, sou o padrinho dele posso cuidar de Mathew muito bem. Ginny não vai se incomodar se souber que foi necessário que você fechasse os olhos por duas horas.

-Eu também não quero sair de perto do meu pai, quero cuidar dele – a voz de Matt se fez ouvir – Sei que o Balaço vinha na minha direção, meu pai colocou o braço para que eu não me machucasse, por isso vou ficar aqui cuidando dele, por que lá na arquibancada ele cuidou de mim – conclui e segurou mais firme a mão de Harry.

-Argh... Dois teimosos é isso o que vocês são – disse Rony enquanto passava as mãos no cabelo, deixando-o completamente bagunçado.

-Escute, Ronald – Berta se intrometeu na discussão – Já que os dois não querem se separar, que tal fazermos assim, Harry toma a poção para dormir, o menino pode ficar ao lado dele se quiser, e você pode se sentar naquela poltrona e vigiar os dois.

-Por mim tudo bem, só falta os dois teimosos aceitarem – olhou para Harry e Matt.
Com uma expressão muito séria o menino se virou para o pai e disse:

-Pai, acho que isso é melhor que podemos conseguir.

Harry gargalhou com a fala do filho e concordou com um aceno de cabeça, provavelmente nunca ninguém havia ficado tão feliz, como ele estava agora, por ter quebrado um braço.

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N/A: Alô meu povo. É, eu sei, a atualização demorou, mas as aulas voltaram e esse semestre tá muito puxado, não tô tendo muito tempo para escrever.

Agora, é o seguinte, eu mais uma vez vou deixar de fazer os comentários individuais, mas eu prometo que é por um bom motivo. Dêem uma passada por aqui amanhã!

Espero que gostem do capítulo. Sei que esse momento entre pai e filho estava sendo aguardado.

Bjos.

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