O aniversário de Petúnia



- Consegui o emprego - disse ele com uma voz extremamente feliz.
- Como assim, Válter? - perguntou Petúnia - Eles não falaram que iam lhe telefonar se você fosse aceito ou algo do tipo?
- Não, parece que eles estavam precisando de um crupiê urgentemente - disse Válter ainda muito alegre - Por isso eu vou ter que ficar aqui mais um pouco. Você sabe, tem um monte de procedimentos legais para ser contratado para um emprego.
- Ah, que bom, Válter! - disse Petúnia fingindo também estar feliz por ele - Isso é ótimo!
- Então, por isso, só devo chegar por aí à noite. Não se preocupe comigo - disse Válter.
- Está bem, está bem... - disse Petúnia - Então, te vejo à noite.
- Claro - disse Válter - Agora tenho que desligar porque estão me chamando. Um beijo, Pet.
- Um beijo, tchau - disse Petúnia colocando o fone no gancho.

“Meu Deus” pensou Petúnia “Como eu vou falar a ele que não consegui o emprego?”.

Isso a deixou mais triste. Válter havia conseguido um emprego, aquilo era para deixa-la feliz porém só a deixou mais chateada. Sabia que se não tivesse estragado tudo pela manhã, não seria culpa dela não ter conseguido o emprego.
Após terminar o seu banho, ela preferiu deitar um pouco e tentar dormir, mesmo sendo de tarde, pois queria esquecer os acontecimentos do dia.
Passou a tarde e a noite deitada na cama do quarto. Não queria fazer nada. Apenas comeu o prato de comida que a Sra. Murphy lhe dera, pois não queria morrer de fome. Podia parecer bobo todo o motivo para a sua depressão, mas para ela era algo extremamente grave e sério.
Quando Válter chegou, já pela noite, Petúnia estava adormecida em sua cama. Ele preferiu não desapertá-la, mas mesmo assim ela acabou acordando.

- Tudo bem? – perguntou Petúnia sonolenta.
- Você acordou? – perguntou Válter - Me desculpe, não era minha intenção...
- Não tem problema – falou Petúnia bocejando – Já dormi a tarde inteira. Estou sem sono, mesmo...
- Hoje foi um dia cansativo, não é? – pergunto Válter se sentando em uma cadeira.
- Pior que foi... – disse Petúnia tentando não se lembrar dos acontecimentos.
- Como foi sua entrevista? – perguntou Válter curiosamente.
- Foi terrível... – disse Petúnia desanimada – Uma tragédia.
- O que aconteceu, lá? – insistiu Válter.
- Prefiro não falar – disse Petúnia incrédula de que o melhor seria se abrir para Válter – Amanhã a gente conversa sobre isso... Estou muito cansada – completou por fim tentando melhorar sua cara triste.
- Então eu não vou te perturbar, o melhor a fazer é dormir – disse Válter enquanto deitava-se na cama.
- Não, eu estou cansada mentalmente, mas não com sono. Vamos falar sobre o seu emprego. Então, como foi a sua entrevista?
- Foi boa. Até que foi relativamente fácil, pois não é necessário muitas habilidades para ser crupiê. Aliás, você deveria fazer uma entrevista para ser crupiê, existem dezenas de cassinos pela cidade.
- Eu sei... Quem sabe talvez, não é? – falou ela com um tom de voz vagaroso nem querendo pensar na possibilidade de ter que se tornar uma crupiê. Ela merecia mais, Petúnia tinha certeza disso.
- É! E o salário é bom também. Tenho certeza de que iria adorar! – disse Válter animado.
- Amanhã vou marcar de uma vez só meia dúzia de entrevistas, para alguma eu tenho que passar – falou Petúnia se animando um pouco mais.
- É assim que se fala. Não vai ser por causa de uma entrevista que você vai se sair mal em todas.
- Eu acho que estou melhor, Val. Me sinto mais confiante, mais firme – disse Petúnia.
- Que bom, amor! – disse Válter e depois beijando Petúnia – Tem que pensar positivo!
- Mas amanhã você vai ver, eu irei conseguir um trabalho – falou Petúnia sendo agora um misto de esperança e ansiedade que a faziam se sentir melhor para o dia seguinte que prometia ser bem melhor que o anterior.

***

Na manhã do dia seguinte, Petúnia se sentia confiante. Fez o desjejum com Válter e logo depois ele foi trabalhar e ela ficou na pensão para marcar algumas entrevistas de emprego.

- Nossa, te deixei realmente bastante segura! – disse Válter durante o café da manhã impressionado com a disposição e o vigor de Petúnia.
- Tenha certeza que sim! – disse ela radiante de felicidade – Me sinto muito disposta para o dia que tenho pela frente. Tomará que seja hoje que consiga meu emprego.
- Que bom, amor! Te ver feliz assim também me deixa muito feliz! – exclamou em felicidade – Mas agora tenho que ir trabalhar – falou após consultar o relógio em seu pulso.
- Então a gente se vê a noite? – perguntou.
- Com certeza! – disse ele se levantando da mesa e a beijando no rosto – E espero que tenha uma boa notícia para me contar.
- Eu também espero...

***

Com Válter indo trabalhar, Petúnia iniciou sua busca nos classificados do jornal. Com o auxílio da Sra. Murphy, ela foi selecionando os aparentemente interessantes, o que era muito difícil, pois a maioria pedia experiência, algo que a garota não possuía.

- Então eu acho que são esses dois aqui, né? – perguntou a Sra. Murphy após concluírem a busca.
- Acho que sim... – disse Petúnia um tanto quanto desanimada – Pensei que haveriam anúncios interessantes no jornal...
- E há – constatou a Sra. Murphy – O problema é que todos eles necessitam de experiência. Você deve começar por baixo para depois ir evoluindo, você me entende? – questionou a velha senhora.
- Eu sei, mas as únicas que não necessitavam de experiência são essas duas. Faxineira de cassino ou então essa para trabalhar na bilheteria de um cinema.
- Não se deprima, Pet – ordenou – Quem sabe amanhã não aparece uma oportunidade de trabalho melhor?
- Sabe o que eu acho? – a Sra. Murphy respondeu negativamente com a cabeça – Que o melhor é eu aceitar uma dessas duas, isso se gostarem de mim, e parar de me iludir achando que mereço algo melhor.
- Também não é assim – repreendeu a Sra. Murphy quando sentiu que Petúnia iria se desanimar – É que realmente é muito difícil arranjar um emprego hoje em dia.
- De qualquer maneira, eu vou andar pela rua para ver se em algum lugar tem alguma placa de “PRECISA-SE”– depois disso Petúnia foi embora procurar um emprego.

Ao sair da pensão notou o céu nublado e cinza acima de sua cabeça. Hoje ia chover bastante.

- Vou ficar toda molhada! – resmungou para si mesma.

Não era muito difícil encontrar lugares que precisavam de pessoas sem experiência para trabalharem. O difícil era esse lugares oferecerem um salário adequado a necessidade de Petúnia. Mas, agora vendo que tinha tantas oportunidades de emprego, Petúnia voltou a se animar.
Continuou andando em busca de um emprego até a hora em que passou em frente a lanchonete que no dia anterior havia entrado para tomar um café. Como já estava andando a algum tempo, preferiu entrar lá e comer alguma coisa.
Ao contrário de ontem, a lanchonete hoje tinha alguns clientes. Não muitos, mas o suficiente para Petúnia não ser atendida e reclamar com a dona do local.

- Eu quero ser atendida! – gritou Petúnia para a atendente.
- É que estamos lotados, senhora – replicou quase que automaticamente.
- Lotados? Você deve estar caçoando de mim! – esperneou.
- Ei! – exclamou a atendente – Você esteve ontem aqui, não esteve?
- Pode ser – respondeu sem um mínimo de cordialidade na voz.
- Sim, estou me lembrando de você! Então, mudou de idéia? Quer trabalhar aqui? – perguntou.
- Aqui? Nesse lugar? – desdenhou.
- Qual o problema? O trabalho é fácil e o salário é bom – disse a mulher.
- O salário é bom mesmo? – perguntou Petúnia com um leve interesse na voz.
- Pode ter certeza. Antigamente, eu conseguia cuidar de tudo sozinha. Mas com o aumento do número de clientes, vou precisar de alguém para me auxiliar.
- Eu acho que estou interessada – disse Petúnia.
- Ótimo! Então o emprego é seu – falou a mulher.
- Já de cara? Eu não tenho que passar por nenhuma entrevista ou algo do tipo? – perguntou espantada.
- Não é necessário. Eu gostei de você – disse a mulher – Bem vinda!
- E quando eu começo? – perguntou Petúnia.
- Se preferir, agora!
- Agora? Nesse instante? – perguntou.
- É. Por que? Já está com preguiça – ironizou – A propósito, meu nome é Margherite – disse ela estendendo a mão para sua nova funcionária.
- O meu é Petúnia. Mas se preferir pode me chamar de Pet – disse ela apertando a mão de quem seria a partir de agora sua chefe.
- Então é melhor começar logo. Vamos! Ao trabalho! A casa está cheia hoje.
- Pode deixar, chefe!

O dia passou rápido. Era bem melhor gastar o seu tempo trabalhando do que procurando emprego. Mesmo sendo garçonete, Petúnia ficou feliz pois finalmente havia arrumado um emprego e inclusive ganharia mais que Válter.
Quando anoiteceu, Margherite a dispensou e Petúnia voltou para a pensão. Durante todo o caminho ia praticamente saltitando. Estava muito contente. Ao chegar na pensão, a Sra. Murphy veio lhe falar.

- Olá, querida! – cumprimentou a velha senhora – Conseguiu o emprego?
- Demorou, mas consegui! – disse.
- Que bom, minha filha! Finalmente uma boa notícia para você, não é? – perguntou.
- Pois é, Sra. Murphy. Mas agora eu vou para o meu quarto. Depois de tomar banho eu volto para lhe contar os detalhes.
- Está bem – concordou a Sra. Murphy.

Petúnia contou todos os detalhes sobre seu novo emprego para a Sra. Murphy. Depois, voltou para o quarto e viu um pouco de televisão até a hora que Válter chegou.

- Oi – disse ele assim que entrou no quarto.
- Oi – cumprimentou Petúnia o beijando no rosto.
- Conseguiu? – perguntou rapidamente.
- Finalmente – disse ela sorrateiramente.
- Ainda bem, amor! Estou tão contente por você – disse ele se sentando na cama e começando a tirar sua roupa.

Do mesmo modo como fizera com a Sra. Murphy, Petúnia contou como era seu novo emprego.

- Essa Margherite parece ser legal – disse Válter no fim.
- E é! O melhor de tudo é o salário – falou - Vou ganhar mais que você! – completou em tom de gozação.
- Mas você merece, Pet.
- Eu sei, eu sei... – disse ela nada modestamente.

Os dois passaram a noite conversando, cada um contando sobre o seu dia. Aproveitaram também para namorar sob a luz do luar. Logo, ambos estavam cansados e dormiram agarrados um ao outro.
O ótimo dia anterior que Petúnia teve, a fez acordar alegre e feliz naquela manhã de quarta-feira. Estava muito disposta. Teve um dia ótimo trabalhando. Quando voltou para a pensão, tomou um susto ao entrar no quarto.

- Feliz Aniversário - disse Válter saindo detrás de uma parede.
- Eu não acredito, Válter! - disse Petúnia soltando um gritinho de felicidade - Você lembrou do meu aniversário?
- Mas é claro. Eu fiquei contando cada dia – disse.

Válter estava com um chapeuzinho de festa na cabeça e colocou o outro que segurava em sua mão na cabeça de Petúnia.

- Feliz? - perguntou Válter sorrindo abertamente.
- Mas, como não estaria? Tirando os meus pais você é o único que lembrou alguma vez do meu aniversário.
- Olha, amor. Não é como a gente gostaria de estar passando esse seu aniversário, mais eu sei que as coisas melhorarão - disse Válter em desabafo - Mas, estamos aqui para sorrir, e não para chorar. Nós nos amamos e isso para mim, é tudo.
- Ah, Válter! - disse Petúnia beijando seu amor.
- Mas não é tudo – disse ele a surpreendendo.
- Não? O quê você fez, Válter Dursley? - perguntou a aniversariante em tom de gozação.

Válter foi até um pequeno criado-mudo no quarto que em cima tinha um lindo bolo. Ele era feito de chocolate e tinha uma ótima aparência. Havia também um “FELIZ ANIVERSÁRIO, PETÚNIA” escrito com glacê encima.

- Fiz para você - Declarou o namorado apaixonado - O quê achou? - pergunto Válter apreensivo com a resposta.
- Está lindo! Como conseguiu fazer isso se mal sabe fritar um ovo? – perguntou ela sem entender como logo ele havia conseguido fazer um bolo tão bonito.
- Eu sabia que você ia gostar. O sabor também está ótimo, pode experimentar.
- Mas então? Como você fez?
- Ah, amor! Não está tão bonito assim, como você diz. É porque fui eu que fiz então como você me ama, acha que tudo o que faço é perfeito – explicou Válter.
- Eu posso te amar, mas não sou cega. É lógico que o bolo está ótimo. Vamos lá! Conte-me o seu segredo – incentivou.
- Eu tive uma pequena ajuda da nossa querida amiga, a Sra. Murphy – rendeu-se.
- Ah! Sabia que não ia conseguir fazer sozinho um bolo! Ao menos você pediu a ajuda dela. Melhor do que fazer qualquer bolinho feio.
- Exatamente – confirmou Válter.

Ambos foram até a cama e botaram a travessa onde estava o bolo em cima dela.
Acenderam uma vela encima do bolo e Válter começou a cantar "parabéns para você" com Petúnia o acompanhando. Em um ritmo um tanto excêntrico e acompanhado a palmas os dois conseguiram terminar a canção em um beijo longo e apaixonado.

- Para quem é o primeiro pedaço? - perguntou Válter em tom de gozação.
- Não sei... - respondeu Petúnia à altura - Acho que... Acho que... Para mim

Os dois riram enquanto Petúnia cortava o pedaço e entregava a Válter. Depois cortou um pedaço para si mesma e degustou o bolo.

- O quê achou? - perguntou Válter.
- A aparência está ótima e o sabor também! - falou Petúnia se entusiasmando.
- É claro que tem que estar bom, afinal eu que vou cozinhar quando nos casarmos.
- Hum... Quero só ver quando tempo vai durar essa sua palavra – brincou.
- Eu só não entendo uma coisa - disse Petúnia.
- O quê?
- Por que você fez um bolo tão grande para apenas nós dois? Está ótimo, mas o trabalhão que você teve.
- Ah, que isso bolo bom tem que ser feito com amor.
- Ir no supermercado e comprar um bolo pequeno não seria mais prático?
- Petúnia, Petúnia... Essa palavra para mim não existe. Prático. Ah, ta! Até parece! O bom é ver como o nosso trabalho foi bem feito, na verdade, não tão bem feito, mas o bom é ver que o meu trabalho te deu alegria e isso é a maior recompensa e que eu poderia ter.
- Sabe que para falar a verdade, até eu havia esquecido que era meu aniversário – comentou.
- Ainda bem que te lembrei! – disse Válter alegremente.
- Ainda bem, mesmo...

Foram conversando, se beijando, comendo mais bolo e assim passaram o aniversário de Petúnia.

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