A horcruxe que faltava



Capítulo 19: A Horcruxe que faltava

Logo que acordaram, na Sala Comunal, antes de se dirigirem ao Salão Principal para o café da manhã, Harry contou tudo que podia aos seus colegas, sem quebrar sua promessa de nunca revelar o local da sala dos fundadores, nem o que havia nela.

Quando contaram sobre o modo de se descobrir como destruir a tiara, eles se entreolharam imaginando quem teria o poder de agüentar a inteligência da tiara.

- Será que eu não agüentaria, Harry? – perguntou Hermione, tentando não parecer presunçosa, pois todos sabiam que ela era de longe a mais inteligente do grupo.

- Não sei, Mione – respondeu Harry. – Às vezes, penso que não tem a ver com inteligência, pois uma pessoa muito inteligente não teria um grande ganho com o uso da tiara. Imagino que tenha mais a ver com controlar sua mente. Na realidade é tudo suposição, não faço nem idéia de quem possa usar a tiara.

- Será que Dumbledore não pode saber? – perguntou Rony. – Ou talvez os outros antigos diretores?

- Podemos perguntar, Rony – disse Harry. – Mas a primeira coisa que temos que fazer é decidir onde deixaremos a tiara, depois de retirá-la da Sala Precisa. Acho que devemos pegá-la logo depois do café.

- Não seria melhor deixá-la onde está? – perguntou Gina.

- Prefiro que Voldemort não saiba onde ela esteja, se resolver invadir novamente o castelo – respondeu Harry. – Alguma sugestão?

- Que tal a sala da Diretora? – respondeu Rony. – Seria vigiada por todos os ex-diretores de Hogwarts.

- Acho muito óbvio – respondeu Harry. – Acho que seria o primeiro lugar que Voldemort iria procurar, após não encontrá-la na Sala Precisa.

- Que tal na torre da Grifinória? – perguntou Gina. – Poderíamos nos revezar para vigiá-la.

- Não quero colocar os outros alunos em perigo, deixando a tiara lá – respondeu Harry.

- E se você a colocar no lugar de onde ela veio? – Hermione disse sensatamente. – Você poderia perguntar a Nick se poderia guardar lá, até descobrirmos o que fazer.

Parecia lógico para Harry. Afinal, Voldemort não teria como entrar lá novamente sem a ajuda dos fantasmas. Só teria que perguntar para Nick-quase-sem-cabeça se era possível.

- Ótima idéia, Hermione! – Harry sorriu para a garota. – Vou agora mesmo falar com Nick.

Harry saiu correndo da Sala Comunal, deixando uma Hermione sendo abraçada pelo namorado, todo orgulhoso.




O grupo se encontrava novamente na biblioteca, pesquisando quem seria capaz de usar a tiara, sem enlouquecer. Harry já tinha colocado a tiara na sala dos fundadores, após conversar com Nick-quase-sem-cabeça, e resolveu que só a tirariam de lá quando tivessem uma definição do que fazer.

Hermione insistia na idéia de utilizar a tiara, mas Harry não aceitava por a amiga em perigo, e era apoiado por Rony. Achava que ele mesmo deveria usá-la. Gina e Hermione não concordavam, pois além do perigo, Harry não deveria se arriscar, pois ele seria necessário no combate final contra Voldemort.

- Temos que resolver isso logo! – disse Harry nervoso. – Estamos perdendo muito tempo!

- Não podemos arriscar você, Harry – disse Gina. – Você tem que estar lúcido quando enfrentarmos Voldemort.

- E quem você sugere? – Harry irritou-se. – Acha que vou arriscar a vida de qualquer um de vocês?

- Mas temos que escolher alguém – disse Rony. – Nós não temos alternativa.

O quarteto se entreolhou. Sabiam que era verdade, mas não imaginavam como escolher a pessoa ideal.

Foi Hermione quem quebrou o silêncio, falando em um tom sério com os amigos.

- Bem, tem algumas coisas que já sabemos, e que temos de levar em consideração. Não podemos contar a outra pessoa sobre as Horcruxes, portanto a pessoa que usará a tiara terá que ser um de nós.

Os outros tinham esquecido esse detalhe, só eles poderiam saber das Horcruxes, então continuaram a ouvir os argumentos de Hermione, para ver até onde ela ia.

- Observando as características de cada um de nós, posso dizer que Harry é o mais corajoso, Gina a mais determinada, Rony o mais dedicado e eu a mais inteligente – Mione ficou constrangida com a última parte de sua constatação, mas continuou falando. – Em minha opinião, Harry é a pessoa que deverá enfrentar Voldemort, então não vejo motivo para ele se arriscar agora. Gina, em conseqüência, também não, pois se ela por ventura não conseguir controlar a tiara quem poderia tentar resgatá-la seria o Harry.

- Mas eu posso conseguir controlá-la! – questionou Gina.

- Mas e se você não conseguir, o que faremos? – perguntou Rony. – A deixamos como ficar?

Harry e Gina fizeram menção de dizer alguma coisa, mas foram impedidos por Hermione, que pediu que a esperassem terminar sua explicação.

- Então sobram eu e o Rony – continuou Hermione. – Acho que eu devo usá-la. Acredito que terei mais chance de controlar a tiara.

- Nem pense nisso! – gritou Rony. – Não deixarei você se arriscar dessa maneira. Se só existem essas opões, quem vai usar a tiara sou eu!

- E posso saber o porquê? – retrucou Mione.

- Se tudo der errado, você é a única que pode descobrir como arrumar as coisas – respondeu Rony. – Se depender de mim para resgatá-la, você estará perdida.

Mione se arrependeu na mesma hora. Fizera tudo aquilo no intuito de que a deixassem usar a tiara, mas o argumento de Rony fazia sentido, e agora tinha colocado o namorado como a melhor opção.

- Não posso deixar que faça isso, Rony! – disse Harry. – Eu que devo fazer. É minha responsabilidade.

- Todos sabíamos os riscos que corremos quando entramos nessa – disse Rony. – Portanto não venha com essa de responsabilidade. Todos nós temos o dever de fazer o que pudermos contra Você-sabe-quem. Além do quê, confio plenamente que o amor que Mione sente por mim será capaz de me salvar.

Os olhos de Hermione se encheram de lágrimas, ela abraçou o ruivo e disse emocionada:

- Não posso deixar que faça isso!

- Hermione, sou a melhor opção e não aceitarei que ninguém faça isso no meu lugar, então vamos logo com isso – disse Rony.

Os amigos nunca viram Rony tão determinado, mesmo deixando transparecer o medo que estava sentindo. Ele sorriu para os amigos e disse rindo:

- E então, quando vamos fazer isso? Não vejo a hora de ser mais inteligente que a Hermione. Sempre sonhei com esse momento.

Harry e Gina não conseguiram segurar o riso, que veio em forma de um ataque de tosse, enquanto Hermione batia no namorado, visivelmente irritada.



Após uma conversa com Dumbledore, o grupo resolveu que o melhor lugar para Rony usar a tiara seria a Sala Precisa, e que todos deveriam estar lá para ajudá-lo.

No dia marcado, Harry pegou a tiara e a levou para a Sala Precisa, onde todos o esperavam. Rony estava no centro da Sala, sentado em um pequeno banco, enquanto Hermione segurava a sua mão, de pé, ao seu lado. Rony estava pálido, demonstrando seu medo, mas determinado.

- Vamos, então? – disse Rony. – Quanto antes melhor!

Harry chegou até o amigo, perguntando-lhe:

- Tem certeza? Ainda acho melhor eu usá-la!

- Nem pense nisso, amigo! – respondeu Rony. – Conto com vocês pra me ajudarem. – O ruivo sorriu.

Num último instante, Harry fez menção de colocar a tiara, mas Rony foi mais rápido e a arrancou da mão do garoto.

- Sabia que você ia tentar! – disse o ruivo. – Mas já conversamos, e tem que ser eu!

Rony colocou a tiara em sua cabeça e, por alguns segundos, nada aconteceu. De repente, as feições de Rony foram se contorcendo numa expressão de dor. Ele dobrou os joelhos e soltou um urro de dor.

- Tira isso dele! – gritou Hermione, desesperada e se projetando em direção a Rony.

- Não! – O grito de Rony substituiu o grito dela, e ainda com uma expressão de dor, se pôs de pé, concentrando todas as suas forças. – Eu agüento!

Não querendo que todo o esforço do amigo fosse em vão, Harry se apressou em fazer a pergunta que era a razão de Rony estar passando por tanto sofrimento:

- Que temos que fazer para eliminar a alma de Voldemort de dentro da tiara?

- Devemos levar a tiara até o Lago Medlin, na Irlanda, onde vive uma fada chamada Elphine, que é capaz de retirar a alma de Voldemort da tiara, matando-a – respondeu Rony, se contorcendo de dor. – Mas não se enganem. Ela não faz nada de graça.

- Certo! – disse Hermione desesperada. – Agora tire isso!

- Espere! – disse Rony. – Vocês precisam saber também que não podem se demorar em ir para lá. Se a alma não for destruída rapidamente, pode ser tarde demais.

Hermione foi em direção a Rony, mas foi tarde demais, ele fechou os olhos e caiu, estatelado no chão, sem se movimentar.

Harry, Hermione e Gina correram em sua direção, enquanto Harry se apressava em tirar a tiara do amigo. Hermione tentava acordá-lo, em vão, enquanto Gina amparava sua cabeça.

- Temos que levá-lo à enfermaria! – gritou Harry, levantando Rony desacordado. – Hermione, me ajude. E Gina, pegue a tiara!

Harry e Hermione passaram correndo pela porta da Sala Precisa carregando Rony e torcendo para o tempo que ele tinha passado com a tiara não tivesse custado sua vida.



Já fazia três dias que Hermione não saía do lado da cama de Rony na enfermaria. Desde que eles trouxeram o ruivo para Madame Pomfrey, ele não havia acordado, nem melhorado em nada. Rony permanecia num sono profundo e sua febre não baixava, causando delírios nele enquanto dormia, mesmo com todas as poções e feitiços ministrados pela enfermeira.

- Você precisa descansar, Mione – dizia Gina, amparando a amiga, que tinha o rosto inchado e os olhos vermelhos. – Não vai ajudar Rony em nada se ficar doente. Eu fico aqui enquanto você dorme um pouco.

- Estou bem! – disse Hermione. – Além do mais, já procurei qualquer coisa que pudesse curá-lo, na biblioteca, antes dele colocar a tiara, e sei que não tem nada lá.

Era visível o desespero da menina, ela trocaria de lugar com o ruivo de bom grado se soubesse como.

Harry passava quase o dia todo na enfermaria, só voltando ao dormitório à noite, quando era expulso pela enfermeira. Sentia-se culpado a cada segundo que via Hermione ao lado de Rony, e por permitir que ele tivesse usado a tiara em seu lugar. Não devia ter permitido, era e sempre fora sua obrigação derrotar Voldemort, e agora, mais uma vez, outra pessoa podia morrer em seu lugar.

Na terceira noite, após sair da enfermaria, Gina se aproximou de Harry sussurrando em seu ouvido, para que nenhum dos outros alunos presentes na Sala Comunal ouvisse:

- Temos que ir logo! Você se lembra do que Rony disse, não podemos nos demorar!

- Não sei como consegue ser tão forte, Gina! – respondeu Harry. – Não consigo nem pensar nisso agora!

- Pois devia! – disse Gina num tom irritado. – Não vou deixar todo o esforço do meu irmão ser em vão. Ele fez o que fez para que pudéssemos derrotar Voldemort, e é o que vou tentar fazer! – finalizou a garota, tentando se levantar e sendo segura por Harry.

- Não seja tola – Harry tentava tranqüilizar a garota. – Iremos acertar tudo amanhã e em seguida partirei para o Lago.

- Como assim, partirei? – Gina agora estava vermelha de raiva. – Nem ouse pensar que não irei com você! Deixaremos Hermione aqui com Rony, mas você não vai sozinho!

- É melhor assim, Gina! – Harry tentava manter a calma. – Não posso deixar mais ninguém se arriscar por mim. Principalmente você!

- Nem me venha com essa! – Gina levantara a voz, chamando a atenção de alguns alunos. – Eu vou e ponto final! – disse saindo batendo os pés, subindo as escadas em direção ao dormitório feminino.

A única coisa em que Harry pôde pensar foi em como tinha sorte de ter uma pessoa como Gina Weasley ao seu lado. E que embora ela fosse junto com ele ao lago encontrar a fada, não deixaria que nada acontecesse a ela, nem que isso custasse sua vida.

No dia seguinte, Harry e Gina conversaram com Dumbledore, combinando que iriam utilizar uma chave de portal para o Lago Medlin, da sala da Diretora, e contaram a Hermione o que eles iriam fazer, deixando ela para cuidar de Rony.

- É melhor eu ir com vocês – disse Hermione. – Não estou sendo de nenhuma valia aqui! – a garota olhou para Rony deitado na cama, inconsciente, embora a febre tenha baixado um pouco.

- Claro que sua presença aqui ajuda, Hermione! – disse Gina. – Tenho certeza de que meu irmão sente que você está do lado dele. Com certeza deve reconfortá-lo e dar forças para tentar melhorar.

Hermione sentou-se novamente na cadeira em frente à cama, baixando a cabeça e dizendo:

- Acho que vocês tem razão. Além do quê, não consigo pensar em mais nada mesmo.

Gina se aproximou e abraçou a amiga, que começara a chorar novamente. Levantou seu rosto e disse, olhando fundo em seus olhos:

- Não se preocupe, Rony é mais forte do que parece. Tenho certeza de que se recuperará logo. Principalmente porque nunca deixaria você sozinha, ainda mais com o Krum por aí!

Hermione até esboçou um sorriso entre as lágrimas que caíam pelo seu rosto. Abraçou a amiga novamente e levantou-se da cadeira, dando um beijo no rosto de Rony. Podia ser só impressão, mas Harry, que observava os amigos de longe, podia jurar que Rony pareceu sorrir ao toque dos lábios de Hermione em seu rosto.

Harry despediu-se de Hermione, puxando Gina pelo braço e levando a ruiva para fora da enfermaria em seguida.

- Vamos deixá-los sozinhos – disse Harry. – Eles precisam. Vamos nos arrumar, quero sair amanhã bem cedo!

Gina assentiu com a cabeça, seguindo Harry em direção a Sala Comunal da Grifinória, pois tinham muito o que arrumar.



No dia seguinte, logo de manhã, Harry e Gina se encaminharam para a sala da Diretora, a fim de irem para o lago Medlin. Para sua surpresa, Hermione já se encontrava lá, esperando-os.

- Harry – disse a figura de Dumbledore -, é melhor que você leve a espada de Griffyndor. Pode ser de alguma ajuda.

- Certo – disse Harry, pegando a espada e a colocando na mochila que estava carregando.

- Trouxe isso – disse Hermione, entregando um livro muito surrado para Gina. – Ele fala tudo sobre a fada do lago, e como fazer para encontrá-la. Marquei tudo que achei importante, espero que ajude.

- Claro que vai ajudar, Mione! – disse Gina, abraçando a amiga. – Agora vá cuidar do meu irmão e deixe tudo com a gente, voltaremos o mais rápido possível.

Harry abraçou a amiga e colocou-se em frente a uma velha bota de borracha, que era a chave de portal para o lago, com Gina. Eles tocaram a bota e sumiram da sala, deixando Hermione e o retrato de Dumbledore sozinhos.

Harry e Gina surgiram em frente a um lago negro, que continha uma neblina muito densa em sua superfície. Harry pegou a mão de Gina, e a puxou em direção a uma pequena clareira, onde a luz era um pouco mais forte.

- Vamos ver o livro que Mione lhe deu – disse Harry. – Lá com certeza deve ter como chamar a fada Elphine.

Gina apanhou o livro que havia colocado na mochila, colocando-o sobre uma pedra. Ela e Harry então começaram a procurar o modo de chamar Elphine, folheando o livro com atenção para não perder nenhum dos detalhes que Hermione havia marcado.

- Veja, Harry – disse Gina. – Hermione marcou essa página! – apontando para uma pequena dobra na ponta de uma das páginas do livro.

Harry rapidamente passou as páginas que faltavam para chegar à que estava marcada, começando a lê-la rapidamente.

A fada do Lago Medlin é um ser mágico muito poderoso e astuto, sendo capaz de feitos impossíveis para qualquer outro ser ou bruxo existente. Pouco confiável para realizar qualquer coisa a pedido de um visitante, ela costuma fazer tratos vantajosos para ela. Portanto, a pessoa que a procurar deve ter cuidado, pois pode pagar um preço maior do que está preparado.

A primeira coisa que o bruxo deve saber é que ela se ofende facilmente, e sua fúria pode ser devastadora. Embora seja uma fada, suas feições não são suaves e ela se assemelha a uma grande Mariposa, meio humana, com olhos que parecem duas pedras negras e dentes afiados em sua boca.

Nunca desvie seu olhar, ou demonstre repulsa ao olhá-la, pois ela pode tomar isso como fraqueza ou insulto. Trate-a com respeito e com sagacidade, e poderá ter êxito no que procura.

Para chamá-la, o bruxo deverá se colocar na beira do lago e iluminar as águas com um feitiço, para que ela perceba a sua presença e vá a seu encontro.

Pense bem antes de convocá-la, pois depois de chamada, a fada do lago não aceitará se retirar sem um acordo. E se este não for feito, a pessoa que a chamou pode pagar com a própria vida.


Harry olhou para Gina e disse:

- Bem, sabemos o que fazer, mas como o livro disse, é melhor termos cuidado com o que vamos falar.

Gina concordou e, pegando Harry pela mão, seguiram para a beira do lago.

Eles pararam em frente à beira do lago e Harry sacou a sua varinha. Ele apontou para o lago e perguntou para Gina:

- Pronta?

Gina fez que sim com a cabeça, mostrando determinação ao namorado.

- Lumus! – gritou Harry, apontando a luz que saía de sua varinha para as águas do lago.

Como o livro não dizia quanto tempo eles deveriam esperar até a fada do lago aparecer, Harry resolveu manter o feitiço até que Elphine aparecesse.

Os minutos passaram muito lentamente para os dois. Mas de repente, do centro do lago, através da neblina, surgiu um vulto que parecia flutuar pela água, em direção aos dois. Harry forçou os olhos e viu formar-se em sua frente a figura da fada Elphine.

Como descrita no livro dado por Hermione, ela não tinha nada das figuras das fadas encontradas nos livros infantis trouxas. Seu rosto, embora lembrasse a figura de uma mulher, era dura, com seus olhos negros e os dentes afiados em sua boca. Seu corpo era coberto pelo que parecia ser uma casca seca de cor marrom, e suas assas tinham o formato igual ao das mariposas, embora as formações nelas que lembravam olhos realmente encaravam os dois.

- Quem chama Elphine, a fada do lago? – perguntou a fada, encarando o casal, que a mirava de modo comum, tentando não desviar o olhar.

- Harry Potter e Gina Weasley, alunos de Hogwarts – disse Harry, de maneira calma e gentil.

- E o que Harry Potter e Gina Weasley desejam, para vir procurar Elphine? – continuou a perguntar a fada.

- Precisamos saber como destruir o fragmento de alma que foi colocada nessa tiara, já que é impossível destruí-la – respondeu Harry.

- E o quanto estariam dispostos a oferecer por essa informação? – perguntou Elphine.

Harry, percebendo a intenção da fada, e antes que Gina dissesse qualquer coisa, respondeu:

- O que for justo e de interesse de Elphine.

A resposta surpreendeu a fada, que até então tinha acostumado que todos dissessem que fariam qualquer coisa por seus conhecimentos. Ela estreitou os olhos e riu de forma irônica para os dois, dizendo:

- Até que enfim, pessoas que sabem negociar e não são tolas para prometer o que não podem.

- E o que seria de seu interesse, fada Elphine? – perguntou Harry.

- Acho que ficar com a tiara me bastará! – respondeu a fada, olhando fixamente para a tiara, que se encontrava na mão de Harry.

- Infelizmente isso não será possível! – disse Harry. – Fiz uma promessa que todos os itens de Hogwarts voltariam para a escola, e não posso quebrá-la. Terá que escolher outra coisa – Harry tentou ser o mais gentil e educado possível, mas a fada pareceu não gostar muito da resposta.

- Acho que deveriam ter pensado melhor antes de me procurarem – ela os encarava com um olhar de poucos amigos. – Não tenho muita paciência com quem se nega a fazer minhas vontades.

- Peço desculpas, nobre Elphine – Harry permaneceu inflexível, demonstrando determinação. – Mas não depende de mim.

Elphine pareceu pensar por um instante, e então um sorriso sombrio surgiu em seu rosto, fazendo Harry e Gina sentirem um arrepio longo fluir por seus corpos.

- Tem outra coisa que você pode fazer por mim – disse Elphine calmamente, mantendo o sorriso sombrio. – Há muito tempo atrás, uma coisa me foi tirada, e a quero de volta. Se você for capaz de trazê-la de volta, eu atenderei ao pedido que me fizeram.

Harry e Gina sabiam que devia ser algo muito perigoso, pois se não fosse, ela mesmo teria tentado recuperar o que lhe haviam tirado.

- E o que seria? – perguntou Harry. – E como poderíamos recuperá-la?

- Trata-se de um cajado mágico, que me permitiria voltar a percorrer o que já foram minhas terras, além desse lago, ao sul – respondeu Elphine. – Hoje elas estão sobre o poder de uma figura sinistra chamada Barkoc, que vive nelas hoje.

Harry ficou tentado a perguntar porque ela mesma não o enfrentava, mas lembrou-se que a fada se ofendia facilmente, e que provavelmente não ia atrás de Barkoc por não poder entrar nas terras sem o cajado.

- E como chegaremos até essas terras? – perguntou Gina.

- Eu o levarei até a entrada das terras de Barkoc – respondeu Elphine. – E de lá você seguirá sozinho. O cajado deve estar na sala de troféus de Barkoc, em seu esconderijo. A entrada é uma caverna escura, seguida de um labirinto mágico e no centro dele há uma escada que leva aos aposentos de Barkoc e a sala de troféus. – finalizou Elphine.

- E o que é esse Barkoc? – perguntou Harry.

- É um Elfo negro – respondeu Elphine. – Descendente de uma Fada com um Elfo. Ele é muito poderoso, e, portanto, aconselho que tenham cuidado.

Harry notava que Elphine não demonstrava ódio por Barkoc, e que parecia querer apenas o que em outros tempos já foi seu. Porém, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Elphine voltou a falar com os dois:

- Tem mais uma coisa, você não pode fazer mal a ele. Quero-o bem e vivo. Desejo apenas meu cajado de volta.

Aquele pedido deixou Harry curioso. Afinal, se ele era inimigo de Elphine, por que ela o queria seguro e bem? O garoto ficou tentando a perguntar o motivo, mas novamente preferiu se manter calado, pois imaginou que se fosse de interesse de Elphine que ele soubesse o motivo, ela já haveria lhe contado.

- Certo – disse Harry em resposta -, melhor irmos logo então.

- Acho que você não entendeu completamente – Elphine mostrava um olhar perverso em seu rosto. – Um de vocês deverá ficar sobre minha guarda, como garantia de que o outro irá retornar.

- Como assim? – perguntou Harry. – Você não tinha mencionado nada disso!

- E você acha que não me certificaria que vocês não fugissem com ele? – perguntou Elphine. – Ele é poderoso demais, e qualquer um ficaria tentado a ficar com ele para si mesmo.

- Mas lhe dou minha palavra que retornarei com o cajado para lhe devolver – respondeu Harry.

- A palavra de um bruxo não vale nada para mim – disse Elphine. – Os bruxos são desonestos, dão pouco valor a vida e ao direito de outros seres mágicos.

- Mas Harry não é assim! – disse Gina, pela primeira vez entrando na conversa. – Ele é honesto e corajoso, e se diz que vai lhe trazer esse cajado é porque vai fazê-lo.

- Se você crê tanto nisso – disse Elphine, encarando Gina -, não vejo porque não possa esperar seu retorno comigo! Garanto que estará a salvo de qualquer perigo e, caso ele falhe, liberarei você de qualquer dívida comigo!

- Por mim está certo – disse Harry -, mas como você saberá se falhei ou não?

- Não se preocupe – respondeu Elphine. – Eu saberei! Mas agora devemos ir! Subam logo! – Com um pequeno gesto, a fada fez surgir uma embarcação que parecia ser feita de cristal e se movimentava sozinha.

- Vamos! – disse Harry, puxando Gina pelo braço e subindo na embarcação.

Mal Harry e Gina subiram, a embarcação começou a se movimentar em direção ao centro do lago.

- Como já disse, o local fica do lado sul do lago – disse Elphine -, portanto levaremos alguns minutos para chegar lá.

Durante o caminho, Harry pôde notar toda a aflição de Gina, que imaginara, no início da missão, que iria com ele até a sala de troféus de Barkoc, e não deixá-lo ir sozinho. Harry se aproximou, abraçou Gina e disse-lhe no ouvido:

- Não se preocupe! Irei retornar logo e poderemos voltar a Hogwarts. Para perto de seu irmão. E então poderemos ajudar Hermione com ele. Não tenho a mínima intenção de deixá-la para ninguém. Seu destino é ficar comigo!

Gina o abraçou. Deixou uma lágrima cair, mas segurou o choro. Não queria ser uma preocupação para ele. Então se recostou e continuou o resto do trajeto encostada em seu peito.

Devido à neblina que cobria o lago, Harry e Gina só puderam ver a margem sul do lago quando estavam bem próximos a ela. Quando encostaram, Elphine se virou para Harry e, apontando para o que parecia a entrada de uma caverna, disse:

- Lá é a entrada. Ela fica comigo até você voltar – Elphine agora apontava para Gina. – Nós não ficaremos na margem, para segurança de sua amiga. Quando quiser me chamar é só iluminar a margem, que viremos buscá-lo.

Harry fez que sim com a cabeça, beijou o rosto de Gina e desceu da embarcação, pulando em direção a margem do lago. Assim que saiu, Elphine fez um pequeno gesto, fazendo com que a embarcação se afastasse em direção ao centro do lago. Harry pôde ver os olhos preocupados de Gina conforme ela se afastava e sorriu para tentar acalmá-la.

Olhando com firmeza para a entrada da caverna, Harry se dirigiu a ela com cautela, tentando não fazer nenhum barulho que chamasse a atenção do morador daquele lugar.

A caverna era escura e úmida, e as paredes eram cobertas por uma camada grossa de musgo. Harry poderia iluminar o local com um feitiço, mas achou que isso poderia chamar a atenção de Barkoc, então simplesmente apertou os olhos e seguiu em frente, forçando a visão para tentar enxergar na escuridão.

A caverna não parecia conter nada de especial e o caminho foi tranqüilo, até Harry encontrar o que seria a entrada do labirinto mágico de qual Elphine falara. Harry lembrou-se do feitiço dos quatro pontos, que tinha usado na prova do labirinto do torneio tribuxo, no quarto ano, e resolveu usá-lo.

- Me oriente! – disse Harry.

A varinha apontou direto para frente, indicando que o centro do labirinto estava ao sul daquele ponto. Harry pegou o caminho à sua direita, tentando se manter sempre na direção sul do labirinto.

Após alguns minutos caminhando entre os corredores do labirinto, utilizando o feitiço dos quatro pontos para se certificar que estava indo na direção certa, Harry viu o que sem dúvida era uma das proteções que o labirinto possuía. Parado na sua frente, estava um enorme lobo, com um chifre longo e pontudo saindo da sua testa, e garras que pareciam ser de um lobisomem. A criatura estava presa à uma corrente que saía do chão, impedindo qualquer um de passar. O lobo possuía olhos extremamente vermelhos, e encarava Harry sem mover um único músculo. Harry pensou em tentar passar sem enfrentá-lo, mas logo percebeu que isso não seria possível. A cada passo que o moreno dava em direção ao lobo, ele alterava suas feições, deixando transparecer que estava prestes a atacar Harry.

Não viu outra saída, a não ser atacar o lobo. Olhou para o animal, e empunhando sua varinha disse:

- Estupefaça!

O feitiço lançado por Harry acertou o animal bem em seu dorso, mas não surtiu efeito nenhum. E para desespero de Harry, o lobo se enfezou e passou a urrar em direção a ele. Ele sabia que não podia se demorar em continuar, pois com os urros do animal, todos os seres que habitavam aquele lugar certamente tomariam conhecimento de sua presença.

Talvez a solução não estivesse em atacar, mas sim em se proteger. Harry apontou para si próprio, e conjurou um feitiço que havia aprendido na época dos treinos na beira do lago, perto da Toca:

- Circulum protego!

Uma esfera transparente se formou em torno de Harry, que caminhou em direção ao lobo para tentar continuar seu caminho pelo labirinto.

Quando ele se aproximou, o lobo investiu contra ele, usando as garras para tentar feri-lo. O feitiço impediu o lobo de tocar Harry, mas a força do ataque o prensou contra a parede do labirinto, impedindo sua passagem.

O lobo pressionava Harry, protegido pela esfera, sem conseguir fincar suas garras nele. E Harry não tinha força o suficiente para empurrar o lobo e se libertar. Mas o que aconteceu em seguida foi o que deixou o garoto em pânico. Usando seu longo chifre, o lobo atacou a esfera, e quando o mesmo tocou-a, o chifre brilhou e simplesmente atravessou-a.

Quando o lobo a retirou, o furo causado pelo chifre se fechou, deixando a esfera novamente intacta.

O lobo passou a desferir golpes contra a esfera, e Harry tinha que se desviar dos ataques dentro da esfera. Por duas vezes o chifre roçou seu braço, rasgando a manga de sua camisa, mas não sendo suficientemente preciso para feri-lo.

Harry sabia que não podia continuar nessa situação, pois estava ficando cansado de fugir dos ataques do lobo, e a qualquer momento acabaria sendo ferido por ele. Num momento de decisão, Harry apontou diretamente para o peito do lobo, que estava de pé sobre a esfera, apoiado nas patas traseiras e, segurando-a com as dianteiras, gritou:

- Sectumsempra!

Um grande corte atravessou a esfera, atingindo o lobo e fazendo um enorme corte no peito do animal. O sangue jorrou, pintando a esfera de proteção de Harry de sangue, fazendo o lobo se afastar e liberando a passagem para ele.

Harry correu sem se preocupar em olhar para trás, mantendo a esfera em torno de si e torcendo para que o lobo não o seguisse.

Alguns metros mais a frente, Harry dissipou a esfera de proteção e tornou a pedir a orientação através do feitiço dos quatro pontos. A varinha girou e indicou que ele pegasse uma passagem à esquerda, na bifurcação que estava a sua frente. Harry iluminou a passagem através do feitiço Lumus e prosseguiu com sua missão.

Ele caminhou por alguns minutos, e novamente se viu frente a frente com que seria mais um obstáculo feito pelo dono do labirinto. Uma enorme serpente sibilava no corredor do labirinto, enrolada, como se aguardando sua chegada.

- Deixe-me passar! – disse Harry, em língua de cobra.

- Mesmo você falando minha língua, não posso lhe deixar passar – sibilou a serpente em resposta. – Meu amo me castigaria se assim eu o fizesse.

- E quem é seu mestre? – perguntou Harry. – E o que ele faz com você?

- Meu mestre é Barkoc – respondeu a serpente, sibilando para Harry. – E ele me deixa aqui para me alimentar dos intrusos que tentam passar.

- Mas tenho que passar, e não quero te machucar! – continuou Harry. – Porém o farei se for necessário. – Harry retirou a varinha, apontando-a para a serpente.

- Se te achas capaz de me enfrentar, que assim seja! – a serpente se atirou em direção a Harry, mostrando as presas afiadas.

Harry só teve tempo de se jogar para longe da serpente, apontando a varinha para ela e gritando:

- Sectumsempra!

O feitiço atingiu em cheio a serpente, mas não causou dano nenhum a ela. Então, ela colocou-se novamente em pé, se preparando para dar um novo bote.

Esse novo bote só não atingiu Harry porque ele conjurou novamente a esfera de proteção que tinha usado contra o lobo. Só que dessa vez ele ficou preso na boca da serpente, que o levantou e o atirou para longe.

Quando Harry caiu no chão, o feitiço de proteção se rompeu e sua mochila caiu. Dela saiu a espada de Griffyndor, que ele havia esquecido que estava com ele. Num salto, ele puxou a espada da mochila e com um movimento forte cortou a cabeça da serpente, que havia tentando dar novo bote, fazendo-a rolar pelo chão. Ao fazer isso, um líquido verde espirrou do corpo da cobra e atingiu seu braço, corroendo parte de sua camisa e causando uma queimadura nele.

Harry gritou de dor e, utilizando um feitiço, jogou água sobre a queimadura, fazendo a temperatura da pele e a dor abrandarem um pouco.

Reunindo suas forças, Harry continuou em frente. Ele só pensava em Gina, que o aguardava com Elphine do lado de fora da caverna, e em Rony e Hermione, que estavam em Hogwarts.

Ele conjurou novamente o feitiço dos quatro pontos e seguiu em direção ao centro do labirinto.

Harry caminhou por mais alguns minutos e finalmente viu a escada que ficava no centro do labirinto. Ele se aproximou e começou a descer as escadas, em direção à escuridão que se via lá embaixo.

Harry desceu os degraus, iluminando a escada com o feitiço Lumus, e chegou até um segundo patamar, de onde se via uma porta de ferro maciça, que provavelmente escondia a sala de troféus de Barkoc, pensou ele.

O garoto se aproximou e encostou o ouvido na porta, tentando escutar qualquer barulho vindo de dentro da sala. Como nada escutou, Harry imaginou que só havia duas opções: ou estava vazia, ou quem estava ali dentro o aguardava.

Como não tinha tempo, nem opções, Harry simplesmente pegou a maçaneta da porta, girando-a e abrindo a passagem para a sala dos troféus de Barkoc.

Quando entrou no aposento, ele estava repleto de archotes que continham chamas avermelhadas, e embora eles iluminassem a sala, não a aqueciam. Ele notou que existiam vários objetos em pedestais em torno da sala, e no centro dela, uma poltrona virada de costas para a porta. Harry observou cada peça e finalmente viu o cajado do outro lado da sala, dentro de uma redoma de vidro, em mais um pedestal.

Harry começou a andar em direção ao pedestal, mas foi interrompido por uma voz que vinha da poltrona.

- Eu o aguardava, Sr. Harry Potter!

A voz fez o corpo de Harry estremecer. Jurava que era a voz de Voldemort, mas quando a figura que estava sentada na poltrona se levantou, Harry pôde ver que não era seu pior inimigo.

A figura que encarava Harry era assustadora. Não por ser horrível, mas por ser visível o mal que emanava dela. Ele lembrava muito um ser humano, embora tivesse o corpo coberto por uma pele marrom e macilenta, orelhas pontudas e longos cabelos negros. Tinha dentes afiados em sua boca, e asas que pareciam ser como as dos morcegos. Seus braços eram fortes, e ele possuía garras afiadas como a de um falcão. Enfim, causava temor a qualquer um que o visse, embora não se esforçasse em nada para isso.

- É um prazer conhecê-lo – disse calmamente a figura que o encarava com os olhos negros, fixos no rosto do garoto, esboçando o que parecia ser um sorriso. – Meu nome é Barkoc, embora eu ache que já deva saber quem sou.

- Realmente já sei seu nome – respondeu Harry -, embora não o conhecesse.

- Foi Elphine quem o mandou, não foi? – perguntou Barkoc.

- Foi – respondeu Harry.

- Espero que ela tenha lhe dito que não é o primeiro que ela manda aqui para tentar pegar o cajado – continuou Barkoc. – É verdade que nenhum chegou tão longe quanto você! Mas ninguém nunca conseguiu me derrotar, nem mesmo Elphine.

- Ela não me disse – respondeu Harry -, mas imaginei pelo sorriso dela. E quanto ao fato dela nunca ter te derrotado, também deduzi isso. Afinal, se ela fosse capaz, ela mesma teria vindo buscar o cajado.

Barkoc sorriu novamente e disse para Harry:

- Pelo visto você já sabe em que se meteu, pelo menos. Mas por que se arriscou tanto pedindo algo para Elphine?

- Tenho uma missão a cumprir – respondeu Harry. – O mundo bruxo depende de mim pra deter um poderoso bruxo das trevas, e não pretendo decepcioná-los nisso. Além do quê, esse mesmo bruxo foi responsável pela morte de várias pessoas boas, e se eu não fizer nada, outras pessoas irão morrer, e não posso aceitar isso.

- Tem certeza de que é esse seu motivo? – perguntou ironicamente Barkoc. – Não teria mais a ver com vingar seus pais mortos por Voldemort?

Aquilo surpreendeu Harry, pois Barkoc parecia saber muito mais do que aparentava.

- Como sabe sobre isso? – perguntou Harry.

- Esperava mais de você, Harry Potter – respondeu Barkoc. – Como todos os outros bruxos, você acha que os outros seres mágicos não sabem sobre tudo que acontece no mundo da magia? Pois saiba que nós sabemos muito mais do que vocês possam um dia pensar em saber.

- Não é nada disso! – respondeu Harry irritado. – Não acho que nós bruxos somos superiores a ninguém no mundo da magia. Na realidade, cada vez mais acho que os inferiores somos nós. O problema é que vivi a vida inteira no mundo trouxa, e, portanto, desconheço muito desse outro mundo.

As palavras pareceram convencer Barkoc, mas logo ele retornou o olhar de ironia e disse:

- Mesmo com todos os seus nobres motivos, Harry Potter, não posso permitir que leve o cajado para Elphine.

- Mas pertence a ela! – disse Harry. – E não vou ficar nem um pouco constrangido em tentar tirá-lo de você!

Barkoc riu alto e disse para o garoto:

- Foi isso que ela lhe disse? Que pertencia a ela? Pois saiba que embora tenha pertencido a ela, ele na realidade é meu de direito, pois pertenceu a meu pai!

- Como assim? – perguntou Harry.

- É que esse cajado pertenceu a meu pai, e quando ele foi assassinado por minha mãe, ela o manteve o quanto pôde, até que fiquei forte o bastante para resgatá-lo – respondeu Barkoc.

- E quem é sua mãe? Posso saber? – perguntou Harry, já sabendo a resposta.

- Quem você imagina? Elphine, a fada do lago! – respondeu Barkoc.

- Agora tudo faz sentido! – disse Harry.

- Por quê? – perguntou Barkoc.

- Porque tenho que recuperar o cajado sem te ferir – respondeu Harry. – Nunca imaginaria que seria por esse motivo. Mas quando te vi, percebi na hora, embora tivesse achado melhor confirmar antes de dizer qualquer coisa.

- Não sei qual o motivo que ela tem, mas pode ter certeza que não tem nada a ver com o fato de ser minha mãe – disse Barkoc, sem demonstrar o mínimo de emoção pela informação que Harry tinha lhe dado. – Pois ela matou meu pai, e mandou muitos para tentar me matar e reaver o cajado. É só nisso que ela pensa.

- Será? – questionou Harry. – Afinal, nunca ninguém chegou até aqui para lhe encarar e tentar pegar o cajado sem machucá-lo.

- Isso não muda o fato de que ela matou meu pai! – berrou Barkoc.

- E você sabe por quê? – perguntou Harry.

- Por poder! – Barkoc continuava irado. – Como disse, é só nisso que ela pensa.

- Acho que não! – falou Harry. – Não posso dizer que confio em Elphine, mas o que você está me contando não faz sentido. Posso fazer um trato com você, se quiser.

- E qual seria? – perguntou Barkoc.

- Vamos comigo até a margem do lago, com o cajado. Chamamos Elphine e a perguntamos o porquê de ter matado seu pai, e o motivo de querê-lo – disse Harry, apontando para o cajado.

- E lá os dois me atacam, me matam e ficam com ele? – disse Barkoc. – Não sou idiota, Harry Potter.

- Se realmente você diz saber mais do que os bruxos sabem, - respondeu Harry – deve saber que eu nunca quebrei uma promessa, e prometo que se o motivo dela querer o cajado e ter matado seu pai, não forem justos o suficiente para você, eu o ajudo a voltar e entrego minha vida de bom grado a sua mãe.

Barkoc pareceu considerar a proposta de Harry e, olhando fixamente nos olhos do garoto, disse:

- Certo, Harry Potter, aceito sua idéia e a sua palavra. Contudo não se engane com o que estou dizendo, pois se perceber qualquer intenção sua de não cumprir nosso trato, tanto você, quanto a pessoa que está aguardando com minha mãe irão morrer!

Aquelas palavras assustaram Harry, mas não havia o que fazer, pois não se julgava capaz de derrotar Barkoc, e não podia arriscar a vida de Gina, então morreria se fosse preciso para salvá-la.

Barkoc murmurou algumas palavras que Harry não entendeu, e o cajado saiu de seu pedestal, flutuando até chegar as mãos da criatura. Ele então se virou, e apontando para a porta disse a Harry:

- Vamos, vá na frente e não se preocupe, pois a serpente não irá incomodá-lo. Ela já sabe que você está comigo.

Harry se virou e começou a seguir em direção ao labirinto. Como Barkoc tinha falado, ao chegarem no local em que ele tinha enfrentado a serpente, a mesma não o incomodou, abrindo passagem para os dois. Conforme caminhavam, as figuras de Gina, Rony e Hermione povoavam a cabeça de Harry, fazendo-o desejar que tudo acabasse bem, e que pudessem continuar sua batalha contra Voldemort.

- Louvável sua preocupação com seus amigos! – disse Barkoc, que caminhava atrás do garoto, a poucos metros de distância. – Sei dar valor a uma pessoa de caráter, que se preocupa com seus amigos.

Somente quando escutou essas palavras foi que Harry entendeu como Barkoc sabia de tudo dele com relação ao fato de ser mandado por Elphine, e de Gina estar com ela. Antes que pudesse dizer a criatura que sabia que ele era legilimente, Barkoc se antecipou e disse.

- Não é Legilimência. É um dom de nascença. Posso ouvir e falar com a mente de quem quiser. Mesmo ele sendo um ótimo Oclumente. Mas acho de mau gosto falar pela mente, e só escuto quando é estritamente necessário.

- Então você sabe que não tenho a menor intenção de traí-lo – disse Harry. Mas gostaria de entender melhor o que houve entre você e sua mãe. Você poderia me contar?

- Não vejo porque não – respondeu Barkoc. – Eu cresci junto com minha mãe, no lago, e fui muito feliz durante esse período. Embora seja uma pessoa que goste de levar vantagem nos acordos que faz, com os visitantes que lhe procuram, não possuí a índole má, é só ambiciosa demais. Ela nunca falava do meu pai, dizia que fora um elfo muito poderoso, e que havia morrido numa batalha, para me proteger. Cresci com a imagem de meu pai lutando contra criaturas das trevas, para proteger a mim e a minha mãe, mas isso mudou quando cheguei a idade adulta.

Harry pode sentir uma mudança na voz de Barkoc naquele momento da conversa. Um tom de ira surgiu ao falar do que aconteceu em seguida, enquanto caminhavam em direção a saída do labirinto.

- Minha mãe não permitia que eu fosse além de seus domínios, - continuou Barkoc - e um dia me afastei, e fui em direção a essa região, encontrando o labirinto e a sala onde estávamos. Uma vez lá, encontrei um ser preso nela. Achei que estava morto e não pude deixar de me aproximar para vê-lo melhor. Mas ao me aproximar pude ver que não, ele estava vivo, e me encarou diretamente nos olhos.

Harry desejou que o fim do labirinto não chegasse, antes de ouvir a estória toda de Barkoc, para poder entender o que iria acontecer quando encontrassem Elphine.

- A figura sorriu – continuou Barkoc, - e me chamou pelo nome e de filho. Eu disse que não era seu filho, que meu pai havia morrido, mas ele disse que estava ali por causa da minha mãe, e que era meu pai. Disse-me que ela o havia preso ali para poder governar sozinha nossas terras, e havia lhe tomado o cajado que dava o poder para isso. Gritei dizendo que era mentira, mas ele me falou que podia provar e, usando o resto de suas forças, ele me deu o poder de ler mentes. Quando usei esse poder, pude ver o momento de meu nascimento, com ele ao lado de minha mãe, e a luta que travaram um tempo depois. A última coisa que vi foi minha mãe prendendo meu pai nesse lugar e indo embora.

- Você não tentou falar com ela depois disso? – perguntou Harry.

- Claro que tentei – respondeu Barkoc. – Depois que enterrei meu pai, voltei para minha mãe e perguntei por que havia mentido. Quando ela se negou a responder, tentei ler sua mente, mas a única coisa que vi foi um borrão. Ela me disse que aquilo não era preciso, que ela ia me contar a verdade. Disse-lhe que não confiava mais nela, e que se não me deixasse ler sua mente, tomaria como verdade o que vi na mente do meu pai. Ela se negou, dizendo que existiam coisas que era melhor que eu não soubesse, então percebi que era tudo verdade. Ataquei minha mãe e tomei o cajado que fora de meu pai, impedindo ela de sair do lago, e pagando na mesma moeda o que ela fizera com ele.

- Espero que você esteja errado – disse Harry. – Pois se estiver certo, acho que perdi a minha vida.

Harry e Barkoc chegaram até o fim do labirinto e caminharam até a saída da caverna em silêncio. Harry então se aproximou e, usando o feitiço Lumus, chamou a fada do lago. Alguns minutos depois, Elphine e Gina apareceram. A fada flutuava pelo lago e a ruiva estava na embarcação de cristal que haviam usado para chegar até ali.

Ao ver Barkoc com o cajado em suas mãos, Elphine sorriu e disse a Harry:

- Você cumpriu sua missão e por isso farei o que pediu.

- Mas ainda não lhe entreguei o cajado – disse Harry, - como posso ter cumprido a missão?

- Pois na realidade o que queria e ver meu filho, e permitir que ele leia minha mente e veja o que realmente aconteceu. Se depois disso ele resolver me libertar, ficarei feliz em voltar a viver com ele. Senão, aceitarei o castigo que ele me impor.

Surpreso com a reação de Elphine, Barkoc se aproximou da margem. Fixando seus olhos nos dela, leu sua mente por alguns minutos. Logo em seguida, se virou para a fada e disse:

- Preciso pensar. Não lhe darei a resposta agora, mãe, mas peço que me procure amanhã no fim da tarde, para que conversemos e resolvamos essa situação.

Barkoc se virou para Harry, e disse-lhe calmamente:

- Pode ir, Harry Potter. Minha mãe vai cumprir sua palavra e realizar o que combinou com você. Quanto a mim, lhe agradeço por me dar pelo menos o poder de decidir o que fazer daqui pra frente.

A criatura se virou, entrando de volta na caverna e em seu labirinto.

Elphine fez sinal para que Harry subisse na embarcação, e assim que ele o fez, Elphine fez com que a ela começasse a fazer o caminho de volta a outra margem do lago.

O garoto sentiu que Gina estava louca para lhe perguntar tudo que havia acontecido no labirinto, mas permanecia calada, com receio de causar algum problema. Harry então se aproximou e sussurrou em seu ouvido:

- Está tudo bem. Depois te conto tudo.

A menina fez que sim com a cabeça e sorriu para Harry.

Quando chegaram à outra margem do lago, Harry e Gina saltaram da embarcação de cristal, e aguardaram Elphine falar.

- Me dêem a tiara, para que possa retirar o fragmento da alma que nela reside.

Harry ficou receoso em lhe entregar a tiara, pois sabia que Elphine a desejava e, como Barkoc havia lhe dito, a fada era muito ambiciosa.

- Não se preocupe, Harry Potter, só desejava a tiara para descobrir se havia uma maneira de chegar ao meu filho sem possuir o cajado para sair do lago – disse Elphine olhando nos olhos de Harry. – Agora ela de nada me valerá!

Harry entregou a tiara, e observou Elphine fazer surgir um cubo que parecia ser feito com a água do lago. A fada então depositou a tiara dentro dele, e ela ficou flutuando em seu interior.

Elphine então começou a murmurar palavras que não faziam nenhum sentido para Harry e Gina, aumentando cada vez mais a intensidade das palavras. A tiara começou a brilhar dentro do cubo, e a água dele foi se tornando negra, os impedindo de continuar a enxergar a tiara. Quando estava quase gritando, Elphine parou de repente, enfiando a mão dentro do cubo e tirando a tiara intacta. A fada entregou a tiara a Harry e, fazendo um pequeno movimento com as mãos, o cubo explodiu. De dentro dele, o garoto pode ouvir o grito da alma de Voldemort, que já havia escutado nas outras vezes que destruiu alguma Horcruxe.

Naquele momento, Harry soube que a Horcruxe havia sido destruída, embora a tiara continuasse intacta, e se virou para Elphine, dizendo:

- Obrigado. Ajudou-nos muito.

- Não mais que você a mim, Harry Potter – disse a fada. – Me fez um favor que nenhum outro havia conseguido.

- Então acho que tenho direito a perguntar algumas coisas, não é? – disse Harry, deixando Gina assustada, afinal não tinham porque se arriscar mais. – Se não for me custar nada, e você não se importar em responder.

Elphine sorriu e respondeu:

- Tudo bem! Acho que tem esse direito.

- Por que eu?

- Porque o que se escuta no mundo bruxo é que você, mais do que todos, é capaz de reconhecer a bondade nos outros seres e respeitá-los. Que você dá valor à vida e à família. E que é incapaz de matar qualquer ser vivo, se puder evitar.

- Seu filho me contou a versão do pai sobre vocês e o cajado – continuou Harry. – Gostaria de saber a sua.

- A realidade é que realmente eu prendi o pai dele naquele lugar – respondeu Elphine. – E que havia motivos para ele me odiar. Mas o que ele queria fazer eu não podia permitir.

Elphine fez uma pequena pausa e continuou a falar:

- O que houve foi que tanto eu quanto o pai de Barkoc só nos unirmos para poder ter mais poder, e que unindo forças poderíamos tomar quase toda a região. Mas quando nosso filho nasceu, o pai soube que ele seria mais poderoso que nós, e que possivelmente teríamos de entregar nossos domínios a ele quando crescesse. Quando o pai de Barkoc resolveu que o melhor era retirar todo o poder dele e transferi-lo para nós, aceitei, pois desejava o poder mais do que tudo.

Harry olhou horrorizado para a fada. Não imaginava que ela seria capaz de fazer isso com o próprio filho.

- Quando chegou a hora de fazer o ritual que retiraria todo o poder de Barkoc, pensei em trair o pai dele e ficar com todo o poder para mim – continuou Elphine. – O pai dele percebeu minha intenção, embora sempre tivesse o poder de impedi-lo de ler a minha mente, e adiou o ritual, dizendo que faltavam coisas a fazer. Até hoje agradeço por isso.

- Por quê? – perguntou Harry curioso.

- Porque para realizar o ritual, Barkoc teria que ser morto, e eu não sabia – respondeu Elphine. – Naquele momento, percebi que desejava mais a vida de meu filho que o poder. Durante a noite, prendi o pai de Barkoc e retirei o cajado de seu poder.

Harry começava a entender os motivos que levaram Elphine a não deixar Barkoc a ler sua mente, no momento em que soube da verdade.

- Dei a ele a opção de viver no castelo, sem seus poderes, perto do filho – continuou Elphine. – Mas como se negou, dizendo que assim que pudesse iria matá-lo e recuperar o que era seu por direito, não tive opção senão prendê-lo naquele lugar, dando o suficiente para que sobrevivesse se não usasse o pouco poder que ainda possuía.

A fada baixou os olhos e pareceu envergonhada.

- Quando Barkoc encontrou o pai, seu último ato foi jogá-lo contra mim, com a esperança de que ele me matasse. Porém meu filho é muito melhor do que eu ou seu pai já fomos, então a única coisa que fez foi me aprisionar no lago. Quando ele me procurou, me cobrando a verdade, tive vergonha de ter tentado roubado seus poderes por ambição, e simultaneamente tive medo que ele me destruísse por ser tão poderoso. Depois que ele me prendeu no lago não tive mais como falar com ele, e desde então tenho feito todos que me pedem favores tentar trazerem o cajado para mim, o que faria ele me procurar.

- Não seria mais fácil contar a verdade aos que lhe procuravam, para saberem o que tinham que fazer? – perguntou Harry.

- Infelizmente, as pessoas que me procuravam eram mais parecidas comigo do que com você, Harry Potter – respondeu Elphine. – Me procuravam mais para obter poder do que por motivos justos ou bons. Então, se contasse a verdade, provavelmente utilizariam isso contra mim.

Harry concordou com a cabeça, demonstrando que estava satisfeito e não iria perguntar mais nada. Ele e Gina fizeram uma reverência à fada e se dirigiram a chave de portal, querendo retornar o mais rápido possível para Hogwarts.

- Boa sorte com seu filho! – disse Gina, surpreendendo Harry e Elphine, que observou os dois tocarem a chave de portal e desaparecerem em seguida.

Harry e Gina surgiram na sala da Diretora, em Hogwarts, onde apenas o quadro de Dumbledore os aguardava.

- Conseguimos – disse Harry. – A Horcruxe foi destruída.

- Fico feliz, Harry – disse Dumbledore, sem sorrir, o que deixou Harry e Gina preocupados.

- O que está acontecendo de errado? – perguntou Gina.

- Peço que se mantenham calmos, pois o máximo possível está sendo feito – respondeu Dumbledore.

- O que está acontecendo? – perguntou novamente Gina, se desesperando.

- É melhor que Harry procure o Sr. Nicholas e guarde a tiara no lugar de onde nunca deveria ter saído – respondeu Dumbledore. – E acho melhor a senhorita Weasley ir direto para a enfermaria, onde Harry pode lhe encontrar depois que guardar a tiara.

- O que está acontecendo?! – disse Harry nervoso. – É o Rony, não é?

- O Sr. Weasley piorou – respondeu Dumbledore. – A Srta. Granger já está lá com ele, junto com o resto de sua família, Srta. Weasley. O melhor é que se juntem a ele.

Harry e Gina não esperaram Dumbledore dizer mais nada, e saíram correndo direto para a enfermaria, para ver o que estava acontecendo com Rony.

No caminho, Harry se lembrava de todos os momentos que viveu com o amigo, e como sua amizade tinha sido importante para ele. De quantas vezes ele o ajudara, inclusive salvando sua vida, e de que como se sentia infeliz antes de conhecê-lo.

Rony tinha lhe dado uma família, tinha lhe dado o amor de sua vida quando lhe apresentou sua irmã. Tinha lhe dado a irmã que nunca teve, quando brigou com Mione, fazendo com que se arriscassem para salvá-la de um trasgo no primeiro ano, tornando-os amigos. Rony fora seu melhor amigo por todo o período de sua vida no mundo da magia, e ele era a pessoa que mais sabia de sua vida e de seus anseios.

Harry olhou para Gina, que corria ao seu lado, e pôde ver as lágrimas que corriam pelo seu rosto. Toda aquela força e determinação que a garota sempre mostrara haviam desaparecido. Ali na sua frente, Harry só via uma menina desesperada, que achava que estava perdendo seu irmão, a pessoa que mais amara desde que nascera.

Harry não podia deixá-lo morrer, e se isso acontecesse, ele nunca iria se perdoar. Para isso, tinha que chegar logo a enfermaria, e fazer o que fosse preciso para salvá-lo. Era sua responsabilidade.



Nota do Autor: Estou aqui novamente para agradecer a Nikari Potter por betar mais esse cap da minha fic, além de agradecer a todos que estão acompanhando e deixando seus comentários, todos eles são muito importantes para mim.

Muito obrigado e até o próximo.

Valeu!

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