Pode o amor fazer a diferença?



Capítulo 20: Pode o amor fazer a diferença?

Harry e Gina chegaram à enfermaria e encontraram Hermione e os Weasleys, menos Gui e Carlinhos, que não puderam vir, em torno da cama em que Rony dormia profundamente. Até mesmo Percy estava lá, um pouco afastado do grupo, mas presente. Harry sempre achou que Percy fosse muito ligado a Rony, pois mesmo quando se manteve afastado da família, parecia se preocupar com o irmão.

Gina correu até a cama, esperando ver seu irmão com delírios muito maiores do que estava tendo antes de irem para o lago. Com lágrimas nos olhos, Gina mirou o rosto de Rony e ficou surpresa quando não encontrou o que imaginara. Ela se virou para Hermione e disse num tom nada amigável:

- Dumbledore disse que ele tinha piorado, mas me parece tão sereno! O que houve?

- Ele realmente piorou – respondeu Hermione, com os olhos tão vermelhos que Harry pôde jurar que ela estivera chorando desde que saíram para o lago. – Piorou tanto que Madame Pomfrey teve que induzir um “sono suspenso” nele, que é como se fosse um coma para nós trouxas. Mas ele não pode ficar muito tempo nesse estado, senão ele pode não voltar mais – Hermione escondeu os olhos com as mãos, e começou a chorar.

A Sra. Weasley amparou a menina, enquanto o Sr. Weasley, Fred, Jorge e Percy puxavam Harry para fora da enfermaria, com a intenção de conversarem.

- Precisamos saber o que aconteceu ao Rony, Harry – disse o Sr. Weasley. – Caso contrário, não temos como ajudá-lo.

- Não posso lhe contar nada, Sr. Weasley – Harry se sentiu tremendamente mal por dar aquela resposta ao pai do amigo. – Rony sabia o que estava fazendo e o perigo que corria. Eu fui contra isso mais do que ninguém, mas ele não aceitou meus argumentos e resolveu se arriscar. O senhor não imagina o que eu estou passando por ver Rony desse jeito. Ele me deu a única família que já tive.

- Não estou lhe acusando de nada, Harry – disse o Sr. Weasley. – Mas é meu filho, preciso fazer alguma coisa! – ele deixou o desespero que tinha dentro de si vencer seu auto-controle. Suas pernas fraquejaram, e ele foi seguro por Fred e Jorge, que o puxaram em direção a uma cadeira do lado de fora da enfermaria.

Harry se assustou quando Percy veio em sua direção com a cara fechada, parecendo que iria esmurrá-lo. Mas parou em frente ao garoto e disse:

- Sei que Rony confia em você mais do que em qualquer outra pessoa. Sei também que você se importa com ele tanto quanto qualquer um de nós. Estou orgulhoso que meu irmão esteja fazendo algo pelo bem de todos, e esteja arriscando a vida por aqueles que não podem se defender. Não pense que não me importo com ele, mas se você diz que não pode nos contar nada, acredito que não possa mesmo. Só quero dizer que quero ajudar da maneira que puder, e pode contar comigo para o que precisar.

Percy estendeu a mão para Harry, esperando uma reação do garoto.

Harry se lembrou de tudo que Percy tinha feito para os Weasley e para ele também, e se sentiu tentado a não perdoá-lo. Mas viu também como Percy se importava com Rony, e parecia estar sendo sincero. Resolveu então aceitar a oferta e, estendendo a mão, apertou a mão de Percy.

- Sei que fui um idiota por aceitar cegamente tudo que o Ministério fez com você, e pode ter certeza de que me arrependo muito – continuou Percy. Quando terminou de apertar a mão de Harry, ele se juntou a Fred e Jorge, que tentavam reanimar o Sr. Weasley.

Harry voltou à enfermaria e encontrou Gina, Mione e a Sra. Weasley em torno da cama que Rony ocupava. Sentiu-se culpado por não poder fazer nada para ajudar o amigo, pois se lembrou das palavras do Oráculo: somente quem o amasse poderia salvá-lo.

- O Oráculo!!! – disse Harry, mais alto do que deveria, chamando a atenção de Gina, Hermione e da Sra. Weasley.

- O que você disse, querido? – perguntou a Sra. Weasley.

- Nada! – disse Harry, percebendo o que tinha feito. – Volto já – ele saiu da enfermaria em seguida, com a intenção de encontrar Nick-quase-sem-cabeça, para este levá-lo à sala dos fundadores.

Quando Harry já estava no corredor da enfermaria, uma voz o chamou, fazendo-o parar. Ele se virou para olhar e viu Gina e Hermione, que corriam em sua direção.

- Descobriu uma forma de ajudar o Rony? – perguntou a garota, visivelmente ansiosa.

- Ainda não. Mas existe uma chance – respondeu o garoto. - Sinto muito, mas não posso falar nada a vocês por enquanto. Eu fiz uma promessa que não revelaria o que sei a ninguém.

- Sabemos disso – disse Gina. – Sabemos também que você fará tudo que puder para ajudar Rony. Confiamos em você. Só queremos saber se podemos ajudar.

- Ainda não – disse Harry. - Mas assim que tiver uma resposta, volto pra conversarmos. Tenho certeza de que vou precisar da ajuda de vocês.

Harry beijou a ruiva, deu abraço na amiga e continuou seu caminho para encontrar o fantasma da Grifinória.

Ainda estava muito preocupado, mas passou a seguir com um pouco mais de ânimo, pois seus amigos ainda confiavam nele.

Harry correu pelos corredores do castelo o mais rápido que pôde, perguntando a cada quadro em seu caminho onde poderia encontrar Nick-quase-sem-cabeça. Foi enquanto subia as escadarias em direção à torre em que ficavam os dormitórios da Grifinória que ele viu o fantasma, flutuando em sentido contrário.

- Que bom que o encontrei, Nick – disse Harry. – Preciso que me leve ao Oráculo. A vida de Rony depende disso.

- Posso até levar você, Harry – o fantasma tinha o olhar triste -, mas pode ser que isso não resolva.

- Por que acha isso? – perguntou Harry.

- O oráculo não altera o destino da pessoa – respondeu o fantasma. – Se for o destino do Sr. Weasley morrer agora, é o que vai acontecer. E se for o destino dele que alguém morra junto tentando salvá-lo, o Oráculo irá dizer como fazer para a pessoa tentar, mas não se terá sucesso ou não. Ele não permite que as pessoas saibam seu destino.

- Não importa! – Harry agora deixava o desespero dominá-lo. – Tenho que fazer alguma coisa! O Rony não pode morrer!

- Certo – Nick tentava acalmar Harry. – Vamos, então. Peço que me encontre nas masmorras, no mesmo lugar em que entramos da última vez, pois tenho que comunicar os fantasmas das outras casas.

Harry concordou com a cabeça, e viu Nick sair flutuando e desaparecer pela parede da escada. O garoto se virou e começou a descer, torcendo para que não fosse tarde para salvar Rony.

Depois de correr pelo castelo, chamando a atenção de todos que o encontravam pelo caminho, Harry chegou ao ponto em que tinha entrado pela última vez na sala dos fundadores. Os minutos demoravam para passar, e o desespero do garoto só aumentava.

Algum tempo depois, Nick apareceu pela mesma passagem da primeira vez em que Harry entrara na sala dos fundadores. Vendo o desespero de Harry, o fantasma foi logo falando com ele.

- Tudo certo. Estão todos esperando você.

Harry e Nick atravessaram a passagem, chegaram ao véu que separava a sala dos fundadores do corredor, e se depararam com os outros três fantasmas que os aguardavam.

Nick fez sinal para o garoto, e ele aproximou da mesa do Oráculo, perguntando em seguida:

- O que posso fazer para ajudar meu amigo Rony, que se encontra na enfermaria de Hogwarts, a se recuperar, após usar a tiara de Corvinal?

- Nada – respondeu de maneira simples a voz que vinha do Oráculo.

O desespero de Harry aumentou, não podia voltar sem saber o modo de salvar Rony. Não podia deixá-lo morrer. Tentando se acalmar, pensou em como Hermione analisaria essa situação.

- Hermione! – disse Harry, lembrando do que disse o Oráculo da outra vez, que só uma pessoa que o amasse poderia salvá-lo.

O garoto olhou para o Oráculo e perguntou de maneira direta, acreditando que teria uma resposta melhor:

- E quem seria capaz de ajudá-lo?

- Somente a pessoa que fosse seu complemento nessa vida – respondeu o Oráculo. – Que estivesse destinada a passar a vida inteira ao seu lado.

- E essa pessoa seria? – continuou Harry.

- Ninguém sabe – respondeu o Oráculo. – O destino das pessoas não é algo imutável, portanto não existe forma de prevê-lo.

“O que farei agora?”, pensou Harry. Não havia forma de saber quem podia ajudar o amigo. Devia contar isso aos outros? Isso faria Hermione querer se tentar algo com certeza. Não queria que a amiga também se arriscasse. E se não contasse e Rony morresse? Quando Hermione soubesse que havia uma chance de salvá-lo e Harry não fez nada, ela nunca o perdoaria.

- Se a pessoa destinada a ele quisesse salvá-lo, o que teria que fazer? – perguntou Harry.

- Ela teria que fazer uma ligação áurea com ele – respondeu o Oráculo. – Para isso, suas mentes teriam que ser unidas através de uma poção chamada Legimentia, que permite a mente de quem está sã, adentrar a mente de quem está sofrendo.

- E o que acontece se a pessoa que está tentando salvar a outra não for a destinada a ele? – Harry perguntou, já sabendo a resposta.

- Ficará na mesma situação da outra – respondeu o Oráculo. – Permanecerá com dores insuportáveis até morrer.

O garoto saiu respeitosamente da mesa. Guiado por Nick-quase-sem-cabeça, saiu da sala dos fundadores.

- Pelo menos existe uma chance – disse Nick para Harry. – Já é mais do que se consegue dele na maioria das vezes.

- Eu sei – respondeu o garoto. – Só não sei se tenho o direito de contar para meus amigos. Visto que não sou eu que vou ter de me arriscar para salvá-lo. Não sei se agüentaria ver mais um deles nesse estado.

- Sem querer ser mal-educado, Harry, mas direi minha opinião – disse o fantasma. – Acho que você não tem o direito, e não cabe a você decidir se alguém deve se arriscar pelo Sr. Weasley ou não. Cada um deve decidir isso por si só. Cada um sabe o valor que a vida dele tem para si.

As palavras de Nick-quase-sem-cabeça tocaram Harry. Ele não tinha o direito de tirar de Hermione a opção de tentar salvar Rony. Pensou em Gina. E se fosse o contrário? Ele sabia que nunca perdoaria Hermione se tirasse a oportunidade de salvar a ruiva, se pudesse. Ele sorriu em agradecimento ao fantasma e correu em direção a enfermaria. Não tinha mais tempo a perder. Se Hermione quisesse tentar salvar Rony, ele estaria lá para ajudá-la, e aceitaria qualquer decisão sua.

Harry encontrou Gina e Hermione ao lado da cama de Rony. Fez um sinal para as duas, que o acompanharam para fora da enfermaria de maneira discreta.

- Descobriu alguma coisa? – perguntou Gina, ansiosa.

- Sim – respondeu Harry -, mas preciso que me ajudem. Precisamos encontrar na biblioteca como fazer uma poção chamada Legimentia. Só ela poderá ajudar Rony.

- Não temos tempo pra isso! – disse Hermione. – Há uma maneira mais rápida. Perguntar a Slughorn, ele deve saber como fazê-la.

- Certo – concordou o garoto. - Vamos procurá-lo.

Harry, Gina e Hermione saíram em direção às masmorras, com a intenção de encontrar o Professor Slughorn, que deveria estar em seus aposentos naquele momento.

Ao chegarem ao quarto de Slughorn, Harry bateu na porta, e alguns momentos depois o professor a abriu, vestido em um roupão roxo muito vistoso.

- Harry, o que houve? Seu amigo piorou? – perguntou Slughorn.

- Não – respondeu Harry. – Mas precisamos de sua ajuda, professor. Podemos entrar?

- Claro! – disse Slughorn, se afastando e abrindo passagem aos três.

Harry, Gina e Hermione se sentaram em pequenos puffs que estavam nos aposentos de Slughorn, que conjurou uma poltrona e se sentou em frente aos três.

- Em que posso ajudá-los? – perguntou Slughorn.

- Precisamos que nos prepare uma poção chamada Legimentia – respondeu Harry. – É a única coisa que pode ajudar Rony a se salvar.

- Legimentia? – disse o professor. – Veja bem, Harry, faria tudo ao meu alcance para ajudar seu amigo, mas nunca ouvi falar dessa poção.

- Como não? – perguntou Harry. – O senhor é o professor de poções. E pelo que ouvi falar, um dos melhores que Hogwarts já teve. Se o senhor não conhece, estamos perdidos.

- Fico lisonjeado, Harry – continuou Slughorn. – Mas acredito que tenha uma pessoa que talvez a conheça. Embora não acredite que queira falar com ele.

- Não pode ser ele – Harry deixou transparecer sua perplexidade, ao imaginar quem seria. – Ele não ajudaria o Rony.

- Isso eu não sei – disse Slughorn. – Só sei que se existe alguém que pode conhecer essa poção, essa pessoa com certeza é Severo Snape.

Harry olhou para Gina e Hermione, que estavam com os olhos arregalados de surpresa. O silêncio foi quebrado pela voz de Hermione:

- Se ele pode saber, vamos atrás dele!

- Tudo bem, mas eu vou sozinho – completou Harry. - Não posso revelar onde Snape está! E não se preocupem, farei com que nos ajude.

Mesmo com os protestos de Hermione, Harry correu até a sala da Diretora, deixando Gina com a amiga. Chegando lá, solicitou à Professora McGonagall que lhe fosse permitido aparatar de sua sala, e foi atendido. Segundos depois, Harry aparatou e surgiu em frente a casa onde Snape e os Malfoys estavam escondidos.

Atravessou os portões e bateu na porta. Como fiel do segredo, só ele podia ver a casa onde os Malfoys se encontravam. A porta foi aberta por Snape, que segurava a varinha em direção a Harry.

- O que você quer? Tem certeza de que não foi seguido?

- Tenho – respondeu Harry, secamente. – Preciso de sua ajuda.

- Precisa da minha ajuda? – Snape sorriu de forma sarcástica. – E para que seria?

- Rony – respondeu Harry. – Ele precisa de uma poção chamada Legimentia, e me disseram que só você sabe como fazê-la.

- Entre – Snape se afastou, abrindo passagem para Harry.

Harry entrou na casa e seguiu Snape após ele ter fechado a porta para um cômodo que parecia ser uma biblioteca. Após se sentarem, Snape se dirigiu ao garoto:

- Conte-me tudo que aconteceu.

- Não temos tempo! – esbravejou Harry. – Rony está morrendo!

- Se não souber exatamente o que está acontecendo, não poderei ajudar. Ninguém conhece essa poção porque não existe uma fórmula única. Tudo depende do que aconteceu com a pessoa.

Harry explicou a Snape tudo que acontecera, tomando cuidado para não tocar no assunto dos segredos que havia jurado não revelar, e esperou sua resposta.

- Espere aqui – disse Snape, enquanto se retirava da sala.

Harry ficou ali sentado, remoendo o próprio ódio que sentia de Snape, achando que o ex-professor não estava querendo ajudar. Ele estava demorando de propósito. Ele queria matar Rony.

- Aqui está, Potter – disse Snape, de forma displicente, quando voltou à sala. – Isso deve salvar seu amigo. Mas acho melhor ser a Srta. Granger a preparar essa poção. Se bem me lembro, seu desempenho nunca foi dos melhores – o sorriso irônico voltou ao rosto do antigo professor, o que deixou Harry irritado.

- Por que você mesmo não prepara? – gritou Harry.

- Porque caso não tenha notado – respondeu Snape, sem tirar o sorriso dos lábios –, não possuo os ingredientes necessários, e pelo adiantado da situação em que se encontra o Sr. Weasley, o melhor é que ele tome logo.

Harry se levantou e seguiu para a porta que dava acesso à rua. Ao sair, ainda nas escadas, virou-se e disse ao professor, fazendo um enorme esforço para pronunciar aquela palavra:

- Obrigado.

- Estamos quites! – finalizou Snape, fechando a porta.

Harry saiu e aparatou para Hogwarts.

Ele surgiu na sala da Diretora, onde estava sendo esperado ela, Hermione e Gina.

- Tome, Hermione! – disse Harry, estendendo o braço, lhe entregando o papel em que Snape havia escrito a poção que podia salvar Rony. – Temos que fazê-la o mais rápido possível.

Hermione pegou o pergaminho e o leu o mais rápido que pôde.

- Vou para as masmorras. Vocês fiquem na enfermaria com o Rony. Estarei lá em algumas horas.

- Eu vou com você, Hermione! – disse Harry. – Você pode precisar de ajuda.

- Não! – Hermione parecia um pouco assustada, mas convicta. – Tenho que fazer isso sozinha. As instruções foram bem claras.

Harry se arrependeu de não ter lido o pergaminho, mas nem havia pensado na hipótese de que Hermione não o deixaria ajudá-lo. Gina pegou em seu braço e o puxou em direção a enfermaria, enquanto Hermione se dirigia às masmorras.

Harry e Gina se juntaram aos outros Weasleys, que aguardavam em torno da cama de Rony. Havia uma tristeza nos olhos de todos, que impedia Harry de encará-los. Então, ele se limitou a sentar ao lado de Gina, perto da cama do amigo.

As horas que se seguiram foram terríveis. A cada som que vinha da porta da enfermaria, todos se viravam com a esperança de ser Hermione. A demora era uma verdadeira tortura. A visão de Rony inerte na cama era terrível demais, e a Sra. Weasley teve que ser amparada várias vezes, pois seu desespero era cada vez maior.

Várias horas depois, Hermione entrou na enfermaria segurando um frasco que continha um liquido azul celeste, parecendo muito enfraquecida.

- Pronto – disse a garota. - Preciso agora que retirem Rony do “sono suspenso” e coloquem uma cama ao lado da dele.

Harry e Fred puxaram uma maca rapidamente para o lado de Rony, enquanto Madame Pomfrey executava um feitiço, tirando Rony do “sono suspenso”.

Hermione deitou-se na cama, enquanto Rony começava a se contorcer de dor novamente. A menina segurou a mão do ruivo com força, evitando que ele se soltasse.

- Agora dividam a poção em duas, e nos dêem para beber. No caso de Rony, apenas coloquem em sua boca que ela fará o resto.

Madame Pomfrey dividiu a poção em duas e ia colocar na boca de Rony, quando Hermione salientou:

- Depois que bebermos, não façam mais nada. Nem tentem me separar de Rony. Isso pode nos matar. A única chance que temos é essa, então se for nosso destino irmos juntos, não existe nada a se fazer.

Madame Pomfrey recuou, achando loucura tudo o que Hermione havia dito, mas a poção foi pega de suas mãos por Gina, que levou até a garota, perguntando:

- Tem certeza?

- Você sabe que sim – respondeu Hermione.

- Tenha cuidado, e volte logo – disse Gina. – Não podemos perder dois Weasleys de uma vez só.

Gina abraçou a amiga, chorando enquanto entregava a poção. Chegou até Rony, despejando uma parte da poção em sua boca, enquanto Hermione engolia a sua parte da poção e entrava num sono profundo.

Por alguns segundos, nada mudou. Depois, Hermione soltou um grito de dor e começou a se contorcer, parecendo estar sendo torturada. Madame Pomfrey tentou chegar aos dois, mas foi impedida por Gina, que disse a todos:

- Deixem-nos. Essa é a única chance que eles têm!

A cena durou mais alguns minutos, então cessou. Hermione e Rony voltaram a ficar serenos, embora suassem muito, devido ao esforço de agüentarem as dores.

- O que faremos agora? – perguntou Harry a Gina.

- Esperamos – respondeu Gina. – É só o que podemos fazer.

Harry olhou para Gina, que apontava para as mãos dos dois, que permaneciam entrelaçadas.

Passaram-se horas e nada mudava na enfermaria. Ninguém aceitara sair de lá, então foram acomodados nas macas vazias. Apenas Gina e Harry permaneciam acordados, sentados em cadeiras ao lado das camas dos amigos.

Foi Hermione quem primeiro abriu os olhos, gemendo baixinho. Harry e Gina se levantaram para olharem em seus olhos.

- Tudo bem, Hermione? – perguntou Harry, desesperado.

- Sim – respondeu Hermione excitante. – Eu acho. Deu certo? Rony acordou?

- Ainda não – respondeu Gina. – O que aconteceu?

Hermione se sentou, não soltando a mão de Rony ainda entrelaçada a sua, recostando-se na cama para poder olhar para os amigos.

- Vou lhes contar, mas não quero que ninguém mais saiba. É muito particular.

Hermione abaixou os olhos e começou:

- As instruções de Snape foram claras. Eu deveria preparar a poção sozinha, pois só a pessoa que quisesse salvar Rony poderia fazê-la com sucesso.

Gina e Harry ficaram intrigados, mas não disseram nada, com medo de que a amiga não tivesse coragem de continuar.

- Eu deveria preparar a poção conforme as instruções que ele havia escrito. Usando os ingredientes e a preparando de forma precisa. Porém, havia um ingrediente fundamental para que ela funcionasse, e obtê-la dependeria apenas de mim. Eu deveria pensar em Rony, e no que ele representava na minha vida. Deveria pensar no que significaria a morte dele. Se meu sentimento fosse sincero, eu iria chorar lágrimas verdadeiras, e elas deveriam cair na poção durante o preparo. Não adiantava pegar as lágrimas e guardá-las para utilizá-las depois, era necessário que caíssem diretamente na poção.

Hermione começou a soluçar, e lágrimas caírem de seus olhos.

- Demorei pra começar a fazer a poção com medo de meu sentimento por seu irmão não ser forte o suficiente – disse Hermione. – Isso poderia eliminar qualquer chance dele ser salvo. Foi quando comecei a chorar. Sem saber o porquê, comecei a chorar como nunca havia feito em minha vida. Só aí percebi o quanto eu o amo, e que se alguém podia salvá-lo, esse alguém era eu.

Hermione olhou fixamente para Gina, com seus olhos cheios de lágrimas e um pequeno sorriso nos lábios.

- Interessante o modo como se descobre o quanto se ama uma pessoa, não é? Sempre soube que gostava de seu irmão, só não sabia que poderia ser tanto.

Gina abraçou a amiga e disse:

- Eu nunca duvidei disso. Ele está salvo, então? Se está tudo bem, por que ele não acorda?

- Tinha mais uma coisa – respondeu Hermione. – Seu irmão teria que ter o mesmo sentimento que tenho por ele, senão não funcionaria.

- Então ele vai acordar! – quem falara agora era Harry, que até então apenas observara Gina e Hermione. – Eu sei o quanto Rony te ama, Hermione. Tenho certeza de que vai terminar tudo bem.

Hermione sorriu para Harry. Ele sabia que ela estava agradecendo, mesmo sem dizer uma única palavra.

- Mas o que aconteceu enquanto vocês estavam sobre o efeito da poção? – perguntou Harry. – Você se lembra?

- Não – respondeu Hermione. – Só lembro de ter tomado a poção e de acordar agora. Não me lembro de mais nada.

- Mas eu me lembro – disse uma voz fraca, que todos esperavam há muito tempo ouvir.

- Rony! – gritaram os três, se jogando em direção a cama do ruivo, que tinha um sorriso cansado no rosto.

- Calma! – disse Rony. – Assim vocês acabam me matando. Não tô conseguindo respirar.

Com os gritos, todos que estavam na enfermaria acordaram. Em segundos, todos os Weasleys estavam em torno da cama de Rony. O Senhor e a Senhora Weasley sorriam entre lágrimas, enquanto os irmãos de Rony faziam uma algazarra capaz de acordar a todos no castelo.

Depois de alguns minutos de euforia, em que todos perguntavam a Rony e Hermione do que se lembravam, Madame Pomfrey exigiu que todos saíssem da enfermaria e fossem para as acomodações preparadas para eles no castelo. Dizia que Rony e Hermione tinham que se recuperar, e no dia seguinte poderiam conversar.

O mais estranho para Hermione foi o fato de Rony não dizer a ninguém que se lembrava do que havia acontecido enquanto estava desacordado, e não brigar com a enfermeira, exigindo ficar mais tempo com todos. Apenas havia dito que queria a cama de Hermione ao seu lado, para não ficar sozinho.

Alguns minutos após todos se despedirem, e apenas Rony e Hermione se encontrarem na escura enfermaria, num silêncio tranqüilo, em que se escutava apenas a brisa leve batendo nas janelas, Hermione sentiu a mão de Rony tocar a sua e, ao se virar, encontrou o olhar do garoto.

- Obrigado – disse ele.

Hermione sorriu e apertou a mão de Rony.

- Não há porque me agradecer – disse Hermione. – Você faria o mesmo por mim – ela pode ver o sorriso que tanto amava no rosto do ruivo. - Você realmente se lembra do que aconteceu enquanto a gente estava sobre o efeito da poção? – perguntou Hermione, enquanto se sentava na cama. – Eu não me lembro de nada.

- Lembro sim - respondeu Rony. – Quer que eu te conte?

- Quero – Hermione respondeu. – Mas só se você quiser me contar.

Rony se sentou na cama, puxando Hermione de encontro a si, de forma a aconchegá-la em seu peito.

- Lembro-me de ser puxado para um lugar escuro e frio, depois que usei a tiara. Eu sentia dores terríveis, tinha a sensação de que alguém me torturava, tamanha era a dor que sentia.

Hermione suspirou, enquanto tentava segurar as lágrimas que teimavam em retornar toda vez que escutava a voz de Rony.

- Escutava vozes, mas não conseguia entender o que diziam. Só sabia que tinha que agüentar. Tinha certeza que você daria um jeito de me resgatar. Eu nunca duvidei que você fosse capaz disso – Rony beijou o topo da cabeça de Hermione, enquanto deslizava a mão por seu rosto. – Depois de muito tempo, quando já não suportava mais as dores, houve um clarão, e quando a escuridão voltou, tudo ficou calmo. Não escutava mais vozes, mas sentia que estava cada vez mais fraco. Tive muito medo de não voltar a vê-la.

Hermione se afastou do peito de Rony, e o beijou suavemente.

- De alguma maneira, sabia que você estava ao meu lado – continuou Rony. - Não sentia seu toque, nem ouvia sua voz, mas eu sabia que você estava aqui, então não me senti só, apenas cada vez mais fraco.

Hermione voltou a encostar sua cabeça no peito de Rony, enquanto o ruivo continuava a falar:

- Depois do período de calmaria, a dor voltou. Mas parecia mais forte, quase insuportável. E como estava mais fraco do que antes, achei que morreria naquele momento. Foi quando uma coisa me chamou a atenção. Sua voz. Ouvi seus gritos de dor e me desesperei. Não me preocupava mais comigo, a única coisa realmente importante era salvar a sua vida. Senti como se caminhasse pela escuridão tentando achá-la, sem conseguir. A dor não importava mais, só você. Quando senti minha mão tocar a sua, juntei toda a minha força para mantê-la comigo, não iria perdê-la mais uma vez. Somente quando vi seus olhos é que tudo mudou. A escuridão foi substituída por uma luz muito forte, e a dor cessou, bem como seus gritos.

Rony puxou o rosto da garota de forma a encará-la, e olhando dentro de seus olhos castanhos, e disse:

- Depois só me lembro de ouvir sua voz, e abrir os olhos. Quando te vi conversando com Harry e Gina, soube na hora que você havia me salvado. Por isso, sou grato a você.

- Não fui eu que te salvei, Rony – Hermione sorria, com lágrimas em seus olhos. – Foi o nosso amor que permitiu que vivêssemos. Esse sentimento que existe dentro de nós, e pelo qual esperamos tanto. Simplesmente acreditei nele, e não me conformei em viver sem você. Acho que não suportaria.

- Você sabe quanto tempo eu esperei pra te ter – disse Rony. – Eu não podia deixá-la só. Só agüentei e voltei por sua causa, e pelo amor que sinto por você. Nada será capaz de nos separar.

Rony beijou Hermione como se sua vida dependesse disso e, quando terminou, sorriu para a garota, dizendo:

- Ou você achou que deixaria a menina mais maravilhosa de todo mundo bruxo pro “Vitinho” ou pra qualquer outro? Você é minha, assim como eu sou seu, e é melhor se conformar com isso.

Hermione riu, só mesmo Rony pra fazer piada naquele momento. E era isso o que mais adorava em seu namorado. A capacidade de viver feliz, mesmo nos piores momentos, e ter um coração maior do que qualquer pessoa no mundo.

Rony e Hermione deitaram-se novamente, mantendo as mãos entrelaçadas e os olhos fixos um no outro. Eles ficaram assim até adormecerem, embalados pelas lembranças do amor que sentiam e pelos sonhos da vida em comum que teriam após o fim da guerra.





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