Apaixonada



Capítulo 18 - Apaixonada



Ela estava andando num corredor escuro. Ouvia-se vozes sussurrando ao fundo, deixando-a alerta. De repente, ouviu-se a gargalhada assustadora de Bellatrix Lestrange, seguida da voz de Lucius Malfoy, dizendo 'Crucio', e alguém gritando. Ela começou a correr, tentar chegar até eles, mas uma voz a perseguia também, repetindo sempre a mesma coisa:
- Você me obedecerá, srta. Tonks!
E, ao ouvir isso, Nymphadora Tonks abriu os olhos e percebeu que estava sonhando.
- R-Remus? - chamou ela, os olhos marejados de lágrimas, ao ver o amigo sentado ao lado da cama. Rapidamente ele se levantou e abraçou-a.
Ela estava suando, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Apesar de tudo, ela sentiu um alívio imenso quando viu que estava no nº12 do Largo Grimmauld, e Sirius observava à tudo da porta do quarto.
- V-Voldemort estava lá, Remus... - começou a jovem, ainda o abraçando, sem perceber que era a primeira vez que falava o nome do Lorde. - Ele estava dentro da minha mente, ele estava lá...
De repente, ela se lembrou das dores que sentiu, e percebeu que seu corpo todo doía. Ela não estava conseguindo mover direito um dos braços, e a dor era imensa em uma das pernas.
- Está tudo bem - falou ele, interrompendo o abraço e ajudando-a a se deitar novamente. - Estamos bem, agora.
- M-mas eles estavam dentro da minha mente... E-ele queria que eu o obedecesse, e eu disse que não, e então senti dor... muita dor... - falou ela, sem se mexer, quando Molly Weasley entrou no quarto, seguida de Dumbledore.
- Ah, querida, que bom que acordou! - falou Molly, dando à jovem um frasco que continha uma poção. - Tome, isso vai fazê-la melhorar.
Ela meramente disse 'Obrigada', e tomou a poção inteira.
- Como se sente, Nymphadora? - perguntou o diretor, enquanto Sirius se sentava na cadeira ao lado da que Remus estivera sentado.
- Viva - respondeu Tonks, com uma nota de histeria na voz.
- Seria demais pedir para me contar o que aconteceu? - perguntou Dumbledore, em tom gentil.
A auror respirou fundo e começou a contar o que aconteceu. Contou tudo o que pôde se lembrar, cada mínimo detalhe que eles tivessem falado ou comentado. Tudo, exceto as duas últimas perguntas à Remus, sob a influência da Veritaserum. Ela ainda não havia tido tempo para pensar naquilo, por isso ela não pôde sequer perceber se Remus parecera saber o que dissera ou não.
- Essa maldição é, obviamente, uma evolução de outras - falou Dumbledore, depois da jovem ter terminado de falar. - É importante ressaltar que as dores que sentia eram meramente físicas. Remus pôde ter uma boa idéia de como é, ainda que estivesse duelando com Rodolphus.
- Malfoy e Bellatrix lançavam feitiços em você, acredito que Voldemort estivesse controlando-a, mesmo que não estivesse lá, e os dois faziam o trabalho sujo - falou Remus, sob o olhar inquisidor de Tonks.
- Eu devo ir, agora - falou o diretor. - É necessário a senhorita ficar aí pelo menos até amanhã.
- Mas... - começou Tonks. Ele não esperava realmente que ela ficasse um dia inteiro deitada, esperava?
- Nada de mas - interrompeu Dumbledore, com um ligeiro sorriso. - Ordens de Madame Pomfrey. Tenho certeza de que Remus e Sirius cuidarão bem da senhorita.
Por um instante, Tonks ficou surpresa com a notícia de que Sirius e Remus iriam ajudá-la. Ela podia jurar que Molly que ficaria lá.
- Está bem - falou ela, ainda mal-humorada diante do fato de ter que ficar um dia inteiro naquele quarto empoeirado, sem se levantar para quase nada, enquanto o ex-diretor saía do quarto.
Tonks ficou observando, calada, Molly colocar à sua frente uma bandeja com um café da manhã tão vasto que a jovem duvidou de sua capacidade de ingerir alimentos fosse tão grande.
- Espero que tudo corra bem, querida - falou Molly, a abraçando levemente. - Agora, devo voltar. Até a próxima reunião.
- Obrigada por tudo, Molly - falou Tonks, até que Molly a deixou sozinha com um Remus de expressão preocupada e um Sirius particularmente interessado na versão que a prima contou da história. - Ela não acha que eu vá realmente comer isso tudo, acha?
- Deve achar, do jeito que você dormiu - falou Sirius, com sua típica risada que parecia mais um latido.
- Quanto tempo eu dormi? - perguntou a auror, tomando um gole de café.
- Quase um dia inteiro, desde ontem à noite - respondeu Remus, sentando na cadeira aonde estivera antes. A jovem olhou para o relógio e se sobressaltou ao ver que eram quase dez horas da noite, quase se engasgando com o café que tomava.
- Como é que eu não acordei?
- Madame Pomfrey veio até aqui e disse que você demoraria a acordar pois perdeu muito sangue - respondeu Sirius.
- Entendo - falou Tonks, ainda que sua mente pensava em outra coisa, completamente distinta.
Ainda que ela não soubesse como, sentia que devia falar com Remus sobre o que ouviu. Os pensamentos da noite anterior ainda ecoavam em sua mente como vozes em um precipício.
...temos que sair daqui, nós temos que ficar juntos...
Só seria um pouco complicado tocar nesse assunto com Sirius Black ouvindo. O ideal seria que a campainha tocasse ou Sirius resolvesse verificar se Monstro estava aprontando de novo, ou qualquer coisa do gênero.
Se bem que, do jeito que seu primo parecia interessado àquilo tudo que acontecera, Tonks duvidava muito de que ele fosse sair dali logo.
- Tem certeza de que Aluado não falou mais nada sob a Veritaserum? - perguntou ele.
- Tenho - mentiu a jovem. Era óbvio que não falaria nada a Sirius; o pouco que conhecia do primo já lhe lembrava de que ele não a deixaria em paz diante de tal afirmação vinda de seu melhor amigo.
- Estranho que Lestrange não tenha lhe perguntado mais nada, Aluado - disse Sirius, olhando para o amigo. - Tem certeza de que não se lembra de nada?
- Se tivesse lembrado, obviamente que falaria. Também não vejo grande diferença, já que Nymphadora presenciou tudo - falou ele, lançando um sorriso significativo para Tonks, que sorriu de volta.
- É Tonks, Remus, sabe disso - reclamou a auror, sem um pingo de remorso na voz à menção de seu primeiro nome, ainda sorrindo.
Eles ficaram assim por alguns segundos, até que a campainha tocou e Sirius falou:
- Melhor ir atender, eu estou sobrando aqui mesmo...
Era exatamente aquilo que Tonks queria.
- Sirius não pareceu muito convencido com o que você disse - comentou Remus, sem dar ouvidos à última frase do amigo.
- Talvez porque eu não tenha falado tudo - falou Tonks, antes de poder controlar o que falava. Ele a olhou sem saber do que a jovem estava dizendo.
- Como? Alguma coisa importante?
- Não... quero dizer, depende de você - respondeu Tonks, fitando Remus, que continuava com a mesma expressão de interrogação. - É que... Bem, Bellatrix não se conformou com apenas os nomes, entende... Perguntou sobre mim, na verdade.
- Sobre você...?
- Essa é a parte engraçada, sabe... Ela perguntou o que você faria para me salvar, e você disse que... que morreria por mim - a expressão dele foi ficando cada vez mais indecifrável, como se estivesse pensando no que dizer. - Ela achou que eu estava fazendo algum trabalho importante para a Ordem, e nós dois sabemos que não, então ela perguntou porquê e você... você disse que me amava.
Passou-se uns dez segundos, talvez nem isso, de silêncio embaraçoso, que pareceram a eternidade para Tonks. O que ela realmente pretendia com aquilo, ela não fazia idéia.
- É claro, Tonks... Você é como uma irmã pra mim - falou Remus, de repente, e Tonks não pôde esconder seu desapontamento. Afinal, por que ela estava desapontada? Ele era como um irmão para ela, como Sirius era... não era?
Antes que a auror pudesse dizer alguma coisa, Sirius reapareceu no cômodo, para seu grande alívio.
- Aluado, você devia descansar - falou Sirius, olhando para o amigo. - Está esperando a Tonks acordar desde que chegou, deixe que eu faço companhia à ela.
- Eu... - ele lançou um olhar significativo à Tonks, que desviou-o. - É, acho melhor descansar. Até mais, Nymphadora.
- É Tonks - murmurou ela, ainda sem olhar.
Pensando bem, eu duvido muito que irmãos fiquem se beijando pelos cantos.
Sirius pareceu pensar no que dizer, enquanto Tonks contemplava desapontada o teto do quarto.
- Tonks, não ligue para Aluado - falou ele, finalmente, fazendo a prima fitá-lo. - Sugiro que você esqueça isso que ele falou. Remus não poderia amá-la como uma irmã.
- Você ouviu tudo? - perguntou ela, com voz zangada.
- Metade - falou Sirius, sorrindo.
- E por que ele estaria mentindo?
- Pelo simples fato de que Aluado acha que se falar isso em voz alta, está falando para si mesmo - respondeu, andando pelo cômodo como se estivesse passeando. - Ele não gosta de pensar sobre sentimentos, Tonks. Ainda mais comparando-a a um sentimento de irmão. Ele não poderia saber, nunca teve uma irmã. Eu, sim, sou como um irmão para ele. Você, não.
- Então você sugere que eu esqueça isso? - perguntou Tonks, com uma expressão ligeiramente preocupada no rosto.
- Não, você irá apenas ignorar isso, e se lembrará de falar sobre assunto quando for necessário, cara priminha - continuou ele. - E, acredite, terá resultados positivos, penso eu. Agora, uma outra coisa me intriga...
- O quê?
- Quais são os seus sentimentos em relação à ele?
- Eu... não sei - falou Tonks, com sinceridade. Afinal, o que ela sentia por ele?
- Pense sobre isso - disse Sirius, rumando para a porta. - Agora, você termine essa sua refeição dupla que Molly lhe fez e descanse um pouco. Tenho certeza de que ajudará a pensar sobre esse certo alguém.

*~*~*

23 de Maio de 1996.
Remus Lupin andava calmamente pelas ruas da Londres trouxa. Foi uma semana cansativa. Tonks havia saído do nº12 no dia seguinte, e a verdade é que os dois nao se falavam direito desde aquele dia. Talvez ela realmente estivesse cheia de trabalho.
Ou talvez ela estivesse chateada com o que você falou, insistiu uma voz em sua cabeça, que parecia mais com a voz de Sirius.
Ele estava passando por uma pracinha deserta quando percebeu que ela não estava, de fato, deserta. Ele ouviu vozes enquanto caminhava, e soube que uma delas ele conhecia: Tonks.
Ele seguiu para onde as vozes pareciam vir, ainda que estivesse tomando o cuidado para não ser visto.
- ...e eu não sei mais o que fazer, isso simplesmente me persegue - ouviu-se a voz da auror, em tom preocupado.
- Você não devia ficar assim - falou uma voz masculina, que Remus não conhecia. Tudo bem, deve ser só um amigo, pensou. - Não precisa se preocupar, Nymphadora.
Um pensamento ficou incontrolavelmente sobrevoando sua cabeça: o de que o homem a estava chamando pelo nome, e nem Remus podia fazer isso sem que ela o censurasse.
- É, imagino que não - falou ela, sem nenhum problema ao ouvir seu nome. - É só besteira minha... Sinto muito não poder lhe contar tudo, Cetus.
- Tudo bem, todos temos segredos - falou Cetus.
Remus agora chegou mais perto. Era, inconfundivelmente, Nymphadora Tonks, seus cabelos rosas como sempre, e o homem com que falava tinha os cabelos castanhos, e olhos tão negros quanto os da própria Tonks.
Então lembrou-se: era o mesmo homem que estava com ela naquela foto do apartamento da jovem, que ele vira meses atrás. Seriam os dois namorados? Tonks havia falado que não tinha namorado antes... Sirius a perguntava isso quase semanalmente... Ou talvez ela simplesmente não queria que ninguém soubesse... Por que ele estava tão preocupado com isso, afinal?
- Está na hora de ir - falou Cetus, consultando o relógio. - Vê se não vai com esse cabelo mais tarde, Dona Andrômeda te mataria!
- Eu sei - riu a auror. - Prometo ir mais comportada, senão mamãe me estrangula na frente de todos... A última vez ela se controlou.
- É - perguntou ele, sorrindo. - Então, vejo você mais tarde?
- Claro, só tenho que me arrumar e passar na casa de um amigo...
- Então, está certo. E lembre-se de que eu te amo, Nymphadora.
- Eu também te amo, Cetus - falou ela, sorrindo também.
Nesse ponto, Remus só pôde virar as costas e aparatar para o Largo Grimmauld.

*~*~*

Talvez ele devesse esquecer aquilo tudo. Afinal, eles nunca haviam realmente tido "alguma coisa" juntos. Ele só não conseguia entender o porquê de que pensava naquilo desde que ouviu aquela conversa. Naquele momento, ele se arrependia amargamente de ter ouvido aquilo, não devia ter deixado sua curiosidade tomar conta de si mesmo...
Ele andava distraidamente pela Mansão Black, até que ouviu um barulho no andar de cima e entrou numa porta(que, diga-se de passagem, vivia desaparecendo) que levava à uma escada apertada. Imaginou que, provavelmente, Monstro andou aprontando de novo. Então viu que Tonks descia pela mesma escada.
Ela não estava com suas roupas habituais, mas sim com uma blusa cor-de-rosa cheia de babados, uma saia preta, e um sobre-tudo preto. Era totalmente discreto diante das suas jeans rasgadas e das suas camisetas com os dizeres "As Esquisitonas". O que mais chamava atenção era que seus cabelos não eram rosa, roxo, azul-elétrico ou vermelho. Tinha apenas um tom de loiro muito claro com algumas mechas negras nele. Apesar de diferente, ele não pôde deixar de pensar em como ela estava linda.
- Ah, boa tarde, Remus - falou a jovem, sorrindo.
- É bom vê-la novamente, Nymphadora - ele falou totalmente sem pensar, e só depois de ter terminado a frase percebeu o que disse.
- Novamente? - ela pareceu tão interessada que nem lembrou de corrigir o seu nome.
- É que... - Melhor dizer a verdade. - Eu a vi mais cedo numa praça aqui perto...
- E por que não veio falar comigo? - perguntou ela, parecendo ofendida.
- Porque não quis atrapalhar - respondeu ele, ainda sem pensar. Ela ficou com uma expressão de intriga no rosto. - É que você estava lá com outra pessoa, entende...
- Ah, está falando do Cetus? - perguntou ela, finalmente entendendo.
- É, acho que esse era o nome dele - respondeu ele, ainda que soubesse exatamente o nome dele. - Só... Bom, você nunca disse que estava saindo com alguém, então não quis atrapalhar...
- Quê? - perguntou Tonks, como se não tivesse ouvido, rindo. - Você acha que eu e Cetus...? Não, Remus, eu não poderia - concluiu ela, ainda rindo.
- Por quê? - perguntou ele, sem entender.
- Cetus é meu irmão - respondeu ela, agora mais séria. - Imagino que não poderia fazer certas coisas com um irmão, não é mesmo?
- Seu irmão?
- Bem, acho que sim, ele é filho de Andrômeda e de Ted Tonks, é, acho que isso nos faz irmãos - respondeu ela. - Ele é dois anos mais velho que eu, mas veio à Londres à negócios, mora em Hertford.
- Entendo - falou Remus, sem muita convicção. Então eles não eram namorados... Eram apenas irmãos...
- Remus, estava com ciúmes? - perguntou ela, chegando mais perto.
- Eu? Não, é claro que n...
- Estava, sim.
- Não estava, não.
- Estava, sim.
- Não estava, não.
- Estava, sim.
Nesse momento, Tonks agarrou Remus como fizera outras vezes, mas dessa vez não foi como das outras. Não era mais um beijo inocente, tímido; eles já não se limitavam em 'apenas' se beijar. Os cabelos eram desarrumados e os corpos, tocados. De repente, ele esqueceu do barulho que o fizera subir, e ela do porquê que descera; estavam tão entretidos que nem perceberam que alguém os observava, até que esse alguém soltou um leve pigarro, e os dois retornaram à realidade.
- Desculpem a interrupção - falou Sirius, com um conhecido sorriso presunçoso no rosto, enquanto uma Tonks envergonhada deu lugar para ele passar, ficando ao lado de Remus -, mas é que eu ouvi um barulho e acho que o Monstro andou fazendo alguma coisa, e não conseguia passar. Vocês estavam ocupando todo o espaço.
- Sirius, não é o que você está pensando... - começou Tonks, sem jeito, mas Sirius continuou a falar.
- Estive imaginando quanto tempo levariam para dar uns amassos – comentou o amigo, se divertindo -, mas, vendo este, eu diria que já houve outros.
E, depois desse comentário, Sirius deixou-os sozinhos.
- Acho que, depois dessa, ele nunca vai nos deixar em paz - falou ela, com uma risadinha nervosa.
- Nunca - concordou Remus, fazendo sinal para ela passar.
Eles saíram da escada, e Tonks falou:
- Eu nunca mais vou usar essa roupa na minha vida - comentou, olhando para sim mesma. - É simplesmente normal demais.
- Então por que está usando? - perguntou Remus, ainda que tenha achado a jovem excepcionalmente bonita. Era ótimo falar sobre outro assunto.
- Porque meu pai está fazendo aniversário e é bem provável que mamãe me mate se eu aparecer com cabelos cor-de-rosa de novo, ou com 'As Esquisitonas' escrito em qualquer parte da roupa - falou ela, sorrindo. - Falando nisso, é melhor eu ir logo. Adeus, Remus.
- Até logo, Ninfadora.
Pela primeira vez, ela não se virou e disse "É Tonks!"; ela virou-se, como usualmente, e lançou à ele um sorriso enigmático, até desaparecer pelas escadas.
Ainda hipnotizado, ele sobressaltou-se ao ouvir a voz de Sirius.
- Então, não vai me falar nada, Aluado?
- Não há nada para se falar - ele começou a andar para seu quarto, e Sirius o seguia.
- Você gosta dela - insinuou Sirius, ficando à frente do amigo, o forçando a parar de andar. - Você a quer.
- Sirius, aquilo foi só... foi só um acaso, nada demais - murmurou Remus, tirando Sirius de sua frente, mas o amigo se manteve firme, com o mesmo sorriso maroto de sempre.
- Ah, claro, não foi nada demais - falou o animago, imitando o tom do amigo. - Ah, vamos, Remus, se eu não tivesse aparecido ali, imagino até que teriam...
- Não aconteceria nada.
- Isso é o que você diz agora, mas bem que estava gostando - disse Sirius. - Escuta, você devia falar a verdade à Tonks.
- Que verdade? - perguntou, sem entender.
- Que você gosta dela, que você a quer, que quer passar o resto de sua vida com ela...
- Já chega, Sirius - ele continuou a andar.
- E você não quer? - perguntou Sirius, seguindo o amigo. - É claro que quer, você quer ficar dando uns amassos nela como fez há pouco, não negue isso, Remus. - ao ver que o amigo continuou a ignorá-lo, e já estavam quase à porta de seu quarto, Sirius disse: - Está bem, eu paro. Mas me deixe lhe falar apenas mais uma coisa, Aluado.
- O quê? - perguntou Remus, impaciente, à frente da porta de seu quarto.
- Veja pelo lado bom, Aluado. Podemos ser primos. Posso ser o padrinho do seu casamento?
E nisso Remo entrou no quarto e fechou a porta na cara de Sirius.

*~*~*

02 de Junho de 1996.
Tonks estava na sala de visitas do número doze, fazendo mais um relatório, quando Sirius chegou.
- Tonks! Que surpresa lhe ver aqui hoje!
- É que... eu tinha que fazer um relatório e pensei que aqui seria um lugar mais tranquilo do que o meu apartamento - falou ela. Mas Sirius sabia que ela estava mentindo, que havia vindo para ver uma certa outra pessoa.
- Você não consegue esconder, Tonks - falou ele, sentando-se no sofá à frente da prima. - Sejamos sinceros um com o outro; eu sei que você veio até aqui hoje à noite porque esperava ver Remus.
Ela pareceu assustada com o que Sirius disse, largou o seu relatório e o olhou.
- Está bem, eu vim aqui por causa dele - admitiu ela. - Onde ele está?
- É Lua cheia, ele só voltará de manhã - respondeu Sirius, percebendo que a deixara com uma expressão preocupada. - Não precisa ficar preocupada, Aluado sabe se cuidar sozinho.
Ela continuou com a mesma expressão, mas com um ligeiro sorriso.
- Sozinho... - comentou, sem olhar para Sirius. - Por que Remus acha que não poderia ficar com alguém? Ele me contou isso um tempo atrás.
- Porque Remus conviveu sua vida inteira com o preconceito e o perigo de ser um lobisomem - respondeu o primo, sério. - O que é besteira, na minha opinião. O preconceito pode ser muito ruim, é claro, mas creio que existem pessoas que não o têm, como você. Quanto ao perigo... - ele lançou à Tonks um olhar significativo. - Creio também que haja pessoas com capacidade de se defender sozinhas.
- É claro que há - disse Tonks, em tom óbvio.
- Diga-me, Tonks - falou Sirius, não deixando Tonks falar mais nada -, você gosta de Aluado, não gosta? - ela abriu a boca para falar mas ele novamente a interrompeu: - E, por favor, pulemos a parte de que você diz que gosta pois ele é apenas um amigo, nós dois sabemos que apenas amizade não basta para darem uns amassos de vez em quando.
- Está bem, você me pegou agora - falou ela, com um sorriso nervoso.
- Como assim?
- Eu não sei - respondeu Tonks, se levantando e andando pela sala pensativamente. - Eu não sei como gosto dele, eu não entendo o que sinto por ele... Isso está me deixando louca, parece que me persegue cada vez que eu falo com ele...
- Bem, eu diria que a resposta é bem simples - falou Sirius, lançando novamente um olhar para a prima.
- Você acha que eu estou...? - perguntou ela, não conseguindo falar a palavra 'apaixonada', enquanto Sirius concordava com a cabeça. - Não, não poderia, simplesmente não seria...
- Você já se apaixonou antes para saber?
- Não, acho que não - falou ela, com rapidez.
- Fale com ele - aconselhou Sirius. - Fale sobre o que você sente. Está tão óbvio que nenhum de vocês consegue esconder mais.
- E se... E se ele não sentir o mesmo? Quero dizer, e se ele não quiser? E se não nos deixarem...? - perguntou Tonks, nervosa.
- Só se ele mentir, o que é provável - concluiu Sirius. - Remus pode achar que está fazendo mal a você, mas não se deize cair, Tonks. Quanto ao não os deixarem, não vejo porque isso seria proibido de alguma maneira, a não ser que um de vocês não ache certo. Não desista, é só isso que falo. Um dia ele irá ceder, embora eu ache que conseguiria convencê-lo. Mas isso conversamos depois que você falar com ele, é claro.
- É, está bem - disse, sentando-se novamente.
- Tonks, poderia lhe perguntar uma coisa?
- Claro, Sirius, qualquer coisa - respondeu ela, parecendo mais aliviada agora.
- Eu já pedi à Remus, mas ele não me respondeu - comentou ele, de cara amarrada. - Posso ser o padrinho do casamento de vocês?
- Sirius!
- Posso? - insistiu.
- Está bem, está bem, o que estou dizendo? - falou ela, sorrindo, mas logo depois ficou com a expressão preocupada de antes. - Será que ele está bem?
- Fique tranquila, priminha - disse Sirius. - Fale com ele depois de amanhã, ele estará melhor, se puder, está bem?

*~*~*

04 de Junho de 1996.
Tonks havia acabado de chegar no número doze, e havia decidido falar com Remus de uma vez. Ela realmente não aguentava mais esconder aquilo tudo, que ela simplesmente não conseguia falar que era amor. Era meramente uma atração, ela queria ficar com ele quando pudesse, mas não era amor. É claro que não.
Ela olhou na cozinha, mas tudo o que achou foi o Monstro, que parecia estar falando sozinho novamente.
- Monstro, o que está fazendo?
- A filha da traidora fala com Monstro, Monstro vai fingir que não a ouve...
- Deixa pra lá - falou Tonks, saindo da cozinha e dando de cara com Sirius segurando um pano cheio de sangue. - O que aconteceu?
- Bicuço estava machucado - respondeu ele.
- Ah, sim - falou ela, que resolveu ir direto ao ponto: - Sirius, Remus está aí?
- Está na biblioteca - falou ele, dando uma piscadela para ela, enquanto eles ouviam que Olho-Tonto e Kingsley acabavam de chegar também. - Boa sorte.
Ela seguiu para a biblioteca, onde, de fato, viu que Remus estava lá.
- Ah, boa noite, Nymphadora - falou ele, a olhando.
- E-e aí, beleza, Remus? - perguntou ela, tentando parecer natural.
- Tudo bem - respondeu Remus, largando o livro em cima da mesa. - E você?
- Estou bem - respondeu ela, sentando-se ao lado dele. - Fiquei preocupada com você na última Lua cheia, eu vim até aqui para falar com você e Sirius falou que você tinha saído para se transformar...
- Não houve tempo para nos falarmos antes - respondeu ele, com olhar cansado. - Mas o que veio falar comigo?
- Nada em especial... Só quis vê-lo, nada demais - respondeu ela, enquanto eles se aproximavam cada vez mais. - Senti saudades.
- E-eu também senti - falou ele, virando um pouco o rosto.
Isso não vai ser nada fácil, pensou Tonks.
- Hum, Sirius têm falado coisas engraçadas desde aquele dia, sabe - comentou ela, ainda o olhando.
- É?
- É - continuou a auror. - Chegou a me perguntar se poderia ser o padrinho do nosso casamento.
- Ele não perguntou isso - falou ele, virando-se para ela de novo.
- Perguntou, sim.
- E o que você disse?
- Eu disse que poderia - falou, rindo.
- Claro, claro - ele riu também. - Você é uma figura, Nymphadora.
- Eu sei - falou a jovem, sem muita convicção, chegando mais perto. Ela sentia o ardente desejo de beijá-lo, antes de mais nada. Eles estavam cada vez mais próximos um do outro...
É bem provável que eles tivessem se beijado naquele momento, se não fosse por Sirius aparecer de repente.
- Eles pegaram o Harry, Remus! - gritou ele, assim que chegou no cômodo.
- O Harry? Como...? - perguntou Remus, se levantando.
- Não há tempo para explicar, vamos para o Ministério - falou ele, olhando para os dois.
- O Ministério? - perguntou Tonks, sem entender.
- Você fica, Sirius - falou Remus, firmemente.
- Não, vou junto, temos que salvar o Harry! - falou Sirius. - Mandei Monstro contar à Dumbledore o que aconteceu, vamos!
E saiu do cômodo. Remus já ia sair quando Tonks o puxou.
- Não me pergunte nada, está bem? - e, assim, o beijou rapidamente. - E lembre-se da nossa promessa, tá?
Assim, saíram rumo ao Ministério.

*~*~*~*

N/A: Finalmentee! Peço primeiramente desculpas pelo atraso, mas no último mês eu estive cheia de provas e entrei numa imensa crise existencial. Mas, como ontem foi minha última prova, falei para mim mesma que ia terminar esse capítulo. Taí!
Pra compensar, adiantei grande parte do próximo capítulo nesse aqui, mesmo.
Espero que gostem, sinceramente.
E comentem, claro.
Beeijos

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