Encurralados



Capítulo 17 - Encurralados



- Eu realmente não sei porquê ainda não descemos até lá para vigiar - comentou Tonks. Ela e Remo se encontravam em um quarto numa pequena pousada ao sul de Londres, a mesma mencionada por Dumbledore no nº12 do Largo Grimmauld. - Seria muito mais simples do que ficar espionando a rua inteira de um quarto de hotel.
- Olho-Tonto nos disse que devemos sair somente às oito - falou Remus, olhando para o relógio. - Faltam quinze minutos. Agora, termine esse seu café e desligue essa televisão, por favor. Já que está tão ansiosa para descer, fique pronta antes.
- Está bem, meu caro general - falou Tonks, em tom obviamente sarcástico. - Sabe, essas pousadas trouxas são realmente estranhas... não sei como Olho-Tonto está aguentando lá embaixo... ele nunca me pareceu o tipo que se disfarçava, ou qualquer coisa do gênero, entende?
- Olho-Tonto nunca parece o que achamos, Tonks - disse ele, espiando pela janela.
- E nem eu - falou a auror, mudando o visual. Estava agora exibindo madeixas loiro-escuras, e olhos castanho-claros que, decididamente, nunca foram vistas em Tonks. - Está muito ruim? Tentei parecer o menos metamorfomaga possível, ainda que o meu rosto continue igual... - e parou para, como de costume, olhar criticamente sua imagem num espelho de mão.
- Está ótimo, Tonks - falou Remus, olhando para a jovem.
- Pelo menos um de nós acha isso - comentou ela, ainda se observando no espelho. - Não me sinto tão insegura quanto à minha aparência desde que mamãe me fez ficar com minha aparência original na frente do meu primeiro namorado... nem preciso dizer que foi um completo desastre, né? - o tom dela foi absurdamente irônico. - Ainda bem que não durou muito, teria sido tão péssimo quanto os dois últimos...
Remo apenas riu; era incrível como era natural para ela falar sobre antigos relacionamentos, coisa que Remus simplesmente evitava.
- Por Merlin, Remus, você deve estar achando que eu sou uma promíscua - falou Tonks, em tom indignado. - A verdade é que o relacionamento mais longo que eu tive durou pouco mais de um ano... admito que tive muitos antes desse, mas era coisa de uma vez só, entende?
- E por que acabou? - perguntou Remus. Ele não queria, mas estava, de fato, interessado.
- Acho que as fronteiras de Hogwarts se tornaram uma barreira, no final - respondeu ela, guardando o espelho. - Quero dizer, ele era um ano mais velho e saiu da escola antes que eu mas, pelo visto, ele não pôde se conter com apenas uma, ainda mais à distância. Acabou sendo melhor para nós dois... pelo menos, eu pude me dedicar totalmente aos N.I.E.M.'s, e hoje trabalhamos juntos.
- E você ficou o sétimo ano inteiro sozinha?
- Claro que não - respondeu a auror, como se isso fosse óbvio. - Mas não tive nada sério em Hogwarts no meu último ano. E os meus últimos dois relacionamentos duraram menos de dois meses, eu acho... E isso foi uma semana antes de entrar para a Ordem - acrescentou ela. Então, olhou para o relógio. - Ah, que ótimo, são oito horas. Podemos ir agora?
- Podemos - falou Remus, levantando-se e colocando a capa -, mas posso saber o porquê da empolgação?
- Fazem três meses que eu não tenho uma missão tão importante - falou Tonks, com um sorriso deslumbrante. - E um bom duelo não me faria nada mal hoje. Seria divertido.
- Da última vez que você pediu diversão, eu acabei inconsciente - ele abriu a porta e fez sinal para Tonks passar.
- Acabou inconsciente porque foi teimoso o bastante para recusar a minha ajuda - retrucou ela, enquanto desciam as escadas e paravam no balcão do pub, onde se achava Moody.
O Moody barman era, não havia palavra melhor, engraçado. Ele apenas colocou um tapa-olho para esconder seu olho mágico, e mantinha o olhar atravessado a qualquer um que entrasse.
- Fiquem atentos à qualquer um que saia do pub aqui da frente - sussurrou Olho-Tonto, embora houvessem apenas duas pessoas no cômodo. - Temos informações de que dois sairão dali para uma reunião aqui perto. Nos encontramos daqui a duas horas, num beco escuro à direita. E lembrem-se - ele levantou o tapa-olho para mostrar o olho mágico - vigilância constante. A propósito, Tonks... belo disfarce.
Eles seguiram para a rua quase que totalmente deserta, e ficaram andando calmamente por ela, com olhos atentos a qualquer movimento suspeito. Não demorou muito para o tédio reinar sobre os dois.
- Sabe, eu realmente gostaria de estar no meu apartamento, agora - comentou Tonks, falando baixo. - É bem provável que eu ficasse morrendo de tédio, mas pelo menos eu não ia estar com frio. Afinal, como vamos saber quem são os Comensais?
- É simples - sussurrou Remus, em resposta. - Eles vão sair juntos, estarão de preto, não conseguiremos ver seus rostos e o primeiro olhará para os dois lados, verificando se estão sendo observados, e continuará andando, possivelmente para a direita, já que há menos movimento sendo um beco.
- Está bem, eu preciso de um tempo para me recuperar depois de ser rebaixada pelo meu parceiro de missão - falou Tonks, fingindo-se indignada.
- Não é questão de ser rebaixada - falou Remus, rindo -, mas sim de quê eu tenho mais experiência na Ordem do que você. Daqui a alguns anos, você estará assim, também.
- Espero que sim - comentou a jovem. Enquanto andavam pela rua, Tonks pisou em um pedaço de pergaminho com a foto de Bellatrix Lestrange. - O Ministério devia tomar mais cuidado com esses pergaminhos. Sabe, Remus - começou, depois de rasgar o papel -, eu não sei exatamente porquê, mas toda vez que vejo essa mulher, é como se... como se o olhar dela me prendesse, entende?
- Entendo - falou Remus, olhando diretamente para a porta do pub.
- Já se sentiu assim, sob o olhar de alguém? - quis saber Tonks, olhando para Remus.
- Já - respondeu ele. A verdade era que ele queria dizer 'não', já que o olhar que sempre o prendia era o da moça ao seu lado. - É comum sentir-se assim com Bellatrix. O ar arrogante que ela traz nunca quer dizer boa coisa.
- Imagino que sim - falou ela, ainda o fitando. - Se fosse um olhar bom... quero dizer, há sempre aquele olhar de alguém que nos prende, não é? Mas é um olhar bom... É como se você se sentisse bem preso àquele olhar... Entende?
- Perfeitamente - respondeu ele, a olhando.
- Então você se sente preso ao olhar de alguém? - perguntou Tonks, interessada. - Quem?
- É-é... - começou ele. Naquele momento, saíram duas pessoas do pub, com as mesmas características ditas por ele alguns minutos antes. A sua salvação. - São eles. Vamos! - ele puxou Tonks pela mão e começou a andar.
- Eles? - sussurrou Tonks, enquanto andavam silenciosamente pela rua.
- Sim - respondeu Remus, ainda segurando a mão de Tonks.
Eles continuaram andando, sem falar nada, pela rua, enquanto os dois possíveis Comensais iam pelo outro lado da rua. O segundo pareceu, por um segundo ou menos, ter lançado um rápido olhar em direção aos dois, ou assim pareceu a Tonks. Não,pensou Tonks, ele não viu nada. Afinal, Lupin e ela andavam sem falar nada, mais atrás, e cobertos pelas sombras.
Não demorou muito para os "suspeitos" pararem e entrarem no beco mencionado anteriormente, onde encontrariam Olho-Tonto. Remus e Tonks pararam por um instante, até que Remus sussurrou:
- Talvez seja melhor nós chegarmos perto e tentarmos ouvir o que eles falam - Tonks concordou, ainda que, dentro de si, o que ela mais queria era entrar naquele beco e confrontar os Comensais.
Eles aguardaram por alguns instantes, mas tudo o que puderam ouvir foi um murmúrio de vozes vindo ao longe. Assim, num gesto mudo, os dois seguiram beco adentro, andando devagar. De repente, uma risada histérica alarmou-os, seguido de uma claridade ofuscante, para verem o que os esperavam.
Bellatrix Lestrange e mais três Comensais, mascarados.
- Agora podemos começar, Rodolphus. E você pode ir, Avery - falou ela, com o mesmo sorriso arrogante das fotos, e um dos Comensais aparatou. - Nossos convidados de honra chegaram. O lobisomem Lupin, e a jovem auror e, para o meu desprazer, sobrinha, Nymphadora Tonks.
- Incrível ter-me reconhecido, Tia Bella - falou Tonks que, automaticamente, agarrara nas vestes de Lupin quando ouvira a risada. Chamou-a de tia de propósito, pois sabia que Belatriz a considerava sobrinha tanto quanto Tonks a considerava tia.
- Impossível não reconhecer - falou Lestrange, a olhando com profundo desgosto. - Se parece muito com Andrômeda. Mas vamos aos negócios... o que os trazem aqui?
- É o que lhe perguntamos - falou Remus, dando um passo à frente. - O que foi que o seu amado mestre os mandou fazer desta vez?
- O Lorde das Trevas tem perguntas - falou Bellatrix, mudando completamente o tom de voz -, e vocês têm as respostas. É claro que podem se juntar a nós, o Lorde ficaria particularmente entusiasmado...
- Nunca - interrompeu-a Tonks. - Nem sob uma Imperius.
- Então, terei que fazer o sacrifício de torturá-los um pouquinho - falou Bellatrix, tirando a varinha das vestes.
- Experimente, Lestrange - falou Lupin, ameaçadoramente.
- Acho que era isso que eu estava prestes a fazer - comentou a Comensal, sorrindo de um jeito maníaco. - Crucio!
Mas o feitiço não atingiu Lupin. Tonks fora pega se surpresa, e sentiu aquela dor insuportável percorrer o seu corpo... e gritou. Gritou como nunca havia gritado em toda a sua vida. Até que a dor passou.
- Agora, queridinha - falou a Comensal, rindo - Você ficará aí, quieta - ela conjurou correntes e prendeu a auror na parede, sem poder se mexer -, porque a senhorita terá o prazer de servir como cobaia em uma nova maldição. Sinta-se honrada pois o próprio Lorde das Trevas presenciará - ela se virou para Lupin. - E você, meu caro lobisomem, nos dará nossas preciosas informações. Agora, beba - ela entregou um copo de poção fumegante, que só podia ser Veritaserum. Ao ver que ele não pegou o copo, ela insistiu, indo em direção à Tonks, apontando a varinha para o rosto dela: - Beba, ou a garota morre.
- Não, Remus, não! - falou Tonks, sentindo os olhos marejarem de lágrimas. - Eu não me importo, mas não beba!
- Fique quieta, sua tolinha - ameaçou Bellatrix. - Beba, ou ela morre.
- Crucio! - disse a voz de Lucius Malfoy, por detrás da máscara, apontando para Remus.
A maldição ficou muito mais tempo sobre Remus do que sobre Tonks, e, quando acabou, ele estava de joelhos. Tonks duvidou que ele soubesse o que estava fazendo. Assim, Bellatrix estendeu a mão com a poção e ele a tomou, deixando o copo cair no chão.
- Quem é você? - perguntou Lucius Malfoy, sem a máscara.
- Remus John Lupin - respondeu ele, e seu tom deixou em Tonks a certeza de que ele não sabia o que estava fazendo.
- Você é um lobisomem e faz parte da Ordem da Fênix?
- Sim.
- Onde fica a sede da Ordem da Fênix? - dessa vez quem perguntou foi Bellatrix.
Mas Remus nada disse.
- Onde fica a sede da Ordem? - repetiu, dessa vez com mais ameaça.
- Ele não é o fiel do segredo, ele não sabe! - gritou Tonks, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
- Quem é o fiel do segredo? - perguntou Lúcio.
- Albus Dumbledore - respondeu Remus, ainda ajoelhado.
- Quem faz parte da Ordem, com a sua exceção e à da garota, aqui? - perguntou Bellatrix, bruscamente.
- Sirius Black, Arthur Weasley, Molly Weasley, Bill Weasley, Charlie Weasley, Hestia Jones, Emmeline Vance, Dedalus Diggle...
- É o suficiente! - interrompeu Tonks, novamente. Não podia deixá-lo falar de Snape, ele seria descoberto...
- Cale a boca - mandou Lestrange, a olhando. - Ele disse Emmeline Vance? É, acho que já temos o suficiente por hoje... só mais uma pergunta: o que você faria para salvar a mocinha, aqui?
- Eu morreria por ela - respondeu Remus, fazendo o coração de Tonks disparar. Por que ela perguntava isso?
- Por quê? - perguntou Bellatrix, com um sorriso triunfante.
- Eu a amo.
Ele me ama. Ah, por Merlin, ele me ama. Ah, Remus, por favor, vamos... temos que sair daqui, nós temos que ficar juntos... Temos que arranjar um jeito de sair daqui... Ele me ama...
- Ora, ora - disse Belatriz, com sorriso presunçoso, para Tonks. - Imaginei que você estava fazendo alguma tarefa vital para a Ordem, mas veja o que temos aqui... Lucius, temos um par de pombinhos em nossas mãos - ela soltou a mesma gargalhada alta, junto com Lucius Malfoy. - Então, Lucius, o que acha de torturá-los um pouquinho?
Enquanto falavam, Lupin havia se levantado e, aparentemente, voltado ao normal, ainda que estivesse um pouco atordoado.
- Melhor amaciar a garota para o Lorde, Bellatrix - falou Lúcio, arrogante, olhando para Lupin. - Não fará nada mal assistir um pouco, não, Lupin? Primeiro as damas, é claro.
- Crucio! - bradou Belatriz, para Tonks, que ainda se achava acorrentada à parede. A dor, dessa vez, durou muito mais tempo do que a anterior, e parou tão repentinamente quanto. - Agora, melhor fazermos nossa experiência. Mas fique tranquila, querida - acrescentou, para Tonks, cujas lágrimas escorriam sem parar, agora -, tenho certeza de que o casal Longbottom gostará de uma companhia no St. Mungus.
O comentário fizera Rodolphus gargalhar; era óbvio que não sairiam dali tão cedo.
- Rodolphus, cuide do lobisomem - mandou a Comensal, enquanto ela e Malfoy se aproximavam de Tonks.
- Pronta? - quis saber Lucius, com um ligeiro sorriso no rosto.
- Com certeza - falou Bellatrix, apontando a varinha para Tonks. - Controllimens!
E, nesse instante, a luz da varinha de Lestrange deixou tudo branco na mente de Tonks; ela não conseguia fazer nada. Apenas ouvir. Tinha certeza de que sua cabeça doía, ainda que não pudesse ver nada.
- Você me obedecerá, srta. Tonks! - falou uma voz horrenda, assustando a auror.
- ... estou lhe dizendo, milorde, ela é patética, mal nos ouve - falou a voz de Lucius Malfoy.
- Ela está ouvindo cada palavra que falamos, Lucius - falou a voz novamente. Lord Voldemort. - Não é, srta. Tonks?
- Cada sílaba - respondeu Tonks, ainda que não soubesse como. Ela não parecia estar dormindo... mas também não parecia estar acordada...
- Já fez nossa proposta à ela, Bella?
- Já, sim, milorde - falou a voz de Bellatrix, que não parecia tão arrogante perto do seu mestre. - Ela negou, totalmente previsível, é claro...
- Como disse, ela é patética - falou Lucius, de novo.
- Sempre achei que tia Narcissa não estava em seu melhor estado mental quando se casou com alguém como você, Malfoy... embora agora eu tenha certeza disso - falou Tonks, totalmente sem pensar.
- Cuidado com o que pensa, srta. Tonks - falou Voldemort.
- Eu... o quê? - perguntou Tonks. Afinal, o que ele queria dizer com aquilo?
- Cuidado com o que pensa - falou Lucius Malfoy. - Ou ainda não reparou que estamos dentro da sua mente?
Está bem, isso não é bom.
- Eu lhe dou uma última chance, srta. Tonks - falou o lorde. - Junte-se à nossa causa, e sairá viva daqui hoje. Seu talento se compara ao de sua tia, admito, mas seria de melhor uso se fosse aplicado às... causas mais nobres. A escolha é sua. Você poderá ter o prazer de obedecer à Lord Voldemort por bem, ou o desprazer de obedecê-lo por mal.
- Acho que fico com a segunda opção, obrigada - respondeu Tonks. Ao dizer isso, ela sentiu uma dor imensa em uma das pernas, e teve certeza de que sua mente estava gritando.
- Você me obedecerá de um jeito ou de outro, srta. Tonks - recomeçou Voldemort. - Não mudou de opinião?
- N-não - falou ela, com dificuldade. Mais uma vez, ela sentiu uma dor enorme, dessa vez em um dos braços e no tórax.
- VOCÊ ME OBEDECERÁ, SRTA. TONKS! - bradou Você-Sabe-Quem.
Dessa vez, a sensação foi totalmente diferente das outras; seu corpo todo doía e ela sentiu que estava caindo de algum lugar, até que tudo ficou escuro e ela pôde ouvir a voz de alguém dizendo:
- Não desista, Tonks, não desista.
E tudo foi tomado pelas sombras.

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