Salgueiro Lutador



Era impossível enxergar qualquer coisa na altura em que eles voavam. Embora não nevasse, a noite estava gelada e o céu completamente encoberto por nuvens. No entanto, Harry Potter parecia saber exatamente para onde se dirigia.

Mia estava ligeiramente apreensiva com a altura e oscilava durante o vôo, fazendo a vassoura sacudir ligeiramente e voltando a controlá-la instantes depois. Hermes voava próximo da amiga, mas fazia questão de subir e descer em alguns momentos, para aproveitar o ar puro que lhe batia no rosto. Mia observava o amigo quando seu medo deixava, e percebia a aura azulada do rapaz se intensificar ao toque do vento. Lúthien estava agarrada à vassoura, quase deitada sobre ela, mas não demonstrava medo. Sentia como se estivesse cavalgando um cavalo alado particularmente alto, capaz de levá-la até os céus.

Harry acelerava na frente, obrigando os garotos a imprimirem um ritmo maior às vassouras que portavam. O homem demonstrava uma habilidade fantástica com o artefato mágico, subindo e descendo entre as nuvens. Era quase como se ele se sentisse exatamente onde deveria estar. E essa sensação era o que o movia rumo ao lugar que ele sempre considerou como um lar. Sabia para onde seguir, porque era unicamente guiado pelo coração.

Mia só se deu conta de que estavam seguindo uma estrada de ferro abandonada quando começaram a descer. Harry fez sinal para que eles se aproximassem antes de aterrissarem. Então, falou alto para que se pudesse fazer ouvir:

- É melhor que usemos um feitiço de desilusão para que não sejamos vistos enquanto aterrissamos.

Hermes abriu a boca para perguntar que feitiço era aquele, mas não houve tempo. Harry bateu com a varinha no pescoço do garoto e ele sentiu um filete gelado escorrer por suas costas. Pensou que havia se molhado, mas ao olhar para suas próprias mãos, que seguravam o cabo da vassoura, percebeu que ele estava... transparente? Não era exatamente essa a definição. Na verdade, ele parecia um camaleão, refletindo tudo ao seu redor. Observou enquanto Harry procedia com o feitiço em todos eles, até que estivessem escondidos sob a luz do luar.

Foi quando avistaram ao longe uma torre bem alta, brilhando impetuosa logo após uma floresta que parecia se estender infinitamente para o leste. Eles se aproximavam velozmente da torre, como se fosse ela quem estivesse se movendo até eles. Quanto mais perto chegavam, mais conseguiam enxergar do enorme castelo que se divisava diante de seus olhos estupefatos. Apenas Harry parecia habituado ao local. Avistou ao longe o campo de quadribol, completamente abandonado, e observou com amargura a cabana de Hagrid semidestruída. O que teria sido feito do meio gigante? Ele não conseguia se lembrar, embora tivesse a certeza de que ele não havia morrido até que Harry tivesse perdido sua memória. No entanto, não tinha como garantir o que aconteceu ao mundo mágico depois que ele foi submetido ao Obliviate.

As estufas onde teve aulas de Herbologia com a professora Sprout, a orla da floresta proibida onde tantas vezes ele se meteu em encrencas, o imponente Salgueiro Lutador, as luzes do castelo brilhando intensamente, a inteira visão de Hogwarts diante de si trazia uma enxurrada de pequenas lembranças a Harry. Foi quando, sem avisar, ele endireitou o corpo na vassoura de modo a descer próximo à floresta, Os três amigos não perceberam a atitude dele até notar que Harry já estava quase aterrissando a vassoura. Então, endireitaram os corpos e começaram a descer ligeiramente.

Mia foi a primeira a colocar os pés no chão, desequilibrando-se, mas conseguindo se manter de pé, o rosto branco de susto. Lúthien veio logo atrás e pousou com graça, mas visivelmente aliviada de estar novamente com os pés no chão. Hermes, no entanto, não conseguiu diminuir a velocidade da vassoura e se estatelou no chão, o objeto voando para um lado enquanto o corpo dele se desmantelava na grama. Harry foi até o loiro e estendeu-lhe a mão, enquanto Lúthien e Mia tentavam conter as risadas. Extremamente irritado, Hermes agarrou a mão oferecida pelo homem e se levantou, batendo no blusão para tentar se livrar da terra que havia se prendido nele e murmurando em voz baixa pequenas reclamações sobre os meios de transportes mágicos.

- Vamos!

Harry fez um sinal para que o trio o seguisse. Caminharam pela orla da floresta, escondidos pelas sombras das altas árvores. O grupo se sobressaltava com os barulhos vindos do meio da mata, e muitas vezes Mia podia jurar que via pequenos olhos amarelos que os observavam. Mas julgou estar ficando louca, e determinou a si mesma que se tratava apenas de uma ilusão produzida pelo medo de ser descoberta.

Chegaram próximos ao Salgueiro Lutador e Lúthien não pôde deixar de comentar:

- Essa árvore é estranha.

- Mas é ela que vai nos ajudar a entrar – disse Harry com um tom enigmático na voz. – Esperem aqui!

Sem entender direito o que ele queria dizer, os três amigos continuaram parados e observaram as atitudes do homem. Harry procurou entre a orla da floresta um galho que fosse suficientemente comprido. Mia resolveu se aproximar dele, deixando Lúthien e Hermes observando a árvore, e perguntou:

- O que você está fazendo?

- Procurando por um galho – respondeu o homem, sem sequer se deter para observar a menina, que mantinha no rosto uma expressão de ponto de interrogação.

- Por que exatamente precisamos de um galho? – Mia questionou, sem poder se conter.

- Nós vamos entrar no Castelo pela passagem secreta que há debaixo do Salgueiro Lutador. O lado esquerdo do túnel leva à Casa dos Gritos, mas o lado direito dá acesso ao corredor da estátua da bruxa de um olho só. Ele passou um bom tempo trancado, mas algo me diz que podemos utilizá-lo agora. Contudo, precisamos evitar que a árvore nos impeça de entrar no Castelo.

- Como assim?

Mia insistiu, mas não precisou que Harry respondesse nada quando Lúthien pisou em uma das raízes do Salgueiro. Esta se mexeu de forma ameaçadora e atirou a menina para longe sem que ela ao menos tivesse tempo de gritar. Assustado, Hermes correu até o local onde Lúthien havia caído, para o qual Mia e Harry também foram. Como estava mais próximo, Hermes chegou primeiro e percebeu que a menina estava desacordada. Sem pensar duas vezes, impôs a mão sobre a testa da loirinha e concentrou a energia do ar, fazendo com que um filete azulado se desprendesse de sua mão até o corpo de Lúthien. Mantinha a cabeça da menina ligeiramente levantada com o apoio de um braço, e concentrava todas as forças que podia para que ela se recuperasse da queda. Harry e Mia apenas observavam, a ruiva já pensando em intervir para somar sua energia à de Hermes.

Porém, Lúthien tossiu de leve quando acordou e encarou os olhos cinzentos que a observavam, um tom de alívio impresso neles. Ela sorriu e falou:

- Eu voei! E sem vassoura!

O menino não pôde deixar de rir diante da inocência da loirinha. Ela se levantou em seguida, como se nada tivesse acontecido, e permaneceu observando Harry, que segurava o galho na mão direita.

- E então, há algum jeito de parar essa árvore maluca? – perguntou Hermes, que já havia se levantado do chão logo em seguida de Lúthien.

- Há sim, e é o que vou fazer – disse Harry, apontando para o galho em sua mão. – Você entra primeiro, Hermes, conjure um facho de luz e verifique se não há nenhum desabamento no início do túnel.

Harry apertou o botão que havia na árvore com o galho e Hermes rumou para lá, com o cuidado de observar cada raiz antes de pisar sobre ela, para constatar se não se mexiam. Chegou ao buraco, que estava coberto de grama em volta. Afastou o que pôde do mato e entrou, conjurando um facho luminoso em seguida. As duas meninas e o homem esperavam, ligeiramente apreensivos, enquanto o facho de luz diminuía e depois voltava a ficar mais intenso. Hermes saiu do túnel e fez um sinal de positivo para eles. Harry indicou com a cabeça para que Mia e Lúthien entrassem primeiro e, em seguida, correu para a entrada com uma habilidade incrível, desviando-se dos galhos que tentavam afastá-lo. Quando entrou, Mia, Hermes e Lúthien tinham conjurado três tonalidades de luzes coloridas, que se somaram à luminosidade da varinha de Harry quando ele murmurou:

- Lumus!

O túnel era feito de terra batida e parecia prestes a desmoronar. Estava na cara que não era utilizado há muito tempo. Talvez Voldemort e seus seguidores sequer soubessem da existência de passagens secretas que podiam conduzir para dentro e para fora do Castelo. Essa era uma vantagem que Harry acreditava possuir.

O bruxo bateu, então, a varinha na nuca de cada um, livrando-os do feitiço de desilusão, que não seria necessário debaixo da terra. O túnel já era suficiente para mantê-los escondidos.

Apenas Lúthien parecia se sentir em casa, e Hermes era o que estava mais sufocado. A loirinha passou a caminhar na frente, guiando o grupo pelo corredor de terra. Ela farejava o ar, sentindo o cheiro do solo como se este lhe fornecesse mais energia. Ao ver uma luminosidade mais forte no fim do túnel, Harry tomou a dianteira e foi o primeiro a sair pela bruxa de um olho só.

Estavam, enfim, dentro de um dos corredores de Hogwarts. O lugar estava absolutamente deserto, e as sombras produzidas pelos objetos dentro do Castelo eram assustadoras. Harry fez sinal para que apagassem as luzes que conjuraram, fazendo o mesmo com aquela que estava em sua varinha.

Ele começou a caminhar, seguido de perto pelos três amigos. Observava os quadros dos corredores, todos muito mudados. Eram cenas macabras, algumas estáticas e outras em movimento. Pessoas sofrendo, sendo torturadas, assombradas por pesadelos e até mesmo o ataque de um lobisomem. O estômago de Harry remexeu ao se lembrar de que conhecia um, embora seu nome não voltasse à mente do bruxo naquele momento. Mas ele sabia que o lobisomem em questão já havia utilizado muitas vezes aquela mesma passagem secreta sob o Salgueiro, que sempre o conduzia para fora da Escola nas noites de Lua Cheia.

Harry estancou quando chegou ao fim do corredor. Franziu a testa para tentar se lembrar de como ir às masmorras, que sabia ser o local onde Daniel estava, mas parecia não saber exatamente que caminho tomar. Mia se aproximou dele e disse:

- Acho que, se estamos falando de masmorras, o correto é descer.

- Há uma escada aqui – disse Hermes, que já estava explorando mais à frente no corredor.

Sem conseguir pensar em outra alternativa, Harry apenas rumou para lá.


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