Vermelho



CAPÍTULO XII. VERMELHO

A sua força vital rapidamente se esvaía... Mas ela apenas queria que aquela tortura deliciosa se arrastasse pela eternidade.

Era simplesmente maravilhoso... A proximidade, o cheiro dele... As mãos despudoradas que percorriam o seu corpo com tanta maestria, mas...

Aos poucos, Mina passou a ter consciência do que realmente estava acontecendo. Abriu os olhos em horror.

Não era real.

Ela estava morrendo.

Não estava certo.

Ele era o assassino.

Precisava se livrar.

- Severo... não.

Tentou empurrá-lo, mas estava fraca demais para tal reação. A constatação da sua impotência levou lágrimas aos seus olhos.

- Severo – ela sussurrou baixinho, implorando.

Mas ele não escutava. Apenas a segurava cada vez mais forte.

E ela se lembrou...

Num gesto tresloucado, Mina colocou a mão por dentro do seu blazer e segurou a sua pesada cruz de prata.

Deus meu... Proteja-me!’

E encostou-a no rosto dele.

Um grito demoníaco ecoou no quarto escuro, enquanto ele se afastava. Snape pôs a mão onde a cruz encostou. Um inegável cheiro de carne queimada tomou conta do lugar.

Mina soltou a cruz e pressionou o ferimento em seu pulso antes que perdesse ainda mais sangue enquanto sentava-se. A dor finalmente chegou... Ela resistiu bravamente, mas logo as lágrimas escorregavam livremente pelo seu rosto. Olhou para Snape.

- Seve--- Senhor Snape?

Severo Snape levantou o rosto. Mina não conseguiu conter um suspiro horrorizado quando se deparou com aquela imagem desfigurada: a pele onde a cruz encostara estava terrivelmente queimada, e a pouca iluminação do lugar apenas fazia a ferida parecer ainda mais tenebrosa.

Mas o horror e a repulsa logo passaram. Havia algo no olhar dele que Mina jamais percebera. Era um brilho diferente que... que teve o poder de derreter o seu coração. Ela sabia bem que aquilo tinha a ver com o poderoso elo que se formava entre os vampiros e as suas vítimas, mas, mesmo assim, não poderia nunca negar: estava apaixonada.

Rapidamente ela viu todas as certezas que há pouco tivera se esvaírem. Agora, ela não somente acreditava na inocência dele, como faria o impossível para prová-la. E, ao mesmo tempo, sentiu um terrível aperto no coração ao olhar mais uma vez para a ferida que provocara no rosto dele. Cheia de remorso, sussurrou:

- Me desculpe.

Ao ouvir as desculpas de Mina, Snape pareceu sair de um tipo de transe. Consciente, ele perdeu o seu aspecto vampirizado e olhou-a preocupado.

- Merlin! Mina!

Ela tentou sorrir enquanto Snape arrastava-se para perto. A queimadura aos poucos começava a sumir.

- Você está bem? No que você estava pensando!? Não deveria ter feito isso!

Mina mordeu seu lábio.

- Há quanto tempo você não se alimentava, Senhor Snape?

- Não é importante.

Ela baixou a cabeça, sentindo-se cada vez mais fraca.

- Severo, eu preciso ir a um hospital...

O rosto dele ficou mais alerta.

- O que? O que você está sentindo?

- Eu... Eu perdi muito sangue... Por favor...

Imediatamente ele se levantou. Passos cambaleantes levaram-no até a sua escrivaninha. Mesmo no escuro, Snape encontrou sem nenhuma dificuldade um pedaço de pergaminho, onde convocou Madame Pomfrey a ir aos seus aposentos. Rapidamente jogou-o na sua lareira e um feitiço o fez sumir.

Aproximou-se dela. Com carinho segurou seu rosto, e tentou ignorar o sangue apetitoso que teimava em escorrer do pulso que acabara de ser mordido.

- Madame Pomfrey estará aqui logo.

Mina apertou mais o seu pulso. A dor estava cada vez mais insuportável, mas, ainda assim, ela apenas se preocupava com Snape, que ainda estava muito pálido.

- Eu tenho a poção que você precisa. Vá pegá-la.

- Como?

- Minha maleta... Vá! Você ainda está muito fraco.

- Mas você...

- Eu ficarei bem – ela suspirou. – Não há nada que você possa fazer... Apenas pegue a poção e volte aqui.

Snape obedeceu. Correu até a ante-sala, onde encontrou a maleta de Mina. Abriu-a e imediatamente achou a preciosa poção que há dias não tomava simplesmente por seu estoque ter acabado.

Voltou o mais depressa que o seu físico afetado permitiu.

- Aqui.

Mina delicadamente soltou o seu ferimento e deixou que algumas gotas do seu sangue caíssem na poção. Imediatamente ela adquiriu um tom intenso de vermelho.

- Tome.

Sem pestanejar, Snape a tomou. O gosto suave do sangue de Mina o esquentou novamente... Mas ele não perdeu o controle desta vez. Assim que acabou, voltou a dar atenção à mulher.

- Obrigado.

Ela tentou sorrir enquanto disfarçava um gemido de dor.

- Me desculpe – ela sussurrou.

Snape ergueu uma sobrancelha. Mas, antes que ele pudesse dizer que ela não tinha do que se desculpar, Mina continuou.

- A culpa foi minha, não foi? As sementes frescas de tentáculos venenosos... você tinha pouco, e eu as usei.

Ele assentiu.

- Você não tinha como saber...

- Eu deveria ter perguntado. Tinha quase certeza que você era um vampiro, afinal... Severo, por que você não se registrou? Há quanto tempo...?

Severo Snape virou o rosto.

- Cinco anos. Eu ia me registrar, mas fui nomeado diretor... Seria inadmissível, um diretor vampiro, pronto para morder os alunos. E agora...

- Agora você seria o principal suspeito.

- Eu sou, ao que parece.

Os olhos de Mina se encheram de lágrimas.

- Eu confio em você. Diga-me que você não é o culpado, e eu acreditarei.

- Por quê?

Ela suspirou.

- Eu apenas sei. Você é muito mais do que aparenta, Severo. Qualquer pessoa pode ver isso se apenas prestar um pouco de atenção em você.

Ele desviou o olhar para os lábios de Mina. Sentiu um calor tomar-lhe o peito quando ouviu:

- Eu acredito em você.

E, pela segunda vez naquele dia, Snape se deixou levar por seus impulsos. Não resistiu à vontade de tomar os lábios daquela mulher.

Lentamente, aproximou-se. Mina partiu os seus lábios em antecipação. O primeiro toque foi suave. Os lábios apenas se tocaram levemente... Mas foi o suficiente para que o coração dela disparasse como nunca.

Ela suspirou quando ele se separou apenas por um momento. Os olhos negros mergulhavam nos azuis, brilhando, pedindo permissão para continuar. Mina fechou os olhos e inclinou o rosto, entregando-se.

O segundo toque foi mais profundo. Pela primeira vez, sentiram o gosto e a maciez dos lábios. Como se estivesse hipnotizada, Mina soltou o seu pulso e acariciou o rosto dele com a sua mão ensangüentada.

O terceiro toque...

O terceiro toque foi interrompido por duas batidas discretas na porta. Imediatamente, os dois se separaram. Mina corou e olhou para o chão, mas não conseguiu conter um breve sorriso que se apossou de seus lábios.

Quando Madame Pomfrey abriu a porta, esperava apenas encontrar o diretor da escola com um péssimo humor... Mas o que viu a deixou alarmada.

- Merlin! O que aconteceu aqui!?

Sem se preocupar em fechar a porta, ela correu para onde estava Mina e Snape. Ajoelhou-se ao lado dela e, com um feitiço, iluminou o lugar. Seus olhos miravam as marcas de sangue nos dois, não querendo acreditar no óbvio.

- Eu a mordi.

- A culpa foi minha – Mina completou, ao ver o horror no rosto da curandeira.

- Tudo bem – Pomfrey disse nervosa. – Vamos cuidar disso.

Com um feitiço, ela limpou o pulso de Mina e fechou o corte.

- Eu vou chamar alguém para me ajudar a levá-la à Ala Hospitalar, diretor.

Ela se levantou apressadamente, mas, ao se virar para a porta, ficou imóvel. Lá estava Van Helsing, olhando absorto para a cena. Snape pela primeira vez desde a chegada dos dois sentiu medo: e se o caçador o tivesse ouvido revelar à Pomfrey que mordera Mina?

Mas ele não tinha ouvido. Tudo que Van Helsing conseguia prestar atenção era que Mina tinha parte da sua blusa aberta, mostrando um sutiã de algodão cor-de-rosa. E que a calça de Snape estava aberta, bem como parte dos botões da camisa. E, claro, tinha sangue por todos os lados.

- O que está acontecendo aqui?

Pomfrey, sem graça, apenas pediu licença e deixou o quarto à procura de ajuda.

- Nada – Mina disse com uma voz fraca.

Severo se levantou, dando dois passos em direção a ele.

- Não que isso lhe interesse, não é, Van Helsing?

- Me interessa, sim. Eu vim para proteger Mina e ela não me parece estar muito protegida. Por que Pomfrey estava aqui?

- Eu passei mal – ela mentiu.

Van Helsing a fitou. A raiva que sentia naquele momento apenas aumentou quando percebeu que, não importava o que ele fizesse, Mina simplesmente não queria ser ajudada.

- Claro. Aposto que esse sangue tem a ver com isso. – Voltou-se para Snape. – Espero que você saiba que, quando eu sair daqui, não haverá mais nenhum vampiro vivo em Hogsmeade ou em Hogwarts. Nenhum. – Voltou-se para Mina. – Eu não sou idiota. Não me trate como tal. – E estendeu a ela alguns frascos. – As amostras.

E saiu.

XxXxXxX

Reviews, por favor...

Bjus para a Shey que está betando a fic (ela, aliás, está com o PC quebrado, enton eu sinceramente não sei quando será a próxima atualização). E, naturalmente, para o pessoal que revisou: Kure, Renata, DevilAir, Lois e BastetAzazis

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