UM CASO PERDIO



Ok, eu volto atrás na idéia que deveria ser presa, mas ainda sou a pior pessoa que já pisou sobre a face do universo. Quer dizer, talvez Potter seja ainda pior do que eu. Sendo assim eu sou a segunda pior pessoa. Agora me sinto melhor! Sério, estou pensando em fazer uma placa, 'Lily de mau-humor! Não se aproxime.', caso contrário há o risco de apedrejar todo e qualquer ser humano dessa escola.


O que aconteceu? Tudo começou no terceiro dia do ano letivo, 3 de setembro. Eu estava sentada tristemente na mesa da Grifinória, pensando em toda aquela bobagem que eu tinha cogitado, quando uma voz totalmente sarcástica chegou aos meus ouvidos.


"Lily Evans, sabe que eu também costumo procurar as minhas amigas, que eu não vejo a dois meses e nem me correspondo via correio-coruja, no começo do ano letivo!". Agatha, minha melhor amiga disse. Eu só lembro de ter olhado para ela com uma cara de culpa e ter dito:


"Agatha eu sinto muito...". Depois de me fazer sentir o pior dos seres humanos, ela ri. Ela riu da minha cara. Bem, eu não posso a culpar por isso.


"Também não é para tanto Lily. Que cara é essa? Encontrou com o Potter?". Eu dei um berro escandaloso à menção desse nome.


"Definitivamente...". Agatha respondeu a essa minha atitude descontrolada fazendo cara de especialista e tentando analisar a situação. "Esse ano começou pior do que o ano passado, não? E que história é essa de monitora chefe?".


"MUITO pior! Só no primeiro dia eu encontrei com o tal, três insuportáveis vezes!". Agatha começou a rir mais uma vez. "Isso ri da desgraça alheia...". Ela segurou o riso nessa hora e pediu para que eu continuasse. "E no segundo dia ele sentou do meu lado em transfiguração, e depois desse encontro, que deveria ter sido casual, eu tive uma crise existencial”. Eu percebi o quão estranho era aquilo quando Agatha arregalou os olhos. "Você o que?", ela disse.


"Crise existencial! Vê se isso faz algum sentido..." Eu disse muito agradecida por poder estar desabafando.


"E do que se tratava essa crise afinal de contas?"


Eu hesitei, como iria dizer que cogitei a possibilidade do Potter ser um cara legal?


"Bem... eu pensei que talvez o Potter não fosse tão er... horrível”.


"Você o que?". Ela arregalou os olhos e fez a mesma pergunta em menos de um minuto. Sem dúvida as coisas estavam se saindo mais chocantes do que eu podia imaginar.


"É”. Eu não sabia o que dizer.


"Lily". Ela usou um tom bem compreensivo. "E sempre lhe disse que o Potter, os marotos em geral, são mais do que aparentam”.


"Agatha, você não está entendendo. Eles azaram pessoas pelos corredores, se julgam os melhores, e por isso devem ser reverenciados, eles são os marotos. Nós não estamos falando das mesmas pessoas”.


"Eu sei de tudo isso. Mas perceba, o Lupin, por exemplo, não seria monitor chefe se fosse assim tão convencido de sua natureza divina”.


"Eu tenho que admitir que o Lupin é um tanto quanto diferente, mas eu estou falando do Potter”.


"Ele é um caso diferente..."


"Perdido." A corrigi.


"Diferente."


"Diferente? Não vejo nada de muito interessante para ser diferente."


Ela sorriu marotamente, olhou para o Potter no final da mesa e disse: "Eu vejo.". Eu pisquei várias vezes, arregalei os olhos e berrei. "AGATHA!".


Ela começou a rir tanto que lágrimas escorreram dos seus olhos. Eu já estava começando a ficar encabulada com quase todas as pessoas daquela mesa nos encarando, inclusive o assunto.


"Lily, eu não estava falando exatamente do Potter, se você quer mesmo saber. Mas foi interessante ver a sua reação."


"Você estava me testando."


"Você pode dizer que foi isso. Eu não vejo nada de mau."


"Eu estou perdida com uma amiga como você”. Eu fiz um drama desnecessário.


"Definitivamente..." Agatha respondeu como sempre. Fazendo de meus dramas motivos de piada. Eu até pensei em ralhar com ela, mas dois segundos mais tarde a minha raiva já tinha passado. "Me diz..." Ela começou. "Porque você não me enviou uma única carta?".


Eu fiquei muito grata por ela ter mudado de assunto. "Problemas em casa.".


"O que aconteceu na sua casa?". Eu a olhei com uma cara de compreensão e ela me olhou completamente perdida. Potter me havia feito a mesma pergunta no primeiro dia, mas com todo o descontrole do momento eu não notei. Porque ele se importaria? Eu nunca mando cartas para ele, nem nada parecido. Como ele podia saber que alguma coisa anormal havia acontecido na minha casa? "Espere ai..." Eu respondi à Agatha e sai decidida em direção a mesa dos marotos. Parei bem em frente ao grupo, cruzei os braços e disse: "Potter, como você sabia sobre a minha casa?".


Pedro, Lupin e Black olharam para Tiago com a mesma cara de incompreensão que ele me olhou. "Lily...". Ele pareceu recobrar a fala e os movimentos, porque logo tratou de passar a mão em seu cabelo. Que mania! "Bom dia para você também. O que você disse?" Ele perguntou sorrindo.


"Eu disse, como você sabia sobre a minha casa."


"Lily, eu sinto muito, mas você vai ter que ser mais clara."


"Tanto quanto você precisar. Você me perguntou, no primeiro dia: 'O que aconteceu na sua casa nas férias?'"


"Sim..."


"Então."


"Então?"


"Potter!" Eu berrei. "Como você sabia que tinha acontecido algo estranho?"


"Ah isso. Eu tenho os meus meios." Ele disse muito seguro de si. E eu me irritei, como se eu já não estivesse. Descruzei os braços e bati na mesa fazendo um belo estrago e o encarando.


"Sério que você tem os seus meios?"


"É". Eu o fuzilei com os olhos e ele finalmente me respondeu decentemente.


"Lily, não sei para que tanta irritação. Eu perguntei à McGonagal porque deveria entregar o bilhete a você, e ela me respondeu. Muito simples."


"E porque você perguntou?". Ele estava me vigiando!


"Lily, eu ainda não vejo o porque de toda essa cena."


"Porque eu não quero que você saiba qualquer coisa sobre mim.". Eu respondi meio sem pensar. Admito que isso é o cúmulo da infantilidade.


"Tarde de mais!"


Eu já tinha me irritado o bastante. Voltei a cruzar os braços e disse calmamente.


"Você é um caso perdido."


"Diferente." A voz de Agatha surgiu atrás de mim. Ela deve ter percebido que aquilo já havia ido longe de mais. "Meninos.". Ela disse muito segura. "Vocês não deviam estar azarando alguém por ai, batendo perna pelo castelo?". Eles entenderam o recado, pelo menos eu acho que sim, porque levantaram sem questionar nada e começaram a se retirar. Não sem antes Tiago se despedir de mim com um sorriso bobo, Lupin parecer meio sem jeito, e Black apenas olhava para Tiago e ria.


"Agatha, porque fez isso?". Eu virei chateada para ela.


"Porque estava dando escândalo.". Ela estava certa...


"Ruim assim?"


"Eu diria...". ela ponderou por um instante. "Número 4"


Eu suspirei resignada. Desde que ficamos amigas Agatha criou o que ela chama de "Medidor de Escândalos.". A escala varia de um à cinco, e se ela havia me dado um quatro era porque além de ridículo havia sido desnecessário.


"Eu juro que tento me controlar."


"Você não anda tendo muito sucesso, ham?"


"Eu não tenho culpa se Potter me tira do sério."


"Ele não havia lhe feito nada."


Agora pensando sobre isso, eu acho tudo muito idiota da minha parte. Primeiro eu tenho uma crise existencial que me deixa descontrolada, depois faço um escândalo por nada, e ainda, de alguma maneira, brigo com Agatha. Eu definitivamente sou o pior ser humano que já pisou sobre a face da terra.


Eu só queria, que algumas vezes, o meu esbarrão com o Potter não terminasse numa briga. Porque sabe? É um saco não parar de gritar. Certo, acabei de decidir, não vou mais brigar com o Potter...por uma semana. Eu tenho que começar com objetivos realizáveis, não?


Mas uma coisa boa aconteceu. Eu consegui fazer alguma coisa boa como monitora. Isso não é esplêndido? Fiz o relatório da semana com todas as infrações que eu consegui surpreender. Sério, fiquei espantada com o número de advertências que tive que escrever, mas feliz por pelo menos um terço delas estarem relacionadas com Potter. Agora só faltava entregar para Lupin e esperar o aval dele para entregar para McGonagal.


Depois do incidente do salão principal, eu e Agatha fomos caminhando até nossa primeira aula, Adivinhação. Eu finalmente pude contar sobre todas as complicações que tive na minha casa e pedir desculpas por ter simplesmente desaparecido do mapa. Ela entendeu e disse alguma coisa como a sua irmã precisa arrumar um namorado! Eu ri muito com aquilo, porque sinceramente? A Petúnia namorando? Eu não consigo imaginar um tipo capaz.


Quando meu humor parecia finalmente estar entrando num nível aceitável, quem me aparece?


"Lily?". Ele começou timidamente. Quer dizer, timidamente? Potter?


"Não, por favor, não!". Eu disse isso me referindo ao teto da sala de aula.


"Eu ainda nem falei”.Ele pareceu meio indignado nessa hora.


"Graças a Deus!"


"Evans..." Ele soou emburrado. "Eu só tinha vindo aqui para lhe pedir desculpas por ter 'me metido na sua vida'". Ele realmente parecia bravo por estar dizendo aquilo tudo, e não parecia disposto a me dar tempo de resposta, mas aquela era imperdível. Potter me pedindo desculpas?


Eu o impedi de se afastar e soei o mais desentendida possível.


"Se desculpando Potter?"


Ele cruzou os braços e parecia irritado, olhou para os amigos, que se mostravam até interessados demais naquela conversa, e ainda sem me encarar respondeu um "É" meio morno.


Confesso que não esperava um "É", e sim um "É, algum problema Evans? Vai começar a berrar de novo?". Eu devo ter ficado traumatizada. Mas o fato é que aquela resposta me desarmou. Eu respondi um "Tudo bem..." muito compreensivo se tratando da minha pessoa. Porém, o pior, mais aterrorizante, veio depois.


"Potter." Eu o chamei depois de ter aceitado as desculpas dele. Ele virou-se intrigado, mas parecia feliz. Eu não tinha berrado com ele, e agora o chamava de volta. Eu estou louca! "Eu só queria pedir desculpas por aquela gritaria desnecessária no café.". Sinceramente? De onde aquelas palavras saíram? Eu tenho certeza que não pensei aquilo. Acho que tanto tempo vivendo sobre o "Bloqueio à Anormalidades" elaborado por Petúnia tinha me feito mal!


Mas a reação dele foi ainda pior. Ele sorriu surpreso, colocou as mãos no bolso e caminhou até os amigos de um jeito meio encantado. Aquilo tudo foi tão estranho. Completamente assustador.


Eu ainda fiquei alguns segundos parada. Depois lembro de Agatha me puxando pelo braço e perguntando: "O que foi isso?". Eu respondi num tom meio desesperado. "Não faça perguntas, eu ainda estou tentando não me matar!"

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