NOS APOSENTOS DE MILADY



CAPÍTULO 11:


NOS APOSENTOS DE MILADY





O frio entre as quatro paredes de pedras escuras era tão cortante, tão invasivo, que o grupo de pessoas reunido ali compartilhava a impressão de que o gelo lhes chegava até os ossos, enquanto suas respirações condensavam-se em pequenas nuvens a escapar dos largos capuzes. A umidade no lugar aumentava o incômodo, fazendo alguns poucos entre eles arriscarem o movimento de achegarem-se mais às suas capas negras, em meio à maioria absolutamente imóvel e silenciosa.

Havia um ar de reverente expectativa no ar, que aumentou de proporções quando um homem alto, vestido em cor diferente dos demais, galgou os degraus do alto tablado que tomava um dos extremos da sala. Mesmo que não se pudesse divisar feições na semi-escuridão, todos sabiam de quem se tratava, e o ar estalou de ansiedade. De frente para sua audiência, ficou alguns instantes quieto, estudando as silhuetas alinhadas e voltadas para ele, saboreando o brilho fanático de olhos que podia adivinhar, ainda que a penumbra e os mantos os ocultassem de sua visão.

- Salve, irmãos na magia! – Cumprimentou, com voz clara e pausada. Um coro alto e firme retribuiu, ao som de varinhas batidas umas nas outras. – Me alegro em ver que retornaram a mim, e que continuam decididos! Que não se renderam ao que é utópico, e por isso mesmo, falso. Ao que parece belo e justo, mas é fugaz e mentiroso... Folgo em verificar que não se convenceram com idéias equivocadas de que devem aprender para serem iguais, quando na verdade devem aprender para serem líderes. Para serem invencíveis. Para serem superiores... Para desempenhar a tarefa que lhes foi conferida por direito de nascimento: deuses na terra!

Um murmúrio deliciado varreu o aposento, e os expectadores remexeram-se, satisfeitos com os elogios. O homem alto deixou-os aproveitarem o momento, sorrindo discretamente, depois continuou:


- Está chegando a hora! Breve, retomaremos nosso lugar na sociedade não só deste reino, mas sim, de todo o mundo. Logo, não teremos mais de nos preocupar com diplomacia, acordos ou arranjos com raças inferiores a nós. Logo, nossas habilidades e nosso poder serão liberados em toda a sua força, e a vantagem numérica dos bárbaros que agora nos acuam será eliminada. Não tarda para vermos raiar o dia em que voltarão a ajoelhar-se diante de nós, como servos naturais que são!

Nova onda sonora de apreciação, desta vez ponteada aqui e ali por faíscas disparadas por varinhas ao largo do salão. O bruxo ergueu as mãos, pedindo silêncio, e prontamente todos se aquietaram.

- Pois, é o que são! Não somos nós versados em astrologia, história e nos métodos de cura, enquanto poucos entre eles sabem ler ou escrever? Não sabemos nós dos segredos do mundo, enquanto eles pensam que este acaba além da linha do horizonte, onde o mar desaba em um precipício? Não somos nós capazes de criar a partir do nada, enquanto eles só destroem com sua selvageria? Breve, irmãos, breve nós os submeteremos à sua inferioridade, tirando de tal barbárie qualquer poder, autoridade ou regalia sob este sol. Reforçaremos assim a seleção natural, o que é saudável e forte manda, o doente e fraco obedece.

Risadas de escárnio ressoaram por todos os lados.

- Mestre... - aventurou-se a brincar uma voz na primeira fila. – Dizem que, mesmo entre a realeza, os comuns não se banham mais que algumas vezes na vida... Admira-me que procriem como ratos, sendo assim! Tal cheiro deveria acabar com qualquer idéia neste sentido!

As risadas transformaram-se em gargalhadas altas, interrompidas, entretanto, pela voz clara e impiedosa do bruxo no tablado.

- Vocês riem? Eles mataram duas vezes o número de integrantes da família de qualquer um aqui, só na última lua, e vocês riem?

O silêncio sepulcral voltou a instalar-se, e o fanfarrão da primeira fila encolheu-se dentro do capuz, querendo sumir de vista.

- É este o erro que todos devemos evitar! – Sentenciou o bruxo, andando de lá para cá em seu púlpito. – Não podemos subestimar o perigo que eles representam! São criaturas obtusas, ignorantes e infames, sim! Irracionais, com certeza! Mas, como qualquer besta selvagem, perigosas e até letais!

- O Mestre está querendo dizer, - perguntou de forma pausada o único dos presentes que vestia as mesmas cores do bruxo alto – que devemos temê-los?

Várias vozes chocadas se ergueram, repudiando a pergunta.

- Temê-los? Não! Que tenham cautela é o que eu quero. Sangue bruxo não deve ser derramado levianamente! Não devem se expor sem um bom motivo! Por isso, estamos nos organizando. Por isso, tenho instruído vocês em segredo... Guerra aberta agora significaria perder muitas vidas bruxas, bem como o apoio de outros tantos que podem, acreditem, fazer diferença ao final de tudo. Peço novamente, então, para que tenham paciência, que sejam cautelosos, e que cerrem fileiras comigo! Nossa superioridade não será desafiada por muito mais tempo, acreditem! Mas, para isso, eu preciso que não cometam erros grosseiros, - caminhou até a parede de pedras e tocou três vezes com a varinha em uma delas – erros como seus colegas aqui cometeram.

Metade da parede deslocou-se de lugar, girando sobre si mesma até o lado de trás tomar a frente. No lado recém exposto, três figuras debatiam-se debilmente, penduradas pelos tornozelos em correntes presas por aros de ferro próximos ao teto.

Curvando-se, o “mestre” perguntou audivelmente para o acorrentado do meio, enquanto toda a sala assistia, entre temerosa e excitada, a cena.

- Então, Noir, já aprendestes tua lição? E você, Malfin? Himmler?*

- Mestre... água... – Respondeu Noir, fraco.

- Posso então confiar que não mais colocaram suas entranhas a pensar no lugar de suas cabeças? – Os três se movimentaram, acenando grotescamente com as cabeças penduradas para baixo, lembrando peixes pendurados no anzol. – Voltarão, pela satisfação passageira do toque de uma mulher, a humilhar nosso sangue puro ao serem derrotados por um limpador de estábulo de sangue sujo?

- Não, mestre, não... – engrolou Himmler, à esquerda de Noir – Por favor, mestre... solte-nos!

O bruxo bateu com a varinha nas correntes, e elas soltaram os presos que caíram sobre o tablado com um baque surdo. O bruxo alto novamente dirigiu-se à sua platéia.

- Que a lição deles sirva para todos vocês! Deslizes não serão facilmente perdoados! Agora, vão! Trabalhem como lhes orientei, em silêncio e em segredo, pela nossa causa. Eu os avisarei da próxima reunião! Vão, e orgulhem-se do que são, sempre!

Alguns encapuzados aproximaram-se dos três rapazes que se curvavam em posição fetal, ainda caídos no chão.

- Não! Não os ajudem! Deixem que saiam de seu castigo pelas próprias pernas, assim como entraram.

Finalmente a sala esvaziou-se, aos poucos, ficando para trás apenas o mestre e a figura mais baixa e magra, vestida como ele. Ambos observavam a dificuldade que Noir, Himmler e Malfin encontravam para seguirem seu caminho, escorados uns nos outros.

- Nossos adeptos crescem em número, mas, ainda não sei se em qualidade... E agora que ele está de volta, temos que tomar ainda mais cuidado. – O mestre pousou a mão no ombro do mais baixo. – Fique atento! A qualquer movimento ou palavra! Mais do que nunca...

O outro assentiu solenemente e, com uma rápida reverência, foi-se também, deixando Salazar Slytherin sozinho com seus pensamentos na sala escura e fria.


==*==


Helga ajoelhou-se por trás das mudas de lilases uivantes e fingiu mexer na terra escura do vaso, tentando sem muito sucesso esconder o riso que a sacudia atrás das pétalas agitadas das flores lamuriantes.

- Teu divertimento não me ajuda em nada, sabes?

Lady Hufflepuff ergueu-se, despindo as pesadas luvas de couro de dragão, e afastou os cabelos claros do rosto risonho. Conciliadora, enganchou o braço no de Rowena, enquanto dirigia a amiga para outro canteiro.

- Vamos, Rowena, desfaça este semblante macambuzo e me ajude com estas ervas... Salazar precisa de nova remessa para logo, e não quero ser a responsável pelo fracasso de alguma de suas amadas poções...

Rowena suspirou, ainda contrafeita, mas ajoelhou-se ao lado da outra, pondo-se a retirar cuidadosamente alguns ramos de alecrim dos quadrados de terra tratada, acomodando-os em seguida na cesta indicada por Helga. Por alguns momentos trabalharam em silêncio, até o bom humor de Helga vencer seu bom senso.

- E então, qual foi o sentido que a levou para ele, afinal?

Os olhares de ambas se encontraram, e embora Rowena tenha tentado valentemente parecer injuriada, logo ria às largas com a amiga.

- Arre, como se já não bastasse todos os aprendizes presentes a tal cena estarem às risadinhas pelas minhas costas, tu vens com graças, também?

- Eles não riem de ti... Pelo menos não todo o tempo. A atmosfera diferente que sentes no castelo deve-se à chegada de Godric. Há aqueles que o temem, claro, e todos o respeitam, mas é inegável o sentimento de... Entusiasmo, que provoca nos jovens com sua presença.

Rowena limitou-se a resmungar algo, o que fez Helga rir novamente.

- Eu a aconselho a se acostumar com o peculiar senso de humor de Godric, Rowie. Ele é proporcional ao tamanho do homem, e convenhamos, isto não é pouca coisa.

Rowena levantou-se, limpando as vestes. Enquanto Helga ainda colhia outras ervas nos canteiros bem cuidados de sua horta, Rowena deixou o olhar vagar pelos gramados e pelo castelo mais ao longe, que agora já adquiria contornos definitivos, com várias torrinhas circundando quatro torres mais altas, ainda inacabadas.

- Eu não os vejo desde ontem. – Observou. Helga ergueu os olhos para ela, inquisitivamente. – Lord Gryffindor e Lord Slytherin. Um desapareceu logo depois que nos... cumprimentamos, e o outro desde o desjejum, ontem pela manhã.

Helga endireitou-se, encaixando a cesta na cintura, e sinalizou para que voltassem ao castelo, enquanto respondia.

- Godric contou-me ter providências a tomar, e que isso talvez lhe roubasse a noite. Já Salazar... Bem, Salazar tem o costume de ausentar-se sem dar muitas explicações. Não deve demorar a retornar, todavia. Pediu-me estas ervas com urgência, e também há de querer saber tudo sobre a viagem de Godric, quando souber que ele está de volta.

A horta ficava a uma boa caminhada distante do castelo, e as duas tomaram o caminho que beirava o lago. Aquela área ainda não havia sido ajardinada, e a exuberante vegetação da floresta se espalhava por ali como longos braços que saiam da mata maior.

- Gibbor ainda está caçando, - contou Rowena, observando as copas das árvores que cobriam o caminho e o azul celeste além delas. – Começo a me preocupar com ele.

Helga acompanhou-lhe o olhar, escrutinando os céus.

- Ele é um animal forte e esperto, deve estar apenas marcando seu novo território... Por falar em força e esperteza, por onde anda Hérocles?

- Ah, acredito que com Lord Gryffindor, não? Achei mesmo que fosse perder a companhia dele após o retorno de seu dono. Se bem que... Ontem à noite, quando me recolhi, dei com ele confortavelmente instalado aos pés de meu leito, como antes.

A amiga assentiu, sorrindo afetuosamente.

- Godric deu a ele uma missão, proteger-te, e é isso que Hérocles fará.

Rowena não pode evitar que um sentimento cálido lhe tomasse o peito. “Por Hérocles, certamente!” - disse a si mesma.

- Pensei que ele ficaria com Lord Gryffindor... onde quer que ele tenha dormido.

A outra mulher estacou os passos, e levou a mão livre à cintura.

- Estás preocupada com aonde Godric descansou durante a noite, Rowie?

- É óbvio que não!

Helga ergueu uma das sobrancelhas e Rowena corou de leve.

- Estou curiosa, apenas. Afinal, tomei-lhe os aposentos.

- Godric sabe se arranjar, não te preocupes! Não ficaria admirada se ele resolvesse descansar ao ar livre, sob as estrelas, como tanto gosta.

Continuaram a caminhar, em silêncio, até o ruído alto de algo pesado se batendo contra a água cruzar a quietude da manhã.

- O que foi isso? – alarmou-se Rowena. Helga, no entanto, ficara muito quieta, um ar vago tomando-lhe as feições.

- Sabe Rowie, esqueci de pegar sabugos de Pinfrin... Devo voltar! Salazar precisa deles...

- Helga, não ouvistes? Há alguma coisa na água!

- Hã? Ah, sim... Tem muitas coisas neste lago... Nada a se preocupar se mantiver os pés secos. Vá, vá indo... Tome, leve a cesta para mim. Eu não me demoro... – e girando sobre os pés, tomou o rumo da horta, célere.

Rowena a observou afastar-se, incrédula e cheia de desconfiança pelo comportamento inusitado da outra. Enfim, deu de ombros, retomando seu caminho. Se Helga queria tanto ficar só...

Desta vez o barulho veio acompanhado por um grito. Uma voz masculina gritava palavras incompreensíveis, uma voz grave e retumbante. – Gryffindor.

Puxando a varinha de dentro das vestes, Rowena deixou a cesta cair e correu na direção do som, embrenhando-se entre árvores e arbustos para chegar à curva do lago de onde a voz parecia partir. Finalmente, venceu um barranco particularmente alto, e viu-se diante de uma bacia recôndita, onde as águas do lago batiam contra a margem coberta de pedregulhos. O grande meio círculo de água era reservado dos olhos humanos pelo terreno coberto de vegetação espessa e quebrado por elevações.

E lá, no meio do azul escuro profundo, enormes tentáculos, que iam do verde claro ao cinza chumbo, espichavam-se e encolhiam-se para dentro e para fora d’água, todos cobertos por ventosas do tamanho de pratos. Vasculhando com olhos aflitos a margem, Rowena não conseguiu achar sinal de Gryffindor, e seu coração afundou no peito quanto tornou a olhar para as ondas que os tentáculos produziam na superfície lisa – teria o monstro pego Lord Gryffindor?

Nisso, a criatura ergueu um dos braços mais alto que os outros, e desenrolou-o até que ficasse completamente estendido, a não ser pelo último metro que enrolava-se na cintura e pernas de um corpo inerte. Cabelos vermelhos colavam-se à nuca e ombros do homem, e a água fazia brilhar a pele das costas e braços. Antes que Rowena pudesse se refazer, os músculos de Godric Gryffindor se retesaram, e num movimento ágil ele livrou-se do “abraço”, mergulhando no lago e desaparecendo de vista. O monstro debateu-se, sua enorme cabeça apareceu na superfície e ele emitiu um som alto e agudo. Parecia estar reclamando.

A cabeça de Gryffindor ressurgiu alguns metros adiante, e para espanto completo de Rowena, ele ria!

- Terás de comer muitas algas ainda para me vencer, peixinho!– Gritou o bruxo, e quase imediatamente outro tentáculo voltou a erguê-lo no ar, enrolando-se nele novamente. – Desistes? Ou preciso enganar-te mais uma vez? – A criatura emitiu um som chiado, como ar escapando de um grande fole, e Godric gargalhou.

Fascinada pela improvável amizade que bruxo e monstro pareciam partilhar, Rowena aproximou-se furtivamente, até postar-se atrás de um tronco espesso o suficiente para escondê-la, e dali tornou a espiar.

Godric, agora completamente livre, mantinha-se em pé pela primeira vez, sobre um dos tentáculos do monstro, enquanto dava pancadinhas afetuosas em outro. A visão fez Rowena empalidecer e dar vários passos para trás, perplexa.

O homem brincava com um monstro, em um lago de águas enregelantes, completamente nu.

Sentindo as faces arderem, ela voltou-se para escapar estrategicamente, as mãos suando apenas pela possibilidade de ser pega espiando o desrespeito de Lord Gryffindor com qualquer regra de discrição. Foi então que se deparou com Hérocles, sentado a alguns passos atrás de si, batendo tranqüilamente a cauda no chão, enquanto a analisava com seu olhar solene.

- Infernos! – Deixou escapar com o susto – Hérocles, queres me matar do coração?

O leão rugiu, sacudindo a juba, e moveu os olhos dourados de Rowena para o lago, e de novo para ela, mexendo as orelhas sugestivamente. Rowena amaldiçoou a própria curiosidade. Era óbvio que Lord Gryffindor não se poria tão... à vontade, sem deixar alguma segurança a postos no caso de algo errado acontecer, ou de alguma das aprendizes aparecer por ali. Pena que o leão não a tivesse encontrado antes de Rowena presenciar a cena que ainda fazia suas faces pinicarem de vergonha...

- Hérocles? – Ecoou alta a voz retumbante, mais próxima desta vez – És tu?

- E ele resolve terminar o banho justo agora... – Rowena grunhiu, levantando as saias e pondo-se a fugir. Parou apenas para acariciar brevemente a juba dourada de Hérocles, lançando um pedido aflito.- Irás me entregar?... – Relevando o fato de que estava falando com um animal como se ele a fosse compreender e soubesse falar, concentrou-se em escapar o mais rapidamente possível, embrenhando-se pelo braço de mata por onde chegara.

Mal as vestes azuis da bruxa desapareceram entre as árvores, Godric surgiu vindo do outro lado, parcialmente vestido com uma faixa de tecido escocês cingindo-lhe a cintura, as vestes displicentemente jogadas sobre o ombro. Sacudindo os cabelos molhados, aproximou-se do leão, que continuava sentado impavidamente no mesmo lugar.

- Havia alguém aqui, contigo. – Afirmou, pousando a mão na cabeça de Hérocles – Quem era?

Os olhos de ambos se encontraram por um longo momento. Depois disto, Godric levou as duas mãos à cintura, abrindo um largo e brilhante sorriso na direção em que Rowena desaparecera.

- Ora, ora, ora...


==*==


- Eu passo anos trabalhando por uma boa convivência com o príncipe herdeiro, manipulando para que os atritos entre vocês fossem esquecidos, para que suas escapadelas com a princesa não fossem mais relevantes ao rei que teus serviços para a coroa, e o que você faz, Godric? Espanca Douglas em público!Inacreditável!

Godric cruzou os braços, escorando-se ao batente de uma das grandes janelas que Salazar espalhara por toda a sala circular, no alto da torre oeste do castelo.

- Pensei, - disse com voz controlada, enquanto observava o amigo dar os arremates finais no aposento com movimentos raivosos da varinha – que acharias mais preocupante o fato de Herpo ter fugido, assim como Almançor.

- Almançor quis abocanhar mais do que pôde mastigar... Não acho que o sultão de Al-Andaluz será piedoso com ele, quando souber o que aconteceu. E pior que ele, duvido que “a Lâmina” o seja...

- Nisso concordamos! O comandante dos exércitos de Bagdá não terá idéia do que aconteceu por aqui, no que depender de Almançor. – Aquiesceu Godric, displicentemente mudando a cor verde do acortinado instalado por Salazar para um azul profundo. – Mas, que me diz de Herpo?

- Herpo voltará a cometer suas insanidades, e em uma delas tu irá pegá-lo. – Grunhiu Salazar, finalizando a pintura escura do teto com um floreio de varinha – Porém, admito que isto será mais difícil de acontecer se estiverdes preso nas masmorras do palácio real, sem varinha e a ferros!

- Donald não terá coragem de mandar prender-me. Sabe que poderá precisar de minha espada, e logo. O que começou em Celidon ainda está longe de acabar... – Godric girou a varinha algumas vezes para o alto, e no teto surgiu contra o fundo escuro a réplica do céu estrelado que brilhava na noite lá fora.

Salazar voltou-se para ele, deixando de lado o que estivera fazendo, e encarou o amigo nos olhos.

- Sobre Celidon... Ainda não me contaste o que aconteceu exatamente, no coração da floresta.

Godric sustentou com firmeza o olhar, embora a dúvida entre a lealdade para com uma amizade de longos anos e o instinto de calar-se que parecia arraigado em seu coração estivessem dilacerando-lhe o peito.

- Contei o que há para ser contado, até aqui.

Salazar continuou mirando-o por algum tempo, até que deu de ombros, voltando a trabalhar na sala redonda.

- Verei o que posso fazer com relação a Douglas, quando passar por Edimburgo.

- Edimburgo? Vais viajar?

Movimentando a varinha em riste, Salazar fez várias peles que haviam estado agrupadas perto da porta voaram pelo ar, até caírem sobre o grande leito armado entre as duas maiores janelas.

- Não ficou acertado que viajaríamos pelo reino em busca de aprendizes? E que iríamos alternadamente? Tu acabaste de chegar, então, é justo que eu vá. – Concluiu, conjurando cortinas verdes e prata em volta do leito. – Não há muito mais a fazer no castelo, já podemos começar as aulas.

Godric sorriu, pousando a mão no ombro do amigo.

- Fizestes um excelente trabalho em minha ausência, irmão! De fato, o salão principal e o saguão estão além de qualquer expectativa minha...

- Não posso aceitar esses louros, Godric. – Sentenciou Salazar, um tanto amargurado. – As melhorias nestes locais, e em vários outros que você ainda não viu, são obras da capacidade de Lady Ravenclaw. Os aposentos de Helga, preparados por ela, ficaram simplesmente magníficos.

Um ar de entendimento tomou as feições de Gryffindor, e ele sorriu de canto ao comentar.

- É por isto que estás tão empenhado em deixar esta sala luxuosamente confortável, irmão? Queres dar a Lady Ravenclaw prova de que é tão capaz disto quanto ela?

Salazar empalideceu diante da leve ironia, mas quando respondeu, o fez com calma.

- Achei que ela merecesse acomodações à altura de sua magia, é só!

- E está muito bom, realmente! – Retorquiu Godric, disfarçadamente trocando as cores do leito também.

O outro cruzou os braços, rindo baixo.

- Se achas bom, por que estás a mudar tudo?

- Ahhhh... Parece-me que verde e prata são cores muito frias para Lady Ravenclaw. Azul, profundo como os olhos de nossa dama, e bronze, como as chispas que tais olhos soltam quando ela está zangada... Não lhe parecem mais adequados, também, Salazar?

- Milord me deixa constrangida assim. Dá a entender que fiquei zangada com o senhor inúmeras vezes, a ponto de decorar-me as cores quando o faço...

Os dois homens voltaram-se para as portas, onde encontraram Helga, sorrindo abertamente para eles, e Rowena, que trazia no braço o falcão Gibbor. Atrás delas vinha Tyl, trazendo suspenso no ar por magia o poleiro da ave e uma saca com os pertences de lady Ravenclaw. Godric aproximou-se de pronto.

- Mas que ave magnífica tens aí, milady!

Gibbor abriu as asas lentamente, exibindo-se como se tivesse compreendido as palavras, e voou baixo até o braço estendido de Godric. Este lhe acariciou as penas das asas, cuidadosamente.

- Olá, amigo! – Murmurou para o falcão, que piou suavemente em resposta.

- Gibbor costuma ser mais desconfiado com estranhos... – Surpreendeu-se Rowena, aproximando-se. Godric enviou-lhe um de seus grandes sorrisos.

- Tenho algum jeito com animais.- Seus olhos castanhos brilharam como brasas para ela. – Consegui até fazer amizade com a lula gigante, que mora em nosso lago...

Rowena desviou os olhos, violentamente corada, enquanto Helga disfarçava um acesso de tosse e Tyl olhava de um para outro, intrigada. Salazar pôs fim à cena, adiantando-se até Tyl e tirando os pertences de Rowena de seus cuidados.

- Que achas Rowena, teus aposentos estão a contento? – perguntou em tom casual, acomodando o poleiro junto às portas.

Godric ergueu as sobrancelhas diante da informalidade do tratamento, e Helga semicerrou os olhos, observando atentamente aos dois amigos. Rowena limitou-se a sorrir, girando em torno de si mesma para estudar todo o ambiente.

- Não era necessário que tivesse tanto trabalho, milord. Eu mesma poderia ter cuidado disto... Mas, agradeço! Parece realmente muito confortável.

Salazar aproximou-se e tomou-lhe a mão, curvando-se para beijar os dedos longos.

- Veja como uma retribuição pelo empenho com que tem se dedicado à nossa escola, minha cara Rowena. Agora, se me dão licença, preciso acertar alguns detalhes, se quero partir logo. Vejo-os à ceia!

- Desço contigo, Salazar. – disse Helga – Preciso averiguar o que os elfos estão a preparar para a refeição. Tyl, vens comigo? Tenho uma tarefa para ti...

Rowena colocou-se a arrumar suas poucas vestes, desejando que os gestos parecessem naturais. Lord Gryffindor continuava presente, e agora ajeitava Gibbor em seu poleiro prateado.

- Que? Cobras? E prata novamente? Típico de Salazar... – Disse ele para a ave. – Não meu amiguinho, darei um jeito nisso...

Rowena virou-se para eles, a tempo de ver as serpentes prateadas sumirem do pedestal, dando lugar ao desenho de uma única, forte e dourada pata de leão, em cuja palma virada para cima Gryffindor pousou o falcão.

- Pronto. Bem melhor, não?

- Vocês acabarão por nos deixar mal acostumados, diante de tanta gentileza... – Argumentou Rowena, olhando Gibbor acomodar-se para uma soneca, satisfeito. Godric voltou-se para ela, com seu sorriso largo que chegava aos olhos dourados - “Céus, sorrir assim deveria ser proibido por algum tipo de lei...”.

- Milady deve se acostumar aos bons tratos. Afinal, eu ainda nem comecei a lhe ser realmente... gentil.

E com essa frase enigmática e uma reverência ele retirou-se, levando boa parte do sossego de Rowena consigo.










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· Inspirado em Heinrich Luitpold Himmler : Como Reichsführer-SS, ele liderou a SS e a Gestapo, foi uma figura chave na organização do Holocausto.




N/B Sally: Aaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!! Eu sei que eu deveria comentar isso direito, mas... AAAaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!! (Respira, ok, respira). É que Aahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!! Isso foi... absolutamente... incrivelmente... eu... eu AAAHhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!! Ok, ok, eu vou me controlar e fazer algo coerente. Er.. teve o início e, foi muito, mas muito bom. Aquele discurso foi de arrepiar, de tirar o fôlego, de dar medo!! Arrasou, Anam!! Ficou tudo o que vc pretendia e um pouco mais. Depois teve o meio e... ok, depois eu falo do meio. Aí veio o fim, excelente a conversa dos dois, cheia de coisas não ditas e agora não apenas da parte do Salazar. Sabe que teve uma coisa que eu gostei. O Godric percebeu o interesse do Salz, mas não resolveu ser cavalheiro e abrir espaço para o outro, pelo contrário, entrou na arenas, rsrs. Gostei mesmo. Quanto ao meio... é eu fiquei de comentar o meio, mas... sorry, fui mordida por uma ggette e isso pega, então AAAhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!! MAIS!!!!!!!! (Agora que esquenta vc para?).




N/A: Eu demoro, mas, apareço! =D – Sobre o capítulo: este aqui foi, (e falo isso de coração e sem falsa modéstia), difícil de escrever. Até traduções de alguns discursos de Hitler eu li, como pesquisa, e aquilo foi algo difícil de digerir... Entretanto, a segunda parte compensou o clima pesado da primeira, eu penso. Ou estou errada, Ggetes? ;D – Para minha beta Imensuravelmente talentosa Morgana: Obrigada, sempre, pelo carinho e entusiamo com que trata minha história. Sempre me deixa emocionada! Beijo enorme! – Para minha Anam/irmã/amiga/beta Sally Owens : Grata por tudo! Estou contigo, sempre! Serenidade e força para você, minha irmã! Abraço apeertaaaadoooo em ti e no Guto!!! Tdoro! - Que todos vocês tenham tido uma excelente Páscoa! Fiquem bem! Beijo estalado em todos! Até o próximo capítulo! =D








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