Além da Fronteira



Capítulo 8 – Além da Fronteira


 


Harry abriu a cortina do quarto para contemplar o tempo lá fora: o céu claro e o sol forte eram bem diferentes do clima em Londres, nos últimos dias.


Divisou o barco de Voldemort. As instruções da professora MacGonagal foram precisas quanto ao lugar e a descrição. Não fosse por isso, seria difícil distingui-lo no meio de tantos barcos, navios e iates naquele enorme píer. Sua vontade era correr até lá, arrastar Hermione para fora, querendo ela ou não, e acabar com toda aquela história de uma vez. Mas não era assim tão fácil, como nada fora fácil naquela missão quase suicida. Já tinha sido um grande êxito conseguir cruzar as fronteiras até a França, agora que o país havia declarado submissão ao Mestre das Trevas. Por toda a parte se viam comensais, andando livremente entre os trouxas com capuzes e mantos negros, chamando a atenção para si. Harry sabia que mais dia, menos dia, os ataques a trouxas começariam. Enfim, o plano do Mestre parecia apontar para isso.


Sem poder usar chave de portal ou pó-de-flu, que estavam sendo interceptados quando oriundos da Inglaterra, Harry teve que vir de trem-bala e então apanhou um ônibus até Dieppe, onde Voldemort havia criado sua base e onde estava o barco com Hermione, segundo as fontes secretas de MacGonagal.


 Ele viera sozinho, é claro, segundo as instruções da Professora. Isso contrariava todas as ordens do Ministério e do Departamento de Aurores, mas ele não ligava. Confiava na professora, confiava em si mesmo e, -  “Deus dê-me forças”, pensava ele - confiava também na sua amiga Hermione, embora ela lhe tenha falado que agora era amante de Voldemort. Aquilo certamente abalou todas as suas estruturas. Jamais poderia imaginar Hermione nessas condições e duvidou de cada palavra que ela havia falado, mas quando o Profeta Diário anunciou que ela seria a nova rainha de Voldemort, Harry teve que cair em si. Talvez aquela conversa fiada fosse mesmo verdade. Talvez Hermione tenha se apaixonado por Voldemort. Era difícil mesmo de acreditar. Tom Riddle, no passado, parecia ser um homem com o qual Hermione talvez saísse um dia, sabendo do gosto de Hermione por homens misteriosos e introvertidos, como Krum, mas o Voldemort de agora? Transformado num híbrido semi-homem semi-cobra? Não queria imaginar a sua querida e doce amiga submissa aos caprichos de um homem terrível, mas suas esperanças pareciam se haver dissipado em seu ser. Imaginar Hermione com aquele homem. Deus... era demais para ele.


Engraçado imaginar que quando Hermione revelou seus sentimentos a ele, dizendo que o amava quando ele a resgatara do lago congelado, Harry não havia retribuído e sentiu-se confuso. Como desejava poder retornar no tempo.Se tudo voltasse aquele instante, Harry não hesitaria em lhe dizer.... “Dizer o que? Dizer o que? É amor que sinto por Hermione? É Amor???? Esse sentimento de querer protegÊ-la, de querer estar ao seu lado, de querer ver seu sorriso, de querer tocar em seu rosto e tomá-la em meus braços... será isso o amor?”, pensava ele, tomado por estranhos sentimentos. Certamente não era isso que ele sentia por Gina, a quem sempre se demonstrou apaixonado. Harry tinha outras emoções com ela. Queria a Gina muito bem. Sentia uma atração irresistível pela bela ruiva, mas Hermione??? O que ele sentia por Hermione era muito diferente. Era mais do que atração. Era algo que acalentava seu coração e ao mesmo tempo arrebatava seu espírito. Imaginá-la com Voldemort... imaginá-la com aquele mostro....


O relógio despertou exatamente às 15:horas. Estava pronto. Tirou do bolso a horrível poção polissuco e despejou dentro dela um fio de cabelo loiro e extremamente longo. Tomou a poção num só gole e imediatamente teve ânsia de vômito. Certamente, a poção que Hermione fazia era melhor do que a sua. Mas não lhe importava. Não precisava ser boa, só precisava dar certo. Dali em diante, teria apenas uma hora para salvar o dia...


 


 


Hermione acordou de um sono leve e perturbado, mas assim mesmo agradeceu pelos poucos minutos de paz. Ela estava de volta às algemas, suspensa no teto. Seus pés mal tocavam o chão. Seria impossível para qualquer um adormecer naquela posição, mas depois de horas e mais horas de tortura na mão de Bela que voltara a desenhar coisas com um canivete em suas costas, Hermione acabou desabando. E isso foi bom, porque, sem que Hermione estivesse consciente para gemer de dor, Bela acabou se cansando da brincadeira e havia deixado o local. Depois de algum tempo para voltar plenamente à consciência, percebeu que o que havia mesmo a arrancado de seu sono foi um pequeno despertador, na mesa em que Bela costumava jogar xadrez de bruxo. O relógio antigo marcava exatamente três horas.


Hermione olhou para fora, pela pequena escotilha. O sol estava quente, mas ali dentro estava fresco. Sentia frio até. Seria a perda de sangue? Estaria ela em hipotermia? Desejava isso aos céus com todas as suas forças. Ela desejava morrer antes da sexta-feira, data marcada para a coroação de Voldemort e a sua como rei e rainha do mundo bruxo, pelo menos para alguns países. “Deus, permita-me morrer antes. Tire minhas forças, arranque minha vida de meu corpo, deixe-me morrer com o mínimo de dignidade que me resta”, implorava ela, olhando para o céu azul. Pequenas gaivotas sobrevoavam tranqüilas.


“Por favor, meu Deus... por favor... eu já sofri o que eu pudia... tentei ser forte... eu fui forte, Deus sabe que eu o fui... deixe-me morrer...”, Hermione pensou, enquanto chorava, suas lágrimas banhando seu rosto sujo e abatido. Viu um manto escuro cruzando a escotilha e tremeu. Voldemort teria voltado? Ele e Malfoy haviam saído antes do almoço. Tinham uma reunião importante em algum lugar. Ela havia escutado ele dizer a Bela que só voltaria às 16 horas. Talvez tivesse acabado antes do tempo. Quando Voldemort estava presente, tudo se tornava pior. As torturas não eram como Bela, que usava chicote e canivete, mas sim com Crucius. Uma tortura lancinante que abatia não só seu corpo, já quase sem vida, mas também seu espírito.


Escutou um estranho movimento no convés. Um baque surdo, como de alguém caindo. Minutos depois, para surpresa de Hermione, Malfoy desceu às escadas, trazendo Bela desacordada em seus braços.


Hermione não disse nada, nem teve nenhuma reação. Malfoy não costumava torturar-lhe. Ele só observava e às vezes lhe dava raiz de Pronutiz escondido, o que aliviava muito as dores de seu corpo.  A primeira impressão que Hermione teve foi de uma briguinha estúpida entre Bela e Malfoy, mas quando ele ficou ali parado, com o olhar estarrecido, com os olhos brilhando, como se estivesse profundamente tocado, Hermione soube que alguma coisa não estava certa.


- Hermione... ó meu Deus, Hermione... o que fizeram com você? – perguntou Malfoy, como se nunca a tivesse visto daquela forma deplorável. E, parecendo profundamente consternado, deixou Bela escapar de seus braços.


Hermione teria dito alguma coisa se não estivesse tão mal. Suas forças simplesmente não lhe permitiam palavras, mas o Malfoy se aproximou dela e antes que ela pudesse tentar qualquer coisa, ele a livrou das algemas, conjurando um feitiço qualquer. Antes que ela desabasse no chão, como Voldemort costumava fazer com ela, Malfoy a segurou pela cintura, tomou-a nos braços e colocou delicadamente sobre a cama. Depois arrancou-lhe um dos cabelos e colocou num frasco que ele tirou de algum lugar de suas vezes. Hermione sabia o que era aquela poção: polissuco. Então... então... talvez Malfoy não fosse realmente Malfoy? Seria Harry? Harry teria vindo resgatá-la daquele lugar maldito?


- Harr...? – disse ela, sem fôlego.


- Vai ficar tudo bem... – disse Malfoy, olhando para Hermione, enquanto derramava a poção polissuco na boca de Bela. Em poucos minutos, Bela ficou exatamente como Hermione.


- QUIETUS – Malfoy azarou Bela e depois colocou-a no lugar de Hermione, algemada ao teto, os pés mal tocando o chão.


- Harry...é... é você? – perguntou Hermione, desejando terminar com aquele mistério. Não podia crer que era Harry. Era muito perigoso. Muito perigoso para ele. Ele precisava ficar longe, ficar a salvo. Se fosse ele, tudo estaria perdido. Não havia como sair da França, sem que Voldemort soubesse.


Malfoy continuou seu ritual e arrancou, dessa vez, um dos cabelos de Bela e colocou noutra poção polissuco, mas quando foi dar a Hermione um pouco da poção, Hermione virou o rosto.


- Suma daqui, Harry... vá embora... não percebe? Não percebe o quanto é perigoso?


- Cale a boca, Granger... não é Harry... sou eu Malfoy! Te fiz um favor noutro dia, não fiz...?


Ao dizer isso, Hermione meneou a cabeça e aceitou a poção. Não podia ser Harry. Somente Malfoy sabia sobre o favor, quando ele lhe deu a raiz de Pronutiz.


 Enquanto Hermione se tranformava em Belatriz, Malfoy habilmente tirou as suas roupas, deixando-a somente com a roupa de baixo. Hermione resistiria se pudesse, mas estava tão fraca, tão fragilizada que qualquer movimento disparava uma onda de dor em seu corpo. Tinha medo. Será que Malfoy tentaria alguma coisa com ela, antes mesmo de Voldemort?


Mas para sua surpresa, ele tirou de dentro das vestes dele um enorme atadura e enrolou todo o seu tronco. Hermione gemia, pois o contato da atadura na sua carne viva dava-lhe espasmos de dor, mas logo Malfoy explicou:


- Sinto muito, Hermione, sinto muito, querida, por estar te fazendo sofrer, mas não tenho outra alternativa. Precisamos estancar esse sangue, de qualquer forma... Eu vou tirar você daqui. Coloquei Bela no seu lugar para que enganar Voldemort algum tempo, pelo menos pelo tempo suficiente para conseguirmos fugir.


Quando todo o seu corpo estava bem coberto pelas ataduras,  Malfoy colocou em Hermione o robe de Bela e as roupas rasgadas completamente encharcadas de sangue de Hermione em Bela.


Depois disso, Harry tirou um pequeno isqueiro de dentro de suas vestes.


- Vamos ter que viajar de chave de portal, Hermione, mas é por um pequeno trecho. Toque o isqueiro.


- Apoie-se em mim, Hermione, mas reúna suas forças para manter-se de pé.


Malfoy segurou Hermione contra si e fê-la levantar-se. Com dificuldade, ela levantou uma das mãos e segurou o isqueiro.


Uma força puxou Hermione e Harry para baixo e quando eles pousaram, Hermione se descobriu numa viela escura.  Suas pernas tremiam, mas conseguiu permanecer em pé, com a ajuda de Malfoy que a segurava contra si. Hermione deu alguns passos, já estavam quase fora da viela quando uma dor forte a atacou em algum ponto de suas costas e ela desabou. Seu tombo só não foi pior porque Malfoy a segurou. Ele a apoiou contra a parede e tentava fazê-la ficar em pé novamente.


- Eu não posso, eu não consigo, Malfoy... – disse Hermione, sentindo as lágrimas cruzarem seu rosto.


- Você vai ficar bem, Hermione. – falou o louro e apontou para uma fronteira. De um lado, a bandeira da frança. De outro, a bandeira da Alemanha. Em ambos os lados, soldados firmemente armados guardavam a única rua de acesso da fronteira. – Veja, estamos perto de uma das fronteiras. Quando estivermos na Alemanha, estaremos a salvo.


- Eu não posso mais... não posso mais agüentar... – disse Hermione, triste. – Uma força está me chamando para Voldemort. Eu preciso voltar para ele.


- Então você o ama de verdade? – perguntou Malfoy, com um estranho olhar.


- Não... não... eu o odeio com todas as minhas forças... mas você sabe que eu preciso voltar... Ai... – Hermione gemeu. Suas costas pareciam querem parti-la em dois. Tinha certeza que era a força do contrato mágico a impulsionando de volta para Voldemort. – é tarde demais para mim. Mas fuja você, Malfoy... eu... eu te agradeço por ter me dado as raízes de Pronutiz... mas agora você precisa ir... considere isso o favor que eu lhe devo. Vá embora, fuja e tente ser um homem melhor daqui para a frente... e se um dia encontrar Harry...


- Sim... o que você quer que eu diga para Harry... ?


Hermione pensou em Harry, no rosto de Harry, no seu olhar acolhedor. Queria tanto que ele estivesse ali agora... Desejara tanto que aquele homem fosse na verdade Harry, que sentia que as dores no seu coração apaixonado por Harry eram ainda maiores do que as dores que sentia por todo corpo.


- Diga para ele... diga que... – Hermione pensou por segundos que pareciam horas. – Não diga nada... NADA MALFOY... ele jamais deverá saber da verdade. Jamais deverá saber do contrato mágico, nem das condições de Voldemort. É melhor assim. Que ele pense que sou apaixonada por Voldemort. Ele nunca pode saber que eu o amo... nunca... nunca...


- Se você o ama... porque não diz a ele, Hermione... eu não consigo entender... o que a faz não dizer a verdade?


- Por que eu conheço Harry. De todo o meu coração e de toda a minha alma. E sei que como um bom  amigo ele viria tentar me resgatar. Não posso arriscar que isso aconteça.  Simplesmente não posso.


- Então... você o ama... ?


Hermione sorriu. Era um sorriso triste, mas pensar em Harry era a única coisa que ainda podia fazê-la sorrir.


- De todo o meu coração... e de toda a minha alma...


- Era só o que eu precisava ouvir... – disse Malfoy, retirando da bolsa um outro frasco e dando de beber para Hermione. – É um elixir... vai enfraquecer a força do contrato mágico por algumas horas. Snape está trabalhando numa poção definitiva.


Hermione sentiu suas dores aliviarem e conseguiu erguer-se de pé.


- Snape? – perguntou Hermione sem entender nada.


Malfoy a segurou pela cintura e ela se apoiou no corpo dele e juntos foram caminhando até a fronteira. Para um dos guardas, Malfoy apresentou dois passaportes: o dele e o de Bela. O guarda ainda fixou o olhar em Hermione, pois essa parecia muito mal. Ainda assim, ela fez um esforço sobre humano para sorrir e fingir estar bem.


Depois de muitos minutos de suspense, os guardas deixaram Malfoy e Hermione passarem. Um relógio enorme na sentinela avisava que faltavam poucos minutos para as quatro.


Malfoy começou a cruzar a enorme rua. Dos dois lados, altos muros impediam qualquer fuga. Hermione tropeçou, cambaleante, mas Malfoy a segurou.


- Obrigada, Malfoy... se você soubesse o quanto estou grata... você viu o que eles faziam comigo... eu não poderia agüentar se Voldemort enfim... seu dormissemos juntos...


Malfoy arregalou os olhos e puxou Hermione para mais perto de si. Parecia confuso.


- Então... então vocês não são amantes?? – Malfoy perguntou.


- Claro que não!!! Você sabe que Voldemort estava planejando dormir comigo somente na coroação, para validar a coroação e perpetuar o contrato. Você sabe disso, Malfoy, não sabe???


Malfoy hesitava e Hermione franzia a testa. Alguma coisa não estava certa. Hermione estava prestes a falar alguma coisa quando escutou gritos.


Na fronteira do lado da França, um comensal, vestido de capuz e manto negro corria em direção à sentinela. Imaginando do que aquilo se tratava, Malfoy apressou o passo, mas quando um dos guardas da França fez sinal para que voltassem, Lucius ergueu Hermione nos braços, aconchegou-a da melhor forma nos seus braços e correu em direção à fronteira da Alemanhã. O guarda francês e o comensal correram atrás deles, mas antes que pudessem alcançá-los, eles conseguiram ultrapassar a cerca de separação entre os dois países. Os guardas alemães automaticamente ergueram seus fuzis e gritaram alguma coisa em alemão que fez o guarda francês e o comensal pararem e retornarem à fronteira francesa.


Malfoy se afastou o bastante para que ficasse longe de um ataque surpresa, ainda que soubesse que  ninguém o faria, pois Voldemort queria que a Alemanhã fosse sua aliada.


- Por enquanto, estamos salvos, querida... – disse Malfoy, mas sua voz estava estranha. Fazendo um esforço sobre humano para erguer seu pescoço para ver o rosto de seu salvador, Hermione petrificou. Não era mais Malfoy quem a sustentava nos braços.


- HARRY??? – disse Hermione, uma última vez, antes de desmaiar nos braços do seu melhor amigo.


 


 


 


 

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