Um meio-termo



Capítulo 7 – Um meio-termo


 


Viajar de Chave de Portal foi a gota d’agua para Hermione. Quando ela e Malfoy aterrissaram no chão, ela sentiu suas pernas se dobrarem e caiu desajeitosamente. Ao divisar o Barco onde Bella e Voldemort estavam, atracado no píer, sentiu um aperto no estomago e sem conseguir se controlar acabou vomitando.


- Levanta... anda logo... – falou Lúcius, erguendo Hermione por um dos braços. Os dois andaram por um longo trapiche. Havia outros barcos, mas não havia sinal de pessoas ali. Um só barco de pesca voltava do mar. O cheiro era de maresia e algumas gaivotas sobrevoavam o píer. Hermione desejou ser uma delas. Desejou ter asas para voar para muito longe, para voar para Harry, talvez. Hesitou, mas alguma coisa a impulsionou a continuar andando. Não era Lúcius. Ele apenas a mantinha. Ajudava-a. Era alguma outra coisa, interior, forte que fazia com que ela continuasse caminhando apesar de querer fugir com todas as forças. Era o contrato mágico fazendo efeito. Maldito contrato mágico. Não importava. Harry estava salvo. Era o que importava.


Não havia sinal de Voldemort ou Bella no convés que parecia abandonado. Sem dúvida, eles estavam no compartimento interno. Hermione já segurava na beirada do barco para pular para dentro do deck quando Malfoy a segurou, e fê-la virar-se para ele.


- O que é? – perguntou Hermione, ríspida. Tentando não pensar muito no que iria acontecer dali a pouco.


- Pegue um pouco disso e mastigue. – Malfoy disse, colocando uma raiz de Pronutiz na sua mão.


Hermione olhou para a raiz sem entender nada. Sabia muito bem para que ela servia.  Era anestésica. Aliviaria a sua dor. Mas o mestre das Trevas não queria aliviar a dor de Hermione. Pelo contrário, queria intensificá-la, física  e emocionalmente.


- Sou um merda, corrupto, Granger. Mas até um canalha como eu tem certos princípios. Só me prometa que um dia vai devolver esse favor pra mim...


Hermione meneou a cabeça, sem pensar direito e enfiou a raiz na boca, mastigando. O alívio veio rápido. Suas costas que pareciam arder em chamas logo ficaram dormentes. O efeito da raiz duraria apenas duas horas. Depois ela teria que lidar com os efeitos colaterais que seriam absurdos. Não importava. Seria o suficiente.


Os dois enfim entraram no convés do barco e desceram para o compartimento interior. Bela e Voldemort esperavam. Ela jogava xadrez de bruxo sozinha, fazendo a vez dos dois jogadores. Ele lia um livro, deitado sobre uma cama. Quando ele divisou Hermione, levantou-se imediatamente.


- Então... como foi? Como Potter reagiu? Que cara Potter fez?


- Foi patético! – respondeu Malfoy, com um sorriso amarelo. – O coitado ficou arrasado, Mestre. Até eu tive pena do idiota... ninguém entendeu nada. Granger foi perfeita.


Voldemort gargalhou alto, sua risada reboando nos ouvidos de Hermione. Ela parecia inerte, leve, tonta. Seria o efeito da Pronutiz?


- Ótimo, ótimo! – falou Voldemort, olhando maldosamente para Hermione. – Agora me deixem a sós com ela.


Malfoy e Bela saíram imediatamente do quarto, deixando Hermione completamente sozinha com Voldemort.


Voldemort aproximou-se dela, etéreo, flutuando. Tinha um olhar assustador e um sorriso diabólico no rosto. Se inferno realmente existisse, Hermione estava entrando nele. Ela não conseguiu controlar um tremor involuntário quando ele tomou no seu pulso. Tinha repulsa por ele, como nunca tivera por nenhum ser vivo. Hermione tentou escapar, sair do compartimento,  mas ele a agarrou pela cintura e a jogou sobre a cama com violência.


- Ora, ora, garotinha. Você vai querer dar pra trás no nosso acordo? Você não pode fugir para longe de mim, Granger, mesmo que queira... até que tenhamos consumado a nossa pequena união... hahaha – Gargalhou Voldemort, fazendo Hermione se arrepiar.


- Sei que não posso, VOLDEMORT – falou ela, acentuando o nome do Mestre das Trevas. Sabia que ele preferia ser chamado de Lord ou Mestre. – Mas isso não significa que será tudo fácil para você. Vou lutar até o último minuto. Eu sei que vou ser machucada por você, mas lhe garanto que também irei te machucar...


Voldemort franziu o cenho, completamente perplexo.


- Sabe, Granger, quando você caiu na armadilha, ficando para trás no ataque ao Castelo de Hogwarts, eu fiquei muito satisfeito. Eu venho percebendo que você é muito ligada ao Potter. Seria uma ótima vantagem. Apesar de você ser uma sangue ruim, achei que sua inteligência, sua lógica e perspicácia valeriam a pena para realizar uma união com você. O que acabei descobrindo... algo que talvez ninguém tenha percebido... é que você é extremamente forte. É mesmo um milagre você estar consciente depois das horas de tortura nas minhas mãos e na de Bellatrix. O que faz você ser tão forte?


Hermione também se perguntou. Seria o efeito da Pronutiz?  Por que sentia uma estranha força dentro de si?  Estava preparada para o que iria acontecer, mas faria questão de complicar as coisas para Voldemort. Faria questão de lutar com ele, de irritá-lo, de resistir. Até aquele momento, Hermione não sabia, mas havia descoberto sua verdadeira natureza: apesar de sua aparente fragilidade, ela era uma guerreira.


- Isso é bom! Muito bom! Acho que finalmente descobri que você é mesmo a merecedora para ganhar a graça que eu estou prestes a lhe dar...


“Graça?”, pensou Hermione, aturdida. Acaso ele pensava que o que estava para acontecer era uma graça para ela? Apesar das loucuras de Voldemort, ele parecia bastante consciente a ponto de lhe dizer algo tão absurdo. Faltou um pequeno ajuste na palavra: des-graça.


- Você já imaginou as razões que me trouxeram até a França, Granger? – perguntou Voldemort, com um estranho brilho no olhar – Meu reino de terror têm se espalhado rapidamente por toda a Europa e em todo o mundo. Alguns Ministérios da Magia se reuniram e solicitaram a minha proteção. Eu concordei em troca de uma só coisa: eu serei coroado o REI SUPREMO desses países: França, Bulgária, Irlanda, Escócia, Itália, Grécia, China e Rússia, Argentina, Uruguai e outros que nem sei dizer o nome. Em breve o mundo inteiro ajoelhar-se-á aos meus pés. O Ministério da Magia da Inglaterra só não sucumbiu aos meus ataques porque tem a esperança no Potterzinho... hum...


Hermione sentiu seu coração se apertar ainda mais. Não queria acreditar, mas sua razão lhe dizia que talvez o Mestre das Trevas estivesse falando a verdade. Sabia da sua influência.


- Então, Granger. Daqui a dez dias, eu sei coroado. Dez dias para meus planos finalmente terem sucesso. A derrota e morte de Potter virão com o tempo, não tenho dúvidas, ainda mais quando ele souber que você será coroada a minha rainha.


Dessa vez foi Hermione quem franziu o cenho. Então foi por isso que ele havia falado que ela seria a sua rainha?


- Apesar das bobagens que se diz por aí , de que o amor é a magia mais forte, que o amor salvou a vida do Potter, na verdade, Granger, na dura e fria verdade, o amor enfraquece. Quando Harry souber que você é a minha rainha, isso acabará com ele. – falou o Mestre, erguendo a cabeça, como que para desafiá-la -  Não espere jamais encontrar algo parecido com amor na nossa união, Sangue Ruim. Não... Espere apenas pelo desespero, pela angústia, pela tortura. Mas não espere pela morte, querida... essa não virá jamais. Como eu, você será obrigada a fazer inúmeras Horcruxes. O nosso reinado de terror será eterno...


- Eu jamais serei a sua rainha. Jamais matarei nenhum ser vivo para criar Horcruxes. Mate-me agora, pois seu plano não dará certo.


- Já deu, querida. Você assinou um contrato que a obriga a ceder seus encantos virtuosos a mim. E não vou tomá-la minha até a coroação. Viu? Você não tem escolha. Mesmo que possa fugir, você não o fará. E depois que você for coroada, mesmo depois que eu a tiver, o contrato continuará valendo por conta da coroação. Será uma coroação mágica, Granger. Se estudou História da Magia Antiga sabe que uma coroação mágica cria vínculos fortíssimos entre o rei e a rainha, como era no princípio. Eu nasci para reinar... e você nasceu para ser minha rainha. Só você é inteligente e forte o suficiente para isso. Só você é a merecedora de tal graça. Quanto a matar pessoas... isso veremos, mas mesmo você deve ter um limite, Granger. Quando eu a quebrar, quando você não agüentar mais as agruras que estou preparando para você, vai descobrir que matar pessoas poderá ser seu único alívio... Até lá, até o dia da nossa coroação, desfrute da sua doce inocência, querida. Você será minha na noite somente na noite da nossa coroação.


Quando Voldemort saiu, Hermione sentiu o peso da dor em seu ser e deitou-se. Enquanto olhava o céu pela minúscula escotilha, pensou em Harry e no olhar dele quando ela entrou no elevador no Hospital Saint Mungus. Seria verdade isso que Voldemort havia dito? Que ele havia percebido uma ligação entre ela e Harry. Nunca imaginou que teria um futuro ao lado de seu Harry, a quem amava profundamente, de todo o seu coração e de toda a sua alma, mas nunca imaginou um futuro ao lado de um mostro como Voldemort que em vez de juras de amor, dava-lhe juras de dor e desespero.


Deixou as lágrimas brotarem em seus olhos já tão inchados e vermelhos. As lágrimas corriam por cada lado do rosto. Era como um bálsamo. O único bálsamo que tinha contra o terror que vivia. As lembranças de Harry, essas ela ia guardar no fundo do seu ser. Lembranças que durante toda uma eternidade com Voldemort, poderiam ser seu único momento de verdadeira paz.


Ah, Harry... pensava ela. Na sua cabeça, começou a fantasiar que Harry irromperia ali no compartimento e a salvaria de todas as suas angustias. Não queria acreditar que isso não aconteceria, mas quando ela havia magoado Harry no Hospital, sabia também que havia acabado com todas as suas chances.


 


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Harry levantou-se tomado de raiva. No departamento de Aurores do Ministério da Magia, a notícia de que Voldemort havia ganhado a lealdade de muitos Ministérios a seu favor - países esses que o condecorariam como seu REI SUPREMO – havia chegado via Profeta Diário que havia enviado um correspondente a França para relatar o que estava acontecendo.


A polvorosa foi geral no Ministério e ao invés do Departamento de Aurores investir num ataque, antes da coroação de Voldemort, haviam tomado a decisão de silenciar até perceber como ficaria a situação.


- E se a coisa piorar, hein?? – falou Harry, diante de todos os aurores. Via nos olhares deles que eles o consideravam apenas um jovem bruxo sem a condição de tomar uma decisão tão importante quanto aquela. – Precisamos atacar enquanto é tempo. Voldemort – disse ele, percebendo ainda que muitos se angustiavam com a pronúncia daquele nome – está entretido com a coroação. Está distraído. Talvez agora seja a única e última chance que teremos para derrotá-lo.


- E como pensa fazer isso, Potter? – falou Jonas Tribes, um auror jovem, mas muito poderoso e admirado entre os aurores – Mesmo que tenhamos sucesso em atacar AQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO, como iremos matá-lo? E quanto às Horcruxes. Temos a informação que quando o Lord das Trevas invadiu o castelo de Hogwarts, criou várias Horcruxes com as mortes dos alunos que ele matou. Centenas morreram, Harry... quantas você acha que ele pode ter feito?


- Tribes tem razão - falou MacGonagal que nesses tempos de guerra, prestava consultoria ao Departamento de Aurores. Aquilo decepcionou Harry. Imaginou que a professora ficasse do lado dele – Infelizmente, não sabemos quantas Horcruxes ao todo o V-vol-voldemort tem. Ainda que achemos algumas, Harry, ele ainda sobreviverá. E atacará de novo. Precisamos de um plano, um plano inteligente, mas não podemos atacá-lo frontalmente, ainda mais em território inimigo.


- É isso aí, Harry! MacGonagal tem razão – falou Tribes, mais convencido do que antes – Você não está pensando com clareza. Você só está querendo atacar o Lord das Trevas por causa da Srta. Granger. Se ela passou pro lado dele, então azar... você deve esquecê-la.


Harry ficou ainda mais aborrecido. Não era só por causa da Hermione... ou era? Harry tentou acalmar as batidas do seu coração. Pensar com clareza. Talvez eles tivessem razão, talvez...


- Imaginando que vocês tenham razão... – falou ele, tentando achar uma solução – O que iremos fazer, então? Por que eu me recuso a ficar assistindo Voldemort se tranformando num REI do Mundo Bruxo e nós todos como escravos. O que acham que ele fará com todos nós se conseguir o que quer? Seremos escravos... torturados na mão de um maníaco assassino.


- Talvez não tenhamos outra alternativa, Potter – completou Tribes com tristeza. – Talvez o melhor que tenhamos a fazer é nos juntarmos aos outros Ministérios da Magia e jurarmos lealdade ao Mestre das Trevas. Quem sabe ele nos poupa?


Quando a maioria dos Aurores meneou a cabeça concordando com o pronunciamento de Tribes, Harry não agüentou mais e saiu do Departamento. Já quase alcançava o elevador quando Minerva o alcançou, correndo, esbaforida.


- Espere, Harry. Eu não concordo com você quanto a um ataque frontal, mas também não concordo com Tribes quando ele diz que a única alternativa é se entregar aos caprichos de Vol-voldemort. Na verdade, acho que há um meio-termo, Harry. Tenho um plano, um plano que você deve executar sozinho. Um plano arriscado, Harry, que só dará certo se você acreditar em mim e acreditar em você e acreditar também na Srta. Granger. Só assim, você terá uma chance de derrotar o Lord das Trevas.

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