Despedida



Despedida



“Aqueles beijos não é possível que os gere duas vezes o mesmo lábio, porque onde nascem queimam, como certas plantas vorazes que passam deixando a terra maninha e estéril. Quando ela colou a sua boca na minha pareceu-me que todo o meu ser se difundia na ardente inspiração; senti-me fugir a vida, como o líquido de um vaso haurido em ávido e longo sorvo [...] Sedenta de gozo, era preciso que o bebesse por todos os poros, de um só trago, num único e imenso beijo, sem pausa, sem intermitência e sem repouso. Era serpente que enlaçava a presa nas suas mil voltas, triturando-lhe o corpo; era vertigem que vos arrebatava à consciência da própria existência, alheava um homem de si e o fazia viver mais anos em uma hora do que em toda a sua vida”.



Hermione entrou no quarto receosa. O que ela falaria para Draco? Ela iria se propor a fugir com ele ou ia apenas se despedir do rapaz? Ela também não tinha muita certeza, mas sabia que na hora ela saberia exatamente o que fazer.


Quando chegou no canto do quarto viu o loiro ainda paralisado. Procurou pela varinha dele para desfazer o feitiço, já que ela ainda não tinha recuperado sua varinha.


Ao pronunciar o feitiço, Draco acordou e encarou Hermione um pouco perplexo.


- Hermione... – ele sussurrou. Ele não se lembrava direito do que havia ocorrido. Só se recordava de ter avistado Potter e que de repente tudo escurecera – O Potter... Eu vi o...


- Eu sei. – ela o interrompeu. – O Harry está aqui. – ela murmurou abaixando a cabeça.


- O Potter? – ele finalmente entendera a situação. Então quer dizer que o menino-que-sobreviveu havia conseguido entrar na sua casa? E o pior, havia o paralisado? Ah… Mas era o fim da picada. Ele fora realmente muito burro.- Mas que droga!


-É, eu sei. – ela imaginava como devia ser difícil para ele se derrotado pelo Harry. Devia ser ultrajante.


- Hum... – ele murmurou ainda um pouco confuso. – Mas, se o Potter me paralisou, ele poderia ter me matado não é mesmo?


- Sim – ela respondeu coma voz trêmula só de pensar que isso realmente poderia ter acontecido.


- E por que ele não o fez? – ele perguntou incrédulo. O bruxo havia tido a chance de matá-lo e não o havia feito? Ele era o quê? Burro?


- Por minha causa. – ela respondeu encarando o chão.


- Por sua... Ah! Droga. – finalmente ele entendera, mas seu cérebro estava demorando a digerir a informação. – Você quer dizer que você cont...


- Contei Draco! Contei! – ela não o deixou terminar a pergunta. Estava muito nervosa e ele ainda ficava fazendo essas perguntas? Ele preferia ter morrido?


- Mas Hermione... – ele nem sabia o que dizer. – Quando você contou ele deve ter ficado ainda com mais raiva de mim. Afinal, não é segredo pra ninguém que ele é apaixonado por você, não é? Então, eu não enten... – ele parou de falar ao perceber que a morena havia começado a chorar. – Hermione... O que aconteceu? – ele perguntou, chegando mais perto da mulher e a abraçando gentilmente.


Ela correspondeu ao abraço, sentindo-se segura nos braços do homem. Ela não poderia ficar sem isso. Não mesmo. Foi aí que ela viu que não podia deixar o loiro morrer. Ela não poderia ficar sem ele. Ela queria ficar com ele. Para o resto da sua vida. Foi apenas com esse pensamento em sua mente que Hermione murmurou:


- Vamos fugir Draco. – ele a olhou incrédulo. – Eu não posso ficar sem você. Eu não posso deixar que te matem assim, sem fazer nada. A gente pode...


- Não, Hermione – ele a interrompeu, falando de uma maneira calma, que não condizia com o desespero em seus olhos. – Isso é loucura. Não.


- Não é loucura Draco. Escuta, nós...


- Não Hermione! Não! – ele quase gritou. – Você não entende... eu... eu te amo muito – ela sorriu – Mas eu não posso fazer isso.


- E porque não? – ela perguntou, o sorriso desaparecendo do seu rosto.


- Porque... – ele queria fugir com ela. Ele queria passar o resto da vida dele com ela, mas ele não podia. Ele não podia simplesmente sacrificar o futuro de Hermione. Um futuro que tinha tudo pra ser brilhante. Ele não podia. – Porque isso não está certo. Hermione, pensa bem... Você tem idéia do que vai acontecer se a gente fugir? Hum? Vai ficar todo mundo contra você, Hermione. Todos os seus amigos, todos os seus companheiros de guerra... Eles vão tratá-la como uma traidora... – ele olhava em seus olhos, tentando fazê-la entender de uma vez por todas que aquilo era absurdo.


- Eu não ligo. – ela respondeu com a voz embargada pelo choro.


- Sim, você liga. Você diz isso agora. – ele sorriu de uma maneira estranha. – Se a gente fugisse, um dia você iria me culpar por isso. Você iria ver que havia sido uma tola apaixonada e que...


- Para Draco! Para! Isso não iria acontecer!


- Olha Hermione. – ele pegou a mão dela a cariciando devagar, deixando a bruxa ainda mais nervosa. – Se eu aceitasse fugir com você, nós passaríamos a vida inteira fugindo. Nós teríamos um ao outro, é verdade. Mas isso é o suficiente?


Ela o encarou confusa. Aquilo era o suficiente? Ela não sabia. Realmente não sabia.


– Não. Não é. – ele mesmo respondeu antes que ela pudesse abrir a boca. – Não é suficiente, porque nós nunca poderíamos ter uma família de verdade. Eu não sentiria muita falta, afinal eu nunca tive uma família de verdade – ele sorriu melancólico – Mas eu não quero privar você disso. Eu nunca poderia ser feliz sabendo que por minha culpa você não teve uma família. Nunca.


- E o que você quer que eu faça, Draco? Você quer que eu simplesmente esqueça tudo que aconteceu e vá embora? Você quer que eu forme uma família com um homem que não seja você? Eu não conseguiria. Eu realmente não conseguiria. – ela havia parado de chorar, mas seu rosto continuava vermelho e a voz levemente estremecida.


- Você vai conseguir. Eu tenho certeza Além disso, você tem o Potter. – ele disse suspirando, como se ele mesmo não tivesse acreditando naquilo que dizia. Ele estava empurrando ela pro Potter? Que tipo de homem era ele...


- Você não está insinu... – ela murmurou incrédula.


- Você o ama Hermione. – ele constatou.


- Sim, eu o amo. Mas não como eu amo v...


- Shh... – ele encostou a sua mão em seus lábios para fazê-la parar de falar. – Eu sei que não. Mas ele a ama de verdade. Ele a respeita. Ele realmente pode fazer você feliz, Mi. E você acabaria amando-o cada vez mais com o tempo.


- Não, Draco. Isso é ridículo. Se você não quer fugir, tudo bem. Talvez tenha sido uma idéia meio estúpida mesmo. – ela suspirou. Finalmente havia entendido. Ele queria apenas que ela ficasse bem. – Mas não precisa se preocupar comigo. Eu não preciso de nenhum homem pra viver.

Ele a olhou para ela como que se desculpando pelo que havia falado. Hermione então o olhou, e dessa vez sem chorar, apesar de ter os seus olhos ainda úmidos, ela o abraçou.


Quando percebeu os braços de Hermione em seu pescoço, ele retribuiu o abraço, pensando que se ela não saísse, ele ficaria naquele abraço pra sempre. Pra sempre. Mas ela saiu. Ela se afastou do rapaz e acariciou seu rosto antes de se afastar ainda mais


Hermione lhe dirigiu um último olhar antes de se virar para caminhar em direção à porta.


Ela colocou a mão no trinco da porta, mas antes que pudesse girá-lo ela sentiu Draco agarrando seu braço e a encostando contra a parede.


Ela o olhou confusa, mas por pouco tempo. Ao identificar a urgência no olhar do bruxo ela percebeu o que ele queria. Ele queria olhá-la pela última vez, tocá-la pela última vez. Beijá-la pela última vez. E então ela se viu desejando isso também. Se ela não poderia ter tudo isso para o resto da vida, ela queria guardar a lembrança de um último beijo.


Draco olhou mais uma vez para os olhos de Hermione antes de se inclinar e encostar seus lábios levemente nos dela. Ao sentir os lábios do rapaz nos seus ela se sentiu tonta e se segurou nele com medo de que pudesse cair. Sentindo as mãos trêmulas da mulher em seu pescoço, ele moveu as suas mãos do seu braço para a sua cintura sentindo pela última vez a pele macia e sedosa que o deixava louco.


Eles ficaram assim por algum tempo, talvez com medo de que se eles se movessem, toda a magia do momento acabaria. Porém, não resistindo mais, Hermione aprofundou o beijo, ouvindo o loiro suspirar e corresponder. Quando sentiu a língua do homem encostar levemente na sua ela pensou que poderia morrer por aquilo e uma lágrima solitária escapou de seus olhos.


Draco apertava cada vez mais a mulher em seus braços, completamente alucinado. Todos os beijos com Hermione eram bons, mas aquele ultrapassava todos os limites. Todos os limites da razão, da paixão, do prazer, do amor. Aquele beijo era delírio, loucura, volúpia. Sentindo que ela estava amolecendo em seus braços, ele abandonou sua boca e desceu em direção ao pescoço tão convidativo.


Ela gemeu baixinho ao sentir os lábios em seu pescoço. Ele realmente sabia como deixá-la louca, e abusava dessa capacidade. Enquanto isso ela passava as mãos por debaixo da camiseta do rapaz sentindo mais uma vez a pele que ela tanto gostava de tocar.


Draco então subiu a boca até a orelha da morena, e depois de dar uma pequena mordida que a fez soltar um longo suspiro, ele sussurrou:


- Eu te amo.


Percebendo que as lágrimas rolavam soltas agora, ela o abraçou forte, não querendo nunca mais sair daquele abraço. Mas ele saiu, meio de repente, fazendo a garota ficar assustada.


Ela então abriu os olhos para observar os olhos cinzentos do rapaz. Vendo que agora não tinha mais saída, ela encostou seus lábios nos dele uma última vez, sentindo um gosto salgado de lágrimas. Hermione então se afastou, e antes de abrir a porta, olhou ainda uma última vez para o loiro que sem conseguir mais se conter, deixava algumas lágrimas caírem no seu rosto. Ela então abriu a porta devagar, e sem olhar para trás saiu do quarto fechando a porta rapidamente.


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Quando a porta foi fechada, e ele viu o rosto da mulher desaparecer, Draco teve ímpetos de sair correndo atrás da morena, mas se segurou. O último vestígio de razão que ainda possuía lhe dizia que era melhor assim. Talvez não fosse o melhor pra ele. Mas era o melhor para Hermione.


Mas mesmo sabendo que havia feito o que era certo fazer, não conseguiu impedir que lágrimas caíssem pelo seu rosto muito pálido.


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Quando Hermione finalmente encostou a porta ela sentiu suas pernas ficarem bambas e teria caído se um braço forte não a tivesse segurado.


- Mione? – Harry perguntou preocupado, cravando seus olhos nos da garota – Está tudo bem?


Sentindo que não podia dizer coisa alguma ela enlaçou o pescoço do amigo, esperando que os braços em volta de sua cintura lhe transmitisse coragem.


Ao sentir algumas lágrimas molharem o seu ombro, Harry passou as mãos pelo cabelo de Hermione tentando fazê-la se sentir melhor. Percebendo que ela se acalmara um pouco, ele se afastou o necessário para enxergar os olhos castanhos da morena.


- Hermione... – ele começou cauteloso – Aconteceu alguma coisa?


Ela abaixou os olhos se desvencilhando dos braços de Harry e só conseguiu murmurar:


- Vai lá e faz o que você tem que fazer.


Ele a encarou incrédulo. Ela não podia estar bem.


- Mione... – ele chegou mais perto da garota, para segurar a sua mão – Você não quer me contar o que aconteceu? Olha... se vocês quiserem ir embora tudo bem. Eu invento algo qualquer coisa e...


- Não aconteceu nada Harry. – ela o encarou decidida. – E nós não iremos fugir, tá legal? Seria loucura. – ela olhou para o teto, tentando impedir as lágrimas de caírem – Vai Harry.


- Mas Her... – ele não podia acreditar. Ela parecia gostar tanto do loiro. E o pior é que ele não entendia porque estava insistindo. Ele deveria estar feliz se a Hermione não queria ficar com Draco. Mas Harry não conseguia ficar feliz vendo a amiga daquele jeito.


- Harry... – ela o interrompeu – Vai, por favor. Antes que fique ainda mais difícil. – ela abaixou o rosto esperando escondê-lo, agora completamente molhado pelas lágrimas.


Harry a obedeceu então. Ainda olhando para a garota ele abriu a porta.


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Vendo Harry ultrapassar a porta, a mulher se deixou cair. Sentindo a parede atrás de si, ela agora não via mais nada. Se sentia incapaz, impotente. Ela não poderia simplesmente deixar o Draco morrer. Mas ela não faria nada. Não se sentia capaz de fazer nada. Nada que pudesse salvá-lo. Nada.


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Por um momento Draco teve a esperança de que fosse Hermione. Mas vendo que na verdade se tratava de Harry Potter, ele abaixou a cabeça novamente, sentindo o olhar do bruxo sobre si.


- Malfoy... – Harry pronunciou o nome do inimigo de maneira confusa. Ele falaria o quê? O que ele faria? Mataria o rapaz ou simplesmente o deixaria fugir? Ele realmente não sabia.


- Olha Potter! – Malfoy se levantou nervoso. – Não precisa falar nada, beleza? Você não queria tanto acabar comigo? Pronto... É a sua chance.


- Malfoy, eu não quero acabar com você. – ele sabia o quanto aquelas palavras eram estranhas. Foi por isso que não se assustou quando viu a expressão incrédula do loiro à sua frente.


- Sério. – ele confirmou, fazendo com que Malfoy adquirisse agora uma feição desconfiada. – Olha... eu realmente tinha muita vontade de acabar com você, mas agora eu não posso mais...


- Ahn... – Malfoy murmurou em compreensão. – Mas não se preocupe com isso Potter. Nós não iremos ficar juntos. Cada um vai seguir sua vida. Pode me matar agora.


Harry olhou para Draco irritado. Será que o cara estava com tanta vontade de morrer assim? Por Merlim!


- Presta atenção Malfoy! Eu não vou te matar. Se você quer tanto morrer faça isso você mesmo. Mas eu realmente não posso matar o homem por quem minha melhor amiga é... – ele suspirou entes de continuar – apaixonada.


Draco suspirou resignado. O “menino-que-sobreviveu” definitivamente não estava ajudando. Será que ele não entendia que ele não queria mais viver. Viver pra quê? Viver fugindo? Viver sempre com a humilhação de só estar vivo pela piedade de seu maior inimigo? E, além disso, sem Hermione. Não. Ele realmente preferiria morrer.


- Pott...


Antes que o bruxo pudesse terminar de dizer seu nome, Harry já havia pronunciado o feitiço, que foi prontamente em direção ao loiro.





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