Capítulo 18



N/A: Por favor, guardem as pedras e os xingamentos, esse é o tão esperado casamento, massss nem tudo são flores. Ao final desse capítulo muitos de vocês vão ficar um pouco alterados pelo desenrolar da história, porém é necessário! Não me matem por favor!

Capítulo Dezoito

O céu se apresentava nublado e cinzento quando a carruagem negra de Harry atravessou as ruas de Londres, puxada por quatro magníficos cavalos castanhos em cabrestos de prata. Seis batedores, envergando uniformes de veludo verde, lideravam a procissão e quatro outros cavaleiros uniformizados seguiam a carruagem. Os dois cocheiros sentavam-se eretos e orgulhosos no banco dianteiro do veículo, enquanto dois lacaios imponentes ocupavam o traseiro.
No interior da carruagem, seguia Hermione, usando um vestido de incrível beleza e valor exorbitante, o olhar perdido e os pensamentos tão cinzentos quanto o dia lá fora.
— Está sentindo frio, querida? — Sirius perguntou, solícito, ao notar-lhe a postura encolhida.
Ela sacudiu a cabeça, perguntando-se por que Harry insistira em fazer de seu casamento um espetáculo tão grandioso.
Pouco minutos depois, Hermione aceitava a mão estendida de Sirius para sair da carruagem e, lentamente, subir os degraus da igreja imensa, parecendo uma criança conduzida pelo pai a um evento assustador.
Esperou, ao lado de Sirius, nos fundos da igreja, tentando não pensar na enormidade do que estava prestes a fazer, deixando o olhar vagar por entre a multidão de convidados. Apreensiva, focalizou a atenção na enorme diferença entre os aristocratas londrinos, vestidos com seda e ricos brocados, que haviam comparecido para assistir ao seu casamento, e os camponeses simples e amigáveis que ela sempre imaginara que teria por perto no dia mais importante de sua vida. Hermione mal conhecia a maior parte das pessoas que se encontravam na igreja. Algumas, ela jamais vira antes. Desviando os olhos do altar, onde Harry, não Draco, a receberia em breve, examinou os bancos. Havia um lugar vazio na primeira fila, à direita, reservado para Sirius, mas o restante já estava ocupado pelos convidados. Também na primeira fila, à esquerda, lugar normalmente reservado aos parentes próximos da noiva, estava sentada uma mulher idosa, as mãos apoiadas no cabo de uma bengala cravejada de pedras, os cabelos escondidos por um turbante de cetim, que pareceu vagamente familiar a Hermione. Porém, estava nervosa demais para se lembrar onde vira aquela pessoa antes.
Sirius distraiu-lhe a atenção ao apontar lorde Weasley, que se aproximava.
— Harry já chegou? — Sirius perguntou a Ronald Weasley.
O conde, que seria o padrinho de Harry, beijou a mão de Hermione e, depois de lhe oferecer um sorriso encorajador, respondeu:
— Já chegou e está pronto para entrar.
Os joelhos de Hermione começaram a tremer. Ela não estava pronta!
Luna ajeitou a cauda do vestido de Hermione, uma verdadeira obra de arte, confeccionada com cetim azul pálido, ornado de brilhantes, e sorriu para o marido.
— Lorde Potter está nervoso?
— Ele diz que não, mas quer que a cerimônia se realize imediatamente.
Quanta frieza, Hermione pensou, sentindo o pânico crescer.
Sirius não conseguia esconder a ansiedade.
— Estamos prontos — declarou. — Vamos começar.
Sentindo-se como uma marionete manipulada por todos, Hermione pousou a mão no braço de Sirius e deu início à interminável e lenta caminhada pelo corredor iluminado por grande número de velas.
O coral entoava uma bela canção, mas Hermione não ouvia. Atrás dela, mais distante a cada passo, estavam os dias alegres e despreocupados de sua juventude. A sua frente encontrava-se Harry, vestindo um espetacular traje de veludo azul-escuro. Com o rosto parcialmente escondido pelas sombras, parecia muito alto e muito sombrio. Tão sombrio quanto o desconhecido... quanto o futuro de Hermione.
Por que está fazendo isso? Uma voz repleta de pânico gritou na mente de Hermione.
Não sei, ela respondeu em silêncio. Harry precisa de mim.
Isso não é motivo!, a razão argumentou. Você ainda pode fugir.
Não posso!, o coração retrucou.
Pode, sim. Basta dar meia-volta e correr. Agora, antes que seja tarde demais.
Não posso! Não posso, simplesmente abandoná-lo.
Por que não?
Seria uma humilhação muito maior para ele do que foi aquela imposta por sua primeira esposa.
Lembre-se das palavras de seu pai: nunca deixe alguém convencê-la de que pode ser feliz ao lado de alguém que não a ama. Lembre-se de quanto ele foi infeliz. Corra! Depressa! Saia daqui, antes que seja tarde demais!
O coração de Hermione perdeu a batalha contra o terror no momento em que Sirius depositou sua mão gelada na de Harry e, então, se afastou. Seu corpo se preparou para a fuga, sua mão livre agarrou a saia ampla, sua respiração tornou-se mais rápida. Começou a retirar a mão da de Harry, mas, no mesmo instante, os dedos dele se apertaram, como uma armadilha, em torno dos seus. Ele a encarou com olhar duro, com uma advertência para que não se atrevesse a tentar escapar. Então, seu olhar se tornou frio e distante. Ao mesmo tempo, seus dedos soltaram a mão de Hermione, deixando-a cair. Em seguida, Harry, virou-se para o arcebispo.
Ele vai suspender o casamento! Hermione concluiu, aflita, ao ouvir a voz do arcebispo:
— Podemos começar, milorde?
Harry sacudiu a cabeça de leve e abriu a boca.
— Não! — Hermione sussurrou, tentando impedi-lo.
— O que disse? — o arcebispo indagou, franzindo o cenho para ela.
Hermione ergueu os olhos para os de Harry e reconheceu neles a luta para esconder a humilhação que o consumia.
— Estou apenas assustada, milorde — disse. — Por favor, segure minha mão.
Ele hesitou, estudando-lhe as feições e, lentamente, o alívio tomou conta de seu corpo. Sua mão tocou a dela e, um segundo depois, seus dedos lhe transmitiam a confiança de ferro, que era a marca registrada de Harry Potter.
— Posso prosseguir, agora? — o arcebispo perguntou em tom ligeiramente indignado.
— Por favor — Harry respondeu com um leve sorriso.
Quando o arcebispo começava a ler a longa missa, Sirius pousou o olhar feliz e satisfeito pelos noivos, sentindo o peito prestes a explodir. Porém, um brilho lilás captado pelo canto do olho, além da impressão de estar sendo observado, desviou-lhe a atenção. Virou-se para o lado e teve um sobressalto quando seus olhos fixaram os da duquesa de Claremont. Por um longo momento, Sirius a encarou com expressão de orgulho e triunfo. Então, com um gesto de desprezo, voltou a olhar para o altar, afastando aquela presença nefasta da mente. Observou seu filho ao lado de Hermione, dois lindos jovens, fazendo votos que os uniriam para sempre. Seus olhos se encheram de lágrimas, quando o arcebispo entoou:
— Hermione Granger, aceita...
— Katherine, meu amor — murmurou consigo mesmo —, está vendo nossos filhos juntos? Não são lindos? Sua avó nos impediu de termos nossos filhos, minha amada... Essa vitória foi dela, mas desta vez, nós venceremos, minha querida. Teremos nossos netos, minha doce e linda Katherine...
Sirius inclinou a cabeça sobre o peito, a fim de impedir que a mulher sentada do outro lado do corredor o visse chorar. A duquesa de Claremont, porém, não poderia ver nada, pois as lágrimas que enchiam seus olhos turvavam-lhe a visão.
— Katherine, minha querida — ela murmurou consigo mesma —, veja o que eu fiz. Em meu egoísmo cego e estúpido, impedi você de se casar e ter seus filhos com ele. Mas, agora, cuidei para que vocês tenham netos. Ah, Katherine, eu a amo tanto! Queria que você tivesse o mundo a seus pés e me recusei a acreditar que tudo o que você queria era ele...
Quando o arcebispo pediu a Hermione que repetisse seus votos, ela se lembrou do acordo, segundo o qual deveria fazer parecer que sua ligação com Harry era firme e profunda. Erguendo os olhos para ele, tentou falar em voz alta e confiante, mas quando prometeu amá-lo, ele olhou para cima e seus lábios se curvaram em um sorriso cínico. Hermione deu-se conta de que ele estava esperando que um raio atingisse o telhado da igreja e, então, sua tensão se dissolveu em um risinho abafado, que ganhou um olhar de censura do arcebispo.
O momento de descontração, porém, logo terminou, pois Harry recitou seus votos e, em seguida, a cerimônia estava concluída.
— Pode beijar a noiva — o arcebispo autorizou.
Harry virou-se para ela com expressão de triunfo tão intensa que Hermione foi, mais uma vez, invadida pelo pânico, ao sentir os braços dele enlaçarem sua cintura. Inclinando-se para ela, ele a beijou com ardor que fez o arcebispo limpar a garganta, irritado, e diversos convidados rirem. Então, soltou-a e ofereceu-lhe o braço.
— Milorde — ela sussurrou em tom de súplica, quando atravessavam o corredor na direção da porta da igreja —, não consigo acompanhá-lo.
— Trata de me chamar de Harry — ele retrucou em tom rude, embora diminuísse o passo. — E, da próxima vez em que eu a beijar, finja gostar.
O tom de voz gelado atingiu Hermione como um balde de água fria, mas ela conseguiu permanecer firme, entre Sirius e ele, na entrada da igreja, exibindo um sorriso radiante para os oitocentos convidados que os cumprimentaram.
Sirius virou-se para falar com um amigo, no momento em que a última convidada atravessava a porta, apoiando-se na bengala cravejada de pedras preciosas.
Ignorando Harry completamente, a duquesa se aproximou de Hermione e fitou-a diretamente nos olhos.
— Sabe quem eu sou? — perguntou sem preâmbulos.
— Não, madame. Sinto muito, mas não sei. Acho que já nos vimos antes, pois a senhora me parece familiar, mas...
— Sou sua bisavó.
A mão de Hermione apertou o braço de Harry com um espasmo. Aquela era a sua bisavó, a mulher que recusara a lhe oferecer um teto, que destruíra a felicidade de sua mãe. Hermione empinou o queixo e declarou com fingida calma:
— Não tenho bisavó.
A declaração surtiu um efeito estranho na duquesa, cujos olhos se acenderam em admiração, ao mesmo tempo em que suas feições se suavizavam.
— Ah, tem, sim, minha querida. Você se parece muito com sua mãe, mas esse brilho de desafio em seus olhos você herdou de mim. De nada adianta negar a minha existência, pois meu sangue corre em suas veias e é a minha própria teimosia que vejo no modo como empina o queixo. Tem os olhos de sua mãe e a minha determinação.
— Fique longe dela! — Sirius ordenou, furioso. — Saia daqui!
A duquesa empertigou-se e lançou-lhe um olhar faiscante.
— Não se atreva a usar esse tom comigo, Grimmauld, ou vou...
— Vai o quê? — ele a interrompeu. — Não adianta me ameaçar, pois, agora, tenho tudo o que quero.
A duquesa fitou-o com ar triunfante.
— Tem o que quer porque eu dei isso a você, seu tolo. — Então, ignorando o olhar confuso de Sirius, voltou a encarar Hermione, com lágrimas nos olhos. — Espero que vá à mansão Claremont para visitar Ginny, quando ela voltar da França. Não foi fácil mantê-la afastada de você, mas ela teria estragado tudo com aquela história boba de antigos escândalos, ou melhor, mexericos. — Então, virou-se para Harry. — Estou confiando minha bisneta aos seus cuidados, Gryffindor, mas o responsabilizarei pela felicidade dela. Fui clara?
— Muito clara — ele respondeu em tom solene, embora estudasse, com olhar divertido, a mulher franzina que o ameaçava.
A duquesa o fitou por um momento, antes de balançar a cabeça.
— Muito bem, já que estamos entendidos, posso ir embora. — Ergueu a mão diante do rosto de Harry. — Pode beijar minha mão.
— Com um galante floreio, ele obedeceu.
Virando-se para Hermione, a duquesa falou, um tanto constrangida:
— Imagino que seria esperar demais...
Hermione não compreendera nada do que se passara ali nos últimos minutos, mas poderia jurar que os sentimentos que vira nos olhos da velha senhora eram amor e profundo remorso.
— Vovó — murmurou com voz trêmula e deixou-se abraçar pela bisavó.
Logo depois, a duquesa voltava a assumir sua postura imperiosa, para anunciar:
— Gryffindor, decidi não morrer enquanto não tiver segurando meu tataraneto nos braços. Como não posso viver para sempre, não vou tolerar demoras de sua parte.
— Darei atenção imediata à questão, alteza — Harry replicou com voz séria, mas com um brilho divertido no olhar.
— Também não vou tolerar vacilações de sua parte, minha querida — a duquesa avisou à bisneta, que já corava. — Decidi me retirar para a minha casa de campo. Claremont fica a menos de uma hora, a cavalo, de Gryffindor. Portanto, espero que vá me visitar de vez em quando. Então, virou-se para o advogado, que a aguardava junto à porta. — Dê-me seu braço, Corner. Já vi o que queria e disse o que tinha a dizer.
E, com um último olhar para o atordoado Sirius, afastou-se de ombros eretos, a bengala mal tocando o chão.
Muito dos convidados ainda esperavam por suas carruagens, quando Harry ajudou Hermione a entrar na sua. Ela sorriu de maneira automática para as pessoas que a observavam e acenavam, mas o caos resultante da torrente de emoções que haviam agitado o seu dia tomara conta de sua mente. Ela mal percebeu o que se passava a sua volta, até a chegada à vila perto de Gryffindor. Com uma forte pontada de culpa, deu-se conta de que nem sequer falara com Harry durante mais de duas horas.
Olhou para o homem atraente que, agora, era seu marido. Ele mantinha o rosto virado para a janela, o perfil de linhas duras e implacáveis desprovido de qualquer emoção. Ele estava zangado por ela ter tentado deixá-lo no altar. Hermione foi invadida pelo medo de uma possível vingança, o que a deixou ainda mais nervosa. Perguntou-se, aflita, se teria criado um abismo intransponível entre eles, com sua atitude covarde.
— Harry — chamou com voz tímida. — Sinto muito pelo que houve na igreja.
Ele deu de ombros, mantendo as feições impassíveis.
Seu silêncio aumentou a ansiedade de Hermione. Àquela altura a carruagem já fazia a última curva antes dos jardins de Gryffindor. Hermione abriu a boca para se desculpar mais uma vez, mas sinos começaram a tocar e ela viu camponeses alinhados no caminho que levava à mansão, todos vestindo suas roupas de domingo.
Sorriam e acenavam à medida que a carruagem avançava. Crianças corriam ao lado do veículo, empunhando buquês de flores que estendiam para Hermione.
Um garotinho de seus quatro anos de idade tropeçou na raiz de uma árvore e caiu, sem jamais largar as flores.
— Harry — Hermione implorou —, peça ao cocheiro para parar por favor!
Ele obedeceu e Hermione abriu a porta.
— Que flores lindas! — ela exclamou, enquanto o garotinho se punha de pé, ao som de risadas e zombarias dos maiores. — São para mim?
O garotinho afastou as lágrimas com uma das mãos, antes de responder:
— Sim, milady, eram para a senhora, antes de eu cair sobre elas.
— Gostaria de tê-las assim mesmo — Hermione garantiu com um sorriso. — Ficariam lindas junto ao meu buquê.
Tímido, o menino lhe estendeu as flores murchas e quebradas.
— Eu mesmo as apanhei — ele confidenciou, orgulhoso. — Meu nome é Billy — informou, fixando o olho esquerdo em Hermione, enquanto o outro parecia perdido no horizonte. — Moro no orfanato da vila.
— Meu nome é Hermione, mas meus amigos me chamam de Mione. Gostaria de me chamar de Mione?
O peito do garoto se encheu de orgulho, mas ele lançou um olhar cauteloso para Harry e esperou que o lorde assentisse, para balançar a cabeça em um exuberante “sim”.
— Gostaria de vir me visitar em Gryffindor e me ajudar a empinar pipas? — Hermione convidou, notando que Harry lhe lançava um olhar surpreso.
O sorriso de Billy se desfez.
— Não consigo correr, pois caio o tempo todo — confessou, baixando os olhos.
Hermione assentiu com ar compreensivo.
— Talvez seja por causa do seu olho, mas eu sei de um jeito de fazê-lo voltar ao normal. Conheci um outro garotinho que tinha o olho igual ao seu. Um dia, quando brincávamos de índios e colonizadores, ele caiu e machucou o olho bom. Meu pai precisou cobri-lo com um tapa-olho, até que ficasse curado. Enquanto o olho bom estava coberto, o ruim começou a endireitar. Meu pai achou que foi porque o olho ruim foi obrigado a trabalhar, enquanto o bom estava coberto. Gostaria de me visitar e tentar usar o tapa-olho?
— Vou ficar esquisito, milady — ele argumentou.
— Todas as crianças acharam que Jimmy, o outro menino, se parecia com um pirata. E, logo, todos nós queríamos usar tapa-olhos. O que acha de me visitar para brincarmos de pirata?
Billy concordou e virou-se com um sorriso triunfante para as demais crianças.
— O que ela disse? — elas perguntaram, quando Harry fez um sinal para o cocheiro prosseguir.
Billy enfiou as mãos nos bolsos, estufou o peito e declarou:
— Ela disse que posso chamá-la de Mione.
As crianças se juntaram aos adultos, que seguiam em procissão a carruagem. Hermione calculou tratar-se de um costume local dos camponeses para comemorar o casamento do lorde. Voltou a olhar para Harry e teve a impressão de que ele lhe escondia um sorriso.
A razão para tal sorriso tornou-se óbvia quando a carruagem parou diante da mansão. Hermione dissera a Harry que sempre sonhara em se casar em uma pequena, vila, com os camponeses participando das comemorações. Com um estranho gesto de cavalheirismo, o homem enigmático com quem ela acabara de se casar estava tentando realizar, ao menos, parte de seu sonho. Ele havia transformado os jardins de Gryffindor em um mar de flores. Imensos arranjos de orquídeas, lírios e rosas enfeitavam mesas enormes, cobertas de porcelanas, talheres de prata e muita comida. O pavilhão na extremidade do gramado encontrava-se repleto de flores e lampiões coloridos. Tochas iluminavam diversos pontos do jardim, afastando a escuridão da noite que caía e acrescentando um brilho festivo à cena.
Em vez de ficar zangado por ter de abandonar todos os convidados do casamento de Londres, Harry gastara uma fortuna a fim de transformar a propriedade em um paraíso mágico para Hermione, além de ter convidado todos os aldeões e camponeses para a festa. Até a natureza havia colaborado, pois as nuvens haviam se dissipado, permitindo que o pôr-do-sol colorisse o céu com cores vívidas.
Hermione olhou em volta, considerando a evidência da atitude gentil de Harry, que contradizia sua indiferença e frieza habituais. Olhou para o marido e, notando o sorriso que ele já não conseguia disfarçar, pousou a mão em seu braço.
— Harry — murmurou com voz trêmula de emoção —, muito... muito obrigada.
Lembrando-se do pedido para que o agradecesse com um beijo, inclinou-se e beijou-lhe os lábios com timidez e profunda ternura.
A voz alegre de um irlandês trouxe Hermione de volta à realidade.
— Harry, meu garoto! Vai sair dessa carruagem e apresentar-me a sua esposa, ou terei de me apresentar por minha conta?
Harry virou-se com expressão de alegre surpresa e saiu da carruagem. Estendeu a mão para o irlandês, mas o outro o apertou em um abraço de urso.
— Vejo que finalmente encontrou uma esposa para aquecer esse seu palácio frio! — o homem declarou, sem esconder a afeição que nutria por Harry. — Poderia, ao menos, ter esperado que o navio atracasse, para que eu pudesse assistir à cerimônia!
— Eu só esperava vê-lo no mês que vem — Harry explicou. — Quando chegou?
— Esperei que o navio fosse descarregado e vim para casa hoje. Cheguei há uma hora, mas em vez de encontrá-lo mergulhado no trabalho, fui informado de que você estava muito ocupado com seu próprio casamento. E então? Não vai me apresentar sua esposa?
Harry ajudou Hermione a sair da carruagem e, então, apresentou o marujo como capitão Remus Lupin. Ela calculou que o capitão tivesse por volta de cinqüenta anos, com seus cabelos fartos e os olhos castanhos mais alegres que ela já vira. Hermione gostou dele de imediato, mas o fato de ter sido chamada de “esposa” de Harry pela primeira vez deixou-a tão nervosa, que ela o cumprimentou com a formalidade que lhe fora exigida desde que pusera os pés na Inglaterra.
No mesmo instante, a expressão do capitão Lupin se alterou e ele a cumprimentou com maneiras rígidas.
— É um prazer conhecê-la, lady Potter. Deve perdoar meus trajes, mas eu não sabia que encontraria uma festa, ao chegar aqui. Agora, se me der licença, passei seis meses no mar e não vejo a hora de chegar em casa.
— Ora, mas não pode ir agora! — Hermione protestou com a simplicidade que lhe era natural. Percebera que o capitão Lupin era um grande amigo de Harry e queria muito fazê-lo sentir-se bem-vindo. — Meu marido e eu é que estamos vestidos com exagero para esta hora do dia — falou com um sorriso maroto. — Além disso, depois de ter passado só seis semanas no mar, eu não via a hora de comer em uma mesa que não balançasse. Posso garantir que nossas mesas ficarão exatamente onde estão.
O capitão estudou-a, como se não soubesse ao certo de que maneira se comportar diante dela.
— Ao que parece, não apreciou a viagem, lady Potter — comentou.
Hermione sacudiu a cabeça com um sorriso contagiante.
— Tanto quanto apreciei quebrar o braço, ou ter sarampo. Em tais ocasiões, pelo menos não fiquei enjoada, como fiquei durante uma semana inteira a bordo de um navio! Receio ser uma péssima maruja, pois quando uma tempestade se abateu sobre o navio, antes mesmo que eu me recuperasse dos enjôos, quase morri de medo!
— Meu Deus! — o capitão Lupin exclamou, recuperando a alegria inicial. — Não se considere covarde por isso. Já vi marujos experientes terem medo de morrer durante uma dessas tempestade.
— Mas eu tive medo de não morrer — Hermione o corrigiu com uma gargalhada.
Remus Lupin tomou as mãos dela nas suas e sorriu.
— Adorarei comemorar com você e Harry. Desculpe-me por ter sido tão... hesitante, há pouco.
Hermione sorriu, apanhou um copo de vinho de uma bandeja passada por um lacaio e se dirigiu para os dois camponeses que haviam lhe dado uma carona, no dia de sua chegada a Gryffindor.
Assim que ela se afastou, Remus virou-se para Harry.
— Quando a vi beijando você, na carruagem, gostei do jeito dela imediatamente — contou. — Mas, quando ela me cumprimentou com aquele ar distante, cheguei a pensar que você havia encontrado outra Cho para se casar.
Harry observou Hermione, que já punha os camponeses completamente à vontade.
— Hermione não se parece em nada com Cho. Seu cachorro é metade lobo e ela é metade peixe. Meus criados são devotados a ela e Sirius a adora. Além disso, todos os homens solteiros de Londres estão apaixonados por Hermione.
— Inclusive você?
Harry observou-a largar o copo vazio e apanhar outro. A única maneira que ela havia encontrado de se casar com ele fora fingir que Harry era Draco. E, ainda assim, quase o deixara plantado no altar, diante de oitocentas pessoas. Como jamais a vira beber mais que um gole de vinho antes, e agora a via beber o segundo copo, Harry concluiu que Hermione estava tentando se embriagar, a fim de suportar deitar-se com ele mais tarde.
— Você não parece, exatamente, o mais feliz dos noivos — Remus comentou, notando-lhe a expressão sombria.
— Nunca estive mais feliz — Harry replicou com amargura e se afastou, a fim de cumprimentar convidados cujos nomes desconhecia, para poder apresentá-los à mulher com quem já começava a se arrepender de ter-se casado.
Desempenhou seu papel de anfitrião e noivo com sorridente cortesia, embora não tirasse da cabeça que Hermione quase fugira dele na igreja. A lembrança humilhante e dolorosa simplesmente se recusava a deixá-lo em paz.
As estrelas brilhavam no céu e Harry observava Hermione dançar com o juiz local, com Remus Lupin e diversos camponeses. Sabia que ela o estava evitando, pois nas raras ocasiões em que seus olhares se cruzaram, Hermione tratara de desviar o dela depressa.
Já fazia tempo que ela havia tirado o véu e a grinalda, pedindo à orquestra que tocasse músicas mais animadas. Quando a lua brilhou alta no céu, todos dançavam e batiam palmas, inclusive Hermione, que já bebera cinco copos de vinho. Era evidente que estava se embriagando, Harry pensou com sarcasmo, percebendo o profundo rubor em suas faces. Sentiu um aperto no peito ao pensar nas esperanças que havia acalentado para aquela noite, para seu futuro. Fora tolo ao acreditar que a felicidade estava, finalmente, ao alcance de suas mãos.
Apoiado no tronco de uma árvore, Harry se perguntou por que as mulheres se sentiam tão atraídas por ele até o casamento, para então desprezá-lo. Furioso, concluiu que cometera o mesmo erro idiota pela segunda vez. Havia se casado com uma mulher que o aceitara porque queria algo dele, mas que não o queria.
Cho desejara todos os homens que conhecera, exceto Harry. Hermione só desejava Draco, o bom, gentil, amável e covarde Draco.
A única diferença entre Cho e Hermione era que Hermione era muito melhor atriz. Desde o princípio, Harry soubera que Cho não passava de uma interesseira egoísta e calculista. Porém, pensara que Hermione fosse um anjo... um anjo caído, graças a Draco, mas ele não havia dado importância a tal fato. Agora, dava. Desprezou-a por ter se entregado a Draco e, agora, por evitar entregar-se a seu marido, o que era exatamente o que Hermione estava fazendo, tentando beber até perder a consciência. Detestara o modo como ela tremera em seus braços e evitara seu olhar. Quando haviam dançado juntos, minutos antes. E detestara mais ainda a reação de evidente repulsa que ela não conseguia esconder, quando ele sugerira que já era hora de os dois se retirarem da festa.
Amargurado, Harry se perguntou por que era capaz de fazer suas amantes gritarem de prazer, quando suas esposas não queriam nem sequer chegar perto dele, uma vez feitos os votos sagrados. Perguntou-se por que era tão fácil para ele ganhar dinheiro e acumular fortunas e, ao mesmo tempo, impossível conquistar a felicidade. A maldita mulher que o criara certamente tinha razão. Harry era filho do demônio, não merecia viver e menos ainda, ser feliz.
As únicas três mulheres que haviam feito parte de sua vida, Hermione, Cho e a mãe adotiva, haviam visto nele algo de maligno, que o tornava repulsivo para elas, embora suas duas esposas houvessem sido capazes de esconder tal repulsa até estarem casadas, com plenos direitos sobre sua fortuna.
Com determinação implacável, Harry se aproximou de Hermione e segurou-lhe o braço. Ela se encolheu, como se o contato a queimasse.
— Já é tarde e está na hora de entrarmos — ele declarou.
Mesmo à luz do luar, o rosto de Hermione empalideceu e uma expressão de horror tomou conta de seu semblante.
— Mas... não é tão tarde, ainda...
— Está na hora de irmos para a cama, Hermione — Harry persistiu, inabalável.
— Mas eu não estou com sono!
— Ótimo — ele declarou em tom propositadamente rude e percebeu que Hermione compreendeu suas intenções ao senti-la estremecer. — Fizemos um trato — lembrou-a — e espero que cumpra a sua parte, por mais repulsivo que seja para você se deitar em minha cama.
O tom frio e autoritário congelou Hermione até os ossos. Assentindo, ela seguiu para seu novo quarto, que se comunicava com o de Harry.
Percebendo o ânimo introspectivo da patroa, Angelina se manteve em silêncio enquanto a ajudava a tirar o vestido de noiva e vestir a camisola de renda creme, criada por madame Maxime especialmente para a noite de núpcias.
Hermione sentiu um gosto amargo na garganta e foi tomada pelo terror ao ver Angelina preparar a sua cama. O vinho que bebera na esperança de aplacar o medo a estava deixando tonta e enjoada. Em vez de acalmá-la, como fizera no início, a bebida a estava deixando doente e incapaz de controlar as emoções. Desejou tardiamente não ter tocado naqueles copos. A única vez que bebera, antes, fora logo após o enterro de seus pais, quando o dr. Dumbledore insistira para que ela tomasse dois copos de vinho. Hermione havia passado mal e ele lhe dissera que, provavelmente, ela era uma dessas pessoas cujo organismo não tolera os efeitos do álcool.
Com a descrição horrenda da srta. Trelawney ecoando em sua mente, Hermione foi para a cama. Em breve, seu sangue mancharia aqueles lençóis, pensou, desesperada. Quanto sangue? Quanta dor? Começou a suar frio e sentir vertigens, enquanto Angelina ajeitava os travesseiros. Hermione deitou-se, tentando conter o pânico e a náusea. A srta. Trelawney a advertira de que não deveria gritar, nem demonstrar sua repulsa, mas quando Harry abriu a porta que ligava os dois quartos, vestindo um robe escuro que deixava à vista boa parte do peito e pernas nuas, Hermione perdeu o controle sobre o medo.
— Harry! — exclamou, apavorada, pressionando as costas contra os travesseiros.
— Quem esperava ver agora? Draco? — ele perguntou em tom casual, ao mesmo tempo em que levava as mãos à tira de cetim que mantinha seu robe fechado.
Tomada de pânico, Hermione balbuciou:
— N-não faça... isso! Um cavalheiro não se despe diante de uma dama, mesmo que os dois sejam casados!
— Se não me engano, já discutimos isso antes, mas caso você tenha se esquecido, devo lembrá-la de que não sou um cavalheiro. No entanto, se a visão do meu corpo pouco cavalheiresco ofende a sua sensibilidade, pode resolver o problema fechando os olhos. A única opção seria eu me deitar debaixo das cobertas, para então tirar o robe. Infelizmente, tal opção ofende a minha sensibilidade e, portanto, está fora de questão.
Com essas palavras, Harry puxou a extremidade da tira de cetim e se despiu. Os olhos de Hermione se arregalaram, horrorizados pela visão do corpo viril e musculoso.
Qualquer esperança, por menor que fosse, que Harry ainda acalentasse de que ela fosse aceitar os seus avanços de boa vontade morreu quando Hermione fechou os olhos e virou o rosto para o lado.
Harry fitou-a por um momento e, então com movimentos deliberadamente rudes, arrancou-lhe os lençóis das mãos, descobrindo-a. Deitou-se a seu lado e, sem pronunciar nem uma palavra sequer, desamarrou o laço da camisola de renda. Respirou fundo diante da perfeição do corpo nu a sua frente.
Hermione possuía seios redondos e cheios, cintura fina, quadris suavemente arredondados e pernas longas e incrivelmente bem torneadas. À medida que os olhos de Harry deslizavam por seu corpo, as faces de Hermione foram adquirindo tonalidade escarlate. No momento em que ele pousou a mão sobre um dos seios, ela se encolheu, rejeitando a carícia.
Para uma mulher experiente, Hermione mostrava-se fria como uma pedra de gelo, deitada com o rosto voltado para a parede, o semblante contorcido em repulsa. Harry pensou em seduzi-la com carícias, mas logo descartou a idéia. Ela quase o abandonara no altar e era mais que evidente que não tinha a menor disposição de suportar seus carinhos por mais tempo.
— Não faça isso — Hermione implorou, enquanto Harry continuava a acariciar-lhe um seio. — Vou passar mal! — ela gritou, tentando sair da cama.
Tais palavras atingiram Harry como um golpe de punhal e a ira cega explodiu dentro dele. Segurando-a pelos cabelos, posicionou-se sobre Hermione.
— Se é assim, vamos acabar com isso de uma vez! — declarou com voz selvagem.
Visões de sangue e dor invadiram a mente de Hermione, aumentando ainda mais o seu terror e a náusea provocada pelo vinho.
— Não quero! — ela lamentou entre soluços.
— Fizemos um acordo e, enquanto formos casados, você vai cumprir a sua parte — Harry sussurrou ao seu ouvido, ao mesmo tempo em que lhe afastava as coxas. Hermione gemeu ao sentir a pressão implacável contra sua feminilidade, mas, em algum recesso de sua mente, reconheceu que ele estava certo ao lhe cobrar o cumprimento de sua parte no acordo. Assim, parou de lutar. — Trate de relaxar — ele ordenou. — Posso não ser tão gentil quanto o seu querido Draco, mas não quero machucá-la.
A menção cruel ao nome de Draco em um momento como aquele acabou de partir o coração de Hermione e toda a sua angústia se expressou em um profundo grito de dor, quando Harry a penetrou. Seu corpo se contorcia sob o dele, ao mesmo tempo em que lágrimas quentes, resultantes da dor e da humilhação, banhavam suas faces, enquanto seu marido a usava sem a menor gentileza e cuidado.
No momento em que sentiu Harry retirar o peso de cima dela, Hermione virou-se de lado e enterrou o rosto no travesseiro.
— Saia daqui! — murmurou entre soluços amargos que lhe sacudiam o corpo encolhido. — Saia!
Após um breve instante de hesitação, Harry saiu da cama, apanhou o robe e foi para seu quarto. Embora fechasse a porta, continuou ouvindo o choro de Hermione. Ainda nu, apanhou uma garrafa de conhaque e se serviu de uma dose. Bebeu de um só gole, tentando apagar da memória a lembrança da resistência de Hermione, bem como afastar o som de seus soluços.
Ah, como fora estúpido ao acreditar que sentira calor humano nos beijos de Hermione. Quando ele sugerira, pela primeira vez, que se casassem, ela lhe dissera que não queria se casar com ele. Muito tempo antes, quando descobrira sobre o suposto noivado anunciado por Sirius, Hermione revelara seus verdadeiros sentimentos por Harry: “Você é um monstro frio e arrogante... Nenhuma mulher em seu juízo perfeito se casaria com você...”.
Era exatamente o que ela pensava.
Fora mesmo tolo ao se convencer de que Hermione gostava dele... Harry virou-se para se servir de mais conhaque e, ao colocar o copo sobre a penteadeira, viu o próprio reflexo no espelho. Só então notou as marcas de sangue em suas coxas.
O sangue de Hermione.
O coração dela certamente pertencera a Draco, mas nunca seu corpo perfeito, que ela só entregara a Harry. Ele ficou olhando fixamente para o espelho, enquanto um profundo desprezo por si mesmo tomava conta de todo o seu ser. Deixara se levar pelo ciúme e pelo orgulho ferido a ponto de não perceber que ela era virgem.
Fechou os olhos de remorso e angústia, incapaz de suportar a visão de si mesmo. Tratara Hermione com menor gentileza ou consideração do que um marujo bêbado dispensa a uma prostituta do cais.
Pensou no quanto ela estivera seca e rija, quanto parecera frágil e vulnerável em seus braços, lembrou-se da maneira selvagem como a possuíra... e sentiu uma onda de repulsa sacudi-lo.
Abrindo os olhos, Harry olhou para si mesmo no espelho, dando-se conta de que havia transformado a noite de núpcias de Hermione em um pesadelo. A verdade era que ela sempre fora o anjo de fibra e coragem que ele pensara desde o início. E ele... ora, ele era exatamente o que sua mãe adotiva sempre dissera: um filho do demônio.
Vestindo o robe, Harry retirou uma caixa de veludo da gaveta da penteadeira e voltou ao quarto de Hermione. Ficou parado ao lado da cama, observando-a dormir.
— Hermione — sussurrou.
Ela se moveu levemente ao ouvir o som de sua voz e Harry foi imediatamente invadido pela dor do remorso. Ela parecia tão vulnerável, tão linda, com os cabelos espalhados no travesseiro, refletindo a suave luz da vela.
Harry observou-a em silêncio atormentado, sem querer perturbá-la. Após alguns momentos, puxou as cobertas sobre os ombros delicados e afastou os cabelos de seu rosto.
— Sinto muito — murmurou baixinho.
Apagou a vela e depositou a caixinha de veludo na mesa-de-cabeceira, onde Hermione a encontraria assim que acordasse. Os diamantes a confortariam. As mulheres eram capazes de perdoar qualquer coisa por diamantes.

N/A: Pra compensar, se vcs comentarem bastante eu posto o capítulo 19 amanhã!!!
Bjss, Jéssica Malfoy

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