Capítulo 17



N/A: Capítulo grande, espero que vcs gostem! E novamente me desculpo pelo atraso, era pra eu postar esse capítulo ontem, mas quando cheguei do curso e tentei ligar a internet não consegui nem a pau, aff! Mas agora eu consegui, aproveitem o capítulo!

Capítulo Dezessete

— Boa tarde, querida — Sirius cumprimentou, alegre, apontando para a beirada da cama a seu lado. — Sente-se aqui. Sua visita com Harry, ontem à noite, fez verdadeiros milagres por minha saúde. Agora, conte-me sobre os planos de casamento.
Hermione sentou-se.
— Na verdade, tudo é muito confuso, tio Sirius. Slughorn acaba de me informar que Harry voltou para Gryffindor e levou tudo o que havia no escritório.
— Eu sei — Sirius falou com um sorriso. — Ele veio me ver antes de partir e disse que decidiu fazer isso “em nome das aparências”. Quanto menos tempo passar perto de você, menor a chance de mexericos.
— Então, foi por isso que ele partiu — Hermione murmurou com expressão pensativa.
Os ombros de Sirius sacudiram com o riso que ele não pôde conter.
— Minha criança, acho que esta foi a primeira vez na vida de Harry que ele fez uma concessão às convenções! Não foi fácil para ele, mas fez assim mesmo. Decididamente, você exerce uma boa influência sobre Harry. Quem sabe você também consiga ensiná-lo a não zombar dos princípios.
Hermione retribuiu o sorriso, sentindo-se subitamente aliviada e feliz.
— Receio não saber nada sobre os planos para o casamento, exceto que vai se realizar em uma grande igreja aqui, em Londres.
— Harry está cuidando de tudo. Levou o secretário para Gryffindor, assim como os criados, para que possam fazer os preparativos. Depois da cerimônia, haverá uma festa de casamento em Gryffindor, para os seus amigos e alguns residentes da vila. Acredito que a lista de convidados, bem como os convites, já estão sendo preparados. Portanto, você não tem de fazer nada além de ficar aqui e se divertir com a surpresa das pessoas, quando souberem que você será a única e verdadeira duquesa de Grimmauld.
Hermione acenou com a mão, indicando que isso não tinha importância para ela. Então, arriscou entrar em um assunto bem mais delicado.
— Na noite em que ficou doente, o senhor mencionou algo sobre a minha mãe... algo que pretendia me contar.
Sirius virou-se para a janela e Hermione apressou-se em acrescentar:
— Não precisa me contar, se as lembranças lhe fazem mal.
— Não é isso — ele falou, voltando a encará-la. — Sei que você é sensata e compreensiva, mas ainda é muito jovem. Amava seu pai, provavelmente, tanto quanto amava sua mãe. Quando eu lhe contar o que tenho a dizer, pode começar a pensar em mim como um intruso no casamento dos dois, embora eu jure que nunca tenha entrado em contato com sua mãe, depois que ela se casou com seu pai. Hermione... a verdade é que temo que você me despreze, quando ouvir a minha história.
Hermione prendeu a mão dele entre as suas e assegurou-o:
— Como posso desprezar alguém que teve o bom senso de amar minha mãe?
— Você também herdou o coração de sua mãe, sabia? — Sirius declarou com voz embargada pela emoção.
Como Hermione ficasse em silêncio, ele voltou a olhar para a janela e começou a contar a história de seu envolvimento com Katherine. Só voltou a fitá-la quando terminou e, ao fazê-lo, não encontrou o menor sinal de reprovação, apenas compaixão e tristeza.
— Como vê — Sirius concluiu —, eu a amava de todo o coração. Eu a amava e a afastei da minha vida, quando ela era a única verdadeira razão que eu tinha para viver.
— Minha bisavó o forçou a fazer isso — Hermione corrigiu–o.
— Seus pais eram felizes? Sempre quis saber que tipo de casamento eles tinham, mas não tive coragem de perguntar.
Hermione se lembrou da cena horrível que havia presenciado em uma noite de Natal, mas que fora superada pelos dezoito anos de carinho e consideração que os dois haviam devotado um ao outro.
— Sim, eles eram felizes. O casamento de mamãe e papai não se parecia em nada com os que vemos na ton.
— O que quer dizer com isso? — Sirius perguntou, sorrindo diante da aversão com que ela pronunciara as palavras.
— Refiro-me ao tipo de casamento que a maioria das pessoas tem, aqui, exceto por Ronald e Luna Weasley e outros poucos. O tipo de casamento no qual um casal raramente é visto na companhia um do outro e, quando aparecem juntos em um evento, comportam-se como estranhos gentis e corteses. Os cavalheiros estão sempre fora de casa, desfrutando de suas diversões, enquanto as mulheres têm amantes. Meus pais, ao menos, viviam em um lar de verdade e nós formávamos uma família de verdade.
— Suponho que você pretende ter um casamento à moda antiga e uma família à moda antiga — Sirius provocou-a, demonstrando gostar da idéia.
— Não creio que Harry queira esse tipo de casamento.
Hermione não poderia contar a Sirius que Harry lhe propusera dar-lhe um filho e, então, ir embora. O que lhe servia de consolo era o fato de ele ter deixado claro que preferia tê-la ao seu lado.
— Duvido que Harry saiba o que quer, no momento. Ele precisa de você, Hermione. Precisa do seu calor e do seu espírito. Não vai admitir nem para si mesmo e, quando o fizer, não vai gostar nada disso. Acredite, ele vai tentar lutar contra os próprios sentimentos. Mas, cedo ou mais tarde, Harry abrirá o coração para você e, quando isso acontecer, encontrará a paz. Então, ele fará de você a mulher mais feliz do mundo.
Ela se mostrou tão cética, que Sirius acrescentou depressa:
— Tenha paciência, criança. Se Harry não fosse tão forte, de corpo e espírito, não teria sobrevivido até os trinta anos. Ele tem cicatrizes profundas, mas você tem dom de curá-las.
— Que tipo de cicatrizes?
Sirius sacudiu a cabeça.
— Será melhor para vocês dois se Harry lhe contar, ele mesmo, sobre sua vida e, especialmente, sua infância. Se ele não fizer isso, então você poderá me procurar e eu lhe contarei.
Nos dias que se seguiram, Hermione teve pouco tempo para pensar em Harry, ou em qualquer outra coisa. Mal deixara o quarto de Sirius, naquela tarde, quando madame Maxime chegou, acompanhada por quatro costureiras.
— Lorde Potter pediu-me que confeccionasse um vestido de noite para a senhorita — ela informou, andando em volta de Hermione. — Ele disse que o vestido deve ser rico, elegante, exclusivo, digno de uma rainha.
Dividida entre a vontade de se rebelar e a de cair na risada diante do autoritarismo de Harry, Hermione perguntou com ironia:
— Ele por acaso, escolheu a cor?
— Azul.
— Azul! — Hermione repetiu, preparada para uma luta corporal pelo branco, se fosse necessário.
Madame Maxime assentiu, examinando-a com ar pensativo.
— Sim, azul pálido. Ele disse que essa cor fica gloriosa em você, que a faz parecer um anjo de cabelos dourados.
De súbito, Hermione decidiu que azul pálido era uma cor adorável para seu vestido de noiva.
— Lorde Potter tem muito bom gosto — madame Maxime comentou. — Não acha?
— Sem a menor sombra de dúvida — Hermione declarou com uma risada.
Quatro horas depois, quando madame Maxime finalmente se retirou, Hermione foi informada de que lady Luna Weasley encontrava-se a sua espera, no salão dourado.
— Hermione — a amiga a recebeu com expressão ansiosa. — Lorde Potter esteve em nossa casa, esta manhã, para nos convidar para o casamento. Fiquei honrada por ser sua dama de honra, como ele disse ser o seu desejo, mas foi tudo tão de repente...
Hermione foi invadida por imenso prazer ao saber que Harry se lembrara de que ela precisaria de uma dama de honra e que havia convidado Luna, sua melhor amiga, para a função.
— Não imaginei que você estivesse desenvolvendo uma ligação duradoura com lorde Potter — Luna continuou. — Você quer mesmo se casar com ele, não é? Ou está sendo... forçada de alguma maneira?
— Só pelo destino — Hermione respondeu com um sorriso e se deixou afundar em uma poltrona. Ao perceber a preocupação genuína da amiga, esclareceu: — Não estou sendo forçada. É o que eu quero fazer.
As feições de Luna se desanuviaram, expressando seu alívio e alegria.
— Fico tão feliz em ouvir isso! Estava torcendo para que as coisas se acertassem entre vocês. — Diante do olhar cético de Hermione, a condessa explicou: — Nas últimas semanas, tive a oportunidade de conhecer lorde Potter melhor e sou obrigada a admitir que, agora, concordo com Ronald. Ao que parece, tudo o que falam dele não passa de resultado de mexericos iniciados por uma única mulher particularmente maldosa. Duvido que alguém tivesse acreditado em todos esses rumores, se lorde Potter não fosse tão fechado. Mas, como Ronald diz, lorde Potter é um homem orgulhoso e, por isso, jamais se esforçaria para mudar a opinião que os outros têm sobre ele. Especialmente quando as pessoas foram injustas!
Hermione reprimiu o riso diante da defesa apaixonada que sua amiga estava fazendo do homem que, um dia, temera e condenara. Porém, essa era uma atitude típica de Luna, incapaz de encontrar nem um defeito sequer nas pessoas de quem gostava e, ao mesmo tempo, de admitir alguma qualidade nas que a desagradavam. Tal característica fazia dela a mais leal das amigas, e Hermione sentia-se profundamente grata por contar com aquela amizade inabalável.
— Obrigada — agradeceu a Slughorn, que entrou com uma bandeja de chá.
— Não sei por que eu o achava assustador — Luna falou, enquanto Hermione servia o chá. — Cometi um grave erro ao permitir que minha imaginação turvasse a razão. Acho que, em parte, ele me assustava por ser tão alto e forte e por ter cabelos tão negros. O que é ridículo, claro. Sabe o que ele disse pela manhã, quando se despedia de nós?
— Não — Hermione respondeu, divertindo-se com a urgência de Luna em absolver Harry de seu julgamento injusto. — O que ele disse?
— Que eu o faço lembrar de uma linda borboleta.
— Quanta gentileza.
— Foi mesmo, mas não tão gentil quanto a descrição que ele fez de você.
— De mim? Ora, mas como tudo isso começou?
— Está se referindo aos elogios? Eu disse a ele quanto estava feliz por saber que você iria se casar com um inglês e ficar aqui, pois assim poderemos continuar amigas. Lorde Potter riu e disse que nós duas nos completamos, pois eu o faço lembrar de uma linda borboleta e você é como uma flor silvestre, que resiste às adversidades e ilumina a vida de todos a sua volta. Não foi lindo?
— Muito — Hermione concordou, invadida por um imenso sentimento de satisfação.
— Acho que ele está muito mais apaixonado por você do que demonstra — Luna arriscou. — Afinal, ele duelou por sua causa!
Quando Luna partiu, Hermione já estava quase totalmente convencida de que Harry gostava muito dela. Tal conhecimento foi o responsável por seu excelente humor na manhã seguinte. Quando uma interminável procissão de visitantes apareceu na mansão para lhe desejar felicidades pelo casamento iminente.
Hermione conversava com um grupo de jovens mulheres, quando o objeto da discussão romântica entrou no salão. O riso alegre deu lugar a murmúrios nervosos no instante em que as moças avistaram a figura impressionante do imprevisível marquês de Gryffindor. Vestindo um traje de montaria negro, que o fazia parecer ainda mais bonito e poderoso, ele nem mesmo se deu conta do efeito que exercia sobre aquelas mulheres, muitas das quais haviam acalentado por muito tempo a esperança de, um dia, cativar-lhe o coração.
— Bom dia, senhoritas — cumprimentou-as com um sorriso estonteante, antes de se virar para Hermione. — Pode me dar um minuto?
Hermione se levantou de pronto, pediu licença às visitantes e o acompanhou até o escritório.
— Não vou mantê-la afastada de suas amigas por muito tempo — ele prometeu, enfiando a mão no bolso do paletó.
Sem dizer mais nada, tomou a mão de Hermione e colocou um anel em seu dedo. Ela examinou a jóia. Uma fileira de lindas safiras no centro, ladeada por duas de brilhantes, uma de cada lado.
— Harry, é lindo! — exclamou. — É o anel mais maravilhoso que já vi! Obrigada...
— Agradeça com um beijo — ele lembrou com voz suave.
Quando Hermione se pôs na ponta dos pés, os lábios de Harry capturaram os dela em um beijo embriagante, que lhe drenou toda a resistência. Enquanto ela ainda se recuperava do assalto avassalador, ele a fitou nos olhos e perguntou:
— Acha que, da próxima vez, poderá me beijar sem que eu peça?
O tom de quase súplica derreteu o coração de Hermione. Harry se oferecera para ser seu marido, pedindo pouco em troca. Assim, ela deslizou as mãos pelo peito largo, até alcançar-lhe a nuca e enroscar os dedos nos cabelos negros, ligeiramente arrepiados. Sentiu um tremor sacudir o corpo de Harry quando, com um gesto inocente, roçou os lábios nos dele, em uma exploração lenta e inexperiente da boca que lhe proporcionava sensações tão maravilhosas quando a beijava.
Abandonando-se à torrente de emoções provocadas pelo beijo, Hermione não se apercebeu do volume que crescia de encontro a seu ventre e, em um impulso automático, moldou o corpo ao dele. E, então, tudo mudou. Os braços de Harry a enlaçaram com força inesperada, ao mesmo tempo em que seus lábios se tornavam mais exigentes. Um instante depois, seus corpos se encontravam colados, ardendo no fogo da paixão.
Quando Harry, finalmente, descolou os lábios dos de Hermione, ele a fitou com uma expressão estranha, que mesclava desejo e divertimento.
— Eu devia ter lhe dado safiras e brilhantes, em vez de pérolas, na noite em que ficamos noivos. Mas não me beije desse jeito de novo, até estarmos casados.
Hermione fora advertida pela mãe e pela srta. Sibila de que um cavalheiro poderia se deixar levar por seu ardor, o que o faria comportar-se de maneira indesejada com uma jovem que, erradamente, permitisse que ele perdesse a cabeça. Seus instintos lhe disseram que Harry estava tentando lhe dizer que estivera prestes a perder a cabeça durante aquele beijo ardente. E Hermione não pôde evitar uma pontada de satisfação feminina por saber que seu beijo, mesmo tão inexperiente, era capaz de exercer tal efeito sobre um homem como ele. Especialmente levando em conta que Draco jamais se mostrara tão afetado por seus beijos, embora ela jamais o tivesse beijado da maneira que Harry gostava que o fizesse.
— Vejo que compreendeu o que eu quis dizer — Harry concluiu com um sorriso maroto. — Pessoalmente, não supervalorizo a virgindade. Existem muitas vantagens em se casar com uma mulher que já tenha aprendido a satisfazer um homem...
Esperou por alguma reação de Hermione, mas ela se limitou a desviar o olhar, embaraçada. Afinal, sua virgindade deveria ser o maior presente de casamento para seu marido, ou, ao menos fora isso em que ela acreditara a vida inteira. Portanto, não poderia oferecer a ele a menor experiência em “satisfazer um homem”, fosse o que fosse o significado daquelas palavras.
— Eu... sinto muito... por desapontá-lo — balbuciou. — Na América, as coisas são diferentes.
Apesar da tensão evidente na voz de Harry, suas palavras foram gentis:
— Não precisa se desculpar, nem ficar tão infeliz, Hermione. Nunca tenha medo de me dizer a verdade, por pior que ela possa parecer. Não só aceito, como também admiro sua coragem em dizê-la. — Acariciou-lhe a face com ternura. — Nada disso tem importância. Agora, diga-me se gostou do anel e volte para a companhia de suas amigas.
— Adorei — Hermione falou com sinceridade. — É tão lindo, que já estou morrendo de medo de perdê-lo.
Harry deu de ombros com indiferença.
— Se você o perder, comprarei outro.
Com essas palavras, ele se foi, deixando Hermione a olhar para o anel, desejando que Harry não fosse tão generoso com relação a uma possível perda. Ela gostaria que aquele anel fosse mais importante para ele, além de não tão fácil de substituir. Por outro lado, como prova de afeto, era apropriado, uma vez que ela era pouco importante e igualmente fácil de ser substituída na vida de Harry.
Ele precisa de você. As palavras de Sirius ecoaram na mente de Hermione e ela sorriu ao se lembrar de que, ao menos quando estava nos braços dele, Harry realmente precisava dela. Sentindo-se melhor, voltou ao salão, onde o anel provocou exclamações maravilhadas das amigas.
Nos dias que precederam o casamento, quase trezentas pessoas visitaram Hermione, a fim de lhe desejar felicidades. Carruagens elegantes deixavam seus ocupantes à porta da mansão e voltavam para apanhá-los vinte minutos depois, obedecendo às regras de etiqueta da ton. Enquanto isso, Hermione permanecia no salão, ouvindo matronas sofisticadas que a cobriam de conselhos sobre a difícil tarefa de administrar uma casa e receber convidados pertencentes à nobreza. As mais jovens contavam como era difícil contratar boas governantas e selecionar os melhores professores para os filhos. E, em meio àquele alegre caos, Hermione começou a desenvolver o sentimento de que pertencia àquela vida. Até então, ela não tivera oportunidade de conhecer melhor aquelas pessoas, nem de conversar com elas sobre assuntos que não fossem os mais superficiais. Por isso, estivera inclinada a vê-las como mulheres ricas e mimadas, incapazes de se preocupar com qualquer coisa, exceto jóias, vestidos e diversão. Agora, podia vê-las sob uma nova luz, como esposas e mães dedicadas, sinceramente preocupadas em cumprir suas tarefas de maneira exemplar. E isso a agradava imensamente.
De todas as pessoas que conhecia, somente Harry se mantinha distante, mas ele fazia isso em nome das aparências e Hermione tinha de lhe ser grata, mesmo que tal afastamento às vezes lhe desse a impressão de estar prestes a se casar com um estranho. Sirius descia com freqüência, a fim de receber as visitantes e deixar bem claro que Hermione contava com sua plena aprovação e apoio. Durante o resto do tempo, permanecia em seu quarto, “recuperando as forças”, como costumava dizer, a fim de estar em condições de levar Hermione ao altar. Nem Hermione, nem o dr. Smith foram capazes de dissuadi-lo dessa idéia, Harry nem sequer tentou.
À medida que os dias passavam, Hermione apreciava a companhia dos visitantes, exceto nas ocasiões em que o nome de Harry era mencionado e ela sentia a familiar tensão tomar conta do ambiente. Era evidente que suas novas amigas e conhecidas admiravam o prestigio social que ela teria como esposa de um marquês excepcionalmente rico, mas Hermione tinha a sensação desagradável de que muitas delas ainda guardavam sérias reservas com relação a seu futuro marido. E isso a incomodava porque começava a gostar muito dessas pessoas e queria que elas gostassem de Harry também. Com certa freqüência, enquanto conversava com alguém, ouvia trechos de diálogos envolvendo Harry em outra parte do salão. Porém, tais conversas eram abruptamente interrompidas no momento em que ela lhe dirigia a atenção. O que a impedia de se lançar em defesa dele, pois não sabia contra o que deveria defendê-lo.
Um dia antes do casamento, as peças do quebra-cabeça finalmente se encaixaram, formando um quadro que quase tirou de vez o equilíbrio de Hermione. Quando lady Clappeston, a última visitante da tarde, se despedia de Hermione, deu-lhe um tapinha no ombro e disse:
— Você é uma jovem muito sensata, minha querida. Ao contrário dessas pessoas pessimistas que temem por sua segurança, tenho fé de que saberá lidar com Gryffindor. Você não se parece em nada com a primeira esposa dele. Na minha opinião, lady Cho mereceu tudo o que disse ter sofrido nas mãos dele, e muito mais! Afinal, ela não passava de uma leviana.
Com isso, lady Clappeston se foi, deixando Hermione no salão, sozinha com Luna.
— Primeira esposa? — ela repetiu, chocada. — Harry já foi casado? Por que ninguém me contou?
— Pensei que você soubesse — Luna se defendeu. — Naturalmente, calculei que seu tio, ou mesmo lorde Potter, tivesse lhe contado. Certamente, você ouviu, ao menos, alguns mexericos sobre isso.
— Tudo o que ouvi foram trechos de conversas que se interrompiam no momento em que a minha presença era notada. Ouvi o nome de lady Cho ligado ao de Harry, mas nunca ninguém se referiu a ela como sendo esposa dele. Geralmente, as pessoas falam dela em um tom de tamanha reprovação, que concluí se tratar de mais uma... das conquistas de Harry. Assim como a senhorita Fleur esteve envolvida com ele, até agora.
— Esteve envolvida? — Luna repetiu, surpresa com o uso do verbo no passado.
Então, desviou o olhar com rapidez.
— Naturalmente, agora que vamos nos casar, Harry não vai... ou vai? — Hermione perguntou, como se discutisse consigo mesma.
— Não sei dizer o que ele vai fazer — Luna admitiu. — Alguns homens, como Ronald, deixam de ter casos com outras mulheres quando passam a ter uma esposa. Outros, não.
Hermione massageou as têmporas, profundamente confusa.
— Às vezes, a Inglaterra ainda é totalmente estranha para mim. Na América, os maridos não dedicam atenção ou afeto a mulheres que não sejam suas esposas. Pelo menos, nunca ouvi falar disso. Aqui, ao contrário, pelos comentários que ouvi, é perfeitamente aceitável que um homem casado tenha amantes.
Luna tratou de mudar de assunto.
— O fato de lorde Potter ter sido casado antes é mesmo importante para você?
— Claro! Ao menos, acho que sim. Já não sei. O que me deixou realmente furiosa foi o fato de ninguém da família ter me contado. — Hermione se levantou de súbito, provocando um sobressalto na amiga. — Se me der licença, preciso conversar com tio Sirius.
O valete de Sirius levou um dedo aos lábios quando Hermione bateu na porta do quarto e a informou de que o duque estava dormindo. Perturbada demais para esperar que ele acordasse para responder a suas perguntas, ela se dirigiu ao quarto da srta. Sibila. Nas últimas semanas, a srta. Trelawney praticamente delegara a função de acompanhante para Luna Weasley, de maneira que Hermione pouco via a adorável senhora de cabelos dourados, exceto durante as refeições.
A srta. Sibila mostrou-se alegre por vê-la e a convidou para entrar. Hermione aceitou e as duas se sentaram na confortável ante-sala.
— Hermione, querida, você está mesmo parecendo uma noiva radiante — a srta. Sibila observou com seu sorriso vago e, como sempre, com péssimo julgamento, uma vez que Hermione se apresentava pálida e visivelmente perturbada.
— Senhorita Sibila — Hermione começou, decidida a entrar diretamente no assunto. — Fui ao quarto de tio Sirius, mas ele está dormindo. Assim, a senhora é a única pessoa que pode me ajudar. Trata-se de Harry. Algo está muito errado.
— Meus Deus! Do que você está falando?
— Acabei de descobrir que Harry já foi casado!
— Ora, pensei que Sirius tivesse lhe contado, ou mesmo Gryffindor. Bem, de qualquer maneira, Harry já foi casado. Agora, você já sabe — declarou com naturalidade e voltou ao seu bordado.
— Não sei de nada! — Hermione protestou, exasperada. — Lady Clappeston disse que a esposa de Harry mereceu tudo o que ele fez a ela. O que ele fez, afinal?
— Nada, que eu saiba com certeza. Lady Clappeston foi, no mínimo, precipitada ao dizer isso, pois também não pode saber de nada, a menos que já tenha sido casada com ele, o que não foi. Pronto. Sente-se melhor agora?
— Não! Quero saber por que lady Clappeston acredita que Harry fez mal à esposa. Ela deve ter motivos para pensar assim e, a menos que eu esteja enganada, muita gente pensa o mesmo.
— Provavelmente. A esposa de Harry, que ela descanse em paz, embora eu não veja como possa ter paz depois da maneira como se comportou quando era viva, espalhou aos quatro ventos que Gryffindor lhe dispensava tratamento abominável. Evidentemente, algumas pessoas acreditaram nela, mas o simples fato de ele não a ter assassinado deveria provar que ele é um homem de controle admirável. Se eu tivesse um marido, coisa que nunca tive, e fizesse as coisas que ela fez, que eu jamais faria, é claro, ele certamente me bateria. Portanto, se Gryffindor bateu em Cho, o que não sei com certeza se aconteceu, teve motivos de sobra para fazê-lo. Acredite no que estou dizendo.
Hermione lembrou-se das vezes em que vira Harry zangado, e da fúria contida que reconhecera em seus olhos. Sua mente aterrorizada formou a cena de uma mulher aos gritos, sendo espancada por ele, por ter cometido alguma pequena infração da normas pessoais estabelecidas por ele.
— O que, exatamente, Cho, fez? — perguntou com um fio de voz.
— Bem, não existe uma maneira suave de dizer isso. A verdade é que ela foi vista na companhia de outros homens.
Hermione estremeceu. Quase todas as mulheres casadas de Londres eram vistas na companhia de outros homens. Parecia mesmo ser perfeitamente aceitável que elas tivessem amantes.
— E Harry bateu nela por isso?
— Ninguém sabe ao certo. Pessoalmente, eu duvido. Uma vez ouvi um cavalheiro criticar Harry pelas costas, claro, pois ninguém jamais teria coragem de criticá-lo cara a cara, por ele ignorar o comportamento devasso de Cho.
Um pensamento repentino cruzou a mente de Hermione e ela perguntou:
— Quais foram, exatamente, as palavras desse cavalheiro?
— Exatamente? Bem, já que você insiste... ele disse: ”Gryffindor está sendo traído diante de toda a sociedade londrina, sabe disso muito bem e, ainda assim, ignora o fato e parece aceitar a traição. Está dando um péssimo exemplo as nossas esposas. Se quer saber minha opinião, acho que ele deveria trancar aquela leviana em seu castelo, na Escócia, e jogar fora a chave”.
Hermione apoiou o queixo no peito e fechou os olhos, com um misto de alívio e pesar.
— Traído — murmurou. — Então, é isso...
Pensou em quanto Harry era orgulhoso e em como seu orgulho fora certamente ferido pela infidelidade pública da esposa.
— Gostaria de saber mais alguma coisa? — a srta. Sibila perguntou.
— Sim — Hermione respondeu de pronto, embora não soubesse bem por onde começar.
A tensão em sua voz deixou a srta. Sibila evidentemente nervosa.
— Bem, espero que não seja sobre “aquilo”, porque sendo a parente mais próxima, sei que é minha responsabilidade explicar tudo a você, mas a verdade é que sou absolutamente ignorante no assunto. Acalentei a esperança de que sua mãe tivesse explicado tudo, antes de morrer.
Hermione fitou-a com ar curioso.
— Não sei do que está falando — anunciou com voz cansada.
— Estou falando “daquilo”... é assim que minha melhor amiga, Prudence, chama... “aquilo”. Tudo o que posso fazer é repetir a informação que a mãe de Prudence deu a ela, no dia do seu casamento.
— O que está dizendo? — Hermione inquiriu, cada vez mais confusa.
— Estou dizendo que lamento não ter a informação para lhe dar, mas mulheres de respeito não conversam sobre “aquilo”. Gostaria que eu lhe contasse o que a mãe de Prudence disse a ela?
— Sim, por favor — Hermione respondeu, sem fazer a menor idéia do que a srta. Sibila estava falando.
— Muito bem. Na noite do seu casamento, seu marido vai se juntar a você em sua cama, ou talvez levá-la para a dele. Não me lembro bem dos detalhes. De qualquer maneira, você não deve, em hipótese alguma, demonstrar a sua repulsa, nem gritar, nem desmaiar. Deve fechar os olhos e permitir que ele faça “aquilo”, seja lá o que for. Vai doer, além de ser repugnante e, na primeira vez, você vai sangrar. Mesmo assim, deve fechar os olhos e suportar até o fim. Se não me engano, a mãe de Prudence sugeriu que, enquanto “aquilo” estivesse acontecendo, ela pensasse em outra coisa, como o lindo casaco de pele que ela poderia comprar em breve, se deixasse seu marido satisfeito. Esquisito, não?
Os ombros de Hermione sacudiram de riso provocado pelo humor da situação, bem como pela ansiedade que se formara em seu peito.
— Obrigada, senhorita Sibila. A senhora ajudou muito.
Até então, Hermione não havia parado para pensar nas intimidades do casamento, às quais Harry teria direito e certamente usaria, uma vez que desejava ter um filho com ela. Apesar de ser filha de um médico, seu pai sempre tivera o cuidado de evitar que ela visse determinadas partes da anatomia masculina. Ainda assim, Hermione não era completamente ignorante sobre o processo de reprodução. Sua família mantinha um galinheiro nos fundos da casa e ela havia presenciado o bater de asas e o cacarejar que acompanhava o ato, embora fosse impossível dizer exatamente o que acontecia. Afinal, ela sempre tivera a discrição de desviar o olhar, a fim de proporcionar às galinhas a privacidade necessária para produzirem seus pintinhos.
Uma vez, quando tinha catorze anos, seu pai fora chamado para cuidar da esposa de um fazendeiro, que entrara em trabalho de parto. Enquanto esperava pelo nascimento do bebê, Hermione fora passear no pequeno pasto, onde os cavalos passavam o dia. Ali, ela havia presenciado o espetáculo assustador de um garanhão cobrindo uma égua. Ele cravara os dentes enormes no pescoço da fêmea, mantendo-a cativa e indefesa, enquanto fazia as piores coisas com ela. E a pobre égua berrara de dor.
Visões de asas batendo, galinhas cacarejando e éguas aterrorizadas encheram a mente de Hermione e ela estremeceu.
— Minha querida criança, você está muito pálida e não posso culpá-la por isso — a srta. Sibila falou, piorando ainda mais a situação. — No entanto, pelo que pude compreender, depois que uma esposa cumpre a sua obrigação e dá a luz um herdeiro, um marido dedicado trata de arranjar uma amante para fazer “aquilo” e deixa a esposa em paz.
— Uma amante — Hermione repetiu, pensativa.
Sabia que Harry tinha uma amante e que, segundo os mexericos, tratava-se de uma mulher muito bonita. Também ouvira dizer que ele já tivera dúzias delas, todas muito atraentes. Tratou de repensar seus sentimentos com relação aos cavalheiros da ton e suas amantes. Antes, considerara uma perfídia o fato de todos eles terem outras mulheres, sendo casados. Porém, isso talvez não fosse tão ruim. Ao que parecia, os cavalheiros da ton eram muito civilizados e tinham grande consideração por suas esposas. Em vez de usarem as esposas para satisfazer seus desejos mais básicos, simplesmente arranjavam outra mulher, a instalavam em uma boa casa, com criados e vestidos bonitos, e deixavam as esposas em paz. Sim, concluiu, essa era a solução ideal para o problema. Afinal, as mulheres da ton pareciam pensar assim e, certamente, conheciam o assunto muito melhor que ela.
— Muito obrigada, senhorita Sibila — agradeceu com sinceridade. — A senhorita ajudou muito.
A srta. Trelawney assentiu com um largo sorriso.
— Sou eu quem deve agradecer, querida, pois você fez Sirius mais feliz do que nunca. E Harry, também.
Hermione sorriu, embora não concordasse plenamente com a idéia de que estava fazendo Harry realmente feliz.
De volta a seu quarto, Hermione se sentou diante da lareira e se forçou a compreender os próprios sentimentos e parar de se esconder dos fatos. Não manhã seguinte, ela se casaria com Harry. Queria fazê-lo feliz... queria tanto, que nem sabia como lidar com os sentimentos que a invadiam no momento. O fato de ele ter sido casado com uma mulher infiel fizera brotar simpatia e compaixão de seu coração, além do desejo ainda maior de compensá-lo por toda a infelicidade que tivera na vida.
Inquieta, Hermione se levantou e se pôs a andar pelo quarto, de um lado para outro. Tentou se convencer de que iria se casar com Harry porque não tinha alternativa, mas quando se sentou na beirada da cama, admitiu que isso não era totalmente verdadeiro. Uma parte dela realmente queria se casar com ele. Hermione gostava da aparência de Harry, de seu sorriso, de seu senso de humor. Apreciava a autoridade de sua voz profunda e a confiança que transpirava de suas passadas largas e firmes. Também gostava do modo como os olhos dele brilhavam quando ele sorria para ela. Bem como da maneira como eles se tornavam mais escuros quando a beijava. E Hermione adorava a elegância natural com que ele envergava as roupas e a sensação que os lábios dele provocavam...
Forçou-se a afastar os pensamentos dos lábios de Harry. Gostava de muitas coisas em Harry, coisas demais. Não possuía um bom julgamento no tocante aos homens. A experiência com Draco fora prova disso. Hermione havia se enganado, acreditando que Draco a amava, mas não tinha nenhuma ilusão com relação aos sentimentos de Harry por ela. Ele se sentia atraído por ela e queria que Hermione lhe desse um filho. Gostava dela, também, mas Hermione sabia que ele não sentia nada além de pouco mais que amizade. Ela, por sua vez, corria sério risco de se apaixonar por Harry, mesmo sabendo que ele não queria o seu amor, como havia deixado bem claro.
Durante semanas, Hermione tentara se convencer de que só sentia gratidão e amizade por Harry, mas agora sabia que seus sentimentos iam muito além disso. Por que sentia tamanha necessidade de fazê-lo feliz e de fazê-lo amá-la? Por que experimentara ira tão profunda ao ouvir a srta. Trelawney falar da infidelidade da esposa dele?
Um medo terrível a invadiu. Na manhã seguinte, Hermione entregaria a sua vida nas mãos de um homem que não queria o seu amor, que poderia usar os sentimentos que ela tinha por ele para magoá-la. O instinto de autopreservação advertiu-a para que não se casasse com Harry. As palavras de seu pai ecoaram em sua mente, como vinha acontecendo havia dias: “Amar alguém que não nos ama é como viver no inferno... Nunca deixe alguém convencê-la de que poderá ser feliz ao lado de alguém que não a ama... E jamais ame alguém mais do que essa pessoa a ama, Mione...”.
Hermione fechou os olhos e cerrou os punhos. A razão a advertia para que não se casasse com Harry, pois ele a faria extremamente infeliz. Seu coração, porém, implorava que ela apostasse tudo em Harry, que lutasse pela felicidade pouco além do alcance de sua mão.
A razão lhe ordenava que fugisse, mas o coração suplicava que não fosse covarde.
Slughorn bateu na porta e anunciou com voz carregada de reprovação e desagrado:
— Com licença, lady Hermione. Há uma jovem lá embaixo, aparentemente descontrolada, que chegou sem acompanhante em uma carruagem alugada, alegando ser... bem, sua irmã. Como nunca fui informado de qualquer parente sua residente em Londres, sugeri a ela que partisse, mas...
— Ginny! — Hermione quase gritou e, levantando-se de um salto correu para a porta. — Onde ela está?
— Eu a instalei no salão menor — Slughorn respondeu, com evidente confusão —, mas se ela é mesmo sua irmã, é claro que devo transferi-la para...
Hermione já descia a escada.
— Mione! — Ginny gritou, abraçando a irmã com força, rindo e chorando ao mesmo tempo. — Precisava ter visto a expressão do seu mordomo ao ver a minha carruagem alugada!
— Por que não respondeu as minhas cartas? — Hermione indagou, retribuindo o abraço.
— Porque só cheguei ontem de Bath. Amanhã, partirei para a França, onde deverei ficar por dois meses, para o que vovó chama de “retoques finais”. Ela vai ficar furiosa se souber que vim até aqui, mas eu não podia simplesmente deixar você se casar com aquele homem. Mione, o que eles fizeram para obrigá-la a concordar? Bateram em você? Deixaram você sem comida?
— Nada disso — Hermione garantiu com um sorriso. — Eu quero me casar com ele.
— Não acredito. Está tentando me enganar, pois não quer que eu me preocupe...


Harry reclinou-se no banco da carruagem, enquanto observava as mansões da Brook Street. Seu casamento seria no dia seguinte...
Depois de admitir para si mesmo que desejava Hermione e de ter tomado a decisão de se casar com ela, passara a querê-la com urgência irracional. Seu desejo crescente por ela o fazia sentir-se vulnerável, pois sabia, por experiência anterior, como o chamado “sexo frágil” podia ser maligno. Ainda assim, era tão incapaz de conter tal desejo, quanto de reprimir a esperança quase infantil de que, juntos, eles poderiam encontrar a felicidade.
A vida ao lado de Hermione jamais seria plácida, pensou com um sorriso maroto. Ela o divertiria, frustraria e desafiaria o tempo todo. Tinha certeza disso quanto do fato de que ela se casaria com ele por falta de escolha. Sabia disso tanto quanto sabia que a virgindade dela fora entregue a Draco.
O sorriso se desfez, Harry havia esperado que ela negasse tal fato, na tarde em que lhe dera o anel, mas Hermione desviara o olhar e dissera: “Sinto muito”.
Ao mesmo tempo em que detestara ouvir a verdade, Harry a admirara por dizê-la. No fundo de seu coração, não conseguia culpá-la por ter se entregado a Draco, especialmente porque compreendia como isso fora acontecer. Era fácil imaginar como uma garota inocente, criada no campo, poderia ser convencida pelo homem mais rico da região de que seria a esposa dele. Depois de tê-la convencido disso, Malfoy certamente não encontrara dificuldade em roubar-lhe a virgindade. Hermione era uma mulher ardente e generosa, que provavelmente se entregaria ao homem a quem de fato amasse com a mesma naturalidade com que dava atenção aos criados, ou afeto a Wolf.
Depois da vida libertina que Harry tivera até então, condenar Hermione por ter perdido a virgindade para o homem a quem amava seria o cúmulo da hipocrisia. E Harry detestava os hipócritas. Infelizmente, também detestava a idéia de Hermione nua, nos braços de outro homem. Draco fora um bom professor, pensou com amargura, quando a carruagem já entrava em sua propriedade. Ele a ensinara a beijar um homem e aumentar seu ardor, pressionando o corpo contra o dele...
Afastou da mente os pensamentos dolorosos e saiu da carruagem. Draco era um capítulo encerrado na vida de Hermione, disse a si mesmo. Ela o esquecera ao longo das últimas semanas.
Bateu na porta, sentindo-se um tanto tolo por ir procurá-la na véspera do casamento. Não tinha motivo para visitá-la, exceto pelo prazer que o simples fato de vê-la lhe proporcionava. Pretendia, também, deixá-la feliz ao informá-la sobre o pônei americano que providenciara que fosse enviado para a Inglaterra em um de seus navios. Seria um de seus presentes de casamento e a verdade era que Harry mal podia esperar para vê-la mostrar suas habilidades em montaria. Sabia que ela ficaria linda, inclinada sobre o dorso do cavalo, os cabelos esvoaçando ao vento...
— Boa noite, Slughorn. Onde está lady Hermione?
— No salão amarelo, milorde, com a irmã.
— Com a irmã? — Harry repetiu, sorrindo pela surpresa. — Ao que parece, a velha bruxa suspendeu as restrições para que as duas pudessem se encontrar.
Feliz pela oportunidade de conhecer a cunhada, Harry foi diretamente até o salão e abriu a porta.
— Eu não poderia suportar — uma jovem lamentava, com o rosto escondido por um lenço. — Fico feliz por vovó ter me proibido de assistir ao seu casamento, pois não poderia ficar ali, parada, vendo você entrar na igreja, fingindo que ele é Draco...
— É evidente que cheguei em um mau momento — Harry declarou.
A esperança secreta que ele acalentara de que Hermione realmente quisesse se casar com ele teve uma morte súbita e dolorosa diante da descoberta de que ela teria que fingir que ele era Draco, a fim de poder entrar na igreja.
— Harry! — Hermione exclamou, aflita ao se dar conta de que ele ouvira as bobagens que a irmã insistia em proferir. Recuperando a compostura, estendeu a mão para ele e sorriu. — Estou tão feliz que esteja aqui. Por favor, deixe-me apresentá-lo a minha irmã. — Sabendo que não haveria um modo de suavizar a situação com uma mentira, Hermione decidiu contar a verdade: — Ginny ouviu alguns comentários desagradáveis feitos por lady Bones, a acompanhante de nossa bisavó, e formou a impressão absurda de que você é um monstro cruel. — Ao ver Harry erguer uma sobrancelha, com expressão irônica, para Ginny, Hermione virou-se para a irmã. — Ginny, quer fazer o favor de ser razoável e permitir que eu, ao menos, lhe apresente lorde Potter, para que você veja por si mesma que ele é um bom homem?
Cética, Ginny ergueu os olhos para o homem de expressão fria que pairava sobre ela, ameaçador. Então, ela se levantou e o fitou com ar de desafio.
— Lorde Potter, não sei se o senhor é um bom homem ou não. No entanto, quero avisá-lo de que se ousar fazer mal a minha irmã, não terei o menor escrúpulo em matá-lo. Fui clara?
— Perfeitamente.
— Nesse caso, como não é possível convencer minha irmã a fugir deste casamento, devo voltar à casa de minha bisavó. Boa noite.
Com isso, Ginny saiu, seguida de perto por Hermione.
— Ginny, como pôde ser tão grosseira?
— Prefiro que ele me considere grosseira, pois assim não vai pensar que pode abusar de você, sem pagar caro por isso!
Hermione revirou os olhos, despediu-se da irmã e voltou para o salão.
— Sinto muito — lamentou, constrangida, vendo Harry parado diante da janela.
— Ela sabe atirar? — ele perguntou por cima do ombro.
Nervosa, Hermione sacudiu a cabeça.
— Ginny tem uma imaginação muito fértil e se recusa a acreditar que não estou me casando com você só por estar furiosa com Draco.
— Não está?
— Não.
Harry virou-se para encará-la com olhar gelado.
— Quando entrar na igreja, amanhã, Hermione, o seu precioso Draco não vai estar a sua espera no altar. Eu estarei. Lembre-se disso. Se não é capaz de encarar a realidade, não compareça ao casamento.
Harry fora até lá na intenção de contar a ela sobre o pônei, de fazê-la rir, mas saiu sem pronunciar nem mais uma palavra.

N/A: Respondendo a pergunta da Pah Potter, eu tbm tenho dificuldade de encontrar os livros da Judith, por isso leio boa parte em e-book, é um pouco cansativo ler assim, mas pelos livros dela vale a pena, rsrs!
E a Gina hein, será que o descontrole dela vai atrapalhar esse bendito casamento? Veremos!
Bjs, e comentem!

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