Afinal, o começo



- NÃO!...

O grito de terror das profundezas escuras do desespero, foi o que acordou Harry pela, o que ele não tinha certeza, quinta vez naquele verão.

Não pôde segurar o grito assustado, os pesadelos estavam finalmente deixando o garoto exausto, sentia-se muito mais descansado quando passava a noite acordado esperando o amanhecer do que dormir e se ver novamente diante dos seus sonhos onde sempre estava tão indefeso.

Num dos quartos ao lado, Harry ouviu um muxoxo de impaciência. Tio Válter desistira de ralhar com o sobrinho pôr acorda-lo com seus gritos durante a noite, de fato, não que ele tivesse desistido, mas o garoto tinha certeza que a razão para a ausência de reclamações tinha a ver com as ameaças de Olho-Tonto de que, se Harry não estivesse satisfeito, ele iria até a casa do garoto tomar satisfação com o tio.

Harry continuou deitado em sua cama, com certeza não iria dormir novamente, sentia-se totalmente acordado agora. Tentou não se lembrar do sonho, mas sua mente praticamente obrigava o garoto a rever as cenas do seu pesadelo. “Não pense, não pense, esqueça o que viu seu idiota!” dizia com severidade a si mesmo. Mas era mais forte do que sua vontade e seu medo de rever as cenas.

Via-se no centro de uma roda composta pôr pessoas de capuzes pretos. Parecia cansado e prestes a perder os sentidos. Deitado de costas pôde observar melhor o lugar onde se encontrava. Árvores tão altas que encobriam a luz trazida da lua cheia, sentia olhares observando-o, mas o garoto sabia que eram os olhos pôr traz dos capuzes. De fato, estava na Floresta Proibida, mas o garoto não se lembrava de nenhum lugar na Floresta que tivesse outra cabana a não ser a de Hagrid, e Harry podia ver pelo canto do lado esquerdo uma pequena cabana parecendo muito velha e prestes a ruir, exatamente como Harry se sentia. Não tinha a menor idéia de como fora parar ali, tinha certeza que estava perto de Hogwarts, mas nada o fazia lembrar aquele lugar. Arquejava com dificuldade como se tivesse duelado, sentiu um movimentação vinda do mesmo lado da pequena cabana, e o garoto sentiu uma pontada na cicatriz, não tão forte agora, mas o sinal necessário para saber quem estava ao seu lado. Voldemort caminhava lentamente para ele, como se estivesse tentando gravar cada passo em sua memória, era o que ele esperara a longos 16 anos. Harry Potter estava finalmente em suas mãos, indefeso. O que realmente assustava o garoto, não era saber o que se passava exatamente na mente do seu inimigo, mas sim, a sua total vulnerabilidade sobre o homem que se aproximava.

-Harry, Harry. Vamos ser realistas, você não é idiota. Sabe que esta a um passo de virar um fantasma, não... não um fantasma. Tivemos muitas provas de que a morte para você, não é motivo de se ter medo, não é mesmo? – um sorriso branco apareceu no rosto ossudo de Voldemort e os comensais o acompanharam em sua alegria – Eu me pergunto, onde encontraria a versão inteira da profecia a qual você fez-me o favor de destruir? Bom, eu mesmo respondo. Direto da fonte, não é mesmo Harry! Vamos garoto, não estou pedindo, estou comunicando que você irá me dizer exatamente o que Dumbledore lhe disse sobre a profecia. Vamos, FALE!
Harry só escutava com a metade da atenção. Todas as forças que lhe restavam ele usava para se concentrar em um único pensamento. “Que Rony e Hermione tenham chegado ao castelo, que Rony e Hermione tenham chegado ao castelo” era como se pensasse nisso com todas as suas forças os amigos realmente teriam chegado onde o garoto estava pensando. Era muito importante e Harry não sabia explicar. Era a coisa que ele mais precisava em todo o mundo, daria sua vida por isso, Rony e Hermione simplesmente tinham que chegar ao castelo.

As coisas ao seu redor não tinham melhorado muito quando ele resolveu se concentrar sobre o que estava acontecendo. A última coisa que ouviu foi a voz de Voldemort dizer:

-Muito bem, você precisa de mais persuasão, não é! Bom, você a terá! – virou-se para alguns comensais ao fundo e ordenou – Levem-no! Vamos para o castelo.

E foi ai que Harry gritou “não” e acordou banhado de suor. Não gostava desses sonhos, eram sempre angustiantes e lhe davam medo. Com uma pontada de culpa, percebeu que sentia curiosidade também. O que realmente eles iriam fazer no castelo, será que estavam realmente na Floresta Proibida? E por que... por que Rony e Hermione tinham que estar no local onde Voldemort e os comensais estavam indo e Harry desejava com tanto desespero que eles estivessem lá.

Harry pegou seus óculos e contemplou a mancha de mofo no teto do seu quarto. Tentou analisar este novo sonho, já que a oclumência se tornou totalmente desnecessária ao garoto no momento em que nunca conseguia livrar a mente de todas as emoções que sentia. Já tivera sonhos em que participara vivamente, temia que esses fossem obra de Voldemort, pondo em sua cabeça para o que lhe esperava no futuro ou simplesmente um plano do bruxo para finalmente enlouquecer o garoto de vez . Harry sabia que Voldemort não tinha consciência de toda a profecia, ele sabia o necessário para mata-lo, mas sem saber o final dela, foi o que fez Voldemort se esconder totalmente fraco por 14 anos. Não gostava da idéia de ter pensado em seus melhores amigos no sonho, o último lugar que Harry queria que Rony e Hermione estivessem, seria onde Voldemort estivesse, e parecia que o bruxo estava indo de encontro aos amigos do garoto, para seu desespero. E ele se viu tão fraco e cansado, onde fora parar sua varinha numa hora daquelas, e, afinal, onde estava aquela força que Dumbledore disse no semestre passado que existia dentro de Harry. Uma força tão grande que ultrapassa a morte, ultrapassa as forças da natureza e a capacidade do homem. Harry não sentia força nenhuma dentro dele deitado em sua cama com os piores lençóis que os Dursley possuiam.

-De uma vez por todas.... pare de pensar! Disse com mais severidade a si mesmo e com uma voz rouca, mas era praticamente impossível, era como se sua mente tivesse vida própria e obrigava o menino a ver seus sonhos ainda que acordado. Sentou-se na cama e encolheu as pernas junto ao corpo. Já estava amanhecendo e Harry decidiu que as poucas horas que dormiu foram necessárias para descansar. Logo, se viu novamente pensando nos sonhos, pulou da cama num salto e começou a ajeitar suas coisas freneticamente, como se não houvesse nada mais importante do que arrumar um monte de pergaminhos e jornais espalhados pela mesa.

Viu alguns de seus cartões de aniversário enviados naquele ano, desta vez tinham mais do que de costume, já que os membros da Ordem da Fênix também desejaram a Harry um feliz aniversário. Mexendo mais um pouco, Harry encontrou alguns jornais do começo do mês, tinha um olhar feroz para eles.

Depois que o Ministério da Magia tinha tomado conhecimento do retorno de Voldemort, Harry pensou que o Profeta Diário iria publicar noticias sobre os feitos de Você-sabe-quem e esperava ler várias matérias sobre a procura dele e a recaptura de comensais que ainda estavam soltos, mas, ao invés disso, na opinião de Harry, o Profeta decaiu mais ainda. Nos jornais diários, vinham machetes sobre o que o Ministério estava fazendo para “proteger” os bruxos nascidos trouxas, pois na opinião deles, a prioridade de Voldemort agora, seria capturar, torturar e matar todos os nascidos trouxas da população bruxa, passando depois para os trouxas. Pessoas eram tiradas de suas casas e escondidas em lugares onde ninguém sabia a não ser o Ministério que afirmava ter usado todo tipo de magia avançada para protege-los. Os que se recusavam a ir, eram expulsos pelos vizinhos. Apesar de estarem decepcionados por terem sido informados de que estavam a salvo quando na verdade o maior bruxo das trevas estava a solta, não deixavam de dar razão ao Ministério quando diziam que os nascidos trouxas eram um alvo para Voldemort e que todos estariam expostos ao perigo se não separassem os bruxos, causando, assim, uma onda de preconceito que jamais fora vista no mundo bruxo. Aqueles que eram nascidos trouxas estavam sendo escorraçados pelos que se julgavam puro-sangue, o que na opinião de Harry foi o maior erro que o Ministério da Magia poderia ter feito. Fazer com que a mente dos bruxos funcionassem como a de Voldemort, no momento em que acreditam que bruxos de puro-sangue, deviam reinar no mundo mágico.

Tinha lido algumas notas sobre o esforço de Dumbledore para impedir que os nascidos trouxas fossem isolados, afirmando que todos estariam em mesmo perigo e que uma atitude de preconceito só iria dificultar as relações entre os bruxos, facilitando, assim, a entrada do poder de Voldemort. Se todos lutassem juntos sem a preocupação de onde vinha o sangue do companheiro, teríamos chances que não tivemos nos anos que Voldemort estava no controle e espalhava o terror. Fudge, que ao que parecia a Harry, continuava com medo de que Dumbledore tirasse seu cargo, afirmava que sua decisão era a certa e que estava salvando todos os nascidos trouxas do mundo mágico.

Viu alguns livros espalhados e rascunhos de cartas à Ordem para dizer que estava tudo bem com ele. Penas e pergaminhos espalhados. Penas... parecia as de Bicuço... Bicuço... foi nele em que Sirius fugiu quando o garoto fazia o 3º ano... Sirius. Tratou logo de tirar a pena de sua frente e pegar novamente as folhas soltas do Profeta Diário para observar uma propaganda de promoção de Livros Usados e Inúteis, Meu Eu Mágico de Gilderoy Lockhart, por somente 3 nuques. Desde que voltara para a Rua dos Alfeneiros, Harry se obrigava a pensar em tudo, até em seus pesadelos, qualquer coisa que não fosse Sirius. A dor e a solidão que sentia desde que chegara a casa dos tios era tanta que chegava a doer. Não podia suportar a idéia de que fora um dos causadores da morte do padrinho e nada que lhe dissessem podia convence-lo do contrário. Na primeira noite que passou em seu quarto na rua dos Alfeneiros, Harry mal dormiu, fez uma jura a si mesmo, “Da próxima vez, vou escutar Hermione.” A amiga lhe alertara tanto de que Voldemort estava tentando persuadir Harry até o Departamento de Mistérios, de que era impossível que Sirius estivesse lá. Se Harry ao menos a tivesse escutado, se ao menos tivesse o bom senso de perceber que era exatamente o plano que Voldemort faria. Mas já era tarde demais. Sirius se fora para nunca mais voltar, e por parte sua culpa, e outra parte, culpa de Belatriz. O rosto da prima do padrinho também assombrava os sonhos de Harry, dizendo que ele era incapaz de matar uma mosca, que nunca iria sair vivo do próximo encontro com Voldemort.

Diante das várias coisas que tiravam a concentração de Harry durante os trabalhos mais simples que realizava em casa - como enxugar os pratos, se tornara tão impossível enxuga-los sem quebrar pelo menos uma xícara que tia Petúnia resolveu parar de usar o garoto para trabalhos domésticos - era a idéia de que tinha de matar Voldemort ou morrer em suas mãos. Via-se imaginando em um duelo mortal sem saber o que fazer, não sabia usar a maldição Avada Kedavra, como seria possível mata-lo. Como ele, Harry, iria virar o assassino do assassino dos seus pais? Teria que pedir para Dumbledore ensinar ao garoto a maldição imperdoável? De fato, o que Dumbledore esperava que Harry fizesse quando chegasse o momento em que ele e Voldemort finalmente se encontrariam para o duelo final, quando isso iria acontecer. Nos sonhos que teve Voldemort não o matava, ele sequer sabia a profecia toda, mandava que Harry lhe falasse, porque simplesmente ele não o matava, mesmo que fosse em sonho.

Harry por várias vezes se via pensando em situações como essa e sentia-se completamente desesperado diante de suas perspectivas de continuar vivo até completar a maioridade. Tio Válter com freqüência reclamava - ainda que de tom baixo como quem pede desculpas - dos devaneios do sobrinho que estava sempre parado a um canto olhando para o vazio e pensando, ao que dizia o tio, na morte da bezerra. Harry não pode deixar de reparar que tia Petúnia não fazia nenhuma objeção ao comportamento do garoto, isso quando não envolvia seus pratos. Ficava calada aos protestos do marido e parecia ficar temporariamente surda as reclamações de Duda para com o primo. Harry suspeitava que a tia, milagrosamente resolveu cessar com a freqüente guerra com o garoto devido aos acontecimentos no mundo bruxo, parecia que somente ela e Harry dentro daquela casa sabiam a gravidade da volta de Voldemort e o seu reconhecimento ao Ministério. Em um fim de tarde de Sábado, logo quando Harry voltou de Hogwarts, tomou um susto quando entrou no seu quarto e deparou com tia Petúnia lendo artigos do Profeta Diário sobre as façanhas de Voldemort no passado. Os dois se entreolharam com lívido terror e surpresa e a tia se retirou mais rápido do quarto quanto um pomo de ouro voando por um campo de quadribol. Os dois fizeram um pacto silencioso de não mencionar esse encontro.

Largou-se na cadeira mais próxima sentindo-se exausto devido as poucas horas conturbadas de sono. Cada dia era uma luta contra si mesmo para tentar viver normalmente. Mirou a janela que já estava totalmente iluminada pelo sol da manhã e percebeu os ruídos vindos do andar de baixo e da rua além da sua janela. Contemplou tristemente as crianças trouxas da vizinhança brincando na rua e sentiu uma pontada de inveja. Como seria bom ter uma vida simples.

- Dumbledore tinha razão – disse para si mesmo – é uma grande responsabilidade e é um peso maior do que eu posso suportar.

Virando-se para a porta do quarto e lembrando saudoso dos tempos em que não tinha a preocupação de que teria que virar um assassino para sobreviver, desceu as escadas e encaminhou-se para a cozinha tomar o café da manhã.

Mal sabia Harry, que esse, era o menor dos seus problemas. Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado cuidara disso.

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