O dia em que as almas se separ

O dia em que as almas se separ



Capítulo VI - O dia em que as almas se separam

“Todo ser vivo criado pelos deuses tem três almas. Alguns são incompletos, mas esse acontecimento é raro e aleatório. O fato principal é que o nirvana humano acontece quando se consegue entender e usar as três almas. A alma boa é responsável pelo caráter bondoso e pelos variados tipos de amor. A alma má é responsável pelo instinto assassino e pelo senso de destruição. A alma mista é responsável pelo senso de justiça.
Sabe-se que alguns poucos humanos conseguem separar a alma mista em duas. Neste dia o ser humano passa a ter quatro almas. Duas boas e duas más. Cada alma concede uma habilidade diferente. Ao se ter três almas tem-se três habilidades, porém quando separa-se a alma mista perde-se o poder por ela concedido, entretanto ganha-se dois novos poderes que são adicionados aos outros dois.
Há um método muito eficaz e desconfortável de saber-se uma das habilidade concedidas antes de tê-la. Um importante aviso é de que o processo só pode ser feito uma vez por pessoa e só descobre uma das habilidades.
Existem pesquisas sobre o assunto que dizem que só os humanos podem separar a alma mista. Elfos normais, negros ou do céu e anões só recebem três dos poderes. Estes seres não têm o potencial extraordinário de separar a alma mista. Os religiosos dizem que este é um presente dos deuses. Outros dizem que é por causa da cadeia de evolução. Humanos são, supostamente, a raça primária criada pelo deus da justiça. Os elfos são uma evolução dos seres humanos e, dizem, é a criação do deus da bondade. Os elfos negros, raça que vivi em grutas como os anões e são como nenhuma outra raça, foram criados pelo deus da morte. A raça dos elfos do céu, raça similar a elfica, mas com asas de forma variada que variam de asas de insetos até asas de aves, foi uma criação do deus do amor. A raça guerreira por natureza, a raça anã, foi uma criação do deus da destruição. Detalhe: quem criou não tem nada a ver com se a raça é boa ou má, mas os elfos negros sofrem um imenso pré-conceito por terem sido criados por um deus mau.
Os poucos que conseguiram a separação da alma mista sem morrer eram participantes do antigo grupo de viajantes: YOA.
Assinado: Daryl(mago andarilho), Khamyl(maga branca), Talo(espadachim), Bobby(ninja), Togu(togu...), Eddy(atirador), Aron(invocador de monstros), Hikaro(druida) e Reyarth(caça tesouros).”
-Bem interessante. Estou quase entendendo sobre as almas...
-Achei que ele fosse demorar mais um pouco para desmaiar.
-Não, tinha que ser rápido, ou então ele ia ficar berrando por respostas.
Enquanto caia perdendo a consciência consegui escutar algumas palavras do velho Talo e de meu pai. Ao acordar eu estava em um lugar escuro. Senti que estava sentado em uma cadeira e, ao que parecia, tinha outra cadeira com alguém.
-Quem está aí?
-Você não reconhece quem sempre esteve com você?
-Eu não lhe conheço, esquisitão. Mostre o rosto, agora!
-Sempre verbos no imperativo, hein? Isso você redou de mim, com certeza.
-Você é meu ancestral?
-Não ao exato. Eu nunca tive carne nem sangue para ser pai ou filho de alguém.
-Não entendi muita coisa, esquisitão.
-Eu não sou tão fácil de se entender. Faça uma forcinha, Kharyl.
-Onde eu estou?
-Você é tapado?! Pensa anta!!
-Não me trate mal! Quem é você?
-“Não me trate mal”, você até parece uma criancinha. Você sabe onde estamos. Você sabe quem eu sou. Você sabe de tudo.
-Certo. Se eu acertar quem você é e onde estamos, o que eu ganho?
-A chance de respostas minhas.
-Esta é uma realidade inexistente criada dentro da minha cabeça e você é uma das minhas almas, arrisco dizer que é a má.
-Sabia que você estava mentindo.-neste momento ele aproximou-se e eu pude ver a pessoa com que falava.
Um homem de estatura mediana com uma roupa que caia bem nele. Um terno feito, provavelmente, a mão. Uma flor no bolso do terno. Luvas bem apertadas nas mãos. A máscara cobria apenas a face do homem, deixando ver o longo cabelo solto azul. Uma máscara lisa feita de madeira. Branca e com apenas um certo algo quebrando o padrão perfeito. Uma rachadura na parte direita da face. Uma rachadura que ia da testa até em baixo do nariz. O jeito de falar e os gestos lentos davam um ar de sapiência e seriedade, porém davam medo e apreensão, tudo ao mesmo tempo. O jeito de sentar mostrava classe e boa educação. Ele apoiava o rosto coberto pela máscara com a mão direita, e com a esquerda segurava com força o encosto da cadeira. Até parecia nervoso! Nervoso em falar comigo, que era o fruto das almas. Se ele era uma das almas, meu caráter tinha uma parte d’ele e nós poderíamos nos entender facilmente.
-Vai ficar só me olhando, ou vai perguntar algo?
-Vou perguntar. Como posso conseguir o poder de vocês almas que me compõem?
-Bem, livrando-se das tendências e encontrando as pedras que representam nosso jeito de ser ajuda.
-Como assim tendências?
-As almas rezam que você deve ser de uma certa forma. Seu jeito de ser deve ser um pré-dito pelas suas almas. O problema é que com o tempo e a vida certos acontecimentos fazem você mudar seu jeito de ser. Isso desvia o caminho de alcançar nossa ajuda. Por exemplo: hipoteticamente, você deveria ser uma pessoa alegre, mas sua mãe morreu por sua culpa. Daí você irá ser uma pessoa séria e amargurada, mesmo que suas almas digam o contrário.
-MINHA MÃE NÃO VAI MORRER POR MINHA CULPA! Então eu deveria ser uma pessoa alegre...
-Hipoteticamente.
-Detalhes.
-Só complementando, não finja ou tente ficar sem as tendências. Caso você tente finjir ou se livrar de todas as tendências nós saberemos.
-Interessante, mas então como poderei usar a ajuda de vocês?
-Apenas seja você mesmo. Não perca todas suas tendências nem tenha tendências demais. Apenas não finja, seja você mesmo.
-Por que você está me ajudando?
-É meu dever, eu existo para ser seu apoio e para moldar sua personalidade.
-O papo está bom, mas eu quero acordar.
-É muito engraçado. Eu nunca pude falar com você e ao ter uma chance você faz isso? Você não sabe o tédio de não poder conversar com ninguém.
-Calma! Calma! Eu volto para falar com você depois, mas eu me lembrei de algo importante. Que pedras eram aquelas que você mencionou?
-As pedras ajudam no começo. Só o que posso dizer é que a minha pedra é a Ágata sangrenta e talvez não haja uma segunda vez para que eu possa falar com você.
-Então vamos continuar. Como posso encontra esta tal de Ágata sangrenta?
-As pedras são cedidas pelos deuses para você caso você tenha uma alma pura e faça algo que tenha a ver com a capacidade que a alma lhe dá.
-Alma pura? Eu sou bonzinho, tenho uma alma pura!
-A alma pura não é exatamente uma alma boa. A alma pura é a alma livre das tendências.
-Realmente interessante. O que mais você sabe?
-Eu só sei o que você sabe e o que toda alma sabe.
-Você esconde o rosto com a máscara, mas por que?
-Quando estou na minha forma verdadeira, minha forma máxima eu não posso mostrar o rosto. Só poderei me comunicar com você assim. Quando você me chamar eu poderei assumir outras formas, mas para conversar com você, eu repito, só assim.
-Por que apenas você veio falar comigo?
-Porque o momento era próprio para mim. O seu desespero, dor e raiva me chamam. Caso você estivesse alegre, feliz ou amando, quem viria seria o outro.
-Mas não são três almas? Não seria um dos outros?
-Você é a alma mista, nós dois somos seus anjos da guarda, ou algo assim. Chame como quiser, mas o normal é que nos chamem de guardiões.
-Você poderia me dizer qual capacidade você me dará?
-Não, eu também não sei. Só o ritual que seu pai sabe fazer pode dizer uma das habilidades precisamente. Só uma das habilidades, a minha, a do outro ou a sua própria, a mais forte.
-A minha habilidade é a mais forte?
-Lógico. Ela é sua, você não usa o poder de outro.
-Eu ouvi falar uma vez sobre itens que tem alma. Para isso não é necessário uma morte?
-Sim. Os itens com alma usam almas presas neste mundo. Almas, em sua grande maioria, de pessoas muito más. Quando estas almas entram no item em questão, as memórias são apagadas e elas têm uma chance de viver outra vez e ter redenção de seus pecados.
-Que tipo de magia usa-se para atrair uma alma para um item?
-Eu não sei. Eu só sei o que você sabe. Só um detalhe: os itens não tem alma, mas sim espíritos.
-Qual a diferença?
-Alma é quando esta dentro de um corpo, quando esta vivo. Espírito é quando já morreu mas esta preso neste mundo ou quando nunca teve corpo. Basicamente são a mesma coisa. A diferença é que alma está em um corpo e o espírito não.
-Você disse que só sabia o que eu sabia.
-Você sabe disso instintivamente.
-Muito bem. Agora eu vou embora. Como eu saio daqui?
-Eu que ti tiro daqui. Feche os olhos.-quando eu fechei meus olhos não aconteceu muita diferença, já que estava tudo escuro. Senti como se estivesse caindo, mas não abri meus olhos.
-Ele acordou, Daryl.
-Ótimo. Como você está?
-Estou bem. Só com um pouco de dor de cabeça. Quanto tempo passou?
-Desde que você caiu, só uns trinta segundos.
-Achei que você ia demorar mais um pouco, então eu me sentei ali.
-Onde estão os outros?
-No salão principal, vá vê-los. Eles devem estar com muitas saudades de você.
-Com licença.-fui em direção a casa. Eu precisava tirar aquela barba de três anos.-Talo?
-Sim.
-Meu identificador e se possível meu báculo.
-Vou pegá-los. Onde eu te encontro?
-Provavelmente eu te encontre.
Depois de retirar a barba e colocar uma roupa melhor, fui devagar em direção ao portão da mesma forma que alguns anos atrás. O pátio estava desértico. A bela fonte de sempre ainda estava lá. As árvores continuavam as mesmas. Tudo estava o mesmo, até eu. Eu tinha perdido três anos da minha vida. Tinha que recuperá-los ao meu modo. Estava sentado em um banco em frente a fonte, contemplando-a. Um som me chamou a atenção. Passos apressados. Era Ana que vinha junto com os outros.
-Kharyl! Que bom que você esta bem!
-É cara! Já se passou tempo demais.
-Oi.
-Gente, tenho que dizer algo para vocês. Eu tenho que colocar minha cabeça no lugar.
-Como assim, Kharyl?-falou com um tom triste, até parecia que ela tinha entendido o que eu ia dizer...
-Eu vou numa aventura solo. Vou passar um ano em um outro continente. Enquanto eu estiver nesta minha viajem, gostaria que vocês continuassem suas vidas sem se lembrar de mim.
-Mas Kharyl, nós estávamos preocupados com você, cara!
-É.
-Já passamos muito tempo sem te ver!
-Agora vocês sentirão uma falta boa. Vocês sabem que eu vou voltar e sabem quando.
-Mas...
-Gente, entendam. Eu perdi três anos da minha vida. Eu tenho que voltar a vida!
-Mas você nunca morreu!
-Para mim, eu morri.-me virei e fui em direção ao meu pai.-Pai, eu quero fazer aquele ritual que diz um dos poderes concedidos pelas almas.
-Você não agüentaria.
-E daí?
-Kharyl! Já que você nos deixará por um ano, pelo menos receba nosso presente.-Bobby tirou da mochila, que eu não tinha percebido estar lá, um lindo violino vermelho.
-Estradivárius!(n/a: não sei escrever o nome corretamente porque ele é estrangeiro, daí eu abrasileirei)
-Compramos para você. Nós guardamos muito dinheiro durante esses três anos.
-Muito obrigado. Eu não ia esquecer vocês de qualquer forma mesmo. É um belo violino e é o melhor que existe, sabiam?
-Lógico, se não, não tínhamos comprado esse!
-Agora eu tenho que ir.-fui com o meu pai, que tinha aceitado fazer o ritual, para uma sala especial. Não lembro como era o ritual, mas lembro que foi muito doloroso, como se arrancassem de mim uma das almas. Quando acordei do desmaio inevitável de dor, meu pai trouxe o resultado sobre o ritual.
-Só o que consegui foi isso: “o portador desta alma terá as asas do destino e junto com isso o poder de mudar a história do mundo”.
-Você entendeu algo?
-Não. Normalmente eles falam algo como: um raio desintegrante, ou : o poder de voar. É bem mais fácil.
-E esse é o poder de qual alma?
-Aparentemente dá boa.
-Que legal, eu queria saber o poder da má.
-Como?
-Eu conversei com a minha alma má.
-Isso significa que você esta em sintonia com ela. Talvez você esteja diminuindo a taxa de tendência.
-Ótimo, tem taxa agora, é?
-É só uma forma de contabilizar as tendências. Se você esta quase em sintonia perfeita com a alma má e não chegou nem perto da boa, deve estar em 70%.
-Me explica isso direito.
-Você tem duas almas. 100% significa 50% de tendência em uma e 50% de tendência na outra. Você esta se sintonizando com uma d’elas e a outra ainda esta fora do seu alcance, daí 50% na boa e 20% na má.
-Estou tão próximo assim da má?
-É o que parece. Não vou impedi-lo de ir nessa sua viajem, mas se você disse que vai passar um ano fora, são seis meses de ida e seis meses de volta. Você não vai passar nem um dia no continente onde você vai?
-Eu não vou de barco. Eu vou dar meu jeito- falei com um sorriso no rosto.
Fui até uma praia deserta munido do meu báculo que peguei com Talo e meu identificador. Coloquei o identificador no cabelo e comecei a me concentrar. Todos estavam observando minha partida. Tinha que dar certo.
-Eu sei que você me escuta. Você está comigo para me dar uma ajudinha. Preciso de você agora.
-Que que tu tanto fala sozinho?
-É uma das almas?
-Não, é o identificador.
-Estou tentando contatar minhas almas para me ajudarem. Não atrapalha.
-Eu estou aqui para ajudá-lo está lembrado?
-Em que você pode me ajudar, então?
-Você deseja contatar suas almas?
-É.
-Então você não conseguirá.
-Por quê?
-Para conseguir o poder você deve ter o poder, não desejá-lo. Exatamente como você fez com os ladrões.
-É. Eu fiquei estranho, bem mais forte e rápido.
-Qualquer alma que você chame você ficará mais forte, rápido e tudo mais.
-Então eu poderia ter usado o poder da alma n’aquele momento?
-Com certeza.
-Se aquela era a alma má, eu posso chamá-la mais uma vez.
-Você nem sabe chamar as almas!
-E daí? Eu sou amigo do esquisitão.
-Esquisitão?
-A alma má.
-E é assim que você o chama?
-Ele não tem nome, tem que ser na base do apelido.
-Ele tem nome sim.
-Qual é?
-Uma das formas mais fáceis de chamar a alma pela primeira vez é saber o nome d’ela.
-Mas como eu vou saber o nome do esquisitão?
-Ele sabe o que você sabe, ele pensa quase a mesma coisa que você pensa.
-Então, se eu fosse uma alma guardiã e fosse do mal, com vontade de matar e destruir, qual seria meu nome? O nome saiu de algum lugar que eu já vi.
-E obrigatoriamente de algo exatamente antes de você falar com ele.
-A última coisa que eu vi antes de desmaiar foi a carta. No final da carta... YOA...(n/a: yoa vem do japonês e significa morte instantânea, tipo K.O. do inglês)- uma luz roxa começou a emanar das minhas mãos.
-E agora?
-Bem, você invocou uma das almas. Se for a má você poderá usar o poder d’ela.
-Esquisitão, o que nós podemos fazer?
-Não me chame de esquisitão, sou o outro.-uma voz de criança falou.
-Você é a alma boa?
-Sim. Nós já sabemos o que eu posso fazer por você e eu estive conversando com o Yoa.
-Vocês podem conversar?
-Agora podemos. Eu não gostei muito d’ele e ele não gostou muito de mim, mas vamos trabalhar em conjunto para ajudá-lo. Esse é nosso dever.
-“O portador desta alma terá as asas do destino e junto com isso o poder de mudar a história do mundo”. O que eu faço com isso se eu não entendi?
-Nós também não entendemos. Enquanto você pensa, para onde você vai?
-Penso em ir para o Continente da Licantropia.
-Fazer o que lá?
-Recriar minha história.
-E a do mundo também, não?
-Talvez tenha algo ha ver com isso. O mundo de Lagoon não conhece o outro continente e vice-versa. Talvez eu tenha que mudar isso...-neste momento consegui libertar o poder da alma boa, mas esta cena só será completada em um momento mais oportuno.

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