Relembrando velhos tempos




Capítulo dois: Relembrando velhos tempos

- Meu Deus! – exclamaram Harry e Sarah ao mesmo tempo, um misto de desconforto e saudade expressado em seus rostos.

- Então, gostaram da surpresa? – perguntou Marco animado.

Harry e Sarah engoliram em seco audivelmente, mirando-se incessantemente. Os olhos de Harry percorreram avidamente o rosto da garota, notando as mudanças que o tempo trouxera enquanto percebia que ela fazia o mesmo consigo. A expressão no rosto de Sarah era diferente daquela que ele se lembrava, estava mais madura. Seus cabelos castanhos antes curtos, que anteriormente mantinham-se pouco abaixo das orelhas e deixavam boa parte do pescoço descoberto, agora estavam mais compridos, as madeixas escuras presas na trança desciam pelas costas dela. Os olhos azuis não exprimiam mais a inocência de criança e sim as difíceis provações da adolescência.

Respirando fundo, ele tentou controlar o impulso de abraçá-la e, assim, aliviar um pouco da saudade que apertava seu peito, sufocando-o. Não podia deixar-se levar pelas emoções, já que, tecnicamente, os dois ainda estavam brigados e ele duvidava seriamente de que um dia pudessem fazer as pazes após a terrível briga que tiveram no passado. Sempre pensara que seria o fim da amizade entre ele e Sarah depois da discussão que os abalara profundamente. Mesmo porque, depois de tantos anos de separação, Harry começou a acostumar-se com a idéia de que nunca mais veria aquela que um dia fora sua melhor e única amiga.

- Não vai nos convidar para entrar, Sarah? – perguntou Marco divertidamente, atraindo a atenção dos dois.

- Ah... – suspirou Sarah tremendo de nervosismo, o coração batendo acelerado – Entrem, por favor.

Harry sentiu a respiração trancar nos pulmões assim que Sarah deu um passo para o lado, cedendo passagem para ele e Marco. O ruivinho tratou de passar por debaixo do braço ainda estendido da prima, sorrindo. Harry, no entanto, estava muito incomodado, achando toda aquela situação extremamente desconfortável. Soltando o ar lentamente pela boca, ele concentrou seus olhos nos de Sarah assim que passou por ela, tocando de leve em seu ombro pelo pouco espaço do vão da porta. Ela tremeu e ele fingiu não perceber, mesmo porque sentira a mesma coisa ao tocá-la após tantos anos.

Nem bem Sarah fechou a porta, virou-se imediata e bruscamente para o primo, os dentes arreganhados, exigindo uma explicação. Harry cruzou os braços, olhando para o chão. Estava infinitamente desconfortável com a situação e sentia uma incômoda sensação na boca do estômago. Já Marco estava divertindo-se imensamente com o desconforto de ambos. Era o único que parecia ver alguma graça no que estava acontecendo, Sarah, aliás, poderia jurar que o menino estava controlando-se para não soltar uma gargalhada, e isso a irritou ainda mais.

- Marco Antônio Evans – disse ela lentamente, os olhos fixos no ruivinho – Você pode me explicar o que diabos está acontecendo?

- Que recepção é essa, priminha? – Marco mirou-a autoritário – Você e Harry não se vêem a o que? Cinco anos?

- Seis – corrigiu Harry, ainda de cabeça baixa. Suas bochechas coraram de leve ao sentir o olhar de Sarah sob si.

- Seis anos! É muito tempo! Vocês pelo menos devem ter uma conversa amigável, se reconciliarem após tantos anos de separação, não ficarem aí com cara de idiota! Andem, façam alguma coisa!– mandou o pequeno, colocando as mãos na cintura.

Harry e Sarah olharam-no fatalmente, fazendo seu sorriso vacilar por um instante, mas voltar a firmar-se no seguinte, acompanhado do olhar triunfante. Harry encarou a amiga em seguida, notando que o olhar dela também estava concentrado no seu. Ambos miravam-se em silêncio. Até que os dois abriram a boca ao mesmo tempo, pronunciando juntos:
-

Eu...
Riram nervosamente, desviando olhar. Harry coçou a cabeça, tomando coragem para iniciar a tão temida conversa. Respirando fundo, ele perguntou sem jeito, sentindo-se um completo idiota:

- Como vai?

- Bem – respondeu Sarah, engolindo em seco.

- Que bom – disse ele de volta.

- Que bom que você acha bom – Sarah acrescentou, estralando os dedos.

- Que tipo de conversa é essa? – reclamou Marco – Estamos na idade das cavernas, por acaso? Sabe, pessoal, o ser humano já adquiriu um vocabulário mais extenso do que meia dúzia de palavras...

- Sai daqui, Marco! Você já se intrometeu bastante! – Sarah espantou o primo da sala, atirando um almofada na cabeça dele.

- Ai! – reclamou o menino, jogando a almofada de volta – É isso que dá tentar ajudar! Eu aqui cheio de boas intenções e você me trata desse jeito?

- Fora daqui! – Sarah disse rispidamente, apontando o dedo para a porta. Harry assustou-se com a grosseria da garota.

- Tá bem, tá bem, já tô indo! – Marco ergueu as mãos para o céu, pedindo paciência aos deuses para aturar os chiliques da prima.

Assim que Marco deixou a sala, subindo as escadas em direção ao andar superior, Harry viu-se sozinho com Sarah. A menina tinha as mãos cruzadas às costas e a cabeça ligeiramente inclinada para baixo, fazendo com que a franja tampasse os olhos azuis. E foi com a voz rouca que ela disse altivamente:

- Desculpe pelo Marco. Ele é um pentelho às vezes, vive me metendo em enrascadas.

- Então quer dizer que eu sou uma enrascada para você? – perguntou Harry, sentindo-se repentinamente irritado. Estava mais arisco que o normal, notou, arrependendo-se ao ver Sarah erguer as sobrancelhas, ligeiramente brava. Afinal, bastara somente um comentário sem importância para aborrecê-lo profundamente, pois ainda estava ressentido com a garota devido a briga de anos atrás. As lembranças da briga com a garota permaneciam frescas em sua memória, afetando seu comportamento.

- Não, mas agora estou começando a reconsiderar minha opinião – respondeu Sarah friamente.

A conversa que começara bem já dava indícios de que acabaria mal. As lembranças da discussão que os afastara permaneciam frescas em suas memórias, viajando como um flash em frente a seus olhos. A face de ambos contorceu-se em fúria enquanto encaravam-se não mais saudosos mais sim raivosos. Sarah ergueu o queixo em desafio enquanto Harry cerrou os punhos, apertando os olhos.

- Eu não quero brigar com você, Sarah. Acho que já esgotamos nossa cota de discussões há seis anos atrás.

- Pela primeira vez na vida eu concordo com você, Potter – ela chamou-o pelo sobrenome, irritando-o com sua cruel indiferença.

- Pois eu discordo de você, Geller – Harry pagou na mesma moeda, fazendo Sarah mirá-lo friamente. – Quando ainda éramos amigos nós discordávamos em muita coisa sim, mas pelo menos nós nos respeitávamos, bem diferente de agora. De uns anos para cá você mudou, Sarah, e para pior...

- E você foi o responsável por essa mudança – ela apontou um dedo acusatório para o peito do garoto, aproximando-se ferozmente dele – Eu já apanhei muito da vida, Harry, mas foi você que me deu as pancadas mais fortes... Você me machucou mais do que qualquer um, você despedaçou meu coração num dos momentos mais difíceis da minha vida!

- E eu sinto muito por isso, mas você tinha me magoado primeiro! Você tornou-se uma pessoa fria, arrogante... Vivia brincando com os meus sentimentos, me magoando. Eu sinceramente não sei o que aconteceu, Sarah, mas eu pensava que quanto nos reencontrássemos tudo iria voltar a ser como antes. Mas vejo que me enganei, não é mesmo? Você continua a mesma garota que me abandonou!

- Eu? Eu te abandonei? Você me abandonou! – Sarah retrucou – Eu era uma criança, Harry! – no calor da discussão, ela nem percebeu que pronunciava o nome de batismo do ex-amigo – Você não podia me culpar pelas decisões que a minha mãe tomou! Eu não queria mudar de cidade, te deixar para trás, mas eu não tive escolha! E a última coisa que eu esperava fosse que, num dos dias mais tristes de toda a minha infância, você fosse brigar, gritar comigo! Me magoar! Sendo que tudo que eu esperava era uma despedida amorosa, um abraço apertado! Como você teve coragem de fazer isso comigo?

- Eu também era só uma criança! Eu fiquei bravo com você quando você me disse que iria embora! Afinal, a minha melhor e única amiga iria me abandonar após passar semanas me tratando como lixo, me ignorando! – Harry mirou-a cheio de rancor reprimido.

- Eu só fiz aquilo por auto preservação – justificou-se a garota, seu olhar endurecido, lutando bravamente para não deixar transparecer nenhuma emoção – Eu sempre fui contra a decisão da minha mãe de que iríamos partir, deixar tudo para trás... Na realidade, eu até hoje não entendi o porquê dela ter feito isso... Eu não queria, Harry, nunca quis! Mas eu não pude fazer nada. A minha opinião não contava em nada, nós não deixaríamos de ir embora porque eu não queria. Eu era só uma garotinha, não tinha querer. E quando eu finalmente descobri isso, eu me fechei numa concha invisível, me isolei das pessoas que amava.

- Por quê? Por que você fez isso? – Harry perguntou, os olhos verdes perdendo o brilho e tornando-se opacos, frios.

- Porque eu não queria que todos vissem a minha fraqueza! – exclamou ela, a voz trêmula. Ao perceber sua gafe, calou-se imediatamente, respirando fundo para acalmar-se enquanto tentava retomar seu tom indiferente.

- Até eu? – ele indagou, a mágoa expressa no olhar.

- Especialmente você! – ela baixou os olhos para que Harry não pudesse descobrir os sentimentos ocultos em seu brilho amargurado – Você era meu melhor amigo! Eu nunca havia demonstrado fraqueza na sua frente e não seria naquele tempo que iria demonstrar! Eu não queria que a última imagem minha para você fosse de uma menina fraca, coisa que eu nunca fui!

- Realmente, você nunca foi fraca, mas eu preferiria que você fosse – afirmou ele, fazendo Sarah erguer os olhos – Você foi a garota mais forte, ambiciosa e poderosa que eu conheci, e olha que você só tinha míseros 9 anos! Mas eu preferiria que você fosse uma menina fraca e feliz do que ser a menina forte a amargurada de seis anos atrás! Aquela garota que desde cedo aprender a esconder os sentimentos, ocultando-os atrás de um comportamento frio e insensível... Aquela garota que nunca chorou na minha frente...

- Correção, Potter: Eu chorei na sua frente, sim! Uma única vez, mas chorei... E você foi o motivo desse choro, você! – Sarah disse num tom superior – E, te conhecendo como eu te conheço, tenho certeza que você gabou-se de ser a única pessoa capaz de derrubar a “marulha” Sarah, não é mesmo? A menina que nunca chorou, a menina fria como gelo! Pois saiba que você não deveria se orgulhar disso, não! Aquela foi, definitivamente, a primeira e a última vez que você me viu chorar, entendeu?

- Entendi perfeitamente, e fico feliz que seja assim. Porque, ao contrário do que você pensa, eu não me orgulhei de ter feito você chorar, até hoje eu me repudio por isso! Mas a coisa que me dá mais raiva, Sarah... é que, apesar de tudo, eu ainda pensei que nós voltaríamos a ser amigos, voltaríamos a ser a dupla de tempos atrás... Mas acho que fui um tolo ao me enganar desse jeito... – e dizendo essa palavras, Harry olhou-a tristemente, virando de costas e caminhando até a porta de entrada da casa.

- Ah, vai virar as costas para mim, vai? – Sarah disse, tentando frustradamente continuar aquela conversa para extravasar um pouco da sua raiva acumulada – O grande Harry Potter está com medo de ouvir umas verdades, é? Isso não é novidade para mim, mas tenho certeza que seus companheiros grifinórios adorariam saber disso...

Harry estacou, completamente estupefato. Sentiu seu sangue gelar, acompanhando o suor frio que escorria por suas têmporas. Sua respiração tornou-se arfante e um arrepio serpenteou suas costas assim que uma brisa gelada tomou conta de seu peito. Enquanto virava-se lentamente para encarar Sarah, ele perguntou-se se ela não era um dementador, e se o pegajoso frio que estava sentindo não era devido ao efeito maligno de seu magia negra.

- O que você disse? – ele perguntou vagarosamente, achando que seus ouvidos o haviam enganado e que Sarah não havia realmente dito as palavras que pensara ouvir.

- Além de covarde você é surdo também, Potter? – perguntou ela ironicamente. Caminhando numa postura extremamente altiva, Sarah aproximou-se dele de braços cruzados, os olhos claros reluzindo o mais puro desprezo – Eu expressei o meu espanto de que um garoto tão medroso feito você tenho ido parar na Grifinória... Na minha opinião, você parece muito mais um sonserino...

Harry deixou o queixo cair, fazendo Sarah soltar uma risada superior que fez os pêlos de sua nuca arrepiarem-se. A gargalhada subiu friamente pelas paredes da casa, batucando nos ouvidos confusos de Harry. Ele encontrava-se mais espantado que nunca, e isso parecia ser muito engraçado para Sarah, pois os olhos dela brilhavam maldosamente enquanto parava em frente ao ex-amigo, mantendo uma minúscula distância entre os dois corpos.

- Eu não estou entendendo... – sussurrou Harry, respirando com esforço. Seus pensamentos embaralhados confundiam-se num redemoinho de novas revelações.

“Como ela soube disso? Como ela soube que sou um grifinório?” – perguntava-se insistentemente, observando Sarah com redobrada atenção. De repente, um “clique” soou em seu cérebro, alertando-o de que a resposta estava bem embaixo de seu nariz e ele, negligentemente, recusava-se a enxerga-la.

- Para quem derrotou você-sabe-quem, você é meio lerdinho, não é, Potter? – debochou ela, rindo da cara de completo espanto de Harry – Você deve estar pensando: “Como é que ela sabe disso tudo sobre mim?” Pois bem, vou lhe dar uma dica: Eu sou uma bruxa como você, seu lesado!

E foi com surpresa que Harry viu as peças desparelhadas do quebra-cabeças intitulado “Sarah Geller” unindo-se, encaixando-se com perfeição. Sua boca escancarou-se num esgar de entendimento assim que finalmente compreendeu o que estava acontecendo. Incapaz de falar, ele apenas olhou-a novamente estupefato enquanto ela sorria arrogantemente, comentando:

- Finalmente a ficha caiu, hein? Demorou!

Harry engoliu em seco assim que várias lembranças de seu passado invadiram sua mente. Ele lembrou-se do tempo em que sua tia o afastara de Sarah sem motivo aparente. Agora entendia o porquê da atitude da tia... De primeiro achara que fora somente por Sarah ter sido sua primeira amiga de verdade, sendo que a última coisa que os tios queriam era a sua felicidade, então tentaram afastar os dois amigos. Mas agora via que não fora este o real motivo... Tia Petúnia devia ter percebido que a menina era uma bruxa em estágio de aprendizado, e, por isso, a afastou do sobrinho.

Sim, porque Sarah fora uma das únicas pessoas que não se afastara de Harry, mesmo porque ela passava pela mesma situação que ele, era a excluída da escola. Vivia sozinha, sofrendo gozação das coleguinhas por seu jeito meio esquisito e reservado, parecendo não querer misturar-se com os outros estudantes. Mas sempre que lhe enchiam a paciência, ela revidava a altura, destilando sua ironia sarcástica e seu... poder de aprontar armações inexplicáveis, poder esse que a aproximou ainda mais de Harry, pois ele sofria a mesma coisa.

Harry até cogitou a possibilidade de Sarah ser uma bruxa, quando descobrira-se sendo um, pois, que ele soubesse, somente uma bruxa poderia fazer um enxame de abelhas ser expelido pela garganta a fora de uma garota que a irritara, chamando-a de pirada. Mas a hipótese fora esquecida por ele quando não a encontrara em parte alguma de Hogwarts, afinal, ela era nascida inglesa e moradora da Inglaterra, se fosse realmente uma aprendiz de feiticeira, iria para Hogwarts, certo?

- Vo... você é... uma bruxa? – gaguejou ele.

- Foi isso que eu disse, não é? – Sarah revirou os olhos.

- É.... – Harry tinha os olhos arregalados fixos nos da menina.

- Já vi que você não está para papo hoje, mas não se preocupe. Eu falo por nós dois, afinal, estou com essas palavras engasgadas na minha garganta há anos. E você trate de ficar quietinho e ouvir tudo em silêncio, entendeu? – Sarah arregaçou as mangas do sweater que vestia, os olhos faiscando. Harry sentiu o sangue subir a face e disse com raiva, seu corpo inteiro tremendo de fúria:

- E por que eu faria isso?

- Porque você é o culpado por essa situação, você é o responsável por tudo isso! – Sarah destilou todo o seu veneno em palavras extremamente ácidas.

- Eu? Eu? Ora, não me faça rir, Geller! – Harry estreitou os olhos – Se você não fosse tão manipuladora e falsa, nós não estaríamos aqui, tendo essa conversa inútil!

- E se você não fosse o boçal insensível que você é, nós nem sequer teríamos iniciado essa briga, e, certamente, não estaríamos perdendo tempo nos xingando! – Sarah gritou, os cabelos castanhos agitando-se violentamente enquanto ela esbraveja.

- Então vamos poupar o nosso tempo e pôr um ponto final nessa discussão agora mesmo? – propôs ele, impaciente.

- Como você é cínico – ela fechou a cara, desaprovando a proposta dele – O mundo mágico não sabe nada sobre as suas sujeiras, eles não te conhecem como eu conheço. Aqueles jornalistas ridículos do Profeta Diário chegaram perto ano passado, mas aquelas reportagens mixurucas não causaram nem um terço do estrago que eu poderia causar. Imagine só se eu contasse a eles sobre os eu passado, hein? A sua imagem de garoto prodígio, o herói mirim de Hogwarts, iria descer pelo cano, não é?

- Você conhece Hogwarts? – agora ele definitivamente estava confuso. Sarah não era uma estudante de Hogwarts... Ou era?

- Claro que eu conheço, seu idiota! Eu estudo lá! – ela disse com superioridade, revirando os olhos novamente.

- Você... estuda lá? – Harry fechou os olhos, tentando entender o que estava acontecendo.

- É – respondeu ela irritada.

- Mas eu nunca te vi lá – disse Harry, mais confuso que nunca.

- Ora, mas é claro! – ela soltou uma risadinha superior que o irritou profundamente – Você só vê o seu próprio umbigo, como poderia enxergar uma simples mortal feito eu quando só se preocupa com o seu amigo pobretão, sua amiguinha sabe-tudo e sua ridícula turminha grifinória?

- Já vi que você odeia grifinórios e, certamente, não é uma... Em que casa você está? Sonserina? – debochou ele. Ela ergueu as sobrancelhas, uma ligeira vermelhidão povoando suas bochechas enquanto lançava um olhar desafiador ao garoto. O sorriso dele desapareceu instantaneamente assim que seu rosto empalideceu – Você não é uma sonserina, não é?

- Surpresa, surpresa! – ela sorriu arrogantemente, abrindo os braços.

Harry engasgou com a própria saliva, os olhos arregalando-se imensamente. Após a declaração de Sarah, uma crise de tosse acometeu-lhe, arrastando-se por uns bons cinco minutos. Quando ele finalmente recuperou-se da crise, mirou a menina com a face vermelha e quente. O olhar de Sarah continha um brilho de divertimento, mas também um resquício de preocupação que ela lutava para esconder atrás da indiferença e frieza de sempre.

- Bem, parece que a sua seleção foi realmente uma prova de que o Chapéu Seletor ainda não está caducando, apesar dos mais de mil nas costas... hum... abas... tecido... ah, que seja! Ele continua são, pois a Sonserina é a casa perfeita para você, Sarah. Você é metida, arrogante, fria, insuportável como todos os sonserinos... Não me espantará nada se você se tornar uma Comensal da Morte quando crescer! – revelou ele, completamente irado.

- Você se acha o dono da verdade, não é, Potter? – gritou ela, agitando o dedo na frente do rosto de Harry, os corpos dos dois afastados por míseros milímetros – Mas, sinto lhe dizer, você ainda não assumiu essa posição! Você pode até ser metido a herói, ser o aluno predileto do Dumbledore, mas você não passa disso, um farsante! Um farsante, idiota, panaca! Francamente, só por que eu sou um sonserina não quer dizer que eu seja uma imbecil que gosta de humilhar e machucar os outros, feito o Malfoy! Eu não sou assim, nunca fui e não pretendo ser! Mas o Senhor Perfeito tem que me julgar, não é mesmo? Afinal, eu sou uma sonserina, portanto sou uma estúpida predestinada a ser uma Comensal!

- Eu não... – começou Harry, envergonhado.

- Cala a boca, seu idiota! Cale a boca que eu não terminei de falar! – Sarah respirou fundo, pegando fôlego para continuar seu monólogo – Eu vou lhe dizer uma coisa, Potter: Você é o cara mais ridículo que eu já tive o desprazer de conhecer!

- Sarah... – Harry chamou-a, em vão.

- Cala a boca, seu panaca!

- O.k., O.k., eu cansei, entendeu? – reclamou ele, fechando os punhos – Eu posso até ter errado, mas você também errou! Não venha jogar toda a culpa em cima de mim, está bem? Não jogue toda a culpa nas minhas costas porque não fui só eu que causei essa situação! Você também tem a sua parcela de culpa!

- Olha aqui, Potter – ela disse com a voz trêmula, enfiando o dedo no peito dele – Eu admito que tomei algumas decisões erradas em minha vida, mas pelo menos eu não pisei em ninguém durante o meu caminho...

- Ah, claro! E foi exatamente por toda essa sua santidade que você foi selecionada para a Sonserina, não é? – Harry disse irônico – Só falta agora você vir me dizer que o Malfoy e seus capangas são um bando de querubins!

- Pelo menos o Malfoy não é falso feito você! Todos conhecem as armações deles, ele faz questão que todo mundo conheça o caráter dele, seu temperamento. Mas você não! Você encobre as suas safadezas por trás da imagem falsa de menino bonzinho. Você é pior do que o Malfoy! – ela berrou, ficando vermelha. Harry fez uma careta escandalizada, ofendendo-se profundamente ao ser comparado com um sujeito feito Draco Malfoy.

- Como você tem a audácia de me comparar ao Malfoy, Geller? Você é muito cínica mesmo...

- Calem a boca, vocês dois! Os dois estão errados, acabou! – berrou uma voz alterada provinda do alto da escada que conduzia ao andar superior, onde ficavam os quartos.

Harry e Sarah encararam Marco ofegantes. O menino descia as escadas apressadamente, o rosto contorcido em reprovação diante do comportamento de ambos. Harry desviou o olhar enquanto Sarah esbravejava com o primo, as mechas castanhas de seu cabelo tornando-se rebeldes e desprendendo-se da trança:

- NÃO SE META, MARCO! SAIA DAQUI, AGORA! VOLTE PARA O SEU QUARTO!

- Não será preciso, Marco – Harry manifestou-se, o olhar endurecido direcionado a Sarah – Eu já estou indo embora.

- Não, Harry, espere... – começou Marco, mas Sarah cortou-o, olhando feio para Harry:

- Já vai tarde.

Harry estreitou os olhos, olhando uma última vez para Sarah, que encontrava-se num estado deplorável: As bochechas coradas, o cabelo rebelde, o peito subindo e descendo apressado numa respiração pesada e ofegante, a boca entreaberta. Durante alguns segundos, ele mergulhou no azul dos olhos dela, tentando desesperadamente encontrar o carinho que sentiram um pelo outro há tempos atrás, mesmo que somente um resquício mínimo dele.

E foi aí que enxergou no fundo dos olhos de Sarah, muito bem escondido no canto mais obscuro de seu olhar: o sentimento ainda estava lá, perdido em algum lugar, mas ainda existia. Tinha dormido por muito tempo, mas poderia ser despertado. Ele não conseguiu pensar em mais nada. A saudade que mantivera contida por todo o diálogo entre os dois, explodiu em seu peito, lutando para se libertar.

Surrando-se mentalmente pela tolice, ele sacudiu a cabeça, livrando-se dos pensamentos que corroíam sua mente. Não podia se enganar daquele jeito de novo. Simplesmente não podia. Soltando o ar lentamente pela boca, ele girou nos calcanhares, esforçando-se para deixar aquele lugar. Antes de girar a maçaneta da porta, porém, não conseguiu deixar de pensar no quanto sentira a falta daquela garota e agora que a tinha perto de si, não sabia como agir. Simplesmente não sabia...

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