Amigos?



- Entre Harry.


Estavam no quarto de Hermione. Era pintado com cores claras, assim como o resto da casa.


Havia uma cama de casal ao centro, um guarda roupa a esquerda, uma cômoda com alguns objetos pessoais, um banheiro e um sofá.


- Você vai dormir ali - disse ela apontando para o sofá - É um sofá-cama. -É bem confortável.


- Ok – Respondeu – Fique tranqüila. Comparado aos lugares em que tive de dormir nesses últimos anos, isso é o paraíso – Disse sorrindo enquanto se sentava no móvel.


Ela o olhou com tristeza. Ele não falara nada, sobre o que havia acontecido, mas ela sabia, podia sentir que não fora nada fácil. E no intimo desejou poder estar ao lado dele, para apoiá-lo e talvez quem sabe, ajudá-lo, como tantas vezes havia feito.


Enquanto Harry se preparava para dormir, ela foi até o quarto de Jake, desligou a TV ,cobriu e deu um beijo em sua testa.


Ao chegar ao quarto reparou que ele já estava deitado. Fez o mesmo, tomando cuidado para não deixá-lo ver só de camisola.


Após alguns instantes estavam ambos dormindo tranquilamente.


Mas algo não estava certo.


Harry estava muito agitado durante o sono. Seus olhos mesmo fechados não tinham sossego, e seu corpo estava coberto por uma camada fina de suor.


Hermione acordou e olhou para ele, que agora murmurava palavras desconexas. Se levantou.


- Harry, acorde... – Disse já bem próxima dele.


- Não, não, por favor, são apenas crianças, eles não têm culpa. Matem a mim.


- Vamos, Harry. Acorde! – Dizia ela sacudindo-o de leve.


- Não... não... – Lágrimas escorriam pelo rosto do moreno.


Hermione assustada começou sacudi-lo com mais força.


Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, Harry a pegou pelos braços e a deitou sob ele.


- Por que você fez isso? Eu pedi, implorei e você fingiu que não escutou! Por quê?


Hermione não sabia a que ele estava se referindo, mas percebeu que ele ainda estava dormindo, estava sonhando e sabia que se o acordasse de maneira súbita, poderia lhe causar algum dano maior. Então sem pensar direito no que estava fazendo ela o abraçou forte, e começou a sussurrar palavras de conforto.


Aos poucos ele foi relaxando e devagar abriu os olhos.


Ainda estava nos braços dela, a face molhada pelo choro, as mãos trêmulas e geladas.


- O que aconteceu? – Perguntou olhando-a confuso.


- Você estava sonhado, eu tentei te acordar e ai você meio que me atacou.


Ele olhou assustado


- Eu te machuquei? – Perguntou de um salto procurando algum sinal de machucado nela.


- Não! Esta tudo bem- Disse colocando a mão no braço dele.-  Eu não sabia o que fazer. Então agi da mesma maneira que faço com Jake quando ele tem um pesadelo. Abracei você para que se acalmasse.


Ele se levantou e foi até a cômoda dando as costas para ela.


- Hermione, – Disse suplicante-  As vezes isso acontece. Eu sonho com as coisas que vivi e não consigo esquecer, elas me perseguem entende? Então eu tomo uma poção para dormir sem sonhar. Mas hoje me esqueci. Por favor, me desculpe. – Terminou com as mãos no rosto, num gesto de desespero.


- Harry você não tem que pedir perdão por aquilo que você não controla -Ela disse  se aproximando dele e juntando suas mãos na dele. Não se preocupe - Ela disse de maneira acolhedora.- Venha vou lhe fazer um chá.


Na cozinha, os dois conversaram sobre tudo e sobre nada, indo dormir logo após terem bebido todo chá.


Na manhã seguinte saíram cedo para pegar a estrada que os levaria até o chalé, o pouco trânsito foi o motivo.


Enquanto seguiam pela estrada, Harry tentava em vão não pensar na noite anterior.


Pensava nos pesadelos e nos anos em que esteve fora. Nas coisas ruins pelas quais teve de passar, e as vezes nada podia fazer pois havia chegado tarde demais para pegar os responsáveis e salvar as vidas que inevitavelmente eram perdidas.


E tentava também não pensar em Hermione. No abraço dela, na voz suave que acalmou seus medos como nada havia feito até então e na camisola quase transparente que ela usava.


Viajaram em silêncio, as vezes quebrado por algumas poucas frases. Apenas Jake e seu amigo Wil, que também era bruxo estavam conversando, totalmente alheios ao clima tenso dentro do carro.


Chegaram após duas horas de viagem. Hermione estacionou em frente a uma casa de dois andares, toda feita de madeira e pintada de branco. Na frente havia uma grande varanda que dava acesso para um imenso gramado e logo mais a frente um lago de águas serenas.


O lugar era simplesmente lindo.


Esse foi o primeiro pensamento de Harry ao deixar o carro.


Os dois garotos correram na frente fazendo um estardalhaço.


Em pé em frente da varanda estava uma senhora de mais ou menos cinqüenta anos. Os cabelos castanhos estavam  presos em um elegante coque e os olhos amendoados fitando-os em expectativa.


- Vovó! – Jake disse aos berros se jogando nos braços da jovem senhora.


- Jake meu amor, há quanto tempo! Como você cresceu - Disse sorrindo e colocando-o no chão.


- Hermione querida, como vai?


- Oh mamãe que saudades!- As duas se abraçaram carinhosamente


- Mãe, quero que conheça meu grande amigo Harry Potter.


- Sra. Granger é um prazer conhecê-la.


- O prazer é todo meu. E chame-me apenas de Lisa-Disse estendendo a mão para se cumprimentarem


- Hermione, como deve imaginar, nos falou tudo sobre você e é uma honra conhecê-lo Sr. Potter.


- Por favor, apenas Harry. Estou muito feliz em estar aqui.


- Então vamos entrar! – Convidou a senhora. – Venham, John está lá nos fundos. Ele me disse que queria estar aqui quando chegassem, mas sabe como ele é, quando se mete naquela estufa, perde a noção do tempo - acrescentou sorrindo para os dois enquanto seguiam pelos cômodos.


- Estufa? – Perguntou Harry, para Hermione.


- Oh sim, o meu pai adora plantas. Na verdade ele começou a tomar gosto pela jardinagem quando seu cardiologista sugeriu que ele praticasse algum hobby- explicava Hermione- papai andava muito nervoso no trabalho e isso estava fazendo mal ao seu coração.


A casa era enorme. Ao entrarem, se deparam com uma grande sala, com três sofás em um tapete branco. As paredes, pintadas em tons claros, davam um ar de aconchego no ambiente, que era mais ainda evidente pela lareira que ficava no centro.


No canto esquerdo havia uma escada que conduzia aos quartos. Havia um corredor que dava acesso à cozinha e aos fundos da casa.


Que era onde também ficava a estufa.


John Granger tinha várias paixões na vida. Sua família, sua carreira e suas plantas. Ele se perdia quando estava cuidando delas. Ficava alegre igual a uma criança quando ganha um doce. E foi nessa felicidade que o encontraram, todo sujo de terra.


- John? – Chamava a Sra. Granger – John olhe quem está aqui!


Ele saiu de trás de uma prateleira de plantas.


- Hermione minha querida! – Disse abraçando-a- Que saudades, que saudades! Como você está linda e... Ôpa! Quem é esse enorme garoto que pulou no meu colo?


Jake havia corrido á frente de todos e dado um salto enorme em direção ao colo do avô.


- Ora vovô, sou eu, seu neto Jake!- Disse o menino indignado.


- Jake?- Perguntou John pensativo - Da última vez que vi meu neto ele tinha metade do seu tamanho, meu jovem.


- Eu cresci tanto assim vovô?- Perguntou o garoto com os olhos brilhando.


- É claro que cresceu. E também engordou um pouco pelo que sinto. - Disse Jonh, fazendo uma careta.


O garoto soltou uma gargalhada e desceu correndo do colo do avô.


- Pai, quero lhe apresentar meu grande amigo Harry Potter.


Harry se adiantou.


- É um prazer conhecê-lo Sr. Granger


- O prazer é todo meu, rapaz. Seja bem vindo à nossa casa!


- Obrigado!


- Harry, venha, vou lhe mostrar seu quarto – Disse Hermione.


Enquanto todos iam para a cozinha se prepararem para o almoço, Harry e Hermione subiam as escadas em direção aos quartos.


O quarto que Harry iria ficar era o terceiro de cinco quartos ao longo de um corredor.


Hermione se adiantou e abriu a porta.


- Bem, aqui está. – Disse ela abrangendo todo quarto com os braços abertos. – Espero que goste.


- É perfeito. Aliás, todo este lugar é fantástico, Hermione. - Ele olhou para ela, obrigando-a a encará-lo. – Obrigado.


Hermione sentiu suas faces corarem com a intensidade do olhar dele.


- Ora Harry, não foi nada. Espero que você se sinta em casa.


Disse se virando para sair. Harry, no entanto ainda tinha algo para falar.


- Hermione?


- Sim?


- É... sobre a noite passada... eu... – Começou um pouco envergonhado- Eu preciso me desculpar – Disse olhando em seus olhos - Não queria ter te assustado.


Ela se aproximou e enlaçou suas mãos nas dele.


- Harry, não há o que perdoar. Você não tem culpa de ter pesadelos. Um dia alguém me perguntou se era possível controlar o que se sonha, lembra-se?


Harry sorriu com a lembrança. Ele mesmo havia feito essa pergunta a ela.


- Eu não queria te deixar preocupada, nem nada desse tipo. É que às vezes, os sonhos vêm com mais intensidade do que outras – Disse de forma triste – Há momentos em que eu gostaria de esquecê-los. Mas ao mesmo tempo sei que é um lembrete de como o ser humano pode ser cruel quando quer. E essas lembranças me dão forças para lutar por um mundo melhor.


Ela se aproximou e acariciou o rosto dele.


- Eu sinto tanto não ter estado do seu lado nestes últimos anos. Não gosto de te ver triste.


Seus rostos estavam quase se tocando, apenas centímetros os separavam. Harry podia sentir a respiração dela de encontro a sua pele, seu perfume era inebriante.


Ele imaginou o que aconteceria se a beijasse. E imediatamente sua mente se encheu de imagens dos dois se beijando apaixonadamente. Ele a enlaçando pela cintura sentido o corpo dela de encontro ao seu. Ante a essa sensação seu corpo reagiu de forma inesperada. Um desejo de te-la em seus braços lhe pareceu a sensação mais maravilhosa no mundo.


Hermione estava hipnotizada pelo olhar dele. O verde estava em um tom mais intenso, parecia que havia chamas em seus olhos. Desejo.


Suas pernas, de repente perderam a capacidade de se movimentar. Queria correr dali, correr da intensidade daquele olhar, afinal Harry era seu amigo, seu melhor amigo. E ela não podia sentir aquilo que estava sentindo por ele. E que Merlim a perdoasse, mas ela também o desejava. Queria experimentar o gosto da boca dele na sua. Sentir se era tão quente quanto parecia ser, vista, assim tão de perto. Sua boca ficou seca ante essa possibilidade, e ela lambeu seu lábio inferior.


Percebeu que fez a coisa errada no momento em que com um gemido rouco ele se aproximou e a enlaçou com uma das mãos sua cintura.


- Você que me matar Mione?


Uma emoção muito forte se apoderou dela no momento em que ele disse o antigo apelido. Percebeu que sentira falta dessa intimidade quando ele partiu. Sentiu falta de ouvir sua voz. A cumplicidade que tinham, sentimento jamais compartilhado com Rony que também não deixava de ser seu melhor amigo. Ela atribuía ao fato de que além de serem melhores amigos, ela e Harry eram quase irmãos Eles se compreendiam apenas com um olhar.


 Amigos.


Uma amizade de mais de dez anos. Valia a pena arriscar essa amizade por causa de um sentimento até agora inexistente?


 Ele a olhava com mais intensidade ainda, mas não avançava para o próximo passo. Com certeza estava enfrentado os mesmos dilemas que ela


- Eu... – Ela começou incerta do que iria dizer. Parecia que também tinha perdido a capacidade de raciocinar com clareza.


- Harry, eu...- Tentou novamente, mas uma batida forte na porta, que não  se lembrava de te-la fechado, a trouxe de volta a realidade.


- Mãe? Mamãe, voce está ai?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.