Momentos



SEXTA-FEIRA, 10 DE JUNHO
MEU QUARTO NA CASA DE MEUS PAIS, 18:45

Uau.

Tem muito tempo que eu não via isso.

Quero dizer, muito tempo mesmo. Eu estava arrumando umas coisas pra minha mudança – finalmente saindo da casa dos meus pais! – e encontrei você, Diário.

Haha. De repente me senti meio boba, com meus 17 anos, cheia de conflitos e relatando todos os meus desesperos aqui. Bem, eu mudei. Não sou mais uma adolescente cheia de medos e dúvidas. Eu cresci.

Ok, corta essa Lily. Até um ano atrás você ainda era essa garota.

É, a minha consciência não me deixa mentir; tudo bem, eu não mudei tanto assim. Só um pouco. Bem, agora estou com 19 anos, já me formei em Hogwarts tem tempo, e agora já sou uma curandeira, como eu queria, trabalhando no St. Mungus, e... posso dizer que tenho minha vida encaminhada. Mas acho que não seria justo se eu não descrevesse tudo o que aconteceu, desde que eu parei de escrever aqui, certo?

Bem, se eu me lembro, e as páginas desse diário não mentem, a última coisa que escrevi foi sobre o Baile de Primavera; e como eu e James finalmente nos acertamos e começamos a namorar. Bem, as semanas que se seguiram depois do baile foram muito intensas; muitos estudos para os N.I.E.M’s, e... bem, encontros furtivos com meu namorado nos corredores. Não, eu não me tornei nenhuma pervertida depois daquele baile. Na verdade, nós não fazíamos nada a mais do que o que já tínhamos feito naquele dia no provador da Trapobelo, em Hogsmeade. Nada de mais. E, bem; me ajudava a relaxar. Os exames exercem uma pressão incrível nas pessoas, por todos os lados que eu olhava, quase não se via setimanistas; estavam todos em suas salas comunais, estudando, ou então na biblioteca; meu lugar sossegado deixou de ser sossegado... se ao menos todos tivessem feito como eu, que estudou o ano inteiro... mas bem; isso é passado. O importante é que todos passaram. A não ser por algumas exceções, mas ninguém importante. Ah, depois do Baile de Primavera, Bryan Leigh e Melissa Adams começaram a namorar. E ela passou a ser legal comigo, pra valer. Me cumprimentava quando passava por mim, e até conversamos casualmente algumas vezes na sala comunal. E ela realmente mudou bastante. Parou de tingir e alisar o cabelo, e de ser tão cruel com os outros. E até passou a estudar um pouco mais, influência do namorado, imagino. Ela realmente se tornou uma pessoa melhor, e graças a mim. Bem, foram as palavras dela.

“Muito obrigada, Lily. Você me transformou numa pessoa muito melhor”.

Impressionante, não? Bem, mas continuando com as lembranças...

Bem, eu parei de escrever aqui na semana logo após o baile. Decidi que não havia mais razão para isso, já que o objetivo inicial disso era eu expressar os meus sentimentos de forma menos, ahn, violenta. E até que a idéia de McGonagall deu certo. E eu passei a me conhecer melhor, além disso. Foram realmente muito bons para mim aqueles meses em que utilizei este diário...

Sirius e Marlene continuaram namorando; brigavam algumas vezes, por motivos bobos, mas sempre faziam as pazes, assim como eu e James. Ainda estão juntos. Remo e Emelina também, mais felizes que nunca. E Alice e Frank se casaram, no verão passado, logo depois da formatura.

A formatura. Foi um momento realmente emocionante. Não teve nenhum baile especial, foi só a cerimônia de colação de grau, com os familiares presentes – mamãe e papai foram, mas Petúnia viajou com o noivo naquele fim de semana – e uma mesa de comes e bebes, nos jardins do colégio, numa tarde de sábado. Eu e Remo sendo monitores-chefes, fizemos um discurso, mais ou menos como um discurso de orador; falamos de nossas experiências na escola desde o primeiro ano, esse tipo de coisa que faz todo mundo chorar de emoção. Acho que tenho uma cópia da minha parte aqui em algum lugar... ah, aqui está:

“Quando eu recebi a minha carta de Hogwarts, com apenas onze anos, e nenhuma idéia da existência do mundo bruxo, fiquei realmente chocada; mas muito animada para conhecer esse novo mundo, tão desconhecido, mas que me parecia tão fascinante. Não vou citar todas as minhas maravilhosas descobertas desse mundo maravilhoso; tenho certeza de que todos aqui tivemos as mesmas sensações e surpresas, mesmo aqueles já nascidos em famílias bruxas. Não; a minha intenção com esse discurso é mostrar o quanto eu aprendi nesses sete anos nessa escola fantástica. E não estou me referindo às aulas e disciplinas excitantes; acho que todos já mostramos nossos conhecimentos acadêmicos nos N.I.E.M.’s. O que eu estou tentando dizer, é que todos esses anos em Hogwarts, foram de extrema importância na vida de todos nós, e tiveram muita influência na formação do caráter de cada um. Aqui fizemos grandes amizades, muitas que levaremos para a vida toda; houveram muitas brincadeiras, algumas delas nem tão engraçadas, e que nos trouxeram alguns desafetos; alguns verdadeiras pedras no sapato. Ao longo desses sete anos tivemos brigas, e até mesmo passamos pelas temíveis detenções – sim, eu também passei por isso. Mas o importante mesmo, é vermos o quanto evoluímos com tudo isso. Muitos de nós, que achávamos que continuariam imaturos mesmo depois da formatura, ao longo desse ano, mostraram ser capazes de amadurecer, sem perder a graça. E não foram só os imaturos que mudaram; outras pessoas também sofreram grandes mudanças, sempre para melhor. E mesmo que agora estejamos todos seguindo rumos diferentes, tenho a certeza de que as boas lembranças permanecerão, e sempre recorreremos a elas nos momentos difíceis. Por fim, quero dizer que todos esses anos nessa escola, também foram muito importantes e decisivos em minha vida, e eu serei eternamente grata por todas as minhas experiências nessa escola. Parabéns formandos de 1978!”

Relendo esse discurso eu até acho que ficou meio piegas... mas acho que todo mundo gostou, já que todos aplaudiram entusiasmados – menos os sonserinos, claro. Marlene, Alice e Emelina vieram me abraçar, os olhos marejados, provavelmente emocionadas. E acho que talvez eu também estivesse chorando um pouco... depois recebemos nossos diplomas, e estávamos oficialmente formados. Enfim, livres da escola. Bem, eu não estava exatamente muito feliz com isso... quero dizer, onde eu iria encontrar uma biblioteca tão completa quanto à de Hogwarts??

Ficamos um pouco lá, no coquetel que teve depois; mamãe e pai estavam muito orgulhosos de sua ‘filhinha’, e ficaram realmente encantados com o castelo. Aproveitei para apresentá-los a James. Mamãe o adorou logo de cara, achou-o encantador... mas papai fez uma cara feia... mas acho que no fundo ele gostou do James, sim. Bem, ele nunca disse o contrário...

James aproveitou para me dizer que tinha uma surpresa para mim. Ele me levou até o Lily’s Garden, e até aí tudo bem; talvez ele quisesse se despedir do lugar onde finalmente ficamos juntos pra valer, especialmente o lugar onde ele me pediu em namoro. Mas então ele começou (minha memória é realmente boa para certas coisas):

“Lily... você sabe o quanto eu te amo... e o quanto eu esperei pra ficar com você...”

“Eu sei”, disse sorrindo.

“E... como eu disse há não muito tempo... eu quero ficar com você... pra sempre...” sorri ternamente para ele. O que ele estava querendo dizer? E então, ele se ajoelhou na grama, logo à minha frente, tomou a minha mão, e com a outra, estendeu uma caixinha de veludo vermelha. Meu coração parou. “Lily Evans... você aceita se casar comigo?”

Aí eu realmente tive a confirmação de que meu coração tinha mesmo parado. Pelo menos por alguns segundos. E eu não conseguia respirar. James estava me pedindo em casamento. JAMES ESTAVA ME PEDINDO EM CASAMENTO!

Eu não sei o que eu respondi. Me lembro de ter gaguejado um pouco, enquanto olhava hipnotizada para o lindo anel de brilhantes de formato quadrado, com uma pequena esmeralda bem no centro. Mas acho que devo ter feito uma cara realmente chocada e apavorada, porque James me olhou confuso, e se levantou, me chamando para a Terra.

“Lily...? Lily, você...”

“James. Você fez... o que eu acho que você fez?”, perguntei ainda atônita, tentando encarar os olhos dele, agora que ele fechara a caixinha e guardara novamente no bolso.

“Lily... eu te pedi em casamento... olha, se você não quiser, não precisa aceitar...” ele disse olhando a esmo, com um tom de voz decepcionado, as mãos no bolso das vestes e os ombros encolhidos.

“Não... quero dizer, eu quero; bem, eu acho que quero. É só que... tão cedo?” perguntei, um quê de desespero em minha voz, ao que ele sorriu aliviado.

“Não precisa ser agora... eu entendo que você queira um tempo, pra pensar, se organizar, ainda mais agora que nos formamos, precisamos arranjar emprego... a gente pode se casar quando você quiser... isso é... se você quiser...” ele explicou, humildemente.

Olhei-o com meus olhos cheios de admiração. Era exatamente aquilo o que eu pensara. E os estudos? E empregos? E mais, nós só tínhamos – bem, eu tinha – 18 anos!

“James...” recomecei, segurando o rosto dele em minhas mãos “Eu te amo. E quero ficar com você pra sempre.” ele abriu um sorrisão, mas eu continuei antes que ele dissesse outra coisa “Mas acho que é muito cedo para nos casarmos... você entende?”
Ele mordia o lábio, meio sorrindo. Pegou uma mão e acariciou levemente a minha bochecha, beijando minha testa e me abraçando em seguida.

“Claro que entendo.” Sorri para ele, e nos beijamos. Ficamos lá por um tempo, até que constatamos que provavelmente nossos pais estariam nos procurando, e voltamos para o castelo.

Desde então, estávamos não-oficialmente ‘noivos’. O que significava que iríamos nos casar sim, um dia, num futuro nem tão próximo nem tão distante. E ele disse que voltaria a me pedir em casamento, dali um tempo, quando estivéssemos prontos, e aí então, se tornaria oficial.

Bem, depois eu entrei para a Escola de Curandeiros, como sempre sonhei. Tínhamos qautro aulas por semana numa ala do St. Mungus¹, e estágio no hospital todos os dias, das nove da manhã até às seis da tarde. Era um pouco estressante, até por que, como estagiária, eu pegava as piores tarefas, como, trocar as comadres, fazer relatórios, e, algumas vezes, servir poções aos pacientes. A ação mesmo era só quando tinha um caso muito grave, e aí todos os estagiários ajudavam. Aí sim era excitante.

Enquanto isso, James, Sirius, Marlene, Emelina, Alice e Frank estavam treinando para serem aurores. Remo estava estudando para ser professor de DCAT, e Peter não tinha conseguido pontos suficientes nos N.I.E.M.’s para nenhuma carreira, digamos, ‘louvável’. Ele arranjou um emprego no Caldeirão Furado.

Eu continuei morando na casa de meus pais, felizmente sem Petúnia me importunar, já que ela já tinha se casado com seu noivo, Valter, e estava morando numa casa afastada do centro de Londres – mais afastada do que a de papai e mamãe – e eu ainda não tinha tido ‘permissão’ para visitá-la. Bem, não que eu esperasse por uma; mas, como ela nunca convidava, embora quando papai e mamãe iam visitá-la me chamassem para ir junto, preferia ficar, para que ela fosse ‘poupada de minha terrível presença’, como ouvi ela dizer para o marido ao telefone, uma vez. Ai, ai... queria que ela não fosse tão obtusa e pudéssemos ser amigas, como na infância... mas acho que isso não vai acontecer...

Bom, quanto aos outros: James estava alugando um apartamento bem confortável no centro da cidade, no mesmo prédio que o apartamento de Sirius e Remo. Marlene estava praticamente morando com Sirius, passando a semana lá, mas ainda tendo residência fixa no interior, onde ia nos fins-de-semana, para visitar os pais. Emelina era a única das meninas morando sozinha, na cidade, num predinho baixo e antigo, portanto, fazia visitas constantes a Remo e aos garotos. Alice e Frank, já estavam casados, e morando juntos numa casa grande num vilarejo próximo.

Ah, o casamento deles. Foi tão lindo. Eu e as outras duas nos acabamos de chorar. Foi na casa dos Longbottom , que já conhecíamos por causa do noivado. A sala era bem grande, e acomodou todos os convidados muito bem. Alice usou um vestido branco, num estilo renascentista; ela estava muito linda. Na hora de pegar o buquê, eu fui lá pro meio junto com as garotas, só por tradição, já que não queria me casar tão cedo – o casamento deles foi em julho, um mês depois da formatura. Mas o buquê foi cair bem longe das solteiras desesperadas, exatamente no colo de Sirius, que conversava sobre quadribol com James. Quando ele viu o buquê, fez uma cara apavorada muito engraçada e lançou para longe, ocasionando em duas coisas: 1) Marlene de um tapa bem forte nele, pela sua assumida reação não-favorável ao casamento – pode não parecer, mas Marlene ama essas tradições – e 2) o buquê caiu em minhas mãos. Fiquei estática, olhando para as rosas brancas em minhas mãos, enquanto Emelina e Alice aplaudiam animadas. Instintivamente olhei para James, um olhar meio tímido, ou não; não me lembro que tipo de olhar era aquele. Talvez algo como “será mesmo?” ao que ele sorriu, terminando de mastigar um salgadinho, passando um braço pelo meu ombro e me beijando a testa, depois piscando um olho e comendo outro salgadinho. Desde então, Alice e Frank estão morando juntos, numa casa bem charmosinha em Londres.

Alguns meses depois, eu, sendo muito aplicada em tudo o que faço, – se eu fiquei convencida a culpa é de James – finalmente recebi o diploma de Curandeira, e passei a trabalhar de verdade no hospital. Tive a oportunidade de fazer e testar poções o tempo todo, e isso me possibilitou descobrir, junto com outros curandeiros, uma poção muito especial, que tem ajudado bastante o Remo. É uma poção que ameniza os efeitos da lua cheia em lobisomens, deixando-os menos selvagens e agressivos. É claro que eu aprendi a prepará-la como ninguém, e fiz um pequeno estoque e dei para Remo no seu aniversário, pouco tempo depois da descoberta. Ele ficou realmente agradecido.

“Puxa Lily... eu nem sei o que dizer... você é uma amiga muito especial...”

É claro que a essa altura, Remo já tinha contado sobre sua condição para Marlene, Alice e Frank, que aceitaram numa boa, e ficaram, naturalmente, tocados por todo o tipo de sofrimento que Remo teve que enfrentar durante todos esses anos...

Mas o meu trabalho não se resumia a descobrir e testar novas poções, como eu bem gostaria que fosse, nesses tempos; mas também não é só tratar de infecções causadas por fungos mágicos, ou acidentes com artefatos; estou falando de casos seríssimos mesmo. Não sei se cheguei a mencionar alguma coisa aqui, mas há algum tempo, surgiu um bruxo das trevas determinado a eliminar todos os trouxas e bruxos que tem alguma relação com trouxas, afim de ‘purificar o mundo bruxo’. Bem, ele não era muito poderoso há alguns meses, mas agora é; e reuniu seguidores, denominados Comensais da Morte. Ele está tão poderoso, que muitos até temem pronunciar seu nome – Lord Voldemort, diga-se de passagem. Com toda essa loucura, só o Ministério da Magia não estava dando conta de controlar a situação, então Dumbledore, diretor de Hogwarts e o bruxo mais poderoso do mundo, na minha opinião, convocou seus companheiros mais fiéis para formar a Ordem da Fênix, uma espécie de brigada que busca e luta contra Voldemort e seus comensais. James, Sirius, Remo, Marlene, Alice, Frank, e até Peter, foram convocados, além de vários outros. Emelina foi convocada também, mas a família não permitiu que ela aceitasse. É claro que eles apóiam a idéia de Dumbledore, mas Emelina é filha única, e os pais dela não tem mais nenhum familiar, e como são muito amigos de Dumbledore, este compreendeu bem a decisão deles, apesar de que ele nunca forçaria alguém a entrar para Ordem; não é como se fosse um tipo de convocação para a guerra – embora seja exatamente isso o que pareça. Bem, Emelina ficou um pouco chateada de não poder estar nessa junto com todos nós. Quero dizer, ela é auror, então não faz muita diferença estar na Ordem ou não, já que ela vai enfrentar bruxos das trevas, de qualquer jeito. Mas isso tem muita importância para os pais dela, então, ninguém contestou ². Eu também fui convocada, apesar de não ser uma auror; mas, como eu já disse antes, sou muito aplicada em tudo o que faço, e até que aprendi a duelar muito bem – aquele treino com Malfoy e Snape no Baile de Primavera foi um incentivo para James me ensinar mais técnicas. Fiquei um pouco receosa, cheguei a pensar que papai e mamãe fossem ter o mesmo tipo de atitude dos pais de Mel, e acertei quanto a isso, mas conversei com eles, expliquei o quanto isso era importante para o mundo bruxo, e eles compreenderam, apesar de agora morrerem de preocupação por mim. Então, é isso. Nós todos temos vidas normais e combatemos bruxos das trevas nas horas vagas. Ok Lily, não faça piadas; esse assunto é sério.

E é isso o que tem acontecido nos últimos tempos, desde que parei de escrever aqui.

Ah! Acabei de me lembrar de algo que não relatei...

Bem, eu e James... nós... já fazemos aquilo. Seria meio estranho se não fizéssemos depois de tanto tempo...

Eu tinha medo no começo, receio, e principalmente, muita vergonha – do meu próprio namorado! Eu e as garotas, nunca tínhamos conversado sobre isso, na verdade. Sei lá, nos parecia muito... estranho, falar sobre o assunto. Mas houve um dia, num de nossos almoços coletivos de toda quinta-feira, no último janeiro, Marlene fez a tal pergunta. Aquela, que é impossível de evitar num papo entre amigas física e mentalmente maduras:

“Ei Lily, você e o James já dormem juntos, né? Sabe, aquilo...?”

A minha reação foi pateticamente espalhafatosa: engasguei com meu suco de uva. Marlene revirou os olhos, rindo, acompanhada das outras duas.

“Ah Lily, não me diga que vocês nunca...?” falou Emelina

“Mel, você e o Remo já?” perguntei, como uma criança que descobre de onde vêm os bebês. Ela concordou com a cabeça tomando um gole de seu suco de laranja. “Lene?”

“Você não acha mesmo que eu só durma na casa do Sirius, não é?” é, eu imaginava que não... mas nunca tinha pensado mesmo sobre isso...

“Bom, a Ali eu já imaginava que sim, já que ela já casou e tudo o mais...” mas Alice me confessou que ela e Frank já tinham feito até antes do casamento. Minhas amigas não são santas!

“Bem, mas a questão não é essa... quer dizer que você e o James... nunca...?” continuou Marlene. Eu acenei a cabeça negativamente, como uma criança que não sabe a resposta pra uma pergunta de matemática. Patético. “Mas vocês já namoram há... quanto tempo, oito meses? E ele nada? Vocês nem conversaram sobre o assunto?”

“Na verdade, a gente nunca fica muito tempo juntos... eu estou sempre no trabalho, ou ele está no Ministério... às sextas-feiras ele passa lá no hospital e a gente almoça juntos, e no fim-de-semana a gente também fica juntos... mas nunca rolou, e eu acho que nem me dei conta disso...” Não mesmo, sou pateticamente desligada demais para perceber qualquer tentativa do meu namorado de querer fazer sexo comigo.

“Ele nunca tentou nada?” perguntou Emelina curiosa.

“Bom...” aí eu lembrei de várias vezes que estávamos nos ‘amassando’ e eu sentia a mão dele subindo pelas minhas costas, tentando alcançar o meu sutiã, ou então tentando abrir a minha calça ou subir a minha saia... mas eu sempre cortava a onda dele de modo sutil e inocente, dizendo que estava atrasada e precisava ir embora. Mas eu estava mesmo atrasada e precisava ir embora!

“Coitado do James, ele deve estar agoniado!” disse Alice ainda rindo. “Você não vai esperar até se casarem, não é?” Confesso que eu meio que pensava que sim, ia esperar até o casamento. Mas eu nem sabia quando ia me casar com James, se eu me casasse com James. “Lily” recomeçou Alice, agora séria “Estamos vivendo num tempo de guerra. Ninguém tem certeza do futuro. Não há sentido em adiar as boas coisas da vida por inseguranças bobas. Você e o James se amam. Por que fazer o pobre garoto sofrer com todos esses hormônios à flor da pele? Viva, Lily. E deixe os hormônios do James relaxarem um pouco” O que era pra ser uma coisa séria, virou uma grande piada, e todas caímos na risada, apesar de eu ainda sentir um pouco de vergonha do assunto. Mas até que Alice estava certa. O futuro nos é muito incerto no momento. Não sabemos o resultado dessa guerra que está se formando. O resultado pode ser desastroso. Não podemos deixar de aproveitar ao máximo cada segundo. E eu não pude deixar de pensar no meu sonho de casar e constituir uma família. E eu queria fazer isso com James.

Saí daquele almoço no frio fim de janeiro segura sobre minha relação com James. E certa do que queria para meu futuro.

Algumas semanas depois, foi o dia dos namorados. James me convidou para jantar num restaurante bem chique e bem caro, para comemorarmos. Usei um lindo vestido vermelho decotado e um pouco justo. Naquela noite, depois do jantar, sugeri que fôssemos ao seu apartamento. Ele sorriu e me beijou. E naquela noite, eu e James fizemos amor pela primeira vez. No dia seguinte, acordei com o som da campainha, e como James não estava por perto – talvez estivesse no banheiro, ou tivesse ido na padaria – vesti a camisa dele e fui atender à porta, os olhos inchados, e o cabelo desgrenhado. Tive a melhor surpresa da minha vida. Me deparei com um James segurando um enorme buquê de rosas vermelhas e na outra mão, a velha caixinha de veludo vermelha aberta, o anel de noivado à mostra. Ele se ajoelhou, eu peguei o buquê, ainda boquiaberta e maravilhada, e ele repetiu a pergunta, dessa vez mais incrementada: “Lily Evans... você aceita se casar comigo, e ficar comigo para sempre, pelo resto de nossas vidas?” “Sim!” eu respondi “Eu aceito me casar com você, James Potter! E vamos ficar juntos! Para sempre!” aí ele colocou o anel no meu dedo, me abraçou bem apertado, me erguendo no ar, e nos beijamos apaixonadamente...

Depois contamos aos nossos familiares e amigos, e todos adoraram a idéia. E passamos a planejar os detalhes. A data, onde será – na mansão dos Potter – os convidados, o padrinho, – Sirius – as madrinhas, – Alice, Marlene, Emelina – o vestido de noiva (!)...

A partir daí tive muitas conversas com Alice, sobre vida de casada, e tal. Pra eu me preparar, sabe. Ela me disse que quase desistiu no dia do casamento. Que não se sentia pronta. E aí eu quase entrei em pânico, porque se Alice, a pessoa mais segura que eu conheço, ficou em dúvida sobre casar-se com o amor de sua vida, imagine eu? Mas ela me tranqüilizou, dizendo que se o amor dos dois é verdadeiro, isso basta. E me confortei com esse pensamento.

Bem, quanto ao dia que iremos nos casar...

Opa. Vou ter que parar por aqui. James acaba de aparecer todo lindo e sorrindo sensualmente. É melhor eu ir.

SÁBADO, 11 DE JUNHO
MANSÃO DOS POTTER, 17:30

Depois que saí da casa de Emelina, viemos todas, mais James, Sirius, Remo, Peter, Frank, meus pais, e os pais de meus amigos para cá, já que o casamento será amanhã de manhã, bem aqui mesmo, e a casa é bem afastada da cidade – sim, eu vou me casar amanhã!

Mas eu acho que não mencionei que ia para a casa da Mel... nós fizemos um festinha de despedida-de-solteira, assim como James e os garotos – para mim eles serão eternamente garotos – fizeram. Tradicionalmente, a despedida de solteiro é para ser na noite exatamente antes do casamento... Mas eu não sou louca de arriscar que o meu noivo, o padrinho, e metade da ala masculina do casamento, esteja de ressaca na hora. Nem as madrinhas e a noiva. Imagina as olheiras? Portanto, combinamos de fazermos as despedidas sexta à noite, para passarmos o sábado inteiro nos recuperando das festas de ontem, e estarmos todos maravilhosamente bem-dispostos no domingo de manhã.

A minha festinha com as garotas ontem foi intensa. Muita bebida e coisas gostosas de se comer. Acabamos todas dormindo na casa da Mel, como combinado. Mas vou relatar todos os acontecimentos da noite, desde a chegada de James em meu quarto:

“Precisando de ajuda?” perguntou James, se ajoelhando ao meu lado no chão do meu quarto cheio de caixas.

“Não, já estou quase terminando. Achei meu diário do sétimo ano.” Comentei, enquanto guardava você dentro da minha bolsa-carteiro.

“Hum... aquele que você usava para extravasar a raiva que sentia de mim, ao invés de fazer escândalos?” ele disse, zombando um pouco.

“Ele não era só pra isso... eu escrevi praticamente tudo o que aconteceu na minha vida aí... principalmente as coisas boas...”

“Hum... então eu imagino que eu seja bastante citado aí, hã?”

“Convencido...” O pior é que ele estava certo. Acho que em todos os dias que escrevi neste diário, eu mencionei o James. Fazer o quê? Eu era uma garota apaixonada...

“Ei, posso ver?” ele pediu, com um olhar de criança feliz no dia de Natal.

“Claro que não!” ele me olhou decepcionado, ao que eu lancei um olhar repreensivo. Ficamos em silêncio por um tempo, eu terminando de empacotar umas coisas, e depois falei “Pronto, terminei. Já podemos levar essas últimas caixas.”

“Ótimo. O seu pai estava impaciente lá embaixo, com as chaves da carroça na mão” ri.

“James, não é carroça. É carro. Carroça é aquela coisa precária, parecida com uma carruagem, mas menos luxuosa.”

“Oh. Então é por isso que ele ficou emburrado...” ri ainda mais. “De qualquer forma, devemos nos apressar. Temos que levar essas coisas pra casa nova, e ainda sair pra despedida de solteiro!” ele disse animado.

“Você está muito animadinho... se comporta, hein!”

“Pode deixar meu lírio, o James aqui é só seu...” e aí ele começou a encher o meu pescoço de beijos, quando ouvi meu pai me chamar lá embaixo. Obviamente James estava aqui em cima por tempo demais, e mesmo eu me casando no fim-de-semana, eu ainda era sua filha mais nova. Portanto, era hora de descer. “Estamos descendo, papai”.

Colocamos as caixas no porta-malas do carro de papai, e fomos os três mais mamãe para nossa nova casa, uma bem charmosinha num vilarejo afastado. Deixamos as coisas lá, e depois seguimos rumos separados. James aparatou para algum pub onde Sirius, Remo, Peter, Frank e outros amigos homens já estariam, para a despedida de solteiro deles, e papai e mamãe me deixaram na casa de Emelina, para a minha despedida de solteira.

Quando cheguei na casa da Mel, a casa parecia ter sido bombardeada por gotas de chocolate. Bem, pelo menos a cozinha. A porta estava só encostada, eu entrei, larguei minha bolsa no sofá, e fui seguindo o som da risada escandalosa de Alice. As três estavam na cozinha fazendo – ou tentando – brigadeiro.

“Lily!” saudou Marlene, largando a panela de brigadeiro nas mãos de Emelina e pulando pra me abraçar. Alice largou a taça de bebida e também veio me abraçar, e logo depois Emelina, após certificar-se de que o brigadeiro não ia queimar ou explodir no fogão elétrico que ela não sabe mexer ³. Felizmente Alice estava ali, caso acontecesse alguma catástrofe, e agora, eu.

Depois de ensiná-las a fazer o brigadeiro corretamente, e nos empanturrarmos com o doce, é claro, Alice e Marlene prepararam uma jarra de Margueritas, e ficamos bebendo e jogando velhos jogos de tabuleiro, que eu ‘resgatei’ do armário do meu quarto especialmente para essa ocasião. É claro que bêbadas ficava meio difícil jogar, mas nos rendeu boas risadas. Alice e as outras duas me prepararam uma surpresa: montaram um álbum com fotos do grupo todo, especialmente de mim e James nos últimos meses – quando já estávamos juntos, e sem brigar. Acredite, alguém tirou fotos de nós dois em momentos de briga! - Nos divertimos muito relembrando todos esses momentos, e também choramos um pouco.
Depois colocamos uma música animada e dançamos. Bêbadas. E foi então que Marlene teve a brilhante idéia de ir naquela boate na esquina da rua em que Emelina mora. Mas, descobrimos que não era uma boate qualquer. Era uma boate Drag. Dançamos e nos divertimos com as drag queens, mas ficamos pouco tempo, já que a hora que fomos a boate já estava quase fechando. E então voltamos pra casa da Mel e capotamos na sala, sobre os colchões e sacos de dormir que tínhamos arrumado anteriormente, como naquelas festas do pijama que a gente faz quando é criança. Acordamos todas lá pelo meio-dia, com a cabeça latejando, as roupas da noite anterior, e a cara amassada pelos travesseiros. Eu fui a primeira a me levantar. Cambaleei até o banheiro da Mel, tomei um banho, vesti a muda de roupa que tinha levado na bolsa-carteiro – onde você também estava – e fui pra cozinha fazer chá para todas nós. (N/A: eu não entendo muito de ressacas, mas acho que quem bebe muito geralmente toma café pra passar... mas, como elas são inglesas, e ingleses adoram chá, e como chá é um remédio universal pra tudo, elas vão curar a ressaca com chá.)

A segunda a acordar foi a dona da casa, que logo se serviu de uma xícara do chá de camomila que eu preparara. Depois foi a vez de Alice, e ela não parecia ter bebido uma gota de álcool na noite passada, estava completamente normal. Por último, Marlene, que estava com uma cara muito engraçada. Ela se sentou à mesa da pequena cozinha de Emelina, onde já estávamos, e perguntou:

“Ontem à noite... eu dancei com um homem vestido de mulher?”

Rimos, ao que ela fez uma careta de dor provocada pelo barulho.

“Ahn... pode-se dizer que sim...”, respondi, controlando o riso.

Depois disso, ela tomou todo o restante do chá, e foi tomar um banho, enquanto decidíamos o que comer. Poderíamos almoçar fora, ou então fazer um macarrão ali mesmo. Lê-se: Lily cozinhar o macarrão, já que as outras não sabem usar o fogão. Sugeri que fôssemos almoçar fora, e tive a idéia de chamar os garotos – sim, eles serão eternos garotos para mim – para irem conosco. Aí Alice brincou que eu estava querendo verificar se James não tinha passado a noite de sua despedida de solteiro com nenhuma stripper. Merlin, ela quase estava certa.

Mandei a coruja de Emelina para ele, e vinte minutos depois, o mesmo tempo que Marlene demorou para terminar seu banho que já tinha começado há meia hora, recebi a resposta:

“Claro que eu vou almoçar com você, amor. E não se preocupe, o único que acabou com uma stripper foi nosso pequeno Peter.
Com amor,
James”

Ele não é fofo? E eu juro que não mencionei a parte da stripper no bilhete que mandei a ele. Ele simplesmente adivinhou o que eu estava pensando. Acho que é porque talvez ele já me conheça bem o bastante...

Bem, como a casa da Mel é perto do Beco Diagonal, decidimos almoçar num restaurante que tem por lá, para evitar possíveis constrangimentos de não-trouxas em lugar de trouxas, e também porque eu estava com saudade daquele lugar. Tinha bastante tempo que eu não ia lá...

Aparatamos direto lá, e encontramos James, Sirius, Remo e Frank – Peter teve que resolver uns assuntos pessoais – já sentados nas mesinhas do lado de fora do restaurante. James me recebeu com um sorriso enorme e satisfeito, me beijou rapidamente e disse que estava com saudades (fofo!). Questionei como ele podia estar com saudades, se tínhamos nos visto na noite anterior, e se a partir de amanhã passaríamos a viver juntos e nos ver todos os dias, e aí eu constatei “James, você vai acabar se cansando de mim!”, no que ele apenas sorriu e rebateu “Eu nunca me cansaria de você, meu amor. Se eu passei quatro anos da minha vida agüentando você me odiando, e mais três recebendo foras e mais foras, e nunca me cansei, você acha que eu cansaria agora que te tenho pra sempre? Nem pensar!” aí eu fiz uma cara de bebê como quem diz “Nunca se sabe...” no que ele sorriu e me abraçou, beijando o lado da minha cabeça – era pra ser minha bochecha, mas eu sou um pouco mais baixa que ele, então foi cabeça mesmo...

Finalmente entramos no restaurante, onde os outros já estavam, e pedimos nossas refeições. Não vou detalhar aqui, porque não é importante. Ah, e acho que é desnecessário dizer que o único tópico de conversa de toda a tarde foi o casamento. Sirius era claramente o mais animado. Não parava de dizer o quanto estava ‘orgulhoso de seu melhor amigo Pontas’, e fazendo piadinhas o tempo todo... Merlin, como é que a Marlene consegue suportar toda essa besteira que sai da boca dele, todos os dias? Hum, acho que eu poderia responder essa pergunta, tendo em vista de que James é mais ou menos parecido... eu já devia estar acostumada... mas sei lá, às vezes parece que os dois tem a mentalidade de uma criança de oito anos... Eu fiquei observando James e Sirius numa pequena guerra de comida, e me perguntei: ‘Merlin, é com esse homem que eu vou me casar?’ e aí me bateu um pânico momentâneo, que logo foi controlado pela minha consciência boa (aquela que me tranqüiliza, diz que eu amo o James, e não deixa a outra pegar o poder), e eu vi James me lançar aquele olhar especial e me sorrir, mandando um beijo no ar em seguida. Sorri. Sim, é com esse homem que vou me casar. O homem que me ama, e que também amo.

Depois do almoço, que durou até umas quatro da tarde porque depois fomos tomar sorvete, aparatamos para cá, e fomos recebidos pelos meus futuros sogros, Sr, e Sra. Potter (lembrar: chamá-los pelo primeiro nome.). Papai e mamãe também já estavam lá, e ficaram encantados com a casa.

Aliás, eu não cheguei a mencionar a primeira vez que vim aqui. Foi nas férias, logo depois de nos formarmos em Hogwarts. James convidou a mim, os marotos e as garotas para passar uma semana aqui com ele. A mansão é simplesmente gigantesca. Tem um enorme jardim na frente, bem bonito, com lindas flores coloridas e bem-cuidadas; a casa em si tem uns quatro andares, 23 aposentos, – sendo 10 deles suítes - 17 banheiros, e uma espécie de terraço. É muito grande mesmo. Eu quase me perdi num corredor a caminho da biblioteca – sim, uma biblioteca! Linda, linda, linda, abarrotada de livros, completamente perfeita! Passei a maior parte dos dois primeiros dias ali! – e me atrasei para o jantar, no primeiro dia. Mas depois James me ensinou algumas passagens secretas, para tornar os trajetos mais rápidos. Ainda no primeiro dia lá, conheci os quartos de hóspedes. Enormes, como tudo nessa casa. Obviamente, tinha um para cada um de nós. O meu e o das meninas era na ala leste do terceiro andar, e o dos meninos na ala oeste. Sirius, naturalmente – por ele ter morado ali por um tempo – tinha o seu próprio quarto, arrumado à sua maneira: bem bagunçado, sendo as cores predominantes vários tons de azul. No quarto de James – ok, eu conheci o quarto dele, mas foi a única vez que entrei lá – predominavam as cores vermelho e ouro, principalmente vermelho, e todo decorado com pôsteres de quadribol, tal como o de Sirius.

Bem, o meu quarto, que é o mesmo onde me situo agora e continua do mesmo jeito, é muito grande e muito bonito. Tem um carpete verde-claro com pequenas florezinhas em tons pastéis desenhadas, o papel-de-parede também é decorado com flores, mas nada muito exagerado, tem uma linda e grande cama de dossel bem no centro do quarto, encostada à janela,com o cortinado rosa-claro e florido, e a colcha é verde-clara. De cada lado tem uma mesinha de cabeceira de madeira clara, assim como todos os móveis do quarto, e em cima de uma tem um abajur cuja cúpula tem um formato de flor, e na outra um vaso verde com lírios cor-de-rosa, recém-colhidos do jardim lateral – uma espécie de mini-réplica do Lily’s Garden lá de Hogwarts. Tenho ainda um armário e um biombo florido, na parede da porta da suíte. Um banheiro bem espaçoso, com uma banheira redonda no meio, e uma prateleira de vidro cheia de sais de banho, quase como o banheiro dos monitores de Hogwarts, e o espelho é gigantesco, ocupa toda uma parede. Voltando ao quarto, tenho ainda uma linda e charmosa penteadeira antiga, com um banquinho redondo e acolchoado na parede exatamente oposta à da cama que tem um baú aos seus pés, uma escrivaninha numa outra parede, onde estou sentada escrevendo, e, na parede exatamente em frente à porta do quarto, uma outra porta, que leva à uma pequena sacada, que tem vista para o jardim dos fundos, local, aliás, onde será a cerimônia de casamento.

Dei uma espiada lá embaixo, onde minha mãe e minha futura sogra estavam debatendo há pouco se deveriam ser seis lírios por arranjo floral, ou quatro. Mamãe queria quatro, achava que seis era demais, mas a Sra. Potter (primeiro nome, primeiro nome!) discordava, e por fim as duas entraram num acordo de que seriam cinco por arranjo floral das mesas. Enfim, tem um tapete vinho que leva em direção a um arco de casamento todo de treliça branco, com algumas flores brancas entrelaçadas, onde eu e James faremos nossos votos, com cadeirinhas brancas enfileiradas ao longo do tapete, dos dois lados. Tem muitas cadeiras. O que significam muitos convidados. Dois, quatro, seis... tem cinqüenta cadeiras de cada lado! Cem convidados! Eu vou andar por aquela ‘passarela’, com duzentos olhos em cima de mim, fora James, o bruxo celebrante, Sirius, Remo, Peter, Alice, Marlene e Emelina, que estarão no altar, já que são os padrinhos/madrinhas ¹¹. Oh céus, eu não tinha parado pra pensar que amanhã eu serei o centro da atenções! Todos vão estar olhando pra mim! Pelo menos o papai vai estar ao meu lado...

QUARTO DE PAPAI E MAMÃE NA MANSÃO POTTER, 18:15

Papai rolou escada abaixo e quase teve um enfarto! Não foi nada grave, mas ele tem que ficar em repouso constante, não pode se emocionar muito, e não pode em hipótese alguma sair de sua cama. E agora, como ele vai me levar até o altar amanhã?

18:25

Ah, claro, a solução perfeita: eu chego sozinha!
“Papai, você não vai poder me ver me casando?” perguntei chorosa, no que ele respondeu dizendo com um sorriso brando “Claro que vou querida, mas de longe. Entregá-la àquele rapaz só me faria morrer mais cedo.” “Papai...” repreendi-o assustada, no que ele sorriu ainda mais “Foi só uma brincadeira.”

Acho que sei por que me apaixonei por James. Pelo mesmo motivo porque mamãe se apaixonou por papai. Acho que é mal de família nos apaixonarmos por homens crianções... a não ser por Petúnia. Será que ela é adotada?

Enfim, papai continuou: “Filha, você sabe que eu te amo; e que eu fico muito feliz com o seu casamento com o James. Eu gosto dele. É um bom rapaz. Eu sei que vai te fazer feliz. E Lily, o que te fizer feliz, me fará feliz. Me perdoe por não poder acompanhá-la até o altar. Mas eu estarei assistindo a tudo daqui, e estarei muito orgulhoso da minha flor.” – o quarto de papai e mamãe é no primeiro andar, e da janela dá para ver o jardim dos fundos perfeitamente.

Preciso dizer que eu chorei? Caramba, o papai tem o poder de me deixar emocionada com qualquer coisa que ele diga. Ele enxugou a minhas lágrimas e me abraçou, beijando a minha testa no processo. Então eu falei: “Bem... eu só queria que você estivesse ao meu lado...” E aí mamãe entrou no quarto, estragando o nosso ‘momento-pai-e-filha’, trazendo um suco e o remédio de papai (não foi a primeira vez que ele teve um quase-enfarto desse tipo) e disse casualmente:
“Lily querida, deixe de bobagem! Muitos casamentos hoje em dia são assim, não tem mais essa necessidade de a noiva entrar com o pai...”
Obrigada, mamãe. Você não sabe o quanto a sua sugestão me tranqüilizou.

BILIOTECA DA MANSÃO POTTER, 18:30

Nem minhas amigas entendem a minha situação. É claro que não disse que estava com medo de andar pela ‘passarela’ sozinha. Mas disse que ir com o meu pai era uma tradição importante. Mas Alice lembrou que ela não entrou com o pai dela e não sentiu a menor falta – não que isso signifique que ela não o ama. “Ah Lily, isso não é tão importante. No mundo bruxo, por exemplo, não tem isso. A grande maioria das vezes a noiva entra sozinha, numa boa.” Ok. Numa boa. Eu vou conseguir.

MEU QUARTO NA MANSÃO POTTER, 22:30

Sabe por que eu vou conseguir andar pelo tapete vindo em direção ao altar sozinha amanhã no dia do meu casamento? Porque eu amo James, e estou completamente certa de que quero me casar com ele, e eu não vou deixar que nada me atrapalhe amanhã.

DOMINGO, 12 DE JUNHO,
BIBLIOTECA DA MANSÃO POTTER, 09:50

Ok, estou aqui, trancada na biblioteca da mansão dos meus sogros e que meu futuro marido herdará um dia – não que isso importe – enquanto há uns cem convidados, talvez mais, lá no jardim dos fundos, esperando que eu apareça em dez minutos. Antes que você pense qualquer coisa com sua cabecinha de papel, vou explicar porque estou na biblioteca.

Como eram muitas mulheres para se arrumar – eu, mamãe, Sra. Potter (Merlin, daqui a alguns minutos ela será minha sogra oficial e eu ainda me refiro a ela pelo sobrenome, que logo será meu também!), Alice, Marlene, Emelina, as mães delas, umas tias bruxas que ficaram palpitando sobre como eu deveria me arrumar, uma cabeleireira para cuidar de meus cabelos, e mais a Professora McGonagall, que ficou tão emocionada por eu tê-la convidado, que fez questão de me ajudar a me arrumar também. E, por mais que a mansão tenha vários aposentos, nenhum é grande o suficiente para abarcar essa quantidade de mulheres se arrumando e seus vestidos de festa ¹². E mais, a biblioteca é no térreo, e tem uma saída para o jardim lateral (mini-réplica do Lily’s Garden, lembra?), que leva até o jardim dos fundos, onde será a cerimônia.

Fui acordada às sete da manhã por Alice, Marlene, e Emelina, e só me dei conta de que tinha acordado quando senti as gotas frias do chuveiro caindo sobre mim, e as três cantando alegremente “Lily, hoje você vai casar!”. Sim, eu estava ciente disso, elas não precisavam ter me enfiado debaixo do chuveiro ainda de camisola, como uma bêbada que precisa acordar de sua bebedeira. Bem, terminei meu banho e vesti um roupão, no que elas logo me arrastaram às pressas escada abaixo, em direção à biblioteca. Vi de relance Sirius passando por nós, ainda de pijamas e um roupão por cima, um pouco sonolento. Marlene gritou algo para ele como “O que está fazendo parado aí? Vai se arrumar e ajudar o James! E não deixe nenhum homem se aproximar da biblioteca!”. E então eu entrei aqui, no meu oásis de tranqüilidade, e tive um choque ao perceber que ele havia sido transformado numa espécie de salão de beleza, onde várias mulheres me esperavam sorridentes. Às sete e meia da manhã!! E eu ainda nem tinha tomado café... resisti à tentação de perguntar o que tinham feito com todos aqueles livros maravilhosos; logo percebi que estavam muito bem protegidos por detrás de cortinas. Todas as paredes estavam cortinadas, aliás, já que a biblioteca tem janelões que dão para o jardim, e não podíamos correr o risco de sermos todas vistas pelos homens enquanto trocando de roupa, principalmente a noiva!

Depois de muito apelar, mamãe me trouxe um copo de suco de laranja e uma torrada com manteiga, para que eu calasse a boca e deixassem que a bruxa-cabeleireira arrrumasse os meus fios ruivos rebeldes num lindo penteado num misto de coque, – com um lírio cor-de-rosa preso a ele - com alguns cachos soltos atrás ¹³. Aí partiram para fazer a minha maquiagem, e eu implorei para que fizessem algo bem leve, nada muito ‘tchã’, algo bem discreto mesmo. Elas atenderam ao meu pedido, e a única coisa chamativa mas legal em meu rosto é a sombra levemente esverdeada, combinando com meus olhos, e o batom rosa-clarinho. Bem, elas terminaram a maquiagem às oito e meia, e eu achei que ficaria mais uma hora e meia inteira sem fazer nada, quando começaram a pintar as minhas unhas! Até mesmo as dos pés! E tudo o que fizeram comigo, fizeram com Alice, Marlene e Emelina também. Marlene até brincou dizendo: “Meninas, vocês precisam se casar mais vezes... esse tratamento de beleza é demais!” aí Alice virou e disse: “É... quem sabe a próxima não é você?” aí Marlene corou e fechou a cara, recolocando pepinos em seus olhos.

Depois de todo o tratamento de beleza, foi a hora de nos vestirmos. As três estavam bem bonitinhas com seus vestidos longos e justos, cada uma de uma cor: Emelina de rosa-claro, Alice de verde-claro, e Marlene de azul-claro. E o meu vestido é naturalmente branco, tomara-que-caia, uma saia rodada de tule, e o corpete é todo bordado com pérolas. Absolutamente lindo. Ah, e é claro, um véu curto e simples, que cobre apenas o meu rosto e parte do meu colo.

Bem, quando finalmente estávamos todas prontas, mamãe chorou de emoção por ver ‘sua filhinha caçula’ indo se casar, e depois por sua filha mais velha não estar presente, e aí ela também me fez chorar – olha a maravilha do mundo bruxo: maquiagens que não saem com água, só com magia! Aí tivemos um daqueles momentos mãe-e-filha, e depois ela, Helen – finalmente! Chamei minha futura-sogra pelo primeiro nome! – a professora Minerva, e todas as outras bruxas e tias mexeriqueiras, saíram, ficando na biblioteca/salão de beleza apenas eu e as meninas. Demos um abraço grupal, choramos mais um pouco, e fizemos algumas piadas sobre como ‘estamos todas crescendo e virando gente grande’. Depois elas saíram para o jardim, e logo em seguida papai entrou para me desejar boa-sorte, acompanhado de mamãe. Sorri. Ele disse como eu estava linda, e me deu um colar de pérolas para usar, que combinam com os meus brincos também de pérolas. Aí ele disse mais algumas palavras bonitas, me fez chorar novamente, e beijou a minha testa, pedindo que eu não deixasse James esperando, que já estava quase na hora. Mas eu fiquei aqui, relatando tudo isso, porque...

Estou apavorada.

Eu, Lily Evans, estou com medo de me casar. Com o amor da minha vida.

Mas fala sério, quem não ficaria? Primeiro; porque eu vou ter que entrar lá sozinha, com todo mundo me olhando; e aí vou ter que dizer meus votos – que eu não me dei ao trabalho de escrever, já que pensei que estaria completamente tranqüila na hora pra falar tudo o que eu sinto por James de cor, mas me deu um branco!! Tudo o que eu sei é que eu o amo... mas e o resto?? Oh Merlin, me ajude!

E depois, ainda tem o lance do sobrenome... eu vou deixar de ser Lily Evans, e passarei a me chamar Lily Potter! Isso não significa que eu vou perder a minha identidade? Não vou mais ser a ‘Evans aluna revelação, certinha, brilhante, e aplicada ’ de antes; de agora em diante, serei uma ‘Sra. Potter, casada’. Eu devia ter conversado mais com Alice sobre isso... será que ela também pirou com o lance do sobrenome? Provavelmente não, ela é mais bem resolvida do que eu...

E ainda:

Por mais que isso soe completamente infantil e eu vou me detestar daqui há pouco por pensar assim, mas não posso evitar: Eu vou ter que morar com um garoto!

Merlin! Eu não tenho irmãos. Nunca convivi muito com meus primos. Em Hogwarts os dormitórios eram separados, e a única vez que entrei no dormitório dos garotos, fiquei horrorizada com toda aquela bagunça! E o apartamento de James era bem bagunçado... mas não é só por causa da bagunça... na verdade...

Oh Merlin, tem alguém batendo na porta! Oh meu Merlin, é James!

09:55

“Oi Lily...” ele disse, através da porta e eu pude perceber pelo tom de sua voz que ele estava sorrindo.

“Oi...” respondi de volta, tentando soar tão carinhosa quanto ele, mas saiu um oi totalmente estrangulado e que denotava que algo muito ruim estava acontecendo.

“Lily, ta tudo bem?” ele perguntou, a voz abafada, por estar do outro lado da porta.

“Ah... sim, claro, está! Eu... já estou pronta, já estou quase saindo!” respondi nervosa. Ele riu abafado.

“Hum... acho que não está tudo bem...” como ele estava certo!

“Não, é claro que está! Mas... o que você veio fazer aqui?” perguntei aflita, me aproximando da porta, a fim de nos escutarmos melhor.

“Nossa, já está enjoada de mim?” ele riu. “Na verdade... eu queria ter uma conversa com você, antes de... bem; antes de mudarmos nossas vidas completamente.” Ele riu novamente, e o senti encostar-se na porta e descer até o chão, sentando-se com as costas apoiadas nela. Fiz o mesmo. “Olha, Lírio, eu estou tão apavorado quanto você em relação ao nosso casamento. É claro que eu te amo, e quero mesmo me casar com você... é só que... bem; eu entendo como você se sente. É um passo importante e tudo o mais. Mas eu acho que estamos prontos pra isso, portanto, por que não, certo? E... sei lá, achei que deveria vir aqui, te dizer isso e... te confortar de algum modo...”

Aí me vieram à mente todos os motivos para eu amar James.

“Eu te amo, sabia?” consegui dizer finalmente, com a voz embargada, quase chorando. Ele riu pelo nariz e disse:

“Eu sempre soube. Também te amo, Ruivinha” ri por causa do apelido. Quem geralmente me chama de Ruivinha é o Sirius, James me chamou poucas vezes por esse apelido, só quando éramos mais imaturos e crianças, e ele implicava com o meu cabelo ser ruivo. “Bem, eu acho que tenho que voltar pra lá. Venha assim que estiver pronta, ok?”

“Ok.” Disse de volta, com um ar sonhador.

Aí eu corri para relatar essa conversa aqui. Acho que James me tranqüilizou, de certa forma. Estou me sentindo mais confiante. E pronta a sair por aquela porta e me casar com ele a qualquer instante.

BANHEIRO DA MANSÃO POTTER, 16:25

Depois de um tempo, voltaram a bater na porta. Era Sirius.

“Ei Lil, pronta pra casar com o Pontas?” ele perguntou animado, entrando displicentemente pelo recinto. Eu ia responder ‘mais ou menos’, mas então ele se virou para mim, boquiaberto, e disse:

“Uau, Lily... você está linda...” ele disse, e pude ver que estava muito bonito, trajando um lindo ‘fraque-bruxo’²¹ preto, com uma flor branca na lapela, certamente como James também deveria estar. “O Pontas tem sorte de se casar com você...”

“Obrigada... desculpe perguntar, mas você não deveria estar no altar ao lado de James?” perguntei curiosa.

“Ah, claro.” Ele respondeu, saindo do estado de transe de me ver bonita e vestida de noiva. “Bem, eu fiquei sabendo que o seu pai não ia poder te acompanhar até o altar, e as garotas disseram que você estava meio chateada com isso... portanto, eu vim aqui para salvá-la, donzela. Vou te levar até o altar.” Não pude evitar soltar uma risada com essas últimas palavras. Mas depois senti um acesso de emoção se apossando do meu peito, um enrolar na garganta, e senti vontade de chorar. De novo. Mas de felicidade, sabe. “E então, pronta?”

“Claro.” Respondi, sorrindo, e controlando minhas lágrimas – por que ultimamente tenho estado tão sensível? Oh, bem; talvez seja TPM.

Aí ele me estendeu o braço cavalheirescamente e o aceitei, sorrindo abertamente. Peguei meu buquê de lírios cor-de-rosa (se a maior parte da decoração tem coisas cor-de-rosa, é culpa de mamãe e Helen. Eu gosto de cor-de-rosa, mas não tanto. Mas as duas parecem ser fanáticas por essa cor. Acho que nascerá uma grande amizade entre elas a partir desse gosto em comum...)

Bem, saímos pela porta do jardim lateral, e ele me encaminhou até o jardim dos fundos, onde todos os cento e poucos convidados já estavam dispostos nas cadeirinhas brancas ao longo do tapete vinho e do altar-arco-de-treliça, onde James já estava me esperando. Alice, Emelina e Marlene também estavam à minha espera, e saíram caminhando em fila à minha frente, ao mesmo tempo em que uma suave e bonita melodia começara a tocar, proveniente de um piano localizado próximo ao altar que uma bruxa bem idosa tocava. Respirei fundo e caminhei lentamente, sentindo todos os olhares em mim. Pude ver que James sorria para mim encantado. Trajando roupas iguais às de Sirius, os cabelos negros desalinhados sensualmente, e me fitando por detrás dos velhos óculos de armação redonda. Sorri para ele de forma apaixonada. A caminhada até o altar não durou tanto, o que tornou patético todo o meu pânico inicial por ter que andar lá sozinha. Mas foi bom ter um amigo ao meu lado. Chegando ao altar, Sirius me ‘entregou’ à James, dando-lhe uma piscadela e me beijando a bochecha. James então levantou o véu do meu rosto delicadamente e beijou a minha testa, e sussurrando em meu ouvido: “Você está deslumbrante”. Corei, como quando ainda nem éramos namorados e eu ainda não tinha certeza de meus sentimentos por ele. Nos encaramos sorrindo mais uma vez, e a cerimônia começou.

Correu tudo normalmente, como em qualquer casamento britânico. E eu consegui organizar os meus sentimentos e dizer umas coisas bem profundas para James em nossos votos. Também, tive muita inspiração no discurso dele:

“Lily... por muito tempo, eu achei que não iria me apaixonar. Que nunca encontraria alguém que realmente amasse, e essa certeza me era confortável. Mas então eu passei a conhecê-la melhor. E vi o quanto você era inteligente, gentil, alegre, divertida... muito linda... e percebi que era diferente de todas as outras garotas que eu já tinha me interessado. E comecei a te chamar pra sair. Mas me surpreendi quando você não aceitou da primeira vez. E depois de quinhentos e oitenta e nove foras, - sim, eu contei - eu percebi; que você seria a mulher da minha vida. Lily... por mais que eu ainda tenha muitas características que você tanto despreza, o que prevalece em mim é o meu amor por você. E esse nunca vai se acabar. Eu te amo, Lily Evans-Potter. E a amarei eternamente.”

Lindo, não é? E adivinha quem chorou? Sim, eu, é claro – mas de uma maneira bem silenciosa, nada soluçante. E Alice, Emelina e Marlene também. Mas bem, foram lindas palavras. E eu tentei dizer algo à altura.

“James... ao contrário de você, eu não preparei nada específico para dizer... decidi que iria falar o que me viesse à cabeça no momento... mas todas as belas palavras que eu tinha para descrever o amor que sinto por você, me fugiram; e tudo o que consigo pensar em dizer para descrever esse sentimento, é num poema que eu li uma vez, e nunca esqueci:
‘Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você’
Eu te amo, James Potter. E te amarei para sempre.”

Bom, até que eu consegui emocionar a todos. James me olhou sorrindo alegremente, beijou minha bochecha lentamente, e eu tenho quase certeza de que ele estava lacrimejando... já Sirius, eu tinha certeza; estava com a cara escondida no ombro de Remo, e quando se virou, piscava os olhos incessantemente, olhando pra cima, fingindo ter um cisco no olho. Então o celebrante finalizou a cerimônia, trocamos as alianças, e meio a aplausos e pétalas de rosa que nos jogavam, James me segurou pelos braços e beijou-me apaixonadamente. Foi mágico. Demos as mãos e saímos juntos pela tal passarela do tapete vinho enquanto todos aplaudiam emocionados.

Daí foi a festa. Que ainda está acontecendo. O jardim está todo arrumado com várias mesinhas redondas com toalhas brancas, e tem uma mesa grande de bufê, debaixo de uma marquise de treliça improvisada onde também fica a pista de dança, um palquinho onde uma banda toca músicas, e algumas mesas. Depois que todos tínhamos pego nossos pratos e estávamos prestes a almoçar, Sirius ergueu-se e fez o tradicional brinde do padrinho, contando algumas piadas mas desejando a felicidade minha e de James. Depois de todos termos comido, inclusive o bolo, eu e James fomos dançar a dança dos noivos, e dançamos nossa música, a mesma do Baile de Primavera, The Way You Look Tonight. Foi tão lindo. Olhei para minhas amigas e elas estavam tão emocionadas, tão felizes por mim. Vi que Marlene sorria, mas tristemente. E sei que era por causa do Sirius. Eles andaram tendo uns problemas ultimamente. Mas já estão bem. É só que ela quer que a relação dela com Sirius passe para outro nível. E ele parece querer deixar as coisas como estão. Tipo, eles estão praticamente morando juntos. Fazendo todo tipo de coisa de casal. Mas isso não parece ser o bastante para Lene. E eu até entendo ela, acho. Alice casou. Eu casei. Emelina só não casou porque Remo e todo paranóico sobre ser um lobisomem, mas é como se fossem, principalmente porque de uns tempos pra cá ele se mudou para o apartamento dela, que é melhor que o dele; e ela não é muito ligada a essas convenções, mesmo. E desde que saímos de Hogwartz, vários colegas nossos já casaram. Inclusive, eu esqueci de mencionar, Melissa Adams e Bryan Leigh (!). De qualquer forma, ela está meio triste. Queria poder ajudar...

Hum, preciso ir agora. Acho que devem estar me procurando.

SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JUNHO,
MINHA NOVA CASA, 16:00

Depois que saí do banheiro, fui surpreendida por uma Emelina afoita.

“Lily! Onde esteve? Estão todos te procurando! Anda, está na hora de jogar o buquê!”

Com isso ela me puxou pelo braço e me levou de volta para o jardim, onde uma multidão de mulheres solteiras (inclusive as tias bruxas solteironas que me ajudaram a me arrumar) estava me esperando. Subi no palquinho da banda, e vi que Marlene não estava no meio. Estava encostada numa pilastra, afastada e cabisbaixa. Virei-me de costas e joguei o buquê, que, ‘magicamente’, caiu aos pés de Marlene. Todas as solteiras ficaram tristes, porque acharam que o buquê tinha sumido. Olhei para Marlene, e quando estava descendo as escadinhas do palco, vi Sirius se aproximar dela, se ajoelhar no chão, pegar o buquê de lírios cor-de-rosa e estender a ela. Logo Alice e Emelina se juntaram a mim, e observamos a cena apreensivas, como quem assiste a último capítulo de novela. Como eles estavam bem afastados, não dava pra escutar o que diziam, mas deu pra imaginar o que aconteceu. Vimos Marlene sorrir emocionada, e acho até que ela chorou, e então ele se levantou, ela o abraçou apertado segurando-o pelo pescoço, e se beijaram apaixonados. E eu e as outras suspirávamos. Então apareceram James, Remo e Frank. James me beijou a testa e eu falei, apontando para Marlene e Sirius:

“Você viu aquilo?”

“Claro. Ele já estava pensando nisso antes. Apenas esperava o momento oportuno.”

Sorri. Nossas vidas realmente estão tomando novos rumos. Estamos todos crescendo e amadurecendo. E isso me deixa tão emocionada... ok, segura as lágrimas. Não sei o que está acontecendo comigo. Estou tão emotiva. Isso geralmente acontece quando alguma coisa muito boa vai acontecer... ou então muito ruim. Não, acho que é uma coisa boa. Eu sinto que só pode ser algo bom. Ok Lily, pare de falar como uma vidente. Volte a narrar a festa de casamento. Hum, ok.

Bem, depois desse lindo momento, Marlene veio nos contar a novidade, e nós nos fingimos de surpresa e ficamos todas felizes da vida. Depois foi a hora do agito: começaram a tocar músicas animadas e dançamos pra valer. Foi muito, muito divertido. Quando já eram umas seis horas, a festa estava acabando, eu e James nos despedimos de nossos familiares (papai disse que estava muito feliz e orgulhoso de mim) e amigos e aparatamos para nossa nova casa (ele queria vir de vassoura, mas eu disse que de jeito nenhum eu voltaria a subir naquela coisa, e que seria loucura também, já que a casa é bem longe da Mansão dos Potter). Pequena comparada à mansão, linda, branquinha, com uma cerquinha também branca, um bonito jardim na frente cheio de flores. Super charmosa ²². James e eu andamos de mãos dadas até a porta, e então ele me pegou no colo, e a abriu para que entrássemos, e subiu as escadas (comigo no colo!) até o nosso quarto. E tivemos uma noite maravilhosa.

Acordei hoje e vi que James não estava na cama. Em seu lugar tinha uma rosa cor-de-rosa, provavelmente colhida de nosso jardim. Vesti um robe branco de cetim por cima da camisola verde-clara também de cetim e desci as escadas em direção a cozinha, onde encontrei James de cueca samba-canção vermelha, e os cabelos mais arrepiados do que eu jamais poderia imaginar.

“Bom dia.” Disse sorrindo, no que ele se surpreendeu e sorriu de volta. Beijei seus lábios rapidamente e observei o que ele estava fazendo.

“Nosso café-da-manhã. Eu ia fazer uma surpresa, mas parece que você conseguiu estragá-la.” Aí eu fiz uma careta e iniciamos uma pequena guerra de comida com as panquecas. Acabamos comendo por ali mesmo. Ficamos em silêncio um tempo, e então ele disse “Olá, senhora Potter.”

Por um segundo, o meu medo inicial voltara. Mas então sorri. “Olá, senhor Potter.”

Acho que posso me acostumar a essa nova vida de casada...

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¹: eu imagino, suponho, que os alunos que almejam ser curandeiros tenham algum tipo de aula preparatória, e que estas logicamente devam ser no St. Mungus. Bem, se não for, eu acabei de inventar. Ok??? Essa fic é minha, então vamos fingir que isso existe, e eu não estou contrariando nada do universo Potteriano de J.K. Rowling. Ok???
²: Bem, nós sabemos que Emelina Vance foi parte da nova Ordem da Fênix, mas pelas minhas pesquisas, ela não fazia parte da Ordem original, o que explica essa minha atitude de não colocá-la na Ordem. Ok? Ah, e eu quis sacanear o Peter colocando-o para trabalhar no Caldeirão Furado.
³: imaginem o apartamento de Bridget Jones, como modelo de um apartamento num predinho baixo em Londres. Pronto. Agora, vamos imaginar, que esse predinho já venha com fogão instalado. Tudo bem? Certo. Oras, é um prédio trouxa. E como Emelina só come fora, ou na casa dos pais, ou sei lá o quê, ela, obviamente, não precisa usar o fogão, até porque não sabe mexer nele. Eu teria colocado que ela tem um fogão à lenha, mas acho que não é muito apropriado um fogão à lenha dentro de um apartamento, já que pode pegar fogo e tal. Bem; agora, vocês sabem o que me levou a colocar um fogão elétrico na casa de uma bruxa. E não me perguntem o que os bruxos usam para cozinhar suas refeições em casa!!
¹¹: ok, sabemos que só o Sirius foi padrinho... mas, como os outros dois são muito amigos de James também, ficam lá do lado dele, simbolicamente; e as garotas, são as madrinhas (ou ‘damas-de-honra’, nos Estados Unidos e Inglaterra), entram antes da Lily, e ficam lá no altar, com vestidos iguais, e seguram o buquê da noiva. Ok, vocês todos provavelmente estão cientes da organização de um casamento, mas é que eu gosto de tudo bem explicadinho, então, me desculpem por ser assim.
¹²: Imaginem a cena de ‘Casamento Grego’, todas as primas, tias, e a noiva se arrumando para o casamento, aquela bagunça toda. Pronto.
¹³: imaginem o penteado da Bela em ‘A Bela e a Fera’, ou algo parecido.
²¹: eu cansei de ficar falando ‘um traje formal bruxo, que parece um smoking’. Eu sei que na história mesmo provavelmente não é assim... mas vamos considerar que no quarto filme (embora não tenha sido muito fiel ao livro) as roupas eram meio parecidas com smokings (ou seriam fraques?). E, lembrando agora que noivos usam fraques em casamentos (bem, essa informação ficou gravada na minha mente em algum momento da minha vida há muito tempo, e não sei se é uma realidade incontestável. De fato, acho que alguns homens se casam de smoking...), o James vai usar fraque no casamento. Ok? Ah, e eu simplesmente não consegui lembrar de jeito nenhum o nome da ‘passarela de tapete vermelho/vinho’ que a noiva caminha pra chegar no altar! Eu sei que tem um nome! Em inglês é ‘aisle’, que eu vi no dicionário que é tipo nave, corredor. Mas fica feio dizer nave ou corredor. Aí ficou mais feio ainda, passarela. Mas vocês perdoam, né?
²²: imaginem a casa da feiticeira no filme “A Feiticeira”, ou uma casinha típica de The Sims. É exatamente assim.

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