Untitled (Sem Título)



DOMINGO, 01 DE ABRIL
JARDINS, 10:30

Acordei cedo hoje, lá pelas oito, com um sorriso estampado no rosto. Não sei por quê, mas acordei muito feliz. Não sei, é uma certeza tão forte de que tudo dará certo pra mim... espero não estar errada quanto a isto.

Olhei pela janela; pela primeira vez em muito tempo, não estava frio ou chovendo. O sol brilhava docemente, refulgindo na relva verdinha dos jardins lá fora. Sorri e recitei um versinho vindo da minha inspiração matinal:

Oh brisa primaveril, que adentra o castelo na manhã de Abril!

Ok, acho que minha veia literária está falhando. Mas não importa, eu vou ser curandeira mesmo.

Me vesti; uma calça jeans, uma sandália rasteira de couro e uma bata florida. Fiz umas trancinhas no meu cabelo e desci para tomar café-da-manhã. Não me preocupei em acordar as garotas, elas provavelmente estavam muito cansadas. Terminei de comer e fui à Ala Hospitalar, visitar James. M. Pomfrey ficou meio incomodada por ser tão cedo e eu já estar ali, sendo que ela precisava cuidar de um outro paciente que tinha o nariz completamente inchado, mal podia respirar, e reclamava de muita dor (é, o Bryan mesmo.). Confesso que fiquei com um pouco de pena da pobre enfermeira, mas se contasse a ela que a culpada por um paciente extra na enfermaria lotada dela era eu, ela não teria me nomeado assistente de enfermagem temporária, e não teria me dado a tarefa de cuidar do James. Então, eu estou feliz por ter quebrado o nariz do Bryan. Até porquê, me descobri sendo capaz de me defender sozinha! Êê!

Bem, ela ficou lá cuidando do nariz do Bryan (que estava muito roxo e muito inchado mesmo. Estava maior que o do Snape) e eu fiquei do outro lado da enfermaria, cuidando de James. Bem, não tinha muito o que fazer. Só trocar o curativo da cabeça dele e conversar baixinho, pra ver se ele voltava à consciência. Bem, tentei conversar com ele, fazer ele abrir o olho, até pedi desculpas e tentei esclarecer o rolo lá; mas ele não acordou. Mas pestanejou um pouco. Acho que já é um começo...

Mas M. Pomfrey continua a mesma; algum tempo depois, ela me expulsou de lá e só permitiu que eu voltasse depois do almoço depois que eu insisti muito. Consegui convencê-la a me deixar como assistente de enfermagem durante o tempo em que James estiver lá, e como ela anda sobrecarregada com outros casos (além do nariz de Bryan, vários primeiranistas estavam internados. Parece que alguém colocou alguma coisa na comida deles, sei lá. Só sei que a enfermaria está meio lotada.), concordou em me ter por lá. Mas só quando eu não estiver em aula. Dã, como seu fosse de matar aula! Bem, de qualquer forma, vou visitar e cuidar de James todos os dias, nos intervalos das refeições.

O sol brilha mais intensamente agora. Vejo algumas pessoas saindo do castelo. Algumas garotas estão indo para a beira do lago se refrescar... ah, olha só! Alice, Emelina e Marlene!

ALA HOSPITALAR, 13:15

Passei o resto da manhã refrescando os pés no lago e conversando com as garotas. Depois apareceram Sirius e Remo, acompanhados de Frank, e começamos a brincar de pique-pega. Muito infantil, não? Mas a brincadeira não durou muito tempo. Sem James não tem graça. Quero dizer, meus amigos são super divertidos, principalmente o Sirius, mas... o James é meio que a alma do grupo. Pelo menos é assim que eu penso. Bem, depois do almoço, viemos eu e Sirius pra cá, visitá-lo.

Fiz tudo o que M. Pomfrey me pediu, mas James continua inconsciente. Sirius agora está me contando sobre os planos para o baile e sobre a banda.

- Mas Sirius, se o James continuar aqui, como vocês vão ensaiar? – perguntei num tom tristonho.

- Ah, mas até lá ele já saiu daqui, pode ter certeza. Não é, Pontas? – ele deu um tapinha no braço de James. Sorrimos.

Certo, a enfermeira já está nos expulsando de novo. Será que ela não tem nada melhor pra fazer do que impedir ruivas apaixonadas e insanas de visitarem seu amado numa cama de hospital? (sente só a inspiração da garota... é o efeito da primavera...)

SALA COMUNAL, 20:30

Nada mais interessante aconteceu hoje. Antes do jantar voltei à enfermaria dessa vez com Remo. Aparentemente, James já está bem, só que ainda não acordou. E isso está deixando a mim e a enfermeira neurótica da escola preocupadas. Mas ela disse que já teve casos piores e todos sobreviveram. Certo... isso é muito preocupante. Porque não basta “sobreviver”. Tem que estar novinho em folha, como antes. E se ele ficar pra sempre em coma? Ou então, perder a memória? Agora eu estou realmente nervosa.

Remo tentou me acalmar quando eu disse a ele sobre essas minhas hipóteses.

- Ele vai ficar bem Lily, pode ter certeza.

- Mas e se...

- Lily. Calma. Ele. Vai. Ficar. Bem. Acredite.

- Ta...

Jantei e vim pra cá. Os garotos estão meio desanimados. É a falta que o maroto Potter faz. Remo joga xadrez com Marlene, Alice e Frank observam sentados no sofá. Peter foi à cozinha pegar uns doces, no que teve meu total apoio (quando fico nervosa eu meio que preciso comer chocolate, sabe?), e Emelina está conversando com alguns garotos do time de quadribol da Grifinória ali no canto... o que será que eles estão falando?

Sirius acaba de se largar ao meu lado no sofá e recosta a cabeça no meu colo. Marlene deu uma olhadinha pra cá com um olhar enciumado... hehe. Calma Lene, eu não vou roubar o Sirius de você. Certo, vamos ver o que esse cachorro tem a dizer...

DORMITÓRIO, 22:00

- Hey Sirius, que abuso é esse? – perguntei. Agora tinham poucas pessoas na sala, Alice e Frank tinham ido para seus respectivos dormitórios, Remo tinha ido à algum lugar escondido com Emelina e Marlene tinha subido pra o dormitório.

- Ah, to meio cansado. E entediado. O Pontas faz falta...

- É... – suspirei. Ele me olhou com um sorrisinho maroto nos lábios.

- É... você ta sentindo muita falta dele, né Lily?

- Ah Sirius, não começa. – falei, tirando a cabeça dele do meu colo.

- Haha! Eu não tinha te zoado ainda porque você tava toda nervosa e preocupada, mas agora eu posso te zoar à vontade... você gosta do James! – ele começou a pular no sofá. Ele consegue ser tão criança quando quer...

- Sirius! Cala essa boca! – sibilei, mandando-o sentar-se, no que ele fez espalhando todas as almofadas.

- Gosta sim! Você ama ele! Hahaha!

- Ta, agora chega.

- Bom... Agora é só você admitir pra ele e fica tudo certo! – ele se deitou no meu colo de novo.

- Há, nem morta!

- O quê? Lily, você não vai contar pra ele? – ele se virou para mim incrédulo. Eu fechei um olho apreensiva.

- Ele precisa saber? – fechei o outro olho, no que Sirius se levantou do meu colo e me fez olhar para ele. Nossa, como ele é bonito.

- Lily! O James gosta de você. Por que esconder que você gosta dele? Para deixá-lo mais infeliz e mau-humorado do que já é?

- Sirius, não dá pra resolver as coisas assim... é complicado... ele ta inconsciente na Ala Hospitalar... ta achando que eu to saindo com o Bryan por causa daquela estúpida da Melissa e por isso vai me odiar quando acordar... não é tão fácil quanto parece... – desabafei.

- Mulheres... – ele suspirou, deitando-se no meu colo novamente. Fiz um cafunézinho nele por um tempo e ficamos em silêncio. Depois de um tempo, ele falou:

- Bom, mudando de assunto... já descobriu a música que a Lene gosta?

- Hum... ainda não...

- Vai trabalhando nisso... a gente ainda tem que ensaiar...

- Ok, eu vou descobrir...

Depois disso, Peter voltou, com as mãos e os bolsos cheios de doces e principalmente chocolate. Nesse momento, Emelina e Remo voltaram de seu ‘esconderijo’ (eles são tão tímidos, não pensei que fossem assim, saidinhos) e se juntaram a nós, para comer chocolate também. Depois, Sirius, Remo e Peter foram dormir, e eu e Emelina ficamos conversando.

- Mel, o que você tanto falava com os caras do quadribol, hein?

- Menina, nem te conto! – Emelina é assim, cheia de fofocas e babados...

Ela me contou que viu a Adams junto com a irmã implorando convites para as sonserinas de novo. Parece que o acompanhante dela conseguiu arranjar um convite pra ele por influência de um outro colega sonserino, mas com a promessa de que não fosse com a Melissa. O mesmo aconteceu com o acompanhante da irmã dela, Melinda. Ou seja: os caras que quiserem ir ao baile, não poderão ir com elas. E nisso, a Melinda ainda não conseguiu convite... e parece, que a Narcisa tem um plano para persuadir todos os garotos do sétimo ano a não convidarem nenhuma das irmãs Adams. Não me interessa o que ela vai aprontar para isso, mas é bastante interessante para mim, não?

- Lily, é perfeito! – falou Emelina entusiasmada. – se ela quiser mesmo ir ao baile, você é o último recurso dela. Ela vai ter que implorar pra você, e aí você se vinga dela!

- Mel... isso é mais que perfeito! Mas como você conseguiu todas essas informações com os garotos do time?

- Bem... eles são muito fofoqueiros, você não imagina o quanto. Ouvi um deles comentando com o outro para não chamar a Adams, e tal... aí eu pedi pra que ele me explicasse a história toda... parece que é um assunto meio privado, só entre os garotos e as garotas da Sonserina...

- Hum, sei... nossa, se a Narcisa souber que está me ajudando... desiste desse plano na hora!

- Não, acho que não. Ela viu o quanto você ficou popular depois que deu aquela surra na Adams, e está repensando os seus valores e amizades, sabe...

- Mel... como é que você sabe de tudo isso? – realmente, é um mistério!

- Ah, eu só sei... – ela sorriu – Vamos dormir? Estou exausta!

- Ok, vamos sim.

E viemos dormir. Mas eu, como sempre, estou com insônia.

Olho pela janela do quarto. Está uma noite bonita, o céu cheio de estrelas. Hum, amanhã é lua cheia. Remo deverá ficar fora por uns dias.

SEGUNDA-FEIRA, 02 DE ABRIL
ESTUDO DOS TROUXAS, 17:00

Não sei por quê faço essa matéria. Eu sei tudo sobre os trouxas! Eu devia ser muito desocupada quando escolhi essa matéria. É a única explicação. E, bem, como eu sei que vou passar mesmo... vou me dar ao luxo de perder essa aula para relatar como foi o meu dia:

Acordei atrasada, me vesti, acordei as meninas, tomamos café-da-manhã; dei uma passadinha na enfermaria; James ainda não acordou. Mas a enfermeira disse que ele se mexeu um pouco e balbuciou algumas palavras. É um avanço. Fui para a aula de herbologia, depois poções, história da magia. Almocei, passei na enfermaria: nada de novo. À tarde aula de feitiços, transfiguração, e só. Ah, claro, essa aula de agora. Que além de ser um saco (porque não tem nada de novo ou interessante), não tem ninguém legal. Meus amigos não fazem essa aula. Bem, Remo faz, mas ele está envolvido com seu ‘probleminha peludo’ na enfermaria, e mesmo que estivesse aqui, ele presta atenção na aula direto, não dá pra gente ficar conversando por bilhetinho, ou sei lá. É nessas horas que eu gostaria que ele fosse menos certinho. É meio estranho eu pensar assim agora, mas... acho que mudei. Um pouquinho.

Aff. O professor nos mandou fazer uma redação sobre o uso dos eletrodomésticos, explicando como são úteis na vida trouxa e indicar a função de pelo menos dois utensílios, com detalhes. Certo, vou começar a escrever...

DORMITÓRIO, 23:30

Terminei a redação da aula de Estudo dos Trouxas em quinze minutos e ganhei dez pontos do professor Trevor. Ele me deixou sair da aula mais cedo e aproveitei para passar na enfermaria. James ainda está inconsciente. Isso é muito enervante, especialmente para mim, que sou toda preocupada e tal.

Encontrei as garotas, jantamos (Sirius e Peter foram acompanhar Remo na transformação de lobisomem. Só eu e Emelina sabemos, portanto, Marlene ficou intrigada com o sumiço do Sirius, e tivemos que dizer que ele tinha ido visitar o James na enfermaria. Bom, ela pareceu acreditar...), fizemos os deveres e conversamos um pouco. Subimos para o dormitório:

- Meninas... isso ta uma bagunça! – exclamei – vamos arrumar?

- Ah, Lily, pra quê? A tendência é piorar...

- Mas Lene... não dá pra viver assim... olha só... ta parecendo o dormitório dos garotos...

- E por acaso você já esteve lá, Lily? – perguntou Alice distraída, recolhendo alguns livros dela do chão.

- E-eu? Não, claro que não. Mas, dá pra imaginar...

- Sei... – falou Marlene irônica – ok, srta. Lily-certinha! Vamos arrumar a bagunça! Mas te garanto que não vai ficar assim por muito tempo... você sabe, eu...

- ... você é muito espaçosa, eu sei... – caímos na risada e passamos a arrumar o dormitório. Ficou tão lindo, arrumadinho, cheirosinho! Depois de tanta arrumação, nos jogamos nas camas, exaustas. Elas dormiram, mas eu tive que patrulhar os corredores (eu ainda sou monitora, e como Remo não está presente...). Na verdade, acabo de voltar.

Bem, foi isso. Nada muito especial. Agora vou dormir.

TERÇA-FEIRA, 03 DE ABRIL
JANTAR, SALÃO PRINCIPAL, 19:30

As aulas agora estão mais puxadas. Muitas revisões todos os dias.

James continua na Ala Hospitalar. Fui visitá-lo na hora do almoço junto com Emelina (ela foi ver o Remo).

Alice está me pentelhando. Mas é que eu não quero comer o espinafre do meu prato... Blé.

QUARTA-FEIRA, 04 DE ABRIL
SALA COMUNAL, 21:00

Nada de novo.

Ah! Preciso descobrir a música preferida de Marlene para Sirius aprender a tocar!

21:30

- Lene! – chamei; ela estava sentada no chão lendo o Semanário das Bruxas.

- Fala. – ela se virou para mim sorrindo.

- Ahm... eu tava pensando... você gosta de música?

- Ah, mas é claro! Que pergunta!

- Hum... é. Bem... qual sua música preferida?

- Hum... ah! Dancing Queen, do Abba!

- Ah, eu também adoro essa! Mas... não teria uma mais, assim... romântica...?

- Ah, eu não sou muito romântica, você sabe...

- Mas Lene... pensa aí, vai... deve ter uma que você goste... que faça o seu coração bater mais rápido e pensar em alguém em especial...

- Nossa, como você está poética hoje... bem, deixa eu ver... ah, que tal, The Things We Do For Love, dos 10cc?

- Hum... ta, ok.

- Mas Lily, só pra saber... por que todo esse interesse no meu gosto musical, hein?

- Ah... nada não...

- Sei, sei...

- É sério! não é nada de mais...

- Ta bom, se você diz...

Ufa! Consegui arrancar essa informação da Marlene. Sorte que ela estava distraída demais para perceber minhas reais intenções... porque, fala sério, eu sou péssima para esconder as coisas das pessoas! Um desastre! Eu tava quase falando que era pra surpresa do Sirius... bem, pelo menos essa parte está resolvida. Amanhã falo com ele...

QUINTA-FEIRA, 05 DE ABRIL
SALA COMUNAL, 21:30

Não tive aula de trato das criaturas mágicas hoje, às 17:00; parece que houve um acidente com a turma anterior, algo assim. Aproveitei para ir à enfermaria visitar James.
Mas, dessa vez, tive uma surpresa: ele estava acordado.

- James! Você está bem? – exclamei, ao entrar na enfermaria e vê-lo sentado na maca; ele não respondeu de imediato; me encarou friamente e depois passou a fitar o teto.

- Acho que você se enganou de maca, o seu namorado está mais pra lá – ele indicou a maca de Bryan com a cabeça. O idiota acenou um tchauzinho sorrindo. Ridículo...

- James, esquece isso! – implorei, me sentando ao lado dele – Foi um mal-entendido!

- Pode dizer o que quiser Evans. Eu não me importo mesmo...

- Mas... James, você precisa entender! Aquilo foi uma armação da Melissa! – eu expliquei, nervosa, me sentando ao lado dele e fazendo-o me encarar – eu não queria ter beijado o Bryan!

- Não foi isso que pareceu... – comentou em voz alta um Bryan que parecia muito satisfeito com a situação. James, que parecera considerar a minha versão da história, agora voltara a olhar o teto amargamente.

- Bryan... por que você não vai empilhar coquinhos na descida? – falei em tom de impaciência, os olhos fechados de raiva.

- Não obrigado, eu só quero que você esclareça para esse daí que você é minha namorada e que nada vai mudar isso. – aí eu fiquei realmente enfurecida. Respirei fundo, com os olhos ainda fechados. Abri-os, lívida de raiva, me virei para encará-lo, o rosto vermelho, mas a voz inicialmente calma, em tom de aviso:

- Bryan... você quer que eu quebre o seu nariz de novo? – ele pareceu estremecer e em seguida respondeu, com a voz fina e trêmula de medo.

- Ah... Não, não precisa...

- Então... cala a boca! – e me virei para James novamente, que tinha um olhar surpreso, mas meio divertido. Abri a boca para falar com ele, quando a enfermeira apareceu, saindo da sala dela.

- Ah, srta. Evans, que bom que voltou! Sr. Potter, o senhor acordou! Como está se sentindo?

- Ah... bem, mas ainda com dor de cabeça...

- Ah sim, é normal. Foi uma queda e tanta, sabe.

- Hum, imagino que sim... – ele respondeu

- Tome, srta. Evans, faça-o beber isso – ela me deu uma garrafa com uma poção esquisita – é para fazer a dor passar. E depois quero que você dê uma olhada no machucado novamente, pra ver se está cicatrizado mesmo. Tenho que dar uma olhada nesses primeiranistas... pobrezinhos... ah, Sr. Leigh, o que ainda está fazendo aqui? Eu já não o liberei? – ele tentou contestar – saia, o senhor já está perfeitamente bem!

E ela passou a cuidar dos outro enfermos, me deixando sozinha com James num silêncio desconfortável.

- Hum... Você ouviu. Ela pediu pra você tomar essa poção. – falei, sem encará-lo nos olhos.

- Será que é muito ruim? – ele perguntou, cauteloso, quando eu o entreguei o copo com o conteúdo verde-musgo da poção.

- Hum... não sei. Mas você precisa tomar...

- Ta... – ele deu um gole, fez uma careta; depois me encarou, e tomou outro gole, até beber o copo inteiro, fazendo uma outra careta ao final. – Horrível, como sempre.

Rimos de leve. E nos calamos. Mas James quebrou o silêncio:

- Er... foi você quem quebrou o nariz do Bryan? – ele perguntou com um leve sorriso nos lábios. Eu sorri meneando a cabeça.

- É, mais ou menos...

- Sério? – ele riu – mas, por quê?

- Porque ele é um abusado e me beijou a força? – sugeri, olhando para as minhas mãos nos joelhos.

- Hum... – ele fez um murmúrio de compreensão, olhando para as próprias mãos, e depois pigarreando – então... foi mesmo um engano? – ele me encarou, esperançoso. Olhei fundo nos olhos dele, suspirei, e disse:

- Sim James, foi um engano. Como eu disse, foi uma armação da Adams para que você pensasse exatamente o que você tinha pensado e ficasse com raiva de mim, porque ela não se conforma de você ter terminado com ela, e tal... e, o Bryan já tava dando em cima de mim há um tempo – ele apertou o copo em suas mãos, no que eu tive a sensatez de tirá-lo dali antes que ele o esmagasse – mas, como você pôde constatar, eu sei me defender...

- Ahn... certo... – ficamos em silêncio novamente por um tempo, até que eu me manifestei:

- Será que eu poderia dar uma olhada nesse seu machucado? – ele concordou com a cabeça e a abaixou, a fim de que eu pudesse examinar melhor. Passei uma outra poção no lugar e fiz um novo curativo. Quando terminei, ele perguntou:

- Hum, só por curiosidade: por que é você que está fazendo isso, e não M. Pomfrey?

- Ah, como ela mesma disse, ela anda muito ocupada com outros pacientes e, como eu estava junto de você no dia que você veio pra cá e meio que não desgrudei enquanto não tive a certeza de que você ficaria bem – corei e ele sorriu de leve – ela me nomeou assistente de enfermagem temporária, e me encarregou de cuidar de você...

- Então... foi você quem cuidou de mim esse tempo todo? – ele perguntou meio surpreso, meio encantado.

- É...

- Puxa... obrigado... – ele corou. Mais silêncio. – Er... desculpe... pelo o que eu falei antes... – ergui meus olhos e o encarei. Ele tinha um olhar de bichinho abandonado muito fofo. Contive um sorriso. Ele tinha me magoado, sabe...

- Está desculpado. Bem, eu preciso ir agora...

- Espera... – ele falou, segurando a minha mão. Senti um arrepio gostoso e automaticamente sorri. Me virei para ele – Será que... você não poderia ficar mais um pouco...? – ele sorriu daquele jeito. Não tinha como resistir.

Assenti com a cabeça e me sentei ao lado dele novamente. Então comecei a contar tudo o que ele perdeu enquanto esteve inconsciente. Contei com detalhes como eu quebrei o nariz do Bryan, no que ele riu gostosamente; contei como todos estavam entediados com a falta dele; contei dos planos de Sirius para a banda; e outras coisas.

Madame Pomfrey disse que irá liberá-lo amanhã à noite. “Mas eu já estou ótimo!”, James tentou contestar, mas não foi bem sucedido. Dei boa-noite a ele e fui jantar.

No Salão Principal, fui me sentar junto à garotas e elas estranharam ao me ver com um sorriso de orelha a orelha.

- Nossa Lily, como você está contente... o que aconteceu, hein? – perguntou Emelina sorrindo

- Ah... – desfiz o sorriso na hora, tentando disfarçar – nada de mais... – passaram-se alguns segundo de silêncio quando não resisti e disse – acabo de voltar da enfermaria.

- Ahá! Eu sabia! – falou Marlene, apontando o garfo para mim sorridente.

- Como está o James? – perguntou Alice, meio maliciosa.

- Bem... ele já acordou...

- Há! – Marlene me apontou o garfo novamente, mas agora este tinha um brócolis espetado.

- Ai Lene, pára de apontar esse garfo pra mim! Ainda mais com essa... coisa verde nele... – ela riu.

- ... E então? – perguntou Emelina – vocês conversaram?

- Sim... – e contei tudo o que aconteceu. Elas ficaram furiosas com a atitude do Bryan.

- Ah, se fosse eu, quebrava a cara daquele idiota de novo e picava ele em mil pedacinhos! – falou Marlene, atacando violentamente suas batatas com o garfo.

- Lene, não desconte sua raiva na comida! – falou uma Alice risonha. – ta parecendo o Sirius, ele é que gosta de brincar com a comida... – ela parou na hora e corou

- É, deve ser a convivência, né Lene? – falei maliciosa.

- Não, que isso... – ela tentou desviar o assunto, meio desconcertada. Perto dali, vi Sirius observando tudo e sorrindo.

Terminamos o jantar e viemos para cá. As garotas estão terminando os deveres (que eu já fiz, por que sou muuuuito adiantada. E talvez nerd.); Marlene está em dupla com Sirius, porque assim eles acham mais fácil e rápido de terminar. É meio engraçado, cada hora eles ficam achando umas coisas super absurdas e se zoando por isso. E quando ela começa a escrever uma resposta que ela julga estar perfeita e diz que não vai deixá-lo copiar, ele começa a implicar com ela, fazendo cócegas nela com a pena, e puxando o cabelo dela. Aí ela se irrita e deixa ele copiar. E o ciclo se repete. É tão engraçado... mas de um jeito fofo. Emelina também faz dupla, com Remo, só que a diferença é que ambos são inteligentes (não que Lene e Sirius não sejam...) e meio nerds como eu, e quase não se consultam; Peter, pobrezinho, eu até tentei ajudá-lo com os deveres, mas ele se complicou, e como eu não tenho paciência para ser professora, deixei que ele copiasse as minhas respostas, contanto que não ficasse exatamente igual. Ele agradeceu e me deu uma barra de chocolate. Ê!

Hum, é meio tediante ficar aqui sozinha, enquanto meus amigos fazem seus deveres... Em outras palavras, to me sentindo sozinha. A barra de chocolate que era minha única companheira, já foi consumida. Acho que o que me resta agora é ir dormir.

SEXTA-FEIRA, 06 DE ABRIL
JARDINS, 17:00

Aula vaga. Aqui estou, recostada na faia junto ao lago. Marlene refresca os pés na beira deste; Alice e Frank namoram há alguns metros daqui; Remo está na biblioteca, estudando com Emelina; Sirius estava na enfermaria visitando James e acaba de voltar e se deitar esparramado na grama ao lado de Marlene; Peter... está por aí. Provavelmente na cozinha.

As aulas foram bem tranqüilas, em relação ao que têm sido ultimamente. À noite haverá outra reunião de monitores para falar a respeito do Baile de Primavera, que se aproxima. Acertaremos os últimos detalhes, verificaremos como andam as vendas de convites, e tal.

Acho que vou aproveitar um pouco esse lindo dia de sol e me juntar aos outros, ao invés de me isolar neste diário.

SALA COMUNAL, 22:30

Me juntei a Sirius e Marlene, sem me importar se estava quebrando algum clima ou não. Eles se alegraram com a minha presença e ficamos contando piadas. Ri muito. Tanto que minha barriga até ficou dolorida, e meu rosto todo vermelho, e eu não conseguia respirar direito. Mas foi bom. Depois Sirius ficou atirando água do lago em nós, e saímos correndo, mas já estávamos encharcadas. Tratamos de correr atrás dele para nos vingar, e Marlene já o tinha agarrado, mas ambos tropeçaram e ela caiu por cima dele. Nós todos rimos muito, mas eu bem achei que pintou um climinha ali e resolvi me afastar um pouquinho... dei as costas ao casal, me virando para a entrada do castelo, sorrindo, quando tive uma surpresa: vindo em minha direção, com um largo sorriso, um porte de príncipe, os cabelos esvoaçando levemente ao vento, e em câmera lenta (bem, não exatamente... mas sabe, tipo aquelas cenas de filme... bem assim...), vinha James. Senti meus olhos brilharem e meu sorriso se alargar quanto mais ele se aproximava. Aí ele chegou perto, me abraçou, me girou no ar e me beijou, e fomos felizes para sempre.

Ta, não foi bem assim que aconteceu. Mas poderia ter sido... teria sido mais legal. Bem, ele chegou, sorrindo, olhando nos meus olhos, quando Sirius apareceu do nada...

- Pontas! - ... e agarrou a cabeça de James esfregando o cocuruto dele com força. Com isso, ambos acabaram caindo no chão.

- AI! Almofadinhas, pára com isso! Eu ainda to com o curativo! – eu e Marlene nos entreolhamos rindo.

- Cara, eu senti sua falta! – Sirius falou num falso tom profundo.

- Mas Sirius, você acabou de me visitar lá na enfermaria, não tem nem uma hora...

- Hum... To começando a te estranhar, hein, Black... – falou Marlene divertida, no que eu e James caímos na risada. Sirius apenas sorriu como se aceitasse um desafio e respondeu:

- Que foi Lene, ta com ciúme? Se quiser eu faço o mesmo com você... – ela corou levemente, estreitou os olhos e soltou um bufo. Mas logo caiu na risada junto com o resto de nós. Superado o momento do riso, ela perguntou:

- Ué James, você não só ia ser liberado à noite? – James já tinha se recuperado do ‘ataque’ de Sirius, que estava ao lado de Marlene, e respondeu, todo pomposo:

- Bem, sabe como é... ninguém resiste ao meu charme... – ele sorriu passando a mão nos cabelos, no que eu revirei os olhos sorrindo. Ele nunca vai mudar... não totalmente...

Daí apareceram Alice e Frank, e todos decidimos voltar para o castelo, já que começava a escurecer. No caminho, encontramos Emelina e Remo, e fomos para a Torre da Grifinória. Até então, eu e James não tínhamos nos falado. Quando chegamos na sala comunal, as meninas subiram para o dormitório sem que eu percebesse e Sirius e Remo também (para o dormitório dos meninos). Quando dei por mim, estava sozinha com James (a sala estava vazia porque todos os alunos ainda estavam lá fora, ou já se dirigindo para o Salão Principal, para o jantar.). Depois de algum tempo em silêncio, sem nos olharmos diretamente, começamos a falar ao mesmo tempo. Paramos, rimos, e ele fez um sinal para que eu começasse.

- Então... você já está totalmente bom?

- Sim, posso dizer que sim... eu ainda to com o curativo, mas vou tirar amanhã, e aí fica tudo certo – ele sorriu sem mostrar os dentes. – Mas... e você, como tem passado? – ele perguntou formalmente, no que eu achei graça.

- Ahn... desde ontem, bem, muito bem.

- Muito bem? Então você nem sentiu a minha falta? – ele falou, com falso tom de ofendido, e eu ri, mas não pude deixar de corar.

- Não exatamente... como você sabe, eu estive com você todos os dias, então, não deu tempo de sentir falta... satisfeito?

- Hum... um pouco... mas, falando sério agora – ele disse, numa voz rouca, me olhando nos olhos e se aproximando de mim – eu e você...

Mas não cheguei a saber o que ele ia dizer sobre nós, porque Sirius escancarou a porta do dormitório masculino gritando e saiu correndo pela sala, pulando em cima do sofá, sendo acompanhado de Remo, que se sentou numa poltrona com as pernas para cima. Com isso, as garotas também saíram, o climinha entre James e eu já era, e a seguinte situação se desenrolou:

- Sirius, o que é que foi? – perguntou James meio irritado. Sirius não respondeu de imediato. Ele fez uma cara de pânico, movimentou os lábios de alguma forma que James entendeu, ficando pálido e se virando lentamente para a porta do dormitório deles.

- Mas o que está acontec... AH, UMA BARATA!!!! – gritou Marlene, correndo para o sofá se abraçando a Sirius; Emelina pulou de susto e foi para a poltrona de Remo; Alice permaneceu imóvel, mas com cara de pânico, enquanto a barata passava direto por ela e começava a rodopiar pela sala em círculos. Eu, estrategicamente, já tinha subido em cima da mesinha de centro, sem fazer escândalos, quando a barata passou perto de James e ele se juntou a mim na mesinha.

- Dá pra alguém por favor matar essa coisa? – suplicou Alice, ainda imóvel, colada à parede.

- Sirius, vai lá! – mandou Marlene, meio chorosa. Ela tem horror a baratas. Não é só frescura não. É um trauma de infância terrível: uma vez, a irmã mais velha dela colocou uma barata dentro do sapato dela, e quando ela foi calçar... bem, dá pra imaginar.

- Eu não! Vai você!

- Como é que é? Você tem medo de baratas? – todos nós nos viramos para ele, nós garotas completamente perplexas. Sirius olhou para a barata, desta para James, depois para Remo, e então para Marlene, dizendo:

- Tenho sim, ta?

BUM!

Sirius Black tem medo de baratas. O maroto Sirius Black tem medo de baratas. Sirius Black, um garoto, um cara, um homem, tem medo de baratas. O mundo está perdido.

- Como é que é? – esganiçou-se Marlene – e quem é que vai matá-la?

- O James! – apressou-se Remo. Nós nos viramos para ele, e Emelina perguntou em tom de acusação.

- Remo... você também tem medo de baratas?

- Er... um pouco...

- Merlin, e agora? - Desesperou-se Alice, que subira num degrau da escada para fugir da barata, que continuava a perambular pela sala.

- James, o que está esperando, vai matar aquele bicho asqueroso! – mandei empurrando-o

- Não dá... eu... também tenho medo delas...

- O quê?? Eu não acredito! – me desesperei. Passaram-se mais alguns segundos de tensão e eu tomei muita coragem e disse – Chega, não agüento mais essa situação! James, me dá o seu sapato!

- Por que o meu?

- Porque eu não quero que o meu fique contaminado por essa coisa nojenta. Anda, passa! – peguei o sapato dele e desci cautelosamente da mesinha de centro, procurando a vítima

- Ali! - gritou Emelina. Fui na direção da barata e prendendo a respiração, atirei o sapato bem em cima dela.

- Lily, você é minha heroína! – exclamou James me abraçando, enquanto Alice se desgrudava da parede aliviada e Emelina saía de cima de Remo. Sirius continuava em cima do sofá, abraçado à Marlene.

- Ela morreu mesmo?

- Sim Sirius, pode descer daí... – falei – agora quero que se expliquem. Por que vocês têm medo de baratas?

- Bem... - começou Sirius coçando a cabeça, enquanto todos se viravam para ele a fim de ouvir a história – eu sou traumatizado... o Monstro, elfo-doméstico lá de casa, nunca gostou de mim e eu também detestava ele. Teve um dia em que eu aprontei uma pra cima dele, e ele resolveu se vingar... eu quase nunca jantava com a minha família, principalmente quando estava de castigo, e Monstro sempre trazia minha comida para o quarto... bem, quando eu fui comer, percebi que a comida se mexia e...

- Eca!!! Ele colocou baratas na sua comida? – falou Marlene. Sirius afirmou com um aceno de cabeça, com cara de traumatizado. Nós todos fizemos cara de nojo.

- E você Remo? – perguntou Emelina

- Bom... certa vez, quando criança, estava andando pela rua com o meu pai, quando passei por cima de um bueiro... dele saíram milhões de baratas, e algumas subiram por debaixo da minha calça... até hoje ainda sinto as perninhas delas em mim...

- Ai, pobrezinho! – falou Emelina dando-lhe um selinho.

- Já eu... – começou James – certa noite, há não muito tempo, eu tinha mergulhado a cabeça numa tina de cerveja por culpa do Sirius, mas não limpei direito, só passei uma toalha de leve... fui dormir e acordei no meio da noite sentindo uma cosquinha no meu pescoço... passei a mão para tirar o que quer que fosse e vi que era uma barata imensa... joguei-a longe na parede, mas vi que apareciam mais descendo pelo meu corpo... foi então que me olhei no espelho e vi que todas estavam no meu cabelo, atraídas pela cerveja... às vezes ainda sinto um comichão na cabeça, e passo as mãos freneticamente pelo cabelo, pensando que é uma barata... – oh... então é por isso que ele tem essa mania de passar a mão no cabelo...

- Nossa... realmente, traumatizantes essas histórias... – reconheceu Alice.

- Mas, vamos parar de falar nisso, já estou toda arrepiada. – falou Marlene – Vamos jantar?

- Espera! Vocês prometem que não contam nada pra ninguém? – pediu Sirius, como uma criança que faz bagunça e não quer que os pais saibam.

- Relaxa, a gente não conta pra ninguém... – tranqüilizei-o.

E finalmente fomos jantar. Foi meio difícil comer depois de toda aquela história das baratas, mas... acho que vamos superar esse episódio. Eu e Remo fizemos a ronda de monitores e voltamos.

Agora estamos na sala comunal... fazendo nada. Sirius está com medo de voltar para o dormitório dos garotos, porque acha que vai encontrar baratas lá novamente... Alice disse que se isso acontecer, é porque a bagunça lá é imensa... com isso, Marlene correu para o nosso dormitório, a fim de arrumar tudo e não receber ‘visitantes indesejados’, e arrastou Emelina com ela... Remo conseguiu arrastar Sirius para arrumarem o dormitório deles também... Alice e Frank estão num canto namorando... e eu estou aqui, sentada numa das escrivaninhas com James, fazendo-o fazer todos os deveres que ele perdeu enquanto esteve na Ala Hospitalar.

DORMITÓRIO, 23:30

- Lily... – James começou, dengoso. Agora não tinha mais ninguém na sala comunal, só uma segundanista estudiosa dormindo em cima dos livros – Já ta tarde... me deixa terminar isso amanhã, vai...

- Nem pensar! Anda, falta pouco agora. Deixa eu ver o que você já escreveu... – falei, pegando o dever de poções dele – James! você nem começou a escrever os ingredientes!

- Ah Lily, poções é chato... vai, me deixa ir dormir... – ele fez uma cara pidona. Bufei.

- Ai, ta bom... a gente termina isso depois...

- Valeu, Lily! – e me beijou a bochecha. Senti um calorzinho gostoso. Olhei para ele, ele olhou para mim. Fomos nos aproximando lentamente, por cima dos livros... e aí eu esbarrei no meu estojo de penas, que é de metal, que caiu no chão fazendo barulho e acordando a garota do segundo ano. Ela se assustou, olhou as horas, se ajeitou na poltrona, e continuou fazendo os deveres. Eu e James ficamos meio sem graça, murmuramos coisas sem nexo e por fim, pegamos nossas coisas e nos dirigimos para nossos dormitórios. Mas, antes disso...

- Boa noite Lily...

- Boa noite Jam... – mas não pude concluir a frase, porque James me enlaçou pela cintura e me lascou um daqueles beijos cinematográficos.

Senti minha cabeça girando, girando, mas de uma maneira boa, legal... quando ele me soltou, sorriu meio de lado, beijou minha bochecha rapidamente e subiu saltitante as escadas do dormitório masculino. Fiquei lá parada por alguns segundos, assimilando tudo. Me virei para a garota de óculos que tinha a mesma feição surpresa que eu, levei o dedo indicador aos lábios e murmurei um “Shh...” para ela. Ela sorriu e me piscou o olho, antes de voltar a estudar. Peguei minhas coisas e subi para o quarto, sem fazer barulho. Entrei e constatei que as meninas já dormiam a sono solto. Alice placidamente deitada, com as cobertas todas alinhadas e as mãos sobre o peito; Emelina roncando um pouco, deitada de bruços com os braços e pernas caídos para fora da cama; e Marlene, de marias-chiquinhas, agarrada a um bichinho de pelúcia que eu acho que era um cachorro, murmurando coisas sem nexo, mas eu acho que ouvi o nome “Sirius”... contive uma risada, larguei minhas coisas em cima da cômoda, vesti meu pijama de coraçõezinhos e mergulhei na minha caminha fofinha... e vou dormir tranquilamente e ter belos sonhos...

SÁBADO, 07 DE ABRIL,
SALA COMUNAL, 05:00

Não tive belos sonhos, como pensei que teria. Estava andando por uma estrada chuvosa, sozinha, mas de repente, eu estava num cemitério. E tinha um monte de gente vestida de preto, velando um caixão... no meio das pessoas, eu vi meus pais e até minha irmã, além da minha avó e vários outros parentes. Me aproximei do caixão, mas não consegui ver quem estava ali. Comecei a chorar no sonho, tive uma sensação de sufocamento, e acordei com lágrimas nos olhos e soluçante. Me dei conta de que havia sido apenas um sonho, mas não conseguia mais parar de chorar. E então vim para cá, ver o sol nascer... mas não estou muito convencida. Sobre o meu sonho, sabe. Estou meio... na verdade muito... abalada. Uma sensação terrível de perda. Não sei. sinto que algo ruim está para acontecer. E logo. Ai, isso não pode ser bom...

Alguém acaba de sair do dormitório masculino...

JARDINS, 09:00

Era Sirius.

- Madrugando, Lil? – ele me perguntou sorrindo, descendo as escadas preguiçosamente e se largando no sofá (eu estava na poltrona perto da janela)

- Eu poderia dizer o mesmo de você... o que faz acordado tão cedo? Pensei que você fosse o mais dorminhoco dos quatro...

- Ah, não consegui dormir direito... fiquei tendo umas idéias... – ergui uma sobrancelha, e ele me olhou de soslaio, rindo - ... sobre o baile, a banda, a Marlene...

- Hum... posso imaginar...

- Mas, e você? Pesadelos?

- É... mas, já passou.

Sirius sorriu mostrando os dentes de um lado só e piscando, e se ajeitou melhor no sofá.

- Ah, já descobriu que música a Marlene gosta?

- Já...

Expliquei qual era e ele ficou animado. Depois de um tempinho, Sirius caiu num sono profundo no sofá... Tão profundo que eu não pude agüentar os roncos e subi de volta para o dormitório.

Tentei dormir um pouco, mas não consegui, então decidi arrumar minhas coisas. Não que estivessem bagunçadas, mas é que eu sou maníaca por organização, dá licença? E depois, eu não tinha nada pra fazer mesmo... mas, com as minhas arrumações, acabei acordando Alice, que tem um sono de pluma, de tão leve. Ela foi pro banheiro se arrumar, nem olhou no relógio. Quando voltou, vestida com o uniforme da escola, olhei para ela meio confusa, e ela também pareceu meio aturdida. Por fim, quando caiu a ficha (eu sou meio lerda de manhã), falei que hoje era sábado e bem cedo. Ela murmurou um palavrão baixinho e voltou para o banheiro arrastando os pés.

Terminei de arrumar as minhas coisas, vesti uma bermuda jeans, uma sandália rasteira e uma camiseta florida e esperei Alice sair do banheiro, para tomarmos café juntas. Nisso, Emelina acabou por acordar também, e estávamos descendo todas juntas para tomar café-da-manhã, quando vimos que Marlene tinha sumido misteriosamente. Nos entreolhamos intrigadas e descemos as escadas correndo. Lá embaixo, vimos Marlene abraçada a seu cachorrinho de pelúcia, dormindo no canto do sofá que Sirius tinha deixado livre. Nos seguramos para não rir. Acho que Marlene é sonâmbula... cutucamos ela de leve e ela acordou muito assustada e envergonhada. Subiu correndo as escadas e voltou alguns minutos depois, já vestida, mas ainda corada. Olhamos para ela, risonhas, e ela nos lançou um olhar ameaçador: “Se contarem isso para alguém...”. Somos amigas muito fiéis e prometemos não contar nada. Nisso, Sirius acordou, meio atordoado pelas nossas risadas, subiu as escadas e voltou pouco depois com os outros marotos, todos vestidos. E finalmente, descemos para tomar café (aleluia!).

James me sorriu com o canto dos lábios quando me viu, e eu arrisquei sorrir de volta, mas desviando o rosto em seguida, corada. Que beijo o da noite passada...

Depois, viemos para os jardins... os garotos brincam de alguma coisa idiota e as meninas conversam sobre o baile que se aproxima... mas elas nem lembram do meu aniversário que já é daqui a duas semanas... humpf!

BIBLIOTECA, 14:00

Estudando um pouco, só para não perder o hábito. Bem, não exatamente estudando... mas a intenção era essa...

Passamos a manhã toda lá embaixo nos jardins. Me juntei à conversa das meninas quando elas perguntaram como andavam os preparativos do baile.

- Na mesma – respondi sem ânimo.

- Puxa Lily, você não está nem um pouquinho animada pra esse baile? – perguntou Marlene

- Sinceramente não, Lene.

- Mas por que? – perguntou Emelina

Essa foi uma pergunta que não soube responder de imediato. Talvez seja porque eu sou meio traumatizada com esses bailes. Porque James sempre me chamava pra ir com ele e eu nunca aceitava, e no final, acabava sozinha. Não que ninguém mais quisesse ir comigo, mas porque ele dava um jeito de ninguém querer me convidar, só de vingança. Muito cruel da parte dele, na minha opinião. Foi isso o que eu disse a elas, mas elas rebateram com outro argumento:

- Lily. Isso não vai mais acontecer. Relaxa. – sorri derrotada e continuei conversando com elas, mas mudamos o rumo da conversa para outras coisas mais interessantes, como os N.I.E.M.s. Mas Marlene não agüentou muito tempo debatendo esse assunto, e foi descobrir o que os garotos estavam fazendo e se juntou a eles.

Almoçamos, e agora os garotos estão jogando quadribol. Eu tentei impedir James de ir junto, mas ele me escuta?

- James, você acabou de se recuperar de um acidente jogando quadribol! Não é melhor ficar um tempo sem jogar?

- Desculpe Lily querida, – precisa dizer que eu corei nessa hora? – mas teremos outro jogo no sábado que vem, e eu preciso treinar. Se quiser, pode nos assistir...

- Não obrigada, não quero estar aqui pra dizer que eu avisei quando você cair da vassoura novamente. – falei rispidamente.

- Hey, também não precisa azarar... – sinto que ele ficou meio chateado... também, ontem ele me dá um beijo daqueles e hoje eu venho com quatro pedras na mão pra cima dele?

- Ta, foi mal... – tento concertar a situação – mas... toma cuidado. – e pisquei para ele, corando bem de levinho, e me dirigindo para a biblioteca. Ele sorriu satisfeito e foi treinar.

Certo, agora eu vou voltar a estudar.

JANTAR, SALÃO PRINCIPAL, 19:10

Terminei de estudar, e fui encontrar o pessoal no campo de quadribol. Me deu uma aflição ver James voando lá em cima... mas ele saiu ileso.

DOMINGO, 08 DE ABRIL
SALA COMUNAL, 15:30

Os garotos jogaram mais quadribol hoje. Será que eles não aprendem?

- Sirius! Como é que você deixa o seu amigo recém-recuperado de uma acidente grave no quadribol, voltar a jogar assim, sem mais nem menos?

- Ora Lily, relaxa um pouco. Ele não vai morrer por causa disso... – bufei e revirei os olhos impaciente. Ele sorriu e me piscou um olho. E, depois que James saiu, ele sussurrou no meu ouvido – Pode deixar que eu tomo conta do seu ‘amado’...

Desnecessário dizer que eu fiquei vermelha como uma pimenta e querendo arrancar a cabeça do Sirius, mas ele saiu correndo e rindo. Eu mereço? (diga que não, diga que não, diga que não...)

SEGUNDA-FEIRA, 09 DE ABRIL
DORMITÓRIO, 23:55

Tivemos outra reunião de monitores de hoje para ver como andam os ‘preparativos do baile’. Os convites já estão quase esgotados. E, pelo o que eu soube pela monitora da Lufa-Lufa, Melissa Adams ainda está na luta para conseguir convites para a irmã dela, e agora, um par. Porque ela não pode ir sem um par. Não mesmo. Nessas horas, as idéias de Dumbledore são geniais!

QUARTA-FEIRA, 11 DE ABRIL,
SALA COMUNAL, 18:30

Sirius, James e Emelina estão no campo de quadribol, treinando para o jogo contra a Sonserina no sábado. Esse é o jogo que definirá a final de quadribol, no próximo mês. Se Grifinória ganhar, vamos para a final com a Corvinal. Se perdermos, seremos humilhados pelos sonserinos. Simples assim.

SÁBADO, 14 DE ABRIL,
SALÃO PRINCIPAL, JANTAR, 19:10

Eu detesto quadribol. Eu não assisto à jogos de quadribol. Eu tenho medo de altura e sou completamente traumatizada por esse jogo. Então, por que eu fui assistir à esse jogo hoje? Simplesmente porque meus amigos são fanáticos e estão sempre em maior número que eu, o que é muito vantajoso para eles, já que eles podem se unir e me carregar para o campo contra a aminha vontade, como fizeram. Eu devia arranjar amigos novos, esses são muito cruéis. Em resumo, eu fui obrigada a assistir à semifinal Grifinória X Sonserina. Mas, pelo menos, vencemos. E é por isso que estão todos devorando seus jantares apressadamente para irem festejar na sala comunal da Grifinória.

01:00

A festa ainda rola solta lá embaixo, mas eu não agüentei ficar mais. Não sou muito festeira, e estou muito cansada. Vou resumir o que presenciei da festa:

Melissa Adams tentou persuadir todos os garotos da Grifinória (do quarto ano pra cima), a irem com ela no baile, mas nem mesmo embebedando-os ela conseguiu. Mas ela ainda não veio me procurar. Porém, sua irmã não é tão orgulhosa assim:

- Evans. Preciso falar com você. – ela murmurou, timidamente. Eu estava sentada com Emelina, que me piscou o olho e saiu de perto.

- Sim, Adams? – perguntei formalmente.

- Eu... preciso te pedir um favor...

- Que seria...?

- Olha, eu sei que você me odeia, e à minha irmã também, por isso não me ajudaria. Mas eu preciso muito ir ao Baile de Primavera! Só que a Narcisa não quer me vender um convite! Por favor, me ajude a ir a esse baile! Eu faço qualquer coisa!

- Hum... qualquer coisa? – ela acenou positivamente com a cabeça, sorrindo. – Certo... vou falar com a Black na segunda-feira e ver o que posso fazer por você... mas terá que me fazer umas coisinhas...

Ela concordou sorrindo aliviada e eu propus minhas condições: que ela parasse de pegar no pé do Sirius ou da Marlene, e que não participasse mais dos planos da irmã dela contra mim. Ressaltei que se ela não cumprisse com as minhas condições, mesmo com os convites já em mãos, eu daria um jeito para ela não ir. Ela ficou tão satisfeita que me abraçou, e eu fiquei meio tipo “Uh... ta né...”. Logo logo Melissa Adams virá me procurar para pedir ajuda para ir ao baile também. E aí eu vou me vingar... huahuahuahuahua!

No decorrer da festa teve muita música e dança, e todos estavam se divertindo. Marlene e Sirius dançavam em cima de uma mesinha de centro animados ao som de Twist and Shout dos Beatles, Alice e Frank dançavam discretamente e Emelina e Remo trocavam beijinhos fofos sentados no sofá. Eu estava sentada numa poltrona, bebendo alguma coisa que tinham me dado e que não me lembrava bem o que era... por via das dúvidas, larguei o copo na metade em cima de uma mesinha próxima e me levantei a fim de subir para o quarto. No percurso, encontrei James.

- Lily! – ele cumprimentou sorrindo – Tudo bem com você? – ele acrescentou preocupado ao ver a minha cara de caco. Sabe uma pessoa que está um caco? Era como eu me sentia. Por nenhuma razão aparente.

- Ta, tudo bem comigo... acho que estou cansada... vou dormir um pouco...

- Ok, boa noite... – ele me deu um beijo na testa, muito fofo. Sorri de levinho e subi para cá.

Minha cabeça está girando. Alguma coisa está para acontecer. E eu não sei o que é. Só sei que é ruim. Muito ruim.

02:00

Acabo de voltar do banheiro. Acordei muito enjoada e vomitei. Nojento, eu sei. talvez aquela sensação ruim de antes fosse só enjôo mesmo... ocasionado pela bebida esquisita que me deram na festinha da Grifinória... aff! Seu eu lembrasse quem foi que me deu aquilo, faria a pessoa pagar caro! Mas, deixa quieto... melhor voltar a dormir. Acho que vou me sentir melhor...

Ah, as garotas acabaram de voltar da ‘festinha’ lá embaixo...

DOMINGO, 15 DE ABRIL,
SALA COMUNAL, 15:00

Acordei me sentindo um pouco melhor. Lavei o rosto, me arrumei e desci para cá. Surpreendentemente, estava tudo arrumadinho. Pobres elfos-domésticos, devem ter passado a madrugada arrumando tudo... soltei um suspiro e me larguei no sofá. Tirei um cochilo e fui acordada por Alice e Emelina. Marlene, elas me disseram, ainda estava dormindo, e como é domingo, elas deixaram-na dormir mais. Descemos para tomar café-da-manhã, e vi que a mesa da Grifinória estava bem vaziinha. Dos marotos, só Peter estava presente, já que ele não deixa de comer por nada. Mas eles chegaram, um pouco mais tarde, mas chegaram.

Terminamos de comer, eles saíram para os jardins e eu fui para a biblioteca. Remo e Emelina foram comigo, mas ficaram pouco tempo. Depois de muito estudo matinal, que nem foi tanto estudo assim, já que passei bastante tempo conversando com Anabeth Green, a garotinha do segundo ano que estava na sala comunal há algumas noites atrás... ela é muito legal... tipo, é um pouco mais nova que eu, mas temos algumas coisas em comum... ela também ama estudar e sonha em ser monitora um dia, assim como eu! Eu tenho uma fã! Mas ela disse que eu sou muito boba por ainda não ter aceitado sair com James... vê se pode? E depois, não é bem assim... é que ele nunca mais pediu... e estamos meio enrolados... mas eu não respondi isso a ela. Apenas sorri e disse: “um dia, quem sabe...”.

Fui almoçar e nos separamos. Encontrei as garotas, os garotos, comemos, conversamos, e viemos para cá. Sirius está tirando um cochilo no sofá, e Marlene está quase dormindo numa poltrona próxima à dele. Remo lê um livro, Emelina e Alice cochicham alguma coisa com James, que agora eu estou morrendo de vontade de saber o que é... hum, será que se eu for lá eles me contam?

15:15

Aparentemente, eles estavam falando de mim, porque quando eu me sentei do lado de Emelina eles pararam de falar na hora. Eu até perguntei sobre o que eles estavam falando, e eles disseram que era sobre as táticas de quadribol que eles vão usar na final. Até parece que eu caí nesse papo... a Alice bem curte o jogo, mas não tem paciência para essas discussões técnicas... e depois, por que o James estaria discutindo isso sem o Sirius por perto? Tudo bem que a Emelina é do time, e eles são amigos há muito tempo, mas ele sempre fala dessas coisas junto com o melhor amigo... to achando isso esquisito...

TORRE DE ASTRONOMIA, 19:30

Recebi uma coruja agora há pouco, na sala comunal. Estranho, pois o correio só vem de manhã. Corujas só entregam cartas em outro horários quando são urgentes. Peguei o envelope e vi que era da minha mãe, e logo na frente estava escrito: “leia quando estiver sozinha”. Estremeci e logo pensei que devia ser algo muito sério. o pessoal já tava indo para o jantar, e eu disse que ia depois. Corri para cá, que é um lugar afastado e tranqüilo, onde eu posso ler qualquer notícia séria. Agora só me falta a coragem para tanto. Certo, vamos lá...

DORMITÓRIO, 23:00

Abri o envelope e li a pior notícia que eu poderia receber nos últimos tempos:

Querida Lily,

Tenho uma notícia muito triste para lhe dar.
Você sabia que seu avô Anthony não estava bem de saúde... e ele não resistiu... faleceu ontem pela manhã...
Sua mãe está muito abalada, e sua irmã também... achamos que seria melhor para você não ir ao enterro, por isso estou te escrevendo, acabei de voltar de lá. A época dos exames está próxima, e não queremos que você se distraia ou se atrase nos estudos. Sabemos o quanto isso é importante para você, e seu avô também; ele não gostaria que você desviasse sua atenção agora que você está prestes a se formar.
Desculpe-nos por termos tomado essa decisão por você, mas até Petúnia concordou que seria melhor. Não se preocupe conosco, vamos ficar bem. E não pense que esquecemos do seu aniversário, que é na semana que vem.
Por fim, sinto não poder estar com você para lhe dar um abraço bem apertado e confortante; sua mãe está mandando beijos, e disse que lhe escreverá ainda essa semana.
Chore o quanto quiser, não tenha medo de parecer fraca; se isole ou então procure um ombro amigo. Gostaria de poder estar com você agora, mas nos veremos em breve, na sua formatura. Nos escreva de volta quando tiver vontade, está bem?

Um beijo grande e um abraço apertado,

Papai

Tive que reler a carta várias e várias vezes, para poder entender o que papai queria dizer com aquilo. Quando tudo finalmente fez sentido, comecei a soluçar e chorar compulsivamente. Bem que eu senti que alguma coisa estava para acontecer...

Quis brigar com meu pai por ele não ter me avisado antes e me deixado ir ao enterro; sofri pela minha mãe, que deveria estar se sentindo muito sozinha, já que agora não tem mais nem pai nem mãe (minha avó morreu quando eu tinha três anos); e por fim chorei por estar ali sozinha, com um buraco imenso no peito, tamanha era a minha dor.

Mas como que milagrosamente, a porta da varanda da Torre (onde eu me encontrava) se abriu, e por ela eu vi entrar uma figura alta e de cabelos bagunçados, com um pergaminho na mão.

- Lily...? – James chamou. Dei um soluço alto e ao me ver encolhida no chão, ele sentou-se ao meu lado me abraçando – Lily! O que aconteceu?

Não consegui dizer nada, apenas entreguei a carta para ele ler. Quando ele terminou, me abraçou mais apertado, me embalando, sem dizer nada; talvez não fosse preciso...

Engraçado... o abraço dele é tão gostoso e confortante quanto o do meu pai...

Passei mais um longo tempo chorando junto a ele, e quando terminei, ele secou as minhas lágrimas levemente com a ponta do dedão, sorriu amavelmente e beijou a minha testa. Ficamos um pouco em silêncio, e depois conversamos... contei a ele sobre como era o meu avô:

Eu sempre ia visitá-lo nas férias, e ele adorava quando eu contava das coisas que aprendia na escola. Mas o que mais o fascinava era o correio-coruja; ele criava pássaros.

Voltamos para a Torre da Grifinória muito tempo depois, e felizmente a sala comunal estava praticamente vazia. James me conduziu até as escadas, beijou a minha testa e me abraçou bem forte.

- Qualquer coisa que você precisar, é só me chamar, ta? A qualquer hora, em qualquer lugar. Eu falo sério. – ele falou, olhando bem fundo nos meus olhos. Concordei com um aceno de cabeça, arriscando um sorrisinho bem de leve e subi para o dormitório.

Já aqui, as meninas pareceram preocupadas com o meu sumiço, e expliquei tudo o que aconteceu. Elas me abraçaram e deitaram na minha cama, para que eu não ficasse sozinha à noite. Elas são tão fofas...

Uma vez alguém me disse que quando as pessoas se vão, se tornam estrelas. Antes de dormir, dei uma olhada para fora da janela, e vi uma estrela brilhando bem forte. Talvez fosse meu avô, dando um último adeus...

Saudade
Palavra tão louca...
Que ao sair pela boca
expressa tudo o que sentimos
por entes queridos

Saudade...
Traduz a verdade
de um coração sofrido
sentimento tão louco quanto seu próprio nome,
e que diz tão pouco daquele que some...

Saudade...
Recordação dividida entre alegria e tristeza,
e que por mais simples que seja,
nos deixa a certeza de muita beleza vivida.

Saudade...
Aparece de repente, no coração da gente,
E quando menos se espera, já estamos à janela,
Olhando a chuva cair gentilmente,
Como quem diz suspirante:
“Agüente e levante”.
E então suspiramos, depois levantamos;
Agüentamos.

Pois a dor da saudade é imensa,
e não há remédio que a cure;
tampouco curativo que segure.
Coração ferido, só há o tempo que cure.

(Mas tempo, por favor,
leve consigo somente a dor,
o amor guardo comigo.)

E que seja eterno enquanto dure.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.