Febre da Primavera




SEGUNDA-FEIRA, 16 DE ABRIL,
HISTÓRIA DA MAGIA, 16:00

Acordei meio triste, ainda pela notícia de ontem à noite. Quando desci as escadas, James estava me esperando com um lírio amarelo na mão. Sorri o melhor que pude, ele me beijou a testa e foi encontrar os outros marotos.

As aulas da manhã passaram rapidamente. Almocei, assisti às outras aulas e agora estou aqui. Está fazendo um dia lindo lá fora. Sei disso porque hoje sentei perto da janela. Os jardins estão lindos. Um passeio lá fora cairia bem agora...

SALA COMUNAL, 18:30

Há! Você deve estar pensando: uau, Lily Evans foi matar aula dando um passeio nos jardins! Pois se enganou! Eu lá tenho cara e coragem de simplesmente sair da sala e matar aula no jardim? Fala sério! Fiquei só na vontade mesmo...

Aqui estou, na sala comunal... nenhum dever pra fazer (porque sou nerd e já fiz todos)... Alice e Frank estão em algum lugar por aí... Remo foi aplicar uma detenção... Marlene está fugindo do dever de casa dela arranjando inúmeras coisas pra fazer, como por exemplo... cochichar alguma coisa escondida com Emelina e James! Ah, eu quero saber o que eles estão falando!

JANTAR, SALÃO PRINCIPAL, 19:10

Eu ia descobrir! Eles estavam de costas, não me viram me aproximando... mas Sirius apareceu do nada, me puxando para um abraço apertado, e chamando a atenção dos outros três, que se dispersaram.

- Lily! Que saudade de você!

- Sirius... você ta me esmagando... – falei frustrada, ao ver que minha tentativa de descobrir o assunto dos outros tinha fracassado.

- Oh, desculpe. – ele me soltou, assumindo um tom mais sério – o James me contou o que aconteceu... sinto muito...

- Obrigada... – falei num suspiro.

Me joguei no sofá e ele se sentou ao meu lado. Passaram-se alguns segundos em que ele ficou alisando o meu cabelo contando umas histórias engraçadas... me fez rir. Finalmente, disse num sussurro:

- Sirius... vocês já começaram a ensaiar a banda para o baile?

- Já, já. – ele respondeu no mesmo tom, olhando em volta para se assegurar de que ninguém, principalmente Marlene, ouvisse a conversa. A banda é a surpresa da festa! – estamos ensaiando num lugar... meio secreto.

- Ahm... por isso ainda não vi vocês com instrumentos, essas coisas...

- Pois é, estamos fazendo tudo em segredo.

- A propósito... qual a nova formação da banda? Porque, antes você não era vocalista... e agora é?

- Hum... é... eu até canto bem, mas desafino em algumas partes. Mas James vai cantar junto também, então fica tudo certo. E, como ele sabe tocar guitarra, não estamos tendo muito trabalho na troca de funções... Peter é que parece ter esquecido de como se toca uma bateria... mas estamos indo bem. Ah, e Remo ainda está querendo me matar por ter tido essa bendita idéia. Mas ele vai me agradecer quando ele vir a Emelina toda emocionada no baile...

- Ok, parece que vocês têm tudo sob controle...

- Isso aí! – ele piscou.

Depois Marlene reapareceu, atirando uma almofada em Sirius, que aceitou o desafio e ambos iniciaram uma guerra de almofadas. James veio e me puxou para um canto, sorrindo amavelmente. Ele perguntou:

- Lily... como você está?

- Um pouco melhor...

- Er... eu queria conversar com você... sobre nós... – minhas mãos começaram a suar. Merlin, socorro! O que ele queria conversar sobre nós?

- Hum... fala... – incentivei-o, meio curiosa, meio nervosa.

- Eu e você... – mas aí ele recebeu uma almofada na cara, atirada por Sirius! – Ora, seu cachorro! Depois a gente conversa, Lily! – e ele foi brincar de guerrinha de almofadas com o Sirius!

Fiquei lá, boquiaberta, roendo os cotovelos de curiosidade para saber o que ele ia dizer e não disse! E também... porque há alguns dias atrás ele veio com esse mesmo papo, mas não conseguiu concluir... to começando a ficar muito curiosa para saber o que ele quer conversar sobre nós!

Ok, acho que é melhor para a minha sanidade mental esquecer esse assunto. Provavelmente é alguma bobagem, tipo: “eu e você... somos bruxos”. É. Ele é cheio de conclusões bobas assim. Deve ser isso.

QUARTA-FEIRA, 18 DE ABRIL,
SALA COMUNAL, 21:05

Outra tentativa fracassada de escutar a conversa de James, Emelina, Alice e Marlene. Agora estou começando a ficar chateada... o que será que ele quer com as minhas amigas? Ta bom, somos todos amigos, mas... por que eu não posso saber o que está acontecendo??

Puxa, meu aniversário está chegando... e ninguém tocou nesse assunto até agora... será que eles esqueceram? Hum, não, acho que não tem essa possibilidade. Emelina é muito ligada em datas, assim como Remo, e James sempre me dá uma flor no dia do meu aniversário. Mas é que até agora eles não comentaram nada... só se... o que eles estiverem cochichando... for uma surpresa para mim!

SEXTA-FEIRA, 20 DE ABRIL (MEU ANIVERSÁRIO!)
BIBLIOTECA, 17:30

Hoje é o meu aniversário! Que feliz! Estou completando 18 aninhos! E até agora, ninguém me desejou os parabéns!

A não ser por mamãe, que me mandou uma carta daquelas de mãe, sabe como é: mesmo que você já seja maior de idade, no mundo bruxo e no trouxa, mães sempre nos tratam como se fôssemos bebezinhos. Mas é legal. Ela ainda estava meio triste pelo vovô, e tudo... mas tentou me animar o melhor que pôde. Eu tinha contado à ela sobre o baile numa outra carta, e ela me mandou de presente: um par de brincos novos, uma espécie de tiara, e sapatos novos (cor-de-rosa como o vestido) para usar no baile. (¬¬) Ah, e ela mandou barrinhas de chocolate também! Disso eu gostei muito!

Acordei toda feliz, achando que receberia vários abraços de “parabéns” das minhas adoradas amigas... mas não. Elas estavam perambulando pelo quarto, visivelmente atrasadas, terminando de se arrumar. Fiquei sentada na cama por alguns instantes, apoiando meu corpo nos meus braços posicionados às costas, observando-as, quando Alice falou apressada: “Vamos Lily, se arruma! Já estamos atrasadas!” e foi só. Nenhum “feliz aniversário”. De nenhuma delas. Me arrumei e fui tomar café com elas. Os meninos também não falaram nada. E o mais estranho, é que James não estava com eles. Perguntei discretamente para Sirius, e ele me respondeu que James ainda estava dormindo e mataria o primeiro tempo. Pff. Assassino de aulas!

E o dia correu assim... ainda não vi James, porque as aulas que eu tenho hoje não são as mesmas dele. Minhas amigas nem se tocaram nem nada, e olha que eu dei várias indiretas. Mas nada. Estou me sentindo deprimida e esquecida.

17:40

Bom, só para não dizer que ninguém lembrou... Anabeth Green, minha nova amiga do segundo ano, acabou de passar por aqui e me desejou os parabéns. E eu conheci ela outro dia! Fiquei confusa por ela saber que era meu aniversário, já que eu nunca tinha comentado nada. E sabe o que ela disse? Que ela viu no quadro de avisos da sala comunal. Na parte que tem os aniversariantes do mês. Ou seja: qualquer um da grifinória pode saber que hoje é meu aniversário, mas meus amigos até agora, nem se tocaram! É deprimente. Estou começando a achar que estou louca e hoje não é o dia do meu aniversário! Será isso possível?

DORMITÓRIO, 02:00

Eu sou tão boba!

Tinha acabado de fazer uns deveres lá na biblioteca e fui para os jardins, sozinha e triste. Me sentei à beira do lago e fiquei observando a lula gigante nadando e pensando com meus botões. Daí, senti um par de mãos em cima dos meus olhos.

- Quem é? – perguntei curiosa.

- Adivinha... – demorei um pouco pensando, mas finalmente arrisquei um palpite:

- Hum... Sirius?

- O quê? Lily, estou indignado com você! – falou James, se sentando ao meu lado.

- James! Me desculpe, mas não reconheci a sua voz... – ele fez um biquinho.

- E aí, Lily, tudo bem? – ele perguntou abrindo aquele sorriso cheio de dentes bonitos, que parece de comercial de pasta de dente.

- Mais ou menos... James, que dia é hoje?

- Ahm... 20 de abril...? – ele respondeu meio confuso.

- E esse dia te lembra alguma coisa...?

- Hum... – fiquei sem ar. Ele não lembrava do meu aniversário?? – ah, claro. Hoje é o seu aniversário! Parabéns, Lily! – ufa! Que alívio... fiquei tão feliz que o abracei, e ele caiu pra trás rindo. – hey, vai com calma. O aniversário é seu, eu é que tenho que te dar um abraço!

- Ah, mas só de você ter lembrado já está ótimo! Acredita que nenhuma das meninas me deu os parabéns? Ninguém lembrou...

- Nossa! Então você também não deve ter recebido nenhum presente de aniversário... – ele falou, num tom falsamente surpreso. Não sei porquê, mas tinha um tom de falsidade em cada palavra dele. Como se ele soubesse de algo que eu não sabia...

- Bem, fora da minha mãe, não.

- Então vem cá! – e ele me puxou pelo braço, me erguendo, e pude ver que ele tinha a vassoura dele na mão.

- Ahn... James, o que você está fazendo com essa vassoura? Vai treinar quadribol agora? – perguntei meio decepcionada. Ele riu. Riu. De mim. No dia do meu aniversário!

- Suba. – ele falou apontando a vassoura e me olhando. Arqueei uma sobrancelha e fiz uma careta. Ele riu mais uma vez – vamos, suba.

- James... você não vai querer me ensinar a voar de novo, vai? Olha, você bem sabe que não deu muito certo da última vez e... – mas ele não me deixou terminar de falar; me agarrou e me colocou sentada na vassoura, e ele sentou atrás. – Potter! Nem pense em voar comigo aqui... – mas era tarde demais. Já tínhamos levantado vôo. – Ah!

Como eu estava logo na frente, não tinha aonde me apoiar, então fechei os olhos temerosa, e tentei me encostar ao máximo em James, que tinha os braços em volta de mim segurando no cabo da vassoura. A uma certa altura, ouvi ele sussurrar em meu ouvido:

- Lily, abra os olhos.

- Não, obrigada. – falei temerosa. Ele riu. De novo. ¬¬

- Lily. Abra os olhos.

Abri um olho receosa, e depois o outro, boquiaberta. Estávamos voando acima das nuvens, com o sol poente logo à nossa frente. Uma imagem simplesmente... magnífica.

- James... isso é... – comecei maravilhada, mas ele me interrompeu.

- Espera que ainda tem mais...

- Como?

- Esse ainda não é o seu presente... – e ele deu uma guinada para baixo, suavemente. Presente... James tinha me preparado uma surpresa de aniversário! Será que era isso que ele e as garotas tanto cochichavam?

Senti que estávamos chegando ao chão; ele pousou a vassoura, desceu e me deu a mão para descer também. A princípio, não tinha visto nada de diferente. Era um campo muito grande e verde, bem atrás do castelo. Só. Devo ter feito uma cara bem decepcionada, porque ele riu e falou assim.

- Vire-se.

Me virei. E me deparei com um campo largo, imenso, cheio de... flores. Um jardim gigantesco. Tinham algumas arvorezinhas com flores coloridas, uma pequena lagoa bem no meio e muitas, muitas, muitas flores, de todos os tipos, de todas as cores. Tinha ainda uma cerca-viva baixa em volta de tudo. Se eu fosse James, teria visto meus olhinhos brilhando de emoção, como nos desenhos animados, quando um personagem fica muito, muito feliz.

- Feliz Aniversário, Lily.

- James... – balbuciei, ainda boquiaberta – isso é... lindo... maravilhoso... – me virei para ele sorrindo. Ele também sorria. – como... como você descobriu isso aqui?

- Ah, voando... esse jardim faz parte da propriedade de Hogwartz, mas ninguém tem acesso... ultimamente tem sido usado pela floricultura de Hogsmeade, é daqui que vem todas as flores da região... eu sempre te dou uma flor no seu aniversário... dessa vez...

- ... você me deu um jardim inteiro! James, isso é... é... – completei, mas tão maravilhada que não conseguia concluir o pensamento.

- Imaginei que você ia gostar... vem... – ele me puxou gentilmente pela mão, me fazendo entrar de fato no jardim.

Sentamos perto da lagoinha. Ele pegou uma flor de um arbusto próximo e me estendeu dizendo:

- Eu queria que esse seu aniversário fosse muito especial pra você... e pelo visto consegui... – concluiu ele ao ver a minha expressão de completa satisfação com o presente. – Lily... você quer ir ao Baile de Primavera comigo?

Eu estava tão distraída com a beleza do lugar que só escutei as últimas palavras, nem percebi o que ele estava dizendo realmente.

- James, você é um gênio! Esse lugar é perfeito para o Baile de Primavera!

- Ahn... como é? – ele perguntou confuso

- Merlin, como eu não tinha pensado nisso antes? É perfeito!

Comecei a divagar sobre a disposição das mesas, onde ficaria o palco, a pista de dança, a mesa de comida, quando James me chamou a atenção.

- Lily! – me virei para ele aturdida – Tenho certeza de que esse lugar é mesmo perfeito para o baile, mas... você ainda não respondeu a minha pergunta...

- Que pergunta? – como eu sou ingênua! Ele respirou fundo, e repetiu paciente:

- Você quer ir ao Baile de Primavera comigo?

Fiquei estática por um segundo, processando a informação. Acho até que meu coração pulou uma batida. Quero dizer, ele é James Potter. E eu sou Lily Evans. Nós simplesmente não combinamos, nem pode rolar nada entre a gente, muito menos ir a um baile juntos... pelo menos, é o que o meu lado racional me disse no momento.

- Não. – eu respondi; automaticamente, eu juro! James parecia ter levado um balaço no estômago, assim como eu. – Quero dizer, não sei... – meu lado emocional se apressou em corrigir. Até porquê, é preciso acrescentar, já rolou alguma coisa entre a gente... então... por que não rolar novamente?

Ele pareceu recobrar um pouco a cor do rosto (ele estava muito pálido) e disse, calmamente:

- Se você quiser um tempo pra pensar, eu entendo... – assenti com a cabeça, no que ele me sorriu amável. Nos deitamos no chão, olhando as primeiras estrelas que apareciam no céu, em silêncio. Quando finalmente escureceu, ele disse:

- Vamos voltar para o castelo agora? Tenho outra surpresa pra você...

Já era noite, e o jantar já tinha acabado. Sugeri de irmos à cozinha comer alguma coisa, mas ele nada disse, apenas me guiou para a sala comunal. Entrando lá... mais surpresas! Balões coloridos, serpentinas, confetes, meus amigos e toda a Grifinória (exceto as irmãs Adams, é claro, que não foram convidadas.) cantando “Parabéns”. Remo e Sirius seguravam um bolo de chocolate com 18 velhinhas, ambos usando chapeuzinhos de festa. Alice, Emelina e Marlene ao me virem correram para me abraçar.

- Feliz Aniversário, Lily!

Ficamos até 01 da manhã festejando (entre nós. O povo todo já tinha ido dormir a essa hora). Ganhei vários presentes! Alice me deu um gatinho de pelúcia super fofinho, Emelina me deu um livro (que só pode ser de zoação): Manual de Quadribol Para Namoradas e Amigas de Jogadores de Quadribol (quem é que escreve essas coisas?), Marlene um novo kit-de-beleza-Super-Feiticeira (com simplesmente tudo para se produzir e ficar bonita para um baile), Remo também um livro: Grandes Curandeiros Do Mundo (esse me vai ser muito útil), Sirius um abraço (ele alegou não ter dinheiro sobrando, já que a família rompeu laços com ele e não manda mais mesada), Peter uma barra de chocolates... fiquei tão feliz! Meus amigos são demais! Eles foram dormir e eu fiquei na sala comunal com James. Ele me contou como planejou tudo:

- James... – falei quase num sussurro - você é demais... – ele sorriu se virando para mim - como você planejou tudo isso?

- Bem... tive uma pequena ajuda das garotas... mas a idéia foi minha... – ele respondeu no mesmo tom.

- Ah sim... esse era o grande segredo que eu não podia saber, certo?

- Bingo! – rimos levemente.

Passado mais algum tempo, ele disse se levantando:

- Bom... acho que vou dormir... Feliz Aniversário Lily... – ele me piscou um olho.

- Espera! – segurei-o pelo pulso, me levantando também. Meu lado emocional estava falando mais alto – James... eu cansei de esperar. Acho que já perdemos muito tempo pensando...

- E então... – ele estimulou, o cenho franzido, um pouco confuso e curioso.

- Eu vou ao baile com você. – pronto! Rápido, fácil, e indolor. Como arrancar um band-id. Ele sorriu abertamente, me tomou nos braços e me beijou apaixonadamente, me deixando completamente sem reação. Depois de um tempo, ele falou, (sem perceber que eu estava com uma cara de pateta ainda sem conseguir assimilar o beijo que ele me dera) pegando a minha mão:
- Hum, Lily... eu estou querendo falar isso com você há um tempo... – percebi que esse era aquele papo do “eu e você” que ele nunca conseguia terminar e meu coração começou a bater acelerado. Mas mantive a calma e assenti sensata:
- Então fale...
- Lily... não sei se percebeu, mas... eu e você somos simplesmente feitos um para o outro... – como ele ousa dizer isso? Como?? – e eu queria saber se... você aceitaria namorar comigo...
Eu quase caí dura ali na sala comunal. James estava me pedindo em namoro. O que fazer? O que dizer? Eu acho que a minha cara parecia ser a de alguém que estava passando muito, muito, muito mal mesmo, porque ele passou a mão levemente no meu rosto, dizendo:
- Lily... ta tudo bem...?
- Claro, eu só... preciso ir dormir. Estou muito cansada, é isso. Obrigada por hoje... – e fui subindo as escadas do dormitório feminino, sem nem mesmo olhar na cara dele.
- Lily, espere...
- Nos falamos depois! – gritei por fim, e entrei no quarto batendo a porta e me atirando na cama.

Eu queria aceitar o pedido de James. Queria mesmo. Mas, a porção racional do meu cérebro ainda comanda a maior parte de mim. E depois... não sei se me sinto preparada para namorar. Parece besteira, mas é verdade. De repente eu me sinto... como se tivesse onze anos de idade, tímida e assustada. Não sei o que fazer. Bom, fugir é sempre uma opção. Mas eu não posso fugir pra sempre. Não posso fugir dos meus sentimentos. Tenho que enfrentar tudo de frente, com muita coragem. Afinal, sou uma grifinória, não? Mas, tudo tem seu tempo. E um dia, eu vou revelar a James exatamente como me sinto em relação a ele.

E aí sim, eu poderei ser feliz pra valer.

SÁBADO, 21 DE ABRIL

SALA COMUNAL, 15:00

Contei às meninas a idéia de fazer o baile no tal jardim, e elas gostaram:

- Puxa, esse baile vai ser o máximo! – exclamou Emelina
- É mesmo... – falou Marlene - Mas, Lily... não estou entendendo esse seu entusiasmo todo... não era você que só reclamava desse “baile idiota” e como ele prejudicava a época de estudos... por que de repente está mais... receptiva a idéia?
- Boa pergunta! É, Lily, o que é que ta rolando, hein? – interrogou Alice
- Ah, nada... – menti - Ainda acho o baile uma idéia idiota, mas se é pra ser assim, que pelo menos seja bem feito.
- Hum... sei... mas, mudando de assunto... – recomeçou Emelina alegre – Com quem a senhorita vai ao baile, hein?
- Bom...– aí eu fiquei confusa. Eu tinha aceitado ir ao baile com James. Mas depois de ele ter me pedido em namoro, eu meio que fugi sem dar satisfações; e aí, como é que eu fico? Tenho ou não tenho par? – não sei...
- Como não sabe? – riu-se Alice.
- É complicado... quando eu tiver certeza, vocês vão ser as primeiras a saber, não se preocupem...
- Ta bom... – concordou Emelina confusa.
- Mas Lily... não tem nenhuma chance de você ir com o James? – perguntou Marlene.
- Não sei... mas por favor, eu não quero tocar mais nesse assunto, ta?
- Tudo bem, mas se quiser conversar, estamos aqui, ok? – falou Alice, no que todas me abraçaram, como naqueles filmes de amigas. Bem fofo.

Bom, acho que vou tentar falar com o prof. Dumbledore sobre o Baile de Primavera hoje. Porque, se ele aceitar, na segunda eu reúno os monitores e já mostro o lugar pra eles. E aí a gente começa a planejar as arrumações.

20:30

Falei com o diretor. Ele adorou a idéia!

“Fascinante! Há anos que ninguém tem uma idéia tão ousada para um baile como a senhorita! Ah, e lembre-se de chamar o Hagrid para ajudá-los com qualquer coisa que for preciso, como as fadas por exemplo.”

Sim, fadas! Aquelas fadinhas decorativas que os bruxos usam em festas como essas... são como vaga-lumes, mas mais bonitas e eficientes, eu acho. Contei ainda a surpresa da banda dos marotos, que ele prometeu manter em segredo.

“Magnífico! Aqueles quatro jovens com certeza saberão animar essa festa!
Sinto que este baile será muito interessante...”

Percebi uma certa admiração do diretor pelos marotos nessa última fala. Não é de se surpreender que seja por isso que eles sempre escapam ilesos quando são levados a sala do diretor...

Bom, o mais difícil já foi feito. Na segunda eu falo com os monitores.

SEGUNDA-FEIRA, 23 DE ABRIL

SALA COMUNAL, 23:00

A reunião com os monitores correu bem. A maioria deles aceitou a idéia numa boa. É claro que a Narcisa meio que surtou com a idéia de um baile ao ar livre. Mas todos os outros monitores se voltaram contra ela, dizendo que ela estava sendo ridícula, e que a minha idéia era muito boa, e que eles estavam ansiosos para conhecer o lugar. A Narcisa deu um último bufo e concordou com a idéia. Saindo da sala de reuniões, fui falar com Bryan Leigh:

- Ei, Bryan. Preciso falar com você. – ele concordou, cabisbaixo, cobrindo o nariz com a mão.
- Primeiro de tudo... me desculpe por isso aí – apontei para o nariz dele – eu agi errado, mas a culpa foi sua, pra começar... mas... bem, segundo, eu queria saber se você ainda apóia a idéia da banda do Sirius tocar no baile... olha, eu já falei com o diretor, e ele gostou da idéia, e...
- Lily. Eu ainda apóio essa idéia, não se preocupe. E... me desculpe também. Eu fui meio... completamente, na verdade... idiota. Me desculpe mesmo. Mas é que a Melissa... ela é bem persuasiva, me convenceu a participar dos planos dela... me desculpe também...
- Certo... está desculpado.
- Ahm... me desculpe perguntar Lily, mas... você já tem par?
- Hum... não sei... – ele pareceu não entender – ainda não tenho certeza – acrescentei
- Hum... se por acaso você não tiver... aceitaria ir comigo? – se toca Bryan, não quero nada com você!
- Desculpe, mas não. – respondi educadamente.
- Ta... bem, não custa nada perguntar... – ele deu um sorrisinho desconcertado - então ta... tchau...
- Tchau Bryan...

Pobrezinho. Ele foi só uma vítima das artimanhas da perversa Melissa Adams. Ele é apenas... ingênuo. Atrevido, mas ingênuo.
Acho que vou subir e dormir. Amanhã é um longo dia...

TERÇA-FEIRA, 24 DE ABRIL

BIBLIOTECA, 17:30

Passarei todas as tardes dessa semana estudando aqui na biblioteca. Eu sei que falta tipo, MUITO tempo para os exames, mas ei, antes eu começava a estudar em outubro! E depois... são os N.I.E.M’s!

Mas tudo isso é porque semana que vem eu vou ter que passar todo o meu tempo livre arrumando o Lily’s Garden, (N/A: não resisti ao trocadilho em inglês... todo mundo que escreve LJ sabe que Lily em inglês é lírio, então o nome pode ser tanto ‘jardim da Lily’ como ‘jardim de lírios’. Meio clichê, mas e daí? Hein, hein?) apelido que as garotas deram ao belo lugar onde será o Baile de Primavera e que James me ‘presenteou’ no dia do meu aniversário. Achei o apelido meio bobo. O jardim não tem só lírios, tem outras flores também. (N/A: ela é tão ingênua às vezes...).

Bom, de qualquer forma, eu precisava estudar um pouco. E também... ok, eu admito. Eu meio que estou evitando o James. “Oh, mas por quê?”, você pergunta. Simplesmente porque... eu sou louca? É, uma boa explicação. Mas... não sei... estou meio... atordoada pela idéia de namorar James. Quero dizer, eu gosto dele. Eu amo ele. Mas... isso me dá arrepios! Porque pessoas que amam (e eu conheço bem esse sentimento) ficam ridiculamente estúpidas. Abobalhadas. Não pensam direito. Sim, eu tenho plena consciência de todas as maluquices que venho pensando, dizendo e escrevendo desde que me descobri, hum, apaixonada por James. E, assumir publicamente a loucura conjunta (que alguns chamam de namoro), me parece... aterrorizador. Pense comigo:

Lily Evans ama James Potter.
James Potter ama Lily Evans.
James Potter pede Lily Evans em namoro.

Ambos começam a namorar e o mundo pára de girar, ocasionando no lançamento dos seres humanos e tudo o que existe na Terra para o espaço, a não sei quantos quilômetros de velocidade, ocasionando a morte de todos os seres viventes. (sim, isso é Física)

Resumindo: o fim do mundo.

Você poderia pensar que tudo isso é um devaneio meu pelo fato de eu estar apaixonada e consequentemente louca, como eu mesma disse antes. Mas você é um caderno, e não pensa!

Sim, eu tenho plena consciência de que agora há pouco discuti com um caderno. É. Eu estou mesmo louca.

“Louca de amor”, você poderia dizer. É. E é isso que eu detesto. Porque, mais uma vez eu repito, quando você está amando, você faz loucuras. E eu não quero sucumbir à loucura. Porque eu vivo num mundo perfeitamente planejado e projetado para ser perfeito. E me apaixonar por James Potter; namorar James Potter, foge aos meus princípios e regras de “como viver a vida disciplinadamente”. E eu simplesmente fico maluca só de pensar em desorganização.

Acho que é verdade o que dizem:

O amor despenteia.

QUARTA-FEIRA, 25 DE ABRIL

SALA COMUNAL, 19:50

Estou resfriada. Como, eu ainda não sei. Não saí no vento com os cabelos molhados, nem passei a noite no sereno. Ou nenhuma dessas coisas que deixam as pessoas normais resfriadas. Mas, como eu já devia saber, não sou uma pessoa normal. E consegui pegar um resfriado na primavera! Fala sério, quem fica doente e com febre na primavera? Isso normalmente acontece com as pessoas no inverno, mas eu, justo eu, tenho que ser “a” diferente.

Só porque sou ruiva. Sim, eu culpo a cor dos meus cabelos pela maioria dos meus problemas. Mas veja só: ruivas são raras. E estranhas. Logo, tudo que é raro e estranho acontece comigo!

Bom, talvez eu aproveite o feriado de Páscoa, que é nesse fim de semana, para ir para casa. Quem sabe mamãe não cuida de mim...

20:30

Mandei uma carta para mamãe naquele momento, com muito sofrimento, explicando a minha condição delicada. Merlin, nunca me senti assim, tão debilitada! Não é comum eu ficar doente; por isso nem sei o que fazer em momentos assim, tão descontentes! Oh céus... estou rimando! Mas isso é coisa de quem está amando...

QUINTA-FEIRA, 26 DE ABRIL

BIBLIOTECA, 16:55

Mamãe respondeu a minha carta de ontem zombando de mim. Disse que eu estava fazendo estardalhaço demais por uma coisinha à toa. Disse também que eu estava sendo muito dramática. Eeeeu? Dramática? Imagina!
Enfim, ela mandou-me ficar em repouso e beber muito líquido. Legal. Mas ela não disse nada sobre narizes!! Cara... isso é simplesmente um saco! Além de eu não conseguir deixar de falar engraçado porque ele parece estar completamente entupido, tenho que carregar uma caixinha de lenços de papel para qualquer canto que eu vá, porque ele fica escorrendo. É, completamente nojento, eu sei.

Sinceramente... faz muito tempo desde a última vez em que fiquei gripada. Deve ter sido quando eu tinha uns... nove anos. Passei a tarde inteira tomando banho de mangueira, e fiquei molhada até a noite... estupidez, eu sei. Mas eu era criança, oras!

Bem, vou voltar aos meus estudos agora. Se é que meus espirros permitirão.

SALA COMUNAL, 17:15

Madame Pince é muito injusta! Me expulsou da biblioteca só porque meus espirros estavam “atrapalhando a concentração de alguns alunos que queriam estudar de verdade”. Como se eu não estivesse estudando pra valer! Mas concordo com ela... meus espirros estão bem sinistros... e meio que sai um pozinho dourado toda vez que eu espirro. Esquisito, não? Eu deveria ir à Madame Pomfrey... mas se eu for lá, ela não vai me deixar sair nunca mais. E Merlin sabe a quantidade de deveres que eu tenho pra fazer essa semana, fora os da semana que vem que tenho que fazer logo por causa da organização do ambiente do baile, como expliquei anteriormente. E... acho que consigo sobreviver a essa gripezinha esquisitinha.

SEXTA-FEIRA, 27 DE ABRIL

DORMITÓRIO FEMININO, 20:10

Contei às minhas adoradas amigas o drama em que agora me encontro, e elas riram. Na minha cara! Puxa, elas não são nem um pouco solidárias com a amiga ruiva de nariz entupido...

“Você está exagerando, Lily. Isso é só uma gripezinha à toa!”

Gripezinha à toa? Há, não é mesmo! Uma gripezinha à toa não deixa as suas unhas cor-de-rosa... sério, não estou brincando! Minhas unhas estão cor-de-rosa! E não, não é esmalte nem nada do tipo, embora seja bastante parecido. Mas eu tentei tirar com acetona, e mais um monte de coisas trouxas e bruxas, e simplesmente não sai! E qualquer cantinho do meu cabelo aparece uma flor, o que é meio-totalmente esquisito. Toda hora ficam me perguntando se eu rolei na grama dos jardins, ou algo assim. São até maliciosos! Mas eu simplesmente não sei de onde raios vieram as tais florzinhas do meu cabelo. Porque eu tento tirá-las, e elas sempre voltam. Parece que nascem mais, nem quando eu lavei o cabelo, esfregando com força, saíram. Mas pelo menos elas não são muito chamativas.

Comecei a me preocupar realmente com isso, e fui à biblioteca, procurar algum livro que explicasse esse estranho comportamento do meu organismo em relação à essa gripe. Quem sabe um tipo de fungo, sei lá. Mas a Madame Pince me viu e me expulsou novamente! Dessa vez alegou que meus sapatos estavam sujos de terra, e meus dedos imundos, sujando seus preciosos livros. Olhei atentamente para meus dedos, e realmente eles estão com uma substância gosmenta esquisita. E não parece ter só terra nos meus sapatos, mas uma planta nascendo debaixo dele! Saí dali correndo e vim pra cá me esconder, nem fui jantar. Eu sei que o mais sensato seria eu correr para a Ala Hospitalar, mas surpreendentemente, ela estava fechada! Isso nunca aconteceu antes! Fiquei desesperada e tentei encontrar algum professor, mas todos já estavam no Salão Principal jantando, assim como o colégio inteiro, e eu não poderia simplesmente aparecer lá, fantasiada de planta! Eu viraria piada!

Estou começando a achar que estou mesmo virando planta. Seria a única explicação. Será que eu bebi alguma poção que me deixou assim? Não consigo me lembrar de nada estranho que eu tenha feito esses dias, além de ter um acesso de loucura em relação ao meu amor por James, que, de acordo com o meu plano, consegui evitar de encontrar. Hum... talvez tenha sido o espinafre! Sim, com certeza foi isso! No jantar de terça-feira minhas amigas perversas me obrigaram a comer todas as variedades de espinafre que tinham na mesa: creme de espinafre, espinafre no vapor, suco de espinafre... me arrepio só de lembrar! Deve ter sido isso que me deixou assim, com essa aparência de... vegetal. Eu sabia que tinha uma razão para eu não gostar dessas coisas. Instinto é uma coisa que não falha.
Bem, amanhã eu procurarei Madame Pomfrey e descobrirei o que realmente há de errado comigo!

20:20

Oh Merlin, meu rosto está verde!

ALA HOSPITALAR, 02:50

Eu sou a ruiva mais azarada do mundo.

Me enclausurei na minha cama, o cortinado fechado, e fui dormir mais cedo, para evitar que minhas amigas me interrogassem por ter perdido o jantar e se assustassem com a minha aparência medonha. Lá pela meia-noite, acordei enjoada. Fui até o banheiro e vomitei... borboletas. Não estou brincando. Fiquei mais enjoada ainda, mas só saíram mais e mais borboletas coloridas e purpurinadas, que ficaram voando pelo banheiro; depois elas encontraram o basculante aberto e fugiram pela noite afora. Isso com certeza atribui um novo significado à expressão "borboletas no estômago", não?

Voltei para o quarto completamente tonta e cambaleante, mas antes me olhei no espelho: pelo menos eu não estava mais verde. Daí eu me senti muito, muito, muito tonta e com muito frio, e logo deduzi: febre. Maravilha.
Acordei Alice (porque ela tem o sono mais leve) para pedir algum conselho, porque nessa hora eu estava tipo, muito apavorada. Tentei explicar pra ela sobre as borboletas, mas ela não me escutou direito, só pousou a mão na minha testa e afirmou o que eu já sabia, os olhos semi-cerrados de sono: “Você está com febre. Deve estar delirando.” E vestiu o roupão e os chinelos, pegou na minha mão e desceu as escadas do dormitório comigo ainda divagando sobre a minha doença bizarra. Será que as borboletas foram mesmo delírios?

Lá embaixo, eu completamente tonta sem conseguir dar um passo à frente, tropecei numa poltrona e teria caído de cara no chão, se não fosse uma alma caridosa a me amparar: James Potter. Oh, maldição.

Ele estava lá na sala comunal junto com os outros marotos, o que, pensando melhor agora, parece muito suspeito... James ficou todo preocupado e começou a fazer um monte de perguntas que eu não pude responder, já que meu cérebro parecia ter parado de trabalhar. E o esquisito é que eu olhava para ele e o via sob uma luz dourada, com uma coroa de flores num jardim todo florido... uma visão muito bonita, mas era só ele que eu via assim; o resto era tudo normal. Alice teve a bondade de dizer a ele que eu estava doente, no que ele prontamente me pegou no colo, (porque eu estava mole demais para conseguir andar sozinha) e foi me levando para a Ala Hospitalar, envolto na capa de invisibilidade dele, eu suponho (ele teria sido pego pelo Filch, já que passamos por ele num corredor lá).

Lembro de ter balbuciado coisas desconexas enquanto James me carregava para a enfermaria. Lembro também que ele deu umas risadinhas. Merlin! Será que eu falei besteira? Será que eu dei com a língua nos dentes, sobre meus... sentimentos?

Chegando na enfermaria, Madame Pomfrey nos recebeu mal-humorada e mandou que James me colocasse numa cama. Nessa hora eu já estava mais lúcida, e lembro com precisão que a enfermeira, ao me analisar mais atentamente, riu. Que enfermeira negligente é essa que ri da desgraça de seus pacientes?

- Madame Pomfrey, o que a Lily tem é grave? – ouvi James perguntar com uma fofa aflição na voz enquanto ela me examinava. Ela riu mais um pouco e disse:
- Não, não é grave não. Espere só um momento. – e ela foi até um armário e voltou com um minúsculo frasco cor-de-rosa de poção – Beba isto, querida.

Eu recusei a poção e perguntei me sentando afoita:

- Madame Pomfrey, por favor me diga, o que é que eu tenho? – ela deu outra risadinha, olhou de James para mim e de mim para James e novamente para mim e disse:
- Ah querida, é só um caso de Febre da Primavera. – olhei James de soslaio e ele deu um micro sorrisinho Potteriano virando a cara para outro lado, tentando disfarçar, e eu puxei o braço da enfermeira com uma cara de lunática.
- Dá pra explicar?
- É como uma gripe, que afeta pessoas apaixonadas, em geral na época da primavera. Mas casos como o seu, que apresentam os sintomas primaveris mais acentuados, são causados quando o paciente reprime seus sentimentos de amor por muito tempo. – ouvi James soltar uma leve risadinha. Maldito! Será que ele sabia da existência dessa tal febre? - Mas não se preocupe, não é grave não. Serve mais como um alerta para a pessoa assumir os seus sentimentos.

Eu podia jurar que ela tinha inventado tudo aquilo. Ou então que minhas amigas, ou mesmo James, tivesse pagado a enfermeira da escola para me pregar uma peça. Isso seria muito cruel com uma pessoa sentimentalmente reprimida, não acha?

- A senhora... está falando sério? – perguntei cautelosa.
- E a senhorita pensa que eu brinco com essas coisas? – ela defendeu-se ofendida – agora chega de conversa, tome esta poção e durma. Os sintomas e a febre devem desaparecer pela manhã, ficando só os sintomas normais de gripe. – e finalmente parecendo reparar em James, mas não sendo grosseira – Sr. Potter, o que está fazendo aqui? Tem algum problema grave? – sorri maliciosa enquanto tomava minha poção, que mais tinha gosto de suco de morango. Agora ele ia se ferrar!
- Acho que essa Febre da Primavera pega... estou me sentindo tão apaixonado... – ele falou com sua voz de galã. A enfermeira não pôde deixar de soltar um risinho.
- Está bem, fiquei aí. Mas não atrapalhe meus pacientes! – fiquei pasma com a ação negligente da enfermeira de Hogwartz. Como ela deixa James Potter sozinho na Ala Hospitalar com uma enferma como eu? Ela não disse que eu precisava de repouso? Como posso descansar sabendo que James estará aqui?
- Lily... – ele sussurrou no meu ouvido, me fazendo arrepiar.
- O que foi? – retorqui, um pouco incomodada, no que ele se sentou aos pés da minha cama.
- Bem... acho que Madame Pomfrey foi bem clara quanto à sua febre... então... não tem nada para me contar? – ele sorriu de um jeito bem cafajeste.

Como ele se atreve a zombar de mim e de meus pseudo-sentimentos de amor por essa criatura detestável? Atirei meu travesseiro nele, no que ele apenas riu satisfeito. Droga. Acho que só tornei tudo mais claro.

- Hehe, me desculpe... – adquirindo um tom mais sério – Lily... eu reparei que você andou me evitando essa semana... tem alguma coisa errada, além disso aí? – ele fez um gesto abarcando a minha imagem de vaso de planta.
- Não... – respondi lentamente, pensando na pergunta e olhando para minhas unhas cor-de-rosa.
- Olha, me desculpe se eu for inconveniente, mas... você ainda quer ir ao baile... comigo...?
- Quero... - respondi timidamente. Bom, pelo menos essa parte está resolvida. Já tenho par para o baile.
- Então ta... boa noite Lily. E... melhoras.

E ele vestiu a capa de invisibilidade e saiu da enfermaria, voltando para a Torre da Grifinória.

E eu estou aqui, em plena madrugada de sexta-feira, na Ala Hospitalar, com Febre da Primavera. Minha vida é maravilhosa, não?

SÁBADO, 28 DE ABRIL

SALA COMUNAL, 09:00

Madame Pomfrey é muito má. Ela não me deixou viajar com todo o pessoal para passar o feriado de Páscoa em casa. Disse que poderia ser perigoso. Perigoso? Eu concordo que amar é realmente perigoso, mas as pessoas não amam e vivem normalmente como todas as outras? Mas ela explicou que é porque meus espirros purpurinados contém uma espécie de substância similar à amortentia (poção do amor), e que se eu espirrar posso deixar as pessoas apaixonadas, mesmo que por pouco tempo. Isso ela esqueceu de me explicar ontem à noite!

“Como a senhora esquece de me dar essa informação crucial?!”

“A senhorita deve ter espirrado em mim, e... bem, o efeito da amortentia deixa as pessoas mais alegres e esquecidas...”

Isso explica os olhares e sorrisinhos dela para James ontem... Merlin, agora entendo o que Madame Pince queria dizer sobre eu “atrapalhar a concentração dos alunos”! Bem que eu reparei alguns garotos me olhando esquisito... e tinha um casal alegrinho até demais num canto próximo...
Bom, conclusão: estou sozinha na Torre da Grifinória. Minhas amigas teriam ficado comigo, mas como elas não vêem a família há muito tempo já que não viajaram no Natal, tiveram que ir. Eu também queria, estou morrendo de saudades da mamãe e do papai, até da Petúnia estou com saudades! Mas estou aqui, gripada, sozinha nessa torre maldita!

Quanto à minha doença, aquela poção até que adiantou bastante; meus pés não tem mais plantas saindo deles, meus dedos não têm mais seiva, minhas unhas voltaram ao normal, meu cabelo não tem mais flores, e o enjôo passou. A febre ainda não, mas está controlada.
Agora só ficaram os sintomas de gripe normal mesmo; e parece que não vou me ver livre da caixa de lenços de papel tão cedo.

Bom, acho que tudo o que posso fazer é tirar um cochilo neste sofá aconchegante da sala comunal. Estou preguiçosa demais para subir para o dormitório, e aqui está tão gostoso...

15:00

É oficial. Retiro tudo o que eu já disse sobre os Marotos durante todos esses anos. Eles são completamente demais!
Lá estava eu, quase cochilando no sofá, quando ouço o buraco do retrato girando. Virei minha cabeça lentamente para ver quem era, com olhar febril, quando me deparei com quatro garotos sorridentes.
- Hey Lil’s! – saudou Sirius, beijando minha testa.
- O que vocês estão fazendo aqui? Não iam para casa ver suas famílias? – perguntei confusa e desanimada, com a voz entupida.
- Íamos, mas pensamos que você ficaria muito triste e solitária aqui, e decidimos te fazer companhia. – explicou James calmamente, sentando-se no tapete, bem próximo do sofá onde eu estava. Sirius se largou numa poltrona, Peter sentou-se em outra e Remo sentou no braço do meu sofá.
- Sério que vocês ficaram só pra me fazer companhia? – perguntei dengosa, no que eles afirmaram com a cabeça. – Puxa, obrigada...
- Sabe Lily, eu ainda não entendi o que você tem, o James não quis me explicar direito... – comentou Remo confuso, e eu pude ver James me piscar um olho discretamente. Pelo menos ele não contou que a minha gripe tem a ver com amor...
- Ah, é só uma gripe. Uma gripe bem forte, mas só gripe.

Aí eles me fizeram companhia. Brincamos de mímica, adedanha, chicotinho queimado,e todas essas brincadeiras infantis trouxas, que eles amaram.

Depois fomos almoçar; eles fizeram de tudo para que eu me alimentasse bem e bebesse muito suco de laranja. Felizmente, nessa hora os espirros já tinham cessado, e eu não precisei me preocupar mais em tapar o rosto com um lenço a toda hora (embora eu tenha esquecido uma vez ao passar pelo Filch no corredor, e logo depois a Madame Pince saía da biblioteca no mesmo andar... não preciso dizer o que aconteceu, certo?). Brincamos um pouco nos jardins, mas senti uma tontura e voltei para a sala comunal, sozinha, já que Remo foi devolver um livro na biblioteca, Peter passou na cozinha para pegar mais sobremesa, James tinha desaparecido, e Sirius lembrou-se de uma coisa muito importante pra fazer. Fico realmente satisfeita de eles terem ficado aqui para me fazer companhia e tal, mas imaginei que eles fossem ficar comigo o tempo todo. Não achei que eles me deixariam aqui, sozinha... é, eu sei, sou uma pessoa muito carente de atenção.

19:40

Pouco tempo depois do meu lamento por eles terem me abandonado, James apareceu sorridente.
- Hey Lily, ficou sozinha aqui?
- É né...
- Hum... não ta afim de vir comigo ver uma coisa? – levantei uma sobrancelha desconfiada.
- Potter, se isso é uma desculpa para... – o adverti, embora com um ar de diversão.
- Não, não é nada disso – ele riu – é uma surpresa... que eu e os outros preparamos pra você...
- Hum... ta bom...
E ele pegou na minha mão e me guiou até um corredor esquisito no sétimo andar e parou em frente a uma tapeçaria de um bruxo ensinando trasgos a dançar balé – sem comentários. Ele deu umas voltas na frente da parede, me deixando completamente confusa, quando de repente, apareceu uma porta!
- James! você... você viu que a porta... a porta...
- É, eu sei. – ele respondeu casualmente e me puxou para dentro da sala.
Lá dentro eu pude ver um sofá confortável em frente a um palco cheio de instrumentos, onde os outros marotos se encontravam. Eu sentei no sofá, surpresa, e James se juntou aos outros, e Sirius fez uma pequena apresentação no microfone:
- E agora, em primeira mão, especialmente para nossa amiga gripadinha...
- ...A banda Marotos S.A! – completou James
E começaram a tocar e cantar. E não é que eles são realmente bons? Confesso que não estava levando muita fé, mas eles me surpreenderam. Eles cantaram várias músicas fofas, inclusive a que Sirius cantará para Marlene no baile. Me diverti muito assistindo a esse show exclusivo, que foi realmente só pra me animar.
- E aí Lily, o que achou? – perguntou Sirius entusiasmado, se jogando ao meu lado no sofá.
- Estou impressionada... vocês são mesmo bons!
- Acha que a Lene vai gostar?
- Pode ter certeza. – afirmei para ele piscando um olho, no maior estilo Sirius Black, no que James e Remo riram da gozação. Comecei a sentir uma tontura, e os garotos acharam melhor que eu voltasse para a Torre, com a exceção de Remo, que achava melhor eu me alimentar. Mas Sirius e James o convenceram de que eu ficaria bem, e prometeram me trazer algo para comer.

Ah, aquela sala onde foi o show particular, eu descobri se chamar Sala Precisa. Parece que ela só aparece quando você realmente precisa dela, algo assim. E dentro, tudo o que você imaginar aparece. Mágico, não? E os garotos me fizeram prometer que não vou contar sobre a existência dela para ninguém, é uma espécie de esconderijo deles.

Bem, acho que agora vou esperar para que eles voltem. Eu leria um livro, mas estou realmente muito tonta e com dor de cabeça. Acho que vou cochilar um pouco...

DORMITÓRIO FEMININO, 22:50

Meia hora depois James voltou e me acordou gentilmente. Perguntei aonde estavam os outros, e ele disse que tinham ido dormir. Como se os marotos fossem de dormir cedo! Mas deixei por isso mesmo... James me trouxe uma tigela de caldo de galinha quentinho:
- Perguntei aos elfos-domésticos, e eles disseram que é bom para gripe... – sorri agradecida. Estava uma delícia!
Terminei minha refeição em silêncio e comentei:
- Estou cansada. Acho que vou dormir.
- Então ta... bons sonhos... – sorri para ele e subi as escadas do dormitório.

James é realmente um fofo. E começo a me perguntar por que sou tão boba de não ter aceitado o pedido de namoro dele ainda.

Ok Lily, não se faça perguntas difíceis.

DOMINGO, 29 DE ABRIL (PÁSCOA)

SALA COMUNAL, 21:00

Acordei me sentindo bem melhor hoje; parece que a Febre da Primavera realmente passou. Mas a melhor notícia é que meu nariz se encontra completamente desobstruído, o que é um alívio; chega de lenços de papel!
Me vesti com uma roupa bem casual, porém bonita: saia preta justa até o joelho e uma blusa de manga três quartos verde, e prendi meus cabelos para trás, deixando ele parcialmente solto (esse é um penteado que eu adoro, e recorro a ele na maioria das vezes). Desci as escadas alegremente e encontrei os marotos lá embaixo, rindo de alguma coisa.

- Bom dia! – saudei alegre, com a voz completamente normal.
- Bom dia, Lily! – respondeu Remo. James apenas me sorriu discretamente – parece que você já está melhor, não?
- Completamente curada! – afirmei com um sorriso.
- Hey Lily, isso é pra você... – falou James, se levantando e me estendendo um ovo de chocolate muito bem embrulhado num papel colorido – feliz Páscoa!
- Puxa, obrigada! – respondi entusiasmada, e sem perceber, beijei-lhe a bochecha em agradecimento, no que pude ver de soslaio Remo sorrir, Sirius arregalar os olhos contente, e Peter olhar para os dois sem entender.
Finalmente percebi o que tinha feito e ruborizei por completo, dando um passo para trás, mantendo distância, e me retratando:
- Er... obrigada.
- De nada... – respondeu James casual, mas obviamente feliz com o beijo que ganhara.

Céus! O que está acontecendo comigo? Eu não sou espontânea desse jeito... principalmente quando o assunto é James Potter e meu pseudo-amor por ele...

Bem, fomos tomar café da manhã, e eu recebi uma coruja da mamãe, perguntando se eu estava melhor e me mandando um ovo de chocolate. É por isso que eu adoro a Páscoa!

Passamos o resto do dia brincando, contando piadas, e comendo chocolates. No fim do dia todos os alunos retornaram, e contei para minhas amigas como foi passar o fim de semana sozinha e doente. Bem, não pude contar tudo; omiti a parte do showzinho particular, e os reais motivos da Febre da Primavera. Disse que era apenas uma doença que dava na época da primavera, e que nada tinha a ver com sentimentos reprimidos que precisavam ser expostos... elas não precisam saber disso por enquanto, né?
Hum... a sala comunal está muito alvoroçada. Melhor parar de escrever...

DORMITÓRIO FEMININO, 23:15

Justo quando fechei este livro em que escrevo, James sentou-se ao meu lado sorrindo. Levei um susto ao vê-lo, no que ele apenas sorriu mais amavelmente, seus olhos de avelã brilhando por trás dos óculos.
- Você fica linda quando leva um susto... – ahm... quê? Que tipo de comentário é esse? Era pra eu ter levantado uma sobrancelha com tal fala meio patética da parte dele, mas ao invés disso eu sorri constrangida.
- Ahm... obrigada...
- Lily, eu precisava te perguntar uma coisa... – ele falou nervoso, olhando para os lados. A sala estava agitada demais, ninguém nos ouviria conversando. Nossos amigos mesmo se encontravam absortos numa partida de snap explosivo.
- Então... pergunte! – o encorajei divertida, no que ele sorriu brevemente me olhando nos olhos e depois desviou a atenção para as mãos entrelaçadas apoiadas em seus joelhos.
- Er... tem uma coisa que eu preciso saber... tem alguma chance de você algum dia namorar comigo? – ele parecia suplicante, embora mantivesse o ar descontraído.
Deve ter sido efeito da Febre da Primavera. Ou algo assim. Mas eu sorri para ele gentil e disse sincera, olhando em seus olhos:
- Sim James. Todas.

E aí eu me levantei lentamente, ignorando a cara de surpresa dele, apanhei minhas coisas, beijei-lhe brevemente a bochecha como fiz de manhã, e tomei o rumo das escadas do dormitório feminino, sem nem olhar pra trás para ver a reação dele. Eu não precisava; podia imaginar muito bem. A mão erguida no ar, numa tentativa retardatária de me fazer ficar, o olhar confuso, porém extasiado, e a boca aberta num sorriso que só cresceria mais. Sorri satisfeita comigo mesma e subi as escadas, certa de que dessa vez, eu tinha agido de forma correta; não só com James, mas comigo também.

Deve ter sido o efeito da Febre da Primavera;

Mas eu consegui fazer exatamente aquilo que meu coração mandou.

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