À Beira de um Ataque de Nervos



TERÇA-FEIRA, 16 DE JANEIRO
BIBLIOTECA, 13:30

Acordei rindo esta manhã, com a lembrança de um sonho engraçado (o que é bastante raro, porque eu raramente sonho, e quando acontece, são pesadelos ou coisas que eu não lembro depois): eu estava no dormitório masculino da Grifinória, que parecia uma floresta cheia de moitas de roupas e árvores de vassouras, rodeada de animais, sendo que um deles ficava me olhando esquisito e roçando em mim, enquanto Emelina beijava um lobisomem num canto. Pensando melhor, arregalei os olhos e percebi que o sonho era real. Em parte, pelo menos.

Ainda estou tentando entender os acontecimentos da noite passada. Não que tenham sido muito confusos. Quero dizer, eu só fui parar no dormitório masculino. E descobri que Remo é um lobisomem. E Potter e seus amigos são animagos. É, nada demais.

Levantei e comecei a me vestir. Notei que não era a única desperta; Marlene, por um milagre divino, já estava de pé e se vestindo.

- Bom dia Lily. – ela falou, enquanto escovava os logos e sedosos cabelos negros

- Bom dia, Lene. Que milagre fez você acordar tão cedo? – ela sorriu sarcástica.

- Muito engraçado, Lily. Eu só tive uma noite muito tranqüila, dormi bem. Ao contrário de você e Mel ... vi vocês saindo no meio da noite, pensei em seguir vocês, mas fiquei com preguiça, sabe, minha cama tava muito confortável – nossa, que amiga legal, não? E se a gente estivesse com algum problema sério? Ela nem se preocupou em saber o que estávamos fazendo! – mas afinal, o que vocês foram fazer?

- Bem... Mel foi falar com Remo e eu, como uma amiga com muita consideração ao contrário de alguém aqui – ela riu – a segui. E, bem... – fiquei receosa de contar sobre a visita ao dormitório dos garotos, ela com certeza ia querer saber o que eu estava fazendo lá, e eu tinha prometido não contar sobre o segredo do Remo e dos marotos – ah, eu tava sem sono. Peguei um livro pra ler...

- Hum, sei...– ela falou meio distraída. Acho que consegui despistá-la... – bem, vamos acordar as meninas, já está tarde.

- Nossa, que súbita vontade de sair cedo é essa? Isso tudo é fome? – perguntei curiosa.

- Você verá – ela respondeu com um sorriso enigmático. E eu vi.

Acordamos as outras duas e descemos para o salão comunal. Os marotos já estavam lá, o que também era estranho, já que eles geralmente são os últimos a acordar. Sirius ria de alguma coisa que Peter estava dizendo, Remo prestava atenção na conversa, embora não achasse muita graça; reparei que ele estava bem pálido. E pensar que hoje à noite ele se transformará em lobisomem... pobre Remo! Emelina foi logo ao encontro dele e lhe deu um selinho. Ainda bem que eles voltaram, estão muito mais felizes agora...

No minuto em que desci todos os degraus da escada circular do dormitório feminino, meu olhar se cruzou com o de James, que esboçava um pequeno sorriso. Sorri de volta, sem muita consciência disso, no que tentei disfarçar quando Alice passou por mim indo em direção à Frank, que se encontrava num outro extremo da sala. Marlene passou pelos marotos sem dizer nada. Remo, como sempre muito educado, disse:

- Bom dia Lene.

- Ah, bom dia Remo! – deu um sorriso e completou alegre – E pra vocês também, James, Peter. – Sirius a olhou indignado, com os olhos arregalados, como quem diz “ E eu?”. Ela sorriu irônica e desviou o olhar. – Meninas, é melhor corrermos, não vamos querer perder o café-da-manhã!

Emelina e eu nos entreolhamos confusas. Não porque era extremamente cedo para o nosso normal (acordar quase atrasadas) e para perder o café-da-manhã, mesmo porque quando nos atrasávamos dava tempo de comer alguma coisa. O café deveria estar sendo servido naquele momento. Mas isso não era estranho. Não o bastante. Estranho era ela de repente começar a ignorar Sirius. E não fomos só nós que notamos isso. Sirius se pronunciou quando a viu sair pelo retrato e nós nos levantamos para segui-la:

- O que é que deu nela? Por que ela não falou comigo? – ele nos olhou significativamente – Vocês sabem de alguma coisa?

- Desculpe Sirius, estamos tão confusas quanto você. – respondi sincera, mas no fundo eu tinha uma vaga idéia do que ela estava tramando...

- Talvez ela não tenha te visto... – tentou Emelina recebendo um olhar sarcástico de Sirius.

- Ah, relaxa Sirius, a vida da Marlene não gira em torno de você – falou James sabiamente.

- Mas isso é impossível! Alguma coisa deve ter acontecido! Eu vou atrás dela agora!

E ele saiu pelo buraco. Eu, Emelina, Remo e James nos entreolhamos prendendo risinhos, e Peter se manifestou:

- Será que a gente não poderia ir também? Estou com fome...

Descemos para o Salão Principal, e para nossa surpresa, nenhum dos dois estavam lá. Comemos normalmente, e quando Alice e Frank se juntaram a nós, ela nos perguntou:

- Onde está a Lene?

- Não sabemos! – respondemos intrigadas, e então contamos tudo o que aconteceu. Alice ficou pensativa por uns instantes, e disse, baixando a voz:

- Essa noite, eu a ouvi falar durante o sono. Algo como “você me paga Black”, e “você vai ter o que merece”.

Refletimos um pouco sobre o assunto e ela prosseguiu:

- O que será que ela está tramando? – mas não chegamos a especular, já que agora adentrava o salão uma Marlene com cabelos um pouco desalinhados e um olhar matador, e logo atrás um Sirius meio abobado e irritado, que se sentou ao lado de James (que estava do lado oposto logo em frente, à umas três pessoas para a esquerda) e Peter o olhou um pouco assustado. Indagamos Marlene discretamente, que estava ao meu lado, mas ela nos ignorou e tomou seu suco com torradas. Fizemos cara feia e ela disse: “Depois”.

Bem, o depois foi há uma meia hora atrás, no banheiro do segundo andar, logo depois do tempo duplo de poções, e estou muito feliz em dizer que fui a única a conseguir fazer a poção da felicidade com perfeição.

Enfim, a conversa foi esta:

- E aí Lene, o que você e o Sirius estavam fazendo esse tempo todo? – perguntou Alice interessada

- Ali, fala baixo! Bom, eu saí da sala comunal e ele veio atrás de mim, questionando porque eu o estava ignorando, e eu disse “Me desculpe, não vi que você estava presente” – falou Lene, fazendo uma encenação um tanto engraçada enquanto contava o que tinha acontecido –. Ele me olhou incrédulo e disse todo prepotente “Como assim, não me viu? Tem alguma coisa errada com você?”, ao mesmo tempo em que pousava a mão sobre a minha testa como se pra ver se eu estava com febre – ela bufou -. Te imitei um pouco – ela falou pra mim e as outras duas riram um pouco – e rolei os olhos, me dirigindo para o Salão Principal, mas ele me segurou pelo braço e me encostou contra a parede – “Oh!” -; Ele foi aproximando o rosto do meu, e aí já sabe né, comecei a ficar nervosa, porque geralmente quem provoca ele sou eu, então ele me beijou, e eu, sendo apaixonada por ele, não resisti... – “Oh!”– e cá entre nós, que beijo! – risos nervosos - Quando nos separamos ele falou “E agora, notou a minha presença?” no que eu respondi com um tapa bem naquela cara de cachorro safado e me afastando. Ele perguntou incrédulo “Por que fez isso?” e eu respondi “Não te dei autorização para me beijar. Agora saia da minha frente!”mas ele, é claro, não saiu, e foi me prensando mais contra a parede, quando eis que surge...

- Adams... – falei boquiaberta, como se acompanhasse um filme de suspense, ou uma novela. As meninas fizeram caras confusas, no que Lene parou para explicar a razão dela ter batido na irmã da minha arquiinimiga.

- Então, ela apareceu e disse meio indignada “Sirius, o que é que você está fazendo com essa daí?” no que eu o empurrei imediatamente pra longe, olhando-o com fúria e ele só conseguiu gaguejar, o que não tem nada a ver com a personalidade cafajeste dele. A Adams falou “Me responda!” e eu “Eu acho que vocês tem muito o que conversar... eu já vou indo...” e ela “Vai mesmo sua lambisgóia!” e eu parei e a encarei firmemente, como você quando vai descontar pontos de alguém Lily, bem séria, sabe – mais risos, no que eu fechei a cara mas sem conseguir conter um sorriso - dizendo com toda a minha classe – lê-se: talento para brigar sem fazer escândalo - “Lambisgóia é você e aquela sua irmã! E não me dirija a palavra!” – mais risos. Preciso aprender a brigar verbalmente como Lene, me pouparia as detenções... - saí para o Salão, controlando a minha raiva, mas o cachorro me segurou pelo braço e suplicou “Lene, espera!” – as dramatizações de Marlene estavam cada vez melhores, apesar de a história não ser nada engraçada, ela consegue lidar com esse tipo de situação muito bem. Eu acho. – e eu “Não quero ouvir nada que venha de você, Black. Passar bem.” e saí raivosa, mas ainda com classe. Pude ouvir aquela metida dando um escândalo e o Black tentando convencê-la a não bater nele com um de seus “argumentos infalíveis com garotas”, para logo depois vir atrás de mim.

Pausa para ficarmos boquiabertas e assimilarmos tudo.

- Ahm... e agora, o que você vai fazer? – perguntou Alice cautelosa

- Nada. Vou continuar a ignorá-lo e a insultá-lo, como a Lily faz com o James. Em menos de um mês ele vai estar caidinho por mim. Aliás, boa técnica Lily! – ela respondeu. Gelei com o comentário final e tentei argumentar, alteando um pouco a voz.

- Nunca foi minha intenção querer o Potter atrás de mim como um maníaco! E eu realmente detesto ele! – elas reviraram os olhos rindo. Nossa, nem eu mesma acredito mais nesse argumento... – E rejeitá-lo a todo o tempo não é uma técnica de conquista! – pensando melhor, acho que inconscientemente eu fazia, e ainda faço, isso mesmo... – e parem de rir!

- Ai, Lily... desculpe, mas a Lene tem razão, e não há nada que você possa dizer para desmentir isso... – falou Alice

- Ali!

- Ora Lily, deixe de bobagem! Por que não admite que você gosta dele e vai ser feliz que nem eu e o Remo?

- Só porque você tem um namorado adorável e é feliz, não quer dizer que seja o meu caso! Principalmente se meu namorado for o Potter!

- Ah, Lily, não adianta mais negar! Nós já sabemos que você o ama, até você mesma já sabe, mas é orgulhosa demais para admitir. E quanto à sua paranóia “Eu vou ser trocada em uma semana”, pode esquecer, o James já te deu várias provas que te ama de verdade... – falou Marlene. Sinceramente, que amigas são essas?

Fiquei calada e corada, e alguns segundos depois, apanhei minha mochila e disse “Preciso ir para a aula”, mesmo sabendo que a aula só começaria em meia hora. Pelo menos elas não me seguiram até aqui, e nem me importunaram mais com isso...

Agora eu preciso ir, a próxima aula já vai começar...

DORMITÓRIO, 00:00

Acabei de voltar da detenção na biblioteca, e nossa, como estou exausta! Minha sorte é que Alice não insistiu no assunto de antes...

Durante o resto da tarde, procurei me manter o mais afastada possível dessas amigas loucas, na aula de feitiços até fiz dupla com Bryan Leigh (que continua lindo e simpático), e no jantar, tratei de comer bastante para não ter tempo de responder aos questionamentos delas, deixando Frank que estava conosco, bastante confuso com todas as sinalizações que elas faziam em minha direção. James, Sirius e Peter não compareceram ao jantar. Já deviam estar na Casa dos Gritos com Remo...

Depois do jantar, antes da minha detenção, eu fui chamada (assim como todos os outros monitores, com exceção de Remo) à sala do diretor, para começarmos com os preparativos do Baile da Primavera. Os lufa-lufas ficaram encarregados dos comes e bebes, os corvinais da música, os sonserinos da divulgação e dos convites (os alunos do sexto ano pra baixo precisam comprar convites para entrar, o baile só é de graça para os setimanistas), e nós grifinórios da decoração. Que legal. Como é um baile de primavera, a decoração requer muitas flores, cores claras e leves. Terei que pensar emtoalhas de mesa, arranjos de mesa, organização de mesas, mais-não-sei-o-quê de mesas, decorar o salão inteiro com flores... Que legal. Dá pra ver o quanto estou entusiasmada para esse baile, não?

A detenção, como eu já disse, foi cansativa, porque tive que organizar um corredor inteiro sozinha, já que M. Pince ficou nos vigiando e não deu pra eu e Alice arrumarmos juntas. Quando voltamos as meninas já estavam dormindo, e Alice seguiu o exemplo delas, se atirando na cama sem nem tirar o uniforme. Já eu, como pode ver, estou com muita insônia...

SALA COMUNAL, 03:00

Contrariamente à minha terrível sorte, não consegui dormir depois da primeira hora de insônia. Isso geralmente acontece, fico uma hora acordada e adormeço logo depois, mas hoje não foi assim. Fiquei absorta em pensamentos e reflexões até a uma da manhã; depois, peguei o livro que ganhei de Natal e continuei a leitura (tinha me esquecido dele por uns tempos...); terminei o livro uma hora depois, e não consegui mais dormir mesmo. Fui ao banheiro, arrumei a mochila com os livros que usarei amanhã, deixei meu uniforme separado e pendurado num cabide no dossel da minha cama, engraxei meus sapatos que estavam sujos desde a briga com Melissa, comecei um dever de transfiguração que é só para a semana que vem, e finalmente tive a brilhante idéia de descer e tomar um copo d’água, e ficar um pouco aqui na sala comunal, como já fiz tantas outras noites...

Gosto muito desta sala, é tão aconchegante, e da janela é possível se ver a lua e as estrelas melhor do que a janela do dormitório... geralmente não fico muito por aqui durante o dia, já que está sempre conturbada. Gosto dela assim, vazia, calma, tranqüila...

Nossa, de repente me deu um sono... nossa, que sono é esse que vem do nada? Estou com tanta preguiça de voltar para a cama... aposto que se eu levantar vou perder o sono... vou me aconchegar nesse sofá macio e confortável e dormir um pou...

DORMITÓRIO, 04:00

Logo que adormeci no sofá, ouvi umas vozes distantes entrando pelo buraco do retrato. James, Sirius e Peter. Estavam voltando da “aventura” com Remo na floresta. Ouvi dois deles subirem as escadas, e logo depois o outro me acordou gentilmente...

- Lily? – ele sussurrou.

- Hm. – resmunguei com os olhos fechados, totalmente sem consciência de nada.

- Não é melhor você subir e dormir um pouco? – ele perguntou amavelmente.

- Hum, hum. – respondi com os olhos meio abertos, ainda sem consciência do que estava acontecendo, tentando encarar o vulto de olhos castanho-esverdeados e óculos que estava ajoelhado no chão, com o rosto bem próximo do meu.

- Vem, eu não posso te levar até o dormitório, mas te levo até a escada. – e dizendo isso ele me tomou nos braços e me levou até o pé da escada do dormitório das meninas. Senti um perfume gostoso que vinha do pescoço dele e suspirei sorrindo. Acordei no meio do percurso e me senti um pouco confusa.

- Potter? O que está fazendo? – perguntei com a voz rouca de sono.

- Te levando até a escada do dormitório.

- N-não precisa, eu já acordei. – falei meio tímida e confusa, no que ele gentilmente me pôs no chão, e ficamos a nos olhar. Foi então que eu percebi que ele tinha profundos arranhões nos braços e no rosto. - Potter, o que aconteceu com você? – perguntei preocupada

- Não foi nada, só o Remo, mas estou bem...

- Não, você não pode ficar assim! – falei cortando-o e me dirigindo a um armário da sala comunal.

- Sério Lily, não é nada demais... o que é isso? – ele perguntou olhando para a maleta que eu tinha nas mãos.

- Kit de primeiros-socorros. – respondi ao mesmo tempo que o fazia sentar no sofá, me sentando ao seu lado em seguida.

- E desde quando tem isso aqui? – ele perguntou, no que eu rolei os olhos sorrindo involuntariamente.

- Desde sempre! Você acha que a M. Pomfrey vive à disposição de alunos que se machucam o dia todo? As salas comunais têm um kit para cuidar de pequenos ferimentos... – ele fem um “hum” de compreensão - Agora, deixa eu ver esse braço...

- Lily, não precisa fazer isso... – mas eu já tinha pego um algodão com uma poção de cura e começava a passar nos cortes do braço dele. – AI! Isso dói!

- Shh! Quer que todos acordem? E deixe de ser reclamão!

- Hey! Ai! – dessa vez o gemido foi mais baixo.

Ele continuou agüentando o tratamento dos braços com muita força e coragem (toque de ironia). Não falamos nada. Peguei um outro algodão e um outro tipo de poção, para passar nos arranhões do rosto.

- Hm, Lily, isso vai doer tanto quanto o... AAII!

- Shh! – falei, pondo a mão na boca dele para que parasse de gritar. Nos encaramos por alguns segundos,os olhos dele estavam brilhando, e os meus também deviam estar... meu olhar muito relutantemente se desviou para o corte na bochecha esquerda dele e ele voltou a olhar para os pés.

Algum tempo depois, fiz uns curativos e guardei a maleta de volta no armário, enquanto ele me olhava com um sorriso terno, me deixando um pouco constrangida, já que ele nunca usa esse sorriso com ninguém, só comigo...

- Obrigado Lily. – ele falou quando eu voltei para o sofá com um copo d’água na mão.

- De nada... – respondi bebendo um grande gole e tentando parecer bem neutra em relação aos meus sentimentos pelo garoto ao meu lado.

- Lily... você ainda está chateada pelo o que aconteceu...? – ele perguntou numa voz um pouco rouca e muito madura, aproximando bem o rosto dele do meu, para me olhar nos olhos, o que eu tentei desviar mas não consegui. Soltei um longo suspiro.

- Não... – respondi encarando aqueles olhos cheios de ternura e arrependimento. Ele sorriu levemente e olhou para os joelhos. Levantei-me e me dirigi para a escada, e ele fez o mesmo.

- Boa noite... – eu disse, e antes que eu pudesse pôr o pé no primeiro degrau, ele me segurou pela mão, trazendo-me para mais perto dele.

- Boa noite, Lily...

Ele aproximou o rosto do meu lentamente, e eu fiz o mesmo. A mão que não segurava a minha foi parar na minha cintura, enquanto que a minha mão livre ia subindo lentamente em direção ao ombro esquerdo dele. Nossos narizes se encostaram, e nossas bocas se roçaram, mas antes que algo mais acontecesse, ouvimos um barulhão vindo do dormitório dos garotos. Me afastei imediatamente de James e este virou as costas com a mão esfregando a nuca, parecendo meio... constrangido? Lancei a ele um último olhar que me foi retribuído com um ar de desculpas e subi para cá.

Me atirei na cama e mil pensamentos vieram a minha cabeça. “Meu Deus, eu ia beijar o Potter!”. Engraçado que eu ainda me surpreenda com isso. Quero dizer, ele já me beijou tantas vezes esse ano... mas não posso evitar de sentir aquele frio na barriga quando o encontro, principalmente quando ficamos sozinhos como hoje... por que eu não me permito ceder aos encantos deste ser lindo e visivelmente apaixonado por mim?

Certo, melhor tentar dormir... amanhã é um longo dia...

SEXTA-FEIRA, 26 DE JANEIRO

SALA COMUNAL, 20:00

Essas últimas semanas foram longas e comuns. Este dia foi longo e comum. Bem diferente de todos os outros dias que tive desde que comecei esse diário. Digo, tive muitos dias longos, mas nenhum deles foi comum. Faz muito tempo que não tenho um dia comum. Só que, como já virou comum os dias serem incomuns, esse dia acaba sendo incomum, certo?

Nossa, quanta divagação... isso porque meu dia não teve nada de especial, foi completamente normal. Tive aulas normais, tarefas de monitora normais inclusive descontar pontos, coisa que não fazia faz tempo, os marotos fizeram marotices normais, até a detenção hoje foi normal. Tudo na mais perfeita normalidade. Então, porque me sinto tão anormalmente incompleta?

Acho que me acostumei com as bizarrices que andam acontecendo desde novembro... até porque eu tinha motivos para escrever nisso aqui... e agora estou inventando um motivo totalmente sem nexo só pra não fazer o dever de transfiguração (pasme: Lily Evans fugindo do dever de casa)!

Ok, ok, chega de fugir. Sinto que o livro está chamando o meu nome de dentro da minha mochila fechada sobre a escrivaninha em que me encontro. Não duvido nada que este livro crie perninhas e venha me seguir gritando “não fuja de suas obrigações Lily Evans!”. Hehehe, seria engraçado... e mais engraçado ainda, é que todo mundo que está aqui na sala comunal deve estar pensando “Nossa, essa Evans é realmente muito responsável, tão concentrada nos deveres!” hahaha. Mal sabem eles que eu estou de bobeira... minhas amigas não estão aqui, o que seria estranho se elas não tivessem sumido a essa hora durante a semana toda. Mas agora já virou normal. E os marotos também não estão, mas eles têm lá suas marotices para planejar... essa palavra “marotice” é tão engraçada... hehehe

Nossa, como estou boba esses dias... E sabe por quê? Simplesmente porque James esqueceu completamente do que aconteceu entre nós na madrugada de terça-feira da semana passada, e estou ficando completamente louca com isso.

Nunca pensei que sentiria falta dos convites pra sair (se bem que ele não me chama pra sair tem tempo) e das piadinhas dele, e dos beijos roubados e furtivos... é, minha vida está atingindo um grau de normalidade tão bizarro que eu mesma não estou agüentando. Irônico, porque o que eu mais queria desde o início desse ano era ter uma vida bem normal nessa escola. E, contrariando todos os meus princípios (que já estão meio do avesso a partir do momento em que me recuso a fazer o dever de casa), estou sentindo falta da presença de James Potter. Mais irônico ainda, não? Quando eu o tinha aos meus pés, não queria saber dele nem pintado na minha frente. Mas agora que ele aparentemente (nunca se sabe o que ele pode estar tramando) seguiu o meu conselho e está me deixando em paz (outra ironia, porque não estou em paz, estou enlouquecendo!), eu não consigo parar de pensar nele! Ta, eu sei, é porque eu amo ele.

Peraí, deixa eu reformular essa frase: eu amo ele?

Deixe der burra, Lily, é claro que ama! Mas não deveria, diz uma vozinha sensata na minha cabeça. Ai ai, a quem devo escutar: a razão, ou o coração?

Na verdade, acho que deveria escutar o meu livro de transfiguração que está gritando o meu nome!

20:30

Ta, era alucinação, o livro ainda não adquiriu a capacidade de falar. Ainda bem. Comecei a fazer o dever, mas parei na metade. Não estou muito concentrada, sabe?

Pois bem. Cá estou eu, a escrever neste livro que em hipótese alguma pode cair em mão errada, ou então posso me considerar uma garota fracassada e desmoralizada para o resto da vida. Falo sério.

Ta, nesse meu surto repentino de negação à realidade mais que perfeita, acabei esquecendo da detenção. Alice já deve estar lá, espero. Bem, lá vou eu...

DORMITÓRIO, 00:00

Certo, essa detenção não foi nada normal. Na verdade, foi bem longe disso. Alice conseguiu ser dispensada de hoje, o último dia de detenção, não sei por que, e M. Pince estranhamente contraiu um resfriado que faz com que ela espirre a cada 5 segundos perto dos livros (eu acho que é alergia... mas se ela admitir que é isso, vai ser removida da biblioteca, e isso é tudo que ela menos quer... eu gosto de livros, mas aquela mulher é obcecada!), portanto não pôde me supervisionar, então coube a um outro monitor essa tarefa. Quem? Bryan Leigh.

Fiquei surpresa, mas cumpri minha detenção normalmente (essa palavra está tão irônica hoje...) e foi até divertido. Conversamos um pouco e ele acabou por me ajudar nas prateleiras mais altas. Ele é tão legal! E inteligente também... e aparentemente gosta de mim, porque vive cheio de charminhos e sorrisinhos pra cima de mim, e se preocupa comigo também. E foi levando tudo isso em consideração, que eu, Lily Evans, aceitei sair com Bryan Leigh no dia dos namorados.

Entende porque eu disse que essa detenção não foi normal? Na verdade, acho que eu só aceitei esse convite inconscientemente com o intuito de pôr um fim na normalidade desses meus dias. Mas peralá, eu sair com alguém como Bryan seria normal. Sair com o Potter seria anormal. Mas como eu não sou de aceitar convites pra sair, principalmente de caras por quem não sinto nadinha (o Bryan é legal, mas não vejo nada de especial nele. Sério mesmo.), acabou sendo anormal de qualquer jeito. Estranho. Bizarro.

De um jeito ou de outro, o que acontece é que eu tenho um encontro com Bryan. No dia dos namorados. Minhas amigas vão querer me matar. James vai ficar arrasado (peraí, eu me importo com ele? Ah, claro, desde que descobri que o amo. Peraí, eu já descobri isso?). E eu não poderia estar mais confusa.

Ou então, o mais provável, à beira de um ataque de nervos.

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