De volta à Câmara Secreta



Harry continuou a fitar o ponto rotulado "Snape" no mapa. Snape estava fora do castelo, não ensinava mais em Hogwarts ; como isso era possível?
O menino ficou horrorizado ao ver que os pontos "Snape" e "Nagini" (que ele não fazia a mínima idéia de quem ou o que fosse) estavam no terceiro andar, indo diretamente ao banheiro da Murta-Que-Geme. Aquele banheiro sempre esteve vazio por causa do fantasma da Murta, e Harry tinha uma "ligeira" impressão que Snape não voltara à escola para usar o banheiro da Murta. O que o ex-professor estava fazendo lá? "Será que têm a ver com Câmara Secreta?"- perguntou-se Harry.
-Harry?- Rony Weasley disse, estranhando a repentina mudança de atenção do garoto.
- Rony! Olha aqui!- disse empurrando o mapa na cara do amigo.
- O quê?- respondeu o ruivo sem entender nada.
- Aqui! Olha esse ponto!
Então o Weasley entendeu. Demorou uns segundos para conseguir organizar os pensamentos e dizer algo, embora não tenha sido algo muito interessante.
- Snape!!!- falou Rony, estupefato - Mas o quê ele está fazendo aqui?
- A Câmara Secreta. Mas fazer o quê lá?- disse Harry, intrigado.
- A Câmara Secreta!? Mas o Snape não pode abrir a Câmara! Só você e Você-Sabe-Quem podem! Quer dizer, o Snape não é ofidiglota, não é?
- Eu acho melhor seguirmos ele. Venha.
Mas o amigo não se mexeu. Ao invés de ir, falou:
- Você está brincando? Harry! Esqueceu o porquê estamos aqui?- indignou-se, apontando as cervejas amanteigadas.
- Por favor! Só temos que ir ver o que ele está fazendo aqui, em Hogwarts. É rápido. Depois vamos para a festa.
- Mas a festa já está rolando. Já estamos atrasados.- disse o ruivo.
- Eu não posso te culpar por querer aproveitar essa festa ao máximo, mas eu vou atrás de Snape. E vou levar o mapa comigo. Se quiser ir sozinho até a sala comunal, pode ir.
Harry encarou Rony e seguiu em direção ao banheiro da Murta, de olho no mapa e no pontinho que representava Snape.
Sem outra opção, Rony correu atrás de Harry, segurando as três caixas de cerveja, porém ainda suplicando que o amigo voltasse para a festa.
- Pense bem! Lembre-se de que Dumbledore confia em Snape.
Quando Harry chegou ao corredor que levava ao banheiro onde a Câmara Secreta estava escondida ele se lembrou de quem era Nagini. Snape caminhava ao lado de uma enorme serpente que deveria ter pelo menos uns quatro metros de comprimento e possuía um aspecto peçonhento. Harry pôde observar claramente que o professor estava com uma expressão de medo em seu rosto macilento ao caminhar com o réptil ao seu encalço. "É claro, essa é a cobra do Voldemort!"- pensou o garoto. Neste momento, um turbilhão de possibilidades passou pela cabeça de Harry. A cobra de Voldemort poderia estar encurralando Snape, pronta para dar o bote. Mas esta opção não era correta. Nagini não parecia querer matar o ex-professor, mas sim segui-lo. Então, o réptil poderia estar obrigando Snape a levá-la a algum lugar. Mas isso não era possível, ele não se deixaria dominar por uma cobra sem lutar. Snape não estava agindo contra a sua vontade. Só restava uma possibilidade.
- Snape está traindo Dumbledore!- disse Harry a Rony, quando voltou a se esconder, atrás de uma pilastra, onde estava o amigo. O ruivo não disse nada. Apenas esperou por mais informações.- Ele está com a cobra do Voldemort. Parece que arranjou um jeito de infiltrar a cobra em Hogwarts, na calada da noite.
- Mas quê? Você-Sabe-Quem tem uma cobra?
- Não é bem uma cobra. É bem maior que uma cobra, mas não chega a ser um basilisco.
Rony espiou por trás da pilastra, curioso, e viu Nagini, quando esta entrava no banheiro.
- Caraca!!!- foi a única palavra que ele teve para descrever a cobra quando voltou, assustado, para trás da pilastra- Realmente deve ser difícil entrar com uma cobra dessas em Hogwarts.
- Exatamente. Apenas alguém que conhece Hogwarts conseguiria.
- Será que aquela luta em Hogsmeade contribuiu para isso?
- Talvez.- sibilou Harry.
- Aquele desgraçado do Snape voltou a ser um Comensal!
- É o que parece!
- Quem está aí?- berrou uma voz esganiçada que Harry reconheceu de cara, Murta-Que-Geme. Ele e o Weasley se entreolharam. Snape era quem estava no banheiro, e com Nagini.
Harry e Rony seguiram furtivamente até a porta do banheiro, que Snape deixara aberta, por onde espiaram o que estava se passando lá dentro.
-Quietus!- disse Snape com a varinha apontada para Murta que levitava perto da janela.
Na mesma hora o fantasma se calou e o garoto ouviu uma outra voz na cena.
-Abra!- falou uma voz sussurrante e reptiliana, que ele reconheceu como sendo de Nagini, pois ele sabia falar a língua das cobras. Isso se confirmou quando Rony olhou para ele com cara de quem não tinha entendido nada.
Harry novamente viu a torneira que nunca funcionou se abrir numa passagem para baixo que parecia não ter fim. Snape ficou esperando a cobra ir, mas Nagini o olhava intensamente com uma expressão de quem dúvida de alguma coisa. Após alguns segundos o professor quebrou o silêncio.
-Está bem, já vou.- dizendo isso se jogou em direção à Câmara Secreta.
Em seguida foi a vez da serpente, que com um deslizo suave entrou no buraco que levava ao aposento escondido.
O menino entrou no banheiro e viu a expressão triste no rosto da Murta se transformar num largo sorriso. Ele puxou sua varinha.
-Sonorus!- disse com a varinha apontada para ela. A voz de murta voltou.
- Você vai descer de novo, não vai?- perguntou a garota fantasma.
- Vou- respondeu- tente não fazer barulho enquanto eu estiver lá embaixo, OK?
- Por que eu deveria fazer isso? Você prometeu que ia vir me visitar, mas não apareceu nem para agradecer a ajuda que eu lhe prestei, ano passado.- falou a Murta-Que-Geme, chorosa.- Você é um ingrato! Isso é o quê você é.
Harry não conseguiu responder, Murta estava certa. E não era uma boa idéia ter a fantasma contra ele. Foi aí que Rony entrou em cena:
- Mas ele só não veio te visitar porque não teve tempo. Eu que sou amigo do Harry,eu sei. Ele não pára de falar de você um segundo sequer. É Murta-Que-Geme pra cá, Murta-Que-Geme pra lá. Ele não via a hora de vir te ver.
Murta encarou o ruivo e voltou a sorrir. Foi quando olhou para Harry:
- É verdade?- perguntou.
O menino olhou para Rony, sem saber o que dizer. O amigo piscou e fez sinal de sim.
- Sim...- falou Harry, sem jeito.
O sorriso de Murta se alargou ainda mais.
- Ah... Harryzinho... Eu morri no quinto ano, sabia? Nós temos a mesma idade agora! Meu convite continua de pé! Se você morrer lá em baixo, venha dividir esse banheiro comigo.
A fantasma mandou um beijo para o menino. Harry evitou olhá-la e se atirou no cano que levava à Câmara Secreta.
Dessa vez ele caiu suavemente no chão e viu que a segunda porta que levava à câmara já estava aberta. Rony veio logo atrás. Quando Harry pegou o mapa do maroto, procurando orientar-se, teve uma surpresa..
- O que houve?- perguntou o Weasley
- O mapa!- sibilou Harry- Não funciona aqui em baixo.
Aquilo era realmente verdade. No lugar do mapa de Hogwarts, o pergaminho mostrava a seguinte mensagem: "Parabéns!!! Você chegou em uma sala ou passagem secreta que Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas nunca encontraram antes. Cabe a você encontrar o caminho!"
Harry guardou o mapa no bolso e guiou Rony pelo "esgoto" que dava na Câmara Secreta.
Depois de caminhar um pouco, eles chegaram no salão onde havia varias esculturas de serpentes e uma da face de um dos fundadores de Hogwarts: Salazar Slytherin. O menino entrou no aposento com Rony, e ao ver Snape de perfil percebeu que este parecia estar, no exato momento, concluindo o processo do sistema digestório, não pela ordem natural das coisas, mas pelo extremo medo que se materializava em seu rosto; um Snape que o garoto nunca vira em todo o seu tempo em Hogwarts.
Harry se escondeu atrás de uma das várias esculturas de serpentes, juntamente com o amigo. Os dois com os olhos posicionados para observar tudo que ocorria. O professor ficou olhando o rosto de Salazar Slytherin, a cobra de Voldemort foi diretamente ao basilisco, mutilado no chão. Era a cobra que Harry havia matado a dois anos atrás. quando Rony viu o monstro, murmurou:
- Ainda bem que eu não prossegui até aqui na última vez. Você teve sorte de enfrentar o basilisco e sair vivo!
Nagini aproximou-se da besta morta e começou a balançar a cabeça, no que parecia ser um choro. Harry teria até sentido pena se não encontrasse o basilisco vivo no segundo ano, e achou que para ser amigo de uma cobra gigante assassina, só sendo outra cobra gigante assassina; aí então começou a compartilhar do sentimento de Snape.
Nagini deixou o corpo do basilisco e encarou Snape. Este deu batidinhas na cabeça da cobra, em afirmação. Ele se aproximou do rosto do fundador da Sonserina e bradou:
- Chegou a hora Slytherin! Seu herdeiro irá unir as quatro espadas de Hogwarts e se tornará maior do que nenhum bruxo jamais foi! Dê-me o "Falso Amigo" e faça as trevas reinarem!!!
Um cone de luz verde começou a brotar de um ponto no chão, ficando cada vez maior. Então a luz começou a se dissipar e Harry conseguiu ver um pedestal de prata com uma espada. Nela estavam cravejadas serpentes ao longo do braço e a lâmina era curva como uma cobra em movimento. Snape andou até o pedestal e apanhou a arma, que mais parecia uma adaga que crescera demais.
- Curiosa a forma com que Slytherin chamava sua espada.Vamos Nagini, preciso entregar a espada para milorde.- falou Snape, finalmente sorrindo.
- Eu não posso acreditar. Snape vai mesmo entregar a espada da Sonserina a Você-Sabe-Quem.- indignou-se Rony.
Harry não soube o que dizer. Ficou olhando para seu ex-professor. Sempre desconfiara de Snape. Ele sentiu vontade de correr até o pescoço do professor e apertar com toda a sua força. Mas a voz de Nagini o fez lembrar do perigo de enfrentar uma cobra gigante e o mestre da poções.
- Esssssspere...- falou a cobra de Voldemort.
Ficou claro que Snape não havia entendido o que ela disse, mas ele se virou, instantaneamente. Harry e Rony se abaixaram ao mesmo tempo que ele olhou. Nagini continuou a falar e Harry era o único que entendia.
- Essstou sentindo.... sssinto cheiro de mais gente aqui...
Rony notou que o amigo arregalava os olhos e perguntou:
- O que foi?
- Meninosss!!!- continuou a cobra. O menino pôde ouvi-la deslizar, cada vez mais perto.- Na essstátua!!
- Corra!- disse Harry a Rony.
- O quê?- perguntou o amigo que não entendia nada.
- Vou matar... Vou matar... - falava a cobra.
- O que houve, Nagini?- era a voz de Snape.
- CORRA!!!- gritou finalmente Harry-Ela vai nos matar!
Rony levantou-se e entendeu tudo ou ver a cobra.
- VAMOS!- gritou o garoto, desesperado.
Em seguida Harry saiu detrás da estátua.
- POTTER!- berrou em resposta Snape- Obliviate!
Com os reflexos nascidos da prática do Quadribol, Harry se atirou para a esquerda e conseguiu desviar do lampejo de luz azul da varinha do mestre de poções. Percebeu que o que fez foi realmente estúpido, e agora estava em sério risco (como em inúmeras ocasiões).
- Vou matar! Vou matar!- falava a cobra.
O garoto partiu em disparada para a saída da Câmara Secreta,com Rony em seu encalço. Sabia que precisava ser rápido agora, pois a cobra o alcançaria no túnel que levava à saída para o banheiro da Murta-Que-Geme.
Só um milagre agora, pois a serpente era rápida o suficiente para chegar a ele antes da passagem final. Foi quando Snape disse algo que fez as ameaças de Nagini cessarem, Harry percebera que a cobra não mais o perseguia. Estava salvo, novamente. Ele e o amigo se olharam. Estavam muito assustados para falarem. Rony nem pensou e se jogou na parede, tentando escalar para o banheiro feminino. Harry foi atrás. Ia devagar, pois a subida era bem íngreme e escorregadia. Estava claro que se caísse, a cobra não hesitaria em matá-lo. Por vezes tropeçava ou escorregava, mas depois de muito tempo, pelo menos na mente do menino, chegou à saída da Câmara. Percebeu as criaturas admiráveis que fossem as Fênix, pois estava exausto e muito tempo se passara, enquanto Fawkes levara quatro pessoas em muito menos tempo, no segundo ano de Harry na escola.
O menino chegou perplexo ao banheiro e lá encontrou Rony.
- Venha, Harry.
Os dois saíram do banheiro depois de despedidas de Murta-que-Geme.
- Preciso botar meus pensamentos em ordem. Vamos achar Hermione.
- Esqueceu da festa?-lembrou o amigo.
Ao lembrar da festa, Harry lembrou de outra coisa:
- Cho!
Esquecera completamente, deixara Cho Chang esperando tempo demais. Se ela não se zangara com o menino e fora embora, era um "prato cheio" para Filch e sua gata.
Rony foi indo para a sala comunal e Harry saiu correndo para o local marcado para encontrá-la, e depois de muito suor derramado e muitos metros corridos chegou aonde combinara com a garota, desejando que ela estivesse ali. E estava, mas acompanhada de Filch.
- O prof. Flitwick não vai ficar muito feliz ao saber que uma aluna da Corvinal foi encontrada essa hora rondando pelo castelo.- dizia o zelador, agarrando o braço da menina- Logo da Corvinal, a casa que me dá menos trabalho!
- Harry!!!- Cho havia visto o garoto.
- Mais um!- falou Filch com a cara amarrada, porém com brilho nos olhos.
- Solte ela!- berrou Harry ao homem. Cho não estava com a cara nem um pouco boa.
- Não tente aumentar sua detenção, Potter.
- Porque não veio me pegar na hora certa?- perguntou a garota, zangada.
Harry não conseguiu encontrar nenhuma resposta.
- Minerva também não vai gostar nada-nada...- zombou o zelador agarrando o braço do menino.
Mas Harry não se preocupava com a detenção que provavelmente iria pegar. Ele pensava somente em Cho Chang e no quanto ela iria ficar chateada com ele. Quando ele tomou coragem e olhou em seus olhos, reparou que os olhos da menina estavam cheios de lágrimas.
- Nunca levei nenhuma detenção. – disse Cho.

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