Liberdade



Capítulo 23 – Liberdade


- O que vai acontecer? – Hermione olhou a varinha curiosa.


- Não sei. – Harry sorriu amarelo – Mas... por mais estranho que isto pareça... eu sei como fazer acontecer.


- Fale então. – falou Gina, fria, olhando a varinha.


Harry suspirou triste e olhou nos olhos de Rony e de Hermione.


- Vamos unir nossas auras. – pediu ele.


- E mantê-las unidas? – perguntou Rony.


- Sim. – confirmou Harry.


Os quatro se concentraram e fecharam os olhos.


Merlim sorriu contente, eles estavam seguindo pelo caminho certo.


Cada um pôde sentir a energia do outro. Estavam mais próximos do que nunca.


As auras dançaram pela sala. Vermelho, azul, verde e amarelo compondo uma belíssima aquarela. As quatro auras se expandiram ao máximo e se uniram no centro do circulo que eles formavam, exatamente na varinha de Harry. Uma única aura branca tomou a varinha e a eles. A varinha começou a girar em pleno ar, inundada pela aura branca.


Harry soube que era o momento certo e, sem abrir os olhos, murmurou:


- Revelare Identità!


Quatro raios brancos saíram da varinha e atingiram-nos.


Os olhos se abriram.


Vermelho flamejante.


Azul-cristalino.


Verde intenso.


Amarelo-canário.


Mais uma vez, a sala foi tomada pelas quatro cores.


Cada um se viu afastando-se da sala, sem a deixar. Suas mentes saíram de seus corpos e vagaram até outros lugares.


Harry se viu voar muito alto, acima das nuvens. Viu a ilha da Inglaterra passar abaixo de si, assim como a Irlanda, conforme se dirigia ao oeste. Por alguns segundos viu apenas a imensidão azul do oceano. Pouco depois, a terra. Soube que era a América do Norte. Passou por ela, sobre as luminosas cidades dos Estados Unidos. Novamente o oceano tomou sua visão. Assustou-se ao perceber que as águas estavam se aproximando rapidamente. Só quando estava mais próximo pôde reconhecer pequenas ilhas. Aproximou-se muito mais, tudo se tornando perfeitamente visível aos seus olhos. Então parou. A terra estava próxima e ele via perfeitamente um morro baixo, mas muito largo. Em seu topo havia neve e uma grande fissura. Entendeu que era um vulcão. Contudo, não teve muito tempo para pensar em mais nada. A distância que o separava do vulcão sumiu e ele se viu dentro dele. Desceu pela fissura até chegar a um lago de magma fundido. Caiu sobre ele e fitou algo a sua frente. Um par de olhos vermelhos flamejantes o encarava. Um rugido chegou aos seus ouvidos e tudo ficou escuro.


Gina viu a Inglaterra sumir abaixo de seus pés ao rumar para o sul. França, Espanha e Portugal passaram com grande velocidade, apenas as luzes das grandes cidades eram visíveis. Logo, a África tomou sua visão e, durante um tempo significativo, permaneceu. O seu amado oceano surgiu, porém não ficou por muito tempo. Um vasto terreno branco e brilhante quase lhe cegou. Tudo era tão branco que só percebeu que estava ficando mais próximo quando estava muito perto. Uma larga e comprida fissura na superfície fazia a escuridão manchar a imensidão branca. O solo parou de se aproximar. A escuridão estava abaixo de seus pés. Olhando em volta, percebeu que era gelo. A fissura era muito profunda, pois era impossível ver seu fundo. Uma queda brusca a assustou. Entrou na fissura com velocidade, a escuridão lhe tomando os olhos, seus pés tocaram algo frio e duro. Apesar da escuridão, ela viu algo a sua frente. Um par de olhos azul-cristalinos fitava-a. O brilho dos olhos desapareceu após um forte rugido.


Rony sentiu-se estranho ao subir no céu e ver sua querida terra se distanciar. A Inglaterra ficou para trás e o oceano tomou sua visão. Rumava para o sudoeste, muito mais sul do que oeste, na verdade. Após rápidos segundos viu o continente. Pelos seus conhecimentos geográficos soube que era a América do Sul. Viu grandes extensões de terra pouco arborizada e, logo depois, uma imensidão verde. Logo, as árvores foram sumindo, até que não havia mais nenhuma. Viu a luz sendo refletida pela areia. Sua felicidade por ver a areia quase sumiu quando começou a cair. Aproximando-se do solo, se deu conta que estava em um deserto, um grande deserto. Montanhas muito altas passaram ao seu lado. Parou de descer quando estava sobre um comprido planalto, o solo estava tão próximo. O pensamento lhe fugiu quando o solo voltou a se aproximar e o seu corpo o atravessou. Não conseguia ver nada, a velocidade era muito alta para que ele se concentrasse em algo para ver. Então parou e encarou algo a sua frente. Um par de olhos verdes intensos o encarava de volta, através do solo. Tudo ficou negro, após um rugido chegar aos seus ouvidos.


Hermione alegrou-se ao sentir-se tão próxima do céu e das nuvens, um lugar que considerava como uma nova casa. Viu a Inglaterra caminhar para o oeste e a Alemanha surgir sob seus pés. Atravessou a Europa e viu dois mares, dos quais não recordava o nome. Reconheceu as partes áridas do oriente e continuou a rumar para o leste. Sobrevoou altas montanhas, seus cumes estavam tomados por neve e as nuvens criavam uma densa neblina sob elas. Havia tantas montanhas altíssimas que reconheceu como uma cordilheira. Parou no ar, logo acima de uma montanha muito mais alta que as outras. Encontrou dificuldade em respirar até se concentrar o suficiente para o ar lhe obedecer e lhe fornecer o oxigênio necessário. De repente, a montanha sob seus pés se afastou. Ela subiu muito mais alto do que já fora, as nuvens cobriam e impediam sua visão. Ultrapassou uma nuvem muito espessa e viu o brilho do universo sobre si. Abaixou o olhar e fitou algo que já a encarava. Dois olhos amarelo-canários brilharam para ela. Ela sorriu antes de ouvir um forte rugido e tudo ficar negro.


Da escuridão, surgiu a Sala de Reuniões da Ordem de Merlim. Todos piscaram repetidas vezes imaginando que a imagem uns dos outros era falsa.


A varinha de Harry parou de girar. A aura branca que os tomava sumiu e seus olhos voltaram às cores normais. Uma moleza tomou suas pernas e eles se deixaram cair nas poltronas. A varinha caiu no chão com leves batidas. Todos ofegavam e olhavam o chão, como um vazio.


Fecharam os olhos por alguns segundos. As imagens dos quatro pares de olhos e dos rugidos eram perfeitamente nítidas em suas mentes.


- Todos nós... – começou Harry.


- Sim. – Hermione confirmou com a voz fraca.


- Os dragões. – Gina respirou profundamente – Vivos.


- Vós acháveis que eles estariam mortos? – Merlim olhou-os, perplexo – Se até vós estais vivos, por que eles não?


- Você não me entendeu. – Gina fitou o quadro – Achei que seria impossível, mesmo com tudo que já vimos e vivemos, sobreviver em um local tão inóspito.


- Onde? – Rony pareceu se recuperar.


- Pólo sul. – Gina olhou-o – Desci em direção ao sul. Sempre ao sul. Não tem como ser outro lugar.


- Cada um de vós foi levado ao local que deverás ir. – explicou Merlim – Compartilhar a informação seja, talvez, algo bom.


- Fui para o oeste. – falou Harry – Passei pelo Atlântico e pelo Estados Unidos. Algumas ilhas no Pacífico, bem próximo do continente.


- Havaí. – Hermione sorriu.


- Sim. – Harry concordou com um sorriso.


- Sudoeste. – disse Rony em seguida – Pensei que as florestas da América da Sul fossem menores.


- São as maiores Rony. – falou Hermione.


- Agora eu sei. – interveio ele risonho – Fui para um deserto. Não sabia que havia deserto na América do Sul.


- Atacama, Chile. – respondeu Hermione depois de pensar um pouco – E ele não é o único deserto da América do Sul.


- E você? – perguntou Gina interessada.


- Leste. Através da Europa e da Ásia. Eu sempre soube que a Cordilheira do Himalaia era a mais alta do mundo, mas... – ela olhou-os – puxa! Como é alta!


Eles riram.


- Fui ao topo do Monte Everest, o mais alto do mundo. – informou Hermione depois de se recuperar.


- Incrível. – exclamou Rony exausto.


Os outros o encararam perplexos, era óbvio que tudo aquilo era incrível.


- Vocês não me entenderam. – Rony riu de leve – Achei incrível que cada um de nós foi levado aos lugares do planeta onde nossos elementos estão em incrível e extrema abundância. 


- Você pensou em tudo isso sozinho? – perguntou Gina rindo – Cuidado hein Hermione, acho que você vai trocar de lugar com o Rony.


Todos riram. Hermione fingiu-se ofendida, mas não aguentou e gargalhou. Pouco depois, Merlim pigarreou, silenciando-os.


- A União acaba aqui. – falou ele com um largo sorriso – Vós tendes tudo o que precisam para combater e até para vencer.


- Teremos que ir até os Dragões agora? – perguntou Gina.


- Não. Vós ireis quando achardes que o momento chegou. – Merlim ficou um pouco mais sério e completou – Contudo, aconselho-lhes a não adiar por muito tempo. A Guerra está entrando em seu período mais violento. Qualquer deslize e será o fim de centenas de vidas e do mundo.


Os sorrisos nas faces deles foram desaparecendo conforme as palavras de Merlim foram tornando-se mais sérias e preocupantes.


- Perdoem-me se minhas palavras os assustaram. – Merlim começou calmo após ver a reação deles – Não foi minha intenção.


Eles acenaram positivamente, entendendo a visão do mago.


- Tenho outro conselho. – um sorriso alegre formou-se nos lábios do homem – Aproveitem a noite e os poucos momentos de paz que terão até a próxima batalha.


Eles sorriram e se entreolharam. Harry olhou para Gina na esperança de ver aqueles olhos cor-de-mel sorrirem para ele. Tudo o que Gina fez, no entanto foi manter seu olhar fixo em Hermione.


- Creio que queiram se reunir aos seus familiares e amigos. – Merlim atraiu mais uma vez a atenção deles – Vão!


Eles sorriram e se ergueram.


- Voltaremos se precisarmos de conselhos. – informou Hermione.


- Duvido que isto aconteça. – Merlim sorriu ainda mais e fez uma longa reverência.


=-=-=


Por um instante, todos os que sentiam a União se amedrontaram, tamanha era à força daquela energia.


Cassius sentiu seu corpo paralisar e teve que lutar para se manter consciente. Estava perto demais e, mesmo possuindo uma energia branca, fora atingido com brutalidade pela energia dos quatro. O ar lhe faltou e sua mente pareceu desligar. Pareceu-lhe tanto tempo, mas fora tão rápido quanto à luz.


Owen e Sarah estremeceram e paralisaram. Manchester ficava razoavelmente distante de Liverpool, mas esta distância foi ignorada pela força da energia da União. O casal não conseguiu ver nada, ficaram completamente cegos. A sensação de ficar completamente no escuro os apavorou. Antes que pudessem chamar um pelo outro, porém, tudo já havia passado. Fora mais rápido que o pensamento.


Todos da Ordem da Fênix gritaram amedrontados. Uma forte dor de cabeça os atingiu. Suavam frio de medo. Queriam se livrar daquela dor angustiante, desejavam a paz que aproveitavam até a pouco. Aquela dor de cabeça os lembrava da Guerra que estavam vivendo, das perdas sofridas e das que ainda viriam. Gritaram por misericórdia, gritaram suplicando por aquela paz. Então, o silêncio reinou. Parte de suas súplicas fora atendidas. A dor sumiu como um piscar de olhos, mas a paz não retornou.


Na região de Windermere, um homem caiu no chão. Berrava a plenos pulmões. Uma dor dilacerante percorria seu corpo. A energia da União entrou em conflito com sua própria energia, que oscilava entre negra e branca. Cada célula em seu corpo parecia se romper. Fora a pior dor que já suportara em toda sua vida. Porém, ela passou tão rápida e inesperada quanto veio, como a claridade de um raio em meio à escuridão.


A loucura e pavor se instalaram por completo no esconderijo do Dragão Negro. O conflito entre a energia de Voldemort e a energia da União chegou ao ápice. Os comensais tentaram fugir, sair do esconderijo e aparatar para o outro lado do mundo, se possível. Os berros de Voldemort eram ensurdecedores. Ele não aguentava mais. Queria que qualquer coisa acontecesse, qualquer coisa que o livrasse daquela dor. O conflito entre as energias abalou as estruturas do esconderijo. Com a correria dos comensais, as estruturas não aguentaram e cederam. Um a um, os níveis caíram uns sobre os outros, os comensais gritavam por socorro enquanto rochas e terra caiam sobre suas cabeças. Voldemort exauriu todas as suas forças e, com um berro ainda mais alto e dolorido, aparatou. O conflito entre as energias cessou. Voldemort caiu sobre os joelhos no solo da superfície, esgotado. Abriu os olhos com muito esforço e viu um gigantesco e profundo buraco no chão. Gritos sufocados eram ouvidos. Os comensais clamavam por socorro. Pouco a pouco, a dor no corpo de Voldemort foi se extinguindo, assim como os gritos dos comensais.


=-=-=


- Cassius?!


Uma voz distante o chamava.


- Cassius?!


A voz parecia preocupada. Uma mão gelada e macia pousou sobre seu ombro.


- Você está bem?


Outra voz soou mais próxima.


- Nós fizemos isso?


Uma voz pesarosa disse mais distante.


- Você pode ajudá-lo, Gina?


Outra voz distante, mas forte, soou.


- É claro que não. Estou esgotada, como todos nós.


A voz preocupada saiu cortante e gélida.


Um silêncio se fez. Rapidamente, Cassius foi recobrando os sentidos. Piscou forte com os olhos. A imagem se tornou nítida. Gina o olhava com preocupação, ajoelhada à sua frente. Hermione estava inclinada ao lado da ruiva e o analisava com o olhar. Rony e Harry estavam logo atrás.


- Olá. – a voz de Cassius saiu normal.


- Por Merlim, você nos assustou. – comentou Hermione, endireitando-se.


- Você está bem? – Gina quis confirmar.


- Estou. – ele forçou um sorriso – E vocês?


- Igualmente. – Gina sorriu.


Rony deu um passo à frente e estendeu a mão. Cassius tomou-a e se levantou.


- Não achei que fossemos demorar tanto. – comentou Harry olhando para o céu.


As estralas brilhavam fortes e a lua crescente iluminava-os.


- Nós já conversamos entre nós. – Hermione sorriu para Cassius.


- E agora, nós queremos conversar com você. – continuou Rony a fala da namorada.


- Ainda falta algo para vós. – disse Cassius calmo – O mais importante.


- Merlim nos disse que quando o momento certo chegasse, nós saberíamos e aí sim libertaríamos os Dragões. – Harry fitou os olhos do mago.


Cassius suspirou pesaroso.


- Eu os admiro. – sua voz saiu fraca – Vocês ficaram um ano excluídos de qualquer contato físico com qualquer outro. Antes disso, ficaram mais de um ano sem ver suas famílias e amigos, presos nessa casa. – ele fez uma pausa – Digo que são tolos. – os quatro ficaram intrigados – E é por isso que vos admiro. Eu, em vosso lugar, correria para o seio de minha família e aproveitaria cada milésimo de segundo com ela. Vós sois tolos porque se preocupam com os outros. Pior! Preocupam-se comigo, um velho que não merecia sequer ter o privilégio de vos conhecer – ele fitou-os longamente – Eu disse que aceitaria vossa ajuda depois que conversassem. Agora, porém, digo que só aceitarei a ajuda prometida depois que aproveitarem à presença de suas famílias.


- Mas você é teimoso, hein! – Gina riu fraca, passando as costas da mão pelo rosto, retirando algumas lágrimas.


- Teimosia e orgulho são as marcas dos McWells. – admitiu Cassius, risonho, embora fosse perceptível a tristeza em seus olhos.


- Que horas são? – perguntou Rony, que havia abraçado Hermione durante a fala de Cassius, soltou-a, parecendo perdido no tempo.


- Vamos entrar e olhar no relógio. – Cassius dirigiu-se para a casa com os jovens logo atrás.


- Não acredito que ficamos quatro horas conversando! – Rony sorriu incrédulo após olhar o relógio.


- Há coisas mais inacreditáveis que nós acreditamos. – Hermione sorriu para ele, sua sabedoria visível em seus olhos – O que há de difícil em acreditar no passar do tempo?


Harry e Cassius sorriram com a expressão vaga de Rony.


- Foi só terminar a União que o Rony voltou a ser burro! – exclamou Gina aos risos.


Harry gargalhou alegre ao lado dela. Gina se calou e fitou Harry pela primeira vez após a explosão deste. Ele se calou também e retribuiu o olhar. Cassius saiu silenciosamente da sala. Rony foi arrastado por Hermione até o andar superior, com o pretexto de rever seus antigos quartos.


Um silêncio perturbador instalou-se na sala. Gina desviou o olhar e deu um passo a frente, em direção à saída. Harry a segurou pelo braço, calmo e gentil.


- Gina... – falou com um sussurro.


A ruiva bufou irritada.


- Eu sei que o que fiz foi errado. Não devia ter explodido daquele jeito. – ele se explicou, suplicando para que ela o olhasse – Ficamos tanto tempo afastados. Não devíamos brigar logo no primeiro dia.


- Você devia ter pensado nisso antes. – respondeu ela amargurada.


- Gina... – ele suspirou – Tente entender o meu lado. Você sabe como é carregar o peso da culpa de uma morte? – a voz dele soou sombria - Todos esses anos eu carreguei a culpa pela morte de Sirius. Fiquei calado, guardei isto comigo. Para mim, Sirius estava morto por minha culpa. E... – ele fez uma pausa – de repente... Hermione diz que Sirius está vivo. Que eu não sou culpado pela morte de ninguém. Que tudo o que eu sofri até hoje foi em vão, sem sentido.


- Harry... – Gina se virou para ele, os olhos marejados – Eu sei que você sofreu. Eu sei que a chance de Sirius estar vivo te machuca. Pensar que ele viveu todo esse tempo preso na Dimensão da Neblina também me tortura. – ela suspirou, segurando as lágrimas nos olhos – Mas isto não é motivo para brigarmos. Você sofreu com a morte de Sirius, mas todos nós também sofremos. Sofremos duplamente. Sofremos pela morte de Sirius e pelo seu próprio sofrimento. Ficar ao seu lado e te ver sofrendo sem poder fazer nada para impedir é algo horrível.


- Me perdoa... – suplicou ele com um fio de voz.


- Eu não te amaria se não te perdoasse Harry. – ela respirou fundo – Mas, você tem que entender que você não é culpado por tudo o que acontece no mundo. Você se culpa, toma o peso para si. Isto é errado. Você é apenas mais uma vítima, a maior delas. Foi você quem perdeu tudo. O mundo deveria sofrer por você e não você pelo mundo.


Harry calou-se com as palavras dela. Ela tinha o poder de mudá-lo e de curá-lo de todos os males. Ele queria falar algo, mas nada saiu pela sua boca. Fechou os olhos e apertou os lábios. Gina se aproximou e o abraçou. Abraçou-o com amor e carinho, apertando-o contra o peito. Ele não resistiu ao ato dela e desmoronou. Suas pernas cederam e ambos foram ao chão. Gina apertou ainda mais o abraço, sentindo o corpo dele tremer. As lágrimas rolaram pelo rosto dele, marcando-o. Todas as culpas e os pesos finalmente o derrubaram. Ele precisava expulsá-las de dentro de si.


Gina inclinou a cabeça e beijou-lhe os cabelos. Ele a envolveu pela cintura e a abraçou trêmulo. Pela primeira vez, ela percebeu quão frágil ele era. Ele sempre se mostrara forte e ativo. Um líder nato. Abraçou-o com mais carinho, sentindo-se culpada por não perceber que ele era tão fraco quanto qualquer outro. Todas as coisas ruins que aconteceram na vida dele machucaram-no como adagas, cortando-o e dividindo-o por dentro. Somente agora ele desmoronava. Os pedaços caindo desordenados. Somente agora a máscara e a estrutura de garoto forte e decidido perdiam completamente a força.


Pela primeira vez em toda a sua vida, Harry permitiu-se chorar. Permitiu-se lastimar por todos os fatos de sua vida. Tudo que lhe doía, tudo que lhe corroia se tornara pesado demais para suportar. Suas feridas começaram a sangrar e a doer como nunca. Sentiu-se frágil, nu no escuro. Não havia nada que lhe protegesse de suas próprias feridas, de si mesmo. Mesmo que involuntariamente, Gina havia criado todas essas reações em cadeia nele. Finalmente ele estava se libertando de todo o peso que o cobria.


Sentindo-se impotente, a única coisa que Gina pôde fazer foi abraçá-lo com força e depositar sobre ele todo o seu amor e carinho. O corpo dele estava tão quente quanto o amor que ela tinha por ele. Beijou-o novamente sobre os cabelos rebeldes. Queria dizer algo, fazer algo. Qualquer coisa! Não aguentava mais ficar sem reação. Contudo, por mais que ela quisesse agir, não conseguiu fazer nada além de abraçá-lo.


Depois de um tempo angustiante para ela, Harry soltou-a e se ergueu, ficando com o rosto na altura do dela. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. A face possuía várias e grossas linhas de lágrimas.


- Harry... – Gina desfaleceu-se diante da tristeza e da dor nos olhos dele.


Ele apertou os olhos e os lábios, virando o rosto, como se tentasse controlar o ímpeto de chorar. Ela ergueu as mãos e tocou com delicadeza o rosto dele. Virou-o para si. A expressão de dor e tristeza no rosto marcado pelas lágrimas dele suavizou. Ela tocou as linhas das lágrimas com as pontas geladas dos dedos. As linhas cintilaram congeladas. Ele sentiu cócegas e, mesmo com tanta tristeza e dor em seu coração, riu levemente. Gina sorriu. Um fino vapor se desprendeu do rosto de Harry, evaporando as linhas de lágrimas congeladas.


Gina abriu a boca com a intenção de perguntar se estava tudo bem com ele. Calou-se imediatamente. Ele estava chorando desesperado há poucos segundos, como diabos poderia estar bem?


- Obrigado, Gina. – Harry acordou-a de seus devaneios.


Ela olhou-o atônita. Por fim, sorriu.


- Eu não... – ela suspirou – Não queria te fazer chorar. Só queria... Queria que você entendesse o meu lado.


- Hei. – ele sorriu, tomando o rosto dela com as mãos quentes – Eu entendi. Não entendi somente isso... Eu entendi muitas coisas. – ele acariciou a face dela com o polegar – Eu nunca havia chorado Gina. Não como agora. Nunca havia libertado tudo o que havia em mim.


Ela abriu a boca para falar.


- Era preciso Gina. – ele cortou-a, adivinhando suas palavras – Eu precisava disso. Só agora percebo. – ele sorriu largamente, os olhos cintilando pelas lágrimas ralas que ainda restavam neles – Estou tão leve. Gina... Finalmente me sinto em paz e você me trouxe esta paz. – ele aproximou seus rostos e encostou sua testa à dela, fitando seus olhos – Prometo que nunca mais vou brigar com você. Prometo que nunca mais tomarei a culpa por coisas que estão fora do meu alcance. Prometo que acreditarei, ou pelo menos considerarei, em sua opinião e julgamento.


Gina sentiu-se tocada pelas palavras dele. Piscou longamente, sentindo uma grossa lágrima escorrer pelo rosto até o polegar dele retirá-la.


- Eu te amo. – sussurrou ela com a voz fraca.


Ele a beijou com carinho. Sentia necessidade de expressar a ela todo o amor que ela havia lhe expressado. O beijo foi calmo e doce. Seus dedos escorregaram para a nuca dela e brincaram com os fios ruivos. Gina riu por entre o beijo, pois sentia cócegas.


Um barulho veio às costas dela. Eles se separaram assustados e focalizaram a porta.


Rony estava com os braços fortes cruzados sobre o peito, sua expressão era dura, mas completamente fingida. Hermione estava ao lado dele, os olhos estavam escuros de irritação, parecia prestes a explodir.


- Ronald, seu insensível! – berrou ela.


- Hermione?! – Rony virou-se para ela, realmente espantado.


Harry e Gina riram levemente. Ele se ergueu e a ajudou na mesma tarefa.


- Por Merlim... Mal chegaram e já vão discutir?! – Cassius apareceu pela porta da cozinha, parecia incrédulo e visivelmente divertido.


- Ele é uma rocha sem sentimentos, Cassius! – Hermione apontou para Rony, olhando Cassius com determinação.


- Eu sei. – assentiu Cassius – Mas, você o ama assim mesmo, não é? – ele sorriu maroto.


Harry e Gina tamparam suas bocas com as mãos, contendo as risadas. Rony olhou para Hermione com desafio no olhar. Ela olhava para Cassius com espanto, depois, suspirou e deu de ombros.


- Você tem razão. – assumiu e, antes que qualquer um reagisse, enlaçou Rony pelo pescoço e roubou-lhe um beijo ávido.


Gina soltou um longo assobio. Harry cruzou a porta, controlando-se para não rir, e caminhou até o mago.


- Vá descansar Harry. – comentou o mago, baixinho – Preocupe-se comigo só quando for realmente necessário.


- Tudo bem. – Harry sorriu – Amanhã iremos até o Ministério.


- Encarar o Ministro? – Cassius fitou-o.


- Exato. – Gina apareceu ao lado de Harry, sorridente – Apesar de termos ficado um ano excluídos do mundo, nós sabemos de tudo.


- Inexplicável. Eu sei. – comentou Harry diante da expressão incrédula de Cassius – É por isso que sabemos de seus problemas.


Cassius forçou um sorriso. Hermione e Rony aproximaram-se.


- Perdemos alguma coisa? – perguntou Hermione como se não tivesse agarrado o namorado na frente de todos.


- Talvez a vergonha? – Gina quis brincar.


Rony ficou rubro como os cabelos. Hermione apenas mostrou a língua para a amiga.


- Vão. – Cassius fitou-os – Voltem para suas famílias e aproveitem a noite.


- Aproveitar a noite? – repetiu Rony – Eu vou é cair na minha cama e dormir até amanhã. Quero lembrar da sensação de dormir.


Todos riram alegres. Cassius sorriu em despedida. Gina se aproximou do mago e beijou-lhe o rosto.


- Até amanhã. – ela sorru.


Ele olhou-a espantada. Hermione imitou Gina, tornando ainda maior o espanto do mago. Rony deu carinhosas palmadinhas nas costas dele.


- A gente se vê então. – Rony colocou-se ao lado da namorada e tomou-lhe a mão.


Hermione e Rony se viraram e saíram pela porta da frente. Gina seguiu-os. Cassius os viu saindo, completamente absorto em pensamentos. Sobressaltou-se quando o corpo quente de Harry lhe abraçou. Nunca havia ganhado tamanha demonstração de carinho dos jovens. Apesar do espanto, correspondeu ao abraço.


- Fui chamado de o Homem de Dumbledore. – sussurrou Harry para o mago – E ainda o sou. – completou rapidamente – Só que há mais de dois anos passei a ser também um Filho de McWell.


O ar faltou para Cassius.


- Depois dos nossos desentendimentos tudo se encaixou perfeitamente. Éramos destinados a nos conhecer. Eu me sinto como seu filho. – Harry mantinha a voz firme, demonstrando convicção no que dizia – Você me ensinou tudo o que sei, completando os ensinamentos de Dumbledore. Você me fez crescer, descobrir novas fronteiras. Graças a você, hoje eu sei, que não há fronteiras que não possam ser alcançadas.


Harry apertou o abraço e soltou o mago. Um largo sorriso iluminava o rosto do moreno. Cassius não sabia o que fazer ou dizer. Harry inclinou a cabeça como uma reverência e saiu pela porta.


=-=-=


O alarme soou escandalizado.  A sombra de Molly Weasley se desenhou na janela da sala e logo depois sumiu.


Os quatro jovens caminharam na direção da Toca tranquilamente. A alguns metros da porta, Harry os parou:


- Escutem... – e recebeu os olhares – Eu estava pensando... – coçou a nuca – Por que não vamos ao Ministério agora?


- Qual é cara... – exclamou Rony exasperado – Estou morrendo de fome! Você nem tem ideia de quanto.


- Ronald! – Hermione deu um soco no braço dele.


- O que foi?! – Rony massageou o lugar do golpe, espantado pela força da namorada.


- É que eu quero ir ao Departamento de Mistérios o quanto antes. – explicou Harry, já imaginava qualquer atitude parecida do amigo.


- Sirius não vai fugir. – Rony deixou escapar com um sussurro irritado, fitando Hermione.


- É exatamente por isso que Harry quer ir até lá! – falou Gina, furiosa com o irmão – Tenha dó ou um pouco de sentimentos Rony!


Só então Rony percebeu o que tinha deixado escapar. Harry possuía uma expressão indecifrável.


- Ah... – Rony corou violentamente – Desculpa. – pediu sincero.


- Tudo bem Rony. – Harry deu uma palmada nas costas do ruivo – Eu só queria livrá-lo logo.


- Eu também quero tirar o Sirius daquele lugar horrível. – Hermione começou – Mas nem querendo, nós podemos. Estamos zerados, esqueceram?


Harry suspirou triste, lembrando-se do fato. Gina acariciou-o nos cabelos e Rony deu-lhe palmadas nas costas.


- Amanhã cedo nós vamos até lá. – disse o ruivo confortando-o – Assim que o sol nascer.


Harry forçou um sorriso.


- Não vão entrar não?! – Fred e Jorge gritaram da porta.


Os quatro anularam o caminho que os separavam da casa e entraram no ambiente quente e reconfortante.


- Tudo bem com vocês? – Molly abraçou cada um mais uma vez, demorando-se em Gina novamente.


- Sim. Por quê? – respondeu-lhe a ruiva.


- Ficamos preocupados com vocês. – Arthur fitava-os sentado na cadeira à mesa.


- Por que pai... – Rony sentou-se ao lado dele – Estávamos apenas conversando.


- Mas vocês sentiram? – Fred e Jorge tomaram seus lugares à mesa.


- Sentimos o quê? – questionou Hermione.


- Primeiro... Uma paz maravilhosa. – Molly disse com um largo sorriso – E depois... Uma forte dor de cabeça.


- Todos nós sentimos. – Carlinhos, que estava sentado do outro lado do pai, acenou com a cabeça.


- Perguntei ao Remo... E todos da Ordem sentiram o mesmo. – Arthur pareceu intrigado.


O quarteto se encarou.


- Fomos nós? – perguntou Gina ainda abraçada à mãe.


- Você viu o que fizemos ao Cassius. – Harry sentou-se ao lado dos gêmeos – Não me assustaria em saber que fizemos isso com o pessoal da Ordem.


- Vocês fizeram isso conosco? – Carlinhos surpreendeu-se.


Os quatro apenas concordaram com a cabeça.


- Por Merlim! – exclamou Fred – Depois do que o Carlinhos nos contou sobre vocês...


- Não duvidamos de mais nada. – Jorge completou o irmão.


- Agora escutem. – Molly soltou a filha e a encarou – Subam e tomem seus banhos. Vamos para a Ordem.


- Mas vocês não estão morando aqui em casa normalmente? – perguntou Rony.


- Sim. – respondeu Arthur – Mas Remo também disse, pela carta, que haveria uma pequena comemoração.


- Para comemorar a vitória em Hogsmeade. – Carlinhos sorriu.


- E o retorno de vocês. – Fred piscou o olho para Harry.


- Mas é claro que isto ficou óbvio. – Jorge arrancou risadas de todos.


O quarteto se encarou mais uma vez.


“Então foi isto que Cassius quis dizer.” – Rony pensou.


“Provavelmente.” – opinou Hermione.


“Ele deve ter sido convidado, por isso sabia. Aposto que Owen e Sarah também.” – Gina sorriu.


“E é isto que me faz pensar que nenhum deles irá.” – Harry encerrou o assunto.


- Que horas voltaremos? – perguntou Rony ao pai, imaginando que horas cairia na cama.


- Vamos ficar por lá querido. – respondeu Molly.


- Vou tomar banho então. – Gina aproximou-se de Harry e lhe deu um selinho.


- Vou contigo. – Hermione acompanhou a amiga até o quarto, deixando Rony desapontado por não ganhar um beijo como Harry.


Enquanto os jovens tomavam banho e se arrumavam, os outros Weasleys se recolheram aos seus quartos para se trocarem. Foram os primeiros a se arrumar e esperaram os jovens na sala.


Harry e Rony desceram até a sala e receberam assobios dos gêmeos. Ambos estavam muito bem arrumados. As calças jeans escuras e o sobretudo preto deixava-os sérios e sedutores. Harry vestia uma camisa branca e Rony uma vermelha com um grande leão dourado, o ruivo dizia ser uma homenagem à Grifinória.


Gina e Hermione não tardaram a descer. Estavam vestindo roupas simples e isto as deixava mais deslumbrantes do que nunca. Harry e Rony ficaram pasmos, nunca haviam visto-as tão lindas. A ruiva usava um jeans azul claro e uma regata branca e simples, o cabelo preso em um alto rabo-de-cavalo, a franja caindo-lhe nos olhos. A morena vestia um jeans cinza e um moletom preto, os cabelos soltos em suas costas.


Todos aparataram para a Sede da Ordem da Fênix, onde muita gente os aguardava.


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A festa e os acontecimentos da noite são narrados no Especial Gelo e Fogo.


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O dia seguinte nasceu ensolarado. Não havia nuvens no céu azul e o sol já estava alto. A Sede da Ordem da Fênix estava silenciosa. Todos dormiam tranquilamente em seus quartos. Todos exceto um jovem de cabelos loiro-platinados que se encontrava sentado à mesa da cozinha com um copo de suco de abóbora entre as mãos.


A porta se abriu lenta e silenciosamente. Um casal risonho e apaixonado adentrou alheio à presença do loiro. A jovem riu e puxou o namorado para um beijo caloroso.


O loiro desviou o olhar e engoliu grande conteúdo de seu copo, preparando-se para manter o senso de respeito perante o casal.


Ao se separarem, o casal se virou para a mesa e avistou o loiro.


- Malfoy?! – perguntou o jovem.


- Bom dia, Potter. – desejou Draco Malfoy entre os dentes.


- Bom dia. – respondeu Gina Weasley ao loiro, alertando Harry mentalmente – “Não cause confusão. Não hoje. Temos que nos concentrar no que vamos fazer mais tarde.”


Harry Potter depositou um selinho nos lábios de Gina e puxou-a para a mesa.


- Não te vi ontem à noite. – disse o moreno para Draco.


- Não gosto de festas. – Draco fitou-o – E eu precisava dormir.


- Muitas noites em claro no esconderijo? – perguntou Harry desdenhoso.


- É claro. – Draco sorriu arrogante – Era durante a noite que conseguia informações para passar ao lobisomem.


- O nome dele é Remo Lupin! – gritou Harry enraivecido.


Draco sorriu contente, pois ainda possuía o poder de irritar o “Santo Potter”.


- Escute Draco. – Gina atraiu o olhar do sonserino – Hermione conseguiu me convencer que você é de confiança. E eu quero deixar bem claro que, apesar de confiar em você, eu não te suporto. Se quer continuar a viver aqui, são e salvo, é bom medir suas palavras e o tamanho de sua arrogância. – a cada palavra a voz de Gina ficava mais gélida e cortante.


Draco arrepiou-se e perdeu o sorriso. Apenas abaixou o olhar e voltou sua atenção para o suco de abóbora.


- Sente-se, Harry. – Gina sorriu para o namorado – Eu preparo algo para comermos.


O moreno se sentou à frente de Draco. Gina afastou-se até o armário.


- Você me disse que tinha uma informação valiosa sobre Voldemort. – falou Harry calmo para Draco, pouco depois – O que era?


Gina parou a ação de preparar o café da manhã e virou-se, atenta. Draco ergueu os olhos e fitou Harry. Abriu a boca para responder.


- Dia! – a porta se abriu e Neville, acompanhado de Luna, entrou.


- Dia Neville. – Harry sorriu para o amigo.


- Sentem-se. – Gina acenou para Luna – Vou preparar o café da manhã.


- Eu te ajudo. – Luna caminhou até a amiga.


- Festa boa ontem, não? – Neville encarou Harry animado.


- Com certeza. – Harry sorriu para o amigo.


Draco ergueu-se. Segurou o copo vazio e o levou até a pia. Após depositá-lo para ser lavado, saiu da cozinha sem falar com ninguém.


- Esse daí é que nunca vai mudar. – falou Neville amargurado.


- Concordo com você. – Harry suspirou.


- Bom dia! – exclamou Gina, alegre, para Hermione, assim que esta entrou.


- Dia! – respondeu a morena sorrindo.


- Foi boa a noite, Mione? – perguntou Gina, baixinho, para a amiga assim que ela se aproximou.


- Ah. – Hermione corou – Nem toque nesse assunto. – a voz dela foi em tom de ameaça.


Luna olhou-as. As três trocaram olhares significativos e deram largos sorrisos, continuando com seus afazeres.


Com o passar dos minutos, mais pessoas foram entrando na cozinha. A mesa já estava cheia de gente quando Gina, Luna, Hermione e Molly, que foi uma das últimas a chegar, serviram o café.


- Cadê o Rony? – Harry, risonho, fitou Hermione.


- Deve estar dormindo, Harry querido. – Molly passou-lhe um prato com ovos e bacon – Você não o viu quando desceu?


Gina bebeu todo o suco que tinha no copo com um único gole e Hermione ficou ligeiramente pálida.


- Sim, sim. – mentiu Harry e agradeceu pelo prato.


Todos já estavam na metade de suas refeições quando a porta abriu-se bruscamente. Rony surgiu aparentemente irritado.


- Bom dia Rony! – Neville acenou.


- Como pode dizer “bom dia”?! – Rony caminhou exasperado até um lugar vago.


- Mas é um bom dia. – Carlinhos riu.


- Pra você, que já está comendo. – Rony sentou violento na cadeira e puxou uma travessa de waffles – Estou morrendo de fome. – ele enfiou um waffle inteiro na boca e se virou para Hermione – Ocê..


- Ronald! – bradaram Molly e Hermione.


O ruivo engoliu e voltou a falar:


- Você podia ter me acordado. – encarou Hermione por alguns segundos e voltou a comer.


- Você estava dormindo feito uma pedra, Rony. – respondeu Hermione.


- Memô aim. – Rony proferiu com a boca cheia.


- RONALD! – Molly e Hermione gritaram mais uma vez, arrancando risos de todos.


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O quarteto se reuniu no quarto dos garotos após o café da manhã.


- Vamos procurar o Ministro primeiro. – anunciou Harry, para espanto de todos.


- Será que Tom já sabe que retornamos? – Gina olhou Hermione.


- Sabe que o Herdeiro Luz voltou. – disse Hermione – Mas duvido que saiba que o Herdeiro somos nós.


- Provavelmente ainda pensa que estou sumido. – comentou Harry.


- É bom que ainda pense. – Rony ergueu-se da cama – Dois inimigos são mais fortes que apenas um. Tom pensará isto.


- Ele voltou a ser inteligente! – disse Gina sarcástica.


- Concordo com o Rony. – Hermione sorriu orgulhosa do namorado.


- Então iremos ao Ministério como nós mesmos ou como o Herdeiro? – perguntou Harry.


Hermione pareceu refletir por algum tempo.


- Os aurores tem um pacto com a Ordem. Prometeram nunca revelar o que descobrem e veem durante as batalhas com a Ordem. – ponderou Hermione – Não devem ter revelado a ninguém que fomos nós quem salvou Hogsmeade.


- Não devem mesmo. – Gina sorriu – Vocês não ouviram a Tonks ler o Profeta Diário? “Ontem de manhã, Hogsmeade foi devastada por um novo ataque do Dragão Negro. A batalha foi árdua e trágica. Porém, o final da batalha foi uma vitória para o Ministério e seus aliados. O exército do Dragão Negro recuou com a aparição de quatro seres. Por fontes seguras descobrimos que esses seres são feitos pelos quatro elementos: Ar, Terra, Água e Fogo. Contudo, não conseguimos localizá-los no vilarejo que, por algum milagre de Merlim, está intacto.” –citou perfeitamente.


- Então? – Rony pareceu entediado.


- Vamos como Herdeiro. – concluiu Hermione – Gina pode cuidar para que o Ministro não fuja caso for alertado da nossa presença.


- Certo. – Gina sorriu – Vamos então.


Eles saíram do quarto e desceram as escadas. Os membros do alto escalão da Ordem estavam sentados em poltronas e sofás confortáveis na Sala de Recriação ao lado do hall. Pela porta aberta viram os quatro e os chamaram.


- Aonde vão? – Remo fitou Harry.


- Ministério. – responderam o quarteto, juntos.


- O que vão fazer lá? – Moody encarou Harry com o olho normal.


- Tom tem o controle sobre o Ministro. – respondeu Hermione – Antes que tome o controle de outros setores do Ministério nós devemos intervir.


- Não há provas de que o Ministro está sob o comando de Voldemort. – constatou Tonks, sentada ao lado de Remo.


- Para nós há. – Rony sorriu – Nada está oculto aos nossos olhos. – disse sábio, mas completou aos risos – Ou pelo menos aos da Hermione.


Harry e Gina riram abertamente. Os membros da Ordem sorriram confusos. Hermione corou levemente.


- Vamos? – falou Harry pouco depois.


- Sim. – assentiu Hermione.


- Vamos com vocês. – os membros da Ordem se ergueram.


- Não. Fiquem! – pediu Harry – Nós vamos como o que realmente somos. Vamos como chegamos à Hogsmeade. – os membros espantaram-se – Tom não sabe que eu voltei. E é melhor que assim permaneça. Ele ficará perturbado pela ideia do seu maior inimigo ter voltado e eu, quem ele mais quer destruir, continuar desaparecido.


- E vocês já fizeram muitas coisas durante esses dois anos que ficamos ausentes. – Hermione sorriu – Agora é a nossa vez de ajudar. Descansem.


- Logo, a Guerra vai terminar. – Rony uniu sua mão à de Hermione.


- Com a maior de todas as batalhas. – completou Gina o irmão.


- Por isso quero que descansem e aproveitem o rápido momento de trégua. – Harry sorriu – Até mais tarde!


Eles se despediram e saíram, deixando os adultos espantados pela maturidade e sabedoria deles.


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Os sons de aparatação, chamas e queda d’água tomavam o Átrio de entrada do Ministério da Magia. Contudo, tudo cessou. Ninguém mais se moveu. No silêncio apenas a queda d’água da fonte era ouvido. À frente da fonte quatro seres feitos pelos quatro elementos estavam eretos e imponentes.


Muitas pessoas se afastaram medrosos. Alguns que estavam com o Profeta Diário nos braços, ficaram pálidos. Vários aurores que chegavam para o trabalho, se adiantaram e fizeram reverências aos quatro seres.


O homem de fogo ergueu a mão, fazendo sinal para que não se reverenciassem. A mulher de ar chamou com um aceno de mão um dos aurores. Ele se aproximou sem medo.


- O que desejam? – perguntou ele aos sussurros.


- Rufus Scrimgeour. – respondeu a mulher de ar, sussurrante, sua voz era como a brisa – Onde ele está?


- Deve estar em seu escritório. – respondeu o auror com uma expressão de puro alívio.


- Já sabe por que viemos. – o homem de terra, cuja voz saiu forte e dura, sorriu para o auror, que apenas assentiu.


- Ninguém deve nos seguir. Cuide para que ninguém suba até o escritório. – murmurou a mulher de água, o auror sorriu com a experiência de ouvir uma cachoeira na voz dela.


Com um aceno da cabeça do homem de fogo, o auror se afastou até seus companheiros, onde começou a passar instruções. Os quatro seres viraram-se e contornaram a fonte, rumando para o pequeno hall no fundo do Átrio.


Conforme eles caminhavam, a passagem era aberta pela multidão. Outros aurores se reverenciavam, causando espanto às demais pessoas. Cruzaram os portões dourados e pararam à frente de um elevador. Pouco depois, um ruído estridente anunciou a chegada do elevador. A grade dourada se retraiu e as pessoas que estavam lá dentro gritaram assustadas. Os quatro seres abriram espaço para que as pessoas saíssem correndo. Essa reação já era esperada.


Entraram no elevador vazio e apertaram o botão número um. A grade se fechou com um ruído e o elevador começou a subir.


- Achei que causaríamos mais pânico. – brincou Rony.


- Todos ficaram chocados Rony. Só não saíram correndo porque nós não fizemos movimentos bruscos. – falou Hermione.


- Qual é Mione. – Rony riu – Você viu o que o povo de dentro do elevador fez. E nós estávamos parados!


- Foi o susto. – comentou Gina.


- Ah... Com vocês não dá pra brinca mesmo. – Rony cruzou os braços.


Hermione riu e depositou um beijo sobre os lábios do namorado. Ambos sorriram divertidos. Harry e Gina trocaram olhares significativos e sorriram marotos.


Minutos depois o elevador parou e as grades se abriram. Eles saíram pelo elevador e caminharam. O corredor era longo e belo. Foram direto na direção da última porta. Entraram sem bater. A secretária deu um grito de pavor e se enfiou debaixo da escrivaninha. Eles atravessaram a pequena sala e adentraram pela porta de madeira.


- Eu disse que não queria ser interrompido! – bradou o Ministro sem erguer a cabeça.


- O que você quer não importa. – sentenciou Harry, alto.


O Ministro se ergueu de um pulo, extremamente pálido ao fitar os quatro.


- Vo-vocês... – gaguejou ele.


Gina fechou a porta e com um estampido a selou. O Ministro enfiou a mão nos bolsos. Hermione ergueu a mão direita e a varinha saiu do bolso do ministro e voou até ela.


- O que diabos está fazendo ai parado! – gritou o Ministro na direção de uma grande cortina – Ataque-os!


A cortina se moveu e lampejos verdes voaram até os quatro. Uma barreira azul-cristalina se materializou e protegeu-os. Harry moveu a mão e o fogo tomou a cortina. O homem que se ocultava ali deu um pulo para longe da cortina, batendo nas roupas que começavam a queimar.


Hermione moveu as mãos e uma corrente de ar envolveu o Ministro e o homem que se ocultara, prendendo-os. Gina franziu a testa e um feitiço anti-aparatação e um silenciador foi posto na sala.


- Soltem-me! – bradou o Ministro vermelho de raiva – Eu sou o Ministro da Magia! Vocês devem me obedecer!


- Não obedecemos ao Ministério, muito menos ao Ministro. – falou Rony firme.


- O que vocês querem? – perguntou o homem que se ocultara, o semblante calmo.


- Quem é você? – perguntou Gina.


- Diga-me quem são que direi quem sou. – respondeu o homem.


- Você não está em condições de exigir nada. – sibilou Harry irritado.


- Vocês são os que salvaram o vilarejo. – falou o homem com desdém – O que vocês são?


- Não te importa. – Hermione perdeu a paciência – Silêncio!


O homem abriu a boca, mas sua voz lhe foi privada. O Ministro tremeu.


- Quem é você? – perguntou Rony para o Ministro.


- Oras! Sou o Ministro da Magia, Rufus Scrimgeour! – ralhou o Ministro.


- Você não é o Ministro. – falou Gina.


- Como ousa?! – perguntou o Ministro, ofendido – Soltem-me! Eu sou o Ministro da Magia e ordeno que me soltem!


“Por Merlim!” – Hermione suspirou – “Vamos acabar logo com isso?”


“Que pressa.” – Rony sorriu – “Por mim está ótimo.”


“Faça o que quiser com ele Mione.” – o olhar de Gina fez o Ministro tremer de medo.


- Você me fez perder a paciência. – Hermione caminhou até o Ministro.


- Quando ela terminar, vocês vão se arrepender de não ter cooperado. – Harry cruzou os braços de chamas.


Hermione olhou nos olhos do Ministro. A expressão deste ficou vazia e seu olhar vago. O homem silenciado tentou se livrar da forte corrente de vento que o prendia. Pouco depois, Hermione piscou e voltou seu olhar para o homem. Ele arregalou os olhos e ficou paralisado.


Harry, Gina e Rony, que haviam fechado os olhos quando Hermione fitou o Ministro, estavam sérios e espantados pelo o que Hermione estava fazendo. As lembranças de ambos os homens entravam na mente de Hermione e, assim, na dos três também.


Hermione piscou novamente e deu as costas para o Ministro e o homem. Os outros três abriram os olhos e fitaram os homens. Ambos estavam com o olhar vago e vazio, suas expressões eram abobadadas e suas bocas semi-abertas deixavam um pouco de saliva escorrer pelo canto dos lábios.


- Você os deixou loucos? – Rony pareceu escandalizado.


- É claro que não! – bradou Hermione ofendida – Não sou tão baixa. – ela parou ao lado do namorado – Eles estão assim por causa do “ataque” às suas mentes. Logo passa.


- Teremos que refletir sobre essas lembranças. – Harry colocou as mãos na cabeça e massageou as têmporas.


- É muita coisa. – Gina franziu a testa.


- Ah. – Hermione ficou envergonhada – Eu devia ter bloqueado vocês. A mente de vocês não suporta tanta coisa de uma vez. Desculpem-me.


- Tranquilo. – Rony forçou um sorriso – Mas você pode parar essa dor de cabeça? Parece que a minha cabeça vai rachar.


Hermione sorriu triste e fechou os olhos.


Haviam encontrado uma desvantagem das mentes compartilhadas. Aprenderam que era sempre bom manter-se protegido dos outros, deixando aberta apenas a passagem para conversas telepáticas.


Quando Hermione abriu os olhos, as faces dos outros três estavam aliviadas. Harry abaixou as mãos com um sorriso, Gina piscou agradecida para a amiga e Rony deu-lhe um selinho. Novamente eles sorriram estranhamente. Harry desviou o olhar e Gina assobiou uma melodia.


Os quatro fitaram o Ministro e o outro homem.


- Eles são Antonio Dolohov e Rabastan Lestrange – informou Hermione, Harry se mexeu irritado ao ouvir o último sobrenome – Dolohov controla o Ministro há mais de um ano. Começou a agir com mais intensidade depois que fomos para o treinamento.


Depois que ela falou, os dois homens piscaram e fecharam as bocas. Voltaram a si. Gritaram de medo ao fitarem os quatro.


- Deixe-nos em paz! – suplicou o Ministro.


- Quero que leve uma mensagem ao seu mestre. – falou Harry forte, calando-o – Diga que muito em breve nós nos enfrentaremos. Diga que é bom ele relembrar da nossa última batalha e saber que os nossos pontos fracos não existem mais.


- Vá! – Hermione encarou o Ministro.


Ele deu um berro de dor e terror para, então, cair inconsciente. Rabastan tentou em vão soltar-se. Gina moveu a mão. O homem soltou o corpo e caiu no chão, adormecido.


- Agora é por conta da Ordem e dos aurores. – falou Harry.


- É bom chamarmos o Quim. – disse Gina.


- Concordo. – Hermione sorriu e fechou os olhos.


Rony caminhou até o Ministro. Abaixou-se ao lado dele e analisou-o.


- Ele está bem... – ele ergueu-se e completou – fisicamente.


Hermione abriu os olhos e sorriu.


- Quim está vindo. – ela olhou para o corpo do Ministro – Ele também está bem mentalmente. Só terá de se restabelecer psicologicamente.


- Acho que ele não terá condições de ficar no cargo de Ministro. – opinou Gina.


- Concordo. – Harry suspirou fez seu corpo voltar ao normal.


Os outros o imitaram com sorrisos nos rostos. Rony caminhou até Rabastan e o segurou pela gola do sobretudo.


- Não o maltrate. – pediu Hermione – Ele é um prisioneiro da Ordem.


- Não vou fazer nada contra ele. – Rony arrastou o homem até a parede – Só vou retirá-lo do meio da sala, pois Quim pode pensar que ele está morto ao vê-lo jogado de qualquer jeito no chão.


- Quim não pensaria isto de nós. – Gina pareceu ofendida.


- Nunca se sabe. – Rony encostou o homem na parede e se afastou.


Harry encostou-se à escrivaninha do Ministro e cruzou os braços. Gina caminhou até ele se sentou sobre a mesa ao seu lado, abraçando-o pelo pescoço.


Não demorou muito e eles ouviram batidas fortes na porta. Hermione caminhou até ela e a abriu. Quim entrou, seguido de outros três aurores, dentre eles estava aquele que conversara com o quarteto no Átrio.


- O que diabos aconteceu aqui? – perguntou Quim, preocupado, ao ver o Ministro no chão.


- Ele esta bem Quim. – informou Hermione – Estava sobre a Maldição Império do Dolohov há mais de um ano. Precisará de descanso mental e psicológico.


- Merlim! – exclamou um dos aurores ao ver Rabastan encostado à parede.


- Rabastan Lestrange. Estava aqui dentro, sempre esteve. – falou Rony – Fazia a guarda do Ministro.


- Ele é irmão de Rodolfo Lestrange. – informou Quim.


- Os dois conseguiram o controle sobre outros chefes de departamentos. – Hermione olhou um dos aurores – Mobilize alguns aurores para libertar os chefes dos seguintes departamentos: Transportes Mágicos, Cooperação Internacional em Magia e Execução de Leis da Magia.


- Sim senhora. – o auror se reverenciou e saiu depressa.


Os outros dois aurores prenderam Rabastan e o levaram para fora. Quim ergueu o corpo do Ministro e o depositou sobre uma poltrona recém-conjurada. Tentou reanimá-lo, mas foi em vão.


- Sugiro que o leve ao Saint Mungus. – Hermione aproximou-se – Ele não vai acordar tão cedo. Sua mente tem que descansar.


- Certo. – assentiu Quim – Descobriram muita coisa?


- Talvez. – respondeu Hermione sincera – Ainda tenho que refletir sobre as memórias dele, analisá-las.


Quim esboçou um lago sorriso.


- Isso me lembrou Dumbledore e sua penseira. – ele conjurou uma maca e depositou o Ministro nela.


O quarteto fitou em silêncio. Harry tremeu levemente nos braços de Gina, fazendo-a apertar o abraço.


- Vocês vão ficar aqui? – perguntou Quim.


- Não. – Harry sorriu – Vamos até outro lugar resolver outro assunto.


- Aqui no Ministério? – Quim pareceu curioso.


- Sim. – Gina sorriu e soltou Harry, descendo da mesa.


- Querem ajuda? – perguntou Quim.


- Não será necessário. – Rony sorriu – Preocupe-se com o Ministro e com os outros que estão sob a Maldiçao.


- Certo. – Quim sorriu e saiu da sala, levitando a maca com o Ministro


O quarteto o seguiu até o elevador. Quim entrou em um, acompanhado de um auror que aguardava. Eles entraram em outro. Hermione apertou o botão número nove e o elevador começou a descer.


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O elevador parou e as grades se abriram. Um corredor com paredes nuas estava à frente deles. Não havia janelas ou portas, além de uma no final do corredor.


Harry suspirou e começou a andar. Gina segurou a mão dele e enlaçou seus dedos. Hermione mordeu o lábio inferior, repentinamente preocupada. Rony depositou o braço sobre os ombros dela, aproximando-a de si.


Pararam à frente da porta negra. Ela se abriu e eles entraram. A sala circular estava exatamente igual à última vez que estiveram ali. Toda preta do piso ao teto, portas idênticas sem maçanetas postas em intervalos iguais, intercaladas por velas de fogo azul. Sob seus pés, a luz fria refletida pelo piso fazia parecer que havia água sobre o chão.


- Câmara da Morte. – pronunciou Hermione, a voz firme.


Houve um ronco estranho e a parede começou a girar. De repente, o ronco parou e a parede voltou a ficar parada.


- Vamos. – murmurou Harry.


Eles caminharam na direção da porta à frente deles e entraram por ela. Andaram pela sala bem iluminada e pararam metros à frente. Olharam para baixo e viram vários degraus de pedra descendo em círculos até chegar ao fundo, onde a pedra arcada sustentava um balcão. Sobre este, estava o arco com o áspero véu suspenso sobre ele.


Desceram os degraus de pedra lentamente. Gina sentia a mão de Harry tremer segura na sua. Apertou-a, tentando transmitir segurança ao namorado. Pararam à frente do balcão. Harry respirou fundo.


- O que temos de fazer Hermione? – perguntou ele, sua voz saiu fraca, enquanto seus olhos estavam fixos no véu.


- Ordenar que o Véu liberte o Sirius. respondeu – ela e mentalizou o que deveriam falar.


- Certo. – Rony segurou firme na mão de Hermione.


- Vamos então. – Gina apertou ainda mais a mão de Harry.


Respiraram fundo e se concentraram. Seus olhos brilharam com as cores dos seus respectivos elementos. Quando suas bocas se abriram, suas vozes saíram fortes e caracterizadas pelos elementos.


- Os que jazem na Dimensão da Neblina foram condenados ao sofrimento eterno. Porém, agora, eu lhe ordeno Véu que abra os seus portões da angustia e da dor, para que um inocente retorne. Que Sirius Black seja libertado!


As auras deles se libertaram involuntariamente, com toda a força. Sentiram-se tão fortes quanto na União. Novamente as auras uniram-se e tornaram-se uma só, branca como a neve e brilhante como o diamante. A aura retraiu e se condensou sobre seus corpos. A aura não oscilava de tamanho e densidade, mas suas energias se elevavam cada vez mais. Sentiram dor. A energia era grande demais para que os corpos suportassem. Apesar da dor crescente, não ousaram se mover.


Segundos depois, a dor chegou ao ápice junto com o nível de energia. Tentaram sufocar os gritos que subiam por suas gargantas, fora em vão. Os gritos dos quatro soaram altos e fizeram a sala tremer. A aura reagiu ao grito e explodiu em uma única direção: o véu.


A aura atingiu o espesso véu e o inundou de brilho. Um vento inexistente moveu o véu e o retorceu. Parecia que uma forte e variável rajada de vento atingia o véu. Então, ele ergueu-se, descobrindo o arco. Através do arco não se podia ver nada. Uma densa e branca neblina impedia a visão de seu interior.


Os quatro ficaram em silêncio, fitando a neblina de dentro do arco. Seus olhos arregalaram-se quando uma sombra formou-se lá dentro. Pouco a pouco a sombra foi se aproximando e aumentando de tamanho. Os quatro sorriram largamente. A sombra havia deixado de ser uma mera sombra, eles podiam ver o que esta produzia.


Um homem alto, de cabelos negros mal-cuidados e de olhos acinzentados atravessou o arco e desceu do balcão.


O espesso véu voltou para cima do arco e parou de brilhar e de se mover.


O homem olhou-os por alguns milésimos de segundos antes de tombar para o lado.


- SIRIUS! – Harry correu até o padrinho e se ajoelhou ao lado dele – Sirius?! –Sirius estava desacordado.


- Calma Harry. – Gina ajoelhou-se oposta a Harry.


- A Gina cuida dele. – Rony apertou o ombro do amigo.


- Não posso. – Gina pareceu aflita – Estou zerada.


- Todos nós. – Hermione colocou-se ao lado de Gina – Temos que levá-lo para a Ordem. Quando estivermos recuperados poderemos ajudá-lo.


- Ajudá-lo? – Harry fitou a amiga.


- Sim Harry. – Hermione ficou ainda mais séria – Ele deve estar traumatizado. Pode até estar... – ela parou.


- Doido? – perguntou Harry medroso.


- Não duvido. – Hermione suspirou – A Dimensão da Neblina foi a pior coisa que Merlim já fez. A Dimensão é sustentada por Magia Branca, mas duvido que sua essência seja esta. Ela é má, Harry. – ela fitou o véu com o olhar sério – Ela tortura seus prisioneiros. Se você acredita que há um inferno, pode apostar que a Dimensão da Neblina é tão ruim ou pior que ele.


- Como vamos levá-lo para a Ordem? – Rony quis mudar de assunto.


- Aparatando não dá. – disse Gina – Nenhum de nós está apto para aparatá-lo.


- Uma chave de portal. – sugeriu Hermione.


- Onde conseguiremos um objeto? – Rony olhou-a.


Ela revirou os olhos.


- Quebra um pedaço daquilo pra mim. – ela apontou para o primeiro degrau de pedra.


Rony arregalou os olhos, surpreso. Porém, caminhou até o degrau e desferiu um chute certeiro. Um pedaço do degrau saltou e ele o agarrou.


- Toma. – ele jogou devagar para Hermione.


- Gina. – ela pegou a rocha e deu para Gina – Você é que tem mais chances de conseguir.


Gina assentiu e segurou a pedra. Concentrou-se o máximo que pôde antes de pronunciar o feitiço:


- Portus. – o objeto tremeu e emitiu uma fraca luz azul, voltando ao normal logo depois.


- No três. – Hermione tocou a rocha e agarrou a perna de Sirius.


- Um. – Gina segurou o braço do homem.


- Dois. – Rony abaixou-se, segurou a outra perna de Sirius e tocou a rocha.


- Três! – Harry segurou firme o braço de Sirius.


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Depois de ver os destroços de seu esconderijo, o Dragão Negro caminhou lento e fraco até a caverna onde o Dragão Ancião das Trevas repousava. Prostrou-se sobre o solo escuro e esperou. Pôde sentir o solo tremer conforme o Dragão se movia no subsolo. Não demorou muito e uma baforada quente e mal-cheirosa caiu sobre ele. Sequer atreveu-se a se mover.


“Não contava com tua presença tão cedo.” – a voz forte do Dragão parecia mais fraca que o normal e estava muito mais séria e irritada.


- Venho até tu com toda a humildade que me resta. – pronunciou Tom as palavras com dificuldade, visto que nunca havia feito nada parecido – Ajude-me.


“Até agora eu tentei te ajudar, guerreiro.” – falou o Dragão com desdém – “A única coisa que tu foste capaz de fazer, porém, foi se glorificar pelas coisas que EU fazia. Tu não és nada sem mim.”


- Eu sei. Agora compreendo que tudo o que tenho é devido a ti.


“Levanta-te, Guerreiro Trevas!” – urrou o Dragão.


Tom se ergueu o mais rápido que o seu corpo cansado lhe permitiu e fitou os olhos vermelho-sangue do Dragão Ancião das Trevas.


“Se tu queres vencer essa Guerra, passe a me ouvir e a cumprir os meus conselhos e ordens.” – bradou o Dragão.


- Como queiras. – Tom fez uma longa reverência, irritado por estar tão humilhado.


“A batalha final está próxima. E o momento que eu esperei todos esses séculos está para acontecer. Não aceitarei uma derrota, compreende?” – o Dragão ficou satisfeito pelo Guerreiro finalmente estar sobre seu total controle.


- Compreendo.


“Devemos nos refugiar nas Trevas, para que tu restaures todo o teu poder.” – o Dragão começou a entrar na caverna – “Venha comigo.”


Tom engoliu em seco. Não confiava e nem gostava do Dragão, era um aliado contra o qual não poderia lutar. Por fim, entrou na caverna. Entrou na profundeza das Trevas.


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Remo Lupin ergueu-se de um pulo. Nimphadora Tonks caiu do sofá e olhou irritada para o marido. Arthur e Molly Weasley se colocaram de pé e sacaram as varinhas. Alastor Moody olhou para o teto, o olho mágico fixo no alto.


- Impossível. – exclamou ele e se levantou.


Eles saíram pela porta e subiram as escadas. Entraram na pequena sala com uma lareira e paralisaram chocados.


Harry ergueu-se, imitado por Rony, Gina e Hermione.


- Mas... – gaguejou Remo, os olhos fixos em Sirius.


- SIRIUS! – Tonks correu até o primo.


- Calma Tonks. – pediu Hermione, segurando a bruxa – Ele precisa descansar.


- Por Merlim! – bradou Moody – O que diabos aconteceu? Sirius estava morto!


- Não. – corrigiu-o Gina – Sirius nunca esteve morto.


- Precisamos levá-lo para um quarto, ele precisa descansar. – Harry pousou a mão sobre o ombro de Rony – Consegue carregá-lo?


- Claro. – Rony abaixou-se e tomou Sirius nos braços fortes.


- Em qual quarto ele pode ficar? – perguntou Gina à Moody.


- Tonks... – chamou ex-auror – Mostre um quarto bem confortável para eles.


- Venham comigo. – Tonks sorriu radiante para os jovens.


Eles passaram pelos comandantes da Ordem da Fênix. Remo seguiu-os com o olhar, estava em choque. Nunca imaginara que Sirius, seu maior amigo, estivesse vivo. Tonks levou-os até um quarto no fundo do corredor. Após alguns segundos de espera, ela abriu a porta e eles entraram.


O quarto era simples de decoração, mas muito confortável. Lembrou-os Hogwarts e seus dormitórios reconfortantes. Rony depositou Sirius sobre a larga e confortável cama. Tonks se segurava para não dar pulinhos de felicidade, um de seus maiores sonhos era que Sirius estivesse vivo. Instantaneamente seus cabelos ficaram rosa-choque. Harry sorriu feliz para a bruxa que havia recobrado o prazer e a alegria que perdera com a “morte” de Sirius.


- Quanto tempo para ele acordar? – perguntou Hermione à Gina, que se sentara ao lado de Sirius.


- Não sei. – Gina franziu a testa – Fisicamente ele está bem.


- Entendo. – Hermione sentou-se oposta à ruiva e analisou a face serena do homem – Gostaria que não estivesse zerada. Poderia ajudá-lo.


- Vocês precisam de alguma coisa? – perguntou Tonks eufórica – Ele precisa de alguma coisa? Eu busco... Qualquer coisa... Podem pedir!


- ‘Tá tranqüilo, Tonks. – Rony sorriu – Ele só precisa descansar.


- E nós também. – Harry se sentou aos pés da cama e fitou Sirius.


- Acho bom nós explicarmos ao Remo e aos outros o que aconteceu. – Gina fitou Harry.


- Remo ficou em choque. – comentou Rony – Vocês perceberam?


Hermione assentiu.


- Vem Gina. – a morena se levantou e caminhou até a porta – Vamos conversar com os outros.


Gina se levantou. Rony seguiu a namorada com Tonks logo atrás, alegre e saltitante. Gina aproximou-se de Harry, tocou sua face quente com os dedos gélidos, atraindo o olhar carinhoso dele.


- Vai ficar tudo bem. – sussurrou ela e beijou-lhe carinhosamente nos lábios.


Ele sorriu e a acompanhou, com o olhar, enquanto saia do quarto. Pousou seus olhos verdes-esmeraldas sobre Sirius depois que Gina fechou a porta.


Sirius Black. O eterno maroto de codinome Almofadinhas. Amigo e praticamente irmão de Tiago Potter e Remo Lupin. O mulherengo de Hogwarts, um dos garotos mais bonitos e disputados. Animago. Transformou-se em um grande cão negro para ajudar um amigo. Um grande bruxo. Duelista como poucos. Fiel e companheiro. Tão fiel que renunciou à oportunidade de proteger um amigo, pois sua proteção não seria tão segura. Cometera o maior de seus erros. Cego pelo ódio quis vingança. Foi preso por um crime que outro cometera. Doze anos em Azbakan. O maior dos injustiçados. Não enlouquecera por ser um maroto, um animago, um grande cão negro. O primeiro a fugir da pior prisão bruxa - sozinho. Caçado. Sedento de vingança, desejoso de morte, a morte do culpado pelo seu sofrimento. Revelou-se padrinho, inocente e, acima de tudo, carinhoso e piedoso. Lutara contra um amigo, um amigo que não lhe distinguia de inimigo. Quase fora morto. Quase sofrera algo pior que a morte. O Beijo. Mas fora resgatado. Salvo por aquele que quis lhe matar, culpando-lhe pelo crime que não cometera e que fora preso sem julgamento. Fugira para longe da Europa, para longe de seu afilhado e única família. Voltara à Inglaterra. Voltara a ficar preso. Aprisionado em sua própria casa. Não podia sair sem que colocasse em risco sua própria liberdade e a dos outros. Liberdade. Sirius nunca conhecera a real liberdade. Fora preso novamente, na pior de todas as prisões. A Dimensão da Neblina possivelmente o enlouquecera. Sirius Black não era mais Sirius Black: maroto; almofadinhas; amigo e irmão de Tiago e Remo; animago; duelista; fiel; companheiro; injustiçado; caçado; padrinho; inocente; carinhoso; piedoso; eterno preso. Preso pela vida, família e um falso amigo. O que nunca conhecera a liberdade, que nunca sentira o doce sabor dela.


Harry cobriu o rosto. Tudo aquilo lhe viera com força. A vida de seu padrinho fora tão dura. Tanto quanto a sua própria. A pessoa que ele encarava como um pai e um irmão mais velho ficara preso por sua culpa em algo que ele próprio criara. Harry havia se libertado de suas culpas, a culpa pela aparente morte de Sirius também. Contudo, agora esta voltava ainda mais forte ao ver como seu padrinho estava.


Não havia mudado nada fisicamente. Ainda estava magro, a pele pálida e sem vida esticada sobre os ossos. Os cabelos negros e desgrenhados compridos. A barba grossa e mal-cuidada. Em torno dos olhos uma mancha escura que poderia ser confundida com profundas olheiras deixava-o com uma aparência ainda mais cadavérica.


Harry ergueu os olhos banhados de lágrimas e fitou o rosto sereno do padrinho. Amava aquele homem mais do que nunca. Amava-o tanto quanto a seu próprio pai. Sirius era como um pai. Não era responsável ou educado como um pai, porém era carinhoso, conselheiro e companheiro como um. Era uma tortura para Harry saber que Sirius vivera praticamente três anos preso na Dimensão da Neblina. As palavras de Hermione martelavam a mente dele:


“A Dimensão da Neblina foi a pior coisa que Merlim já fez. A Dimensão é sustentada por Magia Branca, mas duvido que sua essência seja esta. Ela é má, Harry. Ela tortura seus prisioneiros. Se você acredita que há um inferno, pode apostar que a Dimensão da Neblina é tão ruim ou pior que ele.”


Ele engoliu em seco, tentando engolir as lágrimas que lutavam para escorrer pelo seu rosto. Não havia como negar. Não mais. Era sua culpa que Sirius estivesse maluco. Fora por ele, Harry, que o homem se dirigira ao Ministério, ao Departamento de Mistérios, à Câmara da Morte. Fora para resgatá-lo. Se ele não tivesse acreditado na visão de Voldemort, Sirius nunca teria caído no Véu. Nunca teria sido torturado pela Dimensão da Neblina.


Sirius dormia tão sereno. A paz era visível em sua face. Harry se torturava involuntariamente pensando nos horrores que Sirius havia suportado durante sua recente prisão. O destino era realmente irônico. Harry esquecera-se completamente da paz que havia sentido ao chorar nos braços de Gina, ao se desprender das culpas, ao se libertar. Parecia que nunca havia sentido aquela paz, aquela leveza, aquela liberdade.


Liberdade.


Era isto que o torturava. Por sua culpa, Sirius não havia tido sua sonhada liberdade durante os últimos três anos. Pelo contrário, fora preso na mais perversa e torturante das prisões.


“Ela é má Harry. Ela tortura seus prisioneiros.”


A voz de Hermione martelava a mente de Harry. Tortura. Sirius fora torturado. Uma tortura pior que qualquer outra que os humanos poderiam aplicar. Sirius havia sofrido-a. Enlouquecera. Não era mais o Sirius de antes. Será que quando os olhos acinzentados do maroto se abrirem eles serão escuros e sem alegria? Será que o sorriso característico do Almofadinhas se abriria em seus lábios?


“Se você acredita que há um inferno, pode apostar que a Dimensão da Neblina é tão ruim ou pior que ele.”


Um inferno. Era onde Sirius esteve durante os últimos três anos. Aliás, algo pior que o inferno. E agora, era onde Harry se sentia. A culpa o consumia como nunca antes. A angústia da incerteza de não saber se Sirius ainda era o Sirius que amava, a dúvida esmagava o coração e o raciocínio de Harry.


Ele era a Alma e os sentimentos de Merlim. Era normal, portanto, que ele fosse mais sensível? Harry sempre controlara suas tristezas, sendo atormentado por elas em seus sonhos. Suas emoções sempre estiveram fora do seu controle: raiva, ódio e obsessão. Sempre fora mais fraco. Nunca, é claro, deixou que os outros percebessem sua fraqueza. Criara uma máscara e uma estrutura para se manter firme e inflexível aos desastres e tristezas que o tomavam durante a noite e os sonhos.


Harry não soube dizer, ou sequer pensar, em quanto tempo ficara aos pés de Sirius, se torturando pela culpa e pelas dúvidas acerca do padrinho. Ele não chorara. Não tinha mais lágrimas para chorar, não depois de ter chorado nos braços de Gina. Demoraria algum tempo para que pudesse chorar novamente. Isto o tornava menos humano? Era a Alma, os sentimentos, estava certo não conseguir ou poder chorar?


Harry colocou as mãos na cabeça e sacudiu-a, tentando afastar as novas dúvidas que surgiam em sua mente. A qualquer momento alguém poderia entrar no quarto. Não poderia, e nem queria, deixar que lhe visse assim: fraco e frágil. Respirou profundamente, controlando os sentimentos que lutavam para dominá-lo. Fitou o rosto de Sirius e tentou ficar tão sereno quanto o padrinho.


A porta se abriu silenciosa. Harry só percebera que alguém entrara quando esse alguém o abraçou por trás cruzando os braços macios e gelados sobre seu peito. Ele inspirou forte e sentiu o cheiro floral se embrenhar em seu corpo.


- Como você está? – perguntou Gina, preocupada.


- Sobreviverei. – Harry forçou um sorriso.


Gina apertou ainda mais o abraço. Sabia que ele estava frágil, não havia mais como ele esconder isto dela.


- O almoço está pronto, vamos? – perguntou ela.


- Estou sem fome. – respondeu ele.


- Você precisa comer, Harry. – disse ela, firme – Precisa repor as energias.


Harry se prendeu na última afirmação dela. Energia. Era disto que precisava para ajudar Sirius. Não precisou pensar mais. Ergueu-se e encarou Gina. Ela viu nos olhos dele que o peso da culpa havia retornado. Ela suspirou sentida. Caminharam até a porta. Antes de sair, Harry dirigiu um breve olhar para Sirius.


Saíram e fecharam a porta silenciosamente. Gina cruzou o braço nas costas dele, pousando a mão em sua cintura. Ele depositou o braço nos ombros dela e a aproximou-se de si.


- Como eles reagiram? – perguntou ele, não queria que ela lhe questionasse pelo seu semblante triste.


- Ficaram impressionados. Remo acordou do choque e desatou a rir. Está muito feliz. Todos estão. Tonks quer fazer outra festa. Só que em Hogwarts. – ela completou séria.


- Não acho uma boa ideia. – opinou ele.


- Também não. – ela deu de ombros – Não é muito seguro. Em Hogwarts tem os alunos e professores. McGonagall nunca aprovaria.


- Hogwarts é o lugar mais seguro da Inglaterra. – argumentou ele – Não achei uma boa ideia por ser uma festa.


- Por quê? – ela parou e o encarou.


- Não é bom ficarmos festejando. – ele olhou-a sério – A Guerra ainda está ai. Tivemos uma vitória e já a comemoramos. Agora temos que nos focar nas próximas batalhas. – ele ficou ainda mais sério – A última batalha está se aproximando. Agora eu posso sentir. Você não pode?


- Claro que posso. – Gina estava chocada com a atitude dele - Todos nós podemos.


- É melhor esquecermos a ideia da festa então. – concluiu ele e voltou a andar.


- Harry... – ela permanecia parada.


Ele parou e bufou.


- Não fique assim. – pediu ela.


- Está tudo bem Gina. – falou ele, baixinho – Não se preocupe comigo. – pediu.


- Como não vou me preocupar com você se você está assim? – ela caminhou até ele e segurou o rosto dele com as mãos.


- Assim como?


- Triste. Curvado sob o peso de uma culpa da qual você havia se libertado. Não foi sua culpa Harry. Não foi. – falou ela, firme, para convencê-lo.


- Vamos esquecer isto, ok? – ele segurou as mãos dela e as retirou do próprio rosto.


Ela assentiu. Abraçaram-se como antes e voltaram a andar. Desceram as escadas e entraram na cozinha. Todos riam e se divertiam. Gina sorriu, contagiada por aquela alegria. Harry forçou um sorriso. Sentaram-se ao lado de Rony e Hermione. Remo se levantou, ergueu o copo cheio de uísque de fogo e, com os olhos focados em Harry, exclamou:


- A vocês! Por terem trazido às nossas vidas a felicidade e a esperança.


- A vocês! – todos se levantaram e brindaram.


O quarteto sorriu e brindou também. Harry forçou outro sorriso para Remo e levou o copo à boca. Parou o líquido a poucos centímetros de seus lábios, relutante. Pareceu imergir nos seus pensamentos e voltar à realidade. Bebeu, por fim.


O almoço foi barulhento e alegre. Todos riam, faziam piadas e bebiam. Era como uma mini-festa. Harry ficou calado, com toda a atenção em sua comida. Falou apenas para pedir à Molly mais comida. Ele comeu três pratos cheios. Gina e Hermione permitiram-se repetir apenas uma vez. Rony, por outro lado, foi fonte de piadas por repetir três vezes.


- Acha que é fácil manter esse corpo? – brincou para Carlinhos, mostrando os músculos dos braços.


Ao terminar seu terceiro prato, Harry depositou os talheres sobre a porcelana e encostou-se à cadeira. Fitou cada um sentado à mesa, analisando cada expressão. Estavam tão felizes. Remo parecia outra pessoa, seu semblante normalmente preocupado e sério estava transfigurado no maroto que adormecia em seu interior.


Harry tentou prestar atenção nas conversas e nas piadas. Contudo, sua mente vagava até o quarto de Sirius. Ele se levantou, atraindo os olhares de todos e causando um profundo silêncio. Ele forçou outro sorriso e saiu da cozinha sem dizer nada.


- O que deu nele? – Rony curvou-se para Gina.


- Ele está preocupado com Sirius. – respondeu ela.


- Mas vocês vão cuidar dele, não vão? – Remo pareceu instantaneamente preocupado.


- Claro. – Hermione sorriu – Claro que vamos.


Remo pareceu aliviado. As conversas e as piadas voltaram, mas não tão alegres.


=-=-=


O sol já estava se pondo. O quarto estava quase completamente escuro. Sobre a cama confortável repousava Sirius Black. Aos pés dele, Harry se sentava, as costas encostadas no pilar que sustentava o cortinado da cama. O moreno estava de olhos fechados, calmo e tranquilo. Sua respiração era silenciosa e serena. Quem quer que o visse diria que estava dormindo.


A porta se abriu e três pessoas entraram. A última fechou a porta e aplicou o feitiço abafador nela. Os três caminharam até Harry.


- Harry? – sussurraram.


Os olhos de Harry se abriram, vermelho-flamejantes. Os três se assustaram e não conseguiram disfarçar.


- Desculpem-me. – pediu Harry, os olhos voltando à cor normal – Estava me concentrando. Armazenando energia.


- Estou pronta. – Hermione sorriu para Harry.


Ele fitou-a e, pela primeira vez desde o retorno de Sirius, sorriu verdadeiramente feliz. Rony apoiou-se com o braço no mesmo pilar que Harry, sorridente.


- Mal espero a hora de ouvir a risada dele. – comentou o ruivo.


Hermione deu a volta na cama e se sentou ao lado de Sirius, focalizando sua face. Ela sorriu largamente. Depositou as mãos nas laterais da cabeça de Sirius e fechou os olhos.


Harry, Gina e Rony se arrepiaram. Em poucos minutos, Hermione havia atingido o limite de sua energia. Eles fecharam os olhos e tentaram fazer o que haviam feito na União: compartilhar suas energias. Perderam a noção de tempo. Quando reabriram os olhos, sentiram-se cansados como depois do resgate de Sirius. Estavam zerados pela terceira vez em dois dias.


Uma gigantesca dúvida se fez em Gina. Ela guardou isto em sua mente, pois teria a oportunidade de saná-la em breve.


Hermione soltou a cabeça de Sirius e abriu os olhos. Estava com uma incrível dor de cabeça, sua face se contraiu de dor. Virou-se para os outros três, que a olhavam esperançosos.


- Ele ainda não vai acordar. – ela fitou Harry que pareceu murchar – Lamento.


- Por quê? – questionou Rony.


- Agora ele tem que se restabelecer fisicamente. – Hermione sorriu forçado para Gina – Isto é contigo.


Todos bufaram. Estavam zerados, não podiam fazer nada alem de esperar. Gina se abaixou e deitou-se sobre as pernas de Harry. Ele levou a mão até os cabelos ruivos e ficou brincando com os fios entre os dedos. Rony caminhou até Hermione e a abraçou por trás. Os quatro ficaram se olhando, se analisando.


- Harry... – sussurrou Hermione sem olhá-lo.


- Hum? – ele fitou-a.


- Você ficou tão sério durante o almoço. – ela falava devagar como se escolhesse muito bem as palavras.


- Estou preocupado com o Sirius. – respondeu ele, simples.


- Somente isto? – Hermione o encarou, pela primeira vez.


Harry ficou surpreso com a pergunta dela. Ele havia tomado à precaução de bloquear a mente dos outros três, para que nenhum deles pudesse saber que ele se culpava e se torturava pelo que havia acontecido com Sirius. Não havia como Hermione saber sobre aquilo.


- Por que diz isto? – perguntou Harry calmo.


- Eu te conheço há quase nove anos, Harry. – começou Hermione – Cresci ao seu lado. Às vezes acho que te conheço mais do que você mesmo. – diante da incredulidade na face dele, ela completou – É visível em seus olhos que você está não só preocupado, mas triste.


- Por que eu estaria triste? – perguntou Harry, desconversando – Sirius está vivo. Ele voltou, está livre. Por que eu estaria triste?


- Era isto que eu queria que você me respondesse. – falou Hermione.


Rony e Gina apenas acompanhavam a conversa. Gina sabia muito bem o que estava acontecendo com Harry, o que se passava na mente dele, o que o torturava. Harry encarou a amiga perplexo. Era verdade que não só às vezes, mas muitas vezes, Hermione o conhecia melhor que ele mesmo.


- Você não entenderia. – Harry desviou o olhar da amiga e fitou a lareira que irrompeu em chamas.


- Nós somos seus amigos. – era Rony quem falava, para surpresa de Harry – Como a Hermione disse: crescemos lado a lado. Você sabe que para mim é um irmão. Não importa se entenderemos ou não...


- O que importa é você falar, desabafar, aliviar-se. – Hermione apertou-se nos braços de Rony orgulhosa da atitude dele, com os olhos fixos em Harry e um sorriso amoroso nos lábios – Não é Gina?


A ruiva ergueu o olhar para amiga. Até aquele momento ela estivera em silêncio, mirando o lençol da cama. Ela parecia surpresa com a pergunta de Hermione. Harry olhou para a amada pelo canto dos olhos. Gina suspirou e se ergueu, encostando-se no pilar oposto a Harry.


- Você me prometeu que nunca mais tomaria a culpa por coisas que estão fora do seu alcance. – disse ela baixo, seu olhar fixo no namorado, decepcionado.


- Não é por escolha que faço isto. – falou Harry – Se eu pudesse, não ficaria assim.


- Você pode. – comentou Hermione, atenta às reações do amigo.


- É mais fácil falar do que fazer. – disse ele, amargurado, olhando a amiga.


- Estamos aqui pra te ajudar a fazer. – Rony sorriu para Harry.


- Não é sua culpa o Sirius ter ficado preso na Dimensão da Neblina. – falou Gina.


- Mas é minha culpa que ele tenha ido até a Câmara da Morte, não? – questionou Harry calmo, fitando a ruiva.


- Foi uma armação do Tom. – comentou ela apenas.


- Se eu não tivesse sido tão burro, ninguém teria se ferido e Sirius não teria sido preso. – Harry suspirou, olhando para as mãos.


- Você não foi burro. – falou Hermione – Você não tinha como saber. E o pior é que Monstro confirmou o sequestro do Sirius.


- Elfo maldito. – sussurrou Rony.


- Ele estava sob ordens da Bellatriz, Rony. – Hermione pareceu irritada com o sussurro do namorado.


- Ele não deixa de ser maldito. – foi Gina quem falou – Ele nos odiava. Ficou o ano inteiro dizendo horrores de nós. Principalmente de você. – ela apontou para Hermione.


- Quer saber? Não me importo! – Hermione não queria entrar numa discussão que sabia que não levaria a nada.


- O pior nem é isso... – murmurou Harry, assustando os outros.


- Como assim? – perguntou Rony.


- O pior é que a Dimensão foi uma criação nossa... Uma criação minha! – a voz de Harry saiu baixa e revoltada.


- Merlim não tinha como saber de tudo isto, Harry. – argumentou Hermione – E não é culpa sua. Nem culpa do Merlim.


- Indiretamente, é. – comentou Harry e, pelo seu tom de voz, pretendia encerrar a conversa.


- Você disse que precisava se libertar dessas culpas e o havia feito – Gina pareceu desapontada – Disse que estava tão leve, tão em paz.


- Perdoe-me Gina. – murmurou Harry com a voz quase inaudível – Eu queria ainda sentir aquela paz, aquela leveza. Contudo, por algo que eu não consigo controlar, elas não passam de uma sombra de um passado que parece muito distante de mim.


Hermione tremeu com a fala de Harry, sentia o impacto das palavras. Nunca vira Harry tão triste e amargurado, se torturando como estava. O pior é que ela não podia fazer nada. Rony abraçou-a com mais força e depositou um beijo carinhoso em seu ombro.


Gina fitava os olhos baixos de Harry. Queria tanto que ele chorasse novamente, que se livrasse daquela culpa, daquela tortura. Suspirou triste. Ela não podia fazer nada, não mais. Talvez a única pessoa que pudesse trazer paz ao coração de Harry estava deitada ali, naquela cama, inconsciente e fraco. Gina suplicou à Merlim para que Sirius acordasse logo e trouxesse alegria e paz ao coração de seu amado.


O relógio da sala de reuniões badalou. Sete horas.


Harry se levantou, assustando os outros.


- Vou tomar um banho. – e saiu sem olhar para ninguém.


- Eu não entendo. – Rony soltou Hermione, levantou-se e se sentou ao lado de Gina – Ele não era assim. Parece que depois que voltamos, ele ficou mais triste.


- Ele sempre foi assim. – Hermione suspirou e se levantou – Também vou tomar banho. – depositou um selinho nos lábios de Rony e saiu.


- Ele sempre foi assim. – Rony repetiu a frase da namorada para si mesmo, queria que não fosse verdade.


- Ele sempre camuflou seus sentimentos. – Gina abraçou as pernas e olhou as chamas da lareira – Sempre guardou suas tristezas e temores. Tentava transformar isto em raiva, pois a raiva ele poderia extravasar.


- Eu sou o pior dos amigos. – Rony suspirou – Nunca percebi isto.


- Não se culpe também. Já basta o Harry! – exclamou Gina, alterada, fitando o irmão com certa raiva.


- Eu sei que é difícil, ok? – falou Rony calmo – Se para mim, que sou apenas amigo dele, já é difícil... Imagino o que você está passando.


Gina suspirou.


- Desculpa. – pediu.


- Tudo bem. – ele se esticou até ela e lhe deu um beijo na testa.


Ficaram em silêncio durante algum tempo. Gina voltou a olhar as chamas da lareira. Aquelas chamas lhe lembravam Harry. O Harry feliz e alegre que estivera com ela na noite passada. Rony mudava o rumo de seu olhar de tempos em tempos, de Gina para Sirius, deste para as chamas e delas de volta para a irmã. Uma leve batida na porta o despertou de seus devaneios.


- Entra. – falou Rony.


Tonks entrou sorrindo.


- Tudo bem? – perguntou ela, aproximando-se da cama com o olhar fixo em Sirius.


- A Hermione já cuidou dele. – respondeu Rony – Só temos que esperar ele acordar.


- Ah. – Tonks murchou.


- Acho que não vai demorar muito. – comentou Rony para animar a mulher.


- Ok. – ela sorriu largamente e olhou Gina.


A ruiva parecia alheia à presença de Tonks. A auror olhou para Rony e fez sinal com a cabeça para Gina, em seu olhar estava a indagação. Rony perdeu o sorriso e balançou a cabeça em negativa, pedindo para Tonks não se preocupar.


- Bem... – Tonks coçou a nuca – Sua mãe disse que o jantar estará pronto daqui a pouco e que é para vocês irem tomar banho.


- Não acredito que mamãe ainda manda a gente tomar banho... – comentou Rony, risonho – Já sou grande e posso escolher a hora de tomar banho, não?


- Até pode, Rony querido... – Molly surgiu na porta, assustando o filho e Tonks – mas que seja antes do jantar! – sorriu e saiu.


- Esta é a Molly. – comentou Tonks, divertida, e saiu.


Rony fitou Gina, que ainda permanecia imóvel e com os olhos fixos nas chamas.


- Hey. – ele chamou a atenção dela – Vai ficar tudo bem, ok?


Ela assentiu com a cabeça.


- Vamos tomar banho antes que mamãe volte. – ele se levantou e estendeu a mão para ela.


- Ok. – ela forçou um sorriso e se ergueu, tomando a mão do irmão.


Antes de sair pela porta, o olhar de Gina ficou fixo em Sirius.


“Por favor Sirius... não demore à acordar. Precisamos de você... Harry precisa de você mais do que nunca!”


=-=-=


O jantar foi bem diferente do almoço. Foi mais calmo e silencioso. Mesmo assim, todos ainda estavam radiantes, principalmente Remo e Tonks. Os únicos sérios de verdade era o quarteto. Eles foram os primeiros a terminar o jantar e saíram, desejando aos outros uma boa noite. Juntos, eles subiram as escadas e entraram no quarto de Sirius.


Harry sentou-se ao pé da cama e encostou-se ao pilar como antes. Rony puxou Hermione para um sofá que havia ao lado da lareira acesa. Gina fitou Harry por alguns segundos. Suspirou e caminhou até ele. Sentou-se à frente dele e o olhou. Ele retribuiu o olhar.


Não falaram nada. Não havia o que falar. Ela pousou a mão na face dele e o beijou. Ele cruzou os braços nas costas dela e a abraçou. Gina afastou o rosto do dele e sorriu. Harry apenas a puxou para si e depositou-a em seu peito. Ela subiu as pernas no colchão e se ajeitou melhor. Deixou o rosto na direção de Sirius, queria olhá-lo e vigiá-lo durante a noite caso ele se movesse ou acordasse.


Rony se ajeitou no sofá, deitou-se e apoiou a cabeça nas almofadas. Hermione sorriu para ele e deitou-se por sobre ele, pousando a cabeça e a mão sobre seu peito. Os braços fortes dele se cruzaram às costas dela, abraçando-a. Ambos ficaram olhando as chamas que dançavam na lareira.


Nenhum deles produziu um único som de palavras. Volta e meia suspiravam e era somente isto. Não sabiam o que falar. Não sabiam nem se havia o que falar. Ficaram em silêncio até que o sono se fez presente.


=-=-=


Sons de respirações calmas e pesadas tomaram seus ouvidos. Tentou abrir os olhos, mas suas pálpebras pesavam como dois hipogrifos adultos. Sentia seu copo duro, os músculos rígidos e doloridos. Uma leve dor de cabeça o incomodava.


“Onde estou?” – foi o primeiro pensamento que teve.


Fechou o punho direito e esticou os dedos da mão esquerda. Aos poucos, sentiu seus músculos relaxarem e começar a lhe obedecer.


“O que aconteceu?”


Suas lembranças antigas eram nítidas, porém, as recentes estavam opacas e ocultas por uma densa neblina que lhe cegava. Ficou um tempo parado, apenas pensando e tentando se lembrar dos fatos recentes. Seu corpo estava completamente relaxado quando tentou abrir os olhos pela segunda vez.


Viu o teto escuro e cheio de sombras produzidas pelo que ele sabia ser as chamas de uma lareira, chamas que ele ouvia crepitar. Abaixou o olhar e se espantou. Aos pés da cama um homem e uma mulher dormiam. O homem não parecia se importar com o desconforto do pilar de madeira e a mulher pousava a cabeça no peito dele, sendo abraçada pelos seus braços fortes. Via apenas as sombras deles, não conseguia ver perfeitamente suas faces.


Um resmungo atraiu seu olhar para outro lugar. Ao lado da lareira, outro casal dormia no sofá, a mulher deitada por sobre o homem, a cabeça repousando no peito dele. Também não conseguia distingui-los. Olhou em torno, estava em um quarto simples, mas muito confortável. Lembrou-lhe Hogwarts e o dormitório masculino da Grifinória.


O homem ao pé da cama se moveu e seu rosto ficou iluminado pelas chamas da lareira. Fitou o homem e sentiu o ar lhe fugir. Ele estava morto. Ali, sentado aos seus pés, estava seu amigo, seu irmão, companheiro fiel de armações, um maroto como ele próprio.


- Tiago! – sua voz saiu mais fraca do que gostaria e esperava.


Ele pensou que o homem não o ouvira. Contudo, o homem se moveu como se despertasse e, inundando o rosto de sombras, fitou-o. Ele podia ver que o homem estava de olhos abertos, mas não conseguia ver perfeitamente a cor da íris. Sorriu divertido. Não era necessário. Sabia que aqueles olhos eram do mesmo castanho-esverdeado que riram para ele durante a adolescência.


- Oi. – sua voz saiu um pouco mais forte.


- Oi. – sussurrou o homem.


Sentiu seu corpo se esquentar imediatamente. Viu um sorriso brilhante surgir no rosto do outro.


- Eu sonhei tanto com isso... Não acredito que minha mente ainda consegue criar essa cena. – o homem ainda sussurrava, parecia triste.


- Você consegue sonhar? – perguntou surpreso, nunca imaginara que seria assim depois da morte.


- É claro! Qualquer um consegue. É natural. – o homem deu de ombros.


- Que bom. Eu sempre gostei de sonhar. Gostei desse lugar. – comentou feliz.


- Você nem viu nada. Tem que ver o resto.


- Aqui é tudo confortável e aconchegante? – ficou curioso, o mistério da pós-morte sendo aos poucos desvendado.


- Mais ou menos. – disse o homem, pensativo.


- Tudo lembra Hogwarts e a Grifinória? – perguntou sem pensar.


- Ah. – o homem riu baixinho – Não... Somente o seu quarto. Tonks que fez isto.


- Tonks? – assustou-se – Ela também está aqui?


- É claro! – disse o homem como se fosse obvio – Todos estão.


- Todos?! – questionou com medo, não imaginara que todos haviam morrido como ele.


Afinal, como ele próprio havia morrido?


- É claro que todos estão aqui. Tonks, Remo, Moody, Neville, Rony, Hermione, Gina... – o homem foi falando os nomes com naturalidade.


- Harry também?! – ele se levantou, sentando-se, de um pulo, o terror esculpido em sua face.


Ele pôde ver o espanto no rosto escurecido do homem.


- Ok.. – falou o homem depois de um segundo pensando – Agora sim eu estou surpreso com meu sonho.


- Que diabos Tiago! – falou ele mais alto – Você não está sonhando, homem!


A mulher deitada sobre o peito do homem se moveu, mas permaneceu dormindo. O homem abriu a boca em choque.


- Do que me chamou? – perguntou ele.


- Pelo seu nome, oras. – respondeu, irritado – Tiago!


O homem ficou ainda mais em choque. Olhou em volta, para o casal que estava deitado no sofá e para a mulher em seu peito. Depois encarou-o e balançou a cabeça ferozmente.


- Não... Não pode ser. – a voz dele saiu rouca e completamente diferente.


Ele não ousou se mover ou falar nada.


- Você acordou... – a voz do homem morreu.


- É claro! Estou conversando com você! – disse ainda irritado, mas surpreso e curioso – Por Merlim, Tiago... Todos estão mortos? Até o Harry?


- Mortos?! – perguntou o homem, incrédulo – Você acha que está morto?


- E não estou? De que outra forma estaria falando com você?


- Sirius... – o homem suspirou triste – Não sou o Tiago... Sou o Harry. – ele virou um pouco o rosto.


Sirius se espantou. O rosto do homem foi completamente iluminado e seus olhos refletiram as chamas. A íris era de um verde-esmeralda brilhante e intenso. Eram os olhos de Lílian... De Harry!


- Harry! – falou Sirius, alto e com um largo sorriso.


A mulher sobre o peito de Harry se mexeu e acordou, fitando-o imediatamente.


- Sirius?! – ela se levantou e sorriu.


- Gina? – Sirius olhou o rosto dela nas sombras.


- É claro, que outra ruiva poderia ser? Lílian? – perguntou ela, irônica, e pulou sobre ele, abraçando-o.


Um arrepio percorreu todo o seu corpo. Gina era gelada como o gelo. Ele viu Harry se levantar e caminhar até o casal no sofá. Ele se inclinou e pousou a mão no ombro de Hermione.


- Mione... – sussurrou.


Ela se mexeu e abriu os olhos, virando um pouco o rosto para olhá-lo.


- Sirius acordou. – informou ele com um sorriso.


Ela pulou de cima de Rony e olhou para a cama, onde Gina acabava de soltar Sirius.


- Sirius! – ela correu até a cama e pulou sobre ele.


- Rony... – Harry agitou o amigo, que acordou com o rosto contorcido pela raiva de ser acordado – Sirius acordou. – a raiva no rosto de Rony evaporou-se e ele se levantou.


- Por Merlim, acalmem-se! – Sirius riu fraco, envolvido nos braços de Hermione e vendo Rony se aproximar rapidamente.


- É tão bom te ver bem. – exclamou Gina, lágrimas brilhantes desenhando seu rosto.


- Que bom que a Hermione estava certa, afinal. – Rony abraçou Sirius assim que Hermione o soltou.


- Hermione, certa? Sobre o quê? – perguntou Sirius, risonho.


- Sobre você estar vivo. – Hermione foi abraçada por Gina, ambas com largos sorrisos e lágrimas nos rostos.


- E porque achavam que eu estava morto? – perguntou Sirius depois que Rony o soltou.


- Você não se lembra de nada? – Rony pareceu surpreso.


- Do quê, exatamente? – Sirius fitou-o.


- Do Ministério. – Gina soltou Hermione e controlou o choro de felicidade – Voldemort havia nos atraído para lá. Ele implantou em Harry uma falsa visão de você preso no Departamento de Ministério. – ela falava devagar, como se as próprias palavras fossem atacá-los – Não se lembra?


- Agora que você está falando... As lembranças estão ficando mais claras. – Sirius pousou a mão sobre os olhos – Uma neblina cega minhas memórias.


Hermione, Gina e Rony se entreolharam temerosos.


- Eu me lembro de estar duelando com alguém. Em uma câmara estranha. – Sirius descobriu os olhos e fitou-os.


- Bellatriz. – Gina trincou os dentes de raiva.


- O que aconteceu? – de repente, Sirius sentiu medo.


- Você foi arremessado contra o objeto que havia na sala. – respondeu Hermione, calma.


- Aquele arco com o véu estranho? – Sirius pareceu chocado.


Os três jovens assentiram.


- Mas... – os olhos de Sirius se arregalaram espantados.


Ele fitou os três aos pés da cama. Eles estavam mais velhos. Seus corpos estavam muito mais desenvolvidos, mais do que o normal para suas próprias idades.


- Quanto temp... – a voz dele morreu na garganta.


- Cerca de três anos. respondeu – Hermione com a voz tremendo.


- Tudo isto? – Sirius sentiu seu corpo amolecer pelo espanto.


Eles ficaram em silêncio. Sirius pensou em tudo o que ele havia perdido. Os últimos dois anos de Harry em Hogwarts. Seus N.O.M.s e N.I.E.M.s. Até seu inicio de carreira como auror. As batalhas da guerra. As perdas possivelmente sofridas. O início do relacionamento com Gina. Os últimos três anos da vida de seu afilhado, que tinha como um filho.


Então uma necessidade obstinada tomou todo o seu corpo.


- Harry?! – ele olhou em volta, não se lembrando de onde estava o afilhado.


O trio ao pé da cama se virou e eles, junto com Sirius, avistaram Harry. Ele estava à frente da lareira, o corpo apoiado na mão firme sobre a madeira da lareira, os músculos aparentemente rígidos e duros. Via-se apenas parte de seu rosto. Seus olhos estavam fechados.


- Harry? – Gina se levantou e deu um passo na direção dele.


Harry abriu os olhos e fitou a namorada. Ela estacou no lugar com a intensidade daquele olhar. Era triste, imensamente, e doloroso. Ela mordeu o lábio inferior, contendo o ímpeto de correr até ele, abraçá-lo e pedir para que chorasse novamente.


“Deixem-me a sós com o Sirius?” – pediu Harry mentalmente.


Gina assentiu e se virou para Sirius, forçando um sorriso. Hermione e Rony se ergueram e deram as mãos.


- A gente vai avisar que você acordou. – falou Gina, a voz trêmula.


Sirius fitou a ruiva e sentiu um aperto no coração e um arrepio gélido percorrer sua espinha. Hermione sorriu para Sirius e Rony deu-lhe um tapinha no ombro e ambos saíram em silêncio. Gina virou-se para Harry mais uma vez. Ele encarava as chamas novamente. Ela deixou um suspiro dolorido escapar e voltou seu olhar para Sirius, que a analisava. Forçou outro sorriso e saiu. A porta fechou-se silenciosa. Sirius fitou Harry, que suspirou e sussurrou, com a voz triste:


- Me perdoa?


- Ahn?! – Sirius ficou confuso – Perdoar? Pelo quê?


- Por você ter ficado preso esses últimos anos.


- Não foi sua culpa, Harry. Foi a Bellatriz que me atirou no véu, não você! – falou Sirius, firme, começando a entender o que estava acontecendo como afilhado.


- Mas se não fosse por mim... Você nunca teria ido até lá. – a voz de Harry, apesar de dolorida e triste, era quente.


- Eu iria até o inferno por você, Harry. – falou Sirius convicto e o mais sério que pôde.


“Inferno... a Dimensão da Neblina é pior que isto.” – lamentou-se Harry.


Um silêncio mórbido caiu sobre eles. Sirius flexionou um pouco os joelhos e teve certeza de que poderia andar. Virou-se sobre a cama e se levantou. Harry fitava as chamas da lareira com tanta intensidade e concentração que não viu Sirius se colocar ao seu lado. Só acordou de seus devaneios quando sentiu a mão de Sirius pousar em seu ombro e apertá-lo carinhosamente. Virou o rosto para o padrinho e olhou em seus olhos acinzentados.


- Não se culpe por tudo que acontece na Guerra. Voldemort existiria e lutaria com ou sem você. Pior! Ele estaria no poder se você não existisse. A culpa é um fardo pesado demais. Muitos homens sucumbiram a ela. Você é mais forte que ela, então a expulse! Não se lamente pela minha prisão. Eu não me lembro de nada e, para mim, ontem lutávamos lado a lado no Ministério. Não deixe a culpa devorar seus bons sentimentos, por que se você não expulsá-la logo, é isto que ela vai fazer. Logo você não vai conseguir viver, sufocado pela culpa, inundado por ela, afogado. E não terá mais paz, esperança, felicidade nem amor. Você perderá tudo o que tem... Ronald... Hermione... Principalmente a Gina. Percebeu como ela ficou com sua atitude? – Sirius fez uma pausa para respirar – Eu não preciso te perdoar por nada... Mas não te perdoarei se não se libertar dessa culpa.


Harry ficou mudo e chocado. As palavras de Sirius bateram fundo, onde toda a culpa o atormentava. Sirius tinha toda e plena razão. Ele tinha que lutar contra aquela culpa, resistir a ela. Não podia deixar que ela lhe tomasse o que lhe restava. Ainda mais agora que Sirius finalmente retornara.


- É tão bom ter você de volta. – foi a única coisa que Harry conseguiu dizer, e a muito custo.


Sirius puxou o afilhado para um abraço forte e terno, que foi avidamente correspondido.


- A única coisa de que lamento é não ter estado com você durante esses últimos anos. Quão duro deve ter sido. – lamentou-se Sirius, apertando o corpo forte de Harry.


- Agora tudo vai melhorar. – Harry conteve sua força, Sirius estava tão magro que ele teve medo de machucá-lo.


- Não se preocupe comigo, Harry. – sussurrou Sirius em seu ouvido – Não quero que se lamente pelo passado. O passado se foi e não mudará. Precisamos nos focar no presente para que o futuro seja preservado. Deixe a culpa no lugar dela, no passado, no passado morto e enterrado.


Harry apertou o abraço, agradecendo à Merlim por Sirius estar vivo e ali com ele. Sirius sentiu o abraço de Harry apertar e sentiu um leve incomodo na região das costelas.


- Harry... Você vai quebrar minhas costelas. – falou risonho.


- Ah... – Harry soltou-o e olhou-o sem jeito – Desculpa.


- Tranquilo. – Sirius pousou as mãos nos ombros do afilhado e sorriu – Você cresceu muito. Está um grande homem. Está mais sério e responsável, isto é visível em sua expressão. Amadureceu imensamente. Creio que mais do que o normal para sua idade.


- Eu nunca fui normal para minha idade. – Harry sorriu.


Sirius riu gostoso.


- Verdade. Isto é uma marca dos Marotos... Uma marca do teu pai, principalmente. – Sirius sorriu.


Harry sorriu verdadeiramente feliz. Sentia-se mais leve, como logo após ter chorado no colo de Gina.


- Vamos. Tonks e Remo devem estar desesperados para te ver. – Harry acompanhou a risada de Sirius.


Eles andaram lado a lado, a mão de Sirius ainda no ombro de Harry, e saíram pela porta.


- Onde estamos, afinal? – perguntou Sirius.


- Na Sede da Ordem. – respondeu Harry, tranquilo.


- Mas aqui não é a minha casa. – Sirius pronunciou minha com repugnância – Está muito limpa. – ele segurou uma risada.


- Ah. – Harry paralisou e ficou pálido, Sirius não sabia da morte de Dumbledore.


- O que foi Harry? – Sirius olhou-o preocupado – Por que a Ordem mudou de lugar?


- Escute Sirius... – Harry começou devagar – Não era mais seguro, no Largo.


- Por que não? Dumbledore era o fiel. Era completamente seguro. – admitiu Sirius.


- Sirius... – Harry recomeçou e, após um suspiro, disse de uma vez – Dumbledore está morto.


Sirius arregalou os olhos e abriu a boca em espanto. Dumbledore morto?! Não era possível.


- Como? Quem? Quando? Onde? – perguntou exasperado.


- Em Hogwarts... Voldemort aliciou Malfoy a matar Dumbledore, mas ele não conseguiu. Snape fez o serviço. – Harry tremeu de raiva ao pronunciar o nome do ex-mestre de poções.


- Snape? Ranhoso?! – perguntou Sirius, alto e incrédulo – Maldito! – completou após Harry assentir.


- Aconteceu um ano depois do Ministério. – informou Harry – Desde então Hogwarts é dirigida pela Profª. McGonagall. Snape está foragido, é claro. E Malfoy se entregou.


- Se entregou?! – Sirius não acreditou – Onde ele está?


- Aqui... Na Ordem. – respondeu Harry – Ele é um traidor. Traiu Voldemort, passando informações para a Ordem por mais de um ano.


- Mas ele é o culpado pela morte de Dumbledore! – exclamou Sirius, exasperado.


- Eu sei. E também não gosto da ideia dele estar aqui. Mas ele é de confiança. – falou Harry com desdém – Hermione sondou a mente dele do inicio ao fim. Não há nada que deponha contra ele. Ele está do nosso lado. Aceitou a missão de matar Dumbledore, porque Voldemort ameaçou de morte sua mãe.


- Mesmo assim... – Sirius apertou os dentes – É bom ele não cruzar o meu caminho. Nem ele nem o Ranhoso.


- Concordo. – Harry sorriu desafiador – Concordei com a estada de Malfoy aqui sob a condição de que se ele nos traísse, ou desse qualquer indicio de que isto ocorreria, eu o mataria.


- Não só você... – Sirius deixou a frase no ar e olhou o final do corredor.


- Muitas coisas mudaram... – observou Harry – Mas eu também não conheço tudo de novo. Estive fora. – Sirius olhou-o e ele continuou – Depois da morte do Dumbledore, passei as férias na casa dos meus tios. Quando completei maioridade fui para a Toca, mas não fiquei muito tempo lá. Percy apareceu e disse que um homem amigo de Dumbledore estava procurando por mim. Era uma armadilha, Percy me levou para Snape. – Sirius ficou chocado – Mas eu consegui escapar, um amigo, Owen McWell, me ajudou. Foi ele quem me levou ao real amigo de Dumbledore, Cassius McWell. Eu, Rony, Hermione e Gina ficamos com ele, na casa dele, durante pouco mais de um ano. Aprendemos tudo o que ele podia nos ensinar. Apesar de estar excluído dos acontecimentos do resto do mundo, foi maravilhoso. Aprendemos muitas coisas. Tornamo-nos fortes. – sorriu largamente – E então fomos para uma floresta, na Itália. Lá aprendemos quem realmente somos. Ficamos lá seis meses na contagem normal, mas para nós passou-se um ano.


- Como assim “aprendemos quem realmente somos”? – Sirius ficou confuso com tanta informação sobre a vida de seu afilhado.


- Depois eu explico. – Harry sorriu – Vamos descer.


Eles continuaram a caminhar, viraram na escada e desceram até o andar inferior. Muita bagunça e agitação vinha da sala de recreação mais próxima. Eles sorriram e caminham até a porta de sala, deram um passo para dentro e pararam, esperando a reação dos outros.


Apesar de ser pouco mais de cinco horas da manhã, de acordo com o relógio da parede, todos estavam despertos e incrivelmente ativos. Os Weasleys estavam presentes em peso. Fred e Jorge estavam no meio de uma piada que já causava risadas em muitos. Moody estava sentado em uma confortável poltrona e sorria, deformando seu rosto. Rony e Hermione estavam sentados lado a lado no sofá, as mãos entrelaçadas sobre as pernas dela. Gina estava sentada ao lado da amiga, os olhos fixos no teto. Remo ria abertamente e Tonks, também aos risos, estava sentada de lado em seu colo. Sirius fitou a cena do amigo e da prima e sorriu maroto.


- Que indecência é esta, Aluado?! – Sirius cruzou os braços e fez-se se sério e indignado.


Todos ficaram em silêncio e olharam para a porta. Harry segurou o riso ao ver as expressões variadas de todos.


- Hein?! – Sirius bateu o pé irritado – Que indecência é esta? – e apontou para Remo e Tonks.


- É o amor. – Tonks riu e pulou do colo do marido, correndo até Sirius para abraçá-lo.


- Amor? – sussurrou ele no ouvido dela enquanto a abraçava.


- Eu e Remo nos casamos. – ela riu.


- CASARAM?! – Sirius soltou a prima e olhou para Remo, que vinha em sua direção – Outro maroto casado? Merlim! O mundo está perdido. – e ergueu os braços para cima.


- Cala a boca Almofadinhas! – Remo puxou o amigo para um abraço.


Tonks passou as mãos nos olhos que se encheram de lágrimas. Tanto Remo quanto Sirius derramaram lágrimas silenciosas e permaneceram abraçados por um longo tempo. Todos respeitaram o momento de ambos. Todos sabiam que a amizade deles era eterna e viveria além da morte.


Harry caminhou até o sofá onde Rony, Hermione e Gina estavam sentados. O casal sorriu alegre para Harry. Gina, que ele percebeu estar fitando-o desde que a presença dele foi anunciada, se levantou. Ele se sentou onde ela estivera e estendeu a mão. Ela segurou a mão dele e se sentou de lado em seu colo, repousando a cabeça em seu ombro e a mão em seu peito.


“Perdoe-me mais uma vez.” – pediu Harry, mentalmente, só para ela.


“Eu sabia que somente o Sirius poderia te trazer de volta. Agradeço à Merlim por não estar errada.” – respondeu ela, se aninhando ainda mais no corpo quente dele.


Ele a envolveu com os braços fortes e quentes, abraçando-a e a segurando e amparando como se fosse uma criança frágil.


“Mamãe e papai.” – a voz de Rony alertou Harry e Gina.


“Nem a mamãe nem o papai se importam Rony.” – falou Gina indignada, vendo os pais apenas sorrirem ao carinho dela e de Harry – “Não banque o irmão ciumento, ok? Você e Hermione é que deveriam aproveitar para ficarem juntinhos assim.” – ela se ajeitou ao corpo de Harry, arrepiando-se e fazendo-o arrepiar-se também – “É tão bom!”


Hermione riu da expressão de espanto do namorado e o puxou para um beijo apaixonado.


“Apenas se controlem, ok?” – Gina não resistiu à brincadeira.


Instantaneamente, Rony e Hermione se largaram e encararam a ruiva, irritados. Gina apenas mostrou a língua em resposta. Antes que qualquer um dos quatro pudesse fazer outra coisa, a bengala de Moody bateu três vezes no chão, atraindo a atenção deles. Só então eles perceberam que Sirius e Remo haviam se soltado e que todos já haviam cumprimentado o recém-chegado. Um outro sofá de três lugares fora conjurado e Sirius, Remo e Tonks se sentavam nele. A bruxa sorria de orelha a orelha, os olhos brilhando com lágrimas rasas.


- Tudo certo então, Harry. – Sirius sorriu para o afilhado – Agora me explica o que você disse lá em cima.


Harry sorriu para o padrinho e respirou fundo, pronto para pô-lo a par de tudo que acontecera em sua vida enquanto ele estivera preso.


=-=-=


Das profundezas de uma floresta tomada pela Magia Negra, um Dragão e seu Guerreiro finalmente se entendiam. A união de ambos acontecia e a energia liberada causou a devastação de todos os seres vivos num raio de centenas de quilômetros e vagou até seu eterno inimigo.


=-=-=


O dia amanheceu ensolarado. Assim que o Astro Rei se fez presente, os lideres da Ordem da Fênix desceram para a cozinha para tomar o café da manhã.


“Preciso ir até a casa do Cassius.” – informou Gina, aos outros.


“Fazer?” pensou – Rony enquanto comia.


“Todos nós temos que ir até lá.” – Hermione lembrou-os – “Temos que fazer o Cassius e o Owen conversarem de forma descente.”


“Verdade.” – Harry se irritou por ter esquecido.


“Então quando iremos até lá?” – Gina parecia ansiosa demais.


“Podemos ir hoje, logo após o almoço. O que acham?” – sugeriu Hermione.


“Tranquilo.” – Rony continuou a comer.


O clima era tranquilo e descontraído. Sirius se divertia à custa de Remo e de Tonks, fazendo piadas sobre o casamento de ambos. Fred e Jorge aproveitavam o humor do maroto e faziam ainda mais piadas e brincadeiras à mesa, levando aos risos até Alastor Moody.


Em poucos segundos, porém, tudo isso se desfez.


O quarteto berrou de dor e se ergueu das cadeiras, afastando-se da mesa. As faces eram contorcidas pelo sofrimento. Cambalearam até se chocarem entre si. Ainda aos gritos e entre as lágrimas que desciam pelas faces, uniram as mãos e tentaram se concentrar.


Tão rápido e inesperado como tudo começou, cessou.

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