Estrela



Estrela





Depois de realmente despertar, Rony demonstrou com um gesto impaciente, que estava bem desconfortável com minha mão sobre a sua boca.

- Você tá se divertindo com esse lance de me acordar, né? - ele disse sentando na cama com uma expressão muito mal-humorada e eu não pude deixar de sorrir. Depois correu os olhos pelo meu corpo e disse, boquiaberto:

- Você tá... molhada... - e aí que, completamente envergonhada, percebi que meu pijama estava meio transparente por causa da chuva. Então puxei um lençol da sua cama, me cobrindo o mais rápido que pude.

- Você não se importa, né? - e apontei para o lençol.

- O que aconteceu contigo? Por que você está encharcada e por que, Merlin, me acordou com esse papo de livro?

- É uma longa história... vamos descer para a sala comunal.

- Olha, Mione, você sabe que eu não sou muito bom nesse lance de conselhos e de pensar... se você tá passando por algum problema, não é melhor acordar o Harry também? - ele perguntou com uma cara preocupada, indo em direção à cama de Harry.

- Eu acho melhor não acordá-lo...

- Por que? - perguntou enquanto balançava o ombro de Harry, que agarrou seu braço imediatamente. - É eu também acho melhor não!!! - disse tentando se livrar de Harry, que agora tentava abraçá-lo.

- Sshhh!!! - eu fiz pra ele se calar - Vamos conversar lá embaixo.

Nós descemos para a sala comunal, totalmente vazia. Ele sentou num sofá e eu ao seu lado, mantendo uma certa distância. O temporal continuava forte lá fora, mas até que era bom, pois aliviava um pouco o calor.

Então contei à ele o meu sonho (omitindo algumas partes, é claro) e o modo como acordei do lado de fora do castelo.

- E sabe o que eu acho, Rony? Acho que essa história de ritual está muito bem explicada nums livros que eu tenho lá em cima...

- Você tem certeza que não é sonâmbula? - ele perguntou pela quarta vez.

- Não! - e continuei - E eu tenho um pressentimento muito grande que se a gente descobrir o que é ritual, esclarecemos tudo...

- Mione, você não acha que foi você quem fez chover?

- Claro que não, Rony! Mas é obvio que se isso for magia negra mesmo, deve ter a ver com...

- Mas olha só, se você sonhou que estava chovendo...

- Eu não tenho esse poder!!! Não tem como uma bruxa de 16 anos fazer chover só com o pensamento! Choveu porque o tempo estava muito abafado mesmo, eu sabia que isso ia acontecer a qualquer instante!

- Ok, srta. Eu sabia! Só estava tentando entender e ajudar! Também não falo mais nada!

- Não é isso, é porque eu estou aqui falando coisas que realmente importam e você só sabe pensar na chuva e se eu sou sonâmbula ou não!

- Tudo bem, você falou em livros. Que livros são esses?

- Essa palavra, ritual, não me saía da cabeça. Eu sabia que já a tinha ouvido em algum lugar e esse sonho me fez lembrar onde! Sempre esteve embaixo do meu nariz, nums livros de magia negra que eu tenho lá no quarto!

- Magia negra, Hermione?! Virou bruxa das trevas?!!! Eu já tinha medo de você, agora então...

- Não, Rony... eu já estava pensando em aprender mais sobre rituais e coisas do gênero... como invocar espiritos... fazer rituais benignos... sei lá, aprender alguma coisa nova que eu pudesse mesmo fazer... qualquer tipo de coisa... sempre tive curiosidade e queria muito aprender. E quando eu vi esses livros sobre rituais malignos eu peguei só pra ficar por dentro, afinal a gente pode ter que enfrentar coisas assim e eu só queria estar preparada.

- Impossível ter pego na biblioteca... Mione! Você comprou na Travessa do Tranco?!

- Não!... na verdade eu peguei com... Malfoy.

- Ah, não! Esse cara de novo, não! Que palhaçada é essa de você amiguinha dele?! Eu achei que já tinha superado isso, principalmente depois dele ter te chamado de sangue-ruim na frente de todos!!!

- Isso dos livros foi há um tempo...

- E eu ainda não consigo entender o que ele queria contigo! Você devia me contar assim que ele começou a te procurar.

- Pra quê? Pra você quebrar a cara dele e fazer essa cena comigo? A era pré-histórica acabou, Rony. Hoje as pessoas conversam. Mas acho que você não sabe o que é isso.

- Conversar com o Malfoy?! Isso é impossível... Mione, diz a verdade, vai. Ele te obrigou a falar com ele por alguma razão... pode me contar... você tá com medo de acontecer algo porque... bom, porque não tem sangue puro, não é?... ele te chantageou não foi? Mione, você não precisa ter medo dele, se quiser eu posso dar uma lição nesse cara... se você me pedir, se me disser...

Ouvindo o Rony falar sobre isso eu pude compreender algumas coisas... ele pensava que o Draco tinha me chantageado ou algo do tipo. Nem imaginava que eu quis me tornar mais próxima dele, que foi escolha minha... talvez, por causa disso ele não tenha ficado tão chateado como eu esperava quando soube e... se ele soubesse que eu continuava me encontrando com Malfoy... talvez... eu corria o risco dele não falar comigo nunca mais.

- Se você não quer falar, então por que não pega logo esses livros?! Já que eu perdi meu sono mesmo... - ele disse emburrado, depois de um breve silêncio entre nós.

- Vou pegar... já desço.

Porém ao entrar no quarto e procurar os livros embaixo do colchão, onde eu os tinha guardado, me surpreendi ao ver que eles não estavam mais lá.

- Os livros sumiram, Rony!

- Tem certeza?

- Sim! Eu procurei embaixo do colchão, da cama e até no malão. Sumiram todos! - disse deseperada.

- Quem pode ter pego?

- Bom, homem não foi. O dormitório feminino é totalmente à prova de garotos.

- Será que foi alguma menina do seu quarto?

- Não sei... posso saber disso quando amanhecer, mas tenho quase certeza de que não foi ninguém da Grifinória.

- Mas não tem como alguém de fora ou de outra casa entrar aqui!

- Tem sim... por vassoura. Pela janela.

- Anh...

- Não nos resta muito a fazer, né...

- Só dormir. – ele disse levantando-se. E quando estava quase na escada do seu dormitório, perguntou:

- Você acha que chove no dia do nosso jogo contra a Sonserina?



*****



No dia seguinte, eu , Rony e Harry conversamos enquanto tomávamos café...

- Isso foi muito bizarro, Mione. – sussurrou Harry, quando terminei de contar sobre a noite passada.

- Eu sei... e o pior é que os livros sumiram, e nós estamos de mãos atadas novamente.

- Pra mim, foi o próprio Malfoy que pegou. – disse Rony.

- Eu já te falei que não tem como, um garoto no dormitório feminino!

- E eu já te falei que ele é homossexual...

- Não... e se tiver esses livros na biblioteca? – Harry perguntou – Você lembra os nomes deles?

- Lembro. Só não lembro em qual especificamente estava o que nós queremos.

- Esquece gente. Esses livros devem estar na seção reservada... sem autorização de um professor, não dá. – disse Rony.

- Pra tudo dá-se um jeito, quando se tem uma capa de invisibilidade...

E assim que Harry acabou de dizer isso, Dumbledore se levantou e pediu a atenção de todos:

- Bom dia, alunos! Como alguns de vocês já devem saber, nesse mês faz 100 anos que nós comemoramos o dia das bruxas, o nosso Halloween! E isso se deve a uma bruxa muito valorosa, devo dizer. Por isso, tenho o prazer de anunciar que esse ano, em vez da nossa tradicional festa, Hogwarts estará oferecendo um baile à fantasia no dia 31!

Houve uma falação geral no salão após esse anúncio. Uns estavam excitados. Outros preocupados. Alguns diziam que era loucura de Dumbledore promover um baile logo quando Você-sabe-quem tinha voltado. Mas a maioria parecia feliz.

- Eu sou contra o baile. – disse Rony – Festas de Halloween são as mais legais! A gente usa a roupa que quiser, come até passar mal e dança esquisito. Quer dizer, quem é louco de preferir um baile?

Eu e Gina levantamos as mãos.

- Vocês, com certeza, né... afinal no último baile foram com os “maravilhosos” Vitinho e Mikezinho... – ele disse com desdém.

- No baile a gente também pode fazer tudo o que você disse. E ah, o “Vitinho”, já era.

- O Mikezinho também...

Nessa hora, o Draco, lá da mesa da Sonserina, começou a fazer gestos pra mim, me chamando pra ir ao baile com ele. Eu sorri em resposta e me arrependi automaticamente de ter feito isso, porque o Harry percebeu... e perguntou rapidamente:

- Mione, quer ir ao baile comigo?

- Tá, tudo bem... – respondi surpresa e desconcertada.

- Quê?! – exclamou Rony, se engasgando com o suco – Vocês vão juntos?!!

- É Rony, o que tem de mais? – perguntou Harry, que parecia preocupado com a reação dele. E Gina ao ver que o irmão tinha fechado a cara, propôs:

- Por que nós não vamos juntos, mano?

- Ah, não Gina! Você é minha irmã!

- Por isso mesmo! Ou você prefere que eu saia com um desses caras que vivem dando em cima de mim?

- Não, claro que não!!! Você vai comigo.

Eu e Harry nos controlávamos pra não rir da cara de Rony, quando as corujas começaram a invadir o salão. Na minha frente, junto com o meu habitual exemplar do Profeta Diário, caiu outra carta.

O envelope estava em branco, sem remetente, e foi com um certo receio que o abri. Dentro havia um pequeno papel com uma única palavra escrita:

Snape.

Corri os olhos pelo salão pra ver se alguém me observava e dei de cara com Luna Lovegood, olhando direto do bilhete pra mim, como se quisesse me dizer algo com seus grandes olhos azuis.

Então tudo começou a fazer sentido na minha cabeça. Foi o Snape! Foi ele quem Luna ouviu falando sobre o Ritual! E ela só podia ter me mandado aquele bilhete pra me contar...

Me levantei para falar com ela e ao perceber que eu ia em sua direção, ela também se levantou, mas foi pro lado oposto.

- Luna! – chamei. Ela nem olhou pra trás, mas eu insisti:

- Hei, Luna! – e ela virou-se bruscamente. Me olhava com desprezo e eu comecei a me sentir muito mal... mas mesmo assim, continuei – Aquele bilhete... foi você? Foi sobre o...

- Ritual. – ela completou.

- Nossa! Você nem sabe como...! E nós temos tanto que conversar... – comecei a falar entusiasmada, mas ela virou-me as costas novamente.

- Espera aí, Luna! Eu só quero te...

- Fiz o melhor que pude... – interrompeu – De nada, Hermione. – ela disse friamente e se afastou rápido.



*****



Na manhã seguinte, Rony voltara ao normal com a gente, pois tinha andado nos evitando no dia anterior. Harry disse que era porque ele estava com ciúmes de mim, por ele ter me convidado pro baile. Eu disse à ele que era mais fácil o Rony ter ciúmes dele, do que de mim.

Assim que descemos pro Salão Principal, os dois já foram falando de um tal plano...

- É perfeito, Mione! Vai ser moleza pegar esses livros na biblioteca. – disse Rony.

- Tá, eu posso saber que plano é esse? – perguntei.

- Simples. – disse Harry – A gente sai no meio do baile, você e Rony vigiam o corredor e eu entro invisível na biblioteca. Só preciso saber os nomes dos livros e onde eles estão.

- Nossa, que plano mais elaborado, hein! – ironizei – Simples... simples de dar errado! Gente, isso não é certo. Se nós formos pegos... eu e Rony somos monitores!

- Nós já fizemos coisas muito piores! E com todos no baile, não tem como alguém perceber o “furto”. Se tudo sair como planejado, podemos devolvê-los no dia seguinte. – disse Harry.

- Sei não... – eu disse. Mas começava a pensar seriamente no assunto.




Mais tarde, nós três fomos à biblioteca “explorar o terreno”. Só desse jeito mesmo para aqueles dois irem até lá. Pude ver que lá tinha pelo menos três, dos cinco livros que eu peguei. Mostrei a Harry onde eles estavam e os nomes. Missão cumprida.

Mas quando íamos sair, ele parou pra falar com Justino, um garoto da Lufa-lufa. Eu e Rony ficamos sozinhos, e sem nada pra fazer, ficamos olhando um livro: Bruxarias que dão errado – Como ter certeza do sucesso do seu feitiço. Nele tinha umas figuras tipo, homens com pés de pato e bico de hipógrifo e uma mulher com 10 dedos em cada mão. Eram coisas bizarras, mas engraçadas. Era gozado como um simples erro podia estragar completamente um feitiço fácil.

- Será que os gêmeos já leram isso? – Rony perguntou, rindo.

Foi aí que ouvimos a voz de uma garota atrás da gente, sussurrar:

- Olha lá aqueles dois... é um casalzinho nada a ver.

- Espero que isso não seja sobre nós. – disse à Rony.

- Esse povo não tem coisa melhor pra fazer do que fofocar... – ele falou sério. Mas depois sorriu marotamente e sugeriu – Vamos fofocar? – e começamos a prestar atenção.

- Essa garota é oferecida... como é mesmo o nome dela? – a amiga da garota perguntou.

- Hermione Grange.

- Ah! É de mim! – disse subindo um pouco a voz.

- Sshhh!!!! Fica quieta! – fez Rony.

- Afinal, Rony Weasley é tão bonitinho... ele podia arranjar coisa melhor... – ela continuou.

- Como você, né? – a amiga perguntou.

- É. Como eu. Essa garota só vive atrás dele! Será que ela não percebe que não tem chances?

- Ah, não! Isso foi demais! Eu correndo atrás de você?! Vou tirar umas satisfações com elas...

- Calma, Mione, isso é inveja. Eu vou lá contigo e damos uma lição nessas duas. – Rony disse e nós fomos em direção à elas.




- Oi, Livy, Alisson... – Rony as cumprimentou e eu lhe lancei um olhar de morte. Então ele conhecia as vadias!

- Oi, Rony! – elas responderam.

- Posso contar com vocês na torcida da Grifinória no dia do jogo, né?

- Com certeza! – respondeu Alisson. Eu ia ficando cada vez mais vermelha de raiva, olhando delas, pra ele.

- Vocês podem ficar perto da Mione – e apontou pra mim – Já se conhecem?

Elas fizeram que não. E antes que eu pudesse mandar os três praquele lugar e sair dali, ele pegou na minha mão e disse:

- Bem garotas, essa é minha namorada, Hermione Granger.

Difícil descrever o que senti. Primeiro foi o susto, depois a vergonha. Mas aí, ao ver as caras de idiotas das duas, me deu uma imensa vontade de rir. Meio que por causa delas, meio que por felicidade, orgulho, por ele ter me defendido daquele jeito inesperado.




- Você não devia ter feito aquilo, Rony. – disse aos risos, quando saímos da biblioteca.

- Viu as caras delas? – ele disse rindo também.

- Tudo bem, pra gente foi uma brincadeira, mas você sabe que essa fofoca vai se espalhar...

- E daí?

- E daí que você gosta de uma garota, não gosta? Como você acha que ela vai se sentir ao saber que nós estamos “namorando”?

- Deixa pra lá... não vai rolar com essa garota mesmo...

- Ué, por que?

- Porque... olha bem pra mim, Hermione! Eu não sou o tipo de cara. Sou meio lento, não sou muito inteligente, não tenho nada de interessante, sou pobre... bom, eu acabei de saber que sou bonitinho e isso é um avanço... – ele disse sorrindo.

- Um lento é verdade que você é... – e sorri também – Mas é legal, engraçado, simpático (às vezes), capitão do time e... bonitinho! Com tudo isso, que tipo de garota estúpida não namoraria contigo?

- Você.

Eu gelei e por um instante, nós só nos olhamos. Mas já prevendo o quanto eu ficaria vermelha, recomecei a rir e disse:

- Claro que não, né! Isso seria praticamente... um incesto!

- Boa. – ele disse rindo também.



*****



Os dias iam passando e eu não tive mais nenhum sonho louco. Porém nada me tirava da cabeça que havia algo sinistro no ar. Podiam dizer que era paranóia, mas eu sabia que alguma coisa tinha mudado. E o que dava mais raiva, era ser a única a perceber isso. Já não prestava mais atenção nas aulas, não conseguia dormir direito à noite. Queria não lembrar, viver um dia normal. Mas o calor de todos os dias e as aulas de Snape não me deixavam esquecer. Porque era anormal. Tudo parecia anormal. Quantas vezes tive ímpetos de contar tudo à Dumbledore... mas provavelmente ele me mandaria pro St. Mungus, e isso eu não queria. Queria descobrir tudo o que estava acontecendo primeiro. Como sempre, essa minha curiosidade...

E o que Snape tinha a ver com tudo? O que ele sabia? Com quem ele falava sobre rituais? Seria sozinho? Morria de vontade de perguntar mais coisas à Luna, mas ela estava sempre fugindo de mim. E quanto perguntar ao próprio Snape, era quase impossível.

Estava cansada de me sentir doente, presa. De viver assustada à espera de que algo de mal acontecesse e eu não pudesse fazer nada, não pudesse impedir. Os garotos conversavam comigo sobre isso, mas naqueles dias eles estavam bem mais distantes por causa dos treinos de quadribol. Nem nas refeições eu os via. Parecia que o fato de se tornar capitão do time, mudava muito as pessoas e Rony, que costumava reclamar dos duros treinos de Angelina, agora pegava mais pesado ainda com os outros. E treinar durante horas debaixo do sol escaldante, não era tarefa fácil para o resto do time. Me lembro da Gina, furiosa, falando que ele exigia muito de todos, mas que o próprio quase não treinava.

Com o Draco era a mesma coisa, eu quase não o via, mas afinal o grande jogo era Grifinória versus Sonserina. Quando contei que ia ao baile com Harry, ele teve um acesso de riso... ainda mais quando soube que o motivo do convite era ele.

É, a gente continuava se vendo sempre que dava e eu ia aprendendo a gostar dele cada vez mais. Era engraçado, porque a gente não tinha nada a ver... e ele fazia cada coisa... às vezes eu o reprovava totalmente. Como na vez que pôs dois meninos da Lufa-lufa em detenção, pra escrever mil vezes no quadro a frase “Malfoy manda”. Mas era aquele tipo de pessoa que a gente gosta de graça. Ele nunca mais tocou no assunto de querer ficar comigo. Isso me aliviava pois eu acho que não saberia o que dizer. Eu não estava apaixonada por ele, mas me sentia tentada às vezes.




Na noite anterior ao dia do baile e do jogo, eu vagava sozinha pelos terrenos de Hogwarts, pensando na vida, mas não querendo pensar em nada. Estava tornando isso um hábito. Unia a conveniência de ficar sozinha, com a obrigação de patrulhar à noite. Fui à casa de Hagrid, conversei um pouco e quando saí, decidida a ir dormir, vi uma figura solitária, voando no campo de quadribol. Poderia reconhecer a metros de distância aquele jeito de voar, a vassoura e o cabelo vermelho.

Não resisti. Fui até onde ele estava e gritei:

- Então é assim que você treina?! Sozinho?!

Ele desceu perto de mim e disse:

- Se você quiser me ajudar lançando a goles... vai ser melhor do que treinar com essa enfeitiçada.

- Você sabe que eu não sou muito fã de voar.

- É eu sei... já estava terminando mesmo.

Ele guardou as bolas e nós ficamos sentados no meio do campo. Bem onde eu tinha acordado um dia, que naquele momento pareceu tão distante...

- Ah, Mione, a gente precisa ganhar o jogo amanhã. Derrotar a Sonserina é uma questão de honra pra mim. E como se não bastasse a preocupação do jogo, ainda tem esse maldito baile.

- Eu jurava que o Harry ia convidar a Cho... – eu disse.

- Acho que o Harry já esqueceu ela. Ele te convidou...

- É, mas não tem nada a ver nós dois!

- Eu sei... – e riu – Sabe, no começo eu odiei ter que ir com a Gina, mas até que agora eu tô começando a gostar. Garotas são muito complicadas de se agradar. Quando fui ao baile com Padma, deu pra perceber o quanto ela me odiou. Bom, com a Gina posso ser eu mesmo, né?

- Garotas não são tão complicadas assim. Você só precisa dar um pouco mais de atenção à elas.

- Qual é, Mione... até você que é minha amiga, só vive dando chiliques comigo!

- É porque você é uma pessoa muito difícil às vezes.

- O mesmo te digo eu. Mas vamos lá, outro exemplo... o que você me diz do Harry com a Cho?

- Eu só acho que eles se envolveram no momento errado. Pra ambos.

- Então como a gente sabe qual é o momento certo? E não é só dessas coisas que eu falo. É de tudo. Por exemplo, a Olívia. Eu sei que ela faria tudo que eu pedisse, mas às vezes é tão difícil pra mim...

Não pude prestar atenção em mais nada do que ele disse. Aquele papo estava ficando muito estranho pra mim. Acho que ainda não estava preparada pra ouvir as confissões amorosas de Rony, e o que era mais estranho era ele me contando sobre essas coisas. E eu nem pedi pra saber! Não perguntei nem nada! Por que ele estava me contando aquilo?! Eu não queria ouvir! Porque eu sabia o que isso significava. Significava que ele não se importava comigo... como mulher.

Foi como se tudo rasgasse dentro de mim. Decepção foi o que senti. Então era a Olívia mesmo, a tal garota. Saber de verdade era muito pior do que imaginar. Por que tinha de ser aquela insuportável? Por que só naquele momento eu percebia, ou melhor, admitia, que estava sentindo algo por ele? E que era forte, que doía! Não podia ter deixado as coisas irem até aquele ponto. Ele nunca pensaria em mim do jeito que pensava nela. E nem poderia pensar! Droga! Eu não podia estar gostando de um cara que tinha tudo o que eu achava de mais errado num homem! Que tinha prazer em me irritar, me zoar! E o pior de tudo... que não me correspondia.

Mas afinal eu era a amiga e mesmo ele me contando coisas que eu preferia não saber, o meu dever era tentar ajudar. Me controlando para parecer o mais normal possível, falei:

- Não é tão difícil assim. Quer que eu te explique como?

- Acho que você não está entendendo o quanto eu posso ser tímido quando se trata de garotas. Até nisso...

- Não acho que seja tão tímido assim. Você melhorou muito. – disse sem nem ao menos ter noção do que estava dizendo.

- Eu não sei como você possa ter experiência nisso, mas vai, me mostra como.

- Eu não tenho experiência mesmo, mas a gente acaba aprendendo algumas coisas em filmes e tv.

- Anh? Filmes, tv?

- Esquece. – e me levantei – Bom, primeiramente você deve olhá-la nos olhos, como se não houvesse mais ninguém nesse mundo além de vocês dois. – disse com um sorriso triste. Aí ele também levantou e olhou nos meus olhos, sorrindo.

- Assim? – perguntou.

- É... – respondi, desviando o olhar. Não aguentava encará-lo – Depois diga coisas bonitas à ela, a elogie.

- Mione, nós não estamos falando...

- Depois... – interrompi – ... você a acaricia. – aí eu não aguentei, me calei e saí de perto. Mas ele se aproximou devagar, afastou meus cabelos e e passeou com a mão pelo meu ombro, me ligando totalmente. Contatos entre nós eram pura eletricidade. Então ele disse:

- Continua...

- Vá com calma, mas não devagar demais. – sussurrei em resposta. Mas o que era aquilo? Nós estávamos sussurrando em códigos ou o quê?, pensei, voltando a mim. Endireitei o corpo e continuei falando normalmente:

- Chegue mais perto dela, a toque gentilmente. – mas parecia que quanto mais eu tentava me afastar, mais ele me cercava. Eu estava em pânico. Não tinha como fugir dele e pior, dos meus pensamentos. Então ele seguiu minhas palavras... chegou mais perto de mim... segurou meus braços... e nós ficamos assim, nos olhando como hipnotizados.

Passaram-se milênios ou pelo menos poderia passar. Foi só um segundo, mas pra mim foram anos.

- E depois? O que eu faço? – ele perguntou num fio de voz.

- Faça o que tem que fazer.

Ele foi se aproximando do meu rosto lentamente. Já não importava mais se ele não gostava de mim ou se só iria me usar e depois jogar fora. Já não tinham importância rituais, comensais, Olívia ou Voldemort. Já não importava o que tinha acontecido comigo ou com o mundo. Se ele me beijasse, eu o teria nem que fosse por um instante. E isso, naquele momento, bastava.

Porém, ao invés de me beijar ele falou baixinho ao meu ouvido:

- Então eu diria... – e se afastou de mim e gritou – Olívia! Se você errar esse passe mais uma vez eu juro que te dou uma detenção!

- Anh?! – fiz assustada.

- Eu não estava falando de beijo! Nem sei daonde você tirou isso! Eu quis dizer que não consegui brigar com a Olívia quando ela errava alguma coisa no treino! Afinal ela é praticamente a única garota no time. A Gina não conta, ela é um homenzinho... – ele disse e depois começou a rir. Eu também não conseguia controlar o riso, embora estivesse muito envergonhada.

- Então ela não é “a” garota?

- Não!!! Você foi tirando essas conclusões precipitadas...

- Por que você me deixou dar essa de idiota?! Por que não disse nada?

- Eu tentei! Mas depois me interessei... – ele disse, e ficou me encarando com um sorriso estranho.

- Que foi? – perguntei sorrindo também.

- Eu te fiz rir.

- E...?

- Você não tem feito muito isso ultimamente...

- É, tiraram isso de mim.

- Uma pena, porque você fica mais bonita quando ri. Devia fazer isso mais vezes, mocinha. – ele disse de um jeito engraçado.

- Bonita, Rony?!

- Você é bonita, Mione. E isso ninguém tira de você.

Não soube o que dizer. Ficamos nos olhando em silêncio. Acho que fui eu quem comecei a rir, de nervoso. Mas depois fui achando tudo tão engraçado, que comecei a fazer caretas feiosas e perguntando se ele ainda me achava bonita, me divertindo como há muito tempo não me divertia.

E nós ficamos ainda um bom tempo lá. Rindo às gargalhadas.




Fui dormir me sentindo nas nuvens. E passaria o dia seguinte todo assim, se não tivesse outro desmaio, bem no meio do jogo. Se Madame Pomfrey ainda estivesse em Hogwarts, com certeza não me deixaria ir ao baile, mas como a enfermaria estava aos cuidados de Snape, ele nem se importava. E pela primeira vez eu gostava disso. Quando acordei, o jogo já tinha terminado e as pessoas voltavam pro castelo. O resultado foi fácil de adivinhar ao ver a alegria de todos os Grifinórios.

Gina me contou que tinha sido um jogo sofrido, Harry demorou a pegar o pomo e o ataque sonserino estava cada vez mais forte. Mas no fim deu Grifinória para a alegria geral.

Fui direto para o quarto, descansar, ajeitar minha roupa, meu cabelo e o resto. Eu sabia que corria o risco de passar mal no meio da festa mas algo me dizia que eu não poderia perder aquele baile. Fiquei admirando minha fantasia. Ela era simples, blusa branca, saia longa meio rodada, decote generoso no busto. Eu ainda não sabia o porquê, mas ao olhar aquela fantasia, senti um ânimo, uma felicidade... como se crescesse uma pontinha de esperança em mim. Como se naquela noite eu pudesse ser só uma garota. Uma garota como qualquer outra e como qualquer outra, só queria um pouco de diversão.

Quando desci, Harry, Rony e Gina já me esperavam.

- Cadê as fantasias de vocês? – perguntei aos garotos ao vê-los com roupas normais.

- Eu estou fantasiado de Rony. – disse Rony.

- E eu de Harry.

- Anh... bem típico de vocês. E você, Gina? Por que está vestida de homem?

- Ah, eu também tô fantasiada de Rony.

- E que fantasia é essa? – perguntou Harry.

- Eu sou uma cigana. – e dei uma voltinha – Os ciganos são um povo nômade trouxa. – disse à Gina.

- Ela tinha mesmo que se exibir. – disse Rony à Harry.

- Vamos ao baile, então? – perguntei, ignorando o comentário de Rony.

Harry me ofereceu o braço e nós descemos. As pessoas não paravam de cumprimentá-los pela vitória no jogo. O salão estava lindo, transformado em pista de dança e nós pegamos uma mesa pra quatro, perto das janelas. Dino Thomas logo veio falar com a gente...

- Puxa Mione, cê tá muito gata! Se importa se eu a tirar pra dançar, Harry?

- Se importa! – exclamou Rony – Porque eu... eu já ia dançar com ela.

- Ia? – perguntei.

- Vamos logo. – ele disse me puxando pra pista. Estava tocando uma música agitada e ele começou a fazer uns passos muito esquisitos.

- Rony! Que dança é essa?

- É a dança da vitória. É só mexer os quadris e balançar a cabeça.

- É ridículo!

- É o máximo... – disse Olívia chegando perto da gente e o imitando muito sensualmente. Logo ele estava rodeado de garotas dançando igual a ele. E eu me sentindo sobrando muito, saí dali.

- Ué, cansou de dançar? – perguntou Harry, quando sentei novamente na mesa

- Pois é, né... e você? Por que não chama a Gina pra pista?

Ele lançou um olhar rápido à ela (que estava conversando com Parvati) e me perguntou:

- Sou péssimo dançando... você acha que ela aceitaria?

- Harry! Você tá afim da Gina?! – perguntei surpresa.

- Não! Fala baixo, Mione! Só que ela cresceu, né... tá tão diferente...

- Anh... é... – disse distraída.

Olhei em torno e logo vi quem procurava. Agora ele estava no meio de vários garotos, provavelmente se gabando pelo jogo. Então uma coisa me voltou na cabeça...

- Por que você deixou o Rony ser capitão, Harry? – perguntei de supetão.

- Como assim?!

- Ah, não se faz de bobo. Você está no time desde sempre, aí o Rony acaba de entrar e vira o capitão. Eu sei que os outros escolheriam você. Só não sei como escolheram o Rony.

- Não dá mesmo pra esconder nada de você, né... Mione, eu não sei quando vão acontecer coisas ruins comigo, mas pode crer, elas sempre acontecem. E isso não exclui jogos de quadribol, sem contar que acho que não teria cabeça pra essa responsabilidade. O Rony sempre quis isso e eu sempre soube. Acho que ele precisa provar pra si mesmo que não é só uma sombra dos irmãos, de mim ou de você. Que ele pode vencer por si mesmo. Assim como a gente venceu hoje. Por isso renunciei ser capitão desde o início.

- Ai, Harry... você é um amigão, sabia? – e o abracei – É sério, poucas pessoas fariam o que você fez por ele. – e continuaria meu discurso se não comessasse a tocar a introdução de uma música que eu amava.

- Essa música é linda! Dança comigo, Harry?

- Que nada! Você vai dançar comigo. – disse Rony, aparecendo atrás da gente.

- Por que eu dançaria contigo?!

- Porque você me abandonou sozinho na pista

- Ah, mas você não parecia sozinho, não...

Ele não continuou com a briga. Apenas estendeu a mão pra mim, enquanto a música começava a tocar.

Você está aqui, em frente a mim

Eu quero te sentir. Preciso de você


Eu também não consegui dizer mais nada. Peguei na mão dele... e ainda pude ouvir a Gina dizer:

- Ih, Harry! Acho que perdemos nossos pares...

Você é trevas. Você é luz

Você me faz sentir mais calma... ou não


Chegamos na pista. Ele me abraçou timidamente. Eu passei a mão pelo seu pescoço. Queria saber o que se passava na cabeça dele... mentira. O que eu queria, na verdade, era que ele estivesse pensando o mesmo que eu.

Nós nos movíamos devagar e eu me sentia tão... leve... encostei a cabeça no peito dele, fechei os olhos... e de repente a música começou a tocar só pra gente:

Você é a esperança

Que me faz tentar de novo

Mas também me desespera

Me põe pra baixo e eu acho que nunca vai dar certo

Você sempre foi meu companheiro

Você é tudo pra mim


Quando eu o conheci e mesmo até pouco tempo, o jeito dele me irritava tanto... o achava convencido e inconsequente. E o pior é que ele não tinha nada pra se convencer! Ele era tão seguro de si, ao contrário de mim, que buscava segurança nos estudos. E ele sempre me menosprezava por causa disso, o que me chateava mais ainda. Mas se eu sentisse só isso, tudo bem. Acontece que doía às vezes. Mas aí o tempo foi passando e eu fui vendo que ele se importava comigo, de um jeito louco, mas se importava. Entre brigas sérias, brigas bobas e tréguas, a gente até que se entendia. Uma amizade estranha, mas verdadeira e forte. Porém, naqueles últimos dias ele pôde me mostrar um outro lado dele. Um Rony que também era inseguro, cheio de dúvidas e que não se envergonhava mais de demonstrar isso pra mim! E acho que foi isso que nos aproximou.

Você vem com essas besteiras

Me deixando mal, chateada e nervosa

Você me machuca às vezes

E nem percebe


O grande problema de tudo era que eu estava levando isso pra outro lado, que não era de amizade. Sabia que as chances que eu tinha de ficar mal nessa história eram as maiores possíveis. Mas todos esses sentimentos, além de serem muito novos pra mim, eram também muito difíceis de controlar.

A verdade é que eu estava morrendo de medo. Medo de estar apenas me iludindo. De acabar me tornando mais uma dessas garotas correndo atrás dele. Medo de me envolver. E até da possibilidade remotíssima de ele acabar se envolvendo também. E que depois acabasse tudo mal e as coisas ficassem estranhas entre nós.

Tomei coragem e olhei pra ele, que sorriu pra mim. Por que ele tinha que sorrir? Parecia um daqueles milhares de sorrisos que ele dava para as milhares de garotas que dão em cima dele. Então era isso. Eu era apenas mais uma. Já estava até me sentindo como uma delas! Boba, criando ilusões do nada total. Ele não gostava de mim, nunca ia gostar! EU ERA A AMIGA! A tal garota devia ser maravilhosa, uma Cho Chang da vida, cabelos lisos, corpo bonito, popular... ele só tinha me chamado pra dançar porque ficou com pena de mim...“Tadinha da garota nerd, que desmaia e é sonâmbula. Eu devia sorrir pra ela, afinal ela é praticamente minha irmã!” Que idiota, cafajeste! Se ele pensava que estava fazendo algum bem pra mim... ai, minha cabeça tava um nó!

Os meus olhos não conseguem negar

O jeito como você mexe comigo

Seria o momento perfeito pra dizer coisas bonitas

Mas você está calado...


Ele me olhou de cima a baixo, sorrindo, e eu cheguei até a pensar que ele ia me fazer um elogio, mas só perguntou:

- O que é nômade?

E eu achei que aquilo era a coisa mais gentil que eu ia ouvir dele naquela noite. Isso foi me enchendo de ódio...

- Vai se ferrar! – disse o empurrando e saindo o mais rápido que pude dali. Andei sem rumo por um instante, mas logo vi o que precisava: vinho. Peguei escondido da mesa dos professores e já estava quase com o copo na boca, quando alguém o puxou da minha mão.

Era uma pessoa totalmente vestida de preto. A cara mal aparecia sob o capuz.

- Draco? – perguntei, incerta.

- Isso não ajuda ninguém. – uma voz arrastada respondeu, jogando o vinho pela janela – Vamos lá fora. Quero falar contigo.

- Vamos... – eu ainda estava meio perdida. Por que estava com raiva mesmo?

Saímos. A noite estava perfeita. Fazia um pouco de calor, mas até quecorria uma brisa refrescante. Haviam casais nos cantos. Alguns passeando. Nós fomos sentar num banco.

- Você está bonita.

- Obrigada. E você? Que fantasia é essa? – Ah, é... eu estava com raiva do Rony, o idiota...

- Comensal.

- Você não presta! – disse rindo.

Ele permaneceu sério, me olhando com uma expressão indecifrável.

- Que foi, Draco? Você está estranho... – disse preocupada.

- Lúcio me mandou uma carta. Ele quer me iniciar nas artes das trevas, agora no fim do ano, pra nas férias de verão, me tornar comensal.

- E você?

- Antes eu preciso te perguntar uma coisa. Você confia em mim? Independente de tudo o que eu já fiz, agora, você confiaria em mim? Quer dizer, se alguém te falasse, coisas sobre mim, ainda assim, você me escutaria?

- Promete que não vai me magoar?

- Prometo tentar.

- Então estou contigo. E agora? O que vamos fazer?

- Dizer ao meu pai que conheci uma moça bonita que me fez mudar de idéia. – ele disse sorrindo. Que fofo, ele dizer isso... eu poderia até... beijá-lo, pensei.

- Que bom que essa moça conseguiu! – e sorri – Por que a gente não comemora isso com um beijo?

Aquela expressão de antes voltou nele. Foi como se pusesse uma máscara e ficou muito pálido de repente. Abriu a boca, como se quisesse falar algo importante, mas voltou a fechá-la.

- Você nunca vai gostar de mim, né? – perguntou irritado.

- Eu gosto de você, Draco... – respondi surpresa com a reação dele – pensei que quisesse ficar comigo.

- Não desse jeito. – e levantou me deixando muito confusa. Parecia que eu tinha estragado tudo mais uma vez.

Quando tomei coragem e levantei para voltar à festa, um gorila esbarrou com força em mim, me fazendo cair no chão. Eu fiquei meio desnorteada e ele ofereceu a mão, pra me ajudar. Porém, quando tirou a máscara, fiquei surpresa ao ver que na verdade não era ‘ele’. Era a Luna.

- Foi mal, eu tava correndo... não te vi. – ela disse ofegante, mas tinha uma tristeza na voz e os olhs muito inchados e vermelhos.

- Luna, o que aconteceu contigo? – perguntei. Lágrimas escorreram pelo rosto dela.

- Só não me diga “Eu te disse”, ok?! – gritou e saiu correndo. Eu iria atrás, se o Rony não aparecesse do nada, dizendo:

- É melhor dixar ela ficar sozinha. De qualquer jeito, ela não ia te escutar mesmo...

- Por que? Você sabe o que aconteceu?

- Ela viu o Longbottom com uma menina.

- Você sabia deles dois?

- Não, mas pela reação dela, deu pra imaginar.

- Que estúpido... vocês homens não prestam mesmo.

- Opa! Espera aí, garota... não começa! Não fui eu que te empurrei e te mandei se ferrar, lá dentro!

- Desculpa. Acho que não estou muito bem hoje.

- Eu também acho!

- Rony, por favor. Dá pra esquecer?! Já pedi desculpas.

- Não, Mione. Não dá. Tem muita coisa entalada na minha garganta. Olha, hoje a gente ganhou o jogo e você nem pra dar os parabéns, dizer uma coisa legal. Você acha que pode tratar mal as pessoas e depois fica tudo bem. Sempre acha que tem razão. Eu já cansei disso, de você pisando em mim. Sempre se achando a superior.

- Que horror, Rony... Eu não sou assim.

- Ás vezes sim.

É parece que eu tinha me enganado sobre aquele baile. Parecia que tinha entrado em um pesadelo sem fim! Draco, Luna e agora Rony. Todos contra mim.

- É porque você...! Você é tão chato, insuportável! Nunca me deixa em paz, sempre me provocando, perturbando! Por que está aqui?! Por que não vai dançar com suas amigonas?!

- Se olha no espelho, garota! Não existe criatura mais insuportável, metida e arrogante que você! Fica se metendo onde não é chamada, querendo que todos sejam como você, como se fosse um modelo de perfeição! Sabe, às vezes eu até concordo com o que o Snape disse.

Meus olhos marejaram. Ele, não satisfeito, continuou.

- E sabe o que é pior de tudo?! O pior, é que eu gosto de você!

Sentia o olhar dele sobre mim. Minha cabeça estava baixa, não queria encará-lo. Droga de Rony Weasley! Até me fazer chorar ele conseguiu. Estava esperando ele completar: “Eu gosto de você... como irmã”. Mas ele não disse nada. E eu já não suportando mais o silêncio, perguntei:

- Se você gosta de mim, por que me ofende tanto?! Por que me maltrata desse jeito?!

- Ás vezes eu até me arrependo. Hoje não. Você não teve motivos pra falar aquilo. Mas apesar de tudo, acredite se quiser, eu gosto de você. A questão é: você gosta de mim?

- Não pense que sou tão insensível assim... se pudesse voltar atrás, também não faria muitas coisas. O que eu te disse hoje, por exemplo. Olha, hoje eu desmaiei no meio do jogo. E aposto que você nem sabia disso.

Novo silêncio entre nós. Parecia que finalmente estávamos nos entendendo. Pelo menos tínhamos parado de gritar. Eu não podia acreditar que eu estava cedendo. Mas o Rony falando que se arrependia de algo e que gostava de mim, também não era normal. Afinal, sobre o que era aquela discussão? Era sobreaquela noite ou sobre todas as milhares brigas que a gente teve?

- Eu vim aqui fora te procurar, pra gente ir logo pegar os livros com o Harry, mas...

- Mas...? – perguntei baixinho. Ainda olhava pro chão.

- Acho que ainda temos tempo, pra entrar num túnel do tempo.

O olhei intrigada. Ele pegou nas minhas mãos e perguntou ao meu ouvido:

- Quer dançar comigo?

Não sei o que me deu. Eu simplesmente me joguei nos braços dele. Rony deve ter me achado uma bobinha. Ele pegou na minha mão e me girou em torno de mim mesma, começando assim a dançar lentamente e tolamente, sem música. Aquela não era eu.

Ele me puxou pra mais perto, parando de dançar, e assim ficamos mais próximos do que nunca. O corpo dele junto ao meu... aquela era uma sensação que eu queria guardar pro resto da vida. Estava acontecendo... Merlim! Eu não podia acreditar! E sabe aquelas coisas que você acha que nunca vai acontecer contigo, nem com ninguém, que você tem que se beliscar pra acreditar que não está sonhando? Que até espera que alguém surja do nada e diga: “É uma pegadinha! Olha a câmera ali!”, ou então que alguém sacuda sem ombro e você perceba que foi apenas um pensamento, uma coisa surreal que você queria muito que acontecesse, mas é impossível? Bom, tudo isso passou pela minha cabeça na hora, mas ao olhá-lo, vi que ele estava tão vermelho e nervoso quanto eu e percebi que era REAL e que estava mesmo acontecendo com a mais insignificante das garotas, no caso eu, Hermione Granger. Então parei de pensar e de respirar. E só se ouvia as batidas do meu coração no silêncio da noite. As mãos dele descendo lentamente pelo meu corpo e o som da sua respiração ofegante, me tirando completamente do sério.

Mas quando as mãos dele chegaram na minha cintura, um misto de prazer e medo me envolveu. Aquele mesmo medo que não me esquecia, que me acompanhava todos os dias, reapareceu naquele instante para roubar minha felicidade. Caí na real. Eu não podia! Aquela noite poderia ser tudo o que eu mais desejava. Mas eu não podia ir em frente. Não com o Rony.

Não com ele que sabia tudo de mim. Dos meus medos, manias, de todos os meus defeitos e mesmo assim, me quis de outro jeito. Mesmo com todas as brigas e implicâncias, ele sempre estava comigo, me aceitando. E naquele instante, me querendo. Ele que podia ter todas, me queria! Não com o meu amigo, tão diferente de mim... Talvez ele nunca entendesse. Mas eu tinha meus motivos pra ter medo de ir em frente. E eles eram fortes demais.

Acontece que eu não fazia idéia do que estava acontecendo comigo, todas as coisas estranhas... não queria atingí-lo de forma alguma. Como eu queria não estar nem aí pra isso, mas essa era eu e precisava tomar a decisão correta. Por mais que doesse.

- Rony, acho melhor a gente parar por aqui – disse me desvencilhando dele. Minha voz falhou e a primeira lágrima rolou.

- Por que? – ele perguntou, tentando me trazer de volta para seus braços.

- Eu não sei o que está acontecendo comigo. E se eu passar alguma coisa pra você? E se de alguma forma, eu te puser em perigo?

- Eu não ligo. – ele disse sorrindo.

- Não vamos fingir que está tudo bem, que a gente pode tudo – e o sorriso foi sumindo do rosto dele – Por que não seria a verdade.

- Não precisa ficar assim... – ele disse docemente ao ver que eu chorava – Eu já esperava por isso mesmo. Não arranje desculpas. Você pra mim é como uma estrela. Que eu desejo mas nunca vou alcançar... só não vamos perder o que a gente tem, ok?

- Não é isso! Eu te quero muito, mas... nós sabemos como somos. Se isso der errado de alguma forma, vai doer muito mais...

- Mais do que está doendo agora, impossível...

- Nós devíamos esquecer isso e esperar que tudo acabe. Aí então, depois, a gente vê.

- Você pode me mandar embora se quiser. Mas, Mione, se não for agora, vai ser quando? Sempre que acontece algo contigo... tenho tanto medo de te perder... não vamos deixar essa conversa pra depois! Eu vou perguntar mais uma vez – ele disse pondo as mãos nos meus ombros. Os olhos nos meus – Você gosta de mim?

- Gosto. – disse num fio de voz. Não pude mentir.

- Era tudo o que eu queria saber! – e começou a rir – E sabe como eu me sinto agora? FELIZ! Só não sei como você não se sente assim também. Será que a gente não pode ser feliz?! Será que é proibido, faz mal?! A gente não pode se gostar, se tocar, se beijar? Viver isso sem culpa? Mione! Me deixa te ter pelo menos um pouquinho! Agora que eu sei que você quer... olha eu quero muito te beijar, não vou negar... mas se você não quiser, se você só me deixar tocar seu rosto, por mim tudo bem! E amanhã... te abraçar. E depois te beijar na mão! Eu respeito seu tempo! O tempo que você quiser! Posso fazer isso... se souber que você está comigo. Depois a gente deixa rolar algo a mais. Mas por mim, hoje, agora, nem precisa.

Acho que não existe nenhuma mulher no mundo, que se não se derreta ao ouvir isso de um homem. Eu me entreguei sem nem pensar. Corri pra ele, me pus na ponta dos pés e o beijei. A princípio, desajeitadamente, somente um toque de lábios. Sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Mas depois ele se inclinou pra mim, as mãos no meu rosto... os olhos se fechando instintivamente. Não era preciso ver. Só sentir... me beijou de verdade. Carinhoso e terno... calmo... a gente ia experimentando uma boca na outra, as línguas se descobrindo... até que pegamos o jeito. Ele tocava meus cabelos, alisando-os e eu me derretendo nos braços dele. Então ele beijou minha testa e disse tão baixinho que eu quase não pude ouvir:

- Você é a coisa mais linda que eu já vi.

Me senti uma princesa. Impossível dizer tudo o que ele provocou em mim. Porque aquele não foi só um simples primeiro beijo. Ele tocou meu coração.

O beijei de novo e de novo. Não dava pra cansar de fazer isso. Ele me apertava em seus braços e eu sentia que podia me perder cada vez mais nele. Até que paramos e ficamos só nos olhando, os sorrisos largos nos rostos vermelhos...

- Tá bom, isso é muito importante, então não ria. – ele começou entre risos – O que você achou?

- Humm... acho que “E”.

- “E”?

- “Excede expectativas”.

- Ah, não... que horrível!Você não acha que eu mereço um “O” de ótimo?

- Claro que não! – eu disse séria e ele me largou com uma cara aborrecida, mas aí completei – Isso foi muito melhor que ótimo... foi maravilhoso. – e o abracei novamente. Ele voltou a sorrir. – E você? O que achou?

- Molhado... – disse imitando o Harry e depois, inesperadamente, lambeu meu rosto ainda lavado de lágrimas – ... e salgado também!

- Que nojo, Rony! – e comecei a bater nele. Ele, por sua vez, puxou a manga da camisa e secou meu rosto, todo cuidadoso.

- Foi demais, Mione. Melhor que ganhar da Sonserina e bater no Malfoy, juntos.

Me beijou de novo.

- INCRÍVEL!!!! – gritou – E você, sua boba, ia perder tudo isso. – disse apontando pra si mesmo – 1,90m de puro prazer!

- Então vamos continuar de onde a gente parou.

Mas nós não conseguíamos parar de rir. Não sei se ria das palhçadas dele, de nervoso ou de felicidade. Porém nosso riso foi interrompido ao ouvirmos um estrondo muito grande e gritos. Uma multidão saiu correndo porta afora, desesperada e eu tive um ligeiro tremor, pressentindo algo ruim. Não dava pra ser feliz.

Parecia que tinha explodido algo no castelo.





N/A: brigada a todos q estaum comentando!!!! =) respondo td no próx capt! kem torce por r/hr ou d/hr, continue torcendo. A fic ainda naum terminou. Bjaum, Ju.


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