Promessas de Infância

Promessas de Infância



N2/Rbc: Seguinte...vocês já imaginaram a fúria e o ódio de um Malfoy? Imaginem, por favor. Mas daí, eu pergunto, vocês já imaginaram a fúria e o ódio de um Weasley? Imaginem, por favor. E então eu pergunto novamente...não não... deixa pra depois...divirtam-se!

Bjinhos...

Rebeca Maria!

Laços de Vida

Capítulo DEZ

“Promessas de Infância”

Peter pegou um pergaminho velho e botou-o sobre a mesa de Dumbledore, apontando os pontos principais. Nele havia o desenho de parte de Hogwarts, ao fundo e num tom claro. Bem ao centro estava o Salão Principal. Acima havia a Torre de Grifinória, nas masmorras a Sonserina, quase no meio do mapa, mas um pouco mais acima e do lado esquerdo, estava o banheiro da Murta que geme. e, por último, do lado de fora do castelo, bem acima e do lado direito, oposto à torre de Grifinória, estava, numa perspectiva bem ao fundo, a Floresta Proibida.

Bem ao centro, sobre a figura do Salão Principal, estava escrito, em letras apressadas, a profecia, com várias marcações entre suas frases.

Ao primeiro salvarás, e este será tua fortaleza, tua vida

O segundo não chegarás a ver.

Já ao terceiro, nada se pode dizer, vitória perdida

O quarto será concebido durante os desconexos de uma noite

E a este, chamarei de meu filho.

“Pode parecer uma teoria bem louca, mas se formos analisar bem, ela faz sentido. Lembrei-me de várias ocasiões da minha vida desde que os gêmeos nasceram, busquei na memória, lembranças e, também, palavras e histórias da minha mãe. Pesquisei em livros e descobri várias coisas. Por exemplo, li no último exemplar de Hogwarts, uma história, o seguinte, no capítulo que diz respeito à Princesa de Voldemort:”

“Por muitos anos seguidos Virgínia Molly Weasley foi vista como a pobre vítima de Voldemort, por ter se exposto a todos os males desse bruxo com apenas 11 anos de idade, sendo considerada a segunda pessoa mais nova a enfrentar o Lorde das Trevas e sobreviver.

Porém, nesta última edição de ‘Hogwarts, uma história – Fascínios e Temores’, revista, ampliada e comentada, deu-se um novo rótulo à pequena Gina Weasley: ‘Princesa de Voldemort’. A princípio pode parecer um rótulo satânico ou mesmo dispensável, mas não é.”

“Essa parte está escrita bem aqui em baixo, porque o mais importante é o rótulo que deram para a minha mãe.- Peter apontou as frases escritas no canto inferior do pergaminho, em letras bem pequenas, mas com apenas uma marcação em negrito.”

“Princesa de Voldemort...princesa...- Dumbledore analisou.”

“Então, diretor, continuando.”

“Presume-se que a primeira fortaleza de Voldemort tenha sido a câmara secreta. Lá foi onde ele refugiou-se e, provavelmente, criou seu diário de lembranças e acordou o grandioso e temido Basilisco, para então soltá-lo pela escola e fazer vítimas, em sua maioria trouxas.

Anos mais tarde, vítima da maldade de Lúcio Malfoy, que colocou o diário de Voldemort entre os materiais escolares da pequena Weasley, Gina não chegou a ver as lembranças do Lorde, na verdade, lembranças não são vistas, são revividas.”

“Com isso você quer dizer que...”

“Sim, reviver as lembranças. Voldemort usou palavras da história da minha mãe, do passado deles, para proferir a maldição. Essas frases, como o senhor pode ver, estão sobre o desenho do banheiro da Murta, onde fica localizada a entrada da câmara, aparentemente a única.”

“Não fazendo parte da história de Hogwarts, propriamente dita, mas ainda assim referindo-se à trajetória de Gina Weasley e Voldemort juntos, não se sabe se a vitória foi perdida por um ou por outro, há algum tempo. Se por um lado Voldemort foi derrotado, Gina teve sua vida completamente mudada por uma profecia que dá a um filho de sua Princesa, o sangue de Voldemort. E isso sim parece ser satânico.”

“Por fim isso está na Floresta, que na verdade seria o cemitério onde ocorrera essa confusão toda. O fato é que, se eu bem não estiver enganado, naquele dia no cemitério, Voldemort fez muito mais do que pensamos ou sabemos à minha mãe, de modo que Sarah tenha mesmo o sangue dele. Para uma maldição funcionar precisa-se do sangue misturado. Ao que me parece, Voldemort formou laços de vida com a minha mãe, que nem mesmo a morte pode quebrar, por isso a maldição ainda tem efeito. Como o senhor pôde ver, há referências do passado e do futuro da minha mãe, no presente, naquela época quando foi proferida. Voldemort deixou furos na maldição que acho que agora o senhor está percebendo melhor.”

“Eu entendi, Peter, aliás, entendi muito bem. Você quer dizer que Sarah é mesmo filha de Voldemort, é sua princesinha, por isso é manipulada, de certo modo, por ele.”

“Isso mesmo. Ou mais ou menos isso. O maior furo que Voldemort deixou foi justamente o que diz respeito a mim, quando diz que eu serei a fortaleza e a vida da minha mãe. De fato tem sentido, pelo que eu consegui analisar com tantas lembranças. Tudo começou quando eu recebi a carta de Hogwarts e ia me separar da minha mãe, com isso ela ficou mais vulnerável a qualquer coisa, principalmente à Sarah. E por mais que meu pai quisesse separar as duas, o poder de Sarah era muito grande e prejudicaria muito a minha mãe, a não ser que eu estivesse com ela.”

“Por isso sua mãe adoecia quando você estava aqui, ou melhor, ficava alheia e excessivamente preocupada com a Sarah, e de certa forma deprimida...”

“E também por isso a Sarah mudava de personalidade. Quando eu vinha para Hogwarts, era como se minha mãe não tivesse nenhuma proteção, por isso Sarah podia ser manipulada, mas comigo junto com a família tudo corria bem porque eu protegia a minha mãe e a Sarah voltava a ser doce e carinhosa, como ela nunca deveria ter deixado de ser. O outro furo que ele deixou foi com relação a Aidan.”

“Mas Aidan não consta na profecia.”

“Por isso mesmo. Por não constar na profecia, Voldemort descartou a hipótese da presença de um quinto elemento. Aidan é o quinto da profecia, muito próximo ao quarto, que é a Sarah, por serem gêmeos. Isso faz do Aidan o extremo oposto de Sarah. Se Aidan não tivesse nascido, minha irmã teria se desenvolvido muito mais rápido e teria sido tudo mais trágico e difícil. Aidan retardou os dons da Sarah porque os dois dividiam a atenção com os meus pais.”

“Você quer dizer que os dons da Sarah dependiam do nível de atenção que Draco e Gina davam a ela?”

“Principalmente a minha mãe, e por isso a preocupação excessiva, a atenção exagerada, isso fez com que Sarah evoluísse um pouquinho mais rápido, mas não tão rápido quanto Voldemort gostaria que tivesse sido. No momento, Sarah tem apenas algum tempo antes de efetivamente cumprir a maldição, ou seja, nós também temos pouco tempo. E hoje, quando a Kathy colocou tantas verdades na minha frente, eu finalmente entendi tudo e vi que eu poderia mesmo estar certo. Ela me entregou, bem, ela jogou esse diário em mim e me fez entender que estava com a Sarah- Peter colocou o diário sobre a mesa de Dumbledore, que não pareceu se abalar- e eu lembrei das palavras de Aidan no começo desse ano.”

“Sarah se parece muito com a mamãe, mesmo que você não note ou que alguém note, mas as duas têm a mesma personalidade forte e, ao mesmo tempo, suscetível a propostas de seu próprio interesse. As duas correm atrás do que querem e quando alguém lhes oferece o que querem, elas...”

“...elas aceitam a proposta para alcançar mais facilmente o que querem, mesmo sem saberem quem são as pessoas que lhes ofereceram tal coisa...”

“E o que você sugere, Peter?”

“Parte da maldição terá que ser cumprida, para que a outra seja anulada e a maldição seja quebrada. É assim que vai funcionar. Memórias terão de ser revividas, mas para isso minha mãe não poderá ficar vulnerável, e se eu não posso ir até ela, já que ficaríamos longe da principal peça desse quebra-cabeça, que ela venha até mim.”

“Você...”

“Precisamos da minha mãe o mais rápido possível aqui em Hogwarts, diretor.- Peter terminou, com um tom mais decidido do que o que estava usando no início.”

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A proposta de Dumbledore pareceu ao mesmo tempo estranha e irrecusável. Estranha porque não fazia muito sentido o professor chamá-la para lecionar Poções na escola, podendo chamar alguém muito mais experiente. Irrecusável porque aceitando o convite, estaria próximo dos filhos pelos próximos seis meses. E o melhor era que Draco também tinha sido chamado para ir para a escola, lecionar Defesa Contra as Artes da Trevas, o que, de fato, também era estranho.

“Vamos aceitar?- ela perguntou.”

“Bem, se eu fosse você eu aceitaria, afinal, seria uma ótima desculpa para ficar perto das crianças. Mas como eu não sou você e eu também recebi uma ótima proposta, eu aceito.- ele falou com graça.”

“Seu bobo.- ela bateu de leve no ombro do marido e beijou-lhe os lábios- Certo, então vamos aceitar e aproveitamos e passamos o Natal em Hogwarts, como há muito tempo não fazemos.”

“Então está combinado. Vamos amanhã para Hogwarts.”

“(...)”

“Então entenderam tudo?- Dumbledore perguntou- Chamei vocês por dois motivos: o primeiro é que eu precisava de professores substitutos o mais rápido possível. O segundo para vocês ficarem perto dos seus filhos por pelo menos seis meses.”

“Certo, mas por que nós, diretor?”

“Não foi exatamente uma escolha, e sim uma opção, se é que me entendem. Vocês são bons em poções e DCAT, e foram uma opção rápida. Tinha certeza que aceitariam. Já sabem onde serão seus cômodos e já têm os horários de aulas. Será apenas durante estes seis meses, então não tomará muito tempo de vocês. Mas acreditei que vocês gostariam de voltar à escola depois de tanto tempo.”

“Adoramos a proposta, diretor, e por isso aceitamos. Ficamos felizes por estarmos novamente aqui.- Draco falou.”

“(...)”

“Mãe? Pai?- Peter virou o corredor e deu de cara com os pais- O que estão fazendo aqui? Os gêmeos fizeram algo ruim? Eu fiz?- Peter viu a cara de quase riso do pai e segurou-se para não rir também. Tentou ao máximo parecer surpreso.”

“Dumbledore nos chamou para dar aulas durante esses seis meses. Aceitamos para ficar perto de vocês...- Gina explicou.”

“Que ótimo...- ele pareceu ao mesmo tempo alegre e decepcionado- Agora não vou poder mais sair de madrugada pelos corredores, que droga!- e os pais riram- Já falaram para Aidan e Sarah?”

“Não, não os encontramos ainda. Mas haverá tempo, não se preocupe.”

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A chuva estava um pouco forte, mas não seria ela que atrapalharia um jogo tão importante como uma semifinal de campeonato.

Peter subiu na arquibancada e viu todos os jogadores a postos. Corvinal contra Grifinória, na disputa contra uma vaga na final para jogar contra a Sonserina e decidir o campeonato de quadribol.

Viu Kathy atenta aos movimentos do outro apanhador, e ela ficou mais atenta ainda quando o jogo começou.

O rapaz observou, de longe, os pais assistirem ao jogo. Pareciam tranqüilos e normais. E, um pouco distante dele, estavam Aidan e Ephran, torcendo pela Grifinória e Corvinal, respectivamente. Não viu Sarah, mas pensou que ela estivesse no meio de todos aqueles alunos.

Quando novamente parou para observar o jogo, viu que Kathy estava voando atrás do pomo, estendendo a mão para alcançá-lo, próximo ao chão. Em alguns segundos os dedos dela fecharam-se ao redor da pequena bolinha de ouro, e a seguir ela se desequilibrou da vassoura e caiu no chão. Levantou-se e mostrou o pomo seguro em suas mãos, fazendo a torcida dos leões vibrar e se dispersar em direção ao salão comunal da Grifinória, onde certamente teria festa.

Peter, ao contrário da maioria dos alunos que iria desfrutar da festa, dirigiu-se a outro lugar...

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Kathy foi até o vestiário, logo após o jogo, quebrando a regra de ir direto para o salão comunal após uma vitória. A verdade era que, mesmo tendo ganhado o jogo por uma diferença enorme da Corvinal, não estava com vontade de comemorar.

Aliás, não estava com vontade de fazer mais muita coisa, porque nada mais fazia muito sentido para ela. Sua vida estava sendo virada de ponta cabeça, sua relação com os amigos estava ou se desgastando ou se acabando, e ela não estava entendendo nada.

Peter, principalmente, se afastara muito de Kathy, e ela não soube se porque estavam brigando muito, porque encontravam muitas diferenças entre eles ou se porque Anna queria mesmo que eles brigassem e Peter, mesmo que inconscientemente, acatava os desejos da ‘ex. namorada, ex. atual ficante’.

Ficou sozinha durante algum tempo, limitando-se a colocar sua vassoura guardada no armário e retirar a capa molhada, pesada e suja de lama, por causa da chuva e da queda que levara assim que pegara o pomo. Caíra por cima do braço esquerdo, e este doía um pouco, mas nada que fosse atrapalhar muito.

Algum tempo depois ouviu a porta do vestiário se abrir e se fechar. Ela olhou para trás e não viu ninguém. O som de passos persistiu até ficar próximo dela. Kathy empunhou a varinha e usou seus reflexos de apanhadora, usando as mesmas técnicas que ouvia as asas do pomo para ouvir os mínimos movimentos de quem quer que estivesse ali.

“Accio capa!- a capa da invisibilidade voou rapidamente para as suas mãos- Primeiro: essa capa é minha, o que não te dá direito algum de pegá-la e sair usando por aí. Segundo: o que diabos você está fazendo aqui, Freak? Veio ver se a sua franguinha está aqui? Pois eu respondo: não, ela não está. Ela deve estar choramingando a derrota da Corvinal, e a conseqüente desclassificação da casa do torneio, para o resto do time de quadribol. Agora, se quiser sair...”

“Primeiro: você não devia deixar objetos tão importantes a esmo, para que todos vejam. Segundo: eu não estou procurando a Jackeline. Terceiro: eu não vou sair daqui enquanto você não pagar o que você está me devendo.- Kathy olhou curiosa para Albert, perguntando-se se ele estava maluco se algum dia ela deveu algo para ele.”

“Do que você está falando? Eu não estou te devendo nada!”

“Há muito tempo que você me deve algo, Katherine.”

“Você está louco, seu idiota.- Albert se aproximou sorrateiramente de Kathy, com os olhos estreitos e maliciosos.”

“Verdade ou desafio?”

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Aidan correu o mais rápido que pôde pelos corredores da escola. Esbarrou diversas vezes em várias pessoas que se dirigiam, principalmente, para o salão comunal da Grifinória, afim de festejar a vitória da casa no último jogo.

“Você viu meu irmão, Camille?- ele parou uma garota da Grifinória, do sexto ano.”

“Oh, pequeno, eu vi o Peter lá em cima, uns dois andares, há uns dez ou vinte minutos.”

“Obrigado!- e saiu correndo.”

Continuou apressado, subindo as escadas e virando corredores. Levando sermões dos quadros, por correr em Hogwarts e reclamando algo por não encontrar Peter em lugar algum.

“Gaby...- Aidan gritou, dessa vez para uma Sonserina, do sétimo ano- Viu o Peter?”

“Aidan, acho que ele está perto daquelas estátuas de gárgulas. Ultimamente ele tem passado muito tempo por lá.- Aidan sorriu, acenou e novamente correu.”

Encontrou o irmão parado à frente de duas estátuas de gárgulas, prestes a falar uma senha ou algo parecido.

“PETER!- Peter se assustou e virou-se imediatamente. Viu desespero nos olhos do irmão e correu até ele.”

“O que houve, Aidan?- perguntou, preocupado.”

“É a Kathy...- ele falou, tomando ar.”

“O que houve com a Kathy, Aidan?- o tom de Peter tornou-se ainda mais desesperado do que o de Aidan e seu coração se apertou, como se tivesse sido submetido a um feitiço Veritasserum- o que aconteceu com a Kathy, Aidan? Onde ela está?- Aidan tomou mais fôlego, sentindo-se cansado de tanto correr, e apontou para o corredor de onde viera.”

“No vestiário...de quadribol...- e Peter correu o mais rápido que pôde até o vestiário.”

“(...)”

Peter encontrou a porta do vestiário aberta. Dentro, aparentemente, não havia ninguém, já que estava tudo no maior silêncio possível. Ele entrou vagarosamente, olhando para os lados, atentando-se a qualquer ruído.

Assim que chegou próximo aos bancos, sentiu seu coração falhar alguns batimentos. Ele parou, sem conseguir acreditar no que via. Era chocante e doloroso demais. Sentiu seus olhos marejarem, mas teve força para se aproximar um pouco mais.

A imagem frágil de Kathy era dolorosa demais. E pior ainda era vê-la retraída a uma canto, tremendo, abraçada aos joelhos e com a cabeça escondida. Peter podia ver que sua roupa de quadribol estava rasgada, e provavelmente ela usava alguns restos mortais de pano para se cobrir. Podia ver também alguns ferimentos, cortes e sangue nos braços e pernas que estavam à mostra.

“Kathy...- ele sussurrou, com um tom carinhoso e preocupado. A reação dela foi se retrair mais ainda, e encostar-se no canto da parede, sem olhar para Peter- Kathy...sou eu...Peter...- ele tentou passar a mão no cabelo dela, mas a mão ágil dela o repeliu. Ela retraiu-se e tremeu- Kathy, por favor, não tenha medo de mim...eu não...eu nunca vou fazer nada a você...sou eu, Peter- mais uma vez ele levou a mão à cabeça dela e desse vez não foi repelido. No instante seguinte Kathy abraçou-se ao corpo de Peter e começou a chorar inconsolavelmente.”

Peter abraçou-a de uma forma protetora, querendo apenas estar ali para cuidar dela e protegê-la de todo mal que pudesse haver.

“Vai ficar tudo bem, meu amor...- ele sussurrou.”

Quando Kathy ergueu o rosto para olhar para Peter, este levou um susto ao ver o olho roxo e inchado da amiga, além de diversos cortes, profundos e superficiais, e muito sangue. Instantes depois Kathy postou-se a chorar novamente, com mais intensidade e dor do que antes.

Assim que ela se acalmou um pouco, ele ergueu o rosto dela e fitou o olho que não estava inchado. Viu mais dor e desespero do que nunca vira no olhar da amiga, que sempre fora tão alegre e carinhoso.

“Foi o Albert, não foi?- ele perguntou e ela não respondeu, mas ele soube a resposta pela reação dela, que se retraiu pela simples menção do nome de Albert- Foi ele, não foi?- nesse instante Aidan surgiu na porta do vestiário.”

Peter olhou para o irmão e pediu que ele entrasse. Levantou-se, fazendo um feitiço para que Kathy ficasse mais confortável.

“Aidan, preciso que você fique aqui e não deixe ninguém entrar- ele falou muito rápido e Aidan viu o quanto o irmão estava com raiva- Não saia daqui, ok?”

Peter saiu correndo do vestiário logo após trancar a porta. Seus dedos tremiam muito, assim como todo o seu corpo. Seu coração batia a mil. Sua mente processava mais informações do que necessário. Sua raiva aumentava a cada passo. Seu ódio crescia a cada respiração. Segurava a varinha com força, a ponto de suas unhas cravarem a carne da palma de sua mão, chegando a sangrar um pouco.

Correu o mais rápido que pôde até onde achava que Albert estaria. E não se enganou. Próximo às estufas, rodeado por amigos da Corvinal, que riam com ele de alguma piada ou algum feito. E ele pedia que o que Albert estava contando não fosse nada relacionado com Kathy, porque se fosse seria muito pior. Ele parou a uma certa distância e apontou a varinha para o rapaz.

“BOMBARDA EXCELENCE!- ele gritou, e o feitiço acertou Albert em cheio, de surpresa, fazendo-o voar contra os vidros das estufas e atravessar quatro paredes de vidro.”

Os amigos de Albert olharam curiosos e espantados e empunharam suas varinhas, direcionando-as, num total de cinco, para Peter. O Sonserino olhou-os e eles tiveram medo. Eles viram as pupilas de Peter mudarem de azul claro para castanho fogo numa questão de segundos, mas a cada cor mudada, mais ódio podia ser visto. O castanho confundia-se ao preto e o olhar de Peter era mais medonho porque não transmitia vida alguma para quem o olhasse.

“Vocês me pegaram num dia ruim, rapazes- ele falou, com o tom baixo, embora sua voz saísse fria e venenosa como nunca antes, além de assustadora- se prezam por suas integridades físicas, N.Ã.O. M.E.X.A.M. C.O.M.I.G.O.!- ele prosseguiu, pausadamente.”

Peter foi até onde Albert estava, vendo-o se levantar com certa dificuldade e espanar os cacos de vidro.

“VOCÊ ESTÁ LOUCO, MALFOY?- o sorriso de Peter surgiu fino, frio e malicioso, juntamente com os olhos escuros e estreitos.”

“Você já viu o ódio e a fúria de um Malfoy, Bertzinho.- Peter começou, com o mesmo tom que usara com os rapazes- Você também já viu o ódio e a fúria de um Weasley.- Albert retraiu-se e empunhou a varinha- Mas você nunca viu o ódio e a fúria de um Weasley Malfoy...ATÉ HOJE!”

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Gina parou no segundo andar ao notar um movimento de alunos parados à frente de uma parede. Ela aproximou-se, conseguindo passagem entre os alunos. Porém, no instante em que viu a parede, preferiria não estar ali. A lembrança de seu passado a atormentava e as palavras “Inimigos do Herdeiro: Cuidado!” escritas em tinta vermelha na parede eram claramente o seu passado.

“Crianças,- ela começou, tentando manter a calma- voltem para as suas casas...deixem os professores cuidarem disso...certamente foi uma brincadeira...- os alunos se dispersaram e Gina ainda ficou observando a parede por algum tempo.”

Instantes depois ela foi para o banheiro da Murta-que-Geme e parou na frente da velha pia que não funcionava.

“Minha filha passou por aqui, Murta?- ela perguntou, preocupada.”

“Ahh...a pequena Sarah?- ela perguntou- Sabe que ela me perguntou como eu morri?”

“Ela passou ou não, Murta?”

“Há algumas horas...e entrou no buraco dessa pia.”

O coração de Gina acelerou e ela teve medo. Tanto medo como há muitos anos não sentia. Medo de perder sua filha, medo do seu passado, medo do que poderia acontecer depois que ela entrasse novamente na Câmara Secreta.

Sem pensar duas vezes, ela sussurrou algumas palavras na frente da pia e a entrada da Câmara se mostrou. Ela pulou, e sentiu como se estivesse num longo escorregador.

O cheiro era o mesmo que ela se lembrava. Horrível e nauseante. A cada passo uma nova lembrança a invadia. Lembrava-se de como Tom a havia convencido a descer até a Câmara e esperar por Harry. Lembrava-se das promessas infantis que Tom tinha feito. Promessas de amizade e felicidade, que a fizeram acreditar que tudo daria certo, mas que no final quase provocou a morte de vários alunos.

Assim que ela parou no início do imenso corredor, com cabeças de cobras dos dois lados, ela ouviu alguém falar:

“Que bom que voltou para mim, minha princesa.”

E ela reconheceu a voz de Tom Riddle. O tom doce e tão gentil e amoroso que podia seduzir qualquer criança inocente, como ela era e como Sarah era. Gina andou até o final do corredor e viu a imagem opaca de Tom, como ela conhecera, e sentiu vontade de correr e abraçá-lo. Repudiou-se por isso. Mas ainda assim ela não podia negar que, durante um ano, ele fora seu único amigo e que ela chegara a amá-lo como tal.

“Esperava que você descesse até aqui mais uma vez, Virgínia.”

“Eu vim buscar a minha filha, Tom.- ela manteve-se calma, embora ainda estivesse com medo do que poderia acontecer.”

“Correção. Nossa filha.”

“Minha filha, Tom. Minha e do Draco.”

“Ela tem o meu sangue, querida Gina. Ela veio até mim.- Tom moveu-se um passo para o lado e deixou que Sarah se mostrasse atrás dele, com uma expressão um tanto assustada ou admirada, segurando o diário de Tom contra o peito.”

“Mãe...me tira daqui...- ela sussurrou.”

“Ela quer ir embora, Tom.”

“ELA NÃO QUER IR!- ele gritou e virou-se para a garota- Você quer ir, Sarah?- e adquiriu um tom doce e calmo.”

“Eu quero ir com a minha mãe. Ela veio me buscar.- ela falou, com cautela.”

“Não, Sarah...você quer glória e poder, quer aprender comigo, quer ser temida e respeitada...”

“Vem comigo, Sarah.- Gina estendeu a mão e Sarah a segurou, ficando ao lado da mãe.”

“Você não pode tirá-la de mim, Virgínia!”

“Eu não posso tirar de você algo que nunca foi seu, Tom. Entenda isso. Você nunca teve a Sarah, você nunca me teve. Admita que naquela noite no cemitério você não tocou em mim como durante muito tempo, não só eu, mas muitos acharam que você tocou. Admita que naquela noite você não me amaldiçoou, apenas falou coisas sem sentido. Admita, olhando nos meus olhos, que você não voltou para me tomar a minha filha e fazer dela a sua sucessora. Você apenas a manipulou com o poder de Voldemort que ainda existia sobre os comensais. Admita que você errou mesmo ao falar tudo aquilo naquela noite, e não contou com alguns fatores que podiam estragar com seus planos. Uma maldição só tem efeito se você acreditar nela. Por anos eu acreditei que as palavras podiam ser reais, mas agora...eu não acredito em uma só letra.”

“Como...”

“Eu te conheço bem, Tom. Se sua maldição tivesse dado certo, Sarah não iria querer voltar comigo, Aidan não teria nascido, Peter não seria meu protetor. E, acima de tudo, você não estaria na minha frente agora como Tom Riddle, você estaria como Voldemort, aquele que eu conheci no cemitério e que eu não vi como foi derrotado. Você não teria me dado oportunidade alguma de te enfrentar porque Voldemort não tem nenhum sentimento por mim, como diversos livros escrevem. Quem tem algum sentimento por mim é você, Tom Riddle, mesmo que não admita isso. E eu sei que você não quer, nunca quis fazer mal a mim e por isso não me matou, queria me manter viva até o último momento que fosse. E sabe por quê?”

“Porque eu te amava.- ele mesmo falou e admitiu, quebrando com suas próprias palavras, anulando sua própria maldição.”

“Exatamente. Assim como eu te amei, Tom. E, além do mais, os mortos não podem voltar. Lembranças voltam, lembranças são revividas como eu estou revivendo esta. Mas os mortos jamais voltam à vida, você já morreu, não pode mais voltar, nem se você quisesse, nem se eu quisesse, ou a Sarah ou os comensais de Voldemort.”

“Você fala como se eu não fosse Voldemort.”

“E não é. O Tom que eu conheci, você, não era Voldemort. Voldemort veio anos depois e eu só o vi uma vez, e não era você.”

Virgínia jamais entenderia o poder daquelas palavras ou o efeito que elas tinham sobre Tom Riddle. Não saberia como fora capaz de intimidar um fantasma que já lhe fizera sofrer tanto e que causava tanto medo nela, por conta de palavras que, só agora, ela entendia que não significavam nada. Ela jamais saberia o porquê ou como Tom sumira naquele dia, sem dizer palavra alguma, apenas deixando uma frase escrita em seu diário.

“Obrigado pela liberdade.”

“Ele foi embora, mamãe?”

“Ele se arrependeu, Sarah. Acabou.- ela disse, dando um beijo na testa da filha- Vamos sair daqui.”

Sarah sorriu para a mãe e acompanhou-a até a saída da câmara.

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“VOCÊ ESTÁ LOUCO!- ele gritou mais uma vez.”

“Sim, Freak, tenha a certeza de que neste momento eu estou louco. Você não tinha o direito de tocar num fio de cabelo da Kathy, ainda mais como você a tocou.”

“Veio defender a sua amiguinha ridícula?”

“Não, Freak. Infelizmente quando ela precisou de defesa eu não estava lá para fazê-lo. Agora eu vim aqui para acertar as contas com você. Quem precisa de defesa agora, Freak, é você.- Peter sentiu uma onda elétrica invadir o seu corpo e sua raiva aumentar ainda mais.”

“Idiota!”

“É só isso o que você sabe fazer, Freak? Me agredir verbalmente? Você vai precisar de mais do que isso para me afetar. Mobilli corpus!- num instante o corpo de Albert estava flutuando no ar- ESTRONDO!- e no outro estava sendo arremessado contra a parede do castelo.”

Albert bateu com força contra a parede, caindo estendido no chão. Tentou se levantar, mas seus esforços eram inúteis. Em segundos Peter estava próximo a ele, com a varinha apontada para sua garganta, apertando-a contra o pescoço dele.

“Suas últimas palavras antes que eu acabe com você.- Albert juntou forças e cuspiu na cara de Peter- ótimo, como sempre palavras nojentas para um estúpido asqueroso. Ava...”

“PETER, NÃO!- Peter sentiu alguém agarrá-lo e tirá-lo de perto de Albert.”

“PAI, ME SOLTA!”

“Não, Peter. O Albert não merece tanta importância. Acredite que agora ele vai receber o que merece. Deixe que eu o levo até Dumbledore. Vá cuidar da Kathy... Haward me disse o que aconteceu.”

“Sinto que tenho que lutar contra o tempo... Sei que a cada minuto sem uma atitude minha me distancio mais do meu destino... mas o tempo não espera por mim e a vida também... porque não consigo? Desta vez não são dúvidas que tenho.. mas sim a agonia de ter que lutar contra o tempo e não conseguir. E pode já ser tarde de mais...- ele pensou.”

Peter guardou a varinha nas vestes e correu de volta ao vestiário. Aidan ainda estava lá junto com Kathy, esta que continuava encolhida a um canto, tremendo.

“Haward veio aqui e eu falei pra ele o que tinha acontecido. Pedi que ele fosse te procurar e não te deixasse fazer nada de errado.- Peter sorriu para o irmão.”

“Obrigado, você fez bem. Ele falou pro pai. Chame a mamãe pra mim e peça que ela me encontre na Ala Hospitalar. Conte o que aconteceu, ok?- Aidan assentiu e já ia saindo quando voltou-se novamente para o irmão.”

“Eu encontrei isso no chão. Acho que a Kathy escreveu pra você, tem o seu nome.- Aidan estendeu um envelope azul para Peter- Eu não li.- e saiu.”

“‘Querido Pete – Dezembro – Sexto Ano’- Peter leu, vendo que aquela carta nunca chegara às suas mãos, em quase um ano e meio.”

Ele guardou a carta dentro das vestes e aproximou-se de Kathy. Ela tremia bastante e escondia o rosto nos braços. Ao mínimo toque ela retraía-se.

“Kathy, vamos, eu vou te levar para a Ala Hospitalar...vai ficar tudo bem agora...”

A garota deixou que Peter a pegasse ao colo e a levasse para a Ala Hospitalar. Ela não falou nada em nenhum momento que Peter lhe fez alguma pergunta, e o rapaz presumiu que ela estivesse em choque por causa do que ocorrera, não insistiu mais depois de algum tempo.

“Fique aqui, Sr. Malfoy. A sua presença lá dentro só vai atrapalhar.- a enfermeira falou.”

“Mas...- ele insistiu.”

“Sem ‘mas’, Sr. Malfoy.- ela falou e fechou a porta da enfermaria.”

Peter sentou-se inconsolável no banco na frente da enfermaria. Pegou a carta nas suas vestes e ficou olhando para ela durante algum tempo, tentando entender por que Kathy não entregara para ele no natal do sexto ano. Abriu-a e viu a letra caprichosa da garota.

“Querido Pete,

O toque é algo mágico, indefinível. Pode ser suave como uma pétala, belo como o amanhecer, delicado como uma flor, sutil como a essência de uma pérola.

Cada pessoa possui um toque que lhe é próprio. Pode ser amoroso, tranqüilo, forte, mas sempre e sempre será a maneira única, pessoal e intransferível de expressar a si mesmo. Com o toque aprendemos a amar.

Não se toca somente com as mãos. Toca-se com o pensamento, as sensações, a unicidade das idéias; em estar juntos, nesta amizade. Toca-se com os lábios, num deslizar suave de uma carícia; com o olhar...

Não tocamos a brisa, mas ela vem e brinca em nossos cabelos; não tocamos os raios de sol, mas somos por ele tocados.

O toque, sem que percebamos, é um dom que possuímos, perpetuando-se infindo, pleno, feliz, pois enquanto houver um toque de amizade, haverá uma beleza sutil, como a de uma perfeita sinfonia inacabada...

Com amor,

Kathy

PS: Quando o mundo parecer rancoroso, seja paciente e perseverante, para que sempre voltem os momentos de bondade e amor. Busque o vento para o seu sonho, depois deixe seu coração voar livremente...

Cada dia que amanhece traz esperança e oportunidade de fazer os sonhos se tornarem realidade. Existe mágica na passagem do dia para a noite... Assim como as cores que se desfazem no crepúsculo, trazendo esperança para um amanhã radiante...”

Peter leu e releu a carta diversas vezes, sem tentar conter as lágrimas que insistiam em rolar pelo seu rosto. Sentia como se tivessem arrancado uma parte essencial para a sua vida, e sem ela ele ficava incompleto, vazio. Nada que ele pensasse fazia mais sentido.

Ele sentiu uma mão pousar em seu ombro e viu sua mãe, olhando-o com carinho e compreensão. Abraçou-a, buscando algum conforto e proteção, parecendo uma criança amedrontada, chorando assustada.

“Eu sou um idiota, mãe. Eu devia ter dado mais atenção a ela...foi culpa minha tudo isso...”

“Não foi culpa sua, Peter, não fale isso. E a Kathy vai ficar bem, você vai ver.”

“Se eu tivesse estado com ela, mãe...se eu tivesse dado valor à nossa amizade como ela dava...nada disso teria acontecido...”

“Ou teria sido pior, Peter. Nós nunca saberemos o que teria sido. Não se martirize por algo que não é sua culpa. Vamos para o castelo, não vai adiantar nada você ficar aqui na frente da enfermaria. Não vão te deixar entrar pelos próximos dois dias, acredite.”

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Peter sentia-se aliviado por saber que finalmente as palavras de Voldemort não tinham mais nenhum efeito sobre a sua mãe. Ouvi-la contar como tudo terminara, na Câmara Secreta, fora realmente fascinante, e ele finalmente soubera que, quanto àquela questão, tudo ficaria bem, ou melhor, tudo já estava bem.

No entanto, ele ainda sentia-se vazio por conta de Kathy. Os dois dias passaram-se vagarosamente e a cada segundo ele tinha mais certeza de que estavam escondendo algo dele, e que Kathy não estava mesmo bem, ou ficaria bem, como a sua mãe ou a enfermeira diziam.

“Peter,- o rapaz olhou para a mãe- disseram que você já pode ver a Kathy lá na enfermaria.”

O rapaz não soube o tamanho do sorriso que dera ou como ficara feliz com aquelas palavras. Sem dizer nada ele correu até a Ala Hospitalar. Parou na porta, sendo barrado pela enfermeira.

“Ela está dormindo ainda, e continuará assim por alguns dias, mas ela vai ficar bem. Entre e fique durante alguns minutos, sem fazer barulho ou qualquer coisa que possa atrapalhá-la. Vai depender do seu comportamento de agora a sua visita a Kathy nos próximos dias, estamos entendidos?”

“Certamente que sim.”

Ele entrou e logo avistou a cama em que Kathy estava deitada. Aproximou-se e viu que ela ainda estava com o olho um pouco roxo, um dos braços enfaixados com algumas taras, uns poucos cortes no outro braço e no rosto.

Não é que ele não estivesse mais com raiva ou ódio de Albert Freak, mas a expulsão dele do colégio, com apenas um mês para ele se formar valera por Peter não ter feito algo pior com ele. Mas agora não importava.

Kathy era muito mais importante do que qualquer outro naquele momento. E seria a mais importante dali por diante. Ele passou carinhosamente a mão pelo rosto dela e beijou-lhe delicadamente o alto da cabeça, prometendo que a partir daquele momento a protegeria de todo o mal que pudesse haver.

“A enfermeira disse que o Albert não fez nada com ela.- alguém falou atrás de Peter. O rapaz olhou e viu Ephran- Nada no sentido...bem, ele apenas tentou e quando ela tentou se defender ele bateu nela. Parece que ele realmente tentou alguma coisa, por causa das roupas rasgadas e tudo, mas a enfermeira garantiu que ela conseguiu se defender até ele desistir. Mas ela acabou ficando em choque...e a enfermeira disse também que ela provavelmente não vai ficar traumatizada...o que é bom. Mamãe e papai já sabem, mas Dumbledore só deixou que eles viessem para Hogwarts quando Kathy acordasse.”

“Ela vai melhorar...- Peter riu sem graça- Ela vai ficar bem...”

“Tenho certeza que sim.- o garoto deu um beijo na testa da irmã e olhou novamente para Peter- Vou deixar você sozinho com ela. Depois eu volto.- e saiu.”

Peter viu Ephran sair e fechar a porta da enfermaria, em seguida apanhou um pergaminho e uma pena sobre uma das mesinhas da enfermaria e postou-se a escrever.

“Querida Katherine,

Se eu soubesse que essa seria a última vez que eu veria você dormir, eu aconchegaria você mais apertado e protegeria você.

Se eu soubesse que essa seria a última vez que veria você sair pela porta, eu abraçaria, beijaria você, e chamaria você de volta para abraçá-la e beijá-la uma vez mais.

Se eu soubesse que essa seria a última vez que ouviria sua voz, eu filmaria cada gesto, cada palavra, para que eu pudesse ver e ouvir de novo, dia após dia.

Se eu soubesse que essa seria a última vez, eu gastaria um minuto extra ou dois, para parar e dizer: “EU TE AMO”, ao invés de assumir que você já sabe disso.

Se eu soubesse que essa seria a última vez, eu estaria ao seu lado, partilhando o seu dia, ao invés de pensar: “Bem, eu tenho certeza que outros dias virão, então eu posso deixar passar esse dia.”

É claro que haverá um amanhã para se fazer uma revisão, e nós teríamos uma segunda chance para fazer as coisas da maneira correta.

É claro que haverá um outro dia para dizermos um ao outro “EU TE AMO”, e certamente haverá uma nova chance de dizermos um para o outro: “Posso te ajudar em alguma coisa?”

Mas no caso de eu estar errado, e hoje ser o último dia que temos, eu gostaria de te dizer O QUANTO EU AMO VOCÊ, e espero que nunca se esqueça disso.

Com amor e carinho,

Peter W. Malfoy”

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Peter sentou-se na orla do lago, com os pés na água, e observou atentamente a lua refletida na água. A brisa fresca bagunçava seus cabelos, mas ele não se importava com isso. Deixou que as lembranças tomassem conta de sua mente e não prestou atenção em mais nada.

“Peter?- Kathy chamou, tirando olhos do livro de figuras e parando de colar as figurinhas.”

“Uhm?- o garoto não tirou os olhos do livro ‘Quadribol através dos Séculos’.”

“Você me ama?- ela perguntou, num tom que não dava muita importância à pergunta. Ainda sem tirar a atenção do livro, Peter respondeu:”

“Você é minha amiga, não é? Te amaria mesmo que não quisesse. Aliás, é minha melhor amiga. E todos gostam de você.”

“Isso não é verdade. Albert não gosta de mim.”

“Albert não gosta de ninguém, só dele mesmo.- era incrível como Peter falava sem tirar a atenção do livro- Olhe só!- ele sorriu, apontando para uma foto no livro- Minha mãe foi apanhadora durante um ano e só depois devolveu o cargo para o seu pai.”

“Como você sabe que tem isso escrito aí?- ela questionou- Você não sabe ler...- ele sorriu, de um modo muito ingênuo e infantil.”

“Mamãe me contou isso e eu imagino que essa foto, com ela vestida com roupa de quadribol e o pomo na mão deva significar isso. Você sabia disso?- a garotinha não respondeu. Peter ficou alguns segundos olhando para ela e depois atentou-se novamente ao ‘Quadribol através dos Séculos’.”

“Peter,- ela falou, com a voz distante. Ele murmurou algo ininteligível e ela prosseguiu- Você já beijou alguém?- ele levantou a cabeça e fitou a amiga, pensativo. Não pareceu alarmado com a pergunta.”

“Uhm...eu beijo a minha mãe, a sua, as minhas avós...a Bonnie sempre me beija. Eu beijo todas elas.- a garota riu.”

“Eu não quero dizer adultos, Peter. Se for por isso eu já beijei o meu pai, o seu, os seus avós...”

“Então o que é?”

“Quero dizer beijar alguém da nossa idade. Você já beijou uma garota? Na boca?- Peter fez uma careta que transmitia profundo nojo ao que a amiga acabara de falar.”

“Isso é nojento, Kathy. E eu só tenho quatro anos...não tenho experiência de vida...”

“Eu já vi o papai beijando a mamãe e eles pareciam estar gostando.”

“Olhando por esse lado, mamãe e papai se beijam sempre.”

“Então, ainda acha que é nojento?”

“Não sei.- Peter ficou de frente para Kathy e segurou as mãos dela- Posso ver por mim?”

Kathy sorriu, ao que, com toda a inocência de criança, ambos fecharam os olhos e deixaram que seus lábios se unissem num beijo infantil e doce, num selar de lábios, fazendo com que, naquele momento, o sentimento mais puro e nobre nascesse em seus corações, o amor.

“Não é nojento.- ele disse- E agora?”

“Eu não sei...”

“Eu também não sei.”

Ficaram algum tempo em silêncio, sem saber o que fazer a seguir. Foi então que Peter levantou-se e foi até a escrivaninha de seu quarto. Apanhou uma tesoura e cortou duas tiras de papel, uma rosa e outra azul. Colou as pontas, formando uma espécie de anel de papel.

“O que é isso?- ela perguntou, curiosa.”

“Anéis de compromisso.- ele falou seriamente, ao que Kathy riu.”

“Compromisso? Vamos nos casar?- perguntou, com um tom de nítida brincadeira.”

“Não agora. Agora é só a promessa. Mas daqui alguns anos, vários anos, com certeza nos casaremos.- Peter pegou a mão direita de Kathy e botou o anel rosa no dedo anelar- Isso é só o noivado. Agora você bota o anel azul nesse dedo.- e ele mostrou o seu próprio anelar direito.”

“Certo- ela colocou o anel no dedo dele- Estamos noivos. E agora?”

“Eu não sei o que acontece depois...”

“Eu também não sei.- e os dois caíram na gargalhada.”

“Bem, vamos continuar lendo.”

“Nós não sabemos ler, Peter, temos quatro anos e acabamos de ficar noivos. Vamos continuar vendo as figuras dos livros.”

“Isso...talvez os noivos façam algo parecido.- e os dois puseram-se a, novamente, olhar os desenhos e figuras dos livros.”

Peter riu diante da lembrança e da promessa de infância, já esquecida há muito tempo, mas que voltara num ótimo momento.

O rapaz apanhou o pergaminho e a pena ao seu lado, atentando-se ao pedaço de papel e lembrando-se de uma frase de Kathy que fazia muito sentido:

“A pintura era uma das suas maiores paixões, Peter, o que aconteceu? Por que você não volta a pintar seus quadros?”

E Kathy tinha toda razão. Do nada ele parara de pintar, do nada ele abandonara a sua paixão pela pintura, a sua forma mais intensa de se expressar. E agora que ele se perguntava porque parara, não encontrava resposta alguma.

Peter rabiscou alguns traços no pergaminho, linhas leves e muito claras, delicadas, que aparentemente não significavam nada, mas assim que ele rabiscou mais, cada vez mais rápido e com mais precisão, ele pôde ver o rosto de Kathy desenhado, sem nem mesmo pensar em desenhá-lo.

A garota sorria do modo como ele se lembrava que ela sorria quando criança. Os traços do rosto eram finos e delicados como ele jamais esqueceria.

“Não deveria ter abandonado os desenhos, Peter... você desenha divinamente...- a voz soou doce ao pé do seu ouvido e ele virou-se rapidamente, fitando os olhos incrivelmente azuis de Kathy fixos nele- Até parece que sou eu...”

“É...é você...- ele sorriu e abraçou-se a Kathy, caindo por cima dela na grama. Ela retribuiu o abraço e os dois rolaram na grama, até que ela ficasse por cima dele.”

“Estava com saudades de você...”

“Eu também, Kathy, e não sabe o quanto estou aliviado por você estar aqui...tão bem...”

Kathy sentou-se na grama e Peter ficou de frente para ela. A garota sorriu e ficou olhando atentamente para o amigo, como se tentasse ver mais do que o físico simplesmente. Ela observou os cabelos ruivos dele, caindo sobre os olhos, a face com traços fortes e visivelmente feliz...mas, naquele momento, o que mais chamou a sua atenção foram os olhos: castanhos quase pretos, ou muito vermelhos, ela não soube dizer exatamente. Mas ela viu muita raiva estampada naquele olhar escuro.

“Seus olhos...- ela falou- ...estão diferentes...escuros...”

“Minha mãe disse que quando a raiva passar eles voltarão a ser azuis...”

“Raiva?”

“Do Albert, por ele ter feito o que fez com você.”

“Por ele ter tentado, você quer dizer.”

“Não, Kathy, por ele ter feito. Ele pode não ter conseguido, e graças a Merlin não conseguiu, mas ele tocou em você, ele bateu em você e isso eu não vou perdoar nunca. Eu queria tê-lo matado... Me perdoa por não ter estado lá para impedir...para te proteger...- Kathy levou a mão à face do amigo, passando os dedos levemente.”

“Ainda bem que não o fez, Peter, ou teria sido pior.”

“Mas ele merecia.”

“Sim, mas você não. O que temos que pensar agora é que tudo acabou e estamos bem. Não é? E eu não preciso te perdoar de nada, obrigada por você ter estado lá, de alguma forma...- Peter riu e apanhou a mão de Kathy, beijando.”

“Amigos, então? De novo?- ela sorriu timidamente.”

“De novo e para sempre.”

N3/Rbc: a promessa de infância que Peter fez a Kathy está escrita há muito tempo (acreditem, faz uns 2 anos que eu a escrevi...no início de 2003) e estava planejada para a continuação de outra fic, que eu perdi qd meu pc quebrou...daí eu resolvi posta-la aqui...

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