Canção de Ninar



Laços de Vida

Capítulo OITO

"Canção de Ninar"

"Peter...Peter...- Kathy chamou, passando a mão pelos cabelos dele, tentando acordá-lo da melhor maneira possível- Peter...acorda...anda...- o rapaz abriu os olhos, fechou-os novamente e apoiou a cabeça no livro aberto- Vamos, Peter...está tarde, já passa das três e se nos pegam aqui não será legal...Peter...- ele acordou, abriu os olhos e olhou diretamente para o livro, depois para Kathy, um tanto atordoado."

"O livro...- ele apontou para o livro e Kathy riu."

"Sim, é ‘Hogwarts, uma história’, você o lê desde os onze anos, Peter, não sei como você ainda não o decorou. Vamos."

"Eu o decorei, mas ele tem sido importante para umas coisas..."

"...o bruxo, uma vez tão temido, já tivera sentimentos mais profundos pela então pequena Gina Weasley. Implica ... um grande amor reprimido..."

Ele leu um último trecho no livro e enfeitiçou-o para que se guardasse sozinho na estante da biblioteca.

"E você, o que está fazendo aqui? Como me achou aqui?"

"Mapa do Maroto, não é óbvio? São três da manhã, Peter, se a bibliotecária chega de manhã e te pega aqui, você certamente pegaria uma bela detenção."

"Então o que eu tenho a fazer agora é te agradecer por ter me acordado, não é?"

"Que bom que você tem a mim.- ela se vangloriou."

"Certo, mas você ainda não disse o que estava fazendo fora da torre às três da manhã."

"O mesmo que você fazia antes de ir para a biblioteca. Só não era com a Anna obviamente."

"Eu estranharia se fosse.- os dois riram- John?"

"Sim, o mesmo de alguns meses, quase dois anos, como você com a Anna."

"Eu sei dessas informações. Anda lá, vamos dormir que eu estou morto."

"Está tudo bem com você, Peter?"

"Tudo ótimo."

"Eu não creio em você, Peter.- o rapaz franziu o cenho e olhou para a amiga- Eu te conheço como ninguém. Talvez só a sua mãe te conheça mais do que eu, mas eu conheço cada expressão do seu rosto e cada brilho no seu olhar. E o seu brilho atual não está me dizendo que está ‘tudo ótimo’.- Peter lançou um olhar significativo para Kathy."

"Faz tempo que não conversamos, Kathy."

"Sim, faz algum tempo."

"Está tudo confuso demais, sabe? Tenho brigado muito com a Anna e não sei quanto tempo mais nosso namoro vai durar."

"Se ela te traísse você gostaria de saber?- ela perguntou ao acaso, sem dar muita importância. Peter pareceu considerar sua resposta durante vários minutos."

"Por ela.- ele falou- Eu não gostaria que outra pessoa viesse me contar, me sentiria ridicularizado e humilhado por isso. Se ela me contasse haveria perdão."

"Vocês já conversaram sobre o que está acontecendo?"

"Ela não quer conversar, eu quero falar, daí nós brigamos. Não é a mesma coisa. Até a nossa relação, Kathy, está confusa."

"Parece que nossa relação não é a mesma de antes."

"É a mesma sim, Kathy. Ainda podemos conversar sobre tudo, ainda somos melhores amigos."

"Mas nós crescemos, Peter, e somos muito diferentes. Nós não ficamos mais o dia juntos como era lá no Instituto, não brincamos com tintas porque você não pinta mais. A pintura era uma das suas maiores paixões, Peter, o que aconteceu? Por que você não volta a pintar seus quadros? Nós não conversamos porque...bem...porque temos uma vida diferente agora, conhecemos outras pessoas, você se apaixonou..."

"E você...não se apaixonou pelo John?"

"Ele cuida muito bem de mim e me trata bem, mas não é ele...bem...a conversa não é essa...- ela riu- O fato é que por algum motivo não é mais a mesma coisa, Peter."

"Mas nós teremos que lidar com as diferenças..."

"Eu estou tentando isso há dois anos, Peter, quando você começou a namorar a Anna. Mas parece que depois que isso aconteceu nós duas começamos uma batalha pela sua atenção e vivemos constantemente lutando por ela. E parece que ela vem ganhando...- ela deu de ombros e sorriu tristemente."

"Não é verdade, Kathy. Eu sei que de uns tempo para cá você e a Anna não tem se entendido, mas eu não imaginei que fosse por minha causa..."

"Não era para ser assim, Peter. Eu quis que fôssemos apenas você e eu, mas era só um sonho de criança, um sonho bobo e infantil."

"Não é infantil."

"É sim, Peter, porque nada é para sempre. Nem contos de fada são para sempre e talvez nossa amizade também não seja, não tem sido há dois anos."

"Não fala assim, Kathy."

"Eu falo porque é assim. Nós crescemos, agora temos quinze anos, mudamos nosso conceito sobre tudo e todos, ficamos diferentes, aspiramos coisas diferentes. Há quanto tempo nós não ficamos assim, no meio da noite conversando na orla do lago? E não ficamos por quê? Faz meses, Peter, e tudo porque a Anna acha que eu vou te roubar dela."

"Ela tem ciúmes de você."

"Sim, quando na verdade eu tenho mais direito de ter ciúmes de você com ela do que ela de você comigo."

"E você tem, Kathy?- a garota ficou calada e Peter viu que ela começara a chorar. Então ele a abraçou, tentando confortá-la."

"Eu só queria que tudo fosse como antes, Peter, apenas você e eu..."

"Agora somos só você e eu, Kathy.- ele deu um beijo no alto da cabeça dela- Se acalma."

"Hush my love now don’t you cry

Everything will be all right

Close your eyes and drift in dream

Rest in peaceful sleep"

"""""""""""""""""""""""""

"Gina sentia seu corpo inteiro doer. Era sufocante e insuportável demais para ela agüentar por muito mais tempo.

"DRACO!- ela gritou, sentindo seus joelhos cederam e baterem contra o chão. Seu ventre doía, agora, mais do que nunca."

Ela sentiu algo viscoso e quente escorrer por entre suas pernas, e seu desespero apenas aumentou quando ela constatara que era sangue. Uma quantidade abundante de sangue acumulava-se no tapete da sala."

"Ao primeiro salvarás, e este será tua fortaleza, tua vida"

"Ela aproximou-se lentamente, sentando-se numa poltrona logo atrás deles. Inconscientemente ela levou a mão à barriga, sentindo, vez por outra, o bebê de cinco meses mexer-se.

Alguns minutos se passaram até que, de repente, Peter olhou para a mãe, parecendo assustado. Draco olhou para a mulher, notando-a ali, e sem entender muito o olhar do filho, apenas sorriu.

Gina mordeu os lábios, sentindo uma pontada forte no seu ventre. Peter correu para a mãe, segurando-lhe a mão com carinho, na tentativa vã de fazê-la acalmar-se.

"Draco...- ela arfou, segurando a barriga."

Ele olhou para o ventre da mulher e viu que o sangue que escorria das pernas dela já se acumulava na poltrona e em suas vestes."

"O segundo não chegarás a ver."

"Aposto como você não consegue acertar o amarelinho do canto esquerdo...- ele apontou um mínimo balão amarelo num dos cantos, rodeado por três enormes balões verdes. Ela riu debochada."

"Flecha!- uma fina flecha transparente saiu de sua varinha e acertou em cheio o balão amarelo, liberando, sobre a tela, tinta da mesma cor.- Você está falando com uma profissional, Potter, esqueceu?- ela terminou com um longo suspiro, e levou novamente a mão à barriga, sentindo mais uma vez uma pontada, mais forte do que a primeira- Harry..."

Harry virou-se rapidamente para Gina, ao ouvi-la chamar seu nome de um jeito quase que suplicante. Ele olhou-a de cima a baixo rapidamente, parando a vista no avental dela: a cor vermelha intensa cobria as demais cores que antes manchavam o tecido.

"Me leva pro hospital...- ela continuou, sua voz chorosa e desesperada- agora...- antes de cair no chão, sentindo-se dolorida demais para continuar de pé."

"Já ao terceiro, nada se pode dizer, vitória perdida"

"Sabe,- uma voz falou atrás dela, fazendo-a virar-se- uma tradição persa diz que durante uma noite elege-se um rei ou uma rainha, e este decidirá que rumo tomará uma conversa.- era Draco quem falava."

Gina fitou os olhos dos ex. marido, notando um brilho especial neles. Estava belo, como sempre, mas muito mais charmoso e atraente. Ela adorava quando ele deixava o cabelo sem gel, de modo que caísse sobre os olhos, dando-lhe um ar sensual. E combinava seus cabelos loiros com uma elegante veste escura, geralmente pretas.

Ela viu-o colocar duas garrafas sobre o parapeito da sacada, uma de vinho e outra de água, e duas taças ao lado.

"Se o rei ou rainha encher uma das taças com mais água, significa que só tratarão de assuntos importantes. Se colocar o mesmo tanto de água e vinho, tratarão de assuntos importantes e agradáveis. Mas se encher de vinho, o assunto será apenas o mais divertido, para ambos. Você é a rainha da noite, Virgínia."

"Proponho um brinde.- ele falou, erguendo a taça- À nossa felicidade."

"Perfeito."

"Se eu te pedisse para dançar comigo- ela falou, ao que ele desviou sua atenção para ela- você aceitaria?"

Ele largou a taça de vinho que segurava e virou-se para ela. Lançou-lhe um olhar charmoso e sorriu-lhe, pela primeira àquela noite. Naquela hora, Gina viu o seu Draco parado à sua frente. Ele estava ali, afinal. O cabelo como ela gostava, caindo sobre os olhos, o brilho carinhoso no olhar cinzento, o sorriso romântico e sensual em seus lábios. Ali estava o Draco Malfoy com quem se casara, que a fizera feliz durante anos...e não aquele que a deixara e que a fizera chorar...

Draco ouviu um belo tango começar a tocar. Apanhou uma rosa, colocando-a sensualmente nos lábios, e agarrou Gina pela cintura, colando o corpo dela ao seu.

Ela sorriu para ele, sentindo seu cheiro inebriá-la, como há muito não sentia. Ficou trêmula nos braços dele e seu coração disparou, tamanha proximidade. Ele ainda mantinha o mesmo cheiro doce e excitante. Gina apanhou a flor dos lábios de Draco, com os seus próprios lábios, e lançou-lhe um olhar instigante, afastando-se dele em seguida, para logo chamá-lo com o indicador.

Tango. Esta era provavelmente a dança mais sensual que podia existir.

Em instantes, Draco apreciava com carinho e, ao que Gina pôde ver estampado no brilho dos olhos cinzas dele, amor.

Um amor que há muito ela não via. Havia doçura e paixão, misturados com excitação e desejo. Era aquele brilho típico de quando os dois ainda eram casados. Um sentimento que os aquecia e os completava. Uma unção de corpos, um transbordamento de almas...

Nenhum dos dois falou nada, nem em consentimento e muito menos em protesto. Apenas deixaram-se levar pelos seus corações, que agora ordenavam que juntassem seus corpos logo, que se fizesse um do outro novamente, depois de tanto tempo separados."

"O quarto será concebido durante os desconexos de uma noite

E a este, chamarei de meu filho"

"Amor...acorda..."

"Eu não quero levantar da cama, Draco...está tudo doendo...deixa eu ficar aqui..."

Draco abaixou-se até que seus olhos ficassem na altura dos olhos da mulher. Gina encontrava-se na cama ainda, coberta por diversos cobertores. O homem olhou para a janela e viu que fazia sol, e o seu próprio corpo denunciava o calor do dia. Ele desembrulhou a mulher, ouvindo-a reclamar, e sentou-se ao lado dela, colocando sua mão em sua testa.

"Vi...você está ardendo em febre...- ele falou preocupado."

"Está tudo doendo...- ela falou chorosa e Draco abraçou-a, sentindo que o corpo dela estava mais febril e mais mole do que ela pensara- Faz a dor parar, Draco, por favor..."

"O que tanto dói, meu amor? Diz...- Draco pediu, quase implorando."

"Minha cabeça...meu corpo...tá doendo...- ela reclamou e Draco colocou-a na posição mais confortável que encontrou- faz parar?- ela pediu."

"Vou chamar alguém que faça, meu amor- Draco passou com pressa pela porta, quase esbarrando nos gêmeos, que estavam parados apenas observando atentamente."

"O que você fez com ela, Sarah? Por que tinha que fazer isso depois de tanto tempo? Já não estava tudo bem?- Sarah olhou para o irmão de uma forma indiferente."

"Não fui eu quem fiz, se quer saber. Mamãe esteve muito bem durante estes dois anos, eu não fiz nada e continuo sem fazer."

"Então por que ela está assim? E ela não esteve realmente bem durante todo esse tempo. Já faz muito tempo que a mamãe não está bem e você sabe disso. Por que ela está assim, diz?"

"Eu não sei, Aidan. Todo mal que acontece com a mamãe não é culpa minha, é? Aliás, eu não me lembro de já ter causado algum mal a ela."

"Você não lembra, mas eu lembro bem quando ela ficou muito tempo triste, sem se importar com nada e você disse que não tinha sido você, e sim ‘Ele’. Quem é ‘Ele’, Sarah?- a garota, de nove anos, fitou profundamente os olhos azuis do irmão e pensou por algum tempo."

"O passado da mamãe. É só isso que você precisa saber agora.- ela disse e saiu, enquanto Aidan foi para junto da mãe e segurou-lhe a mão com carinho, tentando fazer a dor parar enquanto cantava baixinho uma música, no ouvido dela."

"If there’s one thing I hope I showed you

If there’s one thing I hope I showed you

Hope I showed you

Just give love to all"

Quando Draco chegou, sorriu com a cena que vira. Virgínia olhava atentamente para Aidan, fitando os olhinhos azuis e carinhosos do filho e parecia, por um momento, ter esquecido da dor. Aidan olhava para a mãe também e continuava a cantar baixinho e a sorrir para ela.

"Eu já chamei a Luna, meu amor, ela chega em alguns minutos.- ele falou, dando um beijo no rosto dela. A mulher não falou nada, continuou prestando atenção no filho."

"""""""""""""""""""""""

Peter acordou na Ala Hospitalar naquela manhã, sem saber exatamente o que acontecera. Olhou para os lados e viu Kathy sentada ao pé da sua cama, olhando-o atentamente.

"Olá, bom dia, Sr. Weasley Malfoy, como se sente agora?- ela perguntou, com um sorriso."

"Quebrado...estou todo dolorido...o que aconteceu?"

"Eu esperava que você me dissesse.- Peter franziu o cenho- Nós acabamos dormindo na orla do lago, e antes de amanhecer você começou a reclamar de dor. Eu te trouxe para cá e a enfermeira te deu uma poção analgésica. Dormiu como um anjinho."

"E você ficou aqui o tempo todo?"

"Queria o quê? Que eu fosse embora e te deixasse sozinho? Claro que não. Eu não ia perder a chance de te ver de camisolinha de hospital.- Peter olhou para o seu corpo e viu que apenas o que o tampava era um pedaço fino de tecido, aberto na parte de trás."

"Ela tirou minha roupa?"

"É o que parece."

"Ela viu alguma coisa?"

"Eu acho que não, mas não tenho certeza, acho melhor você mesmo perguntar...- ela sorriu e ele fez cara feia."

"Aproveitam-se da debilidade de um doente. Céus, onde o mundo vai parar?- Kathy apenas riu da cara indignada do amigo."

"Você se lembra de alguma coisa? Sonho? Pesadelo?"

"Imagens, borrões, nada muito certo, a não ser palavras...se quer saber acho que foi minha mãe quem teve pesadelos essa noite e se meu palpite estiver certo ela não se lembra do que sonhou."

"Você quer dizer que se lembra mais do que o que ela sonhou do que ela mesma?"

"Mais ou menos. Vamos pôr nos seguintes termos: ela bloqueou algumas lembranças, e quando elas tentaram entrar nos sonhos dela, foram desviadas para mim."

"Estranho..."

"Sim, muito. Mas o que na minha vida não é estranho, esquisito, sombrio ou algo do tipo?- ele falou, num sorriso, logo depois reclamando da dor que sentira ao virar de lado."

"Você tem razão. Mas tudo que é estranho acaba se tornando normal algum dia, porque tudo que é estranho muda, e sua vida vai mudar, Peter. Ou melhor, a vida da sua família vai mudar e você não vai ter que se preocupar tanto com ela como você se preocupa. Sabe, essa história toda de Voldemort que vem te assombrando há anos, isso vai acabar."

"Eu tenho certeza que sim.- Kathy levantou-se, vendo a cara de sofrimento que Peter fazia cada vez que se mexia, e arrumou o travesseiro da cama, para que ele ficasse na posição mais confortável."

"E não se preocupe, a enfermeira garantiu que daqui a pouco a dor passa."

""""""""""""""""""""""

Draco permaneceu abraçado a Gina até o momento em que Luna chegou e obrigou-o a sair do quarto, para que ela pudesse examiná-la direito. Vários minutos depois Luna chamou-o.

"Então?"

"Ela está bem."

"Como assim, está bem? O que houve com ela?"

"Basicamente nada. Ao que eu suponho foi apenas o modo como ela dormiu, ou talvez ela tenha tido pesadelos durante a noite que deixaram-na agitada. Fora isso sua mulher está ótima. E está dormindo.- Draco suspirou."

"Por um instante eu pensei que fosse começar de novo. Agora que a Sarah está aqui em casa..."

"Se começar de novo, Draco, apenas acredite no amor que você tem pela Gina, no amor que o Peter e o Aidan tem por ela e também no amor que a Sarah tem por ela. O amor é o pior feitiço que existe, ao mesmo tempo que é o maior deles. Palavras do sábio Merlin.- dizendo isso Luna desaparatou."

Draco entrou no quarto e viu a mulher dormindo tranqüilamente, abraçada ao lençol como se buscasse algum tipo de proteção. Ele deitou-se ao lado dela e abraçou-a por trás, como gostava de ficar sempre com ela em seus braços. E em poucos instantes ele adormeceu.

"Oh my love in my arms tight

Every day you give me life

As I drift off to your world

Rest in peaceful sleep"

"""""""""""""""""""""""""

"Você está prestes a começar uma briga de novo."

"Não, Anna, você está. Mas quem tinha que estar bravo aqui era eu, não acha?"

"Peter, você não entende..."

"E eu deveria entender? Anna, veja bem o que você fez e veja que eu não posso entender, eu não consigo entender como você foi capaz de beijar o Albert.- Peter falou isso muito calmamente, mas sua voz era fria e venenosa e seu olhar era cinza, opaco e indiferente, vazio."

"Você não vai me perdoar, não é mesmo?"

"Por agora não, Anna. Sem chances. Você sempre soube o que Albert Freak significa para mim. Você sempre soube que ele é a única pessoa nesse mundo que eu posso dizer que odeio. No entanto você foi capaz de ficar com ele enquanto ainda namorávamos."

"Você apenas não enxergou isso, Peter.- ela falou, sem dar importância ao assunto."

"Você nunca me amou, não é?- ela não respondeu e ele considerou o silêncio dela como uma negação à sua pergunta- Ótimo."

"Agora você vai correndo para os braços da sua amiguinha, Peter..."

"E você não imagina como você me fez brigar com ela. Porque ela sabia do seu casinho com o Albert, Anna, e não me contou porque eu disse pra ela que eu não queria que me contassem, porque se rolasse e você me contasse, ainda haveria perdão, e eu briguei com a Kathy por causa disso...deveria mesmo correr para os braços dela, pelo menos ela nunca me traiu."

"Peter olhou para o Mapa do Maroto e atentou-se a um canto, próximo à orla do lago. Havia dois pontinhos, legendados como Anna e Albert. Rapidamente ele foi até a orla, mantendo-se um pouco afastado e escondido pela capa que pedira de Kathy.

O que ele viu foi chocante. Fez seu coração acelerar rápido, ao mesmo tempo que falhava alguns batimentos, deixando-o sem ar e sem reação. Era como se seu mundo caísse e um conto de fadas, no qual achava viver, simplesmente acabasse com um final trágico. Anna beijava Albert de um modo apaixonado, como talvez nunca o beijara. Pela primeira vez ele sentiu o peso e a dor de uma traição.

Saiu correndo dali e foi direto aonde o ponto de Katherine estava, na biblioteca. Aproximou-se lentamente e puxou-a, ainda escondido pela capa, embora Kathy soubesse que era ele.

Quando estavam suficientemente longe de tudo e todos ele retirou a capa e olhou para amiga com um olhar de raiva, misturado com ódio e decepção.

"O que aconteceu...?- Kathy perguntou, com cautela."

"Por que você não me contou?- ele perguntou, com a voz fria, e ela soube imediatamente do que ele falava.- Você acabou com a nossa amizade, Katherine. Você tinha a obrigação de ter me contado."

"Sobre a Anna e o Albert?"

"Há quanto tempo você sabe?"

"Eu não contei porque de acordo com suas palavras, você não gostaria de saber por outra pessoa que não ela mesma, porque seria humilhação. E eu sei desde aquela nossa conversa, Peter, quando você disse essas mesmas palavras. E você não sabe como eu gostaria de ter te contado antes. Você não imagina quantas vezes eu fui até a Anna e disse para ela que se ela não contasse eu mesma contaria."

"Isso faz três meses, Kathy."

"Eu sei que faz. Eu sinto por ter tomado decisões que satisfaziam sua vontade, porque elas não eram as corretas. Eu juro que eu quis te contar, Peter, e hoje, te entregando a capa e pedindo que você me encontrasse na orla, foi um jeito de te mostrar que a verdade estava bem no seu nariz e você não enxergava."

"Eu sou mesmo um estúpido idiota."

"Não, Peter, não é. Você é na verdade um romântico apaixonado que ama algum acima de tudo. Minha mãe me disse que o amor é o pior feitiço do mundo, ao mesmo tempo que é o maior deles, palavras de Merlin. E ela acrescentou que o amor só é o pior feitiço do mundo porque cega as pessoas e não diferencia o que é bom do que é ruim. Mas é o maior deles porque salva. Você apenas estava cego."

"Obrigado por me fazer enxergar, Kathy.- ele agradeceu, já um pouco mais calmo."

"Eu estarei aqui para quando precisar, Peter. Sempre."- Peter ouviu as últimas palavras da amiga e saiu, indo para o salão comunal da Sonserina para esperar Anna por lá, para terem uma longa, séria e definitiva conversa."

"Então por que não vai? Ou melhor, porque não vai se refugiar na barra da saia da sua mamãezinha. Partindo do pressuposto que ela só fica bem quando está com você, talvez você só fique bem quando está com ela, Peter.- então Anna subiu as escadas, deixando Peter sozinho no salão comunal."

Não foram necessárias palavras para dizer aos dois que o namoro de dois anos havia terminado. E, estranhamente, Peter não se sentia como se tivesse terminado um namoro, porque não sentia que tinha perdido alguém. E o amor o deixou confuso, porque por um instante ele perguntou-se se amava mesmo Anna como pensava ou estava apenas entusiasmado demais com ela. No entanto, e mais estranho ainda, o que martelava na sua cabeça, naquele instante, eram as últimas palavras dela.

"Então por que não vai? Ou melhor, porque não vai se refugiar na barra da saia da sua mamãezinha. Partindo do pressuposto que ela só fica bem quando está com você, talvez você só fique bem quando está com ela, Peter."

...ela só fica bem quando está com você...

Ele sorriu, intimamente agradecido por uma resposta que Anna acabara de lhe dar.

"I know there’s one thing that you showed me

I know there’s one thing that you showed me

That you showed me"

""""""""""""""""""""""

Kathy observou atentamente o sol se pondo, ao mesmo tempo que percebia a aproximação de alguém. O cheiro era inconfundível, o que a fez sorrir.

"Então?"

"Acabou, não é difícil deduzir o óbvio.- Peter sentou-se ao lado da amiga e observou o pôr do sol com ela."

"O que você está sentindo agora?"

"Eu não sei. Não é como se eu tivesse perdido alguém, é estranho...- Kathy sorriu."

"Então não foi como você pensava que seria."

"No momento foi, quando eu vi os dois se beijando...foi horrível e eu quis morrer...mas depois, quando eu conversei com ela, foi tudo diferente, foi frio e indiferente."

"Sente-se bem?"

"Sim, acho que sim. Anna me disse algumas coisas que acabaram me ajudando mais do que ela imagina e, embora isso não retire a culpa que ela tem no cartório, ao menos alivia a pena."

"Então que bom que ao menos ela ajudou um pouco."

"Mas e você, está bem?"

"Sim, não é como se eu tivesse pego o John com outra garota, mas nossa relação estava desgastada. Talvez tenha sido melhor assim, Peter, para nós dois."

"É, talvez sim. E talvez nunca cheguemos a ter nossas respostas."

"Ou talvez as tenhamos mais cedo do que imaginamos."

"O que você quer dizer com isso, Kathy?"

"Nada."

"Quem nada é peixe, Kathy, anda vá lá e diz.- ele falou e ela riu."

"Essa é velha, Peter, é de quando éramos crianças."

"É, mas ainda te faz rir como quando éramos crianças."

Naquele momento nem Kathy nem Peter se importaram com recentes acontecimentos em suas vidas. Apenas o que importava era a presença e o conforto que um proporcionava ao outro, como nunca nenhum outro alguém seria capaz de fazer. Havia uma confiança mútua e uma cumplicidade enorme entre os dois, o que os fazia serem apenas Peter e Kathy quando estavam juntos, apenas eles e ninguém mais.

"If there’s one thing I hope I showed you

If there’s one thing I hope I showed you

Hope I showed you

Just give love to all

Let’s give love to all

Let’s give love to all"

(Lullaby – Creed)

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