Conversas e Duelos



Laços de Vida

Capítulo CINCO

“Conversas e Duelos”

“Pai...?- Draco apagou o fogo e retirou a panela de cima do fogão, derramou o macarrão no escorredor e olhou para Peter- ...como é Hogwarts?”

Ele apontou a mesa para o filho e pediu que ele sentasse, em seguida sentou-se de frente para o filho e fitou os olhos brilhantes e ansiosos do garoto.

“É o lugar mais mágico do mundo, Peter.- Draco falou com um sorriso- É um lugar perfeito, onde eu posso afirmar que o medo não precisa existir. Está certo, você pode Ter um pouco de medo enquanto estiver andando pelos corredores durante a madrugada, mas não porque é escuro e tudo, mas porque você pode ser pego pelo zelador. Mas aí é que está, o máximo que pode acontecer é você ser apanhado e receber uma detenção. Não há o perigo de ser expulso porque Dumbledore não expulsa alunos por andarem pelos corredores em horários inadequados, ou ele teria que expulsar a maioria dos alunos, mas não conte isso a ninguém, ok?- o garoto sorriu.”

“Eu estou eufórico para ir a Hogwarts. Sempre achei que lá fosse o melhor lugar do mundo, mas agora eu tenho a certeza de que realmente é.”

“Agora falta bem pouco, Peter. Mas não se apresse quanto às coisas, ok? Não queira fazer mais coisas do que você é capaz e não se importe com algumas pessoas. Hogwarts é o melhor lugar do mundo, mas até nos lugares mais perfeitos, há pessoas mesquinhas e infantis, que só pensam no seu próprio nariz. Eu digo isso porque eu já fui uma dessas pessoas, e só agora eu percebo isso.”

“Você mudou por causa da mamãe?”

“Na verdade, a sua mãe me mudou, Peter. Desde que nos beijamos pela primeira vez ela despertou em mim um sentimento que me desafiou por muito tempo. Eu juro que tentei lutar contra ele, mas não resisti aos encantos de Virgínia Weasley. Por acaso, acho que você tem notado que ela vai realmente sentir sua falta, não é?”

“Sim, ela tem andado cabisbaixa nessas férias. Sei que é porque eu vou pra Hogwarts...”

“Não é porque você vai pra Hogwarts. Você não imagina como ela está feliz por causa disso. O que a incomoda é o fato de ter que se afastar do filho dela, com quem sempre foi tão ligada. Mas não se preocupe, isso vai passar, ela só precisa se acostumar melhor com a idéia. É sempre difícil se separar dos filhos e perceber que eles cresceram...então, mais alguma pergunta?”

“Como se beija uma garota?- Draco prendeu a respiração.”

“Você pretende beijar alguma garota, Peter?- ele fez uma certa cara de nojo.”

“Não, pai! Eu só quero saber.”

“Bem, não tem como explicar como se beija uma garota...não se aprende, digo, não tem uma técnica...embora dizem que chupar laranja ou tentar pegar gelo num copo d’água usando a língua, seja algo bem parecido. Eu não acho. Beijar alguém é bem mais intenso e especial, é coisa de momento, de química, de olhares... tem todo um jogo de ‘sedução’ por assim dizer, e eu não acredito que eu estou dizendo isso pro meu filho de onze anos...- Peter riu.”

“E como foi o primeiro beijo de vocês...- Draco ergueu uma sobrancelha.”

“Foi à força, ou seja, não teve nada a ver com o que eu acabei de dizer. Não teve troca de olhares, momento especial e muito menos química. Foi depois que eu apostei com um amigo que eu poderia beijar qualquer garota de Hogwarts.- ele falou, com um certo sorriso- Ela me bateu em seguida. Foi mais ou menos do tipo...”

“ Draco barrou Gina no meio de um corredor vazio, impedindo-a de prosseguir seu caminho para a aula da McGonagall. A seguir puxou-a para dentro da sala mais próxima, que ao que ele percebeu era a Sala de Astronomia.

“O que você quer, Malfoy?- ela perguntou, sem muita paciência.”

“Você?”

“Não seja estúpido, Malfoy, e desembucha logo.”

“Eu já disse, eu quero você.”

“A sério? E desde quando você tem tanto bom gosto? Até ontem era dos piores, enquanto você beijava a Changalinha, ou melhor, comia a Changalinha na frente de todo mundo.”

“Então você anda me espiando, é?”

“Se ‘espiar’ significa ver o que certas pessoas fazem em público, sim, eu ando te espiando...e toda Hogwarts também.”

Draco colocou um braço de cada lado da cabeça de Gina e aproximou seu rosto do dela.

“O que você pretende fazer, Malfoy?”

“Te beijar, não é óbvio?”

“E o que te faz pensar que eu quero te beijar?”

“Você mesma vai me responder isso, mas depois.- dizendo isso ele colou seus lábios aos dela.”

Gina tentou resistir no início, cerrando seus lábios e impedindo um beijo mais profundo. No entanto, por mais que não quisesse admitir, o cheiro de Draco era entorpecente e, em poucos segundos, a impediu de raciocinar direito.

Além do mais, o mínimo gosto que a garota sentia dos lábios de Draco era suficiente para ela querer saber o real sabor do beijo dele. E aquilo fez com que ela cedesse à pressão dos lábios dele e ao toque de suas mãos em sua cintura.

Segundos depois, quando Gina se tocou do que fazia, afastou-o bruscamente do seu corpo, cerrou o punho e enterrou-o no nariz de Draco, com toda a força que foi capaz de reunir, visto suas pernas estarem bambas, efeito do beijo, e, estranhamente, seu coração estar acelerado, e ela não queria acreditar que era efeito do beijo, e sim da adrenalina liberada por ter beijado ninguém menos que Draco Malfoy.

“Você me bate e eu te beijo, ruivinha.- ele falou, com um sorriso cínico nos lábios. Seu nariz sangrava muito, mas ele não tentou estancar o sangue- E por acaso, você beija muito bem.”

“Nunca mais encoste em mim, Malfoy!- ela falou, apontando um dedo acusadoramente para o garoto, enquanto a outra mão tentava limpar a boca de possíveis ‘dejetos’ deixados por Draco- Você me paga, seu imbecil!”

“Com sexo e beijos, certo.- ele falou, dessa vez tentando fazer o sangue parar de escorrer. Draco viu Gina sair irritada da sala de astronomia. Ele sorriu consigo mesmo, satisfeito pelo beijo, e até mesmo pelo murro que levara. Valera à pena, afinal.” ”

“Eu nunca fiquei sabendo o que ela sentiu com aquele beijo. É um caso a se perguntar pra ela.- Peter ria da cara abobada do pai.”

“Êxtase...falta de ar...tontura...meu coração parecia querer sair pela boca e eu não queria acreditar que aquilo tinha acontecido e, o pior, que eu tinha gostado e estava pensando em como repetir a dose.- a voz de Gina soou num sussurro ao pé do ouvido de Draco.”

“Você sabia que ela estava atrás de mim, não sabia?- Draco perguntou para o filho, que confirmou com a cabeça, ainda rindo muito- E por que você não me falou?- ele virou-se para a mulher e sorriu, agarrando-a pela cintura e fazendo-a sentar-se no seu colo- Oi, amor...estava contando como foi o nosso primeiro beijo pro nosso filho...”

“Eu sei, eu ouvi tudinho...e você contou exatamente como eu me lembrava que tinha sido.”

“Você sentiu mesmo tudo aquilo?”

“Ahan.- ela respondeu, lançando um olhar intenso ao marido- Por que você acha que uma semana depois eu te procurei e acabei provocando uma situação propícia para um novo beijo?”

“Você é sacana.”

“Eu...? Não fui eu que me agarrei à força.”

“Certo, eu estou saindo.- Peter falou, e os pais não ouviram- Certo, também não precisam me escutar.- ele falou com graça e, antes de sair da cozinha, ainda pôde ver um intenso e apaixonado beijo entre os pais.”

As lembranças voaram e ele não pôde deixar com esse maravilhoso pensamento, que proporcionara-lhe um momento tão especial.

“Carta novamente?- a garota perguntou, espichando-se sobre o ombro de Peter para ler o que ele escrevia.”

“Sim, para o meu pai. Quero saber como minha mãe está. Na última carta ele apenas disse que não sabia...o que é estranho.”

“Você gosta mesmo da atmosfera familiar, não é? Vejo o quanto você tem admiração pela sua família e que faria de tudo para protegê-la.”

“Com certeza. Minha família é a coisa mais importante da minha vida, e a minha mãe, bem a minha mãe é uma parte de mim, ou eu sou uma parte dela, então, não tem como explicar o que eu sinto por ela.”

“Eu acho que eu nunca vou entender como é essa relação com a sua mãe. Parece ser tão intensa e...única...”

“E é, não tenha dúvidas.- Peter enrolou o pergaminho e amarrou na pata da coruja que estava ao seu lado- Entregue-a somente a Draco Malfoy, ok?- a coruja piou e saiu voando.”

Peter sentou-se no sofá e espreguiçou-se demoradamente. Olhou para a amiga, ao seu lado e, de repente, sentiu seu coração acelerado. Ele não estranhou, não daquela vez, já que não era a primeira que acontecia quando olhava para a garota, tão bonita.

Era bom sentar-se ao lado dela e apenas apreciar sua companhia. Era bom olhar para ela e sentir seu coração descompassar e parecer querer sair do peito, e sua respiração falhar e, de repente, ele ficar tímido ao lado dela, e gaguejar, e ficar constrangido.

“O que você tem, Peter?- ela perguntou, notando a expressão engraçada no rosto dele.”

“Eu...? Eu...não tenho nada...é, não tenho nada...”

“Você está estranho ultimamente.”

“Eu não estou estranho- ele falou, aproximando-se um pouco dela e tocando sua face- eu só estou me sentindo...um pouco bobo...nessa situação...- houve um minuto de silêncio. Um minuto constrangedor de silêncio, em que nenhum dos dois falou nada.”

“Então...- ela falou, sem fitá-lo.”

“Então...”

“Pois é...”

“É...- ele parou e sentiu-se um idiota por não ter nenhum controle sobre a situação- ...eu...eu provavelmente não saiba se esse é o momento certo...”

“Eu também não sei...”

“Mas...a questão é...bem, o fato é que...a verdade é que eu acho...bem...você já deve ter entendido...”

“Não, eu não estou entendendo nada, Peter...- ele suspirou profundamente e aproximou seu rosto do dela.”

Selou os seus lábios aos dela, num beijo gentil e carinhoso, seu primeiro beijo, com a garota que gostava. Seu coração acelerou ainda mais e a sensação de borboletas no estômago era maravilhosa, e ficou ainda mais quando sentiu que ela retribuía o seu beijo, com tanta intensidade quanto ele.

Ele afastou seu rosto do dela e fitou seus olhos, que brilhavam. Ela estava corada e ele acabou por corar também. Peter desviou o olhar e sentiu as mãos suarem. Seu coração continuava acelerado, mas agora não era realmente bom, estava apreensivo, e as borboletas no estômago começava a incomodar. Tinha feito algo errado ou só o silêncio constrangedor que ajudava na atmosfera pesada?

“Desculpa, Anna, se eu não devia ter feito isso. Eu só queria que você soubesse que eu quis fazer isso.”

“Não, tudo bem, eu gostei...- Anna olhou para Peter e sorriu, e ele retribuiu o sorriso com um brilho lindo nos olhos.”

“Peter...?- Peter piscou algumas vezes e olhou para quem o chamara- Em que você estava pensando?”

“Numa conversa que eu tive com meu pai antes de vir para Hogwarts...quando ele me contou sobre a magia da escola e sobre o primeiro beijo entre ele e minha mãe.”

“Você esteve muito tempo parado aí, está perdendo o passeio...- Kathy aproximou-se do amigo e sentou-se ao lado dele na rocha. Os dois ficaram algum tempo em silêncio, observando a Casa dos Gritos coberta de neve à frente deles- Está mesmo preocupado, não é?”

“Não imagina o quanto, Kathy. Você não sabe o quanto eu me martirizo a cada dia por estar mentindo pra minha mãe. Lá em casa está tudo tão esquisito...meus pais brigam constantemente, mamãe deixou a Faculdade e passou a Galeria pro meu avô Lupin, Aidan está de novo internado no hospital, Sarah está no internato há dois anos...está tudo diferente...”

“Você não está mentindo pra sua mãe, Peter.”

“Como não? Kathy, faz dois anos que eu sei que meu avô está vivo e até hoje minha mãe não sabe disso. Meu pai sabe, Dumbledore sabe, meus avós Narcisa e Lupin sabem. Todos sabem, menos a minha mãe. E eu sempre me senti no dever de contar pra ela, mas não me deixam...”

“Isso não é uma mentira, Peter. É uma omissão. É diferente.”

“Omissão é mentira, Kathy, de alguma forma é. E eu odeio isso. Como as pessoas acham que eu me sinto por mentir justo pra minha mãe. Que inferno!”

Kathy passou o braço por cima do ombro do amigo e deixou que ele a abraçasse com força, tentando se acalmar.

“Você vai ver que vai ficar tudo bem, Peter. Vamos tentar esquecer isso e vamos aproveitar o último passeio a Hogsmeade antes de voltarmos pra casa no Natal, ok?”

Dois anos na vida de alguém poderiam mudar muita coisa. No entanto, na vida de uma família, mudariam muito mais.

Peter, por exemplo, carregava diariamente o peso de um segredo que escondia da pessoa que mais amava na vida. Descobrira, aos onze anos, que o avô, pai de seu pai, estava vivo. E agora, aos treze, ainda tentava descobrir um jeito de impedir que esse segredo afetasse ainda mais a sua família.

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Draco parou o carro e apoiou a cabeça no volante, suspirando longamente.

“Não podemos continuar assim.- ele falou, num tom sério- Isso está desgastando a nossa ralação, Virgínia.- Gina olhou-o mas permaneceu calada- E você não ajuda com o seu silêncio.”

“Eu não tenho nada pra falar.- ela disse simplesmente.”

“Não tem nada pra falar?- ele olhou indignado para a mulher- Certo, Virgínia, faz dois meses que você não tem nada pra falar comigo, e quando tem é alguma crítica ou início de briga. Faz dois anos que você vem tendo uma opinião errada a meu respeito. Não era você quem me conhecia melhor do que eu mesmo? Então você deveria saber que tudo o que eu faço é visando o seu bem e o bem dos meus filhos.”

“Me separar da minha filha não é o meu bem, Draco.”

“Você não percebia mesmo o modo como Sarah estava te tratando, não é? Ou não percebia ou não se importava.”

“Não me importava.”

“Se importava sim, Virgínia. A dor estava claramente expressa nos seus olhos. O fato de ser mãe e amar os filhos acima de todas as coisas não significa se martirizar eternamente por causa de um deles, Virgínia. Talvez você não tenha percebido, mas Aidan sentiu muito a sua falta quando você ficou semanas, meses, brigando comigo pra trazer a Sarah de volta pra casa. Peter, você se lembra dele? Peter tem reclamado muito porque você não manda cartas pra ele. Sabe quando foi a última vez que você mandou uma carta pra ele, Virgínia? Faça as contas. Estamos em dezembro, as aulas dele começaram em setembro.”

“Eu...eu não mandei cartas pra ele esse semestre.”

“Ah, então agora você se lembra que tem um filho que te ama como não ama mais ninguém? Eu quem tenho que contar com minhas próprias palavras como você está, Virgínia. E sabe o que eu conto pro Peter? Que eu não sei como você está, porque você não me conta como você está. Você não conversa comigo, não me olha mais como me olhava antes, e parece nem mesmo se adequar mais aos meus braços quando vamos dormir. Fico pensando se você ainda me ama, mas mais do que isso, fico pensando se você não esqueceu dos seus filhos.- Gina olhou para o marido, arrependida.”

“Me desculpe, Draco...me desculpe...mas eu não sei o que acontece comigo...”

“Se você me contar, meu amor, nós poderemos descobrir juntos. Se você contar pro Peter, tenho certeza que ele vai poder ajudar, porque só ele sabe melhor como você se sente.”

“Desde que tudo isso começou...mudou tanto...tudo mudou e parece ter fugido ao meu controle.”

“Nada fugiu, Virgínia, você que não acompanhou, e quando quis acompanhar, viu que já tinha perdido muita coisa.- Gina considerou profundamente as palavras do marido.”

“Draco, me faz um favor?- Draco sorriu para ela- Me leva no hospital para eu ver o Aidan. E me consegue um pergaminho e uma pena para eu escrever uma carta para o Peter.”

“Tudo o que você quiser, meu amor.”

Draco, depois de vários meses, viu novamente o sorriso sereno e calmo de Gina, emoldurando seu rosto. Durante muito tempo ele não soube o que fazer diante da situação isolada e fechada de Gina, sem saber o que acontecia com ela.

E Gina, por um tempo que ela não soube precisar quanto, esteve presa ao seu próprio mundo, e por instantes preciosos esquecera-se de olhar o mundo ao redor, esqueceu-se de dar atenção aos filhos pelo simples fato de, há dois anos, quando tudo começara, Draco ter posto Sarah num internato.

“Draco...por que mesmo você botou a Sarah no internato?”

“Nós vamos conversar sobre isso mais tarde, meu amor. Agora vamos nos ater a Aidan e Peter, está bem?”

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“Querido Peter,

eu sinto muito por todo esse tempo, meu amor. Sinto mesmo. Desculpe por não ter estado com você, mesmo que em carta, por todos esses meses. Sinto que perde tanto de sua vida durante esse tempo, que infelizmente não vou poder resgatar, e me culpo por isso.

Não sei o que tem acontecido comigo e, por um instante, tive a esperança de você poder me ajudar. Sei que parece estranho, pedir logo a sua ajuda, mas seu pai me falou uma coisa muito certa hoje. Você é a pessoa que mais sabe sobre o que eu estou sentindo.

Ultimamente tem sido como se tudo tivesse fugido ao meu controle, se tudo tivesse sido revirado e eu não soubesse como lidar com nada. Seu pai me fez enxergar várias coisas hoje e, depois de tanto tempo, sinto que as coisas podem finalmente melhorar. Hoje, mesmo sem ele ter dito com palavras, eu pude ler no olhar dele o que ele queria me dizer.

Ele me disse que duas pessoas maduras, em verdadeiro amor, ajudam-se mutuamente a se tornarem mais livres, mais plenas, mais completas. E eu finalmente redescobri o poder de um olhar carinhoso e apaixonado do seu pai.

Me prendi demais ao problema da Sarah, de acordo com seu pai. Sim, hoje ele botou diversas verdades na minha cabeça e me fez enxergar a realidade que eu deveria estar vivendo, mas que por algum motivo me desviei.

Há dois anos, quando seu pai botou a Sarah no internato, tão longe de mim, eu senti como se tudo tivesse acabado. Não tudo, mas como se eu não pudesse me afastar dela porque só comigo ela estaria segura. Eu me inconformei, me isolei...me esqueci. Errei.

Desculpe por tudo e qualquer coisa, não foi a minha intenção machucar ninguém.

Te espero para o Natal em casa.

Como amor,

Mamãe.

Fico feliz por você estar tão feliz com a garota que você gosta, meu amor.

Te amo muito e sempre estarei com você, daqui por diante.”

Peter passou os olhos diversas vezes pela letra caligráfica da mãe, só então percebendo o quanto estava com saudade de suas palavras.

“Sua mãe está bem?”

“Agora eu sinto que vai ficar.- Peter olhou para Kathy, Anna e Haward- Vocês vão passar o Natal em casa, certo?- os três confirmaram- Que acham de depois irem lá pra minha casa? Pode ser divertido...podemos passar o ano novo lá.”

“Pra mim não tem problema.”

“Você é de casa, Kathy.- Peter falou, com um sorriso- Vocês?”

“Vou falar com meus pais...eles vão deixar.- Haward falou.”

“Anna?”

“Sem problemas...”

Peter afastou-se do grupo, correndo rumo à rua principal de Hogsmeade. Parou na primeira loja de presentes e entrou. Precisaria comprar presentes para os pais, os irmãos e os três melhores amigos, e sabia exatamente o que comprar para cada um deles.

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Gina sentiu vontade de chorar ao ver a figura frágil de Aidan, deitada na cama, adormecida. O rostinho do garoto estava pálido e a respiração era forçada e descompassada.

Sentiu-se impotente diante do estado do filho, e aquilo doía ainda mais dentro de si, somada à dor de ter se afastado tanto dele, de não ter lhe dado a atenção necessária.

“Obrigada por você estar comigo, Draco.”

“Por que você diz isso, meu amor?”

“Porque você cuido dos nossos filhos enquanto eu não fui capaz de fazer isso.- ela falou, com a voz chorosa, enquanto Draco a abraçava carinhosamente- Eu senti falta desse abraço.”

“Eu senti falta de você, Vi, muita falta.- nesse momento Aidan abriu os olhos e sorriu para a imagem abraçada dos pais.”

“Vocês estão bem agora?- ele perguntou- Mamãe está bem?”

“Mamãe está bem, meu amor- Gina sentou-se ao lado da cama de Aidan e deu um beijo no rosto dele- E eu estou aqui com você agora.”

“Não vai mais sair?”

“Nunca mais, eu prometo.”

“E quando eu vou sair daqui, mamãe? Eu não quero mais ficar nesse hospital...”

“Em breve, meu amor. Você só precisa melhorar um pouquinho, ok?- Aidan sorriu antes de dar um breve selinho na mãe.”

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“Meu pai mandou uma carta- Peter comentou- disse que mamãe está melhor, Aidan também, e que nós vamos pegar a Sarah no internato assim que eu chegar a Londres.”

“Então está tudo melhorando?- Kathy perguntou, enquanto fazia um último laço num dos embrulhos de natal.”

“Parece que sim, mas a Sarah continua estranha. Papai tem recebido reclamações do internato, dizendo que ela é antisocial e que gosta de assustar as outras crianças. E ele também desconfia que é a minha irmã quem tem feito tantas coisas pra minha ficar daquele jeito, alheia a tudo, calada e excessivamente preocupada apenas com a Sarah.”

“E o que você pensa disso?”

“O problema é justamente esse. Eu não sei o que pensar. Não consigo imaginar como uma criança de seis anos, que não tem um mínimo de conhecimento em magia, poderia ser capaz de manipular uma pessoa como a minha mãe estava sendo manipulada.”

“Você já pensou que a própria Sarah pode estar sendo manipulada?- Peter pareceu considerar o argumento, mas não teve tempo de falar nada, já que duas pessoas entraram no Salão Principal.”

“Então Malfoyzinho, fiquei sabendo umas coisas sobre a sua família de fracassados. Ela está se deteriorando, é verdade? Sua querida mãezinha esqueceu o filho preferido dela...- Albert soou venenoso e frio. Peter sorriu com o canto dos lábios e balançou a cabeça.”

“É incrível como em tantos anos você não aprendeu nada, não é mesmo Bertzinho? Você não vê que há muito tempo as suas palavras não me afetam, e que há dois anos nós estamos brigando no meu território, e não mais no seu?”

“Você está dizendo que você é o manda chuva aqui?”

“Não, Bertzinho, eu estou dizendo que de magia eu sempre entendi. E venhamos, mesmo você estando aqui, vê-se claramente que esse não é o seu mundo. Você não se adequa a ele.”

“E você se acha um exímio conhecedor de magia e feitiços. Ótimo, nós temos um ótimo meio de saber quem é o melhor dos dois.”

“E como seria?- Kathy foi quem perguntou, olhando de Albert para Jackeline e Peter.”

“Um duelo, na orla do lago, na noite antes de partirmos para casa.- Peter olhou para Kathy, como se pedisse um conselho no olhar dela.”

“Às onze, estaremos lá. E eu serei a madrinha do Peter. É melhor estar preparada, Jackeline.- a garota da Corvinal ficou calada, apenas observando Kathy e Peter saírem.”

“O que você estava pensando?- Peter perguntou, indignado, mas divertido- Eu não achei que você fosse fazer aquilo, você sempre foi tão pacífica...”

“Instinto Potter.- ela riu- Lembro do meu pai me contando uma história sobre Ter marcado um duelo com o seu pai quando eles tinham onze anos. Só não me lembro se eles realmente duelaram. Me deu vontade de saber como é...”

“Certo, então você será a minha madrinha, mas receio que não vai ser necessário. Eu posso acabar com o Bert rapidinho. Todos sabem que eu sou melhor em feitiços do que ele, ou em todo o resto.”

“É, mas você não é melhor do que eu...- ela provocou.”

“Quadribol não entra na disputa, Kathy. É óbvio que você é melhor do que eu, e até mesmo nossas posições não podem ser comparadas. Você é apanhadora, eu sou artilheiro. Apesar de que a Sonserina está 50 pontos à frente no Torneio.”

“Por enquanto, meu amigo. Foi assim no ano passado. Eu deixei que a Sonserina ganhasse durante todo o ano, para no final eu sentir o gosto da virada e da vitória. Adiar o prazer torna tudo mais gostoso.- Peter riu.”

“Você é ótima, Kathy.”

“Eu sei. E sou a única que aceita participar de fugas no meio da noite e demais travessuras.”

“Anna e Haward têm medo não sei de quê, nunca foi perigoso, a não ser quando o Filch nos pegou no final do primeiro ano e duas vezes no ano passado, e limpar troféus não é legal, mas fora isso é muita adrenalina. Mas eles são bons amigos.”

“É, ou a Anna parece ser mais do que amiga.- ela comentou, deixando transparecer uma pontinha ciúmes, que Peter não percebeu.”

“O que você está querendo dizer, Kathy?”

“Peter, é óbvio que depois de dois anos você está caidinho por ela.”

“Não estou, não. Ela é minha amiga, como você.- ele tentou disfarçar.”

“Só você não percebe. E eu não gostaria mesmo que você dissesse que eu sou sua amiga como ela é.- ela o repreendeu, novamente transparecendo ciúmes na voz.- E você tem certeza que nunca rolou nada entre vocês?”

“É só modo de dizer, Kathy. Eu te conheço há muito mais tempo, não tem como comparar. Além do mais, nós dois podemos conversar sobre tudo, e com a Anna é diferente, é...sei lá...- ele olhou para Kathy e viu que ela esperava algo mais- Certo, eu beijei a Anna, nós nos beijamos e falamos algo a respeito, mas por enquanto é só isso.”

“Bem, e tinha minha dúvida se tinha rolado ou não, mas isso não vem ao caso agora.- ela o cortou- Foi só uma observação, e eu achei que você fosse me dizer que gostava dela, ou quando gostasse de alguém.”

“Aí é que está, eu não sei se eu gosto dela. É estranho, mas beijá-la me fez sentir algo como se borboletas voassem no meu estômago.”

“Como não sabe, Peter? Ou você gosta ou não gosta.”

“Eu não sei se eu gosto dela...já disse. Só é bom...- ele parou e olhou para Kathy- Bem, deixa pra lá. Eu só ainda não sei. E meio confuso, sabe? Complicado... você vai ver que é bem difícil quando gostar de alguém.- ela riu rapidamente e suspirou.”

“É, talvez eu saiba...- ela sussurrou, baixinho, sem saber se Peter a ouvira, e sem saber como o amigo podia ser tão burro a ponto de não perceber o que se passava à sua volta.”

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Gina levou Aidan até o quarto e colocou-o na cama. O garotinho estava adormecido e ainda tinha a aparência fraca, mas finalmente tinha saído do hospital, depois de vários dias internado.

Ela ficou olhando para o filho durante vários minutos, admirando-o, e só então percebendo como ele crescera e como tinha adquirido traços tão peculiares, diferente de Draco e de Gina, mas muito parecidos com Peter e, em alguns pontos, com Sarah.

Ela olhou em volta e viu, na mesinha de cabeceira, uma foto, mostrando Sarah, Aidan e Peter, sorrindo felizes. Gina lembrava-se do dia em que a foto fora tirada, há quase dois anos, no primeiro natal depois que Peter fora para Hogwarts. Aquele tinha sido um dos últimos sorrisos de Sarah que Gina se lembrava.

“Ele está bem?- Gina olhou para Draco, parado na porta.”

“Está dormindo. Parece calmo.- ela estendeu a mão, pedindo que ele fosse até ela.”

“E você, está bem?- ela sorriu.”

“Estou com saudades dos meus filhos. Quero todos perto de mim no natal. Você não vai me privar isso, vai?”

“Claro que não, meu amor. Não seria justo para nenhum de nós. Mandei uma carta pro Peter, dizendo que vamos buscar a Sarah assim que ele chegar em Londres.”

“Você acha que ela está melhor, Draco? Você acha que a nossa princesa ainda está com idéias fixas sobre o avô?”

“Eu não tenho certeza, meu amor, mas se ela estiver não vai ser bom pra você, por isso eu preciso que você não se atenha muito a ela, até descobrirmos o que se passa.- Gina deu de ombros, antes de sair do quarto.”

A mulher foi para o banheiro e ligou a ducha quente da banheira. Esperou encher antes de entrar e colocar espumas sobre a água. Tentou relaxar durante algum tempo, mas a idéia de que o passado poderia, de alguma forma, retornar, a impediam.

“Você verá que vai ficar tudo bem, Virgínia.- as mãos de Draco pousaram sobre os ombros de Gina, massageando-os, ao que ela não reclamou.”

“Eu estava com saudades das suas mãos. Fui burra ao não perceber isso.- Draco riu.”

“Você não foi burra, foi apenas uma fase, que já passou.- Draco entrou na banheira junto com a mulher, fazendo-a encostar as costas em seu peito- Relaxa um pouco, daqui a pouco o Aidan vai reclamar a sua atenção e hoje a Dora não está em casa para cuidar dele.”

“Você acha que precisaremos da Dora para o Natal?”

“Com três crianças aqui ela será imprescindível, ou a casa vai a baixo.”

“Acho que você tem razão.- a voz de Gina estava longe e um tanto débil, fazendo Draco concluir que a massagem estava surtindo o efeito que ele queria- Você gosta da Dora, Draco?”

“Bem, ela tem 69 anos, é meio rechonchuda, não tem dentes, mas ela parece ser sexy.- ele falou, com graça.”

“Não foi isso que eu quis dizer...você me entendeu...”

“Bem, ela sempre cuidou bem das crianças, e Aidan, principalmente, a adora. Ela é uma boa mulher, e o fato de ela estar há dois anos conosco e nunca ter causado problema algum ajuda muito.”

“Você tem razão, Dora é uma boa mulher, mas definitivamente ela não é sexy...- a voz de Gina estava bêbada e seu corpo começava a amolecer. Era incrível como a massagem de Draco era relaxante e a deixava em um outro mundo.”

“Claro que não, meu amor. Dora não é sexy, você é.- ela riu debilmente, parecendo uma criança que acabara de receber um doce. Instantes depois Draco sentiu a mulher adormecer em seus braços, na banheira- É maravilhoso ter você de volta, Virgínia.”

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Peter empunhou a varinha e colocou-se em posição de duelo. Albert fez ao mesmo, e não esperou o sinal de Kathy para que começasse com os feitiços, de modo que lançou imediatamente um ‘Expelliarmus’ no oponente, fazendo-o voar alguns metros e cair no chão, atordoado.

“É bom você se preparar, Lovegood. O seu afilhado não vai durar muito tempo. Ele vai dançar em alguns segundos.”

“Tarantallegra!- Peter falou após se recuperar, e o feitiço atingiu Albert em cheio.”

“Dançar sozinho não é bom, Bert, porque você não chama a sua escudeira?- Kathy falou, no mesmo instante em que lançou o mesmo feitiço em Jackeline.”

Os dois ficaram mexendo as pernas durante vários minutos, até que o efeito do feitiço passasse. Quando passou, Jackeline revidou com um ‘Expelliarmus’, que de algum modo Kathy desviou e lançou-se um ‘Rarefeitus’, que deixou Jackeline sem ar.

Albert lançou o mesmo ‘Rarefeitus’ em Peter, deixando o garoto no mesmo estado que Jackeline, mas o pequeno notável Malfoy ainda conseguiu lançar um ‘Aracnia’ seguido de um ‘Bombarda’ em Albert, fazendo uma enorme aranha avançar sobre ele e uma explosão derrubá-lo, deixando-o vulnerável a um ataque.

Jackeline recuperou-se do feitiço de Kathy e lançou um ‘Aranha Exumai’ na aranha, fazendo-a queimar-se um pouco, mas ainda ficando viva e forte o suficiente para atacar Albert.

Então, quando a aranha estava a alguns centímetros de Albert, este ergueu a varinha e jogou-a para longe de seu corpo, indicando sua desistência. Agindo rapidamente, Peter lançou um ‘Petrificus Totalus’ na aranha, que ficou imóvel, e logo depois um ‘Aranha Exumai’, cremando o animal.

“Desistir é bem o seu feitio, Bertzinho.”

“Não fique convencido por causa de uma vitória, Malfoy. Você ganhou uma batalha, mas não a guerra.- Dizendo isso, Albert levantou-se, pegou sua varinha e puxou Jackeline para dentro do castelo.”

“Tenha um bom natal, Bertzinho.- ele gritou, ao que o garoto, ao longe, bufou alguma coisa com grosseria.”

Peter virou-se para Kathy e sorriu.

“Você esteve ótima com a Jackeline.”

“E você com o Albert. Um duelo sem muita violência, pareceu bem justo para mim. O que você achou?”

“Divertido...e justo.- e ambos caíram na gargalhada- O que acha de ficarmos aqui até o sol nascer? A ocasião merece, não acha?”

“Você é maluco, Peter. Eu acho que está muito frio. Não acho prudente ficarmos aqui, a não ser que queiramos adoecer e quebrar com o Natal da família.”

“Você tem razão.”

“Eu sempre tenho.- ela gabou-se.”

“Quase sempre.”

“É? Então me diz uma ocasião em que eu não tive razão.- ele pareceu pensar e não encontrou nenhuma ocasião.”

“Certo, você sempre tem razão.- ele admitiu.”

“Eu sabia.”

“Sabia o quê?”

“Que eu tinha razão.- ela falou, divertida, e ambos caíram novamente na gargalhada.”

Peter olhou rapidamente o mapa do maroto rapidamente e, a certo instante, já dentro do castelo, despediu-se de Kathy e pegou seu caminho para as masmorras.

Ele não percebeu, entretanto, que olhos perspicazes e atentos o estiveram observando durante todo o seu trajeto, observando cada passo que ele dera durante toda aquela noite.

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