Através do Seu Beijo



Capítulo I

Através Do Seu Beijo

"Querido diário... deveras fiquei parecida com a Parvati agora, e isso não me agrada... ela vive andando com aquele diário rosa choque para lá e para cá, gritando em alto e bom som que aquele é o diário é dela e só dela e que ninguém deve mexer nele... penso se alguém gostaria de ler que ela ficou com o sétimo ano inteiro de todas as casas quando, na verdade, toda a escola já sabe disso.

Na verdade, não toda a escola, e uma outra verdade seria que ela não ficou com o sétimo ano inteiro, ou eu prefiro pensar que ela não ficou nem com o Harry e muito menos com o Rony. E certamente o primeiro ano pouco se importa se a Parvati é uma galinha que fica ciscando no terreno de todos os garotos ou não.

Falando em Rony, só um entre parênteses rápido, há muito tempo que ele me parece bem estranho. Quero dizer, ele está escrevendo um diário, digo, quando, em algum momento de minha atarefada vida, eu pensaria que Ronald Weasley, meu melhor amigo e o garoto que acha que livros como ‘Hogwarts, uma história’ são pura perda de tempo e, diga-se de passagem, diversão, escreveria um diário? Ou por que motivo ele está escrevendo um? Esse é um caso a se investigar...

Então, voltando ao assunto, Harry certamente seria incapaz de trair a Gina e tudo, ele é muito apaixonado por ela e eu não creio que ele algum dia ficaria com a Parvati... mesmo que ele tenha ido ao baile de inverno com ela no quarto ano, ou foi com a Padma... e o Rony foi com a Parvati... enfim, no final das contas, Harry seria incapaz de ficar com a Parvati e ponto final.

Quanto ao Rony, bem, eu prefiro pensar que ele não seja mais um na lista dela, ou na lista de qualquer uma das garotas de Hogwarts... e talvez na minha ele seja permitido... quero dizer, eu dei a ele algo em que pensar, não foi?

E eu, logicamente, estava fora de mim quando fiz aquilo. Digo, foi uma coisa rápida e espontânea, e aconteceu sem que eu tivesse controle para... bem, controlar a situação. Eu acho que eu fiquei emocionada demais com as palavras dele e, então, eu simplesmente... o beijei...

Não que eu o tenha beijado, não propriamente dito, quero dizer. Eu só toquei os lábios dele e... e foi só, e foi tudo o que aconteceu. Um simples toque inocente. Bem, não houve contato entre línguas e tudo, foi apenas lábios. E, digo, ele pareceu tão surpreso que nem ao menos fechou os olhos, nem eu fechei os meus. Mas então eu digo: que garota no mundo resistiria àquelas palavras que Rony me disse? Bem, caso algum garoto dissesse para alguma garota exatamente as mesmas palavras que Rony me disse. E eu nunca vou esquecê-las:

‘-Por que não há nenhuma garota que eu goste realmente.- eu realmente me odiei naquele momento por ficar desapontada e deixar que ele visse que eu estava desapontada- Quer dizer, há somente três mulheres nessa vida que eu realmente amo: a primeira é a minha mãe, a segunda é a Gina e a terceira- ele sorriu para mim e inclinou o rosto para dar um beijo estalado na minha bochecha- é você.- ele completou e eu... simplesmente derreti...’

E eu ainda tentei falar alguma coisa, qualquer coisa que viesse à minha cabeça... mas pela primeira vez não veio nada. Nada! E eu sequer consegui dizer um ‘Obrigada, Rony, pelo seu amor por mim, e eu te amo também’. A única coisa que saiu da minha boca foi um ‘Eu...’, um mísero e repugnante ‘Eu...’. E eu achava que Hermione Granger poderia ter respostas para tudo.

E então eu o beijei. Isso, eu o beijei! Eu nem sei porque eu fiz aquilo, o ou que me levou a beijá-lo, ou melhor, selar meus lábios nos dele, já que aquilo que eu fiz não pode ser considerado um beijo, não propriamente dito, pelo menos.

Nós nos olhamos por alguns breves segundos, muito breves mesmo, até que um aluno do primeiro ano me chamou e eu, muito pacientemente o atendi. Rony, ao contrário, pareceu que ia bater na criança a qualquer minuto... pelo menos, antes do garotinho me chamar, eu falei um ‘eu também te amo, Rony’ para ele... para o Rony, óbvio, não para a criança...

No outro dia eu acordei normalmente, talvez. Eu fiquei pensando em como seria encarar o Rony depois do que eu fiz, ou o projeto de beijo que eu dei nele, que muitas pessoas podem chamar simplesmente de quase beijo, ou beijo nos lábios, ou selinho, enfim...

Estranhei muito porque o Rony não foi às aulas da manhã... e fiquei chateada com o pensamento de que talvez ele estivesse irritado comigo porque eu o beijei nos lábios... e fiquei pensando se ele estava realmente irritado comigo ou apenas irritado.

O fato é que antes mesmo de terminarem as aulas da manhã eu voltei ao salão comunal, depois de ter procurado pelo Rony por todos os cantos possíveis da escola. Fui à Sala Precisa, ao Salão Principal, ao campo de Quadribol, à passagem da bruxa de um olho só que leva a Dedosdemel, e até mesmo ao Salgueiro Lutador para ver se eu o achava, mas nada dele. Excluí logo a Biblioteca, obviamente, levando em consideração que aquele era o último lugar onde Rony pensaria em se esconder de mim, já que provavelmente ele pensaria que lá seria o primeiro lugar onde ele acharia que eu o procuraria.

Mas então, eis que Ronald Weasley está no dormitório dele, na cama dele, roncando alto o bastante para quem quisesse ouvir. Se eu fiquei irritada com isso? Não, claro que não. A imagem de Rony dormindo era perfeita demais para que eu ficasse irritada. Ao contrário, fiquei aliviada, ao pensar que Rony não estava irritado comigo por causa daquele projeto de beijo que eu dei nele.

Foi engraçado quando ele acordou e me viu lá, apoiada na cama dele. Quando eu lhe disse a hora, onze da manhã, ele meio que se levantou apressado e assustado. Eu disse que ele parecia bem, e ele sorriu para mim e disse: ‘Só precisava de uma boa noite de sono’ - e eu deitei na cama dele, e bocejei, me sentindo cansada naquele momento. Acho que foi porque eu fiquei até altas horas pensando no que eu fiz... ou fizemos... ou eu fiz sozinha...

Depois ele se debruçou em cima de mim, quase encostando seu nariz no meu. Naquele momento eu juro que senti vontade de agarrá-lo, sério mesmo, simplesmente agarrá-lo, pouco me importando se eu era monitora-chefe da escola e seria anti-ético me amassar com algum garoto, principalmente se eu estivesse me amassando com ele no dormitório masculino e, o pior, na cama dele...

Mas então, eis que Ronald Weasley se levanta, estende a mão para mim e me chama para almoçar. E eis que meu mundo caiu... pelo menos ele não estava irritado comigo, ou sequer mencionara o assunto projeto de beijo... enfim...

Mas isso aconteceu ontem, e hoje é aniversário dele. Harry, Gina e eu fomos ao quarto dele e o acordamos, e depois brincamos até a hora do almoço. Agora ele está meio que desaparecido pelos terrenos da escola. Não pelos terrenos, talvez, porque está chovendo muito nos jardins, muito mesmo. E parece realmente que o céu está desabando..."

-Desaparecium!- Hermione apontou a varinha para o livro em suas mãos e este desapareceu instantaneamente.

Ela debruçou-se no parapeito da janela do primeiro andar, observando atentamente os jardins de Hogwarts. Uma grossa chuva caía, parecendo querer levar tudo que ultrapassasse o seu caminho. Mas Hermione ainda podia ver os borrões das árvores e dos vales em meio a toda aquela água. Além disso, ela podia apreciar o bonito arco-íris que surgia no céu, atravessando todo o terreno de Hogwarts.

Imediatamente ela imaginou encontrar um beijo no final do arco-íris. Não era exatamente isso que as meninas pensavam? Que havia um beijo no final do arco-íris, mais precioso que um pote de ouro. O que a assustou, no entanto, foi imaginar um beijo de Rony no final do arco-íris...

-Hermione...!- ela franziu o cenho, diante do que ouvira. Alguém a chamara. Ela olhou para os lados, mas não havia ninguém por ali... mas ela estava certa de que alguém a chamara...

Ela olhou novamente para os jardins, tendo a certeza de o chamado viera de lá, próximo ao lago, em meio à chuva. ‘Oh, Merlin... estou ficando louca, só pode...!’ – ela pensou, enquanto saía para os jardins.

Ela ainda parou antes de chegar propriamente aos jardins, certificando-se de que ela não estava realmente ficando louca. Antes que ela concluísse que sim, que ela era louca, ela viu um pequeno livro sobre um banco.

-Rony Weasley.- ela leu e sorriu em seguida. Foi quando teve a certeza de que fora Rony que a chamara. Então ela correu, debaixo da chuva, para perto do lago.

-Quem está aí?- ela o ouviu gritar, mas não conseguiu responder.

Hermione parou ao conseguir enxergar Rony. O olhar que ele lhe dera, assim que a vira, a aquecera profundamente. Era como se Rony estivesse enxergando através dela, e assim, enxergasse a sua alma. Era maravilhoso...

Ela sorriu para ele, estendendo-lhe o diário. Rony sorriu, jamais imaginando vê-la tão linda como ela estava naquele momento.

-Obrigado...- ele murmurou, pegando o diário- mas eu não vou mais precisar dele.- Hermione franziu o cenho, ainda exibindo um singelo sorriso para Rony- já não tenho mais problemas.- ele jogou o diário para longe, sorrindo da expressão confusa de Hermione.

-Você me chamou.- ela falou, e foi a vez de Rony franzir o cenho- e eu achei que estava ficando maluca, ouvindo você me chamar no meio da chuva.

-E você veio.- ele sorriu, aproximando-se da garota e segurando as mãos dela nas suas- Há algum tempo- Hermione sentiu-se estremecer ouvindo o tom romântico de Rony- uma senhora me disse que eu encontraria a resposta para os meus problemas através da chuva. Ela disse-me ‘Through the rain’. Isso vem me tirado o sono há meses. Eu não entendi nada no começo, e mesmo agora minha cabeça pouco entende sobre tudo isso. Mas eu prefiro assim, não entender nada, ou entender pouco.- Hermione sorriu, divertida- Porque do amor pouco se sabe e entende e muito se sente. Você, Mione, é a resposta para os meus problemas, sempre foi e só eu não percebi isso...

Hermione sentiu o toque carinhoso de Rony em seu rosto, fazendo-a estremecer. A outra mão dele pousou delicadamente em sua cintura, levando-a mais para perto do corpo dele, de modo a ficarem mais juntos do que jamais estiveram.

Ela fechou os olhos, sentindo o olhar dele sobre si, penetrando a sua alma, aquecendo-a intensamente. Ela sentiu os lábios dele roçando os seus, num toque carinhoso e cauteloso, como se ele estivesse com medo de estragar aquele momento perfeito.

-Eu te amo.- ela ouviu-o murmurar.

Ela queria gritar para a chuva o quanto amava Rony, mas novamente as palavras lhe faltaram, talvez porque ela estivesse emocionada demais para proferir qualquer coisa.

Rony selou seus lábios nos de Hermione, sentindo o gosto dela se misturar ao da chuva que ainda molhava os corpos dos dois. No princípio um beijo infantil, como o que deram no salão comunal dias antes. E depois romântico: devagar, apenas sentindo o gosto do primeiro beijo de ambos, doce e calmamente. E, logo depois, tornou-se um beijo mais exigente, que pedia mais contato entre sus bocas, entre suas línguas, enfim, entre seus corpos.

Hermione levou uma mão à nuca de Rony, enquanto a outra tentava, de alguma forma, trazê-lo para mais perto de seu corpo, sem saber que a proximidade entre eles já era pequena demais para diminuir mais ainda.

Respirar já não era necessário. Eles precisavam de ar, ambos tinham plena consciência disso, mas diante do que sentiam, o beijo que eles trocavam agora tornava-se o fôlego que faltavam.

O tempo parou e eles não tinham noção se passaram-se segundos, minutos ou horas, mas sabiam que fora pouco tempo para todo aquele que queriam, apenas para ficarem juntos, se beijando, tentando demonstrar o amor por tanto tempo reprimido.

Quando soltaram-se, ainda sentindo a chuva forte sobre eles, perceberam que ainda era necessário respirar. Rony olhou para Hermione e ambos sorriram, gargalharam debaixo daquele céu desabando.

-Feliz aniversário, Rony!- ele gritou e Hermione sorriu ainda mais

-Feliz aniversário, meu amor!- ela foi até ele e disse-lhe ao pé do ouvido- Eu te amo, Rony.

E ele a ergueu no ar, girando-a, fazendo-a sorrir do mesmo modo que ele sorria, fazendo-a sentir o mesmo que ele sentia.

-Namora comigo?- ele gritou, mas o barulho do trovão não a deixou ouvir.

-O quê?- ela gritou em retorno, e ele percebeu que não era preciso palavra alguma para que ela soubesse que, a partir daquele momento, ela era só dele e de mais ninguém.

-Eu te amo, Mione!- ele gritou novamente e depois a beijou. Andaram de volta ao castelo, em meio a risadas e beijos, e pararam próximo ao banco em que Rony estivera anteriormente.

O garoto olhou para trás, vendo a luz da lua ser ofuscada pela chuva forte. Depois virou-se para Hermione, pegando o rosto dela com as mãos e dando-lhe um carinhoso beijo na testa.

-Eu volto já.- ele sussurrou, com os lábios bem próximos dos dela, fitando seus olhos- Me espera aqui?- ela sorriu graciosamente.

Hermione viu Rony sumir atrás da chuva e, durante o tempo que ele estivera longe, alguns minutos apenas, ela pôde constatar que fora apenas através do beijo de Rony que ela percebeu a profundidade do seu sentimento por ele. Era algo mais do que um beijo, que ia além de um simples toque de lábios, ou até mesmo além daquela chuva, se é que isso era possível.

E ela não se importara se era possível ou não. O que ela sabia, ou soubera através do beijo de Rony, era que era um amor grandioso demais para ser compreendido ou explicado. Na verdade, como Rony dissera, era preciso ser sentido, e nada mais.

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