Depois da chuva, a tempestade.



Capitulo 1

Depois da Chuva, a Tempestade


Era um dia de Outono. As folhas douradas voavam, empurradas pela brisa suave. As árvores e as flores dançavam ao som da música que naquele dia se espalhava desde a mais profunda raiz à mais alta das nuvens. Os pássaros voavam de ramo para ramo e os coelhos corriam velozmente pelos tapetes de folhas douradas.

O sol brilhava em todo o seu esplendor, embora por vezes coberto por uma ou outra nuvem. Aos que se sentassem sob a sombra das árvores e olhassem para o céu, atravessadas pelos raios do sol, as folhas pareciam arder, tomando uma cor vermelho fogo.

As poucas crianças que viviam naquela zona da Inglaterra divertiam-se construindo montes de folhas para depois saltarem para cima deles, destruindo-os. Juntas, organizavam concursos onde saltavam por cima das possas de lamas que ficavam para trás após a chuva. E os adultos não escapavam imunes àquela onda de felicidade, arranjando desculpas para pisarem as folhas molhadas e provocarem os mais variados sons.
Um pouco longe dos sítios e dos tapetes vermelhos, na vila, onde todas estas dádivas da Natureza passavam despercebidas, as pessoas cumpriam as suas rotinas, não detectando nada de estranho. Mas aquele era um dia especial.

Havia poucas casas fora de Ottery St. Catchpole naquela altura e na sua maioria eram sítios ou ranchos. As poucas casas, espalhadas aqui e ali a uma distância considerável umas das outras, pertenciam àqueles que procuravam manter-se isolados da vida nas comunidades e eram portanto evitadas. Mas de todas as casas de Ottery St. Catchpole, a que mais saltava à vista e que não poderia ser ignorada, era sem dúvida a alta e inclinada casa dos Weasley.

No jardim, três rapazes, dois gêmeos e o irmão mais novo simulavam um jogo de quadribol, montados nas velhas vassouras da mãe. Eram seguidos de longe pelos olhos atentos de uma menina de cerca de sete anos, agachada debaixo de uma árvores e tentando adiar o seu trabalho. Num canto um pouco mais afastado, um rapaz de grandes óculos e um pouco mais velho, estava deitado sobre uma velha manta, debruçando-se sobre um grande livro. Lá dentro uma mulher atarefada, vestindo um avental amarelo, dois rapazes que se dedicavam aparentemente ao estudo e por fim, um homem ruivo, afundado em papéis e levando constantemente as mãos à cabeça. Esta era a família Weasley.

- TRAPACEIRO!! - o grito da jovem de cabelos ruivos soou no exato momento em que o irmão, Ronald, desmontava da vassoura e a utilizava para melhor defender a baliza.

A garota era ruiva como toda a família. Tinha grandes olhos castanhos, vivos e curiosos e um sorriso repleto de luz. Os seus cabelos tinham sido cortados por ela própria, procurando tentar ficar mais parecida com um rapaz. Na altura estava furiosa com os irmãos que para variar a descriminavam por ser menina. Era difícil ser a única garota em sete filhos. Difícil e perigoso. Usava uma camisola castanha clara, desbotada e comprida, que pertencera à mãe e vestia uma saia também castanha, cheia de remendos. Só os seus pais podiam usar roupa de feiticeiro, por viverem entre os trouxas.

Bruscamente, ela cruzou os braços sobre o peito e em passos apressados dirigiu-se ao local onde Rony roubava o jogo descaradamente. E estava assim iniciada a discussão daquele dia.

- Desculpa? - Respondeu-lhe Rony com um sorriso irônico nos lábios.

- Oh, por favor Ronald! Posso não entender muito de quadribol mas sei reconhecer uma falta tão desenvergonhada como esta!

Fred e Jorge entreolharam-se e rapidamente largaram as vassouras para se juntarem aos irmãos. Conforme seria de esperar tomariam o partido de Rony, como sempre acontecia. Por mais que Rony estivesse errado era assim que as coisas deviam ser: apoiar Rony e acabar com Gina.

“Se o tio Mitch estivesse aqui, vocês estariam mortos a esta altura.” Pensou Gina, lembrando-se do tio que apesar de agora estar fora à trabalho costumava passar com eles mais de metade do seu tempo livre. O tio Mitch costumava defendê-la. Quando a grande e velha coruja chegava e a sua mãe encontrava uns momentos para responder às cartas, raras por Mitch nunca estar muito tempo fora, Gina sentava-se no chão, aguardando o momento certo para com a sua letra desleixada acrescentar as três palavras que mais treinava e que sabia escrever realmente bem: Muitos Beijinhos, Gina. Quando a resposta chegava a sua mãe, depois de a ter lido e de se certificar se a filha a poderia ler também, passava-a a Gina. Ela se esforçava e esmerava para compreender cada palavra escrita no papel. Depois, à hora do jantar, juntava os pais e os irmãos e contava-lhes as novidades que o tio lhes dava. Inexplicavelmente, apesar do seu tio estar tanto tempo fora, as cartas não chegavam. “Está ocupado com o trabalho” , dizia a mãe com os seus olhos brilhando de preocupação. Naquele momento em que podia estar prestes a transformar-se num pequeno sapo vermelho vivo, lembrou-se o quanto sentia saudades do tio e perguntou-se quando ele voltaria ou quando chegaria a próxima carta.

- Como podes saber Gi? Você é menina! - Disse Jorge.

- As tuas únicas preocupações deviam ser ajudar a mãe na cozinha! - disse Fred.

- Ou ajudá-la a varrer o chão.

- Ou ajudá-la a recolher as folhas do jardim. Estou enganado ou era isso que devias estar fazendo neste momento?

Os gêmeos começaram a andar lentamente em torno dela com expressões ameaçadoras. Por momentos, pareceu a Gina que o céu tinha sido coberto por uma extensa e escura nuvem. Fora daquele circulo, Rony, sentado no chão, ria agarrado à barriga. E foi quando Fred e Jorge começaram a murmurar palavras em latim e Percy desviou o olhar do seu livro para tomar atenção ao desenrolar da discussão, que Gina se lembrou de fazer asneira. Irritá-los a sério era tudo o que ela queria no momento. Sem pensar nas consequências.

- Claro, é esse o meu dever! Ajudar na faxina da casa! Mas sabem uma coisa vocês os três? - Fred e Jorge olharam fixamente para ela perante aquela anormal explosão de fúria e Rony pôs-se imediatamente de pé - Quem sabe vocês não podem ajudar? Vocês dois limpam o pó e o Rony toma conta das teias de aranha. O QUE ME DIZEM?

Não foi preciso muito para Gina se arrepender do que tinha dito. Numa família diferente aquilo teria apenas desencadeado uma troca de palavras rudes. Mas aqueles eram os Weasley e a menção de aranhas e limpar o pó na mesma frase, era perigoso. Traumas antigos.

- Repita o que disse.

- Eu não disse nada...- arriscou Gina, baixando a cabeça para não encarar os rostos assustadores dos irmãos.

- RE-PE-TE!

Gina permaneceu calada, sabendo que teria de “desaparecer” rapidamente. Desejou que a magia que tinha no sangue abrisse um buraco no chão. Um buraco que lhe permitisse escapar dali, não por vergonha ou medo mas por precaução. Com a raiva, Fred avançou sobre ela que caiu estatelada na relva fria e molhada. De onde estava pode ver Percy correr para chamar a mãe. E pode ver ainda melhor os olhares que os seus irmãos trocaram.
Aproveitando aquele momento em que a atenção era desviada dela, resolveu correr para dentro de casa. A relva estava úmida e na sua corrida até à porta, voltou a cair. Mas não parou. Tornou a levantar-se e rapidamente atravessou a porta de entrada e a sala, ignorando os olhares arregalados de Carlinhos e Gui. Depois subiu as escadas.

Apesar de ser ainda muito nova e de não conhecer os males do mundo, Gina tinha vivido o suficiente para conhecer os seus irmãos. E sabia que mesmo que passassem dias sem poderem voltar a falar da discussão daquele dia, os irmãos se vingariam. Se vingariam pelo sermão que tinham ouvido e pelo que Gina dissera, mesmo que a culpa não fosse inteiramente dela. E a melhor coisa a fazer não era correr para debaixo das saias da mãe. Ao contrário do tio Mitch, as reprimendas da mãe eram facilmente esquecidas. A autoridade dela era momentânea, não era suficiente para o arrependimento. E Gina não queria esperar para ver os irmãos a serem por fim libertados das garras de Molly Weasley. Quando isso acontecesse, ela estaria bem escondida e fora do alcance deles. Mas aonde? Não no quarto dela, esse seria certamente o primeiro lugar onde eles procurariam. E se queria algo menos obvio não podia escolher o quarto dos gêmeos e de Rony.
Talvez o quarto de Carlinhos? Desde que ele se tornara monitor chefe, um dos alunos mais populares de Hogwarts (conseguira domar praticamente sozinho um dragão verde-comum de Gales, que apesar de ser da menos problemática raça de dragão conhecida não deixava de ser um dragão.) e conseguira um quarto só para ele que todos eles sabiam, o primeiro quarto do corredor era proibido. Para além de ser escuro e assustador e do irmão os ter proibido de entrar, estava forrado com imagens de dragões de todas as espécies e cores, o que era uma razão boa o suficiente para os manter afastados. Carlinhos possuía este estranho fascínio desde que o tio Mitch o levara numa visita ao quartel do departamento de controle dos animais mágicos. Fazia dez anos nesse dia e vira-se pela primeira vez frente a frente (com alguns homens, cordas e grades pelo meio, claro) com um Rabo-Córneo Húngaro..

O quarto de Gui e Percy podia ser facilmente posto à parte. Como Gui a protegia sempre essa seria a segunda opção de Fred, Jorge e Rony quando viessem à procura dela.

Então onde ela deveria se esconder? O quarto de visitas seria uma boa opção se não fosse um esconderijo impossível, apenas com uma cama baixa e uma mesa-de-cabeceira. Havia ainda o banheiro, lá em baixo, mas descer as escadas agora seria uma atitude estúpida. Sobravam portanto duas divisões. O sótão e o quarto dos seus pais. A escolha era fácil. Antes o quarto dos pais com as suas cores berrantes, a meio do corredor, do que o sótão frio, sujo e assustador, que ela evitava desde sempre.

O mais rápida e silenciosa que podia, abriu a porta do quarto e entrou, sorrindo ao encarar a escrivaninha do pai. O quarto era pequeno, como qualquer outro da casa. O armário de pinho com um aspecto velho e pesado estava encostado à parede da direita, ao lado da porta e em frente à janela. A cama de pinho, ladeada por duas mesas-de-cabeceira do mesmo material, ocupava quase todo o quarto. Estava coberta por uma colcha de um material que imitava o cetim, azul-turquesa com várias flores em tons de rosa espalhadas aqui e ali. Os cortinados condiziam com as almofadas, ambos amarelos com pequenas rosas azuis claras. Em frente da cama estava ainda uma escrivaninha, uma cadeira e uma cômoda, todas elas cobertas por vários papéis: cartas, jornais, documentos e vários relatórios e outros papéis que o pai trazia do trabalho. Em cima da cadeira estava ainda um monte de roupa passada a ferro.

Gina percorreu o quarto rapidamente e sentou-se encolhida no pequeno espaço entre a cama e a parede, junto à janela. Ficou ali durante um tempo, abraçada às pernas com a cabeça encostada aos joelhos. Quanto tempo necessitaria permanecer ali até os irmãos se cansarem de a procurar? A descobririam antes disso? Os seus pensamentos foram interrompidos por um grito mais alto vindo do jardim. Como não pensara nisso antes? A janela dava precisamente para o lado da casa onde ela tinha estado pouco tempo antes. Bastava uma cadeira para conseguir abrir a janela e olhar lá para fora que poderia controlar os irmãos e divertir-se a ver a sua mãe a gritar com eles. E o melhor de tudo, sem ser vista.
Tendo o máximo de cuidado para ser silenciosa, dirigiu-se à cadeira em frente à secretária do pai. Cheia de entusiasmo iniciou o longo trabalho de passar os papéis e a roupa para cima da cama. Depois, arrastou a cadeira para junto da janela e subiu lá para cima. Estendeu a mão para abrir a janela. Se alguém a visse naquele momento, fossem os seus pais ou algum dos seus irmãos, ela poderia ter a certeza de que estava metida em problemas. Para além dela estar expressamente proibida de entrar no quarto dos pais desde o acidente com os fogos de artifício dos gêmeos, ficaria de castigo uma semana se a vissem assim, em cima do parapeito da janela e totalmente debruçada para o lado de fora. Ficou ali durante uns minutos até perceber de que ver os seus irmãos serem castigados não era tão divertido como pensava. E foi quando um grito da mãe voltou a ressoar em toda a casa que ela viu. Primeiro não percebeu devido à suavidade com que o animal se deslocava. Mas depois parou, mesmo diante dela, em frente à janela do quarto. Era uma coruja, uma coruja como ela nunca tinha visto antes. Não velha e de aspecto doente como Errol, a coruja do tio. E muito menos jovem e medrosa como Janice, a coruja que Carlinhos tinha comprado no mês passado. Esta coruja, que agora a olhava de lado, desconfiada, era grande e altiva. Negra como o carvão ou como a mais escura das noites. Gina soube desde logo que esta era uma coruja real, uma coruja de sangue azul, usada apenas pelos mais grandiosos e poderosos feiticeiros. E trazia uma carta.

A coruja flutuou suavemente até ao parapeito, pousando ao lado de Gina e estendendo-lhe a pata onde estava preso o envelope, também negro. Gina desamarrou-o com cautela, pulando depois para dentro do quarto. Ao contrário do que acontecia normalmente, a coruja não voou de volta ou insistiu com Gina para obter uma resposta à correspondência. Ficou apenas ali no parapeito, do lado de fora, olhando-a com aqueles olhos penetrantes, no seu ar solene.

A carta estava endereçada à família Weasley, sem possuir qualquer indicação de remetente. Seria errado abri-la? Afinal apesar da carta ter sido entregue a ela, era no quarto dos seus pais que a coruja esperava encontrar os seus destinatários.

Colocou a carta sobre a cama, adiando a sua decisão. Depois puxou a cadeira novamente para o seu lugar, voltando a cobri-la de papéis. Por fim sentou-se novamente no seu buraco entre a cama e a parede e pegou na carta, encolhendo-se como se estivesse a fazer algo errado. Não foi preciso abrir o envelope pois assim que se preparava para o fazer este se desenrolou sozinho, revelando uma carta escrita a letras brancas sobre pergaminho negro.

E depois veio o choque. Primeiro o choque, depois a dor e por fim a fúria. Ou talvez tudo junto.

Condolências, pêsames e desculpas. Tinha de ser mentira. Tinha de ser mentira porque simplesmente não podia ser verdade. Era demasiado irreal para ser verdade.

Gina não se deu conta de quanto tempo passava. Os seus movimentos tornaram-se descoordenados e desobedientes. Queria levantar-se, chorar e correr. E gritar. Queria gritar alto, para que todos a ouvissem, para que todos pudessem sentir a dor que ela sentia. Como poderia Percy continuar a ler o seu livro tão tranqüilamente? Como poderia a mãe continuar o seu discurso? Não sentiriam eles? Não sentiriam?

As nuvens taparam o sol e o quarto ficou escuro e frio. A brisa entrava pela janela aberta, balançando os cortinados e gelando mais do que seria possível. E Gina deitou-se na cama, perdida nas suas agonias, corroendo-se com a dor da saudade e da perda. Agora ela estava sozinha, mesmo tendo seis irmãos e pais maravilhosos, estava sozinha. Porque a pessoa que a protegera e que estivera sempre perto dela, a pessoa que a tratara como uma filha naqueles sete anos, tinha partido. Tinha partido e não ia regressar.

Mitch Parker, irmão de Molly Weasley, estava então morto. E por agora, ela era a única que sabia, a única que sofria. E por agora deixaria a dor invadi-la e a guardaria com ela. Eles que soubessem por uma carta, porque era assim que deveria ter sido.

E muito cuidadosamente, para não deixar vestígios, Gina voltou a arrumar a carta e o envelope o melhor que podia, prendendo-a à pata da coruja. Esta olhava para ela carinhosamente, mas ainda assim confusa. A correspondência tinha sido bem entregue, porque era a carta devolvida?

- Entregue esta carta a Molly Weasley.

A coruja piou, um pouco indignada. Não era uma coruja de seguir ordens de qualquer pessoa. Uma coruja real faz o que nasceu para fazer, não o que deve ser feito. E a coruja surpreendeu verdadeiramente Gina quando sacudiu as asas e levantou vôo, numa serenidade perfeita.
E depois Gina não teve dúvidas do que queria fazer. Não queria ficar ali, para ouvir a mãe e os irmãos a lamentarem-se. Não queria receber uma notícia tão cruel duas vezes no mesmo dia. E não queria estar ali para ver a dor dos outros. A sua já lhe era suficiente.

E então fugiu, com a fúria contida até ali a dominá-la. Desceu as escadas o mais rápido que pôde, com as lágrimas a turvarem-lhe a visão. Quando chegou à cozinha, parou bruscamente. Tinha tomado aquele caminho para sair pela porta de trás. Não queria responder a perguntas. Mas não esperava encontrar ali alguém. A sua família estava concentrada nas suas tarefas, tanto que ninguém esperaria uma distração. Mas Gui estava ali, com o seu sorriso simpático de sempre e com os cabelos a caírem-lhe sobre os olhos. Olhou para Gina preocupado, tentando perceber o que se passava com a irmã mais nova. Depois a puxou pela mão e levou-a lá para fora.

- O que aconteceu Gi? Foi alguma coisa que os gêmeos fizeram? Ou pior, foi alguma coisa que o Rony disse? Porque se foi, você sabe que eles não fazem por mal. Pensam apenas que estão sendo divertidos.

Gui sorriu-lhe mais uma vez, estendendo a mão para lhe afagar os cabelos ruivos. E Gina enervou-se subitamente. Enervou-se com todos aqueles sorrisos, toda aquela simpatia e felicidade quando ela acabava de saber que não mais iria ver uma das pessoas que ela mais amava no mundo. E decidiu dizer-lhe isso, sabendo que Gui compreenderia o estado dela. Era sempre ele o mais carinhoso. Abriu a boca duas vezes antes de tomar coragem para o dizer, com uma voz mais fraca e tremida do que queria.

- Ele morreu, Gui.

Gui estacou subitamente. Os seus olhos carinhosos foram cobertos por uma nuvem de tristeza. Não era preciso dizer quem era ele, ambos sabiam e ambos sofriam. Ele acreditaria nela. Sabia que ela não brincaria com um assunto tão doloroso quanto aquele estava a revelar ser. Mas Gui recompôs-se rapidamente.

Sorriu novamente, não com um sorriso tão cheio de felicidade como o anterior, mas possuindo um igual carinho. Depois ajoelhou-se e abraçou a irmã durante uns segundos, deixando que ela libertasse algumas das suas lágrimas. Afagou-lhe o cabelo mais uma vez e por fim levantou-se, abrindo a porta para entrar dentro de casa. E ao contrário do que Gina esperava, ele não fez grandes esforços para a levar com ele. Simplesmente se virou e disse:

- Vai para onde quer que estava indo antes de me encontrar. Mas não se afaste muito. E tenha cuidado consigo mesma, corujinha.

Gina deu um sorriso amarelo e forçado, mas ainda assim verdadeiro. Gui era sem dúvida o melhor irmão que ela poderia ter tido. E ainda com os olhos rasos de lágrimas, virou as costas e correu.

Saltou a cerca de madeira e pôs-se de cócoras, com cuidado para que ninguém a visse. Aquela zona da Inglaterra era a única que conservava as suas flores amarelas e brilhantes, desde o início da Primavera até ao fim do Outono. Era agradável, correr pelo campo, com as flores a roçarem as suas pernas e o vento a empurrar os seus cabelos à medida que avançava. O sol parecia mais bonito do que nunca, aquecendo-a e espalhando a sua luz e calor por cada flor e cada pedaço de terra daquele lugar. E por fim Gina chegou ao fim da colina, ofegando de cansaço mas continuando a caminhar. Então, atravessou as árvores e a cerca que a separavam do Celeiro.
O Celeiro era um lugar que ela tinha visitado uma vez, quando fugia dos irmãos e que adorara. As crianças diziam ser assombrado, devido aos barulhos estranhos que de lá vinham, durante a noite, mas os adultos usavam o bom senso e diziam que não, que o Celeiro era apenas uma velha cabana prestes a cair e que servia de abrigo a muitos animais. Para a jovem Weasley aquele lugar não era nem uma coisa nem outra. Para ela, que conhecia tão pouco do mundo, o Celeiro era, simplesmente, o lugar mais bonito e confortável onde ela já havia estado. Era muito grande, feito de madeira e pintado a tinta vermelha. Tinha sem dúvida pertencido a um trouxa. Do lado direito encontrava-se uma espécie de dispensa onde se podiam achar alguns instrumentos de trabalho pertencentes ao antigo dono e um velho trator, sem uma roda. O celeiro propriamente dito, estava cheio de palha. Palha, carrinhos de mão, ganchos enferrujados, velhos pedaços de madeira aqui e ali e vários insetos e pássaros, que faziam ali os seus ninhos. E ao fundo, estava uma escadinha que dava para o antigo “armazém”. Era esse o lugar preferido de Gina, com os seus montes de palha e sacos de terra e feno e a sua janela, de onde podia observar a Toca e até mesmo, lá ao fundo, a vila de Ottery St. Catchpole.

E Gina subiu pela escadinha, sem qualquer medo apesar deste estar tão velho e podre que poderia se partir a qualquer momento. O medo só chegou quando Gina se encontrou por fim lá em cima e olhou em frente. O susto quase a fez cair. À sua frente estava um rapaz. Um jovem rapaz, de cabelos loiros e olhos cinzentos.


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