Behind the horror - Part II



Disclaimer: Harry Potter e todos os seus personagens pertencem a Rowling, pero se a mim pertencessem, eu não teria feito tanta gente chorar no livro 7. u.u'

Come up to meet you, tell you I'm sorry
Eu vim te encontrar, te dizer que sinto muito

You don't know how lovely you are
Você não sabe o quão adorável você é

I had to find you, tell you I need you
Eu tinha que te encontrar, te dizer que eu preciso de você

Coldplay – The scientist

~~


N/A: Ufa! Enfim o último capítulo. Não vou me alongar aqui. Só dois avisos importantes:

1- Lembrem-se que esse capítulo é sob o ponto de vista do Roniquinho, logo algumas situações que aconteceram no capítulo cinco estarão aqui, mas sob uma ótica diferente!
2- Esse é o maior capítulo de todos. Espero que gostem e deixem um coment. Meu coraçãozinho ficwriter agradece! ^^'

Até logo!

*****

"Harry tirou do fundo do malão as meias enroladas e apanhou o minúsculo frasco cintilante.
- Bom, lá vai – exclamou Harry, erguendo o frasquinho e tomando uma dose cuidadosamente medida.
- Qual é a sensação? – cochichou Hermione.
Harry não respondeu logo. Então, gradual mas inegavelmente, invadiu-o a sensação de euforia em que tudo é possível; sentiu que poderia fazer qualquer coisa, qualquer coisa no mundo... e extrair a lembrança de Slughorn pareceu de repente não apenas possível, mas decididamente fácil...
Ele se levantou sorrindo, transbordando confiança.
- Excelente. Realmente excelente. Certo... vou até a cabana do Hagrid.
- Não, Harry: você tem de ir ver o Slughorn, lembra? – disse Hermione.
- Não – respondeu ele seguro. – Vou à cabana do Hagrid, este pensamento produz em mim uma sensação boa.
- Pensar em enterrar uma aranha gigante produz em você uma sensação boa? – perguntou Ron estarrecido.
- Produz – respondeu Harry tirando a Capa da Invisibilidade da mochila. – sinto que é o lugar onde devo estar hoje à noite, entendem o que quero dizer?
- Não – exclamaram os dois amigos ao mesmo tempo, parecendo agora positivamente alarmados.
- Isto aqui é a Felix Felicis, presumo? – perguntou Hermione, ansiosa, segurando o frasco contra a luz. – Você não apanhou outro frasquinho cheio de... sei lá...
- Essência de Insanidade? – sugeriu Ron quando Harry jogou a capa nos ombros.
Harry deu uma risada, e Ron e Hermione ficam ainda mais alarmados.
- Confiem em mim. Sei o que estou fazendo... ou pelo menos... – ele rumou para a porta, confiante – a Felix Felicis sabe.
Ele puxou a Capa da Invisibilidade sobre a cabeça e desceu as escadas, com Ron e Hermione acompanhando-o, apressados. Ao pé da escada, Harry se esgueirou pela porta aberta.
- Que é que você estava fazendo lá em cima com ela? – guinchou Lavender Brown, sem ver Harry, encarando Ron e Hermione que emergiam juntos do dormitório dos garotos. Harry ouviu Ron gaguejar enquanto disparava pela sala, deixando os amigos para trás."


*****

-La-Lavender? Er... nós, quero dizer. Bom, é que eu... olha, não é nada do que você está pensando! – Ron conseguiu falar, apavorado pela possibilidade de Lavender descobrir que Harry havia saído às escondidas da escola quando nenhum aluno tinha permissão para sair à noite.
- Claro que não é o que estou pensando! É exatamente o que estou vendo! – Ron conseguia ver a raiva emergir no olhar de sua namorada. Ele estava em apuros e, no momento que mais precisava, Hermione se afastou e ele não viu onde ela estava. O salão comunal de Gryffindor estava tão cheio que ele não conseguiu ver onde ela havia se sentado.
- Presta atenção no que eu estou falando, Ron! – Lavender guinchou e Ron resolveu não discutir com ela no meio do salão, com todos olhando para eles. – Você não vai me dizer o que estava fazendo no seu dormitório, sozinho, com ela? O que vocês estavam fazendo, Ron? – Lavender pontuou cada palavra com uma raiva que deixava claro o que ela estava pensando: Ron a estava traindo com Hermione. Óbvio que esse não era o caso, mas como é que ele iria explicar o que ele não podia explicar? Ele não podia sequer citar o nome de Harry, já que ninguém o viu.

Estou frito! O que eu faço agora? Pensa, pensa!
Weasley! Saia daqui, é melhor você resolver isso fora daqui. Agora!
Boa idéia!


E sem esperar mais um segundo, Ron saiu em disparada pelo retrato do buraco, seguido de perto por Lavender, que continuava enchendo seus ouvidos de perguntas que ele não poderia responder. Não podia dizer nada a ninguém e esse não era o momento para discussões. Ele não estava com o espírito para encarar uma discussão, muito menos por ciúmes infundados.

- Olha pra mim, agora! – Lavender segurou Ron pelo braço e o puxou para que ele a olhasse. Não toleraria aquela indiferença às suas perguntas por mais tempo. Ele tinha que lhe dar uma explicação de porque ele viera do dormitório dos garotos ao lado daquela... daquela...
- O que você estava fazendo com a Hermione no seu dormitório, Ron? Não me venha com desculpas mirabolantes, eu quero a verdade! – Ela o encarava, e a intensidade no olhar era tamanha que Ron poderia jurar que sentia milhares de facas prontas para serem atiradas contra ele caso a explicação não a convencesse, mas, infelizmente ou felizmente, – ele não sabia definir –, Ron não podia mencionar nada sobre a conversa que ele e Hermione tiveram com Harry instantes atrás.
- Eu não vou dizer o que estávamos fazendo lá em cima porque não estávamos fazendo nada; pelo menos nada do que você está pensando. Somos bem grandinhos, sabe? Eu posso andar com quem eu quiser, ir e vir sem que eu tenha que ficar dando satisfação para você. – Ele tentou soar o mais desinteressado possível, mas a tensão que o tomava não colaborava. Ron não conseguia deixar de pensar em como Harry faria para obter a lembrança de Slughorn e em como ele iria se safar dessa situação desagradável em que Lavender o havia posto.

Pense, pense. Vamos, você consegue!
Weasley,é melhor você deixar que ela fale e você apenas responde. Não vá fazer bobagens!
Eu sei, eu sei! Me deixa pensar, some!


Infelizmente para Ron, a namorada parecia não ter entendido o que ele havia dito ou então resolveu ignorar mesmo, já que continuou exigindo uma resposta: - Vamos! Estou esperando você me dizer o que estava fazendo com a Hermione no seu dormitório! – Lavender cruzou os braços e bufava mais do que nunca. Seus olhos estavam esbugalhados e com um ar assassino.
Ron engoliu em seco, mas se manteve firme. - Eu já disse que não posso contar, então é melhor você se contentar em saber que não estávamos fazendo nada de proibido lá em cima. – disse com olhar e voz firmes.
- Você acha que eu vou acreditar nisso? Como você quer que eu acredite no que você está dizendo se eu não tenho nada em que acreditar? Você realmente acha fácil dizer que não houve nada, mas será que pensou no que eu iria imaginar?

Ih, ela está certa. Ah meu Merlin, vamos lá!

- Eu não pensei em você porque não tinha o que pensar, Lavender. Coloque na sua cabeça que não houve nada demais entre mim e a Hermione. Que coisa! Desde que eu e ela voltamos a nos falar, você não me deixa em paz: é o tempo todo me policiando!
- E você queria que eu fizesse o quê? Sinceramente, eu não acredito nessa história de amizade entre vocês! Eu não acredito que ela veja você apenas como um amigo. Você viu como ela reagiu quando nós começamos a namorar? Ridículo! Aliás, absurdo foi ela te atacar com canários porque você deixou claro que me queria, em vez dela. Ela é uma insuportável que acha que pode opinar na vida de todos e se meter em todos os assuntos da escola. Metida! – Ron começou a sentir seu estômago contorcer-se de raiva. – Ela é uma convencida de que pode manipular a vida de todo mundo. Eu não consigo entender o que vocês viram nela para terem a Hermione em tanta conta.
- Pára de falar isso! Ela não fez nada para você! Não pode falar assim dela! Lavender, ela é sua colega de quarto! – Ron olhava para Lavender totalmente escandalizado. Por um instante, ele não a reconheceu e a observava com curiosidade, como se estivesse tentando encontrar a sombra da pessoa com quem ele estava namorando. Não que ele quisesse ficar com ela, mas é que, de certa forma, é estranho perceber como alguém pode mudar assim.
- Eu não vou parar, você não vai me forçar a parar e eu quero uma explicação. Aliás, o estranho é você ter aparecido ao lado dela. Onde está o Harry? Será que ele está aprontando de novo? Eu não duvidaria, mas o problema é que eu não o vi quando você apareceu, por isso eu quero saber o que estava acontecendo no dormitório.
- Quando você entender que não houve nada, quem sabe, eu consiga explicar alguma coisa a você, mas enquanto você estiver agindo como uma louca descontrolada, eu não vou fazer nada.

O olhar que cobriu os olhos de Lavender deu a Ron a certeza de que ele havia dito a coisa errada. Em um único instante, ele viu sentimentos diferentes passarem pelos olhos dela: ódio, mágoa, dor, desespero e, para a tristeza dele, decepção. Óbvio que Ron não queria mais nada com ela, mas ele sabia que não tinha o direito de agir como um estúpido.

Ele não a queria mais como namorada, mas sabia que tinha de respeitar os sentimentos dela porque foi assim que seus pais lhe ensinaram a conviver com as pessoas. Tudo bem que às vezes ele assumia a faceta do idiota quando abria a boca e começava a falar as coisas sem pensar, mas no fim, sempre no fim, ele se arrependia, e dessa vez não foi diferente.

- Ah! Desculpe, Lavender, eu não queria ter dito aquilo, mas é que...
O problema é que ele não esperava pela reação dela:
- Você ainda se atreve a me pedir desculpas? Como você se atreve? Desde quando você acha que pode me tratar assim? Se eu estou perguntando, é porque eu tenho direito de saber. Caso você tenha esquecido, você é meu namorado. – Lavender parecia muito mais que ofendida; ela parecia sentir-se humilhada pelo 'descaso' de Ron com os sentimentos dela. O problema, na verdade, é que ela não queria admitir para ele que sentia medo de que ele a trocasse por Hermione.

Lavender tinha certeza que isso jamais aconteceria com outro garoto, mas com Ron... Bem, algo dizia a ela que ele não pensaria duas vezes antes de deixá-la se Hermione pedisse que ele assim o fizesse. Claro que ela tinha certeza absoluta que, se dependesse apenas única e exclusivamente de sua colega de quarto, isso jamais aconteceria, mas depois de todo episódio do envenenamento e a reaproximação anormal deles, Lavender não conseguia deixar de pensar que mais cedo ou mais tarde ele a deixaria e faria isso por uma garota inteligente, mas que não era bonita, nem atraente como ela. E ela não admitiria perder para Hermione sem antes lutar. E era isso que ela estava fazendo agora.

- Você é minha namorada, mas não é minha dona. Francamente, você acha que pode ficar exigindo coisas de mim quando eu não quero dizer? Não, você não pode! E eu volto a repetir: não houve nada no dormitório! – A vontade que Ron tinha de gritar com ela e dizer que não a queria mais estava quase, quase vencendo sua determinação de deixar que a conversa continuasse para que ele visse até onde eles iriam naquela discussão infundada. Então, Lavender deu a ele a razão para explodir e deixar de lado todo e qualquer senso de respeito que poderia haver naquele instante.
- Você só está querendo proteger a Hermione, eu sei. – A voz dela estava mais baixa e mais intensa. – Você só não admite o que eu quero que você admita, porque você sabe que aquela sangue-ruim não chega aos meus pés. Ela pode ser inteligente, mas não tem o que eu tenho, não é quem eu sou.
- Não se atreva a repetir isso! – Um ódio fulminante preencheu seus sentidos e Ron não conseguiu mais enxergar com clareza.
- Você sabe que é verdade! Ela só tem esse topete todo porque tem a você e ao Harry para protegê-la, mas ela faz por merecer todas as vezes que o prof. Snape a chama de insuportável e o Draco, de sangue-ruim. Ela é uma sabe-tudo absurdamente insuportável. Além disso, não sabe perder.
- Cale-se! – o rosto de Ron estava vermelho, seu queixo cerrado, os punhos fechados.
- O que você vai fazer? Vai me bater, Weasley?
- Eu jamais bateria numa mulher, Lavender, mas há coisas que doem mais que uma mão no rosto.
- Ah é? O que por exemplo? – ela perguntou debochando da raiva que o tomava.
- Você não chega aos pés da Hermione por uma única razão, Lavender.
- Ah, claro! E essa deve ser a razão da salvação da humanidade... – ela sorriu desdenhosa.
- Não, não é a razão da salvação da humanidade, mas é a razão da minha sanidade ter permanecido intacta todos esses meses com você. Você não se compara a Hermione pura e simplesmente porque eu nunca, em todos esses meses, consegui sentir nada por você. Nada! Você tem idéia do que é nada? Acho que sim. Nada é como eu estava me sentindo naquela noite em que começamos a namorar. Nada é quando você se sente perdido porque não tem quem mais quer ao seu lado. Embora tenha gostado no início, em pouco tempo, eu já me sentia infeliz ao seu lado. Eu não tinha razão alguma pra dizer que você é isso ou aquilo, mas você, sem dúvidas, é a pessoa mais egoísta e mesquinha que eu conheço. Diferente da Hermione que é nobre, se importa com os outros e põe seus próprios interesses de lado em favor das pessoas que precisam. Você jamais será como ela! Você é muito pequena.

Palavras doem, mas Lavender não tinha idéia o quanto elas poderiam ferir quando vinham de alguém de quem se gosta. Cada palavra, cada comparação, cada afirmação de que era de Hermione que ele gostava, fazia com que ela sentisse como se uma faca estivesse sendo lentamente girada em seu peito. Ela começou a chorar. Seu coração se encheu de ódio.

Ela queria que ele sumisse; queria que ele nunca mais a olhasse, mas era impossível quando ela havia sucumbido ao famoso charme dos Weasley. Estava apaixonada de verdade por ele, mas não poderia admitir ter sentimentos por um garoto que achava que ela era tão... insignificante.

- Você é um canalha, Ron! Eu te odeio. E odeio a Hermione também! Vocês se merecem. E eu não sei pra que eu me meti entre vocês. Está tudo terminado, esqueça que um dia você foi meu namorado. Esqueça! – Pronto! Ali estavam as palavras que Ron tanto ansiou ouvir nos últimos meses. Mas o momento estava carregado de tanta mágoa de Lavander e tanta raiva dele pelas ofensas à Hermione, além da culpa pelas palavras duras que acabara de dizer à, agora, ex-namorada, que o ruivo não conseguiu sentir o alívio e a alegria que imaginou que sentiria com o fim de seu namoro. – E eu que pensei que você gostava de mim. - Continuou a loira, ressentida. - Estúpida que eu fui, mas pode ter certeza Weasley: eu vou devotar o mais fervoroso rancor a você e a Hermione porque vocês tiraram de mim o direito de querer ser feliz.

Dessa vez, além de raiva, Ron sentiu um certo nojo por aquela pessoa pobre de espírito e, mais uma vez, deixou suas emoções falaram por ele.

- Você ainda tem esse direito, mas não comigo. Você apenas não tem o direito de ser feliz comigo porque esse direito tem uma única dona. Sempre teve e você sabe disso!
- Cala a boca, vai embora! Eu não quero mais ouvir nada! SOME DAQUI! – Ela gritou por fim, e Ron a deixou temendo ter dito mais que o necessário, temendo ter feito um estrago irreparável a ela. Seu coração doeu, mas ele jamais admitiria que alguém insultasse Hermione na sua frente e ela havia feito isso.

Então, Ron saiu andando rapidamente e sem notar, poucos minutos depois, estava parado em frente ao retrato da mulher gorda:

- Senha? – ela pediu calmamente, enquanto enchia seu cálice com vinho.
- Veritaserum!
- Pode entrar – o retrato girou e ele entrou resmungando e procurando por Hermione. Teve dificuldade para encontrá-la, não só porque o salão continuava cheio, mas porque as pessoas cochichavam e apontavam enquanto ele passava. Depois de algum tempo, encontrou Hermione sentada em um canto meio escondido do salão comunal.
- Mas que garota insuportável! - disse Ron, ainda irritado, jogando-se em outro assento vago ao lado de Hermione. - Como é que eu fui me envolver com ela? Como? Eu devia estar completamente louco! Não tem outra explicação!
- O que foi Ron? O que houve? Onde está a Lavender?
- O que foi? Aquela louca me encheu de perguntas, queria saber por que estávamos lá em cima, com quem e o que estávamos fazendo...
- Você não disse nada, não é? Não falou do Harry, certo?
- Eu não sou tão irresponsável, Hermione. Eu não disse nada e, por isso mesmo, ela terminou comigo. Fez um escândalo terrível e me acusou de traidor e... – Ron sentiu seus interiores se contorcerem de raiva.
- E o quê?
- Ela xingou você, falou coisas horríveis e eu rebati. Disse que ela não tinha o direito de falar de você da maneira como falou. Eu realmente fiquei irado com o abuso dela de te ofender! Onde já se viu? Ela é sua colega de quarto, mas parece não ter se importado. Hermione, você sabe muito bem que perto de mim ninguém te ofende! – a respiração dele estava rasa, e Ron tentou se controlar. Colocou as mãos nos olhos e passou a tentar acalmar sua respiração. Contudo, por mais que tentasse, Ron não conseguia ficar calmo. A cada vez que se lembrava das coisas que Lavander falou sobre Hermione, ele sentia o ódio tomar conta de seus sentidos.
- Sim, eu sei e nunca duvidei disso. – Hermione respondeu, e Ron sentiu um quê de alegria no tom de voz dela. Alegria? Por quê? Ela continuou, e ele percebeu que ela tentava parecer casual – Bom, você não vai ganhar nada se alterando assim, não é? Acalme-se! Nós ainda temos de esperar o Harry voltar. Além do mais, Ronald, você estava ansioso para que isso acontecesse há tempos ou será que estou errada? – No mesmo instante, ele percebeu uma leve tensão no tom de voz dela. Será que ela pensa que eu não queria isso?
- Claro que eu queria! Você sabe disso muito bem, mas é que ela realmente me deixou irado. Ela poderia ter me ofendido completamente que eu não me importaria nem um pouco. Mas ofender você, foi demais! – ele não conseguia fazer com que sua raiva cedesse. O turbilhão de emoções que o tomaram durante a discussão com Lavender foi o suficiente para fazer com que ele perdesse o interesse, momentaneamente, no seu amigo do lado de fora do castelo.
Mas, sem que ele pudesse sequer cogitar essa possibilidade, Ron sentiu uma das mãos de Hermione cobrir a sua. Ele sentia a delicadeza da mão dela sobre a dele e parecia ter se perdido naquela sensação única. Parecia que o calor que vinha dela entrava por sua pele, invadindo suas veias e correndo por seu corpo, fazendo com que ele sentisse aquele calor familiar tomar seu coração. Em algum lugar de sua mente, Ron ouviu Hermione e tentou voltar à superfície de sua consciência que havia sido colocada de lado por aquele simples gesto.
- Não fique assim. Eu acho que ainda não agradeci como deveria por você sempre me defender. – O que aconteceu em seguida o surpreendeu tanto, que Ron não conseguiu articular um pensamento coerente por alguns segundos. Ele apenas ouviu Hermione agradecer por uma proteção que ele oferecia sem esperar retorno. Ele apenas queria protegê-la, queria ter certeza de que ela não sofreria.

Ele sentiu seu rosto esquentar e tinha certeza que estava completamente vermelho. Ron continuava a olhar para a mão que Hermione insistia em deixar sobre a sua. Ele queria experimentar aquela sensação para sempre. Se apenas com um toque, ela conseguia fazê-lo pensar em eternidade, sua boca ficava seca e suas pernas bambas só em imaginar o que aconteceria se eles chegassem a outro patamar na relação, que ganhara nova vida depois do episódio do envenenamento. Permaneceu em silêncio porque não concebia a idéia de estragar um instante tão perfeito, no qual ele sentia que era possível ser feliz tendo muito pouco. Porém, ele sabia que tinha de dizer alguma coisa, qualquer coisa. Tinha consciência de que àquela altura, Hermione estava nervosa e apreensiva com o silêncio dele. Então, Ron tratou de aliviar a tensão que viu nos olhos dela.

- Imagina Hermione, eu sou seu amigo. Sempre fui – ele a olhou nos olhos, ela sorriu – e desde sempre eu te defendi, não ia ser agora que eu deixaria de fazer isso, não é? – ele sorriu timidamente e não podia negar que a vontade que sentia era de poder, pelo menos, abraçá-la. Mas esse não era o momento, não era o lugar... Infelizmente.
- Claro Ron, você sempre fez isso. Você sempre foi meu amigo – eles se olharam – e eu realmente senti falta disso... Você não sabe o quanto.

Ron e Hermione ficaram se olhando. Pareciam ter esquecido onde estavam até ouvirem o buraco do retrato se abrir e Parvati aparecer seguida por Lavender que, ao ver Ron e Hermione juntos, caiu no choro. Ron quis protestar quando não sentiu a mão de Hermione sobre a sua. Quis protestar por ela ter deixado que ele tomasse atitudes das quais se arrependia, mas preferiu evitar mais problemas, mais aborrecimentos.

Abaixou os olhos, mas Ron não conseguia disfarçar o alívio que sentia. Depois de semanas em uma encruzilhada sem saber como se livrar do fardo que Lavender se tornara, agora ele sabia que um mundo de oportunidades se abrira diante de seus olhos. E ele se aproveitaria da boa sorte que vinha tendo nos últimos dias. Ele não deixaria que o silêncio, que o consumia desde o 4º ano, o acovardasse agora. Seria um Gryffindor do fundo do coração e faria jus aos sentimentos que tinha por Hermione. Discretamente, ele voltou a observá-la. Parecia que Hermione estava perdida em pensamentos ou quem sabe preocupações, ele não conseguia definir.

Mas na verdade, pelo menos naquela noite, o que importava é que ele não tinha mais que se preocupar com Lavender. Suas preocupações convergiam, agora, única e exclusivamente para ela e para Harry também, óbvio. E o silêncio que se seguiu não era mais doloroso para Ron. Não era mais um silêncio que o fazia ter saudades das brigas e das incontáveis vezes que Hermione exigia dele e de Harry o mínimo de atenção nos deveres.

Aquele silêncio, mesmo com o salão ainda consideravelmente cheio, gritava desesperadamente o quanto eles estavam próximos de algo que, por enquanto, era invisível aos olhos, mas muito visível ao coração e absurdamente palpável no ar. Ron sentiu-se rodear por um sentimento absolutamente novo: a liberdade. Óbvio que ele era livre para ir e vir e fazer o que quisesse, mas depois de todos os acontecimentos daquele ano, daquela noite, ele sabia que a liberdade que sentia em seu coração não tinha nada a ver com o fato de ele ter terminado o namoro com Lavender. Talvez, ele pensou, essa liberdade, esse sentimento seja a certeza de que eu fiz algo certo nesse ano tão ruim. Tomara que o fim seja redentor. Tomara.

- Ron? – ele acordou de seus devaneios e olhou para Hermione.
- Sim?
- Já é muito tarde, e o Harry não apareceu, será que aconteceu alguma coisa?
- Hermione, ele está sob o efeito da Felix Felicis. Nada de ruim pode ter acontecido a ele. Aposto com você como ele vai trazer boas notícias.
- Agora, você está vivendo um momento otimista! Você nem sempre transparece tanta confiança.
- Bom, levando-se em consideração que ele é Harry Potter, o menino-que-consegue-burlar-todas-as-regras-e-sair-ileso e que está sob o efeito de uma poção da sorte, eu não poderia agir de outra forma não é? – ele sorriu e relaxou na poltrona, o cansaço vencendo a disposição de esperar por Harry.
- É, você tem razão. Mas parece que você está mais confiante que antes. Tomara que isso se repita inúmeras vezes. – ela o provocou, e Ron fez questão de responder a altura.
- Bom, você pode ter certeza que isso vai se repetir mais vezes. Você pode ter certeza que, bom... nos momentos certos eu vou tentar usar essa confiança, principalmente, nos momentos em que eu tiver de resolver coisas importantes, se é que você me entende. – Ron lançou um olhar profundo e incógnito e percebeu que ela ficou incomodada com a maneira que ele a encarou. Sabia que dali em diante, não seria fácil olhar nos olhos dela. Teria de fazer um esforço extra para não se entregar. Mas valeria a pena ser cauteloso porque nos planos dele não haveria mais tempo para que eles ficassem separados. Ele não se permitiria isso. E, com essa certeza, ele voltou ao seu exercício de observação. Pouco depois, mais uma vez, Hermione o trouxe de volta à realidade.
- Acho melhor subirmos, deve ter acontecido algo importante para o Harry não ter voltado ainda. Amanhã conversamos com ele. Então, vamos? – ela se levantou e esperou por ele.
- Sim, claro, vamos, amanhã o dia vai ser puxado. – ele levantou e juntos seguiram para as escadas. Não disseram nada. Desejaram boa noite apenas com um olhar.

Ron permaneceu ao pé da escada e viu Hermione sumir no alto da escada do dormitório feminino. Sorriu satisfeito. O que poderia ter sido uma noite trágica acabou se transformando em uma noite cheia de surpresas. Claro que terminar o namoro com Lavender daquela forma não foi muito bom, mas ele não conseguia negar que foi melhor assim. Ele estava tão ansioso para que isso acontecesse que agora, que realmente havia acontecido, o mundo ao seu redor parecia muito mais suportável.

Subiu, trocou de roupa e tentou esperar por Harry, mas estava tão cansado que foi impossível permanecer acordado. E aquela noite foi a mais tranqüila desde outubro. A mais tranqüila desde o Natal. Era a noite que ele guardaria na memória, não como a em que ele terminara com Lavender, mas como a noite em que havia prometido a si mesmo que não esperaria muito para fazer o que era certo. Ele não esperaria mais e mesmo que quisesse, Ron Weasley estava pronto para trazer Hermione Granger para sua vida de um modo novo e definitivo.

**********

No dia seguinte, Ginny percebeu o comportamento diferente de Ron e Hermione. Mesmo cruzando com eles poucas vezes nos corredores do castelo e sentando relativamente longe de onde eles estavam na hora do almoço, ela percebeu que ambos estavam... felizes! Não demorou e o boato do fim do namoro de Ron se espalhou pela escola e, de repente, tudo fez sentido para Ginny. Ela sorriu internamente da expressão aliviada de Ron e do modo como Hermione sorria.

Ela não conseguiu definir exatamente o que pensar, mas tinha certeza de que Ron não estaria tão feliz se tivesse ganhado uma fortuna em galeões. E sabia que nada deixaria Hermione mais alegre que saber que Ron não estava mais atado a Lavender. Era, talvez, a redenção e o princípio de uma nova história para ambos. Como sua mãe gostava de dizer, nunca é tarde para um recomeço, especialmente quando há amor nesse recomeço.

E no caso dela, Ginny não conseguia negar que queria um começo... um começo ao lado de Harry, mas vinha tentando viver normalmente há tempos e ela havia chegado à conclusão de que foi o melhor a fazer. Não tinha problemas em estar próxima dele e isso era ótimo, mas não conseguia negar que ainda tinha esperanças. Esperanças tão pequenas que ela nem as considerava passíveis de se tornarem realidade. Mas, ainda assim, ela conservava intacto o sentimento que tinha por aquele menino, que estava se transformando em um homem. Aquele garoto com olhar perdido que a conquistou sem dizer uma única palavra. E que seria o dono de muitos dos seus sonhos por muito tempo.


**********

- E Gryffindor segue à frente no placar, agora 290 a 130. Para conseguir a taça de Quadribol desse ano, Gryffindor tem de vencer este jogo por uma diferença mínima, eu disse mínima, de 300 pontos. Uma missão muito difícil, especialmente sem o seu apanhador que neste instante cumpre detenção. Vamos ver se Gryffindor é capaz de vencer sem Harry Potter!

Uma avalanche de vaias foi direcionada ao narrador do jogo entre Gryffindor e Ravenclaw. Dessa vez, o responsável era Blaise Zabini. E a possibilidade de ver Gryffindor perder o impelira a pedir a oportunidade à professora McGonagall. Caso Gryffindor ganhasse por menos de 300 pontos, Slytherin seria a campeã da temporada, e ele não perderia aquela oportunidade de ver a desgraça de Gryffindor nem por um milhão de galeões.

Enquanto isso, no campo, batedores e artilheiros das duas equipes travavam um jogo leal, porém muito disputado. Seus goleiros se desdobravam no esforço descomunal de evitar que a Goles ultrapassasse os aros.

Ginny via seu irmão com um olhar mais determinado que antes. Talvez a vontade de vencer e desfazer o sorrisinho desdenhoso que ornava o rosto dos alunos de Slytherin o estivesse inspirando a jogar tão bem naquela manhã. Era incrível como ele conseguia antecipar movimentos, estudar a tática de uma jogada com uma agilidade incomum. E o idiota ainda dizia que não era bom. Francamente!

Do alto, Ginny observava o espaço do campo de Quadribol com atenção, e Cho Chang a acompanhava de perto. Não queria estar ocupando o lugar de Harry, ele era indispensável para o time. Porém, ao mesmo tempo, achava ótimo ser a apanhadora já que não tinha a mínima vontade de ver Cho Chang perseguindo Harry, nem que fosse para pegar o Pomo de Ouro. Ela ouviu um urro de comemoração vindo do lado da torcida de Ravenclaw e tratou de prestar atenção no jogo novamente; não tinha o direito de errar.

Queria muito estar ao lado de seus companheiros marcando gols e ajudando Gryffindor a chegar ao título daquele ano. Não suportaria a derrota para Cho. Aliás, independente de ser Ravenclaw ou não, ela não suportaria a derrota porque sabia que significava muito para Harry que Gryffindor vencesse.

Mais um urro, dessa vez vindo da torcida de Gryffindor, a fez acordar de seus pensamentos. Embora estivesse patrulhando o campo com toda sua atenção, seus pensamentos, invariavelmente, direcionavam-se para o dono da vaga que ela ocupava naquele instante. Sacudiu a cabeça, jogou a distração para o lado e resolveu acelerar o seu vôo. Cho Chang a perseguiu mais uma vez. Apurou os ouvidos para saber como estava o placar naquele instante, então ouviu Zabini narrar, agora, com desgosto profundo:

- ... ao que tudo indica, o time de Ravenclaw está disposto a entregar o jogo para Gryffindor. Com esse placar, Gryffindor pode ganhar a taça de Quadribol caso a apanhadora da vez, Ginny Weasley, irmã do melhor amigo de Potter, agarre o pomo antes da sua ex-namoradinha. Interessante duelo, não? – Mais uma avalanche de vaias, agora de ambas as torcidas, abafou os comentários de Zabini, que foi repreendido com rigor pela professora McGonagall.

Ridículo. Era a única palavra para definir o narrador. Ginny percebeu que Cho ficou atônita e enrubescida com o comentário venenoso de Zabini; a própria ruiva sentiu as bochechas esquentarem e a raiva borbulhar com a mera sugestão de um duelo entre as duas apanhadoras. Não poderia deixar de repetir com Zabini o que fez com Smith no primeiro jogo da temporada. Ele não tinha o direito de expor a vida pessoal de Harry daquela maneira! Tentou deixar a indignação de lado e se concentrar novamente e quando olhou na direção das arquibancadas de Hufflepuff, lá estava ele, o Pomo de Ouro.

No segundo seguinte, Ginny, aproveitando-se da pequena distração envergonhada de Cho, inclinou-se sobre sua vassoura e impôs a maior velocidade possível. O estádio inteiro levantou-se; se ela agarrasse o pomo, Gryffindor venceria. Seria o terceiro título seguido, e ela determinou-se a pegar aquela bola. O vento assoviava em seus ouvidos. A velocidade que imprimira não deixava que ela distinguisse nada além do pomo a sua frente.

Cho Chang levou alguns segundos para recuperar a atenção no jogo e passou a seguir a ruiva com afinco. Estavam praticamente lado a lado. Cho empurrou Ginny, que devolveu o empurrão. Desequilibradas, quase caíram de suas vassouras antes de perceberem quão próximas estavam do chão; então, Ginny notou que ela só conseguiria agarrar o pomo se fosse até o fim. Inclinou um pouco mais a vassoura e seguiu determinada. Olhou para Cho, que a olhava desesperada; dúvida viva em seus olhos: seguir ou não? Enfrentar ou não? Vencer ou não? E, vendo a hesitação no olhar da rival, Ginny esticou o braço direito; estava a poucos centímetros do pomo. Olhou para Cho, mas ela já não estava lá, desistira.

Ginny olhou novamente para o pomo e, no instante seguinte, direcionou sua vassoura para cima na direção da torcida de Gryffindor que explodiu em um urro ensurdecedor de alegria. Ginny planou em frente à cabine onde Zabini, com uma expressão desapontada, para não dizer indignada, observava, furioso, a comemoração da equipe e dos alunos de Gryffindor. Ginny o encarou, satisfeita, e com simplicidade libertou o pomo.

A equipe a cobriu num abraço coletivo. Ron estava radiante e, sem se importar com os outros, abraçou-a e deu-lhe um beijo no rosto. O garoto equilibrou-se na vassoura e subiu no ar para descer rápido e parecia mais feliz do que nunca. Feliz como ela não vira antes.

Sorriu satisfeita. Quando chegou ao chão, Ginny desapareceu na avalanche de braços que a pegaram e levaram-na nos ombros em direção à Torre de Gryffindor. Sentia-se mais feliz que nunca e sabia que Harry ficaria feliz por terem sido campeões. Harry! Ele era a peça que faltava na comemoração; ele era a razão por que ela havia se empenhado tanto nos últimos treinos e no jogo também. Apesar das aparências, ela nunca deixou de alimentar um sentimento especial por ele e, como acontecera no ano anterior, Ginny substituíra Harry sem problemas e havia se empenhado muito mais só para vê-lo feliz.

Ela estava tão concentrada em seus pensamentos que mal percebeu quando chegaram ao salão comunal. Depois de ser colocada no chão, junto com o restante do time, todos entraram e começaram uma festa que tinha tudo para durar o dia inteiro. Porém, a professora McGonagall entrou no salão e pediu o silêncio e a atenção de todos:

- Muito bem! Primeiramente, gostaria de parabenizar a equipe pelo título. Estou muito feliz pela conquista e tenho certeza que vocês se esforçaram muito, especialmente depois que o Sr. Potter informou que não poderia jogar. Tenho absoluta certeza de que ele, como capitão da equipe, ficará muito feliz com a conquista. Bem, estou aqui para avisar que esta festa não poderá durar muito tempo; vocês sabem que estamos sob constante vigilância e não é seguro expor todos os alunos. Então, vocês estão liberados para comemorar até as seis da tarde. Gostaria que a festa não se prolongasse além desse horário. Srta. Granger, Sr. Weasley, providenciem para que isso aconteça, sim? E nada de desobedecerem aos monitores!

Todos olhavam para Ron e Hermione com olhares suplicantes. Aquela era a única oportunidade que teriam de sentir a normalidade novamente, mas Hermione tratou de enterrar qualquer esperança de uma festa prolongada:

- Pode contar conosco professora! Faremos como a senhora determinou.
- Perfeito Srta. Granger. Bom, vocês estão liberados. Divirtam-se porque nós merecemos. – McGonagall sorriu satisfeita e com um quê de orgulho em sua voz declarou: - Obrigada pela conquista. Mais um ano com a taça de prata no meu escritório.

Todos permaneceram em silêncio. Quando o buraco do retrato se fechou, a comemoração explodiu mais uma vez. Não se sabe de onde, mas dúzias e dúzias de cervejas amanteigadas apareceram sobre a maior mesa no salão. Seamus e Neville apareceram, um tempo depois, com tortinhas de abóbora, bolos de caldeirão e outras comidas da cozinha de Hogwarts.

Ginny olhou ao redor e sentiu-se feliz. Ela sentiu uma onda de normalidade preencher o ar do salão comunal. Há semanas eles não sabiam o que era respirar com tranqüilidade. Há meses eles não sabiam o que era não se preocupar com o que estava acontecendo do lado de fora do castelo.

Cansada, porém satisfeita, Ginny seguiu em direção à mesa onde estavam as cervejas para pegar uma quando Dean Thomas apareceu ao seu lado oferecendo a bebida. Ela o olhou desconfiada, mas aceitou a oferta. Sem dar muita atenção para Dean, que ficou olhando para ela como se houvesse alguma coisa muito estranha em seu rosto, Ginny passou os olhos pelo salão à procura de Hermione e, em um canto, viu sua amiga e seu irmão conversando animados; ela não queria interromper nada, mas tinha que se livrar de seu ex-namorado. Não queria ficar perto dele, contudo, antes que pudesse sequer se mover, Dean segurou seu braço e a fez olhar para ele. Quando ela o encarou, viu determinação nos olhos do rapaz:

- Vamos conversar? – ele perguntou usando um tom suave e um sorriso esperançoso.
- Conversar? Sobre o quê? – ela respondeu, descontente por ele estar segurando seu braço e com um movimento firme se livrou dele.
- Como “sobre o quê”, Ginny? Sobre nós! – ele replicou, incrédulo. Como ela respondia a ele dessa forma? Essa era a oportunidade certa para eles voltarem a namorar, e ele não deixaria a sorte do momento fugir.
- Eu não tenho nada para conversar com você. Não somos mais namorados; agora somos apenas amigos. – ela o encarava esperando pela reação dele.
- Claro que você tem. Nós temos. Ginny, eu... eu quero voltar a namorar você. Eu não me conformo com o jeito que terminamos. Quer dizer, com o jeito que você terminou, porque eu não sei ainda o porquê de você ter terminado comigo daquela maneira.
- Olha, Dean, eu não quero brigar com você. Nós terminamos e ponto. Não há nada que você possa fazer para mudar isso; é melhor você se conformar. Eu não quero mais nada com você e espero que você respeite a minha decisão. Além do mais, se você não percebeu, há semanas que o nosso namoro já não vinha tão bem. Vai ser melhor assim, você aí e eu aqui, apenas amigos... colegas.
- Mas...
- HEY GINNY! VEM CÁ!! – Ron salvou a irmã de ouvir mais uma porção de razões porque ela deveria voltar a namorar Dean Thomas. Ela não queria magoá-lo, mas não toleraria a insistência dele. Com um sorriso satisfeito no rosto, Ginny foi em direção ao seu irmão, deixando um Dean Thomas atordoado pela tentativa fracassada de reconquista da ruiva.

Quando olhou para trás, apenas para se certificar de que Dean não a seguia, Ginny observou a tristeza tomar conta da expressão do rapaz, mas não poderia declinar de sua resolução de não voltar a namorá-lo. Precisava sentir-se livre de um namoro que a estava sufocando. Foi em um momento semelhante a este, em que ela se sentia sufocada e infeliz, que Ginny terminou seu namoro com Michael Corner. E agora a história se repetia com Dean.

Juntou-se a Ron e Hermione que conversavam animadamente sobre o jogo. Ginny achou graça de sua amiga parecer tão interessada em um jogo para o qual ela nunca deu muita importância. Efeito Ron Weasley, Ginny pensou, sentindo-se um pouco menos culpada por causa de toda confusão entre Ron e Hermione.

Seu irmão não soltava a taça de prata. Dizia que queria entregá-la nas mãos de Harry; primeiro, porque ele era o capitão da equipe e segundo, porque aquela conquista era de todos, mesmo com a ausência do amigo. Sorria feliz, como ela não via há tempos e Ginny imaginou que a soma dos fatores deixou seu irmão mais que satisfeito. E ela não podia negar que, mesmo ele sendo um idiota intrometido, ela o amava muito para vê-lo tão triste e miserável como ele estava antes de voltar a falar com Hermione. E agora, que eles haviam voltado a se falar, a ruiva não escondia a vontade de ver os maiores teimosos de Gryffindor juntos. Finalmente!

Ela ficou algum tempo observando o movimento no salão enquanto os colegas a cumprimentavam pela vitória. O clima eufórico era contagiante, e em pouco tempo Ginny estava conversando animadamente com Collin e Denis Creevey. A eles se juntaram outros colegas e a ruiva sentia-se a cada instante mais feliz. Lamentava a ausência de Harry, mas sabia que a comemoração era merecida. Pegou mais uma cerveja amanteigada e foi novamente rodeada por um grupo de terceiranistas interessadíssimos nos lances finais, quando ela estava a centímetros do pomo de ouro. A conversa seguia animada e a contagiante felicidade fazia com que Ginny esquecesse dos problemas e do medo que rodeava a todos. Pelo menos durante aquele dia, eles estariam trancados e esquecidos do lado de fora dos portões do castelo.

O tempo parecia passar lentamente e Ginny já estava apreensiva com a demora de Harry. Olhou para o relógio em seu pulso e tentou imaginar se Harry demoraria muito a chegar. Não fazia a mínima idéia de como iria reagir quando o visse, mas sem dúvidas não deixaria de, pelo menos, abraçá-lo. Ela tinha certeza que a dúvida sobre o resultado estava consumindo Harry e mais que nunca ela desejava que ele chegasse logo e visse que eles haviam sido campeões, de novo.

Ela olhou pelo salão mais uma vez e viu, em um canto, Lavender Brown cochichando com Parvati Patil. Fez uma careta para a cena e voltou a olhar para o irmão quando ouviu o buraco do retrato se abrir, Harry surgir e ser puxado para o interior do salão por 3 pares de mãos. Ele parecia atordoado com todo aquele barulho. Era impossível não perceber o estado de incredulidade dele quando percebeu a comemoração.

Ela viu Ron ir ao encontro do amigo e, sacudindo a taça, falar sobre o resultado do jogo. Naquele instante, Ginny não sabe como e nem de onde veio tamanha coragem e, ignorando que todos olhavam para o capitão da equipe e que havia cinqüenta pessoas dentro do salão comunal, ela correu ao encontro de Harry e atirou-se nos braços dele.

Uma sensação diferente, como se o dia estivesse mais claro que o normal, como se o mundo ao redor deles tivesse simplesmente se transformado em nada, tomou conta do coração da jovem Weasley. E, no segundo seguinte, ela sentiu o calor envolvente dos lábios de Harry Potter sobre os seus. Mesmo que quisesse, Ginny não conseguiria definir como se sentiu naquele instante. Ela poderia tentar usar todas as palavras do mundo, mas nenhuma delas poderia explicar com exatidão o que se passava no coração daquela ruiva determinada.

Ginny não queria formular explicações para nada naquele momento. Estava sendo beijada pelo garoto por quem se apaixonou quando ainda nem podia ir a Hogwarts. Estava sendo beijada pelo garoto com o qual sonhou durante vários anos. Estava sendo beijada pelo garoto que sempre fora O seu escolhido.

Quando se separaram, Ginny permaneceu algum tempo de olhos fechados, ainda apurando o gosto daquele beijo sonhado por tanto tempo e tentando recobrar os sentidos. Ao abrir os olhos, viu um brilho intenso nos olhos de Harry e o verde sempre tão vivo parecia mais profundo ainda.

Saíram pelo buraco do retrato e do lado de fora, Ginny laçou seus dedos aos de Harry e com ele foi para uma longa caminhada nos jardins. Não queria pensar no jogo. Não queria falar sobre o jogo. De repente, ela percebeu que todos os acontecimentos daquele dia haviam se reduzido a pó no momento em que ela percebeu que Harry Potter, o menino que sobreviveu, a estava beijando... apaixonadamente.


**********

- Não tenho muito tempo – ofegou Harry. – Dumbledore acha que estou só apanhando a Capa da Invisibilidade, escutem...
Em poucas palavras, contou-lhes onde estava indo e por quê. Não parou nem diante das exclamações de horror de Hermione nem das perguntas apressadas de Ron; eles poderiam deduzir os detalhes sozinhos depois.
- ... estão entendendo o que isto significa? – Harry terminou ligeiro. – Dumbledore não estará aqui hoje à noite, portanto Malfoy estará livre para tentar o que quer que esteja tramando. Não, me escutem! – sibilou zangado, quando Ron e Hermione deram sinais de querer interrompê-lo. – Sei que era o Malfoy comemorando na Sala Precisa. Tomem... – Ele empurrou o Mapa do Maroto na mão de Hermione. – Vocês têm de vigiá-lo e têm de vigiar Snape também. Usem quem puderem reunir da AD. Hermione, aqueles galeões de contato ainda estão funcionando, certo? Dumbledore diz que instalou proteção adicional na escola, mas, se Snape estiver envolvido, ele saberá qual foi a proteção e como evitá-la... mas ele não estará esperando que vocês estejam de guarda, não é?
- Harry – começou Hermione, seus olhos arregalados de medo.
- Não tenho tempo para discutir – cortou-a Harry. – Tome isto também... – Ele empurrou as meias nas mãos de Ron.
- Obrigado. – disse Ron – Ah... para que preciso de meias?
- Precisa do que está embrulhado nelas, é a Felix Felicis. Dividam entre vocês e a Ginny também. Se despeçam dela por mim. É melhor eu ir, Dumbledore está me esperando...
- Não! – exclamou Hermione, quando Ron desembrulhou o frasquinho de poção dourada, parecendo assombrado. – Não queremos a poção, leve com você, quem sabe o que irá enfrentar.
- Estarei bem, estarei com Dumbledore – respondeu Harry – Quero ter certeza de que vocês estejam o.k... não me olhe assim, Hermione, vejo vocês mais tarde...
E ele se foi, atravessou o buraco do retrato e rumou para o Saguão de Entrada.


*****

Hermione e Ron olhavam perplexos para o buraco do retrato por onde Harry havia acabado de sair, e assim ficaram por breves segundos. Não sabiam o que fazer. Estavam paralisados de medo, mas não havia espaço para hesitações: o momento exigia que reunissem toda coragem de Gryffindor que tinham e encarassem fosse o que fosse, viesse o que viesse.
Quando viu Harry sumir pelo buraco do retrato, Ron não sabia em que pensar. Sentiu uma sensação estranha tomá-lo e percebeu que o medo estava fazendo suas mãos tremerem. Ele apenas acordou do transe quando sentiu Hermione puxá-lo.
- Ron, vem cá!
Ela o puxou para um canto do salão comunal e abriu o mapa do maroto. Ele olhava para os lados enquanto Hermione procurava atentamente por alguém no mapa.
– Olha só, a Ginny está na biblioteca com o Collin. Eu vou até lá e você fica aqui com o mapa. Procure o Malfoy e pense em um jeito de ficar no encalço dele. Eu vou tentar não demorar muito.
Ron sentiu o mapa em suas mãos e viu Hermione se afastando - Certo, não se preocupe. Mas... Hermione? – ela o olhou e Ron sentiu uma onda de medo preencher seu coração – Cuidado! Eu não sei, mas o Harry costuma não errar em se tratando do Malfoy.

E então ela se foi. Quando ouviu o retrato se fechar, Ron Weasley não conseguiu parar de pensar em tudo que estava acontecendo, ou o que supostamente estava acontecendo. Não que ele duvidasse de seu amigo; não era isso. O problema, na verdade, é que ele não queria acreditar que havia um perigo tão iminente assim. Ele não queria acreditar que a vida dele e de pessoas que ele amava estava em perigo. Ele não conseguia acreditar que Harry, Ginny e Hermione, em primeiro lugar, estavam em perigo. Óbvio que estando com Dumbledore, Harry não corria tanto perigo assim, mas era impossível pensar que seu amigo, por alguma razão, não estivesse certo. Uma sensação estranha de que Harry não estava errado fez Ron ficar apreensivo rapidamente.

Não era seguro ficar do lado de fora dos salões comunais depois do pôr-do-sol e Hermione havia saído há pouco tempo, mas parecia uma eternidade e a preocupação do ruivo só aumentava. E o tempo passava e aos poucos a preocupação com as garotas fez Ron andar para lá e para cá.

Seamus e Dean observavam o colega andar e resolveram 'brincar' com Ron:
– O que foi, Weasley? O sofá parece grande demais sem a Lavander para dar uns amassos?
- Cala a boca, irlandês! – Ron respondeu, incapaz de não se aborrecer com o comentário inoportuno do colega.
– Hum, está nervosinho, é? Não se preocupe, Weasley, sempre vai existir uma garota avoada como a Lavander para cair na lábia de um bruxo sem talentos como você.
- Eu disse para calar a boca, irlandês! – Ron respondeu mais uma vez, mas agora cerrou os punhos e combateu a repentina vontade de quebrar os dentes de Seamus.

Dean sorria descaradamente e tentava imitar a feição de Ron. Quando resolveu olhar os colegas, Ron teve certeza de que a melhor coisa que Ginny fez foi ter se afastado de Dean, porque, sendo amigo daquele irlandês, ele jamais poderia ser alguém confiável.

- Ron, admite, você é tão fraco que tem medo de tomar suas próprias decisões; vive na sombra do Harry e da Hermione. Nunca conseguiu o seu próprio espaço. Nem marcar sua passagem por Hogwarts você conseguiu. Você é muito menor que seus irmãos, que a Ginny.
- Cala a boca! – Ron enfureceu-se e partiu para cima de Seamus, que foi se afastando com medo do tamanho e da fúria ruivo – É melhor você calar essa sua boca. Quem você pensa que é para falar do Harry, dos meus irmãos e da Hermione? Lave essa sua boca suja antes de pronunciar o nome deles! Eu posso ser seu colega, mas isso não me obriga a te aturar, Finnigan. E da próxima vez, se houver uma próxima vez, eu não vou perdoar os seus dentes.

Ron lançou um olhar assassino para Seamus, que havia se escondido atrás de uma das poltronas do salão comunal. Seamus devolveu o olhar com desdém e tentando parecer indiferente, mas ele não conseguia disfarçar o tremor nas mãos e nas pernas. O choque com a reação de Ron fez com que ele se arrependesse de ter provocado o colega. Naquele instante, ele percebeu que não era seguro provocar um Weasley quando ele parecia nervoso. Mas ele não sairia por baixo nessa discussão.

- Eu posso não ter o direito de falar deles, mas eu falo. Eu posso ter de lavar a boca para falar deles, mas não farei como você disse pura e simplesmente porque você não vai me obrigar a nada, Weasley; você é desprezível. Saiba que eu realmente nunca te achei um grande bruxo. Só é o que é por causa dos seus amigos e...

A dor foi lancinante e quando conseguiu entender o que estava acontecendo, Seamus viu Dean e Denis Creveey segurando Ron com toda força que conseguiam reunir. Quando tocou o nariz, o irlandês o sentiu quebrado.

- Weasley! Você... você quebrou meu nariz!
- Eu te avisei, Finnigan. Você não tem do que reclamar e não adianta dizer que vai falar com a prof. McGonagall porque você sabe bem que, se ela for punir alguém, ela punirá a nós dois. Portanto, pense bem antes de sair daqui como um bebê chorão. – Os olhos de Ron estavam mais escuros que o normal e por breves instantes, ele havia esquecido de sua irmã e de Hermione.

Seamus subiu apressadamente as escadas para o dormitório, sequer olhou para trás. Dean largou Ron e foi ao encontro do amigo. Denis sentou-se e ficou observando Ron que aos poucos se acalmou.

Ron estava transtornado, mesmo sentindo que havia se acalmado um pouco mais. Estava envergonhado com a reação que teve, mas ele não conseguiu evitar. Passou as mãos pelos cabelos e sentou-se em uma poltrona próxima ao buraco do retrato. Depois de ter perdido o controle com a discussão, aos poucos seus sentimentos foram se assentando e Ron voltou a se preocupar com Ginny e Hermione e segundos mais tarde já estava tendo uma síncope com a demora das duas. E assim os minutos seguiram e pareciam mais lentos que o normal. Quando Ron já havia decidido sair para procurar por Hermione e Ginny, elas surgiram no buraco do retrato.

- Mas que demora, Hermione. Eu cheguei a pensar que algo tivesse acontecido a vocês. Gin, o que foi? Por que você está assim? – Ron, após trocar um olhar preocupado com Hermione, observou que Ginny parecia distante, e ele não gostou da sensação de insegurança que o assaltou quando se lembrou da última vez que havia visto a irmã naquele estado: às vésperas de todo episódio na Câmara Secreta.
- Não sei Ron, eu sinceramente não sei. Acho que é só preocupação, nada mais que isso, fiquem calmos. Mas me digam o que houve? Por que o Harry teve que sair com Dumbledore?
Hermione e Ron trocaram olhares nervosos. Ron sabia que eles não poderiam contar nada a Ginny, a ninguém. E agora, ele e Hermione não sabiam como explicar, ou melhor, como não explicar o que estava acontecendo para Ginny.
- Ah! Que pergunta a minha não é? Até parece que vocês dirão o que ele foi fazer com o prof. Dumbledore! – ela balançou a cabeça e as madeixas vermelhas cobriram seus ombros. – Que pergunta imbecil.
- Ginny, nem nós sabemos direito. O Harry não entrou em detalhes. Ele apenas entrou aqui, pegou a capa da invisibilidade, nos entregou a Felix Felicis e o Mapa do Maroto, falou tudo aquilo que eu já te expliquei e pediu para que nos despedíssemos de você por ele. Ron, cadê a poção?
- Está aqui! – antes de entregar o vidrinho para Hermione, Ron desejou que aquela poção dourada realmente os protegesse, viesse o que viesse. – Certo, esperem aqui, eu vou chamar os outros. Já volto!
- OK! – responderam Ron e Ginny.

Ron e Ginny viram Hermione desaparecer no topo da escada para o dormitório feminino. Ginny encostou-se na parede próxima à saída do buraco do retrato. Ron olhava para a janela do outro lado da sala. A noite estava clara e o céu limpo. Fosse outra oportunidade, esta seria uma noite perfeita para ele ficar horas e horas conversando com seus amigos, jogando xadrez, fazendo deveres. Mas o que o estava deixando nervoso era o fato de que coisas normais que todo jovem na idade dele era acostumado a fazer não eram e nunca foram um hábito para Ron e seus amigos. E, uma vez mais, ali estavam eles, a ponto de enfrentar o desconhecido e prestes a escreverem mais uma página de uma grande aventura em suas vidas. Contudo, diferente das outras ocasiões, Ron não conseguia sentir a confiança que sempre sentiu quando se colocou na frente de luta contra os inimigos de seu melhor amigo. Nem no ano anterior, quando encararam a morte mais de perto, ele havia sentido tanto medo e não havia se sentido tão inseguro.

Ele balançou a cabeça e tentou afastar os pensamentos negativos e concentrou-se na tarefa à frente: defender a escola custasse o que custasse. E ele realmente não deixaria de cumprir sua missão. Não decepcionaria Dumbledore, Harry... a si mesmo. Ron suspirou fundo e verificou se a varinha estava no bolso de seu jeans. Olhando pela sala, ele pôde ver que havia poucos alunos e que o lugar estava tranqüilo. Ótimo clima para ninguém duvidar de nós – ele pensou. No instante seguinte, Hermione surgiu no alto da escada e desceu apressada:

- Bom, eu já convoquei a todos. Vamos ver quantos aparecerão. – Por um momento incerto, Hermione trocou olhares com Ron, que não consegui disfarçar o nervosismo.
- Vamos!

Saíram pelo buraco do retrato e seguiram para o Salão Principal. O silêncio que tomava conta dos corredores por onde passavam deu a Ron a impressão de que o próprio castelo estava se preparando para algo muito grande. Bobagem! Pensou consigo. Castelos não se preparam para nada. As pessoas sim, e quando têm a preocupação de se preparar.

Mas o que será que vai acontecer? Será que o Harry está certo? Será que algo vai acontecer? Será que é fato que a escola já não é tão segura? Será que vamos conseguir superar seja lá o que for?

As perguntas se multiplicavam e as incertezas também. Ron não conseguia conter a onda de pessimismo que o invadiu quando pensou que pessoas de quem ele gostava poderiam estar em perigo. Perigo real. Hermione, Ginny, Harry, os professores (alguns é claro!), outros amigos. Ron sentia como se os corredores tivessem dobrado de tamanho e o caminho para o Salão Principal, sempre tão breve, dessa vez, estava mais longo e silencioso. Hermione parecia absorta e ele poderia apostar que ela estava pensando como ele. Ron conseguia ver a sombra de algo muito parecido com medo cobrindo as feições dela. Ginny, por sua vez, parecia determinada, mais que o costume. Tinha nos olhos o brilho de quem está pronto para enfrentar a batalha... a morte. Ron sacudiu a cabeça e afastou quaisquer pensamentos de morte e concentrou-se em tentar traçar uma estratégia para não perder Malfoy de vista dessa vez. Dessa vez, ele não vai escapar de nós!

Pouco depois, Ron, Hermione e Ginny chegaram à porta do Salão Principal e, quando Hermione a abriu, Ron sentiu sua boca secar e seu rosto fechar-se numa expressão de puro terror. Não se desespere! Vamos, você consegue. Vocês são poucos, mas... Não havia como completar o pensamento. Ron olhava para Neville e Luna e sentia que essa noite seria mais longa que o normal. Se o que Harry havia dito se tornasse verdade, eles não teriam a menor chance contra o que Draco planejara. E isso o deixava com vontade de trancar as garotas no salão comunal e seguir sozinho com Neville. Mas ao que parecia, ele não fora o único a sentir que o mundo estava prestes a desmoronar. O tom urgente na voz de Hermione deixou claro que ela também ficara surpresa. Apenas Neville e Luna.

- Er... só vocês viram a mensagem? Vocês falaram com alguém? – Ron, não pode evitar um suspiro decepcionado. Ele jamais duvidaria de Neville e Luna, mas não conseguia acreditar que apenas eles haviam atendido ao chamado de Hermione. Droga! Não pode ser!
- Eu não falei com ninguém. O salão comunal estava lotado e ao que me parece os integrantes da AD não estavam interessados nos galeões. Se é que eles ainda têm seus galeões. – Luna, estava certa, e Ron viu no rosto de Hermione que esse era o maior temor dela. E agora, eram apenas eles e ninguém mais.
- Eu também não falei com ninguém. – Neville respondeu com um tremor em sua voz, e Ron percebeu o quanto o amigo também estava receoso com aquela urgência. Como era possível sentir medo de algo desconhecido que, de certa forma, poderia acontecer? Por que Harry sempre tinha que ter a razão nesses momentos?
- Tudo bem, nós vamos conseguir. Escutem, o Harry não está na escola. Ele e o prof. Dumbledore saíram. O ele nos disse que, provavelmente, o Malfoy vai colocar em prática um plano que vem articulando desde o início do ano. O Harry acha que o Malfoy fará isso hoje porque nem ele e nem o prof. Dumbledore estão na escola, por isso pediu que reuníssemos a AD novamente para que pudéssemos proteger Hogwarts, mas vejo que apenas nós faremos isso.

Ron observou quando Hermione pegou o vidro de Felix Felicis e, em um claro sinal de concentração, franziu o rosto tentando se lembrar de algum feitiço específico. O tempo passava muito lentamente naquele instante, Hermione continuava concentrada em sua tarefa, e Ron só conseguia pensar na segurança de seus colegas, sua irmã, Hermione, Harry. Temia, óbvio, contudo, nada o deixava mais exasperado que aquela incerteza sobre o que os esperava. Apesar de sempre ter sido muito inseguro, Ron nunca gostou de ter dúvidas quando havia uma tarefa a ser cumprida. Harry confiava em seus amigos e isso era importante para que a segurança de todos na escola não fosse abalada. E estando sozinhos, para Ron não havia outra solução: eles seriam os únicos a ajudar a proteger a escola, e mesmo que dissessem a seus professores sobre a suspeita de Harry, quem acreditaria neles com tantas medidas de segurança? Quem daria crédito a cinco jovens que supostamente sabiam mais que os próprios professores?

Em questão de alguns minutos, Hermione conjurou os copos e distribuiu a Felix Felicis para todos; aquela seria a única maneira que eles teriam de se proteger caso ficassem frente a frente com algum perigo real. Então, ele ouviu Hermione dizer:

- Bom, esta é a poção da sorte. O conteúdo que está em cada copo pode nos dar entre três e quatro horas de sorte. Espero que possa nos ajudar se alguma coisa realmente acontecer. – Ron segurou o copo e o virou na boca. A repentina sensação de sorte começou a tomá-lo, mas mesmo assim ele não conseguia disfarçar sua ansiedade e preocupação.
- Hermione e agora o que faremos?– ele perguntou, ansioso por saber como agir.
- Bom, vamos nos dividir, é o melhor a ser feito agora! – Hermione pegou o Mapa do Maroto das mãos de Ron o abriu e tocou com sua varinha. – Juro solenemente não fazer nada de bom.
Aos poucos a escola foi sendo revelada. Enquanto Ron e Hermione procuravam por Malfoy, Ginny e Neville notaram a presença de Bill, Tonks e Lupin no portão de entrada da escola:

- O que eles estão fazendo aqui? – Ron ouviu Ginny perguntar quando olhou o ponto que ela indicava.
- Não sei, mas isso não é bom sinal. – respondeu Ron. Membros da Ordem em Hogwarts não poderia significar algo de bom, e Ron tratou de imaginar o que fazer para parar Malfoy, para evitar o que ele estava planejando. A cada segundo, ele sentia que Harry não estava errado, nunca estivera.
- Bom, vamos fazer nossa parte. Pelo menos não estamos sozinhos nessa. Ron, você, Ginny e Neville podem ir para o sétimo andar. Acho que eu e a Luna conseguimos ficar de olho no prof. Snape.
- Hermione, isso não está nada bom. Eu não consigo achar o Malfoy, talvez ele esteja mesmo na Sala Precisa. – ele a olhou com um misto de preocupação e frustração. Não saber como agir com exatidão deixava um abismo de incerteza à frente de Ron, Ginny e Neville, já que eles tentariam impedir qualquer ação de Draco.
- Mais um motivo para vocês irem logo para lá. Não podemos deixar que ele pense que vai ser fácil. – Mesmo sabendo que era o melhor, Ron não gostava de ter que se separar de Hermione e deixá-la a mercê de um ex-comensal. Snape nunca foi muito confiável, mesmo sabendo que o Prof. Dumbledore confiava inteiramente em seu professor de DCAT. Contudo, não havia nada a ser feito, e agora a única alternativa era esperar que Harry estivesse enganado, e que Malfoy estivesse apenas com alguma garota na Sala Precisa. Tinha que ser um engano.
- Bom, acho melhor irmos agora. Não podemos ficar mais tempo aqui. Por favor, cuidado! Tomem todo cuidado possível; se algo acontecer, não quero nenhum de vocês ferido.

Ron a olhou e sentiu uma vontade imensa de não deixar que ela fosse sozinha para as masmorras. Claro, ela estaria com Luna, mas não era a mesma coisa. Ele gostava de estar atento à segurança de seus amigos e sabia que Hermione e Luna, sozinhas e tão longe dos outros, poderiam estar em maior perigo que qualquer um deles. Ron sacudiu a cabeça para afastar tantos pensamentos negativos.

Viu Hermione abraçar Gin e Neville (que, para não fugir ao hábito, ficou vermelho da raiz dos cabelos até a ponta do nariz). Quando Ron a viu se aproximar, instintivamente abriu os braços e a envolveu. Se havia uma batalha a ser travada, ele acabara de ganhar novas forças para encarar os inimigos. Ron fechou os olhos brevemente e fez uma prece silenciosa para que tudo corresse bem. Quando pensou que ela fosse se afastar, ele ouviu algo que jamais imaginou que ouviria Hermione dizer a ele:
- Por favor! Por favor... cuide-se. Trate de ficar inteiro e bem. Não me dê outro susto. Já me basta o que você me fez passar três meses atrás.

Ele sentiu a bochecha da garota esquentar e podia jurar que o rosto dela estava tão ou mais vermelho que a bandeira de Gryffindor que ornava o escritório da professora McGonagall. E quando se afastou de Hermione, sem saber como, por que e de onde veio tamanha coragem, Ron sussurrou:
- Eu vou ficar inteiro por você e pra você! – foi a vez de ele sentir seu rosto arder. Não era fácil se expor, mas ele tinha uma leve desconfiança de que não havia tempo para voltar atrás. E mesmo com um frio na barriga e um nervosismo crescente, ele não deixou de olhar nos olhos dela:
- Promessa é dívida Ron!
- Eu não faria uma promessa se não fosse capaz de cumpri-la Srta. Granger. – O que estava acontecendo com ele? Por que tamanha coragem para falar tais coisas para ela? Talvez, ele pensou, isso tenha algo a ver com toda essa incerteza. Em algum momento, eu teria de mostrar porque sou um Weasley e porque estou em Gryffindor. Então, Hermione continuou:
- Bom, é hora de irmos. Cuidem-se e até mais!

~~

Ron, Neville e Ginny subiam, em silêncio, as escadas em direção ao sétimo andar. O som seco dos passos ecoando pelas paredes dos corredores vazios dava uma impressão muito maior de abandono. Saber que Dumbledore e Harry não estavam na escola era um fator que enervava Ron a ponto de ele sentir o suor umedecer suas mãos. O ruivo dobrou o mapa do maroto, que ainda estava aberto e firme em sua mão, guardou-o no bolso de trás do jeans surrado que usava e secou as mãos na camiseta igualmente usada. A noite estava agradável; com a proximidade do verão, o frio de antes fora substituído por um clima ameno que dispensava todo excesso de roupas e, naquela oportunidade, isso poderia ser mais que útil. Quanto maior a agilidade, maior a possibilidade de se livrar de problemas!

Quando chegaram ao sétimo andar, Ron aproximou-se da parede onde, provavelmente, apareceria a porta para a Sala Precisa. Ele precisava descobrir um meio de fazer a porta se revelar. Mas como? Parado em frente à parede, ele pensou por algum tempo em como conseguir entrar na sala. Ele tentou se concentrar e pensou em várias possibilidades, caminhava de um lado para o outro. Olhava para a parede, fechava os olhos e tentava mais uma vez, porém nada fazia com que a porta aparecesse.

Desistindo de tentar entrar na Sala Precisa, Ron virou-se para Ginny e Neville, que estavam atentos a qualquer movimento no corredor. Retirando o mapa do bolso e observando-o uma vez mais, Ron viu Bill, Tonks e Lupin próximos ao escritório de Dumbledore. McGonagall estava andando pelos corredores do 2º andar. Hermione e Luna estavam entrando nas masmorras e Snape estava em seu escritório. Discretamente, Ron tocou o nome ‘Hermione Granger’ com a ponta do dedo e desejou sorte a ela e a Luna também. Tocando o mapa com a ponta da varinha, Ron o guardou novamente e, dessa vez, foi em direção a Ginny que observava o lado direito do corredor:

- Nada de anormal, não é? – ele perguntou. Falou baixo, mesmo sabendo que não havia ninguém por perto. Estavam sozinhos.
- Nada! Mas, ainda assim, Ron, eu não me sinto confortável com toda essa situação. Óbvio que ela já é desconfortável por si só, mas desde que a Hermione me contou sobre a ausência do Harry e do prof. Dumbledore, eu estou com um sentimento muito estranho. Tomara que não seja nada!
- Não há de ser Ginny, não há de ser! Eu só espero que eles não demorem muito aonde quer que tenham ido. – Ron replicou com firmeza.
- Ron, você tem certeza que não sabe para onde o Harry foi? – Gin perguntou com calma, mas o tom exigente não escondia a desconfiança da ruiva.
- Juro que não, Ginny! O Harry chegou apressado, chamou a mim e a Hermione, nos falou um punhado de coisas, entregou o frasco com a Felix Felicis para mim e nos mandou ficar de prontidão para proteger a escola. E até agora, nada! Acho que da próxima vez vou pensar duas vezes antes de levar as desconfianças do Harry a sério.

Ginny bufou indignada com o irmão. Olhou mais uma vez para o corredor coberto pelas sombras que a Lua criava. Ficou em silêncio; não queria brigar com Ron quando a situação pedia atenção. Mesmo com aquela aparente calma, qualquer ruído seria suspeito. Ron continuava parado ao lado dela. Parecia nervoso, e Ginny começou a sentir aquela sensação estranha de que algo muito importante aconteceria naquela noite.

- Há quanto tempo estamos aqui? – Ron perguntou e tirou Ginny de seus devaneios.
- Não faço idéia, talvez uma meia hora ou um pouco mais. Neville? – ela chamou o amigo, que foi ao encontro dos dois com uma expressão determinada no rosto.
- Estranha essa quietude toda por aqui. Nunca vi esses corredores tão silenciosos antes!
- Neville, você tem idéia de quanto tempo estamos aqui? - Ginny perguntou calmamente, embora não estivesse se sentindo tão calma.
- Bom, 35 minutos exatamente. Será que o Malfoy está aí dentro mesmo, Ron?
- Se ele está, eu não sei. Mas tem alguém aí dentro, e eu estou torcendo para que não seja o Malfoy, porque seja o que for que ele está aprontando, obviamente, não deve ser nada bom.
- É tomara que não seja ele. – Neville olhou para a parede por onde ele e os amigos passaram tantas vezes no ano anterior.

Agora que a Sala Precisa estava indisponível, parecia a Neville que mais uma vez ele poderia provar para si mesmo que não era um covarde, um medroso. Desde que descobrira que poderia se defender, ele havia se determinado a não deixar que o medo o consumisse. Desde então, ele percebera que o que faltava a ele era confiança. E notou que, em situações como essa, ele sempre estaria pronto, sempre enfrentaria os fantasmas que o assolavam desde sua infância. Estaria pronto para tudo, para qualquer coisa.

~~

O tempo passava lentamente. Ron, Ginny e Neville continuavam a cercar a entrada da Sala Precisa. Ron chegou a tentar revelar a porta da sala uma vez mais, e logo desistiu quando em sua tentativa fracassou.

Estavam ali há aproximadamente uma hora e nada havia acontecido. De repente, do canto do olho, Ron viu a porta aparecer e Draco Malfoy surgir, segurando algo que lembrava muito uma mão e também um saco. Neville e Ginny também perceberam a movimentação e avançaram para a porta. Mas, antes que alcançassem o loiro, Draco abriu o saco, jogou o conteúdo no ar e, no instante seguinte, Ron, Ginny e Neville não conseguiram ver nada a sua frente. Eles tentaram vários feitiços para quebrar a escuridão, mas nada funcionava. Ouviam a movimentação de várias pessoas, mas não conseguiam enxergar nada.

- Lumus! – Ginny tentou, mais uma vez, sem resultado. A escuridão que os rodeava parecia impenetrável por qualquer rastro de luz.
- Incêndio! – dessa vez, Neville tentou iluminar o caminho deles, mas novamente foi inútil. Parecia que não havia maneira de eles conseguirem romper aquela barreira.
- Ron, o que é isso? Por que não conseguimos enxergar nada? – Ginny perguntou; ela nunca havia passado por uma situação tão... estranha. Lidar com a escuridão sem saber o que havia logo a frente era assustador.
- Eu tenho certeza de que esse é o Pó Escurecedor do Peru! Fred e George! Não acredito que eles vendem isso para qualquer um. – assim que concluiu a frase, Ron ouviu a voz arrastada de Draco e pediu para que Neville e Ginny permanecessem em silêncio, para que ele pudesse compreender o que o sonserino falava.
- Vamos! Nós não temos muito tempo. Façam o que o mestre pediu e tratem de não decepcioná-lo. – apesar de soar arrogante como sempre, a voz do jovem Malfoy parecia mais esganiçada e insegura que o costume.

Ron continuou a ouvir a movimentação de pessoas e tentou procurar em sua mente uma explicação lógica para Draco conseguir enxergar naquela escuridão falsa.

- Ginny, você se lembra quando o papai falou da Mão da Glória?
- Não, eu não me lembro? O que é isso?
- Ele confiscou uma que estava com um trouxa. Havia sido roubada da mansão de um velho bruxo. O papai levou pra casa e nos mostrou como funciona. Ela faz com que apenas quem a estiver segurando possa enxergar em uma escuridão como essa. Óbvio! Malfoy está usando a Mão da Glória, de outra forma ele não conseguiria enxergar.
- E o que vamos fazer?? – Neville perguntou.
- Vamos andar, não podemos ficar aqui parados o tempo todo esperando o pó se dissipar. Precisamos sair daqui. Varinhas em punho! A escola precisa de nós!

Ron, Ginny e Neville seguiram cautelosamente no meio do breu total, tateando as paredes sem lançar um feitiço sequer. Embora fosse muito ruim estar rodeado por aquela escuridão, a certeza de que Comensais não conseguiriam vê-los fazia com que eles não se sentissem tão incompetentes por terem deixado que os seguidores de Voldemort entrassem na escola.
A angústia foi crescendo no peito de Ron desde que ouviu passos de outras pessoas acompanharem os de Malfoy. Como ele conseguiu trazer outras pessoas ao castelo? E mais importante: quem saíra da Sala Precisa há poucos instantes? Seriam realmente Comensais da Morte em Hogwarts? Ron não queria se deixar levar por pensamentos negativos, mas, enquanto via a escuridão ao seu redor ir diminuindo aos poucos, as desconfianças que Harry vinha levantando sobre Malfoy praticamente desde o verão passado pareciam fazer cada vez mais sentido.

Não demorou muito e eles já estavam livres do pó, mas já não havia sinal algum dos invasores. Ron respirava pesadamente como se estivesse com um peso absurdamente insuportável nos ombros. Eles tinham que encontrar alguém. Avisar alguém da invasão. Caminhando para encontrar ajuda, o ruivo passou a rememorar, em uma fração de segundos, todos os comportamentos estranhos de Malfoy durante o ano. Mais e mais, a tese de Harry sobre Draco parecia estar certa. Assim, sem pestanejar, Ron saiu correndo em busca de ajuda. Ginny e Neville em seu encalço. Harry, ele estava certo. Estava certo!

~~

Tonks vigiava um dos diversos corredores do sétimo andar. Ao lado dela, Remus Lupin olhava com desconfiança para qualquer sombra que se mexesse. Bill Weasley caminhava com precaução. Eles foram surpreendidos com a coruja de Dumbledore pedindo para que fossem à Hogwarts. Foram recebidos pela professora McGonagall que tratou de colocá-los a par de toda situação.

- ... e por essa razão, Dumbledore pediu para que vocês viessem. Ele suspeita que essa ausência não seja tão boa para a escola, mas ele tinha que sair.
- Por que Minerva? Onde Dumbledore foi? – Remus perguntou em um tom de voz que deixou McGonagall sem saber se ele estava mais desconfiado ou preocupado.
- Eu não sei Remus. – ela suspirou tensa. – Mas Dumbledore sabe o que faz, então confiemos nele. Por alguma razão ele acha melhor para todos aqui que vocês fiquem essa noite fazendo a ronda dentro do castelo. – Quando ela olhou para Remus, Tonks e Bill Weasley, sentiu, sem saber explicar a razão, que aquela noite seria um divisor de águas para todos.


Remus ficou a pensar nas palavras de sua antiga professora e nem percebeu o olhar que Tonks lhe lançava. A situação entre eles estava muito diferente havia meses. E ele queria acreditar que aquela preocupação e aproximação não tinham nada a ver com sentimentos mais... profundos. Mas antes que pudesse completar o pensamento, ele ouviu várias vozes aproximando-se de onde ele estava. Ron, Ginny e Neville apareceram de repente: vermelhos e ofegantes não conseguiam articular uma frase inteligível. Um atrapalhava o outro.

- Esperem! Acalmem-se! Eu não consigo entender o que vocês estão falando. – antes que Lupin perguntasse o que estava havendo para que os três jovens estivessem tão afoitos, Ron tratou de tomar a palavra:
- Professor, Comensais da Morte. Há Comensais em Hogwarts. Entraram pela Sala Precisa, não me pergunte como, mas foi por lá.
- Ron, você tem certeza? Comensais?
- Tenho professor, tenho certeza. E não são poucos. Malfoy, foi ele quem facilitou a entrada dos Comensais.

Remus olhava incrédulo para Ron, Ginny e Neville, mas não tinha razão alguma para duvidar dos três. Eles jamais brincariam com algo tão grave. Comensais da Morte em Hogwarts! Merlin, Malfoy facilitando a vida deles, para seja lá o que eles estejam planejando conseguir aqui em Hogwarts. Remus olhou para Bill e Tonks e fez um gesto para que o seguissem; Ron, Neville e Ginny acompanharam os três. Antes que sua mente fosse tomada por feitiços e maneiras diferentes de derrotar um oponente, Remus Lupin desejou que tudo acabasse o mais breve possível. E que ele não tivesse vindo.

~~

- Cuidado! GINNY!!! – Ron gritou um segundo antes de uma maldição da morte quase acertar sua irmã.

Vários Comensais haviam entrado na escola. Draco estava ao lado de um muito grande e avantajado que o protegia enquanto eles seguiam, ainda lutando, rumo ao corredor que levava à Torre de Astronomia. A desordem que havia se instalado naqueles corredores era a certeza de que a guerra estava mais próxima e mais impiedosa.

Ron estuporou um Comensal e petrificou outro que estava prestes a atacar Neville pelas costas. A penumbra dos corredores cobria o rosto de todos, mas ele conseguia se lembrar de alguns quando os ouvia desdenhar das habilidades deles:

- Estudantes, apenas isso, meus amigos! Vamos mostrar a eles como bruxos de verdade agem.

Anthony Dolohov. Ron reconheceu a voz do Comensal assim que ele começou a falar com uma frieza intocável. O sangue subiu à cabeça do ruivo quando se lembrou de tudo que aconteceu no Departamento de Mistérios e de como ficou dias sem dormir direito, pensando se Hermione teria alguma seqüela grave por causa do feitiço que a atingiu. E ele, naquele momento, não conseguiu conter as palavras:

- APENAS ESTUDANTES, MAS MUITO MELHORES QUE VOCÊ SEU GRANDE BASTARDO! STUPEFY! – o Comensal caiu desacordado, e Ron o ignorou sumariamente enquanto correu atrás de um grupo que seguia pelo caminho que levava à Torre de Astronomia.

Havia azarações e maldições voando para todos os lados, mas parecia que nada acertava Ron. Ele viu Ginny se esconder num canto quando uma maldição fez pedaços de parede se espalharem por toda parte, enquanto bloqueava uma azaração. Era desesperador ver os amigos e membros da Ordem lutando contra um número tão grande de Comensais da Morte.

Todos continuavam a se enfrentar. Tonks combatia dois Comensais com vigor. Lupin havia petrificado um outro e a professora McGonagall repelia os ataques de um Comensal mais jovem com astúcia e determinação. Ron e Ginny enfrentavam três Comensais. Mesmo não estando em grande número, Ron teve a impressão de que os Comensais eram quase imbatíveis. Contudo, aos poucos, eles conseguiam reduzir o número de invasores.

O ruivo viu um grande número deles seguirem para a entrada da Torre de Astronomia. Quando o último entrou, uma cortina formou-se e ninguém conseguia passar por ela. Neville tentou passar pela proteção, mas foi arremessado contra a parede. Ron tentou transpor a barreira, mas foi lançado para trás, assim como Neville. Suas costas doíam e ele pensava se toda aquela situação absurda poderia piorar. Mal sabia que seus temores se concretizariam, que tudo iria piorar e que, de todos ali, a vida de seu irmão era a que correria o maior perigo.

Ron e Ginny haviam acabado de estuporar dois Comensais quando ouviram um grito rouco e enlouquecido. Quando Ron olhou na direção do grito, seu sangue gelou. Bill estava sendo atacado por Greyback. Lutava para se livrar do lobisomem que o mordia com fúria. Os braços sangravam; a varinha ainda firme na mão direita. Ron tentava alcançar o irmão, mas sempre havia alguém para atravessar seu caminho. O desespero que tomou conta do jovem Weasley era tamanho que ele não conseguia enxergar mais nada com clareza a sua frente. Seu foco estava fixo em seu irmão sendo atacado por um maníaco. Bill!

Ron sentiu uma onda de alívio cobri-lo quando viu feitiços serem lançados contra Greyback para distraí-lo; ele não sabia quem havia se ocupado em distrair o lobisomem, mas mesmo assim a situação não poderia ser pior. O rosto de Bill, antes tão bonito, estava agora banhado em sangue e Ron sentiu seu estômago se revirar com a possibilidade de o irmão estar... Não! Não!

- Bill! Bill! Fala comigo, cara! Por favor, não morre! Bill! – Ron estava desesperado com a visão aterradora de seu irmão. Ele tocou o pulso de Bill e conseguiu senti-lo. O que seria de Bill? Ele se transformaria em um...
- Neville, cuidado!! – Ron ouviu Ginny gritar quando o amigo foi acertado e lançado contra a parede. O rapaz caiu desacordado e com uma mancha de sangue no canto da boca.
- Não Ginny, não vá! Precisamos ficar juntos senão eu não sei o que acontecerá conosco. – havia urgência e medo no tom de voz de Ron. Não que ele estivesse com medo, mas era dever dele proteger sua irmã, mesmo que ela insistisse que sabia se cuidar.
- Ron, eu sei muito bem me cuidar. Se eu estou inteira até agora é porque...
- Tomamos a Felix Felicis. Não ignore esse fato e seja cautelosa. Veja! Bill, Neville e muitos outros estão bastante feridos. Não podemos nos arriscar mais.

Gritos, maldições, azarações. O caos continuava a reinar nos corredores. Ambos os lados tinham suas quedas. Ron continuava a duelar com dois Comensais. Ginny e Tonks enfrentavam outros. Quando conseguiu se livrar dos inimigos, Ron olhou ao redor e imaginou como e quando aquele pesadelo acabaria. Será que estava tudo bem com seus amigos? Harry? Ron foi acordado de seu breve devaneio quando Ginny o alertou sobre a presença de seu professor de DCAT.

- Ron, o professor Snape! – Quando Ron olhou para trás, Snape corria como se não houvesse pessoas ao redor, como se não houvesse duelos sendo travados. Seguiu direto para a barreira que impedia a entrada dos demais na Torre. Mas para a completa surpresa de Ron, Snape passou pela barreira como se ela não estivesse ali. Lupin tentou entrar, imaginando que Snape tivesse retirado o encantamento que mantinha impossível o acesso ao alto da Torre; contudo, sentiu uma dor excruciante quando suas costas acertaram a parede à frente da barreira.

O tempo passava tão lento que Ron imaginou, brevemente, que o dia não amanheceria mais; ele continuava a duelar com um Comensal muito ágil, quando ouviu uma comoção e logo viu Snape e Malfoy surgirem sendo seguidos por Harry. O ruivo se surpreendeu com a presença do amigo.

Quando Draco e Snape passaram correndo, sendo seguidos por Harry, Ron pensou ter ouvido o professor gritar algo e os outros Comensais os seguiram. Ron correu atrás deles, não poderia deixar que eles ficassem impunes depois de tudo que haviam feito em Hogwarts, mas quando viu Neville desacordado, olhou ao redor: havia um Comensal morto; Neville estava desmaiado; Bill irreconhecível. O caos era o único resultado visível daquela batalha.

~~

Cerca de vinte minutos mais tarde, Ron estava apoiado na parede em frente à grande porta de madeira da Ala Hospitalar. Quando colocaram Bill em uma maca e o levaram até lá, ele não pôde acompanhar o irmão; estava ajudando Remus a guiar os alunos de volta para os dormitórios e, como monitor, foi à Torre de Gryffindor e proibiu que os alunos deixassem o lugar. Falou rapidamente com a Mulher Gorda para que ela não deixasse ninguém sair e seguiu para o hospital.

Quando chegou, ele não pôde entrar, Madame Pomfrey ainda prestava os primeiros socorros ao mais velho dos Weasley. A preocupação de Ron ia além da aparência do irmão; sobre esse aspecto, ele poderia se recuperar com o tempo e, mesmo com alguma cicatriz, Ron tinha certeza de que Bill não deixaria de ser bonito como sempre foi; contudo, ele não conseguia parar de pensar nas seqüelas reais: será que Bill se transformaria em lobisomem? Será que Greyback o havia contaminado a ponto de ele se transformar? Será que seu irmão resistiria a essa realidade?

Ron sacudiu a cabeça com vigor. Não importava o que Madame Pomfrey dissesse sobre as seqüelas, Bill teria sempre o apoio da família e amigos. Ele não precisaria se preocupar com isso. Ron olhou pela janela, o céu estava limpo e as estrelas cintilavam, o clima ameno anunciava a chegada do verão; certamente, aquela seria uma noite perfeita para sentar no gramado e passar horas conversando sobre nada e qualquer coisa com os amigos.

Ron fechou os olhos e se sentiu derrotado; falhara miseravelmente e agora seu irmão estava deitado em uma cama, sendo medicado e sem saber se iria ou não se transformar em um monstro. Ele suspirou alto e levou as mãos aos olhos e os apertou como se não quisesse ver mais nada a sua frente. Pensou em sentar no chão; estava cansado. Mas antes que ele conseguisse se mover, Ron ouviu passos. Alguém estava correndo, na verdade. Quando ele levantou os olhos, viu Hermione se aproximando rapidamente. No mesmo instante, ele se afastou da parede e sentiu uma onda de alívio tomá-lo por completo: ela estava bem! Suspirou fundo quando sentiu Hermione abraçá-lo e a envolveu pela cintura em um abraço forte e real. Real porque tudo parecia muito insano e irreal naquela noite tão ruim.

O tempo parecia estar passando lentamente, uma vez mais. Ele deixou-se confortar com a proximidade de Hermione e não reclamou quando ela o apertou mais. Então, Ron sentiu lágrimas molharem seu pescoço. Pânico tomou conta dele e, em um tom preocupado, perguntou:

- Por que você está chorando? Eu te machuquei? Fiz algo de errado?
- Não seu grande bobo! Não! – ele não entendeu o porquê do choro, mas também não voltou a perguntar; resolveu ficar quieto no conforto dos braços de Hermione. Pela primeira vez naquela noite, ele se sentia... seguro. Ron sabia que a eterna preocupação de Hermione não demoraria a aparecer:
- O que houve? Por que você está assim? Onde estão os outros? E o Harry? E a Ginny?
- Espera, Hermione, uma pergunta de cada vez e uma resposta de cada vez também. O Bill, ele foi... foi atacado por Greyback. – Ron caminhou em direção à janela. Não conseguia encarar aquela realidade tão injusta. – E agora ele está...
- Está o que Ron? Não me diga que ele...
- Nem pense em terminar essa frase. – ele a cortou; um traço de raiva na voz. Não queria pensar no pior. Mas quando Ron viu Hermione corar e abaixar os olhos, ele se arrependeu da grosseria. Hermione era a última pessoa em quem ele queria descontar seu nervosismo. Antes que pudesse se desculpar, porém, ela acabou o fazendo.
- Eu... desculpe. Mas o que houve então? O que aconteceu com seu irmão?
- Greyback o atacou e deixou várias marcas no rosto dele. E além disso, não sabemos se ele... se vai se transformar em um lobisomem.

Ron abaixou a cabeça. Era difícil falar do irmão sabendo que tudo aquilo poderia ter sido evitado se eles tivessem acreditado em Harry. Por um momento, Ron sentiu-se tão ou mais responsável por não ter levado as palavras do amigo a sério. E não era preciso dizer o quanto o coração dele doía toda vez que se lembrava que seus pais ainda não estavam lá. Sua mãe, ele tinha certeza, entraria em desespero com a visão do filho. Ele mesmo não conseguia apagar a visão horrível de antes.

Então, sem esperar, Ron sentiu o toque leve e delicado de Hermione em seu rosto. O cansaço da batalha, o desespero que ele sentia, a incerteza do futuro... de repente, tudo se apagou de sua mente e o conforto de estar novamente sentindo Hermione tão próxima fez com que ele fechasse os olhos e se inclinasse ao toque dela. Um segundo se passou, e Ron sentiu Hermione abraçá-lo novamente. Sem a sensação de urgência presente no primeiro abraço, Ron deixou-se acalmar; permitiu-se esquecer o que estava acontecendo. Nem que fosse por poucos minutos, ele precisava de uma real sensação de... paz.

- Então, foi sobre o Bill que a McGonagall falou! ele a ouviu falar baixinho.
- Sim, era sobre ele. Não sei quem afastou Greyback do Bill, mas de qualquer forma ele ainda tentou atacar outros membros da Ordem. – Ron a olhou e teve a terrível visão de Hermione no meio daquela batalha, Greyback a atacando. Ele fechou os olhos, respirou fundo e continuou a falar. – Hermione, todos aqueles feitiços. Maldições imperdoáveis para todos os lados e nada nos acertou. Não fosse a Felix Felicis – ele engoliu em seco – eu estaria morto, tenho certeza.
- Ron...
- E também a Ginny e o Neville. Estávamos perdendo. Éramos poucos para tantos Comensais, mas de repente o Snape apareceu. Foi um alvoroço entre eles, então nós vimos ele subir a escada para a Torre de Astronomia. Ele ultrapassou uma barreira mágica que havia lá, não sei como, mas conseguiu. Ele demorou um pouco lá em cima e depois eu vi o Harry correndo atrás dele e do Malfoy. Tentei falar com ele, mas não adiantou. Parecia que ele não via nenhum de nós e continuou correndo. Não sei o que houve, mas acho que ele e o Snape estavam correndo atrás do Malfoy.
- Ron...
- Acho que algo sério aconteceu, você viu a Marca Negra? Eu não vi, só ouvi os outros falando.
- Ron, por favor eu posso falar? - Ele se assustou. Nunca fora de falar demais, por isso ele ficou muito vermelho:
- Desculpe! Eu... é que eu ainda estou nervoso. Falar disso tudo é a única alternativa para mim. Eu não consigo pensar no que eu posso fazer. Hermione, estou me sentindo incapaz. Certo, eu sempre fui, mas agora está demais e...
- Nunca mais diga que você é incapaz, Ron. – a voz soou forte e ele percebeu que não deveria falar coisas desse tipo perto dela, porque ela sempre o reprovava. – Ron, será que você não percebe? Você não é um imprestável e muito menos falhou com seu irmão. Por Merlin, vocês estavam enfrentando Comensais da Morte e sair vivo já é uma mostra de que você é capaz. – ele queria replicar, mas ela foi mais rápida. – E não se atreva a dizer que foi por causa da Felix Felicis, nós nem conhecíamos essa poção ano passado e saímos todos vivos do Departamento de Mistérios.
- Não me lembre daquela noite, por favor! – Lembrar do papel ridículo que ele fez no Departamento de Mistérios era o mínimo; na verdade, ele não gostava de lembrar daquela noite porque, assim que acordou de seu estupor, Ron viu Hermione desmaiada e, naquele instante, descobriu que o mundo inteiro poderia continuar a existir, mas se ela não estivesse por perto, nada e ninguém teria mais graça para ele.
- Bom, vamos entrar. Acho que é bom ficarmos com o Bill. Alguém mais se feriu?
- O Neville, mas não foi nada grave.
- Ainda bem que não foi grave. Vem, vamos entrar. Seus pais não chegaram ainda e o Bill não pode ficar sozinho.
- Certo! – Ron segurou a mão de Hermione e seguiu para dentro da enfermaria.

E a mão de Hermione enlaçada à sua pareceu o único conforto possível diante da cena que viu logo que entrou na Ala Hositalar. Ron não fazia idéia do quanto seu irmão havia sido ferido. Madame Pomfrey aplicava uma substância verde escura no rosto e no peito de Bill. E Ron desejou profundamente que aqueles curativos contivessem magia suficiente para fazer seu irmão levantar daquela cama de hospital com nada além de algumas cicatrizes pelo corpo.

~~

Dormitório masculino do 6º ano – Torre de Gryffindor

Quando Ron abriu a porta do dormitório, o lugar estava quase completamente silencioso, não fosse pelo som da canção de Fawkes que ressoava por toda a escola. As cortinas das camas de Dean e Seamus estavam fechadas, mas eles ainda estavam no salão comunal. Aliás, apenas Ron e Hermione haviam subido para seus dormitórios porque os demais alunos permaneceram conversando e confabulando sobre o que havia acontecido, ou pelo menos sobre o que eles achavam que havia acontecido.

Neville estava na ala hospitalar e Harry ainda não havia voltado. Ron sentou-se em sua cama e passou a observar os jardins, que agora pareciam calmos, como se nada tivesse acontecido naquela noite.

Ele não podia negar que ainda estava muito abalado com tudo que havia acontecido. O ataque à Hogwarts, a morte de Dumbledore, a quase morte de Bill... Ele respirava com dificuldade; resolveu fechar os olhos para tentar afastar as imagens e sons do horror de antes. Mesmo assim, parecia que a cada minuto o ar ficava mais rarefeito como se todo o mundo estivesse sendo engolido por uma nuvem de incerteza e medo. Não, não era apenas uma impressão, era a realidade!

Ron tentou pensar em algo para tirar os pensamentos dos horrores que presenciou. No segundo seguinte, ele se lembrou da cumplicidade que sentiu no olhar de Hermione quando eles se despediram a pouco e essa pequena lembrança foi suficiente para que ele se sentisse mais calmo depois de uma noite tão trágica.

O coração apertado com a incerteza do futuro, a cabeça girando com pensamentos aleatórios, o temor por tudo que estava por vir... ele suspirou profundamente e tratou de se levantar. Quando chegou à janela, Ron ainda pôde ver movimentação nos jardins. Funcionários do Ministério da Magia ainda circulavam pelos terrenos da escola em busca de criminosos que não estavam lá há tempos. Patéticos! Ron murmurou e voltou as costas para a janela.

Ele não sabia que horas eram e para ser sincero, não faria a mínima diferença se era dia ou noite. A sombra de incerteza havia decido sobre todos em Hogwarts e fora da escola. A guerra já não era um talvez que por vezes era mascarado pelo Ministério ou pelo Profeta Diário; a guerra estivera, na verdade, sempre por perto, mas dessa vez havia tocado em cada um como se fosse um vento gelado anunciando a chegada de mais um inverno rigoroso.

Ron suspirou e fechou os olhos. O cansaço querendo vencê-lo, mas ele esperaria até que Harry voltasse. Ele tinha que saber o que havia acontecido; uma explicação para entender tudo, uma única explicação seria suficiente para ele poder tentar compreender o porquê de a vida de todos ter virado de cabeça para baixo tão rápido. De repente, Ron percebeu que a vida de todos já estava virada de ponta-cabeça há muito tempo. Muito antes de Voldemort retornar, muito antes de Sirius morrer, muito antes de eles se sentirem desamparados com a morte de Dumbledore.

Ron sentou-se na cama uma vez mais e descansou a cabeça entre as mãos. Cansado, dolorido, machucado, deprimido. Os machucados sumiriam logo, algumas horas de sono e o cansaço já não existiria, bem como as dores que sentia por todo corpo. Mas aquele sentimento de inutilidade que o consumia desde que vira Bill ser atacado por Greyback não seria fácil de superar. Talvez alguns dias, ou quem sabe algumas semanas, mas o certo é que não seria fácil para Ron olhar para o irmão ou para Fleur, até mesmo para seus pais. Ele ainda se sentia culpado, mas sabia que isso não o levaria a lugar algum e, por isso, tratou de começar a aceitar que nem tudo era sua culpa.

Quando ele já estava se sentindo menos culpado e mais apreensivo pela demora do amigo, Ron ouviu o clique da porta do dormitório e no segundo seguinte, viu Harry surgir com uma expressão tão desolada que fez seu coração doer pela dor que o amigo sentia naquele momento. Harry sentou-se em sua própria cama e encarou Ron por alguns instantes. Momentos suficientes para o ruivo refletir sobre a impossibilidade de haver palavra no mundo inteiro que pudesse confortar Harry Potter, o menino que sobreviveu, depois de uma perda como essa. Mais uma perda; mais uma vez traumática; mais uma vez testemunhada. Então, Harry falou:

- Estão falando em fechar a escola – disse Harry.
- Lupin falou que fariam isso – comentou Ron.
Houve uma pausa.
- Então? – perguntou Ron muito baixinho, como se achasse que a mobília poderia estar ouvindo. – Vocês encontraram um?Conseguiram pegá-lo? Um... um horcrux?
Harry sacudiu negativamente a cabeça.Tudo que se passara naquele lago escuro parecia agora um pesadelo muito antigo; teria mesmo acontecido, e apenas há algumas horas?
- Não conseguiram pegá-lo? – Ron pareceu desconcertado. – Não estava lá?
- Não – respondeu Harry. – Alguém já tinha levado e deixado uma imitação no lugar.
- Já tinha levado?
Em silêncio, Harry tirou o medalhão falso do bolso, abriu-o e entregou-o a Ron. A história completa poderia esperar... não tinha importância essa noite... nada tinha importância exceto o fim, o fim de sua aventura sem sentido, o fim da vida de Dumbledore...
- R.A.B. – sussurrou Ron –, mas quem é?
- Não sei – respondeu Harry, deitando-se na cama inteiramente vestido e olhando para o teto estupidamente. Não sentia a menos curiosidade pelo tal R.A.B.; duvidava que voltasse a sentir curiosidade na vida. Deitado ali, ele percebeu subitamente que os jardins estavam silenciosos. Fawkes parara de cantar.
E ele soube, sem saber como sabia, que a fênix partira, deixara Hogwarts para sempre, da mesma forma que Dumbledore deixara a escola, deixara o mundo... deixara Harry.

~~

(...) Ron e Hermione correram ao encontro de Harry e passaram por Scrimgeour, indo em direção oposta; o garoto se virou e continuou sua caminhada devagar, dando tempo para os amigos o alcançarem, o que finalmente aconteceu embaixo de uma bétula onde costumavam sentar em épocas mais felizes.
- Que é que Scrimgeour queria? – sussurrou Hermione.
- O mesmo que queria no Natal – respondeu Harry, sacudindo os ombros. – Queria que eu desse informações confidenciais sobre Dumbledore e virasse o novo garoto propaganda do Ministério.
Ron pareceu lutar intimamente por um momento, então anunciou em voz alta para Hermione:
- Olha, me deixa voltar para dar um murro no Percy.
- Não – disse ela com firmeza, segurando-o pelo braço.
- Mas eu vou me sentir melhor!
Harry riu. Até Hermione esboçou um sorriso, que desapareceu quando ela ergueu os olhos para o castelo.
- Não consigo suportar a idéia de que talvez nunca voltemos – disse ela baixinho. – Como é que Hogwarts pode fechar?
- Talvez não feche – falou Ron. – Não corremos maior perigo aqui do que em casa, não é? Está igual em toda parte. Eu diria até que Hogwarts está mais segura, há mais bruxos para defender o lugar. Que é que você acha Harry?
- Não vou voltar nem que reabra.
Ron olhou-o boquiaberto, mas Hermione disse com tristeza:
- Eu sabia que você ia dizer isso. Mas, então, o que vai fazer?
- Vou voltar mais uma vez à casa dos Dursley, porque era o que Dumbledore queria. Mas será uma visita breve, e então partirei para sempre.
- Mas aonde é que você vai, se não voltar para a escola?
- Pensei talvez em voltar para Godric's Hollow – murmurou Harry. Vinha ruminando está idéia desde a noite em que Dumbledore morrera. – Para mim, tudo começou ali. Tenho a sensação de que preciso ir até lá. E posso visitar os túmulos dos meus pais, gostaria de fazer isso.
- E depois? – perguntou Ron.
- Depois tenho de rastrear os outros Horcruxes, não é? – respondeu Harry, os olhos no túmulo branco de Dumbledore refletido nas águas do lago. – É o que ele queria que eu fizesse, por isso é que me contou tudo que sabia sobre eles. Se Dumbledore estiver certo, e tenho certeza que está, ainda há quatro Horcruxes por aí. Preciso encontrar todas e destruí-las, e depois correr atrás da sétima porção da alma de Voldemort, a que ainda habita o corpo dele, e sou eu quem vai matá-lo. E se eu encontrar Severus Snape pelo caminho – acrescentou Harry –, tanto melhor para mim, tanto pior para ele.
Fez-se um longo silêncio. A multidão quase toda se dispersara, os poucos remanescentes guardavam uma imensa distancia da figura de Grope consolando Hagrid, cujos uivos de dor ecoavam pelo lago.
- Estaremos lá, Harry – disse Ron.
- Quê?
- Na casa dos seus tios – respondeu Ron. – Então acompanharemos você, aonde for.
- Não – disse Harry depressa; não contara com isso, tentara fazer os amigos entenderem que ia empreender uma perigosíssima viagem sozinho.
- Você já nos disse uma vez – disse Hermione em voz baixa – que havia tempo para desistir, se a gente quisesse. Tivemos tempo, não é mesmo?
- Estamos com você para o que der e vier – afirmou Ron. – Mas cara, você vai ter de passar na casa dos meus pais antes de qualquer outra coisa, até mesmo de Godric's Hollow.
- Por quê?
- O casamento de Bill e Fleur, lembra?
Harry olhou para ele, espantado; a idéia de que algo normal com um casamento ainda pudesse existir parecia inacreditável e, contudo, maravilhosa.
- Ah é, não devemos perder esta festa por nada – disse ele por fim.
Sua mão fechou automaticamente em todo do Horcrux falso, mas, apesar de tudo, apesar do caminho escuro e tortuoso que ele via estender-se à sua frente, apesar do encontro final com Voldemort, que ele sabia que teria de ocorrer, fosse em um mês, um ano ou dez, ele sentiu um novo ânimo ao pensar que restava um último e dourado dia de paz para aproveitar com Ron e Hermione.


~~

Ron observou Harry se afastar. A desolação do amigo fazia com que o ruivo se sentisse mal também; ele não suportava ver a tristeza em que o amigo estava se afundando e mais que em qualquer outra ocasião, Ron sabia que não poderia deixar Harry sozinho no momento que ele mais precisava de apoio. Voltou os olhos para a floresta proibida e passou a observar o farfalhar das folhas das árvores.

- Ron?
- Sim?
- Você está com medo?

Sem olhar para ela, ele respondeu:

- Eu estou apavorado, Hermione. – admitir o pavor que o tomava não era fácil, contudo não havia mais tempo para fingir bravura ou desinteresse.
- Eu também! Estou com medo de que meus pais sejam vítimas dessa guerra. Tenho medo que alguém morra. Tenho medo de morrer, Ron! – o ruivo ficou angustiado com o leve desespero que Hermione deixou transparecer em seu tom de voz. Mas não era o momento de deixar aquele sentimento de incerteza vencer.
- Eu entendo. Não fique assim, tudo vai dar certo. Eu também estou com muito medo de encarar essa guerra, mas não vai ser agora que nós vamos deixar o Harry na mão. Ele é nosso amigo e precisa de nós.
- Eu sei. Eu temo muito por ele também, Ron. Eu não consegui definir com exatidão o que eu vi no olhar dele, mas o Harry não pode ficar imerso nesse ódio e nesse desejo de vingança. Esse pode ser o fim dele.
- Infelizmente, tudo isso aconteceu por influência do Snape. Eu até diria culpa, mas não posso julgar uma situação que eu desconheço. – Ron percebeu Hermione erguer os olhos e o fitar de modo curioso.

Será que ele havia dito algo de errado? Será que ele havia se precipitado em algum ponto? Por que ela o estava olhando assim? Por alguns segundos ele permaneceu observando a floresta, mas decidiu encarar Hermione. O silêncio que se seguiu falava por si. Ron e Hermione, de alguma forma inexplicável, sabiam que o momento de esclarecer tudo que havia acontecido durante aquele ano tão difícil havia chegado, e Ron estava disposto a não deixar mais uma oportunidade escorrer-lhe pelos dedos.

- Ron, eu temo tanto por você e pelo Harry. Vocês são tão importantes para mim. Mais do que você sequer pode imaginar.

Vocês! Sempre nós! Quando será que eu terei um pouco mais de atenção?
Droga! Isso não é hora para egoísmo, Weasley!
Ah, agora não! Hoje não!
Agora sim... a situação não pede egoísmo. Eu entendo o que você quer, mas não se esqueça o que você falou a pouco para o Harry.


Ron desviou o olhar e afastou-se de Hermione. Ele se sentia tremendamente culpado. Como ele ousava agir como um egoísta quando ele precisava ser solidário e, mais uma vez, deixar seus interesses para depois? Mesmo assim, ele não conseguia reprimir aquele desejo intenso de pelo menos uma vez ter o que tanto queria. Contudo, ele tinha que manter o pensamento focado em Harry... em Hermione.

- Ron, o que houve? Por que ficou assim? – Hermione perguntou com voz baixa e um traço de nervosismo na voz.
- Eu também temo por você e pelo Harry, Hermione! Será que o Harry vai deixar que a gente vá com ele para a casa dos tios dele? Algo me diz que não, por isso eu estou mais preocupado ainda. Eu não sei como serão os dias em que ele vai ficar por lá. Sozinho, remoendo tudo que aconteceu. E você? Você vai para a casa dos seus pais, eu sei que é o normal, mas eu não consigo imaginar como vocês estarão seguros lá. Eu tenho medo que algo de ruim aconteça a vocês.
- O Harry estará protegido pelo feitiço que há na casa dos tios dele. Você sabe! Quanto a mim, não se preocupe, eu sei me cuidar sozinha. – ele percebeu que em questão de segundos eles provavelmente estariam discutindo, mas ele não queria... não podia.
- Você sabe se cuidar, mas é uma só Hermione. Nós somos amigos do Harry, somos alvos de Voldemort. E eu não quero perder você!

Eu não acredito, Weasley! Você falou isso? Enfim!
Oh, Merlin! Eu não acredito que fiz isso!


Pânico tomou conta do coração de Ron e ele tentou evitar o olhar de Hermione, mas seria impossível evitar as perguntas:

- Como assim, você não quer me perder? Ron, nós somos amigos, e você não vai me perder. Você sabe que agora, mais que nunca, nós devemos ficar unidos. Todos nós.

Será possível que eu vou ter que falar com todas as palavras pra ela me entender?
Você nunca foi bom mesmo em esconder segredos nas entrelinhas!
Cale-se!


Ele fechou os olhos, suspirou fundo e recuperou a coragem para falar. Ron já não se importava muito com o que aconteceria dali para frente. Ele apenas não suportava mais viver com aquele aperto e aquela dor no peito.

- Eu não falei em te perder nesse sentido Hermione. Quero dizer, não é só você, óbvio, mas me entenda. Você e eu estamos mais envolvidos que nunca nessa história toda e Voldemort quer acabar com pessoas como nós. Amigos do Harry, defensores dos nascidos trouxas e nascidos trouxas. Somos alvos em potencial desde o dia que a gente ficou amigo do Harry. Mas não é só isso. Você é especial e eu... eu tenho medo de te perder. Eu... eu não estou nessa guerra só por mim. – Ron sentia que seu corpo inteiro parecia tremer e formigar. Um nervosismo que o tomava sempre que estava a ponto de revelar seus sentimentos por Hermione. Mas dessa vez ele não sucumbiria ao nervosismo e ao medo. Era hora de ser um Gryffindor de coração.
- Por que você está me dizendo isso? – o tom de voz de Hermione não escondia a confusão. Será que ela não o havia entendido?

Ron não conseguiu segurar o ímpeto de olhar nos olhos dela e quando confirmou sua desconfiança, sentiu-se incapaz... incapaz de dizer algo tão simples como “não quero te perder!” do jeito que deveria ser. Ele enfiou as mãos nos bolsos e se afastou. Voltaria para o castelo, arrumaria seu malão e se acomodaria
na vida de sempre. Sem ela. A oportunidade havia escapado...

- Ron! Vem cá! O que foi? – ele a ouviu correr em sua direção, mas Ron continuou seu caminho rumo ao castelo.
- Nada Hermione, esquece o que eu falei, tá bem?
- Não, eu não vou esquecer. Quem você pensa que é pra me mandar esquecer alguma coisa? O que houve? Eu não consegui entender por que você falou aquelas coisas para mim.
- Eu já disse, esquece!
- NÃO! – Sem dificuldade alguma, Ron conseguiu se livrar de Hermione quando ela tentou segurá-lo. Continuou andando, mas ele sabia que ela não desistiria fácil. No instante seguinte, Hermione estava parada na frente dele, e o ruivo forçou-se a olhá-la nos olhos novamente. – Até parece que você não me conhece Ronald! Inútil pedir para eu esquecer “isso”, que eu nem sei o que é. Vamos, eu quero que você fale. Por que a insistência para que eu esqueça o que você disse?

Ele não podia se expor, ele tinha que se preservar. Afinal, ela não o havia entendido, e ele não insistiria em algo que começara do jeito errado. Revelações, geralmente, nunca estão escondidas ou camufladas em entrelinhas ou palavras rebuscadas, em rodeios inúteis. Ron não queria que fosse assim, mas também não fazia idéia de como ser direto e falar para Hermione sobre seus sentimentos. Já havia criado grandes expectativas com relação a um relacionamento com ela, mas nada havia dado certo, e as feridas dos últimos meses ainda não haviam cicatrizado e ele tinha... medo. Precisava se fechar, precisava se proteger... não podia mais sofrer!

- Ron, por favor! Eu quero saber.
- Você tem certeza? – em mais um impulso, muito semelhante àquele que o fez ficar horas sentado em um canto mais escondido do salão comunal apenas para observá-la quando ela parecia não notar a presença de ninguém enquanto estudava, Ron tirou as mãos do bolso e segurou as de Hermione. Um contato tão simples, corriqueiro até, mas que entre eles, sempre, pareceu cercado de expectativas... de necessidades...
- Claro que tenho certeza! Você diz que não quer me perder, mas não é no sentido que pensei. Eu quero entender! –

E de novo aquele olhar questionador. Aquele mesmo olhar cheio de vontade de descobrir tudo; o olhar que o fez entender o porquê de ele aceitá-la mesmo quando ela conseguia fazer com que ele desejasse nunca ter se tornado seu amigo. Ele apenas queria Hermione por perto, e se para isso ele tivesse de ser apenas seu amigo, ele seria de bom grado.

- Eu já sei Hermione. Sei de tudo.
- Sabe? Sabe o que Ron? – Era agora ou nunca. Ele colocaria seu coração na linha de fogo e não temia. Não poderia!
- Eu estava acordado aquela noite na Ala Hospitalar. Eu ouvi tudo. – ele sabia que não ia conseguir encará-la. Quando soltou as mãos de Hermione, Ron abaixou a cabeça e virou de costas. – Me perdoe, mas eu não pude deixar de ouvir quase tudo que você falou. E, principalmente, não acreditei no que você disse. Apesar de estar e me sentir mais feliz que em qualquer outra oportunidade em toda minha vida, eu não conseguia entender por que eu. Mas depois que resolvi analisar tudo que houve entre nós durante esse ano, eu não consegui mais sustentar essa negação eterna. Eu sei de tudo e, dias depois, me senti o cara mais sortudo do mundo porque você disse todas aquelas palavras. Todas para mim, por minha causa. Por medo de me perder. Hermione, eu...
- Por que você não disse nada antes? – ele se assustou com a pergunta. A voz firme de sempre, mas baixa. Pela segunda vez em tão pouco tempo ele... teve medo.
- Eu não sei.
- Como não sabe Ron? Como não sabe? Você ouviu tudo que te falei e ficou calado? Você tem plena consciência de tudo que eu sinto por você e fica calado? Eu não consigo acreditar nisso, Ron!

Quando ele não viu raiva, mas decepção no olhar dela, Ron sentiu seu coração partir. Não queria que ela sofresse, não queria que ela duvidasse que o que ele havia acabado de dizer era verdade. Ele precisava que ela acreditasse nele, e era nessa esperança que ele se agarraria até o último instante. Mas como convencê-la de que ele não agira por mal, de que tudo que ele sempre fez (e não fez também) foi por causa dela? Ele não podia negar que havia agido como um covarde, mas não havia espaço para remorsos agora. Ron não podia deixar a oportunidade, que de repente havia caído em seu colo uma vez mais, escapar. Não permitiria isso. Mas mesmo assim, mesmo determinado ele se sentiu angustiado quando a olhou uma vez mais. Ele não ia conseguir lidar com aquela decepção estampada no rosto de Hermione. Ele tinha que dizer a ela o que era verdade, mas como?

Que tal agir, Weasley? É melhor que ficar aí se perguntando... perguntando...
Certo, isso mesmo... agir!


- Eu... eu... Hermione, por favor! Eu... você tem que entender, eu estava atordoado com tanta informação. Foi chocante saber que você... você... eu simplesmente levei alguns dias para processar e entender tudo que você disse com clareza. Eu não queria te magoar, eu juro! Mas não falei nada com você porque eu sabia que você teria uma reação como essa. Por favor, me perdoa. Eu não quero que você pense que eu não liguei para o que você disse, foi exatamente o contrário. Eu não quero que você ache que eu não correspondo ao que você sente. Eu não quero que você pense que eu não me importo com você. Eu não quero que você pense que eu sou um insensível que não soube ser sincero consigo mesmo. Por favor! Me perdoa!

Lágrimas não vão convencê-la, Weasley!
Me deixa em paz!
Perdedor...


Ele piscou várias vezes para não deixar as lágrimas caírem. Ron precisava desesperadamente de afirmação, precisava ouvir algo que desse a ele a esperança, que ele tanto precisava. Em que ele tanto acreditava. E uma dor lancinante começava a tomar seu peito.

- Ron, o que custava você ter falado comigo? Teria sido melhor para nós dois. Você me fez passar por idiota, inconseqüente... – a mistura de emoções no olhar de Hermione era a maior evidência de como ele havia errado. Fúria, dor, indignação, desespero... tudo misturado em um único olhar brilhante pela repentina presença de lágrimas que ele não queria ver rolarem pelas bochechas dela.
- Hermione... – Ron segurou as mãos dela, mas ela não queria contato com ele. Quando ela se virou, Ron suspirou alto e forçou-se a superar a insegurança que o tomou para aproximar-se mais uma vez. Não era hora de fugir. – Não faz isso comigo, por favor! Você tem que me ouvir antes que comece a me julgar, eu tenho o direito de me explicar!

Quando Hermione se virou e voltou a olhá-lo, Ron respirou fundo e agarrou-se à oportunidade que ela havia lhe dado e agora que ele poderia se explicar, o ruivo tinha certeza que faria o melhor para convencê-la de que ele jamais quis magoá-la.

- Tudo bem, Ron. Diga o que tem a dizer e que seja rápido.

Ele estranhou o falso tom desinteressado. Ron não era um mestre com as palavras e ficou com medo de estragar tudo de novo. Não havia pensado em nada; na verdade, ele sequer cogitava a possibilidade de que tão cedo ele falaria sobre seus sentimentos para ela. Depois de tantos acontecimentos durante o ano, nada poderia ter deixado o jovem Weasley mais amedrontado que a possibilidade de não conseguir dizer o que queria, o que devia.

Ele a observou por alguns segundos e tentou segurar as mãos dela uma vez mais. Hermione não o repeliu dessa vez, e o coração de Ron acelerou novamente. O ruivo fez um grande esforço para não ficar mais nervoso do que já estava. Aquela era a chance que ele tinha de trazer para junto de si uma sensação, por mínima que fosse, de tranqüilidade e paz. Aquela era a chance para ele reforçar dentro de si o empenho de lutar até o fim por ela... por eles.

- Primeiro, eu preciso que você me perdoe. Independentemente de como essa nossa conversa termine, eu preciso que você me perdoe por ter sido um idiota, Hermione. Eu nunca quis te magoar. Mas eu também não sabia como ser sincero com relação a tudo que aconteceu nesse ano. Se você me perdoar, eu já terei ganhado muito. Mesmo que eu perca a minha amiga. – ao dizer as últimas palavras, Ron sentiu suas mãos tremerem. Ele segurou a respiração por um segundo, entrelaçou seus dedos aos de Hermione e prosseguiu:
- Bom, eu sinceramente não sei o que dizer. Não tinha nada preparado, nunca tive. Você sabe como eu sou imediatista e sempre acabo falando e fazendo as coisas sem pensar. Mas, pelo menos dessa vez, eu sei o que dizer. – Ron não sabia o que pensar com a insistente ausência do olhar de Hermione.

Ela deve estar morrendo de raiva ou de vergonha...
Vergonha? Por quê?
Por quê? Weasley, você ainda diz que gosta dela, mas parece ignorar o conhecimento que teve com garotas...
Argh! Não me lembre!
Certo, mas saiba que ela talvez esteja se sentindo péssima, mortificada por ter se exposto como fez, e você simplesmente não ter falado com ela no mesmo dia.
Mas eu não podia!
Você não quis! Admita!
Certo, eu não quis, mas com licença. Eu não posso ficar a vida toda calado.
Então, por favor, veja lá o que vai falar...
Pelo amor de Deus, me deixa em paz!
Como queira...


O que dizer agora? Como dizer? Dali em diante, a vida de ambos mudaria drasticamente. A amizade já não seria apenas amizade. E Ron sempre soube que era isso que ele sempre quis desde o quarto ano. Não havia necessidade de mentir mais. Ele engoliu o bolo que o impedia de falar e recomeçou:

- Eu queria que você soubesse que eu nunca, nunca gostei da Lavender. No início, talvez, eu estivesse gostando de estar com ela e tudo, mas eu nunca me senti realmente ligado a ela. Infelizmente, eu acho que acabei por usá-la para te provocar, para te fazer sentir como eu me sentia toda vez que você falava do Krum. Bom, eu acho que eu não posso te falar o porquê de eu ter mudado tanto alguns dias depois que você me convidou para a festa do Slughorn, não agora. - as mãos de Ron tremiam e a respiração estava rasa. Ele sabia mais que qualquer outra pessoa que não era fácil falar de sentimentos que estavam guardados há tanto tempo. Hermione havia provado isso na noite em que o visitou na Ala Hospitalar. Agora era a vez de ele provar porque a merecia... porque era um Gryffindor.
- Eu quero que você entenda, antes de qualquer coisa, que eu nunca quis te magoar; eu não planejei aquela situação com a Lavender e eu não quis também que tudo aquilo acontecesse, mas eu devo confessar que você ter desconfiado de mim só aumentou meu desapontamento e minha raiva. Eu queria te ver sofrer. Eu queria que você sentisse dor e decepção como eu senti quando percebi, erradamente, que você não confiava em mim, que você não me considerava bom o bastante como goleiro, que você achava que eu só conseguiria ser brilhante usando uma poção. As suas palavras doeram mais do que você sequer pode imaginar, Hermione.

Ele abaixou a cabeça. Admitir para ela que ele havia se sentido inferior, que as palavras dela haviam doído tão profundamente que o deixaram cego a ponto de Ron se envolver e, por fim, usar uma garota para provocá-la, que ele era um fraco por ter se deixado levar por palavras. Palavras que o afastaram de Hermione.

Tudo isso fazia Ron se sentir mal por ter agido com o desejo da vingança correndo por suas veias e envenenando seu coração e suas atitudes. Não culparia a irmã e não diria a Hermione que Ginny falara de Krum. Toda aquela confusão entre eles tinha apenas dois culpados: Ron e Hermione. E o ruivo desejava de coração que tudo se resolvesse, que ele pudesse ter uma chance. Uma única, por mínima que fosse, de poder provar a Hermione o quanto ela significava para ele.

Ron sentiu os olhos de Hermione sobre si. Ele tinha certeza que a ponta de suas orelhas estavam vermelhíssimas. Ele não queria olhar para Hermione, a vergonha o tomou completamente, e talvez não fosse apenas a vergonha, mas a certeza de que havia errado demais, de que havia confiado em outros em vez de confiar em Hermione. A vergonha de ter virado as costas para os próprios sentimentos porque ele não admitia (e provavelmente jamais admitiria) que Hermione houvesse beijando Viktor Krum.

- Ron!
- Não Hermione! Eu preciso terminar, senão eu perco toda minha coragem.
- Não, Ron! – a firmeza na voz de Hermione fez Ron calar-se e olhá-la atentamente. Chegara o momento de ela falar. - Quem vai falar agora sou eu e eu preciso que você ouça, só isso! – respirando fundo, ela começou – Eu... me desculpe. De verdade, eu nunca duvidei da sua capacidade, eu nunca pensei que você pudesse trapacear em um jogo de Quadribol, eu nunca quis agir daquela forma, mas eu não consegui me conter quando eu percebi o que o Harry havia feito, supostamente é claro. Eu fiquei enfurecida com o fato de ele ter usado a Felix Felicis no seu suco e, pior que isso, eu pensei que você tinha concordado. Você sabe como eu sou com relação às regras e ao cumprimento delas. Não adianta, eu sou assim. Mas no momento que o Harry disse que não havia colocado a poção no seu suco, eu me arrependi. Eu até pensei em te pedir desculpas ali na hora, mas você saiu com tanta pressa do vestiário que eu me senti atordoada com a bobagem que eu tinha acabado de fazer.

E eu queria tanto não ter saído tão rápido. Eu queria tanto não ter deixado você para trás, sem ter a chance de se explicar. Eu precisava tanto me livrar da dor...

- E quando eu entrei no salão comunal e vi você agarrado a Lavender, eu tomei aquilo como um castigo que eu não merecia. Senti ódio, decepção, uma fúria que me fez incitar aqueles canários contra você. Eu não queria que tivesse sido assim. Eu fico pensando em tudo que aconteceu depois e acho que nos comportamos como duas crianças mimadas, birrentas. Ron, me desculpe também. Eu não quis te magoar e jamais faria isso. Eu me senti péssima durante dias. Sem você falando comigo, me provocando e, ainda, a Lavender dando risadinhas das suas piadas. Foi uma época terrível aquela, mesmo eu tendo determinado que ia te esquecer, que ia tentar arrancar você da minha vida. – Ela suspirou e apertou as mãos deles gentilmente. – Você percebeu que eu não consegui, não é?

Weasley, ela queria te esquecer cara!
Merlin!
Fala alguma coisa, nem que seja um “eu fui idiota, me perdoe!”
Eu não vou falar isso!
Não me interessa o que você vai falar, mas fale!


- Isso é tão irônico, Hermione. Eu, você e o Harry já quebramos, eu acho, todas as regras de Hogwarts. E isso é irônico, porque pela primeira vez estava tudo em seu devido lugar e você não admitiu que poderia ser possível. – ele queria rir da amarga ironia do destino.
- Me desculpe eu...
- Não! Não me peça desculpas novamente, eu já te perdoei. Estou disposto a deixar isso tudo para trás. Eu prometo a você que vou tentar agir com mais clareza e, sempre que necessário, conversar com você. Afinal, não podemos nos comportar como duas crianças a vida inteira não é? – Hermione olhou Ron nos olhos. O calor confortável que vinha deles fez com que Ron se acalmasse e ele sabia que ainda havia muito a ser dito.
- Bom, eu acho que nós temos de voltar e arrumar nossas coisas e...
- Não terminei ainda, Hermione. – ele a interrompeu, convicto de que dali ele só sairia quando eles estivessem, de fato, bem... seja lá o que esse bem significasse naquele momento. – Não terminamos ainda! – Ele viu a surpresa no olhar dela, contudo, segundos depois, ela concordou solenemente:
- É, não terminamos.
- Eu queria poder dizer tudo que eu preciso, mas eu não sei se vai ser o suficiente. – na verdade, ele sabia que palavras jamais seriam suficientes para explicar tudo que havia acontecido de ruim entre eles naquele ano tão conturbado.
- Não temos a vida toda para isso, mas você vai ter que começar em algum momento, não é?
- É verdade. – um silêncio constrangedor os rodeou. Ron ainda observava Hermione, e viu no rosto dela a pergunta que parecia querer desesperadamente ser feita. – O que foi? Você quer perguntar alguma coisa?
- Bem, quero sim. Na verdade são duas coisas: por que você voltou diferente depois do natal? Eu não entendi nada, nem a Ginny sabia o que havia acontecido com você. Ela até me falou que você estava estranho durante os dias que ficou na Toca. O que houve?
- Bom, é que... ah Hermione, você deveria saber! – ele não deveria ter falado daquela forma, irritado, mas ela deveria saber o porquê de ele ter mudado, afinal ela era a culpada...
- Eu deveria saber? Como é que eu deveria saber se eu não estava lá – sem querer que ela ouvisse, Ron sussurrou baixinho:
- Esse era um dos problemas.
- Ron?
- Certo, você quer mesmo saber porque eu voltei diferente?
- Claro que quero!
- Olha, eu acho que esse foi o natal mais estranho de toda minha vida. Se você não percebeu, nós temos passado o natal juntos desde o 2º ano. Bom, desconsidere o 4º e o 6º anos e tudo fica bem. Mas a questão é que... bom, eu senti sua falta como nunca havia sentido antes. Eu senti sua falta mais do que eu achava possível. Ok, eu posso parecer um idiota dizendo isso, mas é a pura verdade. Além do mais, eu estava infeliz com a Lavender e o presente que ela me deu, só confirmou isso.

Weasley corajoso é um feito do universo.
Cale-se!
Deixe de ser mal agradecido. Estou aqui pra te ajudar! Vamos lá... tudo pode terminar como você sempre sonhou, cara!
Talvez... talvez!
Francamente, ainda se acha um Gryffindor.
Eu sou um!
Não parece...


Então Ron foi sugado de seu diálogo interior com uma pergunta que, para ele, não poderia ser mais embaraçosa.

- Que presente? – curiosidade Hermionesca, mas ele não pretendia jamais contar a ela sobre o colar.
- Você vai rir de mim, é melhor eu não falar. – ele desviou o olhar do dela.
- Ron, eu acho que você pode me falar. Eu não costumo rir de tudo que me dizem, sabe? Confia em mim!
Algumas palavras certas dita por ela e a resolução de jamais contar foi por água abaixo: - Tudo bem, eu não esconderia isso de você por muito tempo mesmo. – ele quase abriu um sorriso quando a viu sorrir. Um sorriso brilhante, como sempre fazia quando deixava claro que confiava plenamente nela. - A Lavender me deu ... me deu... um colar, é isso, um colar!
- Ora, e qual o problema de ganhar um colar? – Qual o problema? Eu vou ter que falar isso... Ai meu bom Merlin, me ajuda.
- Você ia gostar se o Vicky ou o McLaggen te dessem um colar escrito: "Minha namorada"?

Ele sabia que ela estava se segurando para não rir, e Ron estava agradecido por esse esforço (que ele sabia ser muito grande) porque ele não resistiria se Hermione também risse da cara dele. Harry já havia sido suficiente.

- Bom, eu não ia gostar. Acho que eu ia detestar, mas isso não é motivo para você mudar de comportamento não é? – a conversa havia voltado para seu ponto inicial, e Ron não podia mais adiar a verdade que o consumia desde o dia que saíra de Hogwarts para passar o feriado de fim de ano com a família.
- Não, não é! É difícil para eu falar disso, mas enfim... eu só me dei conta de verdade da falta que eu sentia de você quando eu fui para casa. Eu sei que você me olhou quando eu estava beijando a Lavender antes de ir embora. Eu vi! E o jeito que você olhou para mim e o seu olhar... Hermione, aquilo acabou com a resistência que eu havia criado. Foi dolorido ver aquela tristeza toda no seu rosto.

Naquele instante, ele não conseguiu resistir a tentação de tocar o rosto dela. Quando viu Hermione fechar os olhos parecendo se entregar a um toque tão simples, o coração de Ron acelerou perigosamente.

Ela te domina não é?
É recíproco, então! Eu nunca a vi assim antes.
Então continue. Ela merece toda sua sinceridade, Weasley!


- Eu não consegui aproveitar o natal como antes, além de Fred e George me enchendo por causa da Lavender, eu ainda travei uma batalha comigo mesmo. Eu não consegui dizer não ao que estava dentro de mim. É tão estranho querer estar com alguém e saber que essa pessoa te ignora porque você foi um idiota.

Ron parou por alguns minutos, poucos, mas importantes. Ele não poderia falar qualquer coisa para Hermione. Não poderia se expor mais, porém de que valia uma farsa quando tudo que ele queria era ser o mais sincero possível com ela? Não havia a mínima necessidade de escolher as palavras. Ele havia chegado até ali admitindo o que deveria ser admitido e assumindo seus erros e equívocos. Ron percebeu, naquele instante, o quanto ele havia mudado. O quanto ela o havia ajudado nessa mudança, mesmo que inconsciente e indiretamente. Então, continuou:

- Eu nunca me senti tão sozinho em toda minha vida, Hermione. Me culpei o natal todo pela solidão que eu estava sentindo. Foi horrível pensar que eu era o único culpado por aquele sentimento horrível. E quando voltamos a Hogwarts, você ainda me ignorou completamente, você lembra? Quando estávamos eu, Harry e Ginny, na entrada do salão comunal sem poder entrar porque não sabíamos a senha?
- Lembro, claro!
- Pois bem, quando você não ligou para o que eu falei sobre o natal na Toca, bem... foi terrível! – ele falou baixinho. – Eu senti ali que eu havia te perdido de verdade. Eu não sabia como fazer você voltar a falar comigo, por isso me apeguei àquela história de espírito de natal, que você me contou uma vez. Mas quando você me ignorou daquela forma, eu não poderia ter sentido tanto as conseqüências de tudo que eu fiz.

O momento havia chegado. Mostrar-se vulnerável para Hermione não era bem o que Ron queria, mas era a única maneira de continuar o caminho que havia traçado inconscientemente rumo a um destino que ele não sabia bem qual seria. Ele só esperava que, fosse o que fosse, desse o que desse... ele só esperava que Hermione continuasse com ele porque Ron não conseguiria aceitar menos que isso.

O ruivo passou a olhar para o chão com um interesse muito maior que o necessário. Ele havia colocado suas emoções mais inquietantes, aquelas que o haviam atormentado tanto durante o inverno inteiro, numa bandeja e as entregou para Hermione. Dali em diante, ela teria de saber o que fazer com tantos sentimentos confusos e contraditórios. Sentimentos que por vezes deixaram o ruivo completamente desnorteado com a desordem que causavam dentro de si. E às vezes, ele sabia, toda confusão levava a um inevitável desentendimento, especialmente quando os protagonistas eram Ron Weasley e Hermione Granger. E Ron sabia que se olhasse agora para Hermione, ele se despiria completamente de toda proteção que tentou criar durante a conversa deles.

Ele não queria e não podia se expor, mas ele sabia que, cedo ou tarde, ela conseguiria ler tudo que quisesse no olhar dele. Ron jamais se escondeu de Hermione quando ela o olhava profundamente nos olhos. Era uma ligação mais intensa do que qualquer coisa que ele, porventura, viveu antes, e aquela particularidade entre ele e Hermione o deixava louco de felicidade, pois o ruivo sabia que jamais poderia se esconder dela. E desde o natal, era isso que ele queria fazer. Ele queria, precisava e ansiava por se mostrar inteiramente para Hermione como sempre quis. E aquela oportunidade, ele a aproveitaria por inteiro. Contudo, Ron não contava com as palavras de Hermione. Na verdade, ele jamais imaginou que ouviria a sempre reservada Hermione Granger se expor inteiramente, como ele acabara de fazer.

- E se eu te disser que eu me senti da mesma forma? Se eu te disser que em momento algum durante o natal eu deixei de lembrar de você? Se eu te disser que eu senti sua falta também? – enquanto ela permanecia com a cabeça baixa, Ron sentiu uma vontade imensa de abraçá-la e dizer a ela que somente eles poderiam viver uma situação como essa e, ainda assim, permitir que o orgulho os mantivesse calados. - Eu senti tanto sua falta. Você realmente tem razão, desde o 2º ano nós passávamos os natais juntos: ou aqui em Hogwarts ou na Toca, mas sempre juntos. Mas ao mesmo tempo, eu ainda não conseguia te perdoar por tudo que havia acontecido naquela noite depois do jogo e nos dias que se seguiram. Doía saber que eu era piada para você. Doía perceber que eu havia perdido você.

Ainda bem que ela está enganada não é Weasley?
Totalmente enganada. Ela jamais me perdeu. Eu nunca deixei de ser dela.


- A única maneira que eu achei para resistir ao que eu sentia foi essa, Ron. Ignorar você de todas as formas possíveis; ignorar e mostrar a você que eu também podia deixar você se sentindo mal. E eu sabia que estava te afetando. Mas hoje... hoje eu percebo que foi um erro. Se as minhas atitudes faziam mal a você, faziam muito mais a mim. Eu nunca agi daquela forma antes. No início, eu até achei cômodo, mas depois, eu percebi que também estava me machucando. Eu simplesmente não conseguia ignorar e apagar meus sentimentos por você. Eu acho que nunca conseguiria te esquecer, nem se eu me submetesse a um feitiço de memória. Certas coisas a gente consegue apagar da memória, mas nunca do coração.

Doía nela também. Ele ficou admirado com o que ouvira. Não conseguia deixar de achar engraçada, agora, de toda a situação que ambos estavam vivendo. Tudo era muito similar: a saudade, a dor, o remorso, a vontade de desfazer as bobagens. Perfeitamente harmonioso até na discórdia. Ele a olhou novamente. Hermione não precisava verbalizar o que Ron queria ouvir porque estava tudo ali, nos olhos dela. Tudo que ele sempre precisou estava ali, e Ron jamais havia se dado conta de como ela se despia do rótulo de mandona e insuportável todas as vezes que ela o olhava nos olhos, quando brigavam, quando sorriam juntos, quando conversavam amenidades, quando, simplesmente, ficavam em silêncio esperando por Harry. Momentos que a eterna (ou quase) insegurança dele não permitia perceber. Como ele havia sido tolo. Estava tudo ali, na frente dele o tempo todo.

- Me desculpa! – ele falou baixinho.
- Desculpar você? Pelo quê? – ela perguntou visivelmente confusa.
- Me desculpa porque eu não fui corajoso o bastante para admitir que era verdade quando eu disse que te amava aquela noite no salão comunal. Me desculpa, por favor! – de repente ele ficou com medo do silêncio em que Hermione havia mergulhado. Parecia que ela estava lembrando de algo particularmente... contrastante.
- Por que você quer que eu te perdoe? Eu não entendo. – Ron a viu evitar seu olhar, e ele sabia bem o porquê. Afinal, ele mesmo tinha sido vítima, a pouco, do medo de deixar transparecer no olhar mais do que ele queria mostrar. Mas ele também sabia que ele deveria responder da maneira certa: sem enganá-la, sem esconder nada. Sinceridade a todo custo.
- Hermione, eu não agi certo. Eu queria tanto que você acreditasse no que eu sinto por você e eu estava tão contente por ter voltado a falar com você, que eu não me dei conta do que eu falei. Quando eu percebi já havia falado. – Ron percebeu o nervosismo que tomou conta da morena. Lágrimas nos olhos e um pânico repentino tomou conta dele. Não era hora de temer. Era hora de ser sincero. - Mas eu quero e preciso que você saiba que é a mais pura verdade e não há nada que vá mudar tudo que eu sinto por você, mas eu ainda tinha um fardo chamado Lavender para carregar. – ele se sentiu instantaneamente culpado por ter qualificado Lavender de ‘fardo’. Ela poderia não ser a garota certa para ele, mas também não poderia ser desprezada dessa forma. Já bastava a discussão que tiveram quando terminaram o namoro. Mas aquele não era o momento para pensar em Lavender. Aquele era o momento exclusivo dele e de Hermione:
- Eu juro que eu quis terminar com ela assim que eu saí da Ala Hospitalar, mas eu não tive coragem suficiente. Fui um covarde e perdi tempo ao lado de uma pessoa que nunca me interessou. Mas saiba que, apesar de ter soado completamente casual, eu disse a mais pura verdade. Eu não diria nada daquilo a nenhuma outra pessoa a não ser você. Entende por que eu quero que você me perdoe? Eu agi como um idiota que não consegui admitir a verdade... alguém que usa de casualidade para disfarçar o que quer dizer. E você sabe, eu nunca fui assim! – ele virou as costas tentando esconder a vergonha que repentinamente sentiu.

Ele tinha plena consciência do esforço que estava fazendo. Na verdade, não era tão difícil ser sincero com Hermione. O difícil era não ter certeza do que viria depois de tudo que ele havia acabado de falar. A típica insegurança o estava atormentando agora.

E se ela não correspondesse a ele?
Paranóia Weasley, ela gosta de você!
E se ela não quisesse nada com ele?
Outra paranóia Weasley, se ela não quisesse nada com você, a Hermione já teria ido embora há muito tempo. Aliás, ela nem teria ido à Ala Hospitalar, ela não teria te atacado com os canários, ela não teria te convidado pra festa do Slughorn...
Por que ela está demorando para falar alguma coisa?
Vai saber! Talvez, ela esteja considerando a melhor maneira de te azarar por tê-la feito esperar um ano inteiro por algo que vocês dois querem há muito tempo.
Argh, me deixa!


- Ron?
- Hum!
- Olha pra mim. – imediatamente, Ron a olhou e sabia que ali, naquele olhar, estava toda sua esperança.

Tudo que ele esperava poder viver com ela estava estampado em seus olhos; tudo que ele queria compartilhar com ela estava exposto. E ele sabia que vinha do lugar mais escondido de seu coração, aquele onde ele havia tentado esconder o que sentia por ela, aquele onde ele permitiu que ela fizesse morada eterna. Ele havia se exposto, como vinha fazendo desde o início daquela conversa, e o momento que ele tanto esperava, que ele tanto esperou por longos anos (talvez desde o dia que a viu petrificada na ala hospitalar) estava ali, à porta. Estava próximo o princípio de uma vida juntos, ou o fim de uma amizade inabalável porque Ron sabia que não suportaria ter Hermione apenas como uma amiga.

- Você percebeu uma coisa? – ela perguntou, o nervosismo latente na voz.
- O quê? – ele perguntou.
- Falamos, falamos, falamos e não dissemos o principal. – O principal? Mulheres, elas precisam de palavras, e eu as darei a Hermione. Não há porque adiar o que precisa ser feito. O olhar sereno da moça fez Ron se acalmar consideravelmente, então ele falou:
- Não dissemos o principal? Acho que falamos demais e o principal se perdeu em algum lugar lá atrás. – embora estivesse convicto, Ron sorriu timidamente para aliviar os resquícios de tensão que ainda o atormentavam.
- Você sabe do que estou falando, não é?
- Quem sabe! Do que você está falando? – ele sabia, mas não queria que fosse tudo muito rápido. Ele queria gravar na memória cada palavra daquele instante em diante.
- Você realmente quer saber do que estou falando?
- Pode ter certeza que sim – mesmo não querendo, o ruivo sentiu-se um pouco nervoso, mas resolveu fechar os olhos por um segundo para afastar qualquer temor.
- Será que eu tenho que fazer tudo, Ron? – ele sentiu que algo havia mudado e sabia que seu coração estava batendo mais rápido que antes porque, enfim, eles haviam chegado àquela zona de transição. Eles estavam sobre a sempre frágil e tênue linha que divide a amizade do amor. E Ron estava mais que disposto em transpô-la.
- Não, você não precisa fazer tudo Hermione. Você só precisa entender que era difícil para mim.
- Era? Não é mais? – ele paralisou quando a viu se aproximar, e agora poucos centímetros os separavam. Tão poucos que apenas uma brisa leve seria capaz de se colocar entre eles.
- Não, acho que não é mais tão difícil. Você ajudou bastante pra que eu superasse essa dificuldade, sabe? E eu adoro isso!
- Sério??

Ron observou, com uma sensação de desesperado deleite, como Hermione reagia a tudo que ele falava. Era enlouquecedor perceber como ele a tinha na palma da mão; era mais enlouquecedor ainda perceber que ela já o tinha na mesma condição e que ele não fazia questão alguma de mudar sua condição de propriedade de Hermione Jane Granger. E era engraçado ele pensar assim, já que ela jamais admitiria o que ele havia pensado. Mas e daí? O que importava naquele momento era estar tão próximo dela que ele pudesse esquecer o mundo e qualquer coisa ou pessoa que dele fizesse parte. Ali, no jardim de Hogwarts, Ron só tinha olhos, pensamentos e ações para Hermione... apenas para ela.

- Mais sério impossível Hermione! E eu não costumo mentir para você! Não quando o assunto, agora, envolve você e eu. – ele sorriu timidamente. Mesmo convicto do que fazer e como fazer, ainda não era fácil aceitar a intrigante realidade de que Hermione correspondia a seus sentimentos. E Ron queria que ela sentisse, naquele momento, o que ele sentia por ela.

Weasley, você sabe o que fazer!
...
Não precisa me ignorar!
...
Desisto!


Ele precisava ter certeza da presença dela. Precisava de Hermione o mais próximo que ele poderia tê-la. Precisava sentir que ela estava perto, que ele poderia protegê-la, amá-la. Então, Ron inclinou sua cabeça e olhou para os lábios da jovem a quem ele tanto amava. Um beijo que seja, é tudo que eu preciso agora!

Se havia outros países no mundo, ele não fazia a mínima idéia. Onde ele estava? Pouco importava. Quem era Ron Weasley? Ron era o garoto mais feliz da face da Terra. Naquele momento, ele estava abraçado e beijava apaixonadamente sua melhor amiga, a garota por quem ele havia se apaixonado. Ele tinha de admitir, nos parcos segundos em que conseguia pensar alguma coisa, que Hermione não era excepcional apenas como aluna. Ela era excepcional na arte de deixá-lo completamente indefeso contra as sensações que ela incitava nele. Poderia ser desesperador, mas para o jovem Weasley aquelas sensações e certezas que o acompanhavam só demonstravam o quanto ele já estava entregue a ela.

E quando Hermione permitiu que ele aprofundasse o beijo, Ron vagamente, considerou que o mundo poderia acabar amanhã (ou naquele dia mesmo), mas ele tinha plena certeza de que morreria feliz, pois quem ele mais amava estava ali, em seus braços, e não fugiria porque ele jamais permitiria que Hermione se afastasse dele novamente.

Ele estava suportando boa parte do peso do corpo dela, mas ele pouco se importava com isso desde que ela não se afastasse dele. E quando Ron começou a acariciar as costas de Hermione, ele percebeu como ela era diferente de Lavender. Beijos diferentes, sensações diferentes... sentimentos igualmente diferentes. Hermione o estava ajudando a entender o que era esquecer que havia chão debaixo dos pés; ela o estava ajudando a entender porque Bill sempre dizia que a melhor coisa do mundo era estar ao lado e nos braços de quem se ama; seu irmão sempre dizia que ele entenderia porque, com certeza, Ron sentiria a vontade de nunca mais ter outra pessoa a quem beijar, a quem abraçar, a quem... bom, ele ainda não poderia considerar isso, mas ele sabia que era integralmente, de corpo, alma e coração, um homem com uma marca. A marca que Hermione havia, ao longo do tempo, tatuado em seu coração e em sua alma.

Atenção alunos! Em 15 minutos as carruagens partirão para Hogsmead. Peço a gentileza, àqueles que ainda não pegaram seus malões que o façam agora. Os diretores de suas casas os conduzirão às carruagens. Conto com a agilidade de todos.

- Eu te amo! – ele, enfim, declarou. E não foi nada difícil perceber que era mais fácil dizer eu te amo que tentar esconder os sentimentos. Ron suspirou aliviado.
- Eu também te amo. Muito! – quando Hermione respondeu, um sussurro em seu ouvido, Ron poderia jurar que o mundo inteiro a sua volta havia mudado de repente. Nada que ele já não esperasse.
- Acho que não é o nosso dia! Ou quem sabe o nosso ano! – o esboço de um sorriso era tudo que ele conseguia mostrar naquele momento.

Ron encostou sua testa na de Hermione e a olhou nos olhos. O olhar dela era o mais brilhante que ele já havia visto. Havia nele uma promessa de eterna fidelidade, constante luta pela verdade e tranqüila certeza que o sentimento que os unia era o mais forte em todo mundo.

Ron e Hermione ficaram se olhando por mais alguns segundos. Hipnotizados pelo brilho do amor que os unia desde muito tempo, eles fizeram um juramento silencioso. Protegeriam um ao outro e a Harry para que eles pudessem falar em futuro. Lutariam por um ideal de liberdade para que não precisassem se esconder. Sobreviveriam para construir uma vida e um mundo melhor para todos aqueles que amavam e para eles mesmos.

Ron segurou uma das mãos de Hermione e a beijou gentilmente. Naquele momento, ele percebeu que viveu de evidências por anos a fio, mas que não tinha sido capaz de percebê-las. Ele havia ignorado cada uma delas até o dia em que não conseguia mais olhar para o futuro sem ver Hermione ao seu lado. E Ron considerou, vagamente, que nem toda evidência ilumina a escuridão da incerteza, mas com certeza cada evidência reforça toda história que a precede. E era nisso que ele iria acreditar. Tantas evidências ao longo dos anos e agora que tinha Hermione ao seu lado, Ron lutaria para transformar evidências, dúvidas e o tão famigerado talvez em uma certeza palpável, visível e, quem sabe, eterna.


*****

Oi!

O que eu posso dizer em primeiríssimo lugar??? *blushing*

Perdão povo! Não há nada que justifique o tempo que eu fiquei sem atualizar, mas mesmo assim eu justifico: vocês bem sabem que eu não suporto publicar qualquer coisa (vou rever duas das minhas fics ainda! u.u') e por isso eu fui escrevendo aos poucos esse capítulo. Foi lindo porque eu saboreei o fim dele aos poucos e ao mesmo tempo fui sentindo saudade dessa loucura que foi Behind the Evidences. Foi um prazer inenarrável escrever, ler os comentários, os elogios, as críticas... melhor que isso só os amigos e as amigas que eu conheci. Não sei quantos, mas são alguns e muito importantes.

Eu queria agradecer nominalmente a cada um de vocês, mas é impossível... se eu inventar eu passo o resto do dia escrevendo e a atualização vai demorar mais... então, eu gostaria de agradecer a você que leu, comentou, esperneou, cobrou, exigiu, chorou e, principalmente, acompanhou a história. Quero agradecer a você que acompanha desde o primeiro capítulo, mas não comenta, tudo bem eu sou uma pessoa indulgente! XD Apesar da brincadeira, obrigada! Agradeço a você que lê, comenta e me ajuda nessa vida doida que é a vida de ficwriter... os comentários são a razão por que nós estamos sempre por aqui. Obrigada! Agradeço a você que descobriu a fic semana passada ou mês passado! Obrigada também! Agradeço a todos que passaram por aqui e que me acompanharam desde o dia 23/8/2006 (sim, ela vai completar 1 aninho daqui a 10 dias! \o/). Obrigada a você que lê, obrigada pela força, pelo carinho, pelo elogio e pela presença. Obrigada!


Eu queria agradecer a um monte de gente, mas não dá... então, em vez disso, deixo aqui a certeza de que teremos um, como disse a Alininha, BTF (Behind the Facts) porque o livro 7 é lindo, é luz e é amor!!! \o/
Fora os missing moments com R/Hr e com outros personagens também que eu já estou escrevendo... claro que eu não vou dizer quando vou publicar porque eu não sei, mas certamente vcs saberão! ^^'
Ah, mas eu quero mesmo escrever pós-DH! \o/ Muita coisa pra nós... \o\\\\\\\\\\\\\


Ah, também queria agradecer a Mithya, minha amiga do coração... obrigada pela força nesse capítulo 6, sem você ele ia ser um pouquinho mais difícil pra mim e pra Lini viu! Xeru!!

E por fim, mas não menos importante (muito pelo contrário), agradecimento infinito e eterno a minha beta, Aline, que me fez companhia nesses meses todos (me cobrando também, gente! XD). Digo e repito, BTE não seria o que é sem seus dedinhos mágicos!!!
A nossa amizade, que começou por causa desse mundo de HP, hoje é muito importante pra mim. Eu sei que vc vai querer me bater, mas eu não sei como agradecer pelos toques, sugestões, melhoramentos, idéias e afins que vieram nesse tempo. E especialmente, obrigada pela sinceridade de sempre (tu sabes do que falo!).

TAM³³³³³

Leitores, reverências eu faço a vocês pela companhia... até a próxima (que eu espero, não demore!)

Abraços a todos e obrigada de novo...

Ah, quase esqueço... a nota da Beta! =)

*****

N/B – Essa nota final tem um gosto mini nostálgico. Lá se vão quase 7 meses que eu resolvi me desligar desse mundo das fics e apaguei todas as que eu havia escrito. Embora esse espaço não seja para falar de mim ou das minhas fics deletadas, mas sim da Betynha e de BTE, é meio inevitável não resvalar nesse assunto. A Betynha começou como revisora e terminou como beta reader das minhas fics. Com isso a nossa relação que já era próxima, ficou muito maior e a nossa amizade foi crescendo cada vez mais. Era lindo debater por horas e horas sobre Harry Potter e nossas fics. Hoje nos falamos todos os dias (é lei a floodagem diária no gmail! E ainda temos as conversas noturnas no messene). Harry Potter é apenas um lado disso tudo. Hoje não somos apenas amigas do mundo virtual e das fics. Somos amigas reais e das melhores que poderiam ter por aí (rsrsrs).
Depois que eu surtei, no bom sentido é claro, e resolvi sair de fininho desse mundo de fics, a única coisa que realmente me prendia a isso tudo era ser beta reader de BTE. Eu me lembro muito bem, como se fosse hoje, do dia que eu prometi que não abandonaria BTE no meio. No dia 21 de fevereiro desse ano, quase um mês depois do surto particular, nós duas nos encontramos em Brasília. Foi lindo esse dia. Um dos melhores do ano, sem dúvida. O encontro das fritas! (relembrando do pontinho rosa no Cerrado!) Eu, Mah e Betynha andando pra lá e pra cá em BSB. E numa dessas viagens de bus a Betynha me perguntou, mini sem graça (Ah, ela foi modesta... eu tava muito sem graça) e com aquela cara de dúvida, se apesar de tudo, da minha vontade de me afastar disso tudo, eu continuaria a betar BTE. Eu sabia que seria um desafio continuar a betar porque minha vontade era me dissociar disso tudo, mas não podia deixar a minha amiga na mão. Então, eu deixei bem claro que pretendia sim ir até o fim (Yummy! *abraaaaça*), independentemente da minha vontade de não continuar mais a fazer parte desse universo de fictions.
E aqui estamos nós! Último capítulo de BTE, com muito orgulho!!! É emocionante colocar um ponto final nessa fic e saber que a Betynha considera que muito de BTE tem minha influência e não seria da mesma forma se eu não estivesse aqui. É gratificante saber disso tudo e é uma honra ter feito parte desse time. BTE hoje virou referência para muitos R/Hr's e acho que é o primeiro passo de muitos que a Betynha tem a dar para que se torne uma escritora cada vez melhor e, quem sabe, publique uma história própria. Se eu pude ajudar nem que tenha sido com 1% para a evolução dessa escritora, eu fico mais que orgulhosa.
Betynha, foi lindo! Parabéns pelo final e espero que você ainda escreva muitas fics de tanto sucesso quanto essa!
TAM!
Aline Oellers

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