Behind the curtains - My Pain



Disclaimer: Harry Potter e todos os seus personagens pertencem à La Doña Rowling, pero se pertencessem a mim Lavender Brown (Vacander para os que a odeiam) teria sido a única vítima fatal na invasão dos Comensais à Hogwarts.

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Do I have to say the words?
Eu tenho que dizer as palavras?

Do I have to tell the truth?
Eu tenho que contar a verdade?

Do I have to shout it out?
Eu tenho que gritar?

Do I have to say a prayer?
Eu tenho que fazer uma oração?

Must I prove to you how good we are together?
Eu devo provar pra você como somos bons juntos?

Do I have to say the words?
Eu tenho que dizer as palavras??

Bryan Adams – Do I have to say the words?


Este capítulo é dedicado à Roberta e à Aline.

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(...)
"- Você não devia deixar a Lavender esperando lá fora – disse baixinho. – Ela vai se perguntar aonde você terá ido.
Ela foi andando muito devagar e ereta em direção à porta. Harry olhou para Ron, que parecia aliviado por não ter acontecido nada pior.
- Oppugno! – veio um grito da porta.
Harry se virou e viu Hermione apontando a varinha para Ron, uma expressão alucinada no rosto: o pequeno bando de passarinhos voou como uma saraivada de grossas balas douradas contra Ron, que ganiu e cobriu o rosto com as mãos, mas os pássaros atacaram, bicando e arranhando cada pedaço do corpo dele que puderam alcançar.
- Melivradisso! – berrou ele, mas, com um último olhar de fúria vingativa, Hermione escancarou a porta e desapareceu. Harry pensou ter ouvido um soluço antes de a porta bater."
EdP – Pgs. 236/237

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Harry sacou do bolso o Mapa do Maroto e viu que Hermione dirigia-se rapidamente para a Torre de Astronomia. Dobrou-o e guardou no bolso, partindo em direção à porta: N/A
- Harry, me ajuda! Tira isso de mim! – Ron gritou, ainda sendo atacado pelos canários.
- Finite Incantatem! – os canários desapareceram instantaneamente – Eu não deveria ter feito isso, Ron! – com uma nota de reprovação na voz e um olhar decepcionado para o amigo, Harry saiu da sala e rapidamente seguiu para a Torre de Astronomia.

Ao chegar, viu Hermione sentada no parapeito, imóvel. Porém, os discretos soluços, que ela não conseguia disfarçar a denunciavam: ela chorava.
- Hermione! – ele tentou se aproximar.
- Vá embora, Harry! – ela continuava a chorar, contudo permaneceu quieta.
- Hermione, por favor! Vamos conversar, eu também sou seu amigo. Eu quero te ajudar! – Harry estava preocupado com a amiga, que não se movera um centímetro e observava o lago negro, absorta.
- Vá embora, Harry! Você vai me ajudar bastante se fizer isso! – a voz embargada e entrecortada por sentimentos que Harry reconheceu serem decepção e mágoa.
- Hermione...
- Não, Harry! Vá embora, agora! – pela primeira vez ela olhou para ele e o olhar ameaçador dela foi decisivo para que Harry saísse da Torre.

Ele desceu as escadas e tomou a direção da sala onde Ron estava. Parou em frente à porta, olhou novamente no mapa e viu que o amigo estava acompanhado; não teve coragem ou, quem sabe, estômago para entrar. Procurou por Hermione e viu que ela já estava próxima da Torre de Gryffindor. Sabia que ela ia se esconder. Às vezes, Harry pensava que mesmo sendo tão brilhante, Hermione não conseguia manter o controle quando o assunto envolvia Ronald Weasley.
- Talvez seja melhor assim, pelo menos por hoje!
Ele tentaria falar com ela depois. Se o que ele estava pensando fosse verdade, aquela seria uma noite muito, muito longa para ela.

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Os sons da comemoração, os risos e as conversas animadas emergiam pela escada e ressoavam alto pelo espaço vazio no dormitório feminino do 6º ano na Torre de Gryffindor. À exceção de uma pessoa, todos os alunos da casa participavam da festa. Celebravam mais uma vitória no torneio de Quadribol.
As cortinas de uma das camas estavam cerradas e protegidas por um feitiço silenciador e outro de imperturbabilidade. Nem o mais perspicaz dos alunos poderia imaginar que a sempre tão durona e segura Hermione Granger chorava. Nem a mais observadora das pessoas seria capaz de distinguir quais os motivos das lágrimas que molhavam o rosto da garota. Pelo menos ela imaginava isso.
Hermione mantinha seus sentimentos bem escondidos no fundo de seu coração desde os acontecimentos do baile de inverno. Naquela noite, ela ficou chocada com o comportamento do ruivo; jamais imaginou que ele teria aquela reação, tanto menos que ele passaria a detestar seu herói por causa dela. Pela primeira vez, ela chorou por causa dele.
Não, não foi a primeira vez que ele a fez chorar: ela chorou por causa dele no 1º ano, chorou no 3º com os desentendimentos por causa de Bichento e Perebas, mas foi no 4º ano que ela chorou por causa dos sentimentos que tinha por ele, pelos sentimentos que ela pensou ter reconhecido nas atitudes dele; aquela noite, como essa, foi difícil, mas ela tinha o alento de poder olhar para ele e ainda ver o seu amigo, mesmo que tivesse de esconder seus sentimentos para manter-se ao lado dele.
Desde então, ela vem tentando entender o que acontecia entre eles e, óbvio, não foi difícil chegar à conclusão de que os ciúmes dela e a resposta que dera a ele quando discutiram no salão comunal tinham uma única explicação: ela gostava dele.
Bom, ela achou que usar a palavra gostar era suficiente, mas em pouco tempo passou a admitir que era mais que isso e tão logo ele se tornou monitor ao lado dela, e as rondas mostravam um Ron que ela ainda não conhecia, seus sentimentos tornaram-se cada vez mais profundos. Ela não pôde evitar e dia após dia sentia-se cada vez mais atraída por ele.
Ela suspirou e enterrou a cabeça no travesseiro macio. Pelo menos só eu sei disso, pelo menos ninguém percebeu o que eu sinto por ele. Pelo menos isso! Mas mesmo com esse alento, mesmo com seu segredo muito bem guardado, e agora sofrendo sério risco de ser mais suprimido que antes, Hermione não podia ignorar o que estava sentindo, não podia ignorar o que ele havia feito. Ela ainda chorava; as lágrimas embaçando sua visão e a dor e a desolação apertando seu coração.
Os motivos de seu choro se misturavam e acabavam por revelar uma única justificativa para a tristeza e o vazio que sentia: ela estava magoada. Magoada não apenas com Ron, mas também consigo mesma. Chorava porque não conseguira se conter e atacara Ron com os canários que, apesar do enorme sofrimento que sentia, havia conjurado tão perfeitamente.
Com os joelhos junto ao peito e muitas lágrimas molhando seu rosto, Hermione tentava parar a torrente de pensamentos que a deixava cada vez com mais vontade de nunca ter aceitado o desafio de ir a Hogwarts. Pela primeira vez na vida, ela desejava ter coragem suficiente para usar um feitiço de memória e esquecer, simplesmente esquecer.
Queria esquecer o que havia visto no salão comunal, desejava, desesperadamente, poder arrancar seu coração e trocá-lo por outro que não doesse tanto como agora. Mas a visão de Ron aos beijos com Lavender não lhe fugia dos olhos, o que a fez ter certeza de que era possível lançar uma Cruciatus, exclusivamente, em seu coração. Ele havia feito isso.
A dor que sentia ultrapassava tudo que ela imaginava ser possível suportar. E, enfim, ela admitia para si o que negava há um bom tempo: ela o amava, amava Ronald Weasley. Essa certeza era tão grande ou maior agora quanto antes. Suprimia os sentimentos por ele desde o quarto ano – a primeira grande decepção de sua vida – e agora, reconhecer isso era doloroso demais.
Ela não sabia quando havia acontecido, não sabia como havia se deixado apaixonar por ele e, muito menos, como havia chegado a "terrível" conclusão de que aquela dor só um sentimento maior que paixão poderia proporcionar.

Ótimo não é Hermione? Você aqui se martirizando e ele lá se divertindo. Isso é bem feito para você; muito bem feito, aliás. Como você, logo você, pôde confiar tão cegamente os seus sentimentos ao Weasley?
Eu adoraria, querida consciência, se você ficasse calada. Não é a melhor hora de me passar sermão. Eu... eu... eu não confiei nada a ele e... e... ele não significa nada para mim. Só estou chateada pelo jeito que ele me tratou lá no vestiário.
Faz-me rir Srta. Granger e engane-se a si mesma, mas não a mim. Seus amigos têm que tomar cuidado, afinal uma discussão boba fez você atacar o Ron com os canários, imagina se ele tivesse realmente te ofendido.
Não foi por causa da discussão!!!
– Hermione abriu os olhos como se estes fossem saltar de suas órbitas e enfureceu-se consigo mesma.
Ora, cale-se! Eu não tenho que me justificar para a minha própria consciência. Cale-se!
Acorde! Mais que qualquer outra pessoa, você sabe muito bem o que sente por ele e não vai ser hoje que você vai negar isso. Ficou tão... óbvio!
Não! Como é que você afirma algo assim? Eu não disse nada para confirmar isso.
Adoro autoflagelação, sem contar que eu sempre descubro o que quero!
Do que é que você está falando?
– Ela balançou a cabeça tentando parar com aquela loucura. Não, ela não estava discutindo com a própria consciência, estava?
Srta. Granger, Srta. Granger eu me divirto sendo sua parte não racional. Quem sabe um dia você me deixe guiar suas escolhas, quem sabe eu faça você fazer as coisas do jeito certo.
Cale-se! Eu não gosto do Ron! NÃO! E não há nada óbvio, nada!
Sei, vamos desista. Você não pode resistir; nesse caso, a verdade é única e imutável: É óbvio que você gosta dele e muito, mas muito mais que como um simples amigo.


Ela suspirou alto, passou as mãos nos olhos tentando secar as lágrimas e os guiou para uma foto em que ela estava entre Ron e Harry. Não havia como fugir, não havia como negar. Ela só não entendia porque ele não percebia algo tão... óbvio.

É, mas pelo jeito ele é o único que não percebeu esse óbvio. Me sinto ridícula com o papelão que eu fiz lá na sala. Por que o Harry fingiu ter colocado a poção no suco dele? Por que ele não falou do plano dele para mim? Teria sido tão mais fácil, talvez... talvez...
Talvez o quê? Por algum acaso, você acha que ele estaria com você como estava com a Lavender?


Ela olhou para a cortina a sua frente, atônita. De onde veio esse pensamento? Melhor, como é que ela pôde pensar em algo assim? Enquanto ela estava ali sozinha, chorando, pensando e tentando entender o porquê de os fatos terem tomado tal rumo, com certeza ele estava no salão comunal se divertindo. Patético!

Talvez nem tanto. Ela não queria pensar assim, mas era impossível não imaginar como eles estariam se divertindo juntos. O queixo dela caiu no instante seguinte ao pensamento... Droga!!
Mas ela não estava lá com ele. Não era ela a quem ele dedicava atenção agora; de alguma forma ela o magoou quando discutiram no vestiário; ela avaliou algumas vezes o que falou, tinha certeza de que não havia dito nada que fizesse com que ele saísse por aí se agarrando com a Lavender.
Afinal, ele não podia ter agido daquela forma, ela o havia convidado para ir a festa do Slughorn com ela; ela havia feito com Ron o que ele não teve capacidade ou quem sabe coragem de fazer à época do Baile de Inverno. Tudo acaba convergindo para esse baile, como isso é possível? Droga, por que ele tinha que ser tão idiota. Espera, por que ele tem de ser tão idiota? Mas não havia como negar, pelo menos não naquele instante que o que ela mais queria era estar com ele, ela queria sim poder comemorar, mas em vez disso estava em sua cama tentando abafar um sentimento que agora a fazia sofrer como ela não havia sofrido antes. Pensar que eles poderiam estar juntos agora fez com que ela continuasse a batalha com sua própria consciência:

Eu gostaria de acreditar que sim, que eu poderia estar no lugar dela. Seria perfeito, mas não sou eu. Ele preferiu a Lavender e eu não serei vítima disso mais do que já fui hoje. Ele me acusou de coisas que não são verdadeiras. Será que ele não percebe que eu só falei aquilo para o bem dele? É contra as regras usar a Felix Felicis.
Ah! A questão é essa, ele não usou. Ele foi brilhante sem a poção. Ele é realmente muito bom você não acha?
Sim! Ele é ótimo. Ele gosta do que faz, seria um ótimo goleiro se quisesse se profissionalizar e... Ei, não me induza a elogiá-lo!!!

Ela ouviu uma risadinha sarcástica lá no fundo de sua mente:
É, caríssima, é irremediável. Você vai ter de conviver com o que sente por ele e você sequer se deu ao trabalho de dizer a ele o que sente.
Dizer a ele o que sinto? Hermione ficou estática por alguns minutos, chocada com a força desse pensamento; chocada com a possibilidade de se expor assim. Nunca! Nem em milhões de anos ela faria isso. Mas eu não fiz isso hoje? Sim, definitivamente ela havia exposto todos os seus motivos, toda raiva que ela sentia por ter sido desprezada por ele sem razão.

Nos últimos tempos, ela vinha se dispondo a confessar seus sentimentos. Ela imaginava que pelo menos assim, poderia descobrir se ele também sentia algo por ela; bom, ela queria acreditar que poderia ser algo com a mesma intensidade que ela estava sentindo. Ela desconfiava que sim, havia dias que tinha certeza absoluta. Hermione começou a juntar as peças desse quebra-cabeça assim que foi para casa nas férias depois do 4º ano.
A reação dele quando a viu com Víktor; a discussão no salão comunal; a tensão velada que se instalou entre eles durante o resto do ano; ele a espiando quando Víktor estava se despedindo...

Porém, Hermione não podia dizer menos de si: Fleur Delacour; mesmo sendo quase cunhada de Ron, foi por causa dela que Hermione tomou ciência de seus sentimentos e, definitivamente, o ciúme que sentiu foi bem real; ela se detestou quando percebeu o olhar decepcionado de Víktor após a 2ª tarefa do Torneio Tribruxo; semanas depois ele perguntou a Hermione se ela gostava do ruivo. Que coisa! Ele, que nem nos conhecia direito, percebeu! Por que você não percebe, Ron?
Uma chama de esperança brotou em seu coração quando recebeu a carta muito entusiasmada do ruivo depois que ela enviou uma coruja avisando que não iria para a Bulgária. Esperança! Aquilo não foi uma chama, foi um incêndio! Depois disso, um mês inteiro praticamente sozinhos no Largo Grimmauld e nada aconteceu! Mesmo que tivesse acontecido alguma coisa, ninguém poderia saber, especialmente Fred e George.

Mais seis meses e o natal: o Perfume! Realmente, foi um presente diferente, o mais inesperadamente incrível que ela havia ganhado. Harry deu a ela um livro que ela queria muito, mas foi o presente de Ron que a fez ficar uns bons minutos encarando o vidro, sentindo o cheiro. Ginny teve que estalar os dedos diversas vezes para acordá-la e quando Hermione a olhou, um sorrisinho malicioso dançava nos lábios da ruiva. Sonhando Mione?
Sonhando? Não, ora ela não tinha tempo para essas bobagens! Ela só estava... Oh, Merlin! Ela estava sonhando e aqueles eram sonhos nada inocentes. Sonhos que ela tinha certeza, só dividiria com Ron. Ela sacudiu a cabeça, afastou o pensamento e olhou para Ginny novamente. Depois daquele dia, eu percebi o que havia de verdadeiro naquele sorrisinho que ela me dava quando eu saía em defesa do Ron sempre que ela falava mal dele. Merlin! Naquele ano, ela já havia chegado à conclusão de que estava apaixonada. Apavorante! Definitivamente apavorante! Por que ele nunca percebeu então?

Srta. Granger, ele é o Ron! Esqueceu que ele não é tão observador como você?
Droga! Como ela queria que ele fosse observador; ela trocaria todo senso de observação e atenção que tinha, nem que fosse por um dia, só para ele perceber o que para ela havia chegado a um ponto quase insuportável.

Refletir sobre isso não era nada agradável, mas ela não conseguia se livrar dos próprios pensamentos, ela não conseguia deixar de se imaginar no lugar da Lavender.

Ah, ótimo! Eu como aquela lá, nunca mesmo, nem em um milhão de anos!
Interessante, você realmente não ficaria como ela. Eu estranharia se você ficasse beijando o Ron no meio do salão comunal. Mas eu acho que a Sala Precisa seria um ótimo lugar, sem contar que ninguém poderia perturbar vocês e...
Por Morgana!! O que está havendo? De onde é que estão vindo esses pensamentos?

Ela sacudiu mais uma vez a cabeça e tentou afastar aqueles pensamentos, porém quanto mais tentava menos conseguia. Ela não podia sucumbir a isso. Eu não posso simplesmente esquecer quem eu sou! Eu não posso deixar isso acontecer; esse amor todo já tem consumido muito de mim e eu...
Mais uma vez, os olhos de Hermione se arregalaram como se fossem saltar fora das órbitas. Os pensamentos dela a estavam surpreendendo; Hermione chegou à conclusão de que, possivelmente, ela estava perdendo o controle sobre os próprios pensamentos.
Oh! Eu estou enlouquecendo, isso não é possível! Como eu deixei as coisas chegarem a esse ponto? Como?

Ela não sabia que horas eram. Por causa dos feitiços não sabia se suas colegas de quarto haviam chegado – Isso vai ser pior do que eu posso sequer imaginar! Encarar Lavender e Parvati de agora em diante, seria uma tarefa, no mínimo, difícil... para não dizer insuportável.
Que grande porcaria! Agora ficou realmente bom! Ele tinha que ficar com ela? Ele tinha que fazer isso comigo?
Ótimo! Enfim, Srta. Granger, a pergunta que eu preciso que você responda: o que foi que ele te fez afinal?

Essa história de discutir com a própria consciência a estava apavorando, os pensamentos, as perguntas...

Que pergunta ridícula, ele... ele...
Ele o quê?
Eu preciso mesmo dizer?
Certamente!
Ele... ele... traiu o que eu sinto por ele; ele ignorou os sinais que venho dando há meses; ele fechou os olhos e não quis enxergar o que eu tenho feito por ele; ele... partiu meu coração!


- MERLIN! – Ela não conseguiu evitar a exclamação alta e definitiva, chegou a se assustar com o grito, mas lembrou-se dos feitiços que havia lançado ao seu redor.
Mais que droga! Satisfeita? Espero que você esteja bem satisfeita, cara consciência! Eu não precisava lembrar disso, não precisava!
Ora, Srta. Granger, eu não preciso lembrar nada a você. O meu trabalho por hoje está quase concluído!


Hermione levou as mãos à cabeça numa tentativa de parar todos aqueles pensamentos, aquela discussão ridícula. Minutos silenciosos se passaram e ela não pôde conter mais uma nova torrente de lágrimas, ela não conseguiu evitar que os sentimentos que nutria por Ron tomassem seu lugar e a fizessem ter certeza de que mesmo tentando ela não o esqueceria.
Ela suspendeu os feitiços e resolveu abrir um pouco a cortina, o suficiente para olhar o relógio que estava no criado-mudo ao lado de sua cama: 01:25 am. Ah, não! Ainda?! Uma noite inteira pela frente, e os sons da festa não estavam tão altos assim, e Parvati e Lavender ainda não haviam voltado.

Não pense em nada de que possa se arrepender, Hermione! Não pense!

Ela fechou a cortina mais uma vez, renovou os feitiços e resolveu que era hora de dormir. Tentar, pelo menos! Os minutos passavam, e o que ela pensou terem sido horas, não passaram de meros 40 minutos. Quando eu mais quero que o tempo passe, ele não passa. Droga!
Ela começou a pensar que era absolutamente impossível imaginar sua vida sem seu melhor amigo. - Ron. – ela sussurrou baixinho o nome dele com medo de que alguém a ouvisse, mas ela estava sozinha.

Suspirando, ela considerou que ele a havia deixado só, ele a fez sentir dor e mágoa e dessa vez com uma intensidade que ela não conhecia; talvez por isso ela não conseguia deixar de pensar em como ela sempre se sentia segura quando estava próxima dele. E com um gosto amargo na boca ela lembrou de todas as vezes que ele a defendera contra Malfoy e Snape. Lembrou-se de quando ele cuidara das mãos dela no 4º ano.

Droga! Mesmo depois de chamá-la de pesadelo, de, injustamente, acusar Bichento de ter matado Perebas, de tê-la deixado como último recurso à época do Baile de Inverno, Hermione não queria ter de se afastar dele novamente, mas sabia que isso iria acontecer; tinha certeza que ficaria uns bons dias sem falar com ele. Na verdade, sua mágoa era tanta que talvez uma vida toda não fosse suficiente para ela se recuperar.
Por que era tão difícil para ele entender que ela só repreendeu Harry por achar melhor que as regras fossem cumpridas? Por que ele achou que ela não acreditava na capacidade dele? Por que ela tinha que ser tão obcecada pelo cumprimento das regras, logo ela que havia quebrado várias nesses anos de Hogwarts. Malditas regras!
Mas ela era monitora e continuaria a cumprir suas obrigações e a exigir disciplina dos demais. Não seria agora que ela comprometeria sua imagem na escola, não seria agora que ela iria manchar sua fama. Droga! De que me serve essa fama de durona, se não tenho lucrado nada com isso. Droga! Droga!

Sem aviso, Hermione começou a se lembrar do convite que fez a Ron durante a aula de Herbologia. Ela sabia, a festa do Slughorn era a chance perfeita! Droga! Por que eu fui lembrar disso agora? Por que eu fui lembrar do olhar dele? Ela suspirou mais uma vez, não seria nada fácil olhar para ele e não lembrar das centenas de promessas que ela viu brilharem no olhar dele quando ela o convidou.

Ele sorriu! Sorriso tão bonito! Por que eu acreditei tão fielmente em tudo que eu vi no olhar dele? Ele é tão instável, tão inseguro!
Srta. Granger, creio que foram esses defeitinhos que te atraíram nele. Ele é completamente dúbio, talvez por isso você não consiga negar o que sente por ele.


Docemente rude; um cabeça dura que sempre acreditava no que ela dizia (sem deixar de fazer algum comentário sarcástico ou irônico, óbvio!). Mais uma vez, ela viu a surpresa que, repentinamente, surgiu no rosto dele transformar-se em certeza e promessas.

Ele é um completo idiota! Eu não posso ficar assim por causa dele! Não posso!
Ele é um idiota, aliás o único idiota que te faz perder a linha; o único idiota que te faz esquecer que é uma bruxa quando estão brigando; ele é o único idiota que faz a monitora rígida e disciplinadora desaparecer. Reconheça, ele é tudo, menos um idiota. Mesmo que seja inconscientemente, ele é o único que te desperta sentimentos contrários: você realmente acha que alguém como o Harry, por exemplo, faria você ir ao seu extremo com tanta facilidade como o Ron faz? Você acha que experimentaria ódio e amor ao mesmo tempo como está agora se não fosse o Ron quem estivesse provocando isso em você? Ele desperta em você algo que, eu tenho certeza Srta. Granger, você não gosta de mostrar para ninguém: paixão.
Ignore isso! Ignore! Você tem que conseguir!
Ignorar o óbvio é mentir para si mesma! E isso não cabe no momento, Srta. Granger!


Agora o cansaço já começava a vencê-la. As pupilas pesavam, os olhos ardiam, o corpo doía. Já deveria ser bem tarde. Ela suspendeu os feitiços e, no mesmo instante, Lavender e Parvati entravam no quarto. Ela congelou:

- Isso é tão legal, Lavender! Parabéns! – a voz esganiçada de Parvati ditava o tom da conversa.
- Pois é, agora ele é MEU! – Lavender aumentou o tom de sua voz e falou na direção da cama de Hermione e ficou esperando pela resposta dela.
O silêncio tomou o quarto.
- Acho que ela está dormindo. – Parvati disse não muito certa de suas palavras.
- Pode ser, ela tem a mania de usar um feitiço de imperturbabilidade. – Lavender completou com um ar de falsa displicência.
- É verdade! Mas enfim, quer dizer que você e o Ron estão namorando. Não consigo acreditar!

Quem não acreditou foi Hermione!

Namorando? Não Merlin, não!

- Acredite amiga, acredite! Depois que a 'amiguinha' dele e o Harry saíram da sala, ficamos por lá um bom tempo. Você acredita que ela o atacou com um bando de canários? – Lavender começou a contar o que houve na sala depois que Hermione e Harry saíram e Hermione sentiu náuseas e o perigo de vomitar tornou-se mais sério que nunca.

- Depois eu perguntei para ele se ele queria ser meu namorado! – agora a voz da loira tornou-se sonhadora.
- Peraí, você quem pediu ele em namoro? – Parvati ficou estupefata.

Se vocês o conhecessem como eu o conheço, saberiam que isso é típico dele. Ele nunca toma a iniciativa em assuntos que envolvam garotas e...

Hermione sacudiu a cabeça e afastou aquele pensamento tolo e continuou a ouvir a conversa:

- Claro, você acha que eu deixaria a oportunidade de ter um garoto como o Ron escorrer pelos meus dedos? Nunca!! – ela abaixou um pouco o volume de sua voz, mas não foi o suficiente para evitar que Hermione ouvisse – Além do mais amiga, eu, você e toda a escola sabemos que a nossa coleguinha – e apontou desdenhosamente para a direção da cama de Hermione – e o Ron poderiam estar juntos há séculos, não fossem tão teimosos e cegos ou seja lá o que inventem para não assumirem o que sentem um pelo outro. Mas isso é problema dela, não meu. Se a Hermione acha que eu cometerei os mesmos erros dela, se ela acha que eu vou deixar essa oportunidade de ficar com o Ron passar, ela está enganadíssima! – seus olhos brilharam perigosa e maliciosamente – se ela não o quer, eu quero e se ele gosta dela, eu farei ele a esquecer rapidinho, pode ter certeza disso!

O que ela quer dizer com isso? Eu cometi erros? Quando? E quem foi que disse a essa... a essa... essa aí que eu quero algo com ele?
Vai começar a se enganar novamente Srta. Granger?


Hermione remexeu-se um pouco na cama e continuou a ouvir a conversa das colegas:

- Lavender, isso não vai dar certo. Você vai namorar um menino que gosta de outra! Isso nunca dá certo!
- Eu não sei se ele gosta dela! Não tenho certeza e, depois de hoje, duvido muito que ele queira voltar a falar com ela. – elas se olharam e sorriram descontroladamente.
- Bom, ele deu mostras de que gosta dela pelo menos desde o 4º ano! – Parvati considerou pensativa.
- Não acredito que possa ser verdade. Aquele escândalo todo no baile foi puro ciúme de amigo, além do mais ninguém pode provar que ele estava com ciúmes por causa do Krum.
- Tudo bem, vamos imaginar que ele goste da Hermione, como é que você vai fazer com que ele a esqueça?
Lavender olhou para Parvati com um brilho cheio de malícia e certeza:

- Eu sei o que farei, não se preocupe. Ron Weasley está na minha mão. Ele é meu. Eu tenho meus métodos e tenho certeza de que em pouco tempo, ele não se lembrará quem é Hermione Granger. – a loira riu histericamente e foi para o banheiro, enquanto Parvati pensava que sua amiga estava enganada.
Estúpidas, ridículas! – Hermione respirou fundo, mas disfarçadamente – Ninguém vai fazer o Ron me esquecer, ninguém. E mesmo que alguém tente jamais vai conseguir porque...

Hermione recuperou um pouco da calma e argumentou racionalmente que talvez ninguém, jamais, pudesse fazer Ronald Weasley esquecê-la porque, ela se lembrava bem, que no baile, além da raiva por não estar com ela, ele a encarava com uma expressão de arrependimento. Então, Hermione ouviu uma estranha frase de Parvati:

- Lavender, cara amiga, eu acho que você não vai conseguir nada tentando o impossível. O Ron, mesmo que queira, não vai conseguir esquecer a Hermione. Disso eu tenho certeza. – e se dirigiu para o banheiro.

Deus do céu! – Hermione respirou fundo novamente – Por que ela disse isso? Será que elas perceberam algo?

Ela arregalou os olhos mais uma vez e teve que levar a mão à boca para não soltar mais uma exclamação alta, afinal havia retirado os feitiços que estava usando há pouco e Parvati e Lavender poderiam voltar a qualquer momento. Poucos minutos se passaram e as duas voltaram do banheiro e Hermione continuou a ouvir a conversa delas:

- Ah amiga! Mais uma vez parabéns! Ele parece ser ótimo.
- Ele é MA-RA-VI-LHO-SO – a voz cheia de malícia fez Hermione, mais uma vez, sentir náuseas.
Não era ela quem deveria estar dizendo essas coisas, não!
Quem deveria ser então, Srta. Granger?
– aquele sorrisinho desdenhoso ecoou novamente na mente de Hermione. Ela suspirou mais longa e vagarosamente.

Deveria ser eu. Somente eu!
Ciumenta, possessiva, teimosa e cabeça dura. Você sabe que vocês dois têm essas "qualidades", por isso estão nessa situação. Agora, você terá de suportar as conseqüências!
Eu sei.

A conversa continuava e Hermione voltou sua atenção para o que elas diziam:

- Será que você consegue fazer o Ron me ajudar com o Seamus, Lavender?
- Não sei, mas eu posso tentar. Agora que ele é meu, eu posso conseguir qualquer coisa com ele. – o tom de voz de Lavender tornou-se estranhamente rouco – Vou tentar e conseguir! Pode deixar, eu vou convencê-lo. – Ela e Parvati riram histericamente.
- Mas como você vai conseguir convencê-lo? – Parvati perguntou parecendo muito inocente.
- Você sabe como! Eu sempre consigo o que quero; é só eu usar os métodos de persuasão certos e ele fará tudo que eu quiser.
- Hum... tomara que dê certo, amiga!
- Ah vai dar certo, eu não tenho dúvidas. – e nesse instante Hermione viu Lavender sacudir algo que estava em sua mão. – Ronald Weasley terá minha marca com ele para sempre. E mesmo que não fiquemos juntos por muito tempo, eu vou conseguir duas coisas importantes: ele vai te ajudar com o Seamus e eu vou fazer ele esquecer que um dia sentiu qualquer coisa pela Srta. McGonagall.

Ao ouvir aquelas palavras, Hermione sentiu-se humilhada, desrespeitada e ultrajada. Decidiu que era hora de mostrar para as pessoas que ela não era guiada por sentimentos estúpidos e ela faria questão, de agora em diante, de mostrar que Ronald Weasley não significava nada para ela.

Discretamente, ela puxou a cortina e olhou o relógio: 03:50 am. Era hora de dormir. Ela não suportaria ouvir mais um minuto sequer daquela conversa sórdida. Lançou os feitiços novamente.

Eu não mereço isso!
Eu devo concordar Srta. Granger. Elas abusaram mesmo.

A raiva e a indignação tomaram conta dela e, naquele instante, Hermione se decidiu.
Chega de expectativas! Chega de ilusão! Vou tratar de acabar com o óbvio. E vou conseguir, eu tenho que conseguir!
Como vc pretende fazer isso?
Sabe, eu tive hoje a certeza de que para ele eu sou apenas uma amiga, quero dizer eu era, porque de agora em diante, ele saberá como eu sou ótima! Serei ótima com Ronald Bilius Weasley, como sou com o canalha do Malfoy.
O que você quer dizer com isso?
Espere e verá!


Negar o óbvio! Era isso que ela faria de agora em diante. Já que não era óbvio para ele, então não teria de ser para ela. E ela faria isso com todas as suas forças, não deixaria que seus sentimentos tomassem frente em sua vida. Não permitiria que perdesse o controle novamente.

Ele não merece nenhuma lágrima que eu chorei aqui hoje. Ele não merece sequer os minutos que eu dediquei a ajudá-lo. Ele não merece o risco que eu corri confundindo o McLaggen. Ele não merece nada que venha de mim. Que a Molly me perdoe, mas Ronald Weasley será descartado da minha vida oficialmente de agora em diante. E isso é uma promessa!

Algumas lágrimas teimosas surgiram e ela não as segurou, mas o cansaço a venceu e em poucos minutos estava adormecida e decidida de que teria de aprender a viver sem seu melhor amigo. Ela aprenderia a não ter a companhia dele. Assim como aprendeu tudo que sabe, ela teria de aprender a conviver com a falta que sentiria de Ron, mas ela é Hermione Jane Granger e nenhum garoto, nem mesmo Ron Weasley, a subjugaria assim.

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N/A: Bom, para quem ficou imaginando de onde eu tirei essa trajetória da Hermione depois que ela saiu da sala de aula, é só consultar o site: www.hp-lexicon.org. Muitas e muitas informações sobre o mundo HP e pra quem tiver um pouco de paciência é só buscar a localidade dos principais cenários do castelo.

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**Bety entra pensativa no recinto**

Enfim não é?
Depois de alguns dias de trabalho, eis que chega o primeiro capítulo dessa idéia que surgiu muito despretensiosa depois que eu li algumas shorts pós-HBP no Check. E graças a todas as santidades do mundo, eu consegui terminar esse capítulo e ele ficou do jeitinho que eu imaginei. Sem tirar e nem pôr uma única linha.
Por isso, eu tenho que fazer alguns agradecimentos muito pertinentes:

Aline: Thank yo so very much!!! Você acompanhou os passos desse capítulo e foi muito divertido ler os seus coments e trocar idéia sobre a fic com você! Eu espero que essa parceria se estenda por meses e meses... ah! Anos! Hihihi...

Poli: Obrigada pela eterna força de sempre!!!

Mithya, Robertinha e Dai: É coletivo, mas o carinho é o mesmo para vocês. Valew sempre por tudo!

E óbvio... o capítulo é dedicado à Roberta e à Aline porque eu ainda estou para ver duas pessoas que defendam tanto Miss Granger quanto elas. :-)

Bom, é isso! Espero que vcs tenham apreciado essa primeira parte dos pensamentos tão íntimos de Ron e Hermione. Até o próximo capítulo e não se esqueçam das reviews... eu respiro por reviews!! \o\
Valeu!

o/

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Comentários (1)

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