O Proibido É Mais Desejado



N.A.: Caralho. Faz quase um mês que eu não atualizo!!! Mil perdões, pessoal. Vocês devem ter visto que eu participei de dois challenges -- e, cá entre nós, tenho mais quatro pra participar --, e mais a Secrets, e ainda estava bloqueada por causa de uma maldita idéia para uma fic UA de Saint Seiya. Acabei atrasando. Vou tentar não fazer de novo...

Belinha: Bem, o Sirius é uma pessoa extremamente imprevisível, não é? Quem sabe o que ele faz ou não faz? É, foi triste mesmo, mas foi bem a cara do Snape. Sobre o que vai acontecer com os Marauders, eu ainda tô matutando. Mas, bem, no próximo capítulo, vai ter confronto de novo! Que bom que gostou do capítulo! Beijos!

B. Black: O Peter realmente não é um dos personagens mais populares da minha fic... Mas que bom que você curtiu o capítulo 15! James e Sirius vão ver no que dá ignorar o Moony... Aguarde! Bem, o Sirius é meio doido, ninguém sabe do que ele é capaz. Se vai jogar a amizade pro ar, é ver, né? Valeu!

Bruh ternicelli: Ah, valeu pelo "perfeita", embora eu ache que não está isso tudo não! Thanks, dear! Beijos!

Luh Caulfield: *olha assustada pra Luh* Calminha, calminha... O Peter não é tão ruim assim, vai... *se abaixa* Huahuahua, que bom que você gostou do capítulo apesar dos apesares. *se encolhe* Você não vai querer me machucar porque eu demoro pra atualizar, né? Do hospital é que eu vou demorar mais ainda! Bem, enfim, está aqui o capítulo! Continue lendo!

Mila-ytzi: Que bom que está gostando! Bem, o Peter e o Severus não atraem mesmo a alegria dos leitores da fic, mas a maioria gosta do Prongs... E, bem, quem sabe a Lily não fica com uns três em vez de um só? Ia ser engraçado! *autora tendo idéias estranhas* Bem, todas essas possibilidades só serão reveladas no final (porque a gente nunca sabe o que acontece no final... ou melhor, só eu sei e não vou contar, lá, lá, lá). Bem, eu realmente quase demorei um mês pra postar, mas, tomara que você goste do capítulo mesmo assim! Valeu!

Ana Lívia: Carma, sô. Bem, dê uma recalibrada nos seus nervos que ainda tem muiiiito mais emoções fortes por aí. Sirius quebrando o pacto é a menor delas. O Sirius é meio doido, nem eu consigo controlar ele direito *puxa as rédeas do Sirius* Que bom que você está gostando da fic, apesar de todas as cagadas que eu estou fazendo com ela. Legal você ter gostado do capítulo! Beijos!

¢Marilia Evans Potter¢: Eu sempre me atrapalho com os sinais de centavos no seu nick... Legal você continuar gostando, o capítulo 17 sai logo, logo... (Gente, parece que comecei essa fic ontem...) Espero que você goste do Sirius/Lily desse capítulo. E, já que gosta dos quatro juntos, espere o 17 que o 17 vai ter momentos dos três casais (na verdade, dos quatro, contando com Snape/Lily) Já atualizei! Beijos!

lizandra oliveira: Bem, eu achei que estava um pouco tarde demais para colocar o Regulus na história como personagem (ele precisaria ser desenvolvido desde o começo), mas eu fiz ele fazer uma ponta. Não acho que tenha sido bem normal, eu apareci com um Regulus meio pentelho, mas... é o que dá no momento. Narcissa/Severus aqui fica difícil, porque o Severus é totalmente obcecado pela Lily, e Cissy tá feliz com o Lucius. Sem falar que tem gente que vai me matar. Ué, porque tanta agressividade contra o Sirius e o James? Estamos todos em paz! *olha pra todo mundo brigando e suspira* Bem, de qualquer forma, prossiga na leitura!

Lady_Blonde: Sei não, hein, teve um ou outro comentário contra o James nessa história... E mais uma pra campanha "Vamos Tirar o Peter da Autora e Torturá-Lo". Espera só terminar a fic que eu entrego o Peter pro linchamento (e, acreditem, até o final vamos arranjar mais motivos para odiá-lo). E Snape também. Tomara que você curta esse capítulo, apesar de estar odiando todo mundo. Beijos!

Deyl-chan: Você é uma leitora nova, não é? *meio lesada* Se é, UEBA!!! Creia, o final dessa fic vai te chocar. Vai chocar todo mundo. *risada extremamente maligna* Bem, você deve ser a terceira ou quarta que está reconhecendo que, nesta fic, o James parece meio besta, mas, até o final, acho que vou fazer todo mundo perdoá-lo! E, bem, o Peter já jogou a amizade deles pro alto quando entregou o James e a Lily, fidelidade não é bem o porto forte dele, né? E, se eu já pensei em ser escritora, é o meu sonho ^____^. Espero que curta esse capítulo! Continue lendo!

thamy gibson evans: Ah, você leu Incondicionalmente? Legal! Quase ninguém mais passa lá e até eu reconheço que essa não foi uma das minhas melhores idéias... Espero que tenha gostado. Se você gosta de Lupin/Tonks, passa na minha fic Secrets and Memories! Bem, acho que seus apelos ao Sirius não vão dar muito certo... *balança a cabeça tristemente* Beijos!

Ana Lily Diggory: Já que você está precisando tanto, aqui está! Valeu!

Ana_Weasley_Black: *sai procurando o comentário da Ana* Poxa, sabe que eu tinha lido o comentário? E eu não excluí! Floreios é doida mesmo... Mas, tudo bem, o importante é que você gostou... Eu acho. Você falou em Someday sobre eu escrever sobre o reencontro do Sirius e do Remus, né? Então, tem a minha fic lá, Savin' Me, que ganhou o I Challenge Slash, e que fala mais ou menos do reencontro dos dois. Dá uma conferida! Beijos!

Paola Lovegood: Já está aqui o 16! E, sim, realmente, Sirius é insuperável! Valeu!

Prizinha: Pode deixar, já escrevi o 16! Continue lendo!

Ana Carol Evans Potter: OK, obrigada pelos elogios! Tomara que curta o 16! Valeu!

Xuh Black: Legal você ter gostado! Sim, Remus e Sirius não negam a raça... O que fica ainda mais vísivel nos próximos capítulos! A citação dos lírios que está na capa é da Bíblia, mas eu não lembro bem em qual evangelho. Beijos!


N.A.2: Capítulo tosco totalmente centrado no Sirius, com poucas cenas do James, do Remus e nenhuma do Snape e do Peter. Música do capítulo: Memórias, da Pitty.


Capítulo 16: O Proibido É Mais Desejado



Eu sou uma contradição
E foge da minha mão
Fazer com que tudo o que eu digo
Faça algum sentido

(Pitty — Memórias)


O sangue correu pelos pulsos de Sirius. Fervia e o queimava como ácido, correndo pelos seus braços. Ele rilhou os dentes de tanta dor, feridas surgindo por toda a extensão de sua pele branca.

— Isso é o que dá ter o maldito sangue Black — ele reclamou para a escuridão. — Merda, preciso de ajuda…

No instante em que ele disse isso, um vulto apareceu ao longe. Fraco e com os braços em carne viva, ele correu até a figura, até perceber que não era ninguém menos que Lily.

— Lily! Lily, me ajude!

Ela o olhou tristemente, sem nada fazer. De repente, Sirius percebeu que ela estava atrás de um vidro, como de uma vitrine, intocável. Em desespero, socou o vidro, tentando alcançá-la, mas nada adiantava.

— Lily! Lily! LILY!

E ela só o olhava com tristeza.

Uma risada atrás de si. Como se tivesse levado um choque, Sirius se virou. Era Snape, rindo de se acabar.

— Cale a boca! — gritou o grifinório, sentindo uma raiva descomunal tomar conta de si.

Mas, assim como Lily continuava atrás da vitrine, o Ranhoso continuava a rir. E ria, ria, sua risada ecoando na mente de Sirius, sacudindo seu corpo como se fosse uma convulsão.

— CALE — A — BOCA!!! — berrou o rapaz, agarrando o pescoço de Snape, tentando desesperadamente fazê-lo se calar.

Mas a risada continuava a ecoar, e ecoar, e ecoar… Sirius fechou os olhos, sentindo suas mãos queimadas com o sangue vibrarem…

E quando os abriu, recuou de horror.

Era Lily quem ele estava estrangulando.


Abriu os olhos.

Eu fui
Matando os meus heróis


Levou alguns segundos até que ele se desse conta que estava bem salvo em sua cama, que seus pulsos não estavam sangrando e que, mesmo que sangrassem, era impossível que seu sangue fizesse queimaduras nos seus braços, por mais que fosse podre. Lily estava bem segura no seu dormitório, Snape estava a quilômetros de distância, enterrado naquele pântano que era o dormitório da Sonserina. Fora só um pesadelo.

— Merda — xingou. — Eu odeio ter pesadelos.

Já fazia mais de um mês desde aquele maldito pacto. E durante todo esse período ele vinha tendo pesadelos terríveis, um atrás do outro. A grande maioria envolvendo Lily e sangue, embora uns dois tivessem como personagens a família Black.

Não era nada agradável ficar longe de Lily, se conter. Ele fazia isso por Remus e por James, que sabia que deveriam estar sofrendo como ele, sofrendo daquela estranha abstinência noite após noite.

E agora os tais pesadelos.

Sirius sempre teve uma apreciação secreta pelo proibido. Tio Alphard dizia que isso fazia parte de ser um Black: uma tendência ao pecado, ao proibido, à mentira e à trapaça. Sirius sabia mentir bem. E ele nunca colocara seus dotes de trapaça em ação, mas tinha certeza que saberia trapacear se quisesse. Não gostava disso. Era como se fosse uma parte suja dentro dele, algo ruim do qual ele não sabia se livrar.

Mas, bem, como Remus mesmo dizia, todo mundo tem um lado escuro dentro de si, do qual quer se livrar. O lado escuro de Sirius não era escancarado e nem uivava, como o lado escuro de Remus, mas, mesmo assim, era incômodo. Sujo.

E incrivelmente tentador.

Sirius sabia o prazer do risco. Do errado. Criado num lugar onde cedo você devia aprender a se defender contra influências externas, e onde cedo você tinha que montar sua personalidade antes de virar um títere movido pelas mãos de seus pais, Sirius já provara muito do gosto que tinha a proibição. Pensou que já conhecia tudo nesse gênero. Era muito menos inocente que James, Remus ou Peter.

Aos poucos como se
Já não tivesse nenhuma lição a aprender


E, no entanto, aquela sensação era totalmente nova para ele.

Agora, que Lily era proibida, parecia ainda mais bonita. Seus olhos lânguidos enquanto ele se afastava de seus olhares — aliás, ultimamente, ela vinha se afastando deles todos, como se soubesse o que andava acontecendo —, seus cabelos ruivos sobre a pele pálida, seu corpo esguio vestindo roupas mais frescas por causa do calor primaveril. Sirius tinha que se segurar para não agarrá-la e beijá-la até o fim dos seus dias.

Seu coração doía de angústia, de desejo. Doía de medo. Mesmo sabendo que tudo o que acontecera fora um pesadelo, ele não podia deixar de temer que fosse algum tipo de interpretação… de aviso.

Por Gryffindor, Sirius Black, está ficando com manias de Adivinhação, agora? Quem faz Adivinhação é o James, não você.

Verdade. Sirius nunca temera avisos ou premonições. Sempre se considerara um cético indissolúvel, e rira muito da cara de James quando ele e Peter tinham resolvido fazer Adivinhação. Estudos dos Trouxas eram muito mais sensatos. O que era então essa sensação horrível de que algo bem ruim estava para acontecer?

“Estou virando um crédulo tolo”.

Não, está virando um idiota obcecado. É bem como tio Alphard dizia. Você deve ter uma tendência a enganar seus amigos.

“Cala a boca. Eu daria a minha vida por James e por Remus, você sabe disso!”

Sim, você daria sua vida… Mas estaria disposto a dar Lily?

Sirius não soube o que responder.




— Sirius. Sirius, acorda.

— Hummmm…

— Sirius, falta dez minutos para começar a aula. Acorda.

Aos poucos, os olhos cinzentos de Sirius foram se abrindo. Piscando para focalizar melhor, pôde ver o rosto de Remus, debruçado sobre o seu.

— Acordou?

— Só mais cinco minutinhos, Moony…

— Não mais cinco minutinhos. Faltam dez minutos… quer dizer, nove… pra aula começar. E você lembra o que Sprout disse que aconteceria se você se atrasasse de novo, não lembra?

Silêncio.

— Padfoot, eu só…

— PUTA QUE O PARIU!!! — berrou Sirius alto, dando um pulo para fora da cama e quase derrubando Remus no processo. — Merda! E bem segunda, que começa com essa merda chamada Herbologia! Preciso correr, Moony!

— Então corre, que eu já vou indo — disse Remus.

— Não, me espera, eu juro que não vou me atrasar! — gritou Sirius, pulando num pé só, enquanto tentava colocar a meia no outro pé, a camisa atravessada no pescoço.

— Ah… OK — disse Remus, parando para apreciar o espetáculo do amigo tentando enfiar as calças enquanto abotoava o colarinho.

Após uns dois minutos de pulos para lá e para cá, Sirius exibiu a sua prontidão, a gravata torta, as vestes todas desarranjadas, e os sapatos trocados.

— Padfoot, arrume a gravata, ajeite as roupas e troque os sapatos. Vou contar até três. Um…

Sirius consertou a gravata.

— Dois…

Ele alisou as vestes até ajeitá-las.

— E…

Com movimentos compulsivos, ele trocou os dois sapatos.

— Três. Vamos.

E eles dispararam escada abaixo.

Chegaram nas estufas que dividiam com os lufas-lufas uns três minutos antes de bater a sineta. Remus se largou entre James e Frank (que, como todo bom lufa-lufa, era expert em Herbologia), e Sirius do outro lado de James, sentindo todos os olhares se voltarem para si. Aquilo o irritou.

Já fazia um mês desde o aniversário de Remus, e, para todo o castelo, ficara óbvio que acontecera alguma coisa. Havia sempre um formalismo no modo como os Marauders se tratavam depois daquilo, e tinham se acabado as risadas à toa. Risadas, entre os quatro, agora eram raras. Ao mesmo tempo, James ia se chegando mais a Peter e Sirius e Remus retomando a antiga amizade do começo do primeiro ano, quando ele era um Black arrogante e Remus um licantropo inseguro.

Ficava claro para qualquer um que a amizade deles tinha sofrido um decidido abalo. Mas o que seria capaz de produzir um abalo numa amizade como a deles?!

Por isso, desde o aniversário de Remus, os olhares perseguiam a eles pela escola, como se tentassem descobrir, observando-os, o que acontecera com os Marauders. No começo, Sirius nem ligara, mas agora estava ficando irritado. Não gostava de chamar a atenção assim. Preferia chamar a atenção por alguma piada, uma brincadeira, um mérito, não por burradas que fizera.

Eu sou uma contradição


— Que demora, hein, Padfoot? — perguntou James, e, mesmo estando o tom dele desprovido de qualquer agressividade, qualquer um podia perceber que havia algo diferente naquele “Padfoot”.

— Noite ruim — resmungou Sirius.

— Eu sei — disse Remus, repentinamente. — Ouvi você gemendo de noite. Pesadelos, Sirius?

— É. Estão muito freqüentes. E sempre sonho com a mesma coisa.

— Pode ter alguma coisa a ver com Adivinhação — disse James. — No quarto ano, a gente aprendeu a interpretar sonhos. Se eles se repetem com freqüência, podem ser um tipo de aviso.

— Bem, então é um aviso realmente sinistro, porque eu acho que não é sempre que você sonha com seu sangue queimando os seus braços.

— Nossa — disse Frank com uma careta. — É nessas horas que agradeço meus pesadelos se limitarem a Slughorn em trajes de banho.

— Eca! Slughorn em trajes de banho?!

— Frankie, você já sonhou com isso?

— É, e, acreditem, não é uma visão agradável.

— Argh.

Sirius ouviu toda aquele despropósito com um pouco de irritação. Eles ficavam falando sobre Slughorn e outras coisas sem sentido, enquanto ele mesmo tinha noites terríveis, com sonhos ensangüentados em que ele estrangulava Lily. Ele queria fazer os malditos sonhos pararem.

Sem querer, ergueu a cabeça para procurar a ruivinha com o olhar. Se certificar que ela continuava bem. Teria continuado calmo e equilibrado, se não tivesse esbarrado com dois olhos verdes e francos no caminho, e visto o rosto dela olhando para eles.

Para eles.

Sentindo uma raiva inexorável se apoderar de si, deu um soco na mesa que fez Remus, James, Frank e Peter — que acabara de chegar, afogueado pelo atraso —, pularem de susto.

— Sirius!… — repreendeu Remus com um olhar.

— Desculpe — disse o rapaz com um murmúrio. — Acabei de bater o pé ali embaixo, e tá uma dor horrível.

E foge da minha mão
Fazer com que tudo que eu digo
Faça algum sentido


James, Frank e Peter pareceram se contentar com a justificativa, mas Remus ficou olhando-o. Ele que olhasse. Sirius não estava nem aí.




— Sirius, me solte! — gritou Regulus, se sacudindo entre os braços do irmão mais velho, que o erguia no alto. — Eu não gosto que você faça isso!

— Ué, você sempre gostou… — disse Sirius, colocando o irmãozinho no chão. Era incrível como ele sempre parecia pequeno demais para os seus dez anos.

— Eu não gosto disso mais! — disse Regulus ríspido. — Eu não sou mais criança agora.

Sirius coçou a cabeça. Nunca ouvira Regulus, Regulus que ele tinha ajudado a criar, Regulus que ele acalentara e para quem ele cantara quando era pequeno, Regulus que ele tinha defendido de seu pai, falando com ele com aquele desprezo na voz.

— Reg, o que houve? — perguntou. — Eu… fiz alguma coisa?

— Você fez, sim, Sirius. Você foi pra Grifinória. Você envergonhou a família. Você jogou nos meus ombros uma responsabilidade que eu não queria ter. Como acha que os pais vão ficar se eu não for pra Sonserina, agora? Por que você tinha que fazer isso, por que você traiu tudo em que nós acreditamos?

Sirius o ouvia, entre incrédulo e magoado. Regulus parecia um adulto falando daquele jeito. Um adulto cruel e arrogante. Como ele jamais quis que Reg fosse.

— Reg… Mas, eu…

— Eu não quero mais te ouvir, Sirius. Você estragou com todo o seu futuro. Você não estava aqui, e não sabe como foi ter que conviver com os dois todo esse ano. Com a decepção. Você traiu a eles, traiu a família, traiu a mim. Eu não quero mais te ouvir.

E de repente Regulus virava Snape, que começava a rir, rir, rir…


Sirius despertou subitamente.

Tinha caído no sono — isso mesmo, caído no sono —, em pleno sofá fofinho da Sala Comunal. Isso é o que dava não aproveitar o sono de noite. Ainda bem que era período livre… olhou o relógio.

O-oh.

Sirius começou a bater a cabeça contra o braço do sofá. Só havia duas aulas de Estudos dos Trouxas na semana, e ele deitara-se logo após o almoço indigesto, um período livre para ele — em que Remus, Lily e Frank tinham Aritmancia, e Daisy, James e Peter, Adivinhação —, e o sono que o tomara acabara levando-o por toda a tarde. Estava trinta e cinco minutos atrasado para a aula.

Nem valia mais a pena ir.

Ele não sabia mais como parar aqueles pesadelos. O pouco resquício de bom senso o dizia para procurar Madame Pomfrey, mas algo dentro de si — como um instinto de auto-punição —, se recusava a fazer alguma coisa. Ele sempre fora um homem cujos membros suplicavam ação, e agora, sentia-se invadido por uma estranha letargia.

Bem, e o que fizera sonhar com Regulus? Céus, ele não trocava uma palavra com ele há anos. Desde que saíra de casa, não lhe dissera nem um bom-dia mais. A convivência deles se resumia a olhares rancorosos, quando Sirius se sentia envolvido pela amizade de seus companheiros, e Regulus estava cercado de sonserinos, que pareciam nem se importar com o mais novo do grupo. Depois daquele desabafo do irmão, aos onze anos, Sirius nunca mais lhe falara, a não ser, antes de ir embora, quando disse:

— Regulus, você vai seguir esse caminho. Você não vai decepcioná-los, vai ser o que eles quiserem que você seja — um suspiro. — Mas vai decepcionar a si mesmo.

Ele não podia esquecer do garotinho de quem cuidara, e das palavras ásperas que o mesmo lhe dissera. Era muito difícil, sempre fora difícil ser contra tudo e contra todos. Snape e outros poderiam dizer que ele não tinha causa. Que tinha crises de adolescente rebelde.

Mas ele sempre soube porque estava fazendo aquilo.

— Tio Alphard, eu não entendo, eu simplesmente não entendo — reclamava Sirius, olhando para o tio. Sirius não chorava. Sirius nunca gostara de chorar.

— O que é que você não entende, Sirius?

— Remus, James e Peter têm pais e mães que não se importariam se eles não fossem para a casa certa… Que lhes dão presentes de natal, mesmo que tenham decepcionado-os um pouco… Que lhes amam… Você viu o abraço que a Sra. Potter deu no James, mesmo depois de toda a bagunça que ele aprontou? E a mãe do Remus e o pai do Remus o amam também, e a mãe do Peter também o ama. Por que papai e mamãe me odeiam?

Alphard deu um longo suspiro. Com um sorriso amargo, puxou a cabeça de cabelos negros do sobrinho e a encostou junto a si, a acariciando com leveza. Sirius nunca deixara que ele fizesse nada com seus cabelos, mas sabia que, agora, tio Alphard era o único com quem ele podia contar.

— Sirius, eles são Black. Eles te odeiam porque você fez algo que sempre quiseram fazer. Eles te odeiam porque você tem coragem.

— Eu não queria ter coragem! — exclamou Sirius. — Não se fosse pra terminar assim!

— Sirius, isso é algo que você sempre deve se orgulhar. Você teve coragem de ser o que você é. Nunca, jamais, tenha vergonha do que você é. E aí você será melhor do que todos os Blacks.


Eu quis me perder por aí
Fingindo muito bem
Que eu nunca precisei de um lugar só meu


Ele nunca se conformou em não ter uma família de verdade.

Segurando os cabelos negros com aflição, fechou os olhos suavemente. Dentro em pouco, já dormia de novo, levado pela maré de lembranças ruins.




Aula de Defesa contra as Artes das Trevas.

O Prof. Faunt observou lentamente todos fazerem os exercícios dificílimos que ele havia passado. Gostava de vê-los estudando, sim, gostava. Sempre quisera ser professor, e ver seus alunos aprendendo era uma das poucas alegrias que lhe era reservada naquele resto de vida que ainda tinha.

Porque vida, vida, a vida verdadeira e arrebatadora, aquela que vale a pena ser vivida, oh, esta já não havia. Morrera com Eileen.

Ele jamais esqueceria que ambos tinham sido dois alunos como aqueles, sentados, ansiosos pelo futuro, estudando. Ele queria ser professor. Ela não sabia o que queria. Eles só sabiam que queriam ficar juntos, para sempre.

E os sonhos tinham se desvanecido tão depressa…

Começaram a namorar na escola. Iriam se casar. Seriam felizes, felizes como era pra ser.

Mas daí tudo mudou. Até hoje, ele não sabia dizer o que realmente acontecera. Começara como uma briga, um rompimento, e, quando Faunt viu, ela estava grávida de um trouxa. Grávida. De um trouxa.

Foi uma dor horrível demais para ele. Vê-la incapaz de sustentar seu olhar inquiridor, e ser incapaz de fazer o passado mudar, ele fugiu. Fugiu das dores, dos sonhos, das esperanças, e de Eileen.

Fugiu para nunca mais voltar.

Passaram-se anos sem que ele visse a Inglaterra. Faunt passou um pouco de tudo nesse tempo, aprendendo e se aventurando, indo de um lugar para outro, sem rumo. Nada do futuro que ele previa.

A morte súbita de um tio, e uma herança deixada o fizeram voltar para Londres, alguns anos depois. Ele não parava de pensar em Eileen. Ele simplesmente não conseguia parar de pensar em Eileen.

Ele tinha que ir vê-la.

Memórias


O choro. A raiva contra o trouxa. A raiva dela por ter medo. E a promessa feita.

A promessa que atormentou Faunt durante anos e anos, enquanto ele seguia Eileen e seu filho como uma sombra.

E, depois, a morte dela.

Faunt sempre pensou que estivesse no fundo do poço, desde que sua amada engravidara. Mas logo descobriu o que realmente era o fundo do poço.

Fundo do poço era não haver esperança nem objetivo.

Fundo do poço era quando todas as suas memórias felizes se transformavam em memórias tristes.

Fundo do poço era quando uma pessoa que você conhecia antes mesmo de encontrá-la, como se seus destinos tivessem se moldado um no outro há séculos, o deixava para trás.

Fundo do poço era quando o responsável pela morte dessa pessoa continuava vivo e impune.

— Professor?

Uma voz interrompeu os pensamentos de Faunt.

Era Proudfoot, um aluno corvinal. Havia nítida insegurança nos seus gestos e no modo como olhava para o professor, como se temesse que Faunt partisse para cima dele às detenções.

— O que foi, Proudfoot? — disse, ríspido. O aluno pareceu sem graça.

— É que eu estou com uma dúvida aqui, e… e eu queria saber… se o senhor pode me ajudar.

Se encolheu como se esperasse a pancada atingi-lo. Faunt observou o aluno por um instante, mergulhando em lembranças doces…

— Jason, você é um maldito CDF.

Afinal, estava realizando seu sonho…

— Chegue mais perto, Proudfoot, e me mostre a sua dúvida.

O corvinal o olhou como se tivesse visto um fantasma, e Faunt sorriu.

Quem sabe existisse algo, afinal?




Lily não gostava muito de ficar sozinha na biblioteca. Embora às vezes fosse inevitável, como naquele dia, ela geralmente arrastava alguma amiga para estudar consigo, Daisy ou Alice, às vezes até mesmo Remus.

Remus.

Haviam se passado apenas dois meses desde o dia em que ele se declarara para ela, mas aquela lembrança continuava tão vívida na memória de Lily que era como se estivesse naquela sala, olhando o rosto entristecido dele. Dele dizendo que não poderia ser seu paraíso.

Tinha vontade de morrer toda vez que lembrava disso.

Não são só memórias


Estava tão distraída com seus pensamentos que não percebeu a aproximação de alguém.

— Olá, Lily.

A garota virou-se rapidamente, para dar de cara com Sirius Black, olhando para ela com aqueles claros olhos cinzentos.

— Assustou? — ele perguntou com um sorriso maroto.

Lily revirou os olhos.

— Lógico, você na biblioteca durante a hora do jantar. Qualquer um se assusta. O que está fazendo aqui?

— Oras, o que se faz numa biblioteca?

— No seu caso, apronta.

Sirius riu, uma risada gostosa e alegre. Lily tinha se preocupado com tantas outras coisas que esquecera como a risada dele, a verdadeira, era bonita.

— Eu não fui jantar porque não estou com fome. Eu estou aqui porque perdi uma aula de Estudo dos Trouxas e quero estudar um pouco para recuperar o atraso.

— Você perdeu Estudo dos Trouxas? — surpreendeu-se Lily. Era a matéria favorita do Sirius.

— Dormi sem querer na Sala Comunal — disse o rapaz tentando manter o tom displicente, mas algo estranho transpareceu em seu rosto.

— Você deve andar muito cansado, para dormir sem querer na Sala Comunal — comentou a garota.

Sirius puxou uma cadeira para sentar ao lado dela.

— Ando tendo pesadelos — ele sussurrou.

— Por que não vai pedir uma poção à Madame Pomfrey? Estou certa que vai resolver.

— Não gosto de ficar dependendo das outras pessoas — ele disse, olhando para ela com uma estranha tristeza.

Esticou a mão como se fosse tocá-la, mas sentiu um calor súbito e dolorido nas pontas dos dedos e retraiu o braço.

— Eu… estou ficando com fome — disse, evasivo. — Acho que vou jantar.

— Vai? — ela perguntou. — Ainda agora não estava… Eu fiz alguma coisa de…

— Não — cortou Sirius rapidamente, tentando não enxergar o corpo de Lily em suas mãos, as marcas dos seus dedos no pescoço dela.

São fantasmas que me sopram aos ouvidos
Coisas que eu


— Tem certeza?

— Não, você não fez nada. Realmente estou com fome. Vou indo, OK?

E, antes que ela sequer pudesse dizer uma palavra, ele partiu.

Às vezes ela achava que os Marauders estavam num complô para deixá-la louca.




James e Remus se sentaram a uma mesa solitária num canto do Salão Comunal; era estranho ver dois Marauders solitários, sem chamar a atenção, mas havia tempo que algo se dissolvera no grupo. Como se não houvesse mais alegria, e sim, formalidade, naqueles que tinham sido amigos por tanto tempo.

James puxou um longuíssimo trabalho de Poções, e Remus se debruçou para ver o que era.

— Já fiz este aí — comentou brevemente. Parara de ter aulas com Lily, mas continuava estudando Poções como nunca.

— Ah, então me ajuda — pediu James. — Eu sei o tema, mas nem sei o que escrever. Tô sem inspiração.

— Ah, é fácil — disse Remus gentilmente, abrindo o livro mais próximo.

Começou a apontar os parágrafos promissores para que James os copiasse, numa cena que lembrou aos dois o começo da amizade deles. Um tempo feliz que nem sabiam o que era amar.

Eu dou sempre o melhor de mim


Vendo-os assim, Cherry Pryce não resistiu à tentação de se aproximar deles.

A verdade é que Cherry era uma garota curiosa por natureza, e, muitas vezes frívola. Queria estar sempre sabendo um pouco sobre todo mundo. Isso sem falar num estranho espírito caridoso. Estava sempre querendo saber no que podia ajudar e no que não podia. Por isso, acabava sendo intrometida.

E foi intrometida quando se sentou ao lado de James e Remus.

— Olá, garotos…

— Oi, Cherry — disseram os dois ao mesmo tempo.

— O que você está escrevendo, James?

— O trabalho de Poções. Argh, como eu odeio Poções.

— Eu também — sorriu Cherry. — Eu queria ser repórter. Trabalhar no Daily Prophet, sabe? E não sei no que Poções vai ajudar.

— Ah, Poções são úteis — disse Remus —, embora eu mesmo não saiba fazer nada.

— É… Eu soube que Lily te deu aulas.

James arregalou os olhos olhando para Remus, cuja expressão congelou.

— O quê?! — disse, em tom baixo.

— Eu… você não sabia, James?… — ele tentou não deixar transparecer seu constrangimento —… Eu estive tendo aulas com a Lily… durante… o ano, sabe?… Foi Sirius… que me sugeriu, lembra? Você não me disse nada…

— Pensei que você tinha desistido…

— Eu ia encontrar ela uma noite por semana, você não notou? — perguntou Remus, a voz mais firme.

— Eu pensava que eram coisas de monitoria — disse James, a voz contida e séria. — Não sabia que eram aulas particulares de Poções.

— Eu estava precisando.

— Sei — disse James, uma leve tensão na voz.

Remus o olhou inseguro por alguns instantes, depois disse timidamente:

— Olha, aquele parágrafo ali…

— Deixa que eu faço sozinho — cortou James.

O rapaz se retraiu imediatamente, olhando para o amigo com tristeza. Cherry os observou, e teria feito alguma pergunta indiscreta se não tivesse sido distraída pela súbita chegada de Sirius, que se largou sem delicadeza alguma na cadeira ao lado de Remus.

— Ei, Cherry, você foi na aula de Estudo dos Trouxas hoje?

— Fui… Você não tava lá, né? Até estranhei.

— Acabei dormindo na Sala Comunal. O que o professor passou? O Peter não sabe explicar direito.

— Ele passou umas perguntas pra responder…

— Você copiou?

— É, copiei. Quer emprestado?

— Depois eu pego emprestado de você, OK? É que eu não vou fazer essa lição hoje mesmo, daí depois eu pego.

— Tudo OK — disse Cherry.

— Ei, Cherry! — gritou Maggie Bennett do outro lado da sala. — Eu e a Iris vamos jogar Snap Explosivo lá em cima. Quer vir com a gente?

— Quero!

A garota saiu atrás das amigas, e Remus se voltou para Sirius:

— Indo atrás de matéria? Meu amigo foi abduzido?

— É que é Estudo dos Trouxas — justificou Sirius. — Eu gosto da matéria, sabe. Eu gosto dos trouxas.

— Eu acho que você deveria ir procurar Madame Pomfrey…

— Eu não quero, OK? — disse o rapaz com leve irritação. — Vou indo dormir.

Pois sei que só assim
É que talvez se mova alguma coisa ao meu redor


James não olhou para Sirius nenhuma vez durante a breve passagem do amigo pela mesa.




Sirius virou-se.

Snape ria dele. E ria, e ria, e ria.

Tentou desesperadamente parar o riso, tapando os ouvidos, mas a risada dele ecoava por todos os cantos, por todos os lados, ressoando e enchendo seu cérebro.

Avançou para Snape, tentando afogar aquele riso maldito e aquela boca contorcida. Apertou o pescoço dele com força, tentando desesperadamente calá-lo. E, diante de seus olhos, a pele macilenta se tornou alva, os olhos negros, verdes, e os cabelos negros começaram a se avermelhar…

Lily estava morta em seus braços.


Eu vou despedaçar você
Todas as vezes que eu lembrar
Por onde você já andou sem mim


— AAAH! — ele acordou com um berro.

Um barulho, um pulo, alguém correndo e subindo no beliche, e Remus abriu sua cortina com aflição:

— Sirius?

Sirius esfregou os olhos, olhando para o amigo que parecia bem acordado.

— Remus…

— Ouvi você gritar — disse o rapaz. — Foi um pesadelo?

— Foi… — disse Sirius tremendo.

Por um momento, ele achou que, se esticasse as mãos, poderia ver o sangue de Lily nelas.

— Você quer me contar com o que você sonhou? — perguntou Remus delicadamente.

Sirius esfregou o rosto e tomou uma decisão súbita.

— Quero. Mas não aqui. Vamos dar uma volta.

Remus não discordou. Desceu, esperou que Sirius descesse, e pegou o Marauder’s Map enquanto o amigo pegava as capas deles para enfrentarem o sereno da noite.

Logo estavam lá fora, caminhando pelos jardins. O vento frio fustigava seus rostos e Sirius observava as faces de Remus ficarem cada vez mais vermelhas de frio, enquanto andava em silêncio.

— Com o que você sonhou, Sirius? — Remus perguntou enfim, após um bom tempo calados.

— Com coisas horríveis, Moony.

— Me conte…

Sirius coçou a cabeça.

— Eu tenho sonhado muito com meu sangue me queimando, sabe? E daí eu vejo Lily, mas eu vejo ela atrás de uma vitrine. Me olhando triste.

— Vitrine como aquelas de lojas?

— É. Então alguém começa a rir. Sempre. E eu me viro e dou de cara com Snape.

Remus sorriu, mas Sirius não.

— Ele continua a rir, rir tanto que eu começo a ficar desesperado e louco de raiva. Então, eu tento fazer ele parar de rir. E eu começo a estrangulá-lo.

— E…

— E daí de repente quem eu estou estrangulando é a Lily.

O rapaz encarou o amigo de cabelos negros com espanto.

— Eu não queria… — justificou-se Sirius — , eu não quero fazer mal a ela. Mas de repente, esses sonhos estranhos… Eu tô com medo, Moony.

Remus se aproximou e pôs uma das mãos no ombro de Sirius.

— São só sonhos, Padfoot.

Memórias
Não são só memórias


Mas Sirius sabia que não eram só sonhos.




Dia seguinte.

Remus sentou-se ao lado de Frank no café, respirando fundo e se servindo de torradas. O amigo logo perguntou:

— Aconteceu alguma coisa errada, Moony?

— Mais ou menos — suspirou Remus. — Sirius anda estranho, eu ando estranho… Parece tudo um tanto estranho demais.

— A amizade de vocês ficou meio abalada, Moony, é comum vocês acharem que as coisas estão diferentes entre vocês agora…

— Não, não é isso, Frankie. É algo estranho.

Remus mastigou um pedaço de torrada. Frank sabia que ele ainda iria falar alguma coisa, e ficou em silêncio, à espera.

— Frankie, eu ainda não te contei uma coisa sobre aquela noite.

— Você me contou que se resolveram, no final, por um consenso mútuo de não mexer com a Lily antes que ela se decida.

— Mas o mais importante eu não contei.

— Então conta agora.

Remus olhou nervoso para os lados.

— Já terminou de tomar café?

— Já.

— Então me acompanha até a aula de Feitiços?

— Ainda falta uns vinte minutos…

— Eu vou te contando no caminho.

Com um suspiro, Frank se levantou, e os dois foram caminhando juntos pelo corredor.

— Pode contar, Remus.

— Bem, você deve ter notado que James anda um tanto desconfiado da gente depois que descobriu que eu também gosto da Lily.

— Claro.

— Então… Ele quis ter uma garantia de que nenhum de nós chegaria perto de Lily.

— Qual? — perguntou Frank subitamente sério.

— Ele propôs que fizéssemos um pacto de sangue.

Frank empalideceu.

— Um pacto de sangue?!

— É.

— Remus do céu, você sabe o que acontece com quem tenta quebrar um pacto de sangue?!

São fantasmas que me sopram aos ouvidos
Coisas que eu nem quero saber


— Sei. Claro que sei, Frankie.

— É perigoso! É que nem Votos Perpétuos, não se pode fazê-los sem ter bem consciência do que está fazendo!

— E você acha que eu pretendo romper com minha promessa?

— Não — disse Frank rapidamente.

— Então. Eu quero cumprir com minha promessa. Eu não vou mais me aproximar de Lily. Não vou tocá-la.

— Remus, não tem porque você se fazer proibições, como se fosse o culpado.

— Eu sou o culpado, Frank — disse Remus com firmeza. — Eu sou o culpado.

E apertou o passo, deixando para trás o amigo espantado.




— Você não pode deixar essa casa, Sirius! — a voz de Walburga Black entrava por seus ouvidos.

— Posso sim, sua bruxa velha! — ele gritou, se virando uma última vez para fitar o rosto furioso da mãe antes de partir.

Mas sentiu o queixo cair.

O rosto de sua mãe estava ensangüentado e queimado, transfigurado, suas feições gravadas num estertor de raiva. Apavorado, ele esticou os próprios braços e viu o sangue correndo pelos seus pulsos cortados, manchando sua pele e queimando em espasmos de dor.

A Mansão Black se transformou no jardim de Hogwarts, e as mãos de Sirius queimavam, sangrando. E Lily o olhava com tristeza.

— Lily… — murmurou Sirius.

Mas quando ele tentou tocá-la, ela queimou-se com o sangue.

Sirius rapidamente recolheu o braço, mas o sangue continuava seguindo seu caminho pelo colo de Lily, queimando sua pele alva.

— Lily! — exclamou Sirius, vendo as queimaduras no pescoço e no colo da garota. — Não!

Uma voz começa a rir…


Sirius abriu os olhos.

— Ah, droga… — murmurou esfregando os olhos.

Pesadelos, pesadelos e pesadelos. Ele estava começando a achar aquilo cansativo. Suas mãos tremiam muito, tanto que ele teve que se segurar no dossel da cama para verificar que não, suas mãos não estavam sangrando.

Não agüentava mais aquilo. Desejar Lily sem poder tê-la, desejar não ser um Black e sentir seu sangue queimando em suas veias, não desejar o proibido mas querê-lo ao mesmo tempo…

Eu sou uma contradição


Levantou. Não agüentava mais ficar parado, sentindo o sangue ferver com desejos que jamais seriam satisfeitos.




Lily esticou os braços. Tudo ao seu redor era escuridão, tudo era treva. Sombras passavam uma após a outra sem parar, e flashes de luz estouravam por todos os lados, cegando-a e a tornando confusa. Ela se encolheu no chão para tentar se defender, trêmula e assustada.

E foge da minha mão
Fazer com que tudo que eu digo
Faça algum sentido


— Lily? — uma voz doce entrou-lhe aos ouvidos.

Ela ergueu os olhos e viu Remus, a face cheia de preocupação e angústia.

— Remus! — ela exclamou cheia de alívio. — Remus, eu…

Mas no segundo seguinte já não existia mais Remus e as luzes ofuscavam seus olhos.

— Lily! — uma voz mais exaltada gritou.

A ruivinha se levantou procurando quem gritava e viu Sirius, olhando-a com uma expressão de desesperada impotência.

— Sirius! Sirius, aonde esta…

Mas não houve tempo de terminar a pergunta, pois Sirius se desvaneceu no ar no mesmo instante.

— Sirius!

— Lily! — gritou outra voz.

Ela virou-se e deu com Severus. Ele a olhava com infinita tristeza.

— Severus! — ela gritou, temendo que ele desaparecesse.

Tentou correr até ele, mas também ele havia sumido, e ela estava sozinha.

— Lily! — gritou uma última voz.

E ela já sabia quem era.

Virou-se para ver James Potter, caminhando até ela. No seu semblante, algo como vitória e contentamento, misturado com uma doce ternura raramente vista naquele rosto travesso.

— James… — ela murmurou, sabendo que ele também iria sumir.

Mas, para sua surpresa, James não desapareceu. Ele a abraçou com força, e tudo se dissipou — só o que existia era a voz dele em seus ouvidos:

— Sempre vou estar com você, ruivinha…

Uma melancólica sensação de segurança tomou conta de Lily…


Eu quis me perder por aí
Fingindo muito bem
Que eu nunca precisei de um lugar só meu


— Ah! — uma leve exclamação escapou dos lábios da ruivinha quando ela se levantou.

Que sonho estranho… Estava desaparecida na escuridão e James fora o único que aparecera para ajudá-la. De todos os seus apaixonados, James fora o único que estivera lá, embora os outros parecessem aflitíssimos de não poderem estar com ela…

Esfregou os olhos.

Havia muito tempo tinha tudo se tornado um suplício de indecisão e que ela afogava na dúvida, vendo quatro rapazes e não sabendo escolher qual.

O que, então, queria dizer aquele sonho?…

Que ela deveria aceitar James porque só ele poderia lhe dar a segurança que precisava?

Mas ela precisava de segurança?

E os outros?

Talvez o sonho significasse que ela estava ficando maluca. Ou que precisava de um pouco de ar. Provavelmente a segunda opção.

Levantou-se e saiu do dormitório.




Sirius sentou-se diante da lareira cujas brasas quase extintas iluminavam fracamente o Salão Comunal. Não era hora de alguém ficar sentado por ali. Mas Sirius nunca se importou com a hora certa. Assim como nunca se importou com regras e como nunca se importou com o sangue. Nunca com o seu sangue.

Memórias
Não só memórias


E estava tão preso nos seus devaneios que nem percebeu quando passos delicados desceram a escada que levava ao dormitório das garotas. Apenas quando os passos pararam e ele sentiu algo doce no ar — um perfume de lírio —, e virou-se.

— Lily?… — sussurrou.

— Sirius… ah, eu, desculpa… — disse a ruivinha, vendo o rapaz se levantar usando apenas um short curto de pijama. — Eu resolvi dar um passeio, e… bem, deixa pra lá, eu… vou voltar para o dormitório.

— Não, espera!… — disse o rapaz, avançando. — Não vá ainda!

— Mas, Sirius…

E então, sem pensar, ou melhor, sem resistir ao ímpeto pelo proibido que corria em suas veias, ele tocou seu braço.

O que veio em seguida foi uma dor que ele jamais poderia ter imaginado.

Foi como se seu sangue todo estivesse borbulhando, queimando, e Sirius finalmente entendeu a dor de seus pesadelos — tudo levava àquele momento, em que seu sangue queimava suas veias, sua pele, fervia insuportavelmente…

— AaarrgH! — um meio-grito estrangulado escapou dos lábios de Sirius, seu rosto avermelhando e se contorcendo de dor.

— Sirius! — exclamou Lily aterrorizada ao ver a dor estampada no semblante dele.

O rapaz caiu de joelhos, o sangue em fogo, o corpo queimando.

“Pensa, pensa… Quais eram os termos…”, tentou formular um pensamento, mas a dor era forte demais.

— Lily! — ele gritou de repente. — Diz que me ama!

— O quê?! — ela exclamou, mas, no momento que fez isso, Sirius deu um grito ainda mais aterrador de dor.

Úlceras se abriam em suas mãos e o sangue vertia, queimando seus pulsos e ferindo-os. Lily o olhou horrorizada.

— Lily, diz que me ama! Ou diz que ama o James, o Remus, o Snape, qualquer um, mas diz alguma coisa! — berrou Sirius.

— Mas, Sirius…

— Por favor! — ele quase gemeu, fraquejando, o rosto passando de vermelho a extremamente lívido.

Lily se ajoelhou junto a Sirius, desesperada, tentando ajudá-lo — mas, quanto mais ela o tocava, mais doía.

— O que eu faço? — ela exclamou. — O que eu faço?!

— Diga, diga qualquer coisa!!! — exclamou o rapaz, sem conseguir fugir ao contato dela, a pele dela queimando a sua, o seu sangue queimando suas mãos. — Diga que me ama!!!!

A ruivinha se abaixou e sussurrou ao ouvido de Sirius, a voz com uma entonação desesperada e irreal:

— Eu te amo!

São fantasmas que me sopram aos ouvidos
Coisas que eu nem quero saber


E, subitamente, como tudo havia começado, tudo parou.

A dor passou, e o sangue que queimava parou de queimar, deixando apenas algumas feridas cicatrizadas nos pulsos de Sirius. Os braços e pernas relaxaram, o sangue fluindo normalmente, a face branca já adquirindo cores de novo.

Se Sirius acreditasse em divindades, diria que foi um milagre.

— Sirius… Você está bem?… — sussurrou Lily, baixinho, vendo o rapaz ofegante no chão.

— Agora estou… Lily… O-obrigado… — ele gaguejou, tentando se levantar, mas uma tontura o obrigou a se apoiar na ruivinha.

— O que… o que foi isso? — ela gaguejou, caminhando com Sirius até o sofá e o ajudando a se sentar.

— Isso, Lily, é o que acontece quando se cede ao proibido… — murmurou Sirius lentamente.

Nem quero saber


Esfregou os olhos e se levantou. Ficou alguns segundos parado para testar seu equilíbrio, depois suspirou e disse:

— Obrigado, Lily. Sei que não faz muito sentido, mas eu te amo. Demais.

Ela o olhou com aflição.

— Sirius, tem certeza que está bem?

— Estou — a voz era definitiva.

Ele acariciou de leve a face da ruivinha com as costas de uma das mãos feridas.

— Te amo muito — sussurrou, depositando um beijo no rosto macio e suave. — Eu… eu vou voltar para o dormitório.

Caminhou, sem olhar para trás, deixando Lily sem saber o que pensar.

Observou as cicatrizes.

— Bem, Sirius Black… Acabou de provar que não nega a raça.

E, com outro suspiro contraditório:

— O risco torna tudo mais excitante.

Aquelas feridas jamais sairiam dos pulsos de Sirius, provando sua vergonha, seu pecado — não ligar para o sangue.


N.A.: Gente, eu já falei que esse capítulo tá totalmente sentido?

Próximo capítulo: ENFIM, a DECISÃO.


Prévia:

Chega a hora de escolher. A alegria de James? A sedução de Sirius? A gentileza de Remus? A servidão de Severus? Lily terá finalmente que pesar as escolhas, antes que asredes da desgraça sufoquem a ela e aos garotos...

Amor Verdadeiro


"— Ela não vai ser sua!
— Muito menos sua, porque eu vou te picar em mil pedaços!



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